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{"id":23079,"date":"2021-12-22T17:39:57","date_gmt":"2021-12-22T20:39:57","guid":{"rendered":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/?p=23079"},"modified":"2021-12-22T17:39:58","modified_gmt":"2021-12-22T20:39:58","slug":"le-sommet-des-dieux-a-obsessao-humana-e-sua-propria-montanha","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/2021\/12\/22\/le-sommet-des-dieux-a-obsessao-humana-e-sua-propria-montanha\/","title":{"rendered":"“Le Sommet des Dieux”: a obsess\u00e3o humana \u00e9 sua pr\u00f3pria montanha"},"content":{"rendered":"\n

Eu era crian\u00e7a quando chegou \u00e0s livrarias No Ar Rarefeito<\/a>,<\/em> relato do jornalista Jon Krakauer sobre o desastre do Monte Evereste de 1996<\/a>.\u00a0 Gra\u00e7as, entre outras coisas, a um n\u00famero excessivo de alpinistas pouco treinados, a temporada de escaladas resultou em uma trag\u00e9dia. Doze pessoas morreram.\u00a0<\/p>\n\n\n\n

Na \u00e9poca, n\u00e3o tinha idade, nem interesse, para ler o testemunho de Krakauer, um dos sobreviventes da dita temporada. Mas acompanhei os acontecimentos por meio do meu pai, que escolheu o livro do jornalista como leitura de f\u00e9rias e o terminou com a palidez de quem sobrevive a uma avalanche. \u201cSe fosse hoje, eu n\u00e3o o leria\u201d ele me disse anos depois, ainda chocado com seu conte\u00fado.\u00a0<\/p>\n\n\n\n

De todos os detalhes horripilantes que compartilhou comigo, o que ficou em minha mente foi o de Beck Weathers<\/a>, sobrevivente que voltou para casa sem as m\u00e3os, p\u00e9s e nariz.\u00a0<\/p>\n\n\n\n

A imagem de um alpinista semicongelado, sem nariz, habitou meus pesadelos por semanas \u00e0 fio.\u00a0<\/p>\n\n\n\n

Por conta disso, alpinismo sempre me pareceu um esporte mais sinistro que heroico; uma compuls\u00e3o perigosa mais do que a empreitada rom\u00e2ntica de humanos desafiando a natureza.\u00a0<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 um bom mindset <\/em>com que encarar Le Sommet des Dieux, <\/em>anima\u00e7\u00e3o de Patrick Imbert baseada no mang\u00e1 de Jiro Taniguchi. <\/p>\n\n\n\n\n\n\n\n

O cume dos deuses<\/strong><\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/figure><\/div>\n\n\n\n

\u00c9 o tipo de coisa que jamais adivinharia dos trailers, mas Le Sommet des Dieux <\/em>tem mais em comum com Cidad\u00e3o Kane <\/em>que com um filme tradicional de escalada.  <\/p>\n\n\n\n

Suas primeiras cenas nos apresentam a Fukumachi, um fot\u00f3grafo enviado ao Evereste para cobrir a temporada de alpinismo. Ao escutar que trabalha em uma revista, um sujeito lhe oferece uma c\u00e2mera antiga. Segundo ele, ela teria pertencido a George Mallory<\/a>, alpinista brit\u00e2nico que desapareceu na montanha em 1924.\u00a0<\/p>\n\n\n\n

A rel\u00edquia \u00e9 mais do que uma simples curiosidade. Diz a hist\u00f3ria oficial que o Evereste foi escalado pela primeira vez por Edmund Hillary e Tenzing Norgay em 1953. Mas e se Mallory, antes de desaparecer, tivesse al\u00e7ado o cume e fotografado a conquista? Estas fotos, se reveladas, reescreveriam a hist\u00f3ria do alpinismo.\u00a0<\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/figure><\/div>\n\n\n\n

Fukumachi se recusa a comprar a c\u00e2mera, tomando-a por uma fraude. Algo, por\u00e9m, o faz mudar de ideia. Logo depois de receber sua negativa, o sujeito que a vendeu \u00e9 confrontado por outro alpinista, que o acusa de lhe ter roubado a m\u00e1quina. Para a surpresa de Fukumachi, ele \u00e9 ningu\u00e9m menos que Habu J\u00f4ji, lend\u00e1rio escalador japon\u00eas que desapareceu da sociedade anos atr\u00e1s.\u00a0<\/p>\n\n\n\n

