A menina desaparece t\u00e3o cedo surgiu. Seus pais, como \u00e9 t\u00edpico de pais fazerem, n\u00e3o acreditam em sua hist\u00f3ria.<\/p>\n\n\n\n

As coisas ficam mais estranhas quando Kazu reencontra a estranha na escola, vestindo o uniforme de seu ano. Nenhum de seus colegas nota nada de errado em sua presen\u00e7a. Pelo contr\u00e1rio, agem como se ela sempre tivesse estudado com eles.<\/p>\n\n\n\n

Teria uma assombra\u00e7\u00e3o realmente voltado \u00e0 vida e ocupado um espa\u00e7o em sua rotina? Ou estaria Kazu apenas ficando louco?<\/p>\n\n\n\n

Pouco a pouco, o garoto come\u00e7a a acreditar na primeira op\u00e7\u00e3o. Durante um trabalho da escola, Kazu desenterra por acaso um antigo mapa de sua cidade. Segundo ele, cerca de cem anos atr\u00e1s sua rua costumava se chamar Kimy\u014dji Yokoch\u014d, <\/em>algo como \u201cbeco do templo Kimyou\u201d. Em japon\u00eas, o nome do santu\u00e1rio se escreve com os ideogramas para \u201cretorno\u201d e \u201cvida\u201d, como se estivesse de alguma forma relacionado com a miss\u00e3o de trazer os mortos de volta do al\u00e9m.<\/p>\n\n\n\n

Basta que Kazu comece a fazer perguntas para que entenda que n\u00e3o est\u00e1 lidando apenas com mortos, mas tamb\u00e9m com os esqueletos, metaf\u00f3ricos, que os vivos escondem no arm\u00e1rio. Os velhos de sua rua prontamente negam ter ouvido falar do templo. Dois membros do conselho do bairro visitam sua casa para lhe convencer de que pesquisar a respeito \u00e9 uma perda de tempo. De uma mera hist\u00f3ria de fantasmas, Temple Alley Summer <\/em>come\u00e7a a se assemelhar a uma vers\u00e3o infanto-juvenil de O Beb\u00ea de Rosemary. <\/em><\/p>\n\n\n\n

Kazu eventualmente descobre que o templo Kimyou realmente existiu, mas foi destru\u00eddo por um grupo de pessoas que considerava errado trazer os mortos de volta \u00e0 vida. Seus adeptos, todavia, continuaram os ritos em segredo, dando uma nova chance a almas perdidas.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 \u00f3bvio que Akari, sua rec\u00e9m-aparecida \u201camiga\u201d, \u00e9 uma dessas pessoas.<\/p>\n\n\n\n

Ressentimentos e segundas-chances<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Minha sinopse talvez fa\u00e7a o livro parecer mais sombrio do que de fato \u00e9. Kashiwaba escreve sobre templos, mortos-vivos e seitas misteriosas, mas Temple Alley Summer<\/em> deixa claro que estes elementos s\u00e3o apenas um pano de fundo para uma quest\u00e3o maior: Se existisse um poder capaz de trazer mortos de volta \u00e0 vida, seria correto utiliz\u00e1-lo?<\/p>\n\n\n\n

Voc\u00ea, <\/strong>leitora, o utilizaria?<\/p>\n\n\n\n

Kazu acha que tem uma resposta, mas sua certeza desmancha quanto mais se aproxima de Akari. Sim, mortos-vivos s\u00e3o uma viola\u00e7\u00e3o das leis da natureza. Mas, at\u00e9 a\u00ed, n\u00e3o \u00e9 injusta uma natureza que permite que meninas morram aos dez anos, antes de aproveitarem o melhor que a vida tem a oferecer? At\u00e9 que ponto certas pessoas n\u00e3o merecem uma segunda chance? At\u00e9 que ponto desejar uma segunda chance em vez de curtir o pouco tempo que nos resta n\u00e3o invalida a pr\u00f3pria raz\u00e3o de se viver?<\/p>\n\n\n\n

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N\u00e3o tive a oportunidade de ler Kiri no Mukou no Fushigi na Machi, <\/em>o livro de Kashiwaba que inspirou A Viagem de Chihiro. <\/em>N\u00e3o sei dizer, portanto, se a exuber\u00e2ncia do filme se deve \u00e0 imagina\u00e7\u00e3o de Miyazaki ou \u00e0 hist\u00f3ria que o inspirou.<\/p>\n\n\n\n

