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{"id":23049,"date":"2021-11-24T18:47:50","date_gmt":"2021-11-24T21:47:50","guid":{"rendered":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/?p=23049"},"modified":"2021-11-24T18:47:52","modified_gmt":"2021-11-24T21:47:52","slug":"entregas-expressas-da-kiki-cedo-ou-tarde-todos-devemos-aposentar-nossas-vassouras","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/2021\/11\/24\/entregas-expressas-da-kiki-cedo-ou-tarde-todos-devemos-aposentar-nossas-vassouras\/","title":{"rendered":"“Entregas Expressas da Kiki”: cedo ou tarde, todos devemos aposentar nossas vassouras"},"content":{"rendered":"\n

\u00c9 m\u00e9rito do Studio Ghibli que seus filmes pare\u00e7am cap\u00edtulos de uma mesma hist\u00f3ria, reflex\u00f5es de uma mesma (e coletiva) mente criativa. Mesmo quando se tratam de adapta\u00e7\u00f5es de livros variados, escritos por autores de diferentes cantos do mundo.<\/p>\n\n\n\n

Conhecer como eram essas hist\u00f3rias antes de serem transformadas por Miyazaki e companhia \u00a0\u00e9 uma experi\u00eancia t\u00e3o gratificante quanto rara. Boa parte desses t\u00edtulos, como As Mem\u00f3rias de Marnie<\/a> <\/em>e Kiri no Muk\u014d no Fushigi-na Machi<\/em>\u00a0(inspira\u00e7\u00e3o para \u201cA Viagem de Chihiro\u201d) nunca foram lan\u00e7ados no mercado nacional.<\/p>\n\n\n\n

Leitores brasileiros podem respiram um pouco mais aliviados. No come\u00e7o do m\u00eas, Entregas Expressas da Kiki<\/em>, inspira\u00e7\u00e3o do cl\u00e1ssico O Servi\u00e7o de Entregas de Kiki <\/em>(1989), finalmente ganhou uma tradu\u00e7\u00e3o para o portugu\u00eas.<\/p>\n\n\n\n

Lan\u00e7ado pela Esta\u00e7\u00e3o Liberdade com bel\u00edssimas ilustra\u00e7\u00f5es de Daniel Kondo, o livro \u00e9 nossa chance de conhecer uma refer\u00eancia important\u00edssima para o g\u00eanero de garotas m\u00e1gicas \u2013 e para o romance infanto-juvenil japon\u00eas como um todo.<\/p>\n\n\n\n\n\n\n\n

A cidade de Koriko na adapta\u00e7\u00e3o cinematogr\u00e1fica do livro de Kadono<\/figcaption><\/figure><\/div>\n\n\n\n
Como aqueles que tamb\u00e9m trocaram o interior pela metr\u00f3pole bem sabem, muita coisa. A cidade em quest\u00e3o, Koriko, opera num ritmo pr\u00f3prio, seus habitantes t\u00e3o apressados e indiferentes quanto as engrenagens de um rel\u00f3gio. Mimados pelas benesses da modernidade, eles n\u00e3o v\u00eaem necessidade de magia. A presen\u00e7a de uma bruxa de vassoura e vestido preto desperta toda sorte de desconfian\u00e7as.<\/p>\n\n\n\n
Felizmente, Kiki \u00e9 criativa na mesma medida que rebelde e rapidamente aprende a se encaixar nesse mundo estranho.\u00a0 Fazendo uso de sua vassoura, a garota funda um servi\u00e7o de entregas expressas, antecessor bruxesco dos drones de entrega da Amazon. Cap\u00edtulo a cap\u00edtulo, o romance acompanha o desenrolar de suas encomendas, tal como as verdades \u2013 algumas agrad\u00e1veis, outras nem tanto \u2013 que aprende sobre os outros e si mesma.<\/p>\n\n\n\n
Nas m\u00e3os certas, \u00e9 o tipo de premissa que permite ser espandida indefinidamente, cada epis\u00f3dio uma nova encomenda. Potencial que sua autora, Eiko Kadono, levou a cabo. No Jap\u00e3o, o romance inspirou uma s\u00e9rie de sete livros, o \u00faltimo dos quais publicado em 2017.<\/p>\n\n\n\n
