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{"id":22898,"date":"2021-06-09T18:26:28","date_gmt":"2021-06-09T21:26:28","guid":{"rendered":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/?p=22898"},"modified":"2021-06-09T18:26:38","modified_gmt":"2021-06-09T21:26:38","slug":"heaven-a-violencia-e-seus-sentidos","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/2021\/06\/09\/heaven-a-violencia-e-seus-sentidos\/","title":{"rendered":"“Heaven”: a viol\u00eancia e seus sentidos"},"content":{"rendered":"\n

Quando resenhei Kagami no Kojou<\/a> <\/em>semanas atr\u00e1s, n\u00e3o imaginei que trombaria com outro romance japon\u00eas sobre bullying<\/em> t\u00e3o cedo.<\/p>\n\n\n\n

Mais surpreendente foi v\u00ea-lo escrito por ningu\u00e9m menos que Mieko Kawakami, que conquistou o Jap\u00e3o e mundo com o incendi\u00e1rio Breasts and Eggs. <\/em>Dotada de um estilo provocativo, \u00e0s vezes furioso, sua prosa n\u00e3o poderia ser mais diferente da fantasia meiga de Kagami no Kojou.<\/em><\/p>\n\n\n\n

Heaven, <\/em>seu \u00faltimo romance, deixa isso claro. Trata-se de um livro desagrad\u00e1vel ,feito para desagradar, e digo isto sem a menor mal\u00edcia.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 uma f\u00e1bula sobre o bullying<\/em> t\u00e3o imodesta em sua viol\u00eancia \u2013 e preto-e-branca em sua moralidade – que parece desafiar leitores a abandon\u00e1-la. A julgar pelo \u00f3dio e impot\u00eancia que desperta em n\u00f3s, \u00e9 prov\u00e1vel que realize este objetivo bem demais.<\/p>\n\n\n\n\n\n\n\n

O c\u00e9u e o inferno<\/strong><\/p>\n\n\n\n

<\/figure><\/div>\n\n\n\n

Seu protagonista \u00e9 um garoto de 14 anos que conhecemos apenas como \u201cOlhos\u201d. Estr\u00e1bico, sofre constantes agress\u00f5es de colegas por conta de sua apar\u00eancia. Ou, ao menos, \u00e9 o que ele imagina.<\/p>\n\n\n\n

A hist\u00f3ria abre com um bilhetinho em seu estojo convidando-o a um encontro. Sua autora \u00e9 Kojima, colega de classe t\u00e3o atormentada pelas outras garotas como ele \u00e9 pelos rapazes da turma.<\/p>\n\n\n\n

O bullying <\/em>os aproxima, e logo os dois forjam uma amizade. Longe de prover um porto-seguro contra as agress\u00f5es, contudo, seu v\u00ednculo os transforma em alvos de um abuso ainda maior, que por\u00e1 \u00e0 prova sua resili\u00eancia \u2013 e a de n\u00f3s, leitores.<\/p>\n\n\n\n

Esque\u00e7a a li\u00e7\u00e3o de vida de Kagami no Kojou <\/em>ou o humanismo de A Voz do Sil\u00eancio,<\/a> <\/em>que estendeu sua empatia at\u00e9 mesmo aos bullies. <\/em>Em Heaven<\/em>, os valent\u00f5es s\u00e3o vill\u00f5es irremedi\u00e1veis capazes de quebrar ossos e fazer as v\u00edtimas engolirem fezes. Cap\u00edtulo ap\u00f3s cap\u00edtulo, Olhos ir\u00e1 do desconforto em ir \u00e0 escola \u00e0 ins\u00f4nia, para ent\u00e3o contemplar o suic\u00eddio.<\/p>\n\n\n\n

O pr\u00f3prio nome pelo qual o conhecemos \u00a0\u2013 Olhos \u2013 d\u00e1 uma ideia da desumanidade a que \u00e9 subjugado. Na vis\u00e3o dos colegas, como na nossa, ele \u00e9 apenas uma v\u00edtima.<\/p>\n\n\n\n

