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{"id":22722,"date":"2021-03-24T17:53:44","date_gmt":"2021-03-24T20:53:44","guid":{"rendered":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/?p=22722"},"modified":"2021-03-24T17:53:44","modified_gmt":"2021-03-24T20:53:44","slug":"the-life-and-suffering-of-sir-brante-a-historia-nao-e-um-simples-domino","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/2021\/03\/24\/the-life-and-suffering-of-sir-brante-a-historia-nao-e-um-simples-domino\/","title":{"rendered":"“The Life and Suffering of Sir Brante”: A Hist\u00f3ria n\u00e3o \u00e9 um simples domin\u00f3"},"content":{"rendered":"

Muito tempo atr\u00e1s, quando videogames ainda eram novidade, estudiosos da m\u00eddia se perguntavam qual era a melhor \u201ccaixinha\u201d, no mundo da arte, em que deveriam ser colocados.<\/p>\n

Alguns defendiam que eles eram apenas outro tipo de jogo, igual ao xadrez ou mesmo ao futebol.<\/p>\n

Outros argumentavam que eram uma forma de contar hist\u00f3rias, compar\u00e1vel ao cinema, a literatura e ao teatro.<\/p>\n

N\u00e3o demorou para que ambos percebessem que estavam errados. Videogames eram uma mistura das duas coisas \u2013 e mais tantas outras que n\u00e3o haviam antecipado. Tentar separ\u00e1-las ia justamente contra aquilo que os tornava uma arte t\u00e3o fascinante.<\/p>\n

Mas ambos tamb\u00e9m estavam certos – em rela\u00e7\u00e3o a outra coisa. A despeito de seus c\u00f3digos e interfaces gr\u00e1ficas, games n\u00e3o s\u00e3o uma m\u00eddia completamente \u201cnova\u201d. Eles remontam a tradi\u00e7\u00f5es \u2013 de narrativas, de divertimentos, de maneiras de entender o mundo<\/strong>\u00a0\u2013 que acompanham a humanidade desde os seus prim\u00f3rdios.<\/p>\n

De vez em quando surge um jogo para nos provar que isso sempre ser\u00e1 verdade, n\u00e3o importa qu\u00e3o sofisticados fiquem nossos computadores e consoles.<\/p>\n

The Life and Suffering of Sir Brante<\/em>, RPG\u00a0baseado em texto desenvolvido pelo est\u00fadio Sever, \u00e9 um desses games.<\/p>\n

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Roleplay<\/em> em tempos de revolta<\/strong><\/h3>\n

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Que\u00a0Sir Brante\u00a0<\/em>n\u00e3o \u00e9 um RPG como os outros fica claro j\u00e1 em sua primeira tela.\u00a0Enquanto que muitos t\u00edtulos do g\u00eanero se contentam em ser um pastiche de J.R.R. Tolkien, dando ao seu universo um tom vagamente europeu e medieval, Sir Brante <\/em>mira uma \u00e9poca mais recente. Seu estilo art\u00edstico parece se inspirar em xilogravuras e \u00e1guas-fortes<\/a> dos s\u00e9culos XVI e XVII.<\/p>\n

A refer\u00eancia tem um porqu\u00ea que se torna evidente quando jogamos o game. Sua hist\u00f3ria nos leva auma monarquia fict\u00edcia conhecida como o Aben\u00e7oado Imp\u00e9rio Arkniano. Mais precisamente, como o subt\u00edtulo revela, na \u00e9poca em que esse imp\u00e9rio encontra seu fim.<\/strong><\/p>\n

\"\"<\/p>\n

No que consiste essa derrocada \u00e9 um mist\u00e9rio que Sir Brante<\/em> guarda para o final. O jogo \u00e9 um RPG baseado em texto no estilo de Fallen London<\/a>, <\/em>que acompanha retrospectivamente a vida de um homem que virou seu mundo de ponta cabe\u00e7a.<\/p>\n

Seu enredo \u00e9 organizado em cinco cap\u00edtulos, correspondentes \u00e0s fases da vida de seu protagonista. Desde o primeiro, – \u201cInf\u00e2ncia” \u2013 observamos as tens\u00f5es que mais tarde se tornar\u00e3o cr\u00edticas.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

O Aben\u00e7oado Imp\u00e9rio, aprendemos, \u00e9 um mundo cruel cuja sociedade \u00e9 dividida em tr\u00eas estados: os nobres (que mandam), os plebeus (que sofrem) e o clero (que justificam a desigualdade perante \u00e0 lei como parte de um plano divino).<\/p>\n