Tenho a impress\u00e3o de que \u00e9 o primeiro caso, pois Temple Alley Summer <\/em>n\u00e3o poderia ser mais diferente da obra-prima dodiretor.<\/p>\n\n\n\n

N\u00e3o que n\u00e3o existam pontos em comum entre romance e filme. Alguns detalhes, como uma m\u00e3e invis\u00edvel e um varal que se materializa na medida em que surgem roupas a secar, parecem tirados diretamente da mente dos animadores do Studio Ghibli. Kazu, como Chihiro, aprende a enxergar o maravilhoso nas coisas mais mundanas.  <\/p>\n\n\n\n

Mas se no longa de Miyazaki essa li\u00e7\u00e3o \u00e9 colorida por um mundo paralelo que desafia os limites da imagina\u00e7\u00e3o, o romance de Kashibawa \u00e9 uma jornada para dentro. Como em As Aventuras de Marnie, <\/em>o aprendizado de Kazu vem n\u00e3o de fugir da realidade, mas de redescobrir o valor dos lugares e pessoas com que sempre conviveu.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 curioso que, quando Temple Alley Summer <\/em>finalmente abra\u00e7a a fantasia, o fa\u00e7a por meio da literatura. Em dado momento, na sanha de realizar os sonhos inacabados de Akari, Kazu sai em busca de um conto de fadas que costumava ler, serializado em uma revista h\u00e1 muito descontinuada.<\/p>\n\n\n\n

Essa hist\u00f3ria-dentro-da-hist\u00f3ria chega a lembrar A Cidade sem Ningu\u00e9m <\/em>de Chobits, <\/em>n\u00e3o apenas por conta de seu tom, mas pela maneira como for\u00e7a as personagens do romance \u2013 e tamb\u00e9m a n\u00f3s, que a lemos atrav\u00e9s de seus olhos \u2013 a enxergar seu conflito de outra maneira. Se a escrita de Kashiwaba possui uma vibe <\/em>de antiguidade, ela vale em dobro para o conto de fada. At\u00e9 mesmo as ilustra\u00e7\u00f5es s\u00e3o diferentes, em um estilo que parece pagar tributo \u00e0s xilogravuras dos s\u00e9culos XVII e XVIII.<\/p>\n\n\n\n

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\u00c9 coincid\u00eancia que um romance que se inicia com um enlatado de TV <\/em>termine com uma homenagem liter\u00e1ria a Charles Perrault aos Irm\u00e3os Grimm? Eu duvido muito.<\/p>\n\n\n\n

Mortos n\u00e3o retornam ao nosso mundo, e provavelmente isto \u00e9 para o bem. Mas o passado nunca morre de verdade, e h\u00e1 diversos sortil\u00e9gios que podem traz\u00ea-lo de volta \u00e0 vida, escondidos em mapas antigos, hist\u00f3rias contadas e mem\u00f3rias daqueles que est\u00e3o por aqui h\u00e1 mais tempo que n\u00f3s.<\/p>\n\n\n\n

Tudo o que precisamos \u00e9 de uma pitada de curiosidade.<\/p>\n\n\n\n

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O m\u00eas das bruxas acaba de terminar (ou de come\u00e7ar, se voc\u00ea for purista e levar em conta que o festival que inspirou o Halloween era celebrado dia 01\/11 e seu nome – Samhain – significa \u201cnovembro\u201d ). Ainda que voc\u00ea n\u00e3o seja t\u00e3o f\u00e3 da pantomina carnavalesca em que os americanos transformaram a data, […]<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":23042,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"spay_email":"","jetpack_publicize_message":"","jetpack_is_tweetstorm":false},"categories":[580,17],"tags":[748,226,515,749,747],"jetpack_featured_media_url":"https:\/\/i1.wp.com\/www.finisgeekis.com\/wp-content\/uploads\/2021\/11\/20211103-temple-alley-summer-cover.jpg?fit=1697%2C1392&ssl=1","jetpack_publicize_connections":[],"jetpack_shortlink":"https:\/\/wp.me\/p9rUzW-5ZC","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/23040"}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=23040"}],"version-history":[{"count":2,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/23040\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":23047,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/23040\/revisions\/23047"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media\/23042"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=23040"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=23040"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=23040"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}