Milan Kundera<\/a> escreveu sobre essa \u201cfor\u00e7a\u201d. Em seu livro, ele nos d\u00e1 um cirurgi\u00e3o “forte”, “independente” e “realizado” com sua carreria, vida social e prazeres carnais.\u00a0Uma pessoa,\u00a0enfim, que ticaria todos os quadrados da cartilha do individualismo gam\u00edstico.\u00a0 Entretanto, um belo dia ele larga tudo para viver ao lado daquela que jurou passar a vida ao seu lado.<\/p>\nAo contr\u00e1rio dos role models <\/em>celebrados a torto e a direito, as personagens de Kundera n\u00e3o v\u00eaem sentido nessa vida dos sonhos. O que para outros \u00e9 \u201cliberdade\u201d, para eles \u00e9 a\u00a0insustent\u00e1vel leveza do ser<\/em>.\u00a0O ser humano \u2013 ou ao menos estes <\/em>seres humanos n\u00e3o foram feitos para existir sozinhos. Da\u00ed que eles se mudam da Su\u00ed\u00e7a para a Tchecoslov\u00e1quia comunista, da cidade grande para o campo, de carreiras brilhantes e bem remuneradas a bicos no meio do nada, da vida \u201crealizada\u201d a uma morte sem sentido, num acidente de carro numa estrada de terra qualquer.<\/p>\nPor qu\u00ea? Eu n\u00e3o sei. Talvez ningu\u00e9m saiba. Na vida real (e nas melhores fic\u00e7\u00f5es) algumas coisas n\u00e3o fazem sentido. Mesmo assim, eu n\u00e3o consigo deixar de pensar que a obsess\u00e3o pelos role models <\/em>pode nos levar a um lugar perverso, t\u00e3o apavorante, talvez, como o mundo dos witchers.<\/p>\nEm Cardcaptor Sakura<\/em>, Kero-chan diz que o apocalipse \u00e9 algo muito pior do que a explos\u00e3o da terra: \u00e9 a perda do afeto por todos aqueles que amamos. Que os justiceiros, na cruzada para impedir a primeira, tomem cuidado para n\u00e3o provocar a segunda. A insustent\u00e1vel leveza do ser pode ser um fim em si mesma. E por \u201cfim\u201d n\u00e3o digo prop\u00f3sito, mas game over. <\/em>Ponto final.<\/p>\n