Fico curioso em conhecer os volumes seguintes da s\u00e9rie (oportunidade que, com sorte, a Esta\u00e7\u00e3o Liberdade nos proporcionar\u00e1 num futuro pr\u00f3ximo). N\u00e3o apenas pelo prazer de revisitar a prosa singela de Kadono, mas por conferir como sua protagonista mudou ao longo desses quase trinta anos.<\/p>\n\n\n\n
Mais do que uma simples hist\u00f3ria sobre bruxas, afinal de contas, Kiki<\/em> foi uma refer\u00eancia important\u00edssima para a consagra\u00e7\u00e3o de um dos g\u00eaneros mais queridos por amantes da cultura pop japonesa: o mahou shoujo <\/em>ou garota m\u00e1gica. G\u00eanero esse que passou por tantas transforma\u00e7\u00f5es desde o long\u00ednguo ano de 1985, quando o primeiro livro foi publicado, quanto sua bruxinha titular durante seu ano de aprendizagem.<\/p>\n\n\n\n
De majokko <\/em>a *mahou shoujo<\/em><\/strong><\/p>\n\n\n\n*
***$\"\"$ <\/figure><\/div>\n\n\n\n***Antes de se tornarem um \u00edcone pop do Jap\u00e3o contempor\u00e2neo \u2013 Sailor Moon chegou a ser escolhida como uma das “embaixadoras<\/a>” das Olimp\u00edadas de 2020) \u2013 as garotas m\u00e1gicas n\u00e3o eram necessariamente t\u00e3o diferentes das bruxas de vassoura e chap\u00e9us pontudos do folclore ocidental. Em boa parte, isto se deve \u00e0 influ\u00eancia da sitcom americana A Feiticeira<\/a>. <\/em> Tal como a s\u00e9rie dos 1960, o mote do g\u00eanero era mostrar as desventuras de uma usu\u00e1ria de magia em um mundo contempor\u00e2neo. E, com isso, brincar \u2013 e tamb\u00e9m refletir \u2013 sobre **o qu\u00e3o desencantada nossa sociedade se tornou.<\/strong><\/p>\n\n\n\n**
**$\"\"$** Majokko Megu-chan, cl\u00e1ssico do g\u00eanero garota m\u00e1gica. Como outras de sua gera\u00e7\u00e3o, a s\u00e9rie foi fortemente inspirada pela sitcom “A Feiticeira”<\/figcaption><\/figure><\/div>\n\n\n\n
Kiki <\/em>\u00e9 uma obra de outra m\u00eddia, mas compartilha o ponto de vista dos animes e mang\u00e1s dessa gera\u00e7\u00e3o. Nesse sentido, \u00e9 um registro importante do que significava ser uma “garota m\u00e1gica” antes dos b\u00e1culos e cenas de transforma\u00e7\u00e3o se tornarem parte insepar\u00e1vel de seu apelo. N\u00e3o \u00e9 uma coincid\u00eancia, por sinal, que nos anos 1970 estas her\u00f3inas eram conhecidas como *majokko <\/em>(“pequenas bruxas”). Kiki se sentiria em casa na sua companhia.<\/p>\n\n\n\n*
Curiosamente, esse paralelo fica mais evidente no romance de Kadono que em sua adapta\u00e7\u00e3o cinematogr\u00e1fica. Nele, Kiki <\/em>n\u00e3o \u00e9 \u201cm\u00e1gica\u201d apenas em raz\u00e3o de seus poderes, mas porque traz magia<\/strong> *<\/em>\u00e0 vida das pessoas, convidando-as a encarar o mundo de uma forma mais encantada.<\/p>\n\n\n\n*
\u00c9 o caso de cap\u00edtulo em que a bruxinha \u00e9 contratada para salvar o ano-novo. Ao descobrir que o rel\u00f3gio da cidade est\u00e1 quebrado a poucas horas antes do r\u00e9veillon, o prefeito pede para que roube o aparelho de uma aldeia vizinha. <\/p>\n\n\n\n
Ou ent\u00e3o o epis\u00f3dio em que Kiki precisa agir para que o inverno n\u00e3o dure para sempre. Acontece que sua cidade anuncia o come\u00e7o da primavera com um festival musical, uma cerim\u00f4nia \u00e0 la Dia da Marmota<\/a> que os locais acreditam ser capaz de espantar o frio. Infelizmente, os m\u00fasicos escalados esqueceram os instrumentos no trem. Se n\u00e3o conseguir reav\u00ea-los \u00e0 tempo, a cidade estar\u00e1 fadada a um ano g\u00e9lido.<\/p>\n\n\n\n