As coisas come\u00e7am a mudar quando a pr\u00f3pria Igreja\u00a0 come\u00e7a a questionar sua doutrina. Da opress\u00e3o aos camponeses nasce um movimento dissidente \u2013 a Nova F\u00e9 \u2013 que prega o livre acesso \u00e0s escrituras e defende o dever de cada um buscar sua pr\u00f3pria salva\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

Se voc\u00ea entende de hist\u00f3ria \u2013 ou \u00e9 f\u00e3 de Europa Universalis<\/em> \u2013 \u00a0j\u00e1 deve ter entendido do que Sir Brante <\/em>realmente se trata. Seus \u201cpadres dissidentes\u201d s\u00e3o uma refer\u00eancia \u00f3bvia a Martinho Lutero e os primeiros protestantes<\/a>. O pr\u00f3prio \u201cAben\u00e7oado Imp\u00e9rio Arkniano\u201d nada mais \u00e9 que o Sacro Imp\u00e9rio Romano-Germ\u00e2nico<\/a>, antigo estado na Europa Central onde Lutero nasceu. E cuja resist\u00eancia em aceitar sua \u201cnova f\u00e9\u201d mergulhou a Europa em uma das piores guerras de sua hist\u00f3ria<\/a>.<\/p>\n

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“O Enforcamento” por Jacques Callot (1633)<\/p><\/div>\n

As Guerras de Religi\u00e3o<\/strong><\/h3>\n
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Dissidentes enforcados em “Sir Brante”<\/p><\/div>\n

Como escrevi em outro artigo<\/a> tempos atr\u00e1s, RPGs s\u00e3o um g\u00eanero complicado. Vivem nos prometendo \u201cliberdade de escolha\u201d, mas esquecem de nos dizer que as \u201cescolhas\u201d em quest\u00e3o quase sempre est\u00e3o \u201csobre trilhos\u201d.<\/p>\n

Na maioria das vezes, elas consistem apenas em escolher entre duas ou tr\u00eas alternativas opostas. Geralmente bem identificadas, para que saibamos exatamente o que estamos escolhendo.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

Sir Brante <\/em>joga essa conven\u00e7\u00e3o pela janela. Nada mais justo para um game inspirado nas Guerras Europeias de Religi\u00e3o,\u00a0 uma s\u00e9rie de conflitos super-complexos que n\u00e3o podem ser resumidos a paragons <\/em>e renegades. <\/em><\/p>\n

O jogo cont\u00e9m um n\u00famero surpreendente de caminhos, mesmo para um RPG sem uma interface gr\u00e1fica propriamente dita.<\/p>\n

Como em visual novels, h\u00e1 uma s\u00e9rie de \u201crotas\u201d principais, correspondentes aos tr\u00eas estados que regem o Imp\u00e9rio Arkniano. Dependendo das escolhas que tomar em seus anos de forma\u00e7\u00e3o, Brante pode se tornar um nobre, um padre ou continuar um plebeu.<\/p>\n

Dentro de cada caminho, por\u00e9m, \u00e9 poss\u00edvel se posicionar a favor ou contra o status quo<\/em>. E no seio de cada uma dessas lutas, \u00e9 poss\u00edvel optar pela via reformisma ou pela viol\u00eancia desenfreada.<\/p>\n

Obviamente, nada \u00e9 t\u00e3o simples quanto parece. Isto porque o cabo de guerra entre situa\u00e7\u00e3o<\/strong> e revolu\u00e7\u00e3o<\/strong> \u00e9 representado como m\u00e9tricas distintas<\/strong>, cada qual com seus valores m\u00e1ximos e m\u00ednimos.<\/p>\n

Se qualquer um desses term\u00f4metros pol\u00edticos chegar no extremo, em qualquer uma das dire\u00e7\u00f5es, o resultado invariavelmente ser\u00e1 um banho de sangue \u2013 seja no sentido da anarquia, seja de uma rea\u00e7\u00e3o brutal contra os oprimidos.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

H\u00e1 aqui uma li\u00e7\u00e3o importante sobre a natureza do populismo. Lute pelos seus direitos e voc\u00ea pode mudar o mundo para o melhor. Por\u00e9m, se sua luta violar essa fr\u00e1gil malha de civilidade que chamamos de Estado de Direito, \u00e9 muito prov\u00e1vel que sua cabe\u00e7a termine ao lado das dos tiranos que almejava depor.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

De um ponto de vista de game design, o que impressiona nesses desenlaces \u00e9 como a equipe do est\u00fadio Sever conseguiu escrever uma hist\u00f3ria coesa<\/strong> sem que saibamos, <\/strong>at\u00e9 o \u00faltimo momento, que rumo nossa jornada tomar\u00e1.<\/strong><\/p>\n

