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{"id":22497,"date":"2021-01-06T18:00:41","date_gmt":"2021-01-06T21:00:41","guid":{"rendered":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/?p=22497"},"modified":"2021-03-24T18:20:35","modified_gmt":"2021-03-24T21:20:35","slug":"o-problema-emocional-de-cyberpunk-2077","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/2021\/01\/06\/o-problema-emocional-de-cyberpunk-2077\/","title":{"rendered":"O problema emocional de “Cyberpunk 2077”"},"content":{"rendered":"

(Aviso: cont\u00e9m SPOILERS de <\/em>Cyberpunk 2077)<\/p>\n

Tive um amigo parecido com Johnny Silverhand.<\/p>\n

N\u00e3o, ele n\u00e3o era um roqueiro, nem terrorista, tampouco tinha um bra\u00e7o cibern\u00e9tico. Mas ele tinha, como o deuteragonista<\/a> de Cyberpunk 2077, <\/em>a gana de \u201cencarar a morte”.<\/p>\n

Meu amigo sofreu uma grande decep\u00e7\u00e3o amorosa enquanto prestava o servi\u00e7o militar. O fora o transformou em um guerreiro exemplar. Permaneceu nas For\u00e7as Armadas muito mais do que a lei o obrigava.<\/p>\n

N\u00e3o se engane: ele n\u00e3o era um patriota. O que o movia era o perigo. <\/strong>Para se distrair da dor que sentia, passou a se voluntariar\u00a0para todo tipo de miss\u00e3o. Era como se, l\u00e1 no fundo, desejasse morrer durante um resgate ou treinamento na selva.<\/p>\n

Um dia, sua dedica\u00e7\u00e3o o colocou no hospital. Imediatamente depois ele deu adeus \u00e0 carreira militar. Quando perguntei por qu\u00ea, ele me confessou:<\/p>\n

\u201cEu tenho uma namorada agora. Quando estive internado, o rosto dela n\u00e3o sa\u00eda da minha cabe\u00e7a. Eu n\u00e3o posso mais fazer isso sabendo que h\u00e1 algu\u00e9m me esperando em casa.\u201d<\/p>\n

Ao jogar Cyberpunk 2077, <\/em>n\u00e3o pude deixar de lembrar de meu amigo. E quanto mais avan\u00e7ava em sua hist\u00f3ria futurista sobre vida e morte, viol\u00eancia e reden\u00e7\u00e3o, mais eu percebia que havia algo de profundamente errado<\/strong> na mensagem que o game quis passar.<\/p>\n

<\/p>\n

Never fade away<\/strong><\/h3>\n

\"\"<\/p>\n

Se tirarmos de Cyberpunk 2077 <\/em>sua roupagem sci-fi e implantes cibern\u00e9ticos, veremos que a hist\u00f3ria por baixo segue um caminho bastante familiar: a jornada de uma pessoa que descobre ter os dias contados.<\/p>\n

Conflitos como esse est\u00e3o longe de ser novos. \u00c9 poss\u00edvel que voc\u00ea, leitor, j\u00e1 o tenha enfrentado, ou conhe\u00e7a pessoas que o fizeram. \u00c9 o drama que sentem aqueles diagnosticados com c\u00e2ncer, que se submetem a cirurgias arriscadas ou que se voluntariam para uma guerra de que n\u00e3o esperam retornar.<\/p>\n

A fic\u00e7\u00e3o est\u00e1 cheia daqueles que aproveitam esse dilema para fazerem a diferen\u00e7a em suas vidas. Seja aos outros ou a si mesmos.<\/p>\n

\u00c9 o que fez Michael Furey, personagem do conto Os Mortos<\/em><\/a>\u00a0de James Joyce, que preferiu \u201catravessar corajosamente ao outro mundo no servi\u00e7o de alguma paix\u00e3o a desaparecer e definhar tristemente com a idade\u201d. \u00c9 o que fez Johnny Silverhand ao ficar para tr\u00e1s durante seu atentado terrorista para garantir que seu manifesto circulasse.<\/p>\n

Mantidas as propor\u00e7\u00f5es, \u00e9 o que tentou fazer tamb\u00e9m meu amigo, lan\u00e7ando-se aos perigos da carreira militar para n\u00e3o ter de sofrer uma vida desiludida.<\/p>\n

