Estaria a juventude sem rumo?<\/p>\n
Essa \u00e9 uma daquelas perguntas\u00a0que custam a ficar velhas (com o perd\u00e3o do trocadilho). J\u00e1 faz\u00a0mais de 25 anos que Mundo Fantasma<\/a>\u00a0sugeriu a mesma coisa. De l\u00e1 para c\u00e1, n\u00e3o parecemos estar mais certos. Ou menos perdidos.<\/p>\n No universo do mang\u00e1, \u00e9 dif\u00edcil falar sobre essas quest\u00f5es sem pensar em Inio Asano, autor de alguns dos mang\u00e1s mais impressionantes (e bizarros) de mem\u00f3ria recente, que tem voltado aos holofotes nos \u00faltimos anos.<\/p>\n <\/p>\n Nomeado para o pr\u00eamio Eisner em 2009, convidado para o Sal\u00e3o do Mang\u00e1 de Barcelona <\/a>em 2015\u00a0e inclu\u00eddo na sele\u00e7\u00e3o oficial do Festival de Quadrinhos de Ango\u00fbleme<\/a> esse ano,\u00a0Asano\u00a0\u00e9 uma das maiores estrelas da nova gera\u00e7\u00e3o de mangak\u00e1s.<\/p>\n Misturando ultra-realismo com a caricatura, o absurdo e o realismo fant\u00e1stico, Asano\u00a0encontrou um estilo inconfundivelmente seu. No espa\u00e7o de alguns tankobons<\/em>, ele consegue passar de um detalhismo digno de Makoto Shinkai<\/p>\n <\/p>\n \u00e0s personagens propositalmente distorcidas do Satoshi Kon de Paranoia Agent <\/em>e Tokyo Godfathers.<\/em><\/p>\n <\/p>\n A compara\u00e7\u00e3o com o mundo do anime n\u00e3o \u00e9 \u00e0\u00a0toa. Asano\u00a0\u00e9 conhecido pela vibe cinem\u00e1tica de seu trabalho, a ponto de incluir \u201ctrilhas sonoras<\/a>\u201d em suas p\u00e1ginas. N\u00e3o por acaso, seu maior sucesso, Solanin<\/em>, foi adaptado em um filme de banda<\/a> em 2010.<\/p>\n Mais do que pela t\u00e9cnica, Asano\u00a0\u00e9 celebrado como uma \u201cvoz\u201d da juventude atual. Seus quadrinhos foram elogiados por fugir dos estere\u00f3tipos do mang\u00e1 e mostrar a vida \u201cnua e crua\u201d dos jovens adultos, com tudo o que ela tem de absurdo, deprimente e pat\u00e9tico.<\/p>\n N\u00e3o por acaso, o jornal japon\u00eas Yomiuri Shimbum <\/em>chamou seu universo de um \u201cmundo descontente<\/a>\u201d. Suas personagens s\u00e3o indecisas, entediadas, sem coragem de abrir m\u00e3o dos privil\u00e9gios da juventude e com medo de mergulhar de cabe\u00e7a nas obriga\u00e7\u00f5es adultas.<\/p>\n Qualquer um que fa\u00e7a faculdade ou a tenha terminado recentemente pode simpatizar com esses dramas. Um clich\u00e9 que aprendemos na inf\u00e2ncia (e que alguns carregam por muito tempo) \u00e9 o de que tudo se resolve se tivermos liberdade para fazer o que quisermos. Por\u00e9m, quando esse dia finalmente chega, logo entendemos que liberdade total \u00e9 sin\u00f4nimo de t\u00e9dio, e viver sem uma rotina \u00e9 pior do que\u00a0n\u00e3o viver.<\/p>\n <\/p>\n \u00c9 um detalhe pequeno, mas que faz todo o sentido do mundo para quem depende dos pais, trabalha meio-per\u00edodo ou faz uma p\u00f3s-gradua\u00e7\u00e3o em dedica\u00e7\u00e3o exclusiva e tem metade do dia livre para olhar para o teto e se lembrar de que n\u00e3o tem mais 18 anos.<\/p>\n <\/p>\n A\u00ed, talvez, esteja a raz\u00e3o de seu trabalho fazer tanto sucesso. E n\u00e3o parece uma coincid\u00eancia que Asano\u00a0tenha despontado justamente no Jap\u00e3o. Afinal de contas, em poucos lugares do mundo essa discuss\u00e3o aparece com mais frequ\u00eancia e de forma mais acalorada do que na Terra do Sol Nascente.<\/p>\n Jovens (in)felizes…<\/strong><\/p>\n De fato, a ideia de que o Jap\u00e3o \u00e9 uma terra de jovens infelizes \u00e9 um lugar comum quase t\u00e3o popular quanto o White Day<\/a> e os natais no KFC<\/a>.<\/p>\n N\u00e3o \u00e9 preciso ir muito longe para ler que a Terra do Sol Nascente \u00e9 o pa\u00eds do suic\u00eddio<\/a>, o lugar onde as pessoas s\u00e3o obrigadas a morar em gavetas<\/a> e trabalhar at\u00e9 morrer<\/a>. Mesmo os animes, supostamente um entretenimento escapista, est\u00e3o cheios de jovens que fogem da escola<\/a>, que se trancam dentro de casa<\/a> ou que inventam calamidades<\/a> para fugir da vida real.<\/p>\n O argumento \u00e9 que os tempos andam t\u00e3o dif\u00edceis, a esperan\u00e7a t\u00e3o em baixa e as ofertas de trabalho t\u00e3o insuport\u00e1veis que os adolescentes fazem de tudo para evitar a vida adulta \u2013 e os adultos, por sua vez, vendem a pr\u00f3pria alma para poder voltar \u00e0 adolesc\u00eancia<\/a>. \u201cTer alma de 12 anos\u201d, se antes um insulto, hoje \u00e9 uma virtude que muitos ostentam com orgulho.<\/p>\n N\u00e3o \u00e9 \u00e0\u00a0toa que Inio Asano\u00a0foi chamado de uma \u201cvoz da nossa gera\u00e7\u00e3o\u201d. Solanin <\/a><\/em>acompanha um grupo de jovens divididos em arranjar empregos meniais ou se dedicar ao sonho adolescente de montar uma banda. Subarashii Sekai<\/a><\/em> nos mostra pessoas infelizes cuja vida \u00e9 virada de ponta cabe\u00e7a por algum feito absurdo. E sua obra-prima, Oyasumi Punpun<\/a><\/em>, \u00e9 a odiss\u00e9ia de um \u201cgaroto\u201d que parece ter passado pelo child broiler <\/em>de Mawaru Penguindrum:<\/em><\/p>\n