Isso jamais seria poss\u00edvel sem o imensa sensibilidade de seu roteiro e o carinho com que trata suas personagens.<\/p>\n

Casos de fam\u00edlia<\/strong><\/h3>\n

\"\"<\/p>\n

“Esteja pronto a aceitar que Sir Brante n\u00e3o conseguir\u00e1 vencer cada desafio em seu caminho” o jogo nos avisa ao come\u00e7armos a campanha, “Cada vit\u00f3ria ser\u00e1 uma luta – um caminho calcado por derrotas amargas e fracassos torturantes.”<\/p>\n

“O que ser\u00e1 de Sir Brante, seus entes amados<\/strong>, e seu mundo?”<\/p>\n

Essas palavras salientam bem a natureza do jogo da Sever: essa n\u00e3o \u00e9 uma hist\u00f3ria sobre ideias,\u00a0e sim sobre pessoas.<\/strong><\/p>\n

\"\"<\/p>\n

Boa parte da trajet\u00f3ria de nosso protagonista \u00e9 passada ao lado de sua fam\u00edlia, ao longo de tr\u00eas d\u00e9cadas de crises, trag\u00e9dias e alegrias compartilhadas.<\/p>\n

Brante \u00e9 filho de Robert, membro da baixa nobreza, e Lydia, camponesa que trouxe \u00e0 casa sua filha Gl\u00f3ria, fruto de um estupro por um nobre abusador. Eles tamb\u00e9m vivem com Stephan, filho de Robert com sua primeira esposa, uma nobre \u201cda espada\u201d \u2013 i.e. que pertence ao alto escal\u00e3o do Imp\u00e9rio e tem o direito de passar seu t\u00edtulo aos filhos. Por conta disso, ele goza dos privil\u00e9gios da aristocracia, enquanto seus irm\u00e3os, apesar de morarem na mesma casa, s\u00e3o seus inferiores.<\/p>\n

Robert \u00e9 um reformista de cora\u00e7\u00e3o, mas nunca teve coragem de peitar seu pr\u00f3prio pai, alpinista social disposto a sacrificar tudo para n\u00e3o ser confundido com um plebeu \u00a0\u2013 em uma cena, ele literalmente tenta colocar fogo na pr\u00f3pria casa com a fam\u00edlia dentro.<\/p>\n

Stephan constantemente humilha seus irm\u00e3os plebeus, em especial Gl\u00f3ria, que considera a culpada por todos os problemas da fam\u00edlia. Cada esporro, por\u00e9m, torna a irm\u00e3 mais hostil \u2013 e desdenhosa dos esfor\u00e7os de Stephan para erguer a reputa\u00e7\u00e3o dos Brante.<\/p>\n

Lydia, a m\u00e3e, faz o poss\u00edvel para manter a fam\u00edlia unida, muito embora ela seja a que mais sofra nas m\u00e3os de Stephan e do sogro. Paradoxalmente, ela \u00e9 tamb\u00e9m uma religiosa devota que acredita que sua opress\u00e3o \u00e9 obra de Deus e n\u00e3o deve ser resolvida.<\/p>\n

N\u00e3o \u00e9 preciso dizer que seja qual for a revolta que Sir Brante vier a armar, ela n\u00e3o descer\u00e1 bem com sua fam\u00edlia.<\/p>\n

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Esses conflitos trazem \u00e0 mente We. The Revolution<\/a>, <\/em>outro jogo que usou a fam\u00edlia do protagonista para dar um rosto humano a um per\u00edodo conturbado da hist\u00f3ria. No caso, a Revolu\u00e7\u00e3o Francesa.<\/p>\n

Por\u00e9m, se naquele jogo a ru\u00edna da fam\u00edlia era uma trag\u00e9dia anunciada \u2013 um lembrete de que revolu\u00e7\u00f5es invariavelmente decapitam at\u00e9 mesmo aqueles que manejam a guilhotina \u2013 em Sir Brante <\/em>temos a op\u00e7\u00e3o de evitar o pior.<\/p>\n

Nenhuma dos caminhos para isso \u00e9 f\u00e1cil. O que s\u00f3 torna nossa derrota mais amarga quando nossos esfor\u00e7os para salvar a fam\u00edlia fracassarem. Ou quando descobrimos, tarde demais, o pre\u00e7o terr\u00edvel que teremos de pagar por eles.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

O dilema n\u00e3o acaba na fam\u00edlia. Virtualmente todas as pessoas com que Brante se relaciona em sua vida pessoal desempenhar\u00e3o um papel na arquitetura de sua revolta. Para ajud\u00e1-lo \u2013 ou, \u00e0s vezes, opondo-se a ele at\u00e9 as \u00faltimas consequ\u00eancias.<\/p>\n