Esse n\u00e3o \u00e9 um livro para os fracos.<\/p>\n\n\n\n

O fr\u00e1gil e o antifr\u00e1gil<\/strong><\/p>\n\n\n\n

O ensa\u00edsta Nassim Nicholas Taleb cunhou o termo \u201cantifr\u00e1gil<\/a>\u201d para descrever coisas que se tornam mais fortes quando sofrem dificuldades. \u00c9 o princ\u00edpio que rege nosso sistema imune, embora possa ser aplicado para muitas outras coisas: um time que jogue melhor a cada partida, uma sociedade que aprenda a resolver problemas quanto mais frequentemente os tiver.<\/p>\n\n\n\n

Trago isso \u00e0 tona porque \u00e9 uma ideia frequentemente evocada em discuss\u00f5es sobre o bullying. <\/em>Para alguns, sofrer provoca\u00e7\u00f5es de colegas \u00e9 um teste de car\u00e1ter que jovens devem enfrentar sozinhos.  Apanhar se torna \u201cbom\u201d porque nos ensina a bater de volta. Ou, pelo menos, a entender que n\u00e3o somos feitos de vidro e n\u00e3o precisamos chorar com \u201cfrescuras\u201d.<\/p>\n\n\n\n

O que vale para socos literais vale tamb\u00e9m para os \u201cpontap\u00e9s\u201d metaf\u00f3ricos que a vida nos d\u00e1. De marcas de vergonha, passar dificuldades, viver na pobreza, ter de trabalhar para o pr\u00f3prio sustentam se tornam virtudes: um Chap\u00e9u Seletor divino que separa os bons dos folgados. N\u00e3o se sobe na vida sem antes sofrer.<\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/figure><\/div>\n\n\n\n

N\u00e3o \u00e9 uma ideia necessariamente defendida na m\u00e1-f\u00e9, muito embora apare\u00e7a com frequ\u00eancia no discurso de conservadores e reacion\u00e1rios. Quando gastamos anos da vida comendo o p\u00e3o que o diabo amassou, \u00e9 tentador imaginar que nossas dores tenham um prop\u00f3sito.<\/p>\n\n\n\n

Mas esse \u00e9 um racioc\u00ednio m\u00edope, que ignora os milhares \u2013 quando n\u00e3o milh\u00f5es \u2013 que beijam a lona antes de encontrem seu lugar no mundo.<\/p>\n\n\n\n

Sim, um ou outro indiv\u00edduo conseguem escalar a pir\u00e2mide social da base at\u00e9 o topo. Mas e todos os outros que n\u00e3o o fizeram<\/strong> e desperdi\u00e7aram suas vidas com empregos sub-\u00f3timos, delinqu\u00eancia, morte precoce? O que seria do nosso pa\u00eds, da nossa sociedade, se estas pessoas tivessem sido emancipadas em vez de varridas para baixo do tapete?<\/p>\n\n\n\n

Essa \u00e9 uma pergunta que Kawakami lan\u00e7a em seus livros, escrevendo com uma f\u00faria que escapa de cada senten\u00e7a. \u201cSe voc\u00ea quer saber qu\u00e3o pobre uma pessoa era quando estava crescendo\u201d sua narradora diz no in\u00edcio de Breasts and Eggs <\/em>\u201cpergunte a ela quantas janelas ela tinha.\u201d<\/p>\n\n\n\n

\u201cPara os pobres, o tamanho da janela n\u00e3o \u00e9 sequer um conceito. Ningu\u00e9m tem vista para lugar nenhum. Uma janela \u00e9 apenas um painel emba\u00e7ado de vidro escondido atr\u00e1s de estandes abarrotadas de compensado\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Seu tom n\u00e3o \u00e9 \u00e1cido por acaso. A pobreza e a necessidade corrompem \u2013 e n\u00e3o \u00e9 uma corrup\u00e7\u00e3o que se limita aos bens materiais. Breasts and Eggs <\/em>\u00e9 recheado de personagens cansadas, desiludidas, traumatizadas. T\u00e3o maltratadas pela vida, na verdade, que n\u00e3o hesitam em propagar tristeza e sofrimento aonde quer que v\u00e3o, como se, para terem justi\u00e7a, todos precisassem sofrer como elas sofreram.<\/p>\n\n\n\n

Suas personagens nada t\u00eam de \u201cantifr\u00e1gil\u201d. Elas s\u00e3o apenas fr\u00e1geis, \u00e0s vezes quebradas, movidas por esta mesma fragilidade a machucar outras pessoas.<\/p>\n\n\n\n