Cyberpunk, <\/em>\u00e0 primeira vista, conta a hist\u00f3ria de uma pessoa assombrada por essa mesma decis\u00e3o. Dexter deShawn, o inescrupuloso fixador que lan\u00e7a V \u00e0 miss\u00e3o que lhe custar\u00e1 a vida, apresenta-se com a seguinte pergunta: \u201cVoc\u00ea prefere viver na paz como um z\u00e9-ningu\u00e9m e morrer de velhice ou apostar tudo pra ditar a hist\u00f3ria e nem chegar na casa dos trinta?\u201d<\/p>\n

Dexter, que prefere a primeira op\u00e7\u00e3o, acaba morto no mesmo lix\u00e3o em que V ativa a consci\u00eancia de Johnny Silverhand. Esse mesmo lugar, descobrimos depois, esconde o cad\u00e1ver de Rache Bartmoss, lend\u00e1rio hacker que tamb\u00e9m morreu “ditando a hist\u00f3ria.”<\/p>\n

N\u00e3o \u00e9 preciso ser um adivinho, nem ter lido spoilers,<\/em> para entender que algo parecido marcar\u00e1 o destino de V.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

Hist\u00f3rias como essa s\u00e3o naturalmente poderosas. A morte chega a todos um dia, e a perspectiva de morrer\u00a0em v\u00e3o<\/strong> nos apavora mais do que bater as botas.<\/p>\n

Como escreveu Alasdair Gray em seu romance Lanark<\/a>, \u201c<\/em>a morte raramente acontece quando as pessoas est\u00e3o no seu melhor. \u00c9 por isso que n\u00f3s gostamos de trag\u00e9dias. Elas mostram homens terminando en\u00e9rgicamente com suas faculdades intactas e merecendo morrer.\u201d<\/p>\n

Em um cen\u00e1rio como o de Cyberpunk 2077, <\/em>em que o pr\u00f3prio valor da vida \u00e9 posto em cheque, uma premissa como essa \u00e9 duplamente<\/strong> efetiva.\u00a0<\/strong>V, neste sentido, poderia ser uma resposta futurista ao Booker deWitt<\/a> de Bioshock Infinite: <\/em>uma criminosa que espelha sua pr\u00f3pria realidade dist\u00f3pica, sem futuro poss\u00edvel al\u00e9m de lev\u00e1-la consigo ao inferno.<\/p>\n

Para cr\u00e9dito dos roteiristas, o jogo pincela ideias como essas aqui e ali. \u201cSua oferta foi uma merda\u201d diz V a um funcion\u00e1rio da Arasaka em um dos finais poss\u00edveis \u201cMas, ao faz\u00ea-la, voc\u00ea me deu uma coisa melhor.\u201d<\/p>\n

\u201cAntes, a morte era inevit\u00e1vel. Um fato da minha vida de merda. Voc\u00ea me permitiu escolh\u00ea-la, aceit\u00e1-la nos meus termos.\u201d<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

V n\u00e3o deseja sobreviver apenas porque tem medo da morte. Seus di\u00e1logos deixam claro que sua luta \u00e9<\/strong> contra a pr\u00f3pria Night City, <\/strong>antro de cobi\u00e7a e viol\u00eancia em que a vida humana n\u00e3o tem valor e a morte mal vale um obitu\u00e1rio.<\/p>\n

\u00c9 por isso que, ao suicidarmo-nos no final \u201cruim\u201d, o jogo se encerra com uma tomada de Night City.<\/p>\n

\u00c9 a cidade que venceu de novo, abafando mais uma alma rebelde, mais um disparo esquecido em sua escurid\u00e3o.<\/p>\n

Infelizmente, a hist\u00f3ria que une essa premissa com esse final parece ter vindo de um jogo completamente diferente.<\/p>\n

Viver como um Z\u00e9 Ningu\u00e9m ou ditar a hist\u00f3ria?<\/strong><\/h3>\n

\"\"<\/p>\n

O que Cyberpunk <\/em>parece esquecer \u00e9 de que a escolha dada por deShawn\u00a0 \u00e9 fundamentalmente ego\u00edsta. <\/strong>Ela faz sentido se n\u00e3o tivermos nada a perder – ou se agirmos que nem um sociopata, \u201cmatando quem tivermos de matar\u201d, como aconselha a boneca do Clouds na miss\u00e3o “Amor Autom\u00e1tico”.<\/p>\n

Por\u00e9m, como meu amigo militar descobriu do jeito dif\u00edcil, as coisas se complicam quando forjamos rela\u00e7\u00f5es com outras pessoas. A partir do momento que convidamos algu\u00e9m \u00e0 nossa vida, o pre\u00e7o de termin\u00e1-la n\u00e3o \u00e9 mais apenas nosso.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