Nesse sentido, Sir Brante <\/em>\u00e9 praticamente um anti-Dragon Age II. <\/em>Se o muito criticado game da Bioware nos obrigava a assistir uma revolu\u00e7\u00e3o que acontecia \u00e0 nossa revelia, no jogo da Sever todo o combust\u00edvel da revolta j\u00e1 est\u00e1 presente desde a nossa inf\u00e2ncia, esperando apenas nosso movimento estabanado para espalh\u00e1-lo e incendi\u00e1-lo.<\/p>\n

Cada uma de nossas a\u00e7\u00f5es – mesmo as mais inconsequentes – ter\u00e3o um papel a desempenhar na Hora H.<\/p>\n

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\u201cComo uma pessoa normal se torna uma figura hist\u00f3ria?\u201d escreveu Fyodor Slusarchuk, autor do cen\u00e1rio de Sir Brante, <\/em>no artbook oficial. \u201cQue caminho algu\u00e9m percorre para ganhar o poder de remodelar o muito inteiro ao seu redor? Estas s\u00e3o as quest\u00f5es que quisemos fazer ao p\u00fablico\u201d.<\/p>\n

De que essas perguntas foram feitas, n\u00e3o h\u00e1 d\u00favidas.<\/p>\n

Mas ser\u00e1 que s\u00e3o as perguntas certas<\/strong>?<\/p>\n

O dilema das decis\u00f5es importantes<\/strong><\/h3>\n

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O problema de se acreditar que \u201ccada decis\u00e3o importa\u201d \u00e9 que, no mundo real, isso n\u00e3o podia ser mais longe da verdade<\/strong>. Boa parte das coisas que fazemos, dizemos e sofremos n\u00e3o significa coisa alguma.<\/p>\n

Mesmo as pessoas que de fato mudaram o mundo n\u00e3o passaram toda sua vida planejando seu grande ato. N\u00e3o s\u00e3o raros aqueles que se imortalizaram por um \u00fanico ato de hero\u00edsmo. \u00c0s vezes, fruto da mera sorte; outras, contr\u00e1rio a tudo o que haviam feito antes.<\/p>\n

\u201cDeus escreve certo por linhas tortas\u201d e \u201ch\u00e1 males que v\u00eam para o bem\u201d n\u00e3o seriam ditados populares se n\u00e3o tivessem um fundo de verdade.<\/p>\n

Isso n\u00e3o vale apenas para as pessoas, mas tamb\u00e9m para a pr\u00f3pria hist\u00f3ria<\/strong>. N\u00e3o \u00e9 porque nosso presente veio na sequ\u00eancia de \u00e9pocas passadas que todos os problemas que enfrentamos hoje s\u00e3o resultados de um domin\u00f3 iniciado quando o primeiro humano descobriu o fogo.<\/p>\n

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Foto: os respons\u00e1veis pela lentid\u00e3o no combate \u00e0 Covid-19 em 2020<\/p><\/div>\n

Admitir o contr\u00e1rio implica em aceitar a conclus\u00e3o simplista \u00a0\u2013 e terrivelmente conservadora \u2013 <\/strong>de que somos escravos de nosso passado. <\/strong>E que, por consequ\u00eancia, ningu\u00e9m \u00e9 respons\u00e1vel de verdade pelas pr\u00f3prias a\u00e7\u00f5es.<\/p>\n

Se todos os problemas do Brasil v\u00eam da \u00e9poca colonial \u2013 como dizem ingenuamente certos professores de hist\u00f3ria, desesperados para que seu trabalho seja levado a s\u00e9rio \u2013 n\u00e3o h\u00e1 por que nos responsabilizarmos pelos erros e desastres do presente.<\/p>\n

Se a crise ambiental que enfrentamos \u00e9 resultado direto da Revolu\u00e7\u00e3o Industrial, n\u00e3o adianta mexermos um dedo para salvar o planeta. Trezentos anos de desenvolvimento n\u00e3o-sustent\u00e1vel nos trouxeram at\u00e9 aqui. N\u00e3o ser\u00e1 a ret\u00f3rica de uma Greta Thunberg que nos desviar\u00e1 desse caminho.<\/p>\n

Se o futuro de uma pessoa \u00e9 determinado j\u00e1 na sua inf\u00e2ncia, \u00e9 in\u00fatil investir em educa\u00e7\u00e3o, assist\u00eancia ou forma\u00e7\u00e3o profissional. Afinal, uma vez miser\u00e1vel, sempre miser\u00e1vel.<\/p>\n