\"\"
A escritora Mieko Kawakami<\/figcaption><\/figure><\/div>\n\n\n\n

Heaven<\/em> demonstra a fal\u00eancia moral desse discurso com ainda mais \u00eanfase. Nenhuma personagem encarna essa cr\u00edtica melhor que Kojima, convencida de que sofrer bullying <\/em>nos torna pessoas melhores.<\/strong><\/p>\n\n\n\n

“N\u00f3s n\u00e3o estamos apenas obedecendo […] N\u00f3s estamos deixando acontecer.” ela explica a Olhos “Eu n\u00e3o acho de forma alguma que isso \u00e9 fraqueza. \u00c9 mais como uma for\u00e7a”. <\/p>\n\n\n\n

For\u00e7a pode at\u00e9 ser. Mas de que adianta t\u00ea-la se acabamos igualmente dobrados sobre o punho de um bully? <\/em>Qual \u00e9 o prop\u00f3sito de “ser forte” se, com isso, contribuiremos para uma sociedade regida por covardes?<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 uma pergunta que Heaven <\/em>tenta responder, mas infelizmente falha, trope\u00e7ando na sua pr\u00f3pria viol\u00eancia. Seu retrato do bullying <\/em>\u00e9 t\u00e3o caricato que \u00e9 dif\u00edcil relacion\u00e1-lo ao mundo real – ou saber que sabedorias realmente t\u00eam a oferecer.<\/p>\n\n\n\n

Olhos nos conta que pedir ajuda aos pais ou aos professores n\u00e3o \u00e9 uma op\u00e7\u00e3o. Kawakami, por\u00e9m, nunca explica por que nenhum adulto est\u00e1 disposto a acreditar em sua palavra \u2013 mesmo quando, ap\u00f3s uma cena chocante, ele retorna a casa ensanguentado da cabe\u00e7a aos p\u00e9s.<\/p>\n\n\n\n

As pr\u00f3prias cenas de agress\u00f5es s\u00e3o t\u00e3o gr\u00e1ficas que flertam com a pornografia. No in\u00edcio do romance, assistimos a Olhos sendo for\u00e7ado a comer giz, o que prontamente faz com que vomite. \u00c9 uma pe\u00e7a \u201cleve\u201d para o padr\u00e3o de seus atormentadores. Outra \u201cbrincadeira\u201d o levar\u00e1 ao hospital. Uma terceira, a um estupro.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 de se perguntar at\u00e9 que ponto Kawakami realmente tem algo a dizer sobre bullying <\/em>ou n\u00e3o usa essas cenas de tortura apenas por valor de choque.<\/p>\n\n\n\n

De fato, tomado literalmente, o romance parece fetichizar os pr\u00f3prios abusos que supostamente condena. Ao contr\u00e1rio de Olhos, a esmagadora maioria das v\u00edtimas de bullying <\/em>sofrem abusos significamente mais brandos: apelidos maldosos, exclus\u00e3o pelos colegas, humilha\u00e7\u00f5es na frente da sala.<\/p>\n\n\n\n

At\u00e9 que ponto igualar a experi\u00eancia desses jovens com os tormentos de Olhos n\u00e3o diminui <\/strong>a percep\u00e7\u00e3o de trauma que de fato sofrem na vida real? <\/p>\n\n\n\n

At\u00e9 que ponto a caricatura n\u00e3o contribui para a desculpa – que escutam tantas vezes em vida – de que o que sofrem n\u00e3o passa de uma “frescura?”<\/p>\n\n\n\n

Met\u00e1foras e alegorias<\/strong><\/p>\n\n\n\n

\u201cCaricatura\u201d, na verdade, parece uma palavra errada, pois sup\u00f5e uma imagem distorcida da pr\u00f3pria realidade. Heaven, <\/em>pelo contr\u00e1rio, \u00e9 t\u00e3o preto-no-branco, que parece querer ser lido como uma alegoria.<\/p>\n\n\n\n

Como uma vers\u00e3o adolescente de J\u00f3<\/a>, Olhos aceita seu tormento passivamente, confiando na miseric\u00f3rdia daqueles que o machucam. Seu bullying<\/em> \u00e9 menos um problema social que um caminho \u2013 ou um obst\u00e1culo \u2013 para que encontre um sentido na vida: o \u201cPara\u00edso\u201d a que seu t\u00edtulo se refere.<\/p>\n\n\n\n