O problema de Cyberpunk 2077 <\/em>\u00e9 que sua miss\u00e3o principal nos empurra ao fatalismo, mas o jogo em torno dela nos incentiva a construir novos v\u00ednculos. <\/strong>Boa parte das side quests <\/em>que recheiam as suas mais de 100 horas nos colocam cara a cara com pessoas que est\u00e3o reconstruindo suas vidas. <\/strong>E que esperam que V seja parte de seu futuro.<\/p>\n

Judy Alvarez deseja retomar o clube Clouds para vingar sua amiga Evelyn. Seu apre\u00e7o por V \u00e9 tamanho que aceita largar Night City ao seu lado – e o far\u00e1 sozinha, caso seja rejeitada. River Ward quer ter uma vida em fam\u00edlia ao lado da irm\u00e3 e sobrinho. Panam deseja retornar ao seu cl\u00e3. Kerry Eurodyne, em uma s\u00e9rie de miss\u00f5es que formam a melhor parte do jogo, encontra um novo sentido para a vida ao lado de uma banda de idols.<\/em>.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

Essas n\u00e3o s\u00e3o pessoas dispostas a \u201cencarar a morte” de frente como Johnny Silverhand. Pelo contr\u00e1rio, como a namorada de meu amigo, elas esperam reencontrar V s\u00e3o e salva quando a poeira baixar.<\/p>\n

\u00c9 justamente por isso que o fim iminente da protagonista funciona t\u00e3o bem como um dispositivo de enredo. N\u00f3s sabemos que sua morte arruinar\u00e1 irremediavelmente a vida dessas pessoas.<\/strong><\/p>\n

\"\"<\/p>\n

Quando um jogo permite que desenvolvamos esse tipo de afeto por suas personagens n\u00e3o \u00e9 suficiente que apele a um final tr\u00e1gico. \u00c9 preciso que este sentimento\u00a0retorne<\/strong>\u00a0\u00e0 V<\/strong> de alguma forma; que sua escolha final, na sacada da loja de Misty, seja retratada com a gravidade que merece.<\/p>\n

E \u00e9 aqui que Cyberpunk 2077 <\/em>escorrega da pior forma.<\/p>\n

Jogos de vida, jogos de morte<\/strong><\/h3>\n

\"\"<\/p>\n

A morte n\u00e3o \u00e9 apenas o fim de uma vida. Para os que ficam para tr\u00e1s, ela envolve meses – quando n\u00e3o anos – de luto. No caso de mortes antecipadas, como a de V, este processo come\u00e7a antes mesmo do nosso \u00faltimo suspiro.<\/p>\n

Jogos que falam sobre<\/strong> a morte sabem disso muito bem. Suas hist\u00f3rias n\u00e3o s\u00e3o apenas uma corrida para evitar (ou apressar) o fim, mas tamb\u00e9m o processo pelo qual fazemos as pazes com o que est\u00e1 por vir.<\/p>\n

Foi o que fez Majora\u2019s Mask, <\/em>jogo apocal\u00edptico em que cada uma das quests <\/em>for\u00e7a suas personagens a aceitarem a morte \u2013 sua ou de terceiros. E que termina, literalmente, com uma met\u00e1fora sobre o luto. <\/strong><\/p>\n

\"\"<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

Foi o que fez The Witcher 3<\/em>, permitindo a Geralt de Rivia uma \u00faltima noite com os outros witchers<\/em> antes da batalha contra a Ca\u00e7ada Selvagem. Que o encontro aconte\u00e7a em Kaer Morhen \u00e9 significativo: para peitar a morte, Geralt retorna ao lugar onde sua vida come\u00e7ou.<\/p>\n

Foi o que fez Mass Effect 2 <\/em>com sua Miss\u00e3o Suicida e as quests\u00a0<\/em>pessoais que levavam a ela. E, a despeito de seu final controverso, o que fez tamb\u00e9m seu sucessor, Mass Effect 3.<\/em> O jogo inteiro funciona como uma longa despedida em que fechamos todas as pontas, lamentamos todas as perdas e visitamos todos os planetas da Via L\u00e1ctea fict\u00edcia que Shepard chamou de casa.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

Cyberpunk 2077 <\/em>mira no sentimentalismo desses jogos, mas n\u00e3o em seu senso de resolu\u00e7\u00e3o. Em vez de propiciar miss\u00f5es que sublinhem o que est\u00e1 realmente em jogo \u2013 uma \u00faltima\u00a0date <\/em>com Judy, desta vez a um lugar de nossa pr\u00f3pria inf\u00e2ncia; um pedido de desculpas a River por n\u00e3o poder fazer parte de seu futuro com Randy; um adeus merecido \u00e0 Mama Welles \u2013 contamos apenas com brev\u00edssimas mensagens de celular informando-nos do que aconteceu ap\u00f3s o sobe-cr\u00e9ditos.<\/p>\n