***Kadono nunca esconde o que realmente est\u00e1 em jogo: o grito de socorro de uma sociedade desencantada, redescobrindo valor em seus rituais e supersti\u00e7\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n***
**O decl\u00ednio da magia<\/strong><\/p>\n\n\n\n**
Kiki<\/em>, no final das contas, \u00e9 uma carta de amor aos encantos sutis que experimentamos ao longo do dia. Trens, avi\u00f5es, correios e drones <\/em>da Amazon podem tornar nosso cotidiano mais f\u00e1cil, mas n\u00e3o \u00e9 s\u00f3 disse que se faz uma vida. Que n\u00e3o sejamos capazes de conjurar feiti\u00e7os n\u00e3o significa que n\u00e3o tenhamos nossa pr\u00f3pria esp\u00e9cie de magia: pequenos rituais, curiosidade, a capacidade de nos maravilhar com as surpresas do dia-a-dia. Nem que sejam t\u00e3o mundanas como um prado coberto por capim-cidreiras que nos deixa cheirosos ap\u00f3s uma soneca.<\/p>\n\n\n\n
***N\u00e3o se trata de uma magia t\u00e3o deslumbrante quanto uma bola de fogo ou a capacidade de parar o tempo. Para o nosso bem, contudo, \u00e9 bom que seja o suficiente. <\/p>\n\n\n\n***
A despeito de seu frequente bom-humor, o livro de Kadono n\u00e3o esconde um lado tr\u00e1gico. No in\u00edcio do romance, a m\u00e3e de Kiki conta \u00e0 filha que, de todos os sortil\u00e9gios de bruxa, ela conhece apenas a alquimia e o v\u00f4o com vassoura. \u00c0 Kiki, ensinou apenas o segundo, de onde tiramos que a arte de fazer po\u00e7\u00f5es morrer\u00e1 com ela.<\/p>\n\n\n\n
Quantas outras habilidades n\u00e3o tiveram destino semelhante? Por quanto tempo a pr\u00f3pria Kiki conseguir\u00e1 manter a tocha acesa diante das conveni\u00eancias da vida moderna e press\u00f5es da vida adulta?<\/p>\n\n\n\n
Por quanto tempo **qualquer um de n\u00f3s<\/strong> consegue manter vivas as fantasias de nossas inf\u00e2ncias?<\/p>\n\n\n\n**
Como outras hist\u00f3rias de garotas m\u00e1gicas, Kiki <\/em>\u00e9 tamb\u00e9m uma met\u00e1fora sobre nosso pr\u00f3prio crescimento; sobre o desafio de abrir m\u00e3o das po\u00e7\u00f5es m\u00e1gicas e gatos falantes que herdamos de nossos pais e encarar o mundo com nossos pr\u00f3prios recursos.<\/p>\n\n\n\n
$\"\"$
A cidade de Koriko. Ilustra\u00e7\u00e3o de Daniel Kondo.<\/figcaption><\/figure><\/div>\n\n\n\n
H\u00e1 uma cena no final do romance em que Kiki sobrevoa sua nova cidade. O p\u00f4r do sol bate na torre do rel\u00f3gio e cria uma sombra que lembra um ponteiro.<\/p>\n\n\n\n
\u00c9 uma imagem bonita, que nos mostra como a pr\u00f3pria Koriko, antes uma selva de concreto, se tornou m\u00e1gica aos olhos da bruxinha. Mas ela tamb\u00e9m traz uma mensagem mais s\u00f3bria\/s\u00e9ria\/melanc\u00f3lica.<\/p>\n\n\n\n
Os ponteiros do rel\u00f3gio est\u00e3o sempre se mexendo, sejamos ou n\u00e3o capazes de enxerg\u00e1-los. O tempo n\u00e3o para. Cedo ou tarde, preparados ou n\u00e3o, todos n\u00f3s estamos fadados a aposentar nossas vassouras.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
\u00c9 m\u00e9rito do Studio Ghibli que seus filmes pare\u00e7am cap\u00edtulos de uma mesma hist\u00f3ria, reflex\u00f5es de uma mesma (e coletiva) mente criativa. Mesmo quando se tratam de adapta\u00e7\u00f5es de livros variados, escritos por autores de diferentes cantos do mundo. Conhecer como eram essas hist\u00f3rias antes de serem transformadas por Miyazaki e companhia \u00a0\u00e9 uma experi\u00eancia […]<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":23057,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"spay_email":"","jetpack_publicize_message":"","jetpack_is_tweetstorm":false},"categories":[580,17],"tags":[751,750,226,515],"jetpack_featured_media_url":"https:\/\/i1.wp.com\/www.finisgeekis.com\/wp-content\/uploads\/2021\/11\/20211124-kiki-cover.jpg?fit=918%2C630&ssl=1","jetpack_publicize_connections":[],"jetpack_shortlink":"https:\/\/wp.me\/p9rUzW-5ZL","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/23049"}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=23049"}],"version-history":[{"count":2,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/23049\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":23059,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/23049\/revisions\/23059"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media\/23057"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=23049"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=23049"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=23049"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}

A cidade de Koriko na adapta\u00e7\u00e3o cinematogr\u00e1fica do livro de Kadono<\/figcaption><\/figure><\/div>\n\n\n\n
Como aqueles que tamb\u00e9m trocaram o interior pela metr\u00f3pole bem sabem, muita coisa. A cidade em quest\u00e3o, Koriko, opera num ritmo pr\u00f3prio, seus habitantes t\u00e3o apressados e indiferentes quanto as engrenagens de um rel\u00f3gio. Mimados pelas benesses da modernidade, eles n\u00e3o v\u00eaem necessidade de magia. A presen\u00e7a de uma bruxa de vassoura e vestido preto desperta toda sorte de desconfian\u00e7as.<\/p>\n\n\n\n
Felizmente, Kiki \u00e9 criativa na mesma medida que rebelde e rapidamente aprende a se encaixar nesse mundo estranho.\u00a0 Fazendo uso de sua vassoura, a garota funda um servi\u00e7o de entregas expressas, antecessor bruxesco dos drones de entrega da Amazon. Cap\u00edtulo a cap\u00edtulo, o romance acompanha o desenrolar de suas encomendas, tal como as verdades \u2013 algumas agrad\u00e1veis, outras nem tanto \u2013 que aprende sobre os outros e si mesma.<\/p>\n\n\n\n
Nas m\u00e3os certas, \u00e9 o tipo de premissa que permite ser espandida indefinidamente, cada epis\u00f3dio uma nova encomenda. Potencial que sua autora, Eiko Kadono, levou a cabo. No Jap\u00e3o, o romance inspirou uma s\u00e9rie de sete livros, o \u00faltimo dos quais publicado em 2017.<\/p>\n\n\n\n
Fico curioso em conhecer os volumes seguintes da s\u00e9rie (oportunidade que, com sorte, a Esta\u00e7\u00e3o Liberdade nos proporcionar\u00e1 num futuro pr\u00f3ximo). N\u00e3o apenas pelo prazer de revisitar a prosa singela de Kadono, mas por conferir como sua protagonista mudou ao longo desses quase trinta anos.<\/p>\n\n\n\n
Mais do que uma simples hist\u00f3ria sobre bruxas, afinal de contas, Kiki<\/em> foi uma refer\u00eancia important\u00edssima para a consagra\u00e7\u00e3o de um dos g\u00eaneros mais queridos por amantes da cultura pop japonesa: o mahou shoujo <\/em>ou garota m\u00e1gica. G\u00eanero esse que passou por tantas transforma\u00e7\u00f5es desde o long\u00ednguo ano de 1985, quando o primeiro livro foi publicado, quanto sua bruxinha titular durante seu ano de aprendizagem.<\/p>\n\n\n\n
De majokko <\/em>a *mahou shoujo<\/em><\/strong><\/p>\n\n\n\n*