Se nossa sociedade \u00e9 desigual e injusta, \u00e9 porque “tem de ser”. Mil\u00eanios de civiliza\u00e7\u00e3o nos trouxeram at\u00e9 esse ponto. O que seria um punho erguido perto de toda essa a\u00e7\u00e3o humana acumulada?<\/p>\n

Tudo o que nos resta a fazer \u00e9 baixar nossa cabe\u00e7a e aceitar calados nosso estado como os plebeus do Imp\u00e9rio Arkniano.<\/p>\n

Mas h\u00e1 outra forma de ler Sir Brante <\/em>que vira de ponta-cabe\u00e7a essa interpreta\u00e7\u00e3o. E sua chave est\u00e1 na pr\u00f3pria interface do jogo.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

Sir Brante <\/em>\u00e9 um livro. Mais precisamente, um livro de mem\u00f3rias escrito pelo pr\u00f3prio Brante, na tentativa de entender sua pr\u00f3pria vida.<\/strong><\/p>\n

O game deixa isso claro desde o primeiro momento, obrigando-nos a responder \u201cquem determina o destino de um homem?\u201d Pergunta esta que ele repete em diversos da hist\u00f3ria, como se nos desafiasse a mudar de opini\u00e3o.<\/p>\n

Essa “hist\u00f3ria dentro da hist\u00f3ria” esconde uma li\u00e7\u00e3o ainda mais importante do que as mensagens que o jogo traz sobre pol\u00edtica, hist\u00f3ria ou rela\u00e7\u00f5es humanas. Nossa passagem por esse mundo \u2013 e a de todas as pessoas\u00a0 \u2013 n\u00e3o \u00e9 apenas uma lista de lavanderia de coisas que aconteceram. \u00c9, tamb\u00e9m, uma narrativa. <\/strong><\/p>\n

Uma tentativa de agrupar nossas alegrias e sofrimentos, conquistas e derrotas, de uma maneira que fa\u00e7a sentido: <\/strong>que nos conven\u00e7a de que n\u00e3o vivemos \u00e0 toa, de que seremos lembrados, perdoados, vingados; de que mundo que deixamos n\u00e3o \u00e9 o mesmo de quando nascemos \u2013 para o bem ou para o mal.<\/p>\n

A hist\u00f3ria n\u00e3o \u00e9 um domin\u00f3 inevit\u00e1vel que une o Homo erectus <\/em>\u00e0s elei\u00e7\u00f5es de 2018. Somos n\u00f3s <\/strong>que escolhemos encar\u00e1-la dessa forma, seja porque isso permite prever minimamente o futuro (ainda que com uma grande margem de erro), seja apenas porque tememos um Deus que joga dados.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

\u00c9 essa decis\u00e3o que Sir Brante <\/em>nos convida a tomar. Certas eventos com que nos deparamos ao longo do jogo nos d\u00e1 a entender que estamos no controle. Outros tantos acontecem \u00e0 nossa revelia. H\u00e1 sinais de que a divis\u00e3o da sociedade em tr\u00eas estados \u00e9 mesmo parte de um plano divino. Outras pistas sugerem que n\u00e3o existem deuses \u2013 e que a pr\u00f3pria realidade n\u00e3o passa de um sonho.<\/p>\n

Certas pistas s\u00e3o melhores que outras. Mas decidir quais segui-las, e qual hist\u00f3ria com elas escrever, depende apenas de n\u00f3s.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Muito tempo atr\u00e1s, quando videogames ainda eram novidade, estudiosos da m\u00eddia se perguntavam qual era a melhor \u201ccaixinha\u201d, no mundo da arte, em que deveriam ser colocados. Alguns defendiam que eles eram apenas outro tipo de jogo, igual ao xadrez ou mesmo ao futebol. Outros argumentavam que eram uma forma de contar hist\u00f3rias, compar\u00e1vel ao […]<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":22741,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"spay_email":"","jetpack_publicize_message":"","jetpack_is_tweetstorm":false},"categories":[580,21],"tags":[175,337,706,427],"jetpack_featured_media_url":"https:\/\/i2.wp.com\/www.finisgeekis.com\/wp-content\/uploads\/2021\/03\/20210323-sir-brante-cover.jpg?fit=1920%2C1080&ssl=1","jetpack_publicize_connections":[],"jetpack_shortlink":"https:\/\/wp.me\/p9rUzW-5Uu","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/22722"}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=22722"}],"version-history":[{"count":4,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/22722\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":22745,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/22722\/revisions\/22745"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media\/22741"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=22722"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=22722"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=22722"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}