Como lhe explica Kojima:<\/p>\n\n\n\n

N\u00f3s entenderemos algumas coisas enquanto estivermos vivos e outras depois que morrermos. Mas n\u00e3o importa quando isto acontecer. O que importa \u00e9 que toda a dor e toda a tristeza tenham um sentido.\u201d<\/em><\/p><\/blockquote>\n\n\n\n

Kojima faz mais do que aceitar a viol\u00eancia dos colegas. Seu masoquismo chega a tal ponto que ela recusa a tomar banho ou se arrumar, de maneira a provocar ainda mais aqueles que a abusam. <\/em>Quando Olhos comenta que gostaria de n\u00e3o ser estr\u00e1bico, ela tem um surto. Como pode ele, que o destino aben\u00e7oou com um alvo para bullies <\/em>t\u00e3o perfeito, tem coragem de negar tamanha b\u00ean\u00e7\u00e3o?<\/p>\n\n\n\n

Mas a amiga n\u00e3o \u00e9 a \u00fanica personagem que parece sa\u00edda de uma par\u00e1bola b\u00edblica. Momose, um de seus bullies, <\/em>ocupa um papel similar: um L\u00facifer que o tenta ao inferno para se contrapor a Kojima e seu para\u00edso.<\/p>\n\n\n\n

Momose lhe conta que n\u00e3o existe raz\u00e3o por tr\u00e1s de seu bullying<\/em>. Eles o torturam porque podem e sentem vontade, e esta \u00e9 a \u00fanica raz\u00e3o de que precisam, pois a vida n\u00e3o tem prop\u00f3sito:<\/p>\n\n\n\n

\u201cMas pensa s\u00f3 nisso\u201d disse Momose \u201cCoincid\u00eancia. \u00c9 s\u00f3 o que existe. \u00c9 assim que o mundo funciona. Eu n\u00e3o estou falando s\u00f3 de voc\u00ea sofrendo bullying. Por acaso alguma coisa no mundo acontece por uma raz\u00e3o? Tenho certeza de que a resposta \u00e9 \u2018n\u00e3o\u2019. Sim, uma vez que ela tenha acontecido, voc\u00ea pode inventar todo tipo de explica\u00e7\u00e3o que parece que faz o maior sentido. Mas tudo come\u00e7a do nada. Sempre. Voc\u00ea nasceu por motivo nenhum e o mesmo vale pra mim. N\u00e3o h\u00e1 raz\u00e3o para n\u00f3s estarmos aqui.<\/em><\/p>

[\u2026]<\/em><\/p>

\u201cNada disso tem qualquer sentido. Todo mundo s\u00f3 faz o que eles querem. Eles t\u00eam estas \u00e2nsias, ent\u00e3o eles tentam satisfaz\u00ea-las. Nada \u00e9 bom ou ruim. Havia uma coisa que eles queriam fazer, e eles tiveram a chance de fazer. O mesmo vale pra voc\u00ea.\u201d<\/em><\/p><\/blockquote>\n\n\n\n

Criticar a passagem acima apontando que um adolescente jamais diria isso \u00e9 perder de vida o mais importante. No romance de Kawakami, o bullying <\/em>se torna uma met\u00e1fora para as agruras da pr\u00f3pria vida, e Momose e Kojima, duas formas diferentes de encar\u00e1-la: um hedonismo niilista, nietzcheano, e um conformismo messi\u00e2nico.<\/p>\n\n\n\n

Nesse sentido, Heaven <\/em>tem menos a ver com Lonely Castle in the Mirror <\/em>que com os mang\u00e1s de Inio Asano e Shuzou Oshimi: hist\u00f3rias traum\u00e1ticas, quase s\u00e1dicas de adolescentes que descem ao abismo da depravidade humana – e l\u00e1 encontram uma portilhola a um mundo diferente, se n\u00e3o necessariamente melhor.<\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/figure><\/div>\n\n\n\n

Mas h\u00e1 duas virtudes fundamentais nas obras desses mangak\u00e1s que os elevam acima de uma mera pornografia do sofrimento.<\/p>\n\n\n\n