A rela\u00e7\u00e3o de V com os Aldecados s\u00e3o uma not\u00e1vel exce\u00e7\u00e3o, mas exige que o jogador escolha um final espec\u00edfico – \u201cA Estrela\u201d. Mesmo esta vinheta, por\u00e9m, \u00e9 ofuscada pelo volume imperdo\u00e1vel de conte\u00fado secund\u00e1rio que contradiz a urg\u00eancia da miss\u00e3o principal e servem a nenhum prop\u00f3sito sen\u00e3o preencher a cartilha dos games mundo-aberto.<\/p>\n

V tem pouco mais de duas semanas restantes de vida, mas o jogo nos encoraja a tomar nosso tempo colecionando carros de luxo, fazendo o trabalho da pol\u00edcia e ocupando-nos de tarefas meniais com zero impacto na vida das personagens que o pr\u00f3prio jogo nos diz que importam.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

A forma como lida com a morte de outras pessoas al\u00e9m de V \u00e9 ainda mais problem\u00e1tica.<\/p>\n

Cyberpunk 2077<\/em>\u00a0esposa um sistema moral preto-no-branco que permite matar qualquer criminoso<\/strong> sem consequ\u00eancias, <\/strong>sem parar para pensar que V e seus entes queridos tamb\u00e9m s\u00e3o criminosos<\/strong>. Qual o sentido em lamentar a vida de Jackie, um ex-Valentino, se podemos fuzilar todos os Valentinos que encontramos nas ruas? Que direito tem V de dizer que prefere \u201cevitar mortes\u201d \u2013 com faz no final “ruim” \u2013 se tudo o que fez at\u00e9 ent\u00e3o foi genocidar NPCs a torto e a direito?<\/p>\n

The Witcher 3 <\/em>respondeu a perguntas parecidas com vil\u00f5es tridimensionais e dilemas complicados que nos puniam por escolher sa\u00eddas f\u00e1ceis. Cyberpunk 2077, <\/em>por outro lado, sucumbiu ao simplismo de um GTA<\/em> futurista.<\/p>\n

\u00c9 muito pouco para uma aventura que prometia cal\u00e7ar os sapatos de um dos melhores games de mem\u00f3ria recente.<\/p>\n

A<\/strong> exce\u00e7\u00e3o: Johnny Silverhand<\/strong><\/h3>\n

\"\"<\/p>\n

H\u00e1 uma personagem no jogo para quem as quest\u00f5es que apontei acima n\u00e3o se aplicam: Johnny Silverhand, o ex-terrorista atormentado por fantasmas pessoais que habita a consci\u00eancia de V.<\/p>\n

A longo do jogo, Johnny oferece miss\u00f5es que n\u00e3o apenas nos permitem conhecer seu passado, mas tamb\u00e9m enfrentar, no presente, as consequ\u00eancias de seus erros.<\/p>\n

Johnny revisita o sofrimento que causou a Alt Cunningham, faz as pazes com Rogue, ajuda Kerry a reerguer sua vida e ainda \u2013 dependendo das nossas escolhas\u00a0 \u2013 vinga-se de Adam Smasher. Praticamente todo o conte\u00fado trazido pela personagem est\u00e1 relacionado diretamente a sua morte \u2013 e \u00e0s decis\u00f5es, certas e erradas, que levaram at\u00e9 ela.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

O problema \u00e9 que ser uma personagem cativante n\u00e3o faz de Johnny a\u00a0nossa\u00a0<\/strong>personagem.<\/p>\n

Ao dar aos jogadores o poder de customizar sua pr\u00f3pria V \u2013 a ponto de deix\u00e1-los customizar at\u00e9 mesmo sua genit\u00e1lia \u2013 o jogo faz a promessa impl\u00edcita de que aquela ser\u00e1 a nossa janela para Night City.<\/strong> F\u00e3s de RPG, afinal de contas, jogam games para criar suas pr\u00f3prias aventuras, n\u00e3o para servir de l\u00edderes de torcida a um avatar do Keanu Reeves com di\u00e1logos pr\u00e9-escolhidos.<\/p>\n

Cyberpunk 2077 <\/em>poderia ter unido o \u00fatil ao agrad\u00e1vel se Johnny, n