***$\"\"$ <\/figure><\/div>\n\n\n\n***Antes de se tornarem um \u00edcone pop do Jap\u00e3o contempor\u00e2neo \u2013 Sailor Moon chegou a ser escolhida como uma das “embaixadoras<\/a>” das Olimp\u00edadas de 2020) \u2013 as garotas m\u00e1gicas n\u00e3o eram necessariamente t\u00e3o diferentes das bruxas de vassoura e chap\u00e9us pontudos do folclore ocidental. Em boa parte, isto se deve \u00e0 influ\u00eancia da sitcom americana A Feiticeira<\/a>. <\/em> Tal como a s\u00e9rie dos 1960, o mote do g\u00eanero era mostrar as desventuras de uma usu\u00e1ria de magia em um mundo contempor\u00e2neo. E, com isso, brincar \u2013 e tamb\u00e9m refletir \u2013 sobre **o qu\u00e3o desencantada nossa sociedade se tornou.<\/strong><\/p>\n\n\n\n**
**$\"\"$** Majokko Megu-chan, cl\u00e1ssico do g\u00eanero garota m\u00e1gica. Como outras de sua gera\u00e7\u00e3o, a s\u00e9rie foi fortemente inspirada pela sitcom “A Feiticeira”<\/figcaption><\/figure><\/div>\n\n\n\n
Kiki <\/em>\u00e9 uma obra de outra m\u00eddia, mas compartilha o ponto de vista dos animes e mang\u00e1s dessa gera\u00e7\u00e3o. Nesse sentido, \u00e9 um registro importante do que significava ser uma “garota m\u00e1gica” antes dos b\u00e1culos e cenas de transforma\u00e7\u00e3o se tornarem parte insepar\u00e1vel de seu apelo. N\u00e3o \u00e9 uma coincid\u00eancia, por sinal, que nos anos 1970 estas her\u00f3inas eram conhecidas como *majokko <\/em>(“pequenas bruxas”). Kiki se sentiria em casa na sua companhia.<\/p>\n\n\n\n*
Curiosamente, esse paralelo fica mais evidente no romance de Kadono que em sua adapta\u00e7\u00e3o cinematogr\u00e1fica. Nele, Kiki <\/em>n\u00e3o \u00e9 \u201cm\u00e1gica\u201d apenas em raz\u00e3o de seus poderes, mas porque traz magia<\/strong> *<\/em>\u00e0 vida das pessoas, convidando-as a encarar o mundo de uma forma mais encantada.<\/p>\n\n\n\n*
\u00c9 o caso de cap\u00edtulo em que a bruxinha \u00e9 contratada para salvar o ano-novo. Ao descobrir que o rel\u00f3gio da cidade est\u00e1 quebrado a poucas horas antes do r\u00e9veillon, o prefeito pede para que roube o aparelho de uma aldeia vizinha. <\/p>\n\n\n\n
Ou ent\u00e3o o epis\u00f3dio em que Kiki precisa agir para que o inverno n\u00e3o dure para sempre. Acontece que sua cidade anuncia o come\u00e7o da primavera com um festival musical, uma cerim\u00f4nia \u00e0 la Dia da Marmota<\/a> que os locais acreditam ser capaz de espantar o frio. Infelizmente, os m\u00fasicos escalados esqueceram os instrumentos no trem. Se n\u00e3o conseguir reav\u00ea-los \u00e0 tempo, a cidade estar\u00e1 fadada a um ano g\u00e9lido.<\/p>\n\n\n\n
***Kadono nunca esconde o que realmente est\u00e1 em jogo: o grito de socorro de uma sociedade desencantada, redescobrindo valor em seus rituais e supersti\u00e7\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n***
**O decl\u00ednio da magia<\/strong><\/p>\n\n\n\n**
Kiki<\/em>, no final das contas, \u00e9 uma carta de amor aos encantos sutis que experimentamos ao longo do dia. Trens, avi\u00f5es, correios e drones <\/em>da Amazon podem tornar nosso cotidiano mais f\u00e1cil, mas n\u00e3o \u00e9 s\u00f3 disse que se faz uma vida. Que n\u00e3o sejamos capazes de conjurar feiti\u00e7os n\u00e3o significa que n\u00e3o tenhamos nossa pr\u00f3pria esp\u00e9cie de magia: pequenos rituais, curiosidade, a capacidade de nos maravilhar com as surpresas do dia-a-dia. Nem que sejam t\u00e3o mundanas como um prado coberto por capim-cidreiras que nos deixa cheirosos ap\u00f3s uma soneca.<\/p>\n\n\n\n