Primeiro, elas flertam com o m\u00edstico, o surreal ou o fant\u00e1stico. Nijigahara Holograph<\/a> <\/em>\u00e9 uma narrativa m\u00e1gica que entrela\u00e7a passado, presente e futuro. \u00a0A Cidade da Luz<\/a> <\/em>sela seu cl\u00edmax com um \u00f4nibus voador. Em As Flores do Mal, <\/em>cada passo de seu protagonista rumo ao abismo \u00e9 seguido por uma flor gigantesca que brota sobre sua cidade:<\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/figure><\/div>\n\n\n\n

Segundo, elas pingam de sarcasmo dirigidos as suas personagens, <\/strong>mesmo quando nos convidam a simpatizar com elas. Em As Flores do Mal, <\/em>o protagonista Kasuga \u00e9 psicologicamente torturado pela colega Nakamura, mas Oshimi deixa claro que foi a sua prepot\u00eancia, sua esnobice adolescente, que o tornou vulner\u00e1vel a seus encantos em primeiro lugar.<\/p>\n\n\n\n

Asano leva isso ainda mais longe em Bom Noite Punpun, <\/em>com uma personagem principal zombada por Deus, e que o pr\u00f3prio autor menospreza, nas introdu\u00e7\u00f5es aos cap\u00edtulos, como um furita<\/a> <\/em>in\u00fatil.<\/p>\n\n\n\n

Gra\u00e7as a esses dois \u201ctemperos\u201d – misticismo e humor \u2013 seus trabalhos ganham um tom surreal que mant\u00e9m seus elementos repugnantes sob controle. Como um livro de Franz Kafka<\/a>, somos capazes de entender as situa\u00e7\u00f5es que suas personagens enfrentam como uma redu\u00e7\u00e3o ao absurdo de males do dia a dia.<\/p>\n\n\n\n

Kawakami domina bem essas t\u00e9cnicas, pois as usou para grande efeito em Breasts and Eggs. <\/em>Makiko, irm\u00e3 da protagonista, \u00e9 uma quarentona esquel\u00e9tica de t\u00e3o pobre que insiste em torrar uma fortuna que n\u00e3o tem para colocar implantes de silicone. Sua filha, Midoriko, encerra uma briga em fam\u00edlia quebrando uma caixa de ovos sobre a cabe\u00e7a. Uma visita da protagonista Natsuko \u00e0 casa de banhos termina com uma vis\u00e3o de sonho surrealista digna de um conto de Haruki Murakami.<\/p>\n\n\n\n

Heaven, <\/em>pelo contr\u00e1rio,n\u00e3o possui nenhuma coisa nem outra, o que faz sua alegoria sobre bullying<\/em> parecer excessiva e manipulativa. No final da leitura, \u00e9 o gosto amargo de suas cenas de tortura que permanece, concentrado demais para remediar qualquer li\u00e7\u00e3o de sabedoria.<\/p>\n\n\n\n

Se voc\u00ea, leitora ou leitor, tiver uma c\u00f3pia de Kageki no Kajou, <\/em>fa\u00e7a quest\u00e3o de mant\u00ea-la ao lado de Heaven. <\/em>\u00c9 prov\u00e1vel que sinta vontade de rel\u00ea-la ap\u00f3s esse exerc\u00edcio de sadismo.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Quando resenhei Kagami no Kojou semanas atr\u00e1s, n\u00e3o imaginei que trombaria com outro romance japon\u00eas sobre bullying t\u00e3o cedo. Mais surpreendente foi v\u00ea-lo escrito por ningu\u00e9m menos que Mieko Kawakami, que conquistou o Jap\u00e3o e mundo com o incendi\u00e1rio Breasts and Eggs. Dotada de um estilo provocativo, \u00e0s vezes furioso, sua prosa n\u00e3o poderia ser […]<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":22899,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"spay_email":"","jetpack_publicize_message":"","jetpack_is_tweetstorm":false},"categories":[580,17],"tags":[720,226,515,719],"jetpack_featured_media_url":"https:\/\/i2.wp.com\/www.finisgeekis.com\/wp-content\/uploads\/2021\/06\/20210607-cover-heaven.jpg?fit=2280%2C2016&ssl=1","jetpack_publicize_connections":[],"jetpack_shortlink":"https:\/\/wp.me\/p9rUzW-5Xk","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/22898"}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=22898"}],"version-history":[{"count":2,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/22898\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":22908,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/22898\/revisions\/22908"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media\/22899"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=22898"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=22898"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=22898"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}