Fukumachi pede a licen\u00e7a de seu editor para ir atr\u00e1s de Habu \u2013 em teoria, ao menos, para recuperar a c\u00e2mera de Mallory. Por\u00e9m, quanto mais retra\u00e7a os passos do famoso alpinista, mais a ambi\u00e7\u00e3o de reconstituir a vida deste homem se transforma em um fim em si. <\/p>\n\n\n\n

Habu n\u00e3o \u00e9 Charles Foster Kane, mas as migalhas de sua vida, examinadas por Fukumachi por meio de reportagens antigas, v\u00eddeos e conversas com antigos conhecidos, parecem arrancadas do filme cl\u00e1ssico de Orson Welles<\/a>. \u00a0<\/p>\n\n\n\n

Ele era genial, mas irasc\u00edvel. Todos que cruzaram seu caminho terminaram mortos, traumatizados ou enfurecidos. \u201cPara Habu, n\u00f3s \u00e9ramos apenas um degrau para que ele escalasse montanhas cada vez mais altas\u201d, confessa um ex-parceiro.\u00a0<\/p>\n\n\n\n

Em um flashback no in\u00edcio do filme, ele abandona uma confraterniza\u00e7\u00e3o entre colegas de seu clube de montanhismo. Do lado de fora, \u00e9 interpelado por um desconhecido que lhe pede dicas de escalada. Habu atende seu pedido \u2013 por horas a fio, sem sequer se preocupar em procurar um assento.  <\/p>\n\n\n\n

Somos lembrados da atriz Ayumi Himekawa de Glass no Kamen<\/a>, <\/em>que admite que sua rival art\u00edstica, Maya Kitajima, \u00e9 a \u00fanica pessoa no mundo que a entende.\u00a0<\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/figure><\/div>\n\n\n\n

Le Sommet des Dieux <\/em>\u00e9 uma adapta\u00e7\u00e3o do mang\u00e1 Kamigami no Itadaki <\/em>de Jiro Taniguchi; este, por sua vez, baseado em romance de Baku Yumemakura lan\u00e7ado em 1998. \u00a0O Evereste continua onde sempre esteve, mas muita coisa mudou, de l\u00e1 para c\u00e1, em sua imagem popular. <\/p>\n\n\n\n

Em 1998, o desastre do Evereste \u2013 e a pol\u00eamica suscitada pelo livro de Krakauer \u2013 ainda estavam frescos na mem\u00f3ria. Mallory \u2013 cujo cad\u00e1ver<\/a> seria de fato encontrado um ano depois \u2013 ainda era uma figura semi-folcl\u00f3rica. A imagem do monte como um playground para rica\u00e7os estava em processo de constru\u00e7\u00e3o. Como experi\u00eancia, a obsess\u00e3o por escal\u00e1-lo despertava mais espanto que sarcasmo, Fosse a montanha uma droga, seu \u201cconsumo\u201d era a n\u00f3ia euf\u00f3rica de um novo narc\u00f3tico, n\u00e3o as consequ\u00eancias batidas de um produto h\u00e1 muito recriminado.\u00a0<\/p>\n\n\n\n

Hoje, depois de dois<\/a> desastres<\/a> ainda maiores do que o de 1996, uma greve de sherpa<\/a>s (os guias nepaleses que acompanham as expedi\u00e7\u00f5es) e den\u00fancias frequentes do dano ambiental causado pela ind\u00fastria do alpinismo<\/a>, ningu\u00e9m precisa de um filme para entender que h\u00e1 algo de errado em nossa rela\u00e7\u00e3o com as montanhas. Isto funciona para o filme de Imbert, que se permite acompanhar as vidas de Habu e Fukumachi sem a necessidade de emitir ju\u00edzos.\u00a0<\/p>\n\n\n\n

Seu longa se passa quase que inteiramente ao ar livre, mas os conflitos que retrata s\u00e3o pessoais e internos. As cenas de escalada s\u00e3o tours de force <\/em>de suspense, mas elas n\u00e3o t\u00eam qualquer pretens\u00e3o de hero\u00edsmo. Pelo contr\u00e1rio,\u00a0a cinematografia de Imbert parece estimular em nossos cora\u00e7\u00f5es uma curiosidade s\u00e1dica, como se a decis\u00e3o volunt\u00e1ria de escalar uma montanha fosse compar\u00e1vel ao esfor\u00e7o visceral para sobreviver a uma trag\u00e9dia. \u201cEle vai ou n\u00e3o sobreviver?\u201d \u00e9 o que nos perguntamos a cada corda estourada ou pedra fora de lugar. E a resposta, entendemos, depende nem tanto do que enfrentamos por fora, <\/em>mas tamb\u00e9m pelo que temos por dentro. <\/em>\u00a0<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 um prazer similar ao de assistir \u00e0 personagem de James Franco serrar seu pr\u00f3prio bra\u00e7o em 127 horas<\/a> \u2013 se \u00e9 que \u201cprazer\u201d \u00e9 o nome correto para este sentimento. \u00a0\u00a0<\/p>\n\n\n\n

As montanhas s\u00e3o s\u00f3 um caminho<\/strong>\u00a0<\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/figure><\/div>\n\n\n\n

Como algu\u00e9m sem disposi\u00e7\u00e3o para gastar grandes fortunas arriscando a vida em montanhas,\u00a0a obsess\u00e3o de Habu me parece t\u00e3o absurda quanto a ambi\u00e7\u00e3o de um Jeff Bezos ou Elon Musk de viajar ao espa\u00e7o.\u00a0<\/p>\n\n\n\n

Mas encarar o filme de Imbert como uma mera f\u00e1bula sobre ricos exc\u00eantricos \u00e9 perder de vista o mais importante.  <\/p>\n\n\n\n

Nem todas as compuls\u00f5es humanas envolvem voos ao Nepal e tanques de oxig\u00eanio. Entre n\u00f3s, pessoas comuns, h\u00e1 tamb\u00e9m aqueles que se colocam na linha do perigo por motivos nem sempre aparentes. Pessoas obcecadas por desafios sexuais, brigas de rua, rachas em avenidas\u00a0desertas, subst\u00e2ncias nocivas; obcecadas pelo frio na barriga de subir na ponta dos p\u00e9s \u00e0 beira de um abismo, sem saber qu\u00e3o fundo cair\u00e3o se o pior acontecer.\u00a0<\/p>\n\n\n\n

Ou ainda compuls\u00f5es menos \u00f3bvias, como a que move Fukumachi a reconstruir a hist\u00f3ria – e os motivos \u2013 de Habu. Eventualmente, o fot\u00f3grafo \u00e9 obrigado a admitir que o alpinista \u00e9 seu pr\u00f3prio Evereste particular: um desafio intranspon\u00edvel, um cume que n\u00e3o parar\u00e1 de tent\u00e1-lo com seus segredos at\u00e9 ser desvendado.\u00a0<\/p>\n\n\n\n

O que move pessoas a essas obsess\u00f5es? <\/p>\n\n\n\n

\u201cN\u00e3o sei o que \u00e9\u201d responde Habu no filme. \u201cParei de me perguntar isso quando percebi que n\u00e3o vivia sem escalar.\u201d <\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/figure><\/div>\n\n\n\n

N\u00f3s, pessoas, somos obcecadas por sentidos. N\u00e3o estamos satisfeitos em seguir o curso dos dias e atender nossas vontades prim\u00e1rias. Precisamos sentir que caminhamos para algum lugar, que a vida \u00e9 mais do que uma s\u00e9rie de eventos marcantes pontuados por vales de insignific\u00e2ncia. <\/p>\n\n\n\n

Dessa necessidade vem o milenar (e infinito) imperativo para dar um sentido \u00e0 nossa exist\u00eancia, causar um impacto nos outros, ser lembrado. <\/p>\n\n\n\n

N\u00e3o para Habu. \u201cAlgumas pessoas buscam o sentido da vida.\u201d Ele diz. \u201cEu n\u00e3o.\u201d\u00a0<\/p>\n\n\n\n

\u201cEscalar \u00e9 a \u00fanica coisa que me faz sentir vivo.\u201d <\/p>\n\n\n\n

\u201cAs montanhas s\u00e3o um caminho, n\u00e3o o objetivo\u201d, complementa Fukumachi. <\/p>\n\n\n\n

Sim. Mas um caminho para onde?\u00a0<\/p>\n\n\n\n

Para uma vida que nos proporcionar\u00e1 o al\u00edvio de nunca mais ter de procurar respostas. <\/p>\n\n\n\n

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Podemos denunciar esse estilo de vida como uma tentativa maquiada de escapismo. Podemos zombar daqueles, como Habu, que precisam subir acima dos oito mil metros para gozar de uma satisfa\u00e7\u00e3o que a vida cotidiana j\u00e1 nos proporciona.\u00a0<\/p>\n\n\n\n

Por\u00e9m, como uma montanha em toda a sua gl\u00f3ria, n\u00e3o podemos ignor\u00e1-los.\u00a0Nem deixar de admitir, ainda que apenas para n\u00f3s mesmos, no escuro dos nossos pensamentos, que gostar\u00edamos de experimentar, por um instante que fosse, o mundo atrav\u00e9s de seus olhos.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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