***N\u00e3o se trata de uma magia t\u00e3o deslumbrante quanto uma bola de fogo ou a capacidade de parar o tempo. Para o nosso bem, contudo, \u00e9 bom que seja o suficiente. <\/p>\n\n\n\n***
A despeito de seu frequente bom-humor, o livro de Kadono n\u00e3o esconde um lado tr\u00e1gico. No in\u00edcio do romance, a m\u00e3e de Kiki conta \u00e0 filha que, de todos os sortil\u00e9gios de bruxa, ela conhece apenas a alquimia e o v\u00f4o com vassoura. \u00c0 Kiki, ensinou apenas o segundo, de onde tiramos que a arte de fazer po\u00e7\u00f5es morrer\u00e1 com ela.<\/p>\n\n\n\n
Quantas outras habilidades n\u00e3o tiveram destino semelhante? Por quanto tempo a pr\u00f3pria Kiki conseguir\u00e1 manter a tocha acesa diante das conveni\u00eancias da vida moderna e press\u00f5es da vida adulta?<\/p>\n\n\n\n
Por quanto tempo **qualquer um de n\u00f3s<\/strong> consegue manter vivas as fantasias de nossas inf\u00e2ncias?<\/p>\n\n\n\n**
Como outras hist\u00f3rias de garotas m\u00e1gicas, Kiki <\/em>\u00e9 tamb\u00e9m uma met\u00e1fora sobre nosso pr\u00f3prio crescimento; sobre o desafio de abrir m\u00e3o das po\u00e7\u00f5es m\u00e1gicas e gatos falantes que herdamos de nossos pais e encarar o mundo com nossos pr\u00f3prios recursos.<\/p>\n\n\n\n
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A cidade de Koriko. Ilustra\u00e7\u00e3o de Daniel Kondo.<\/figcaption><\/figure><\/div>\n\n\n\n
H\u00e1 uma cena no final do romance em que Kiki sobrevoa sua nova cidade. O p\u00f4r do sol bate na torre do rel\u00f3gio e cria uma sombra que lembra um ponteiro.<\/p>\n\n\n\n
\u00c9 uma imagem bonita, que nos mostra como a pr\u00f3pria Koriko, antes uma selva de concreto, se tornou m\u00e1gica aos olhos da bruxinha. Mas ela tamb\u00e9m traz uma mensagem mais s\u00f3bria\/s\u00e9ria\/melanc\u00f3lica.<\/p>\n\n\n\n
Os ponteiros do rel\u00f3gio est\u00e3o sempre se mexendo, sejamos ou n\u00e3o capazes de enxerg\u00e1-los. O tempo n\u00e3o para. Cedo ou tarde, preparados ou n\u00e3o, todos n\u00f3s estamos fadados a aposentar nossas vassouras.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
\u00c9 m\u00e9rito do Studio Ghibli que seus filmes pare\u00e7am cap\u00edtulos de uma mesma hist\u00f3ria, reflex\u00f5es de uma mesma (e coletiva) mente criativa. Mesmo quando se tratam de adapta\u00e7\u00f5es de livros variados, escritos por autores de diferentes cantos do mundo. Conhecer como eram essas hist\u00f3rias antes de serem transformadas por Miyazaki e companhia \u00a0\u00e9 uma experi\u00eancia […]<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":23057,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"spay_email":"","jetpack_publicize_message":"","jetpack_is_tweetstorm":false},"categories":[580,17],"tags":[751,750,226,515],"jetpack_featured_media_url":"https:\/\/i1.wp.com\/www.finisgeekis.com\/wp-content\/uploads\/2021\/11\/20211124-kiki-cover.jpg?fit=918%2C630&ssl=1","jetpack_publicize_connections":[],"jetpack_shortlink":"https:\/\/wp.me\/p9rUzW-5ZL","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/23049"}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=23049"}],"version-history":[{"count":2,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/23049\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":23059,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/23049\/revisions\/23059"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media\/23057"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=23049"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=23049"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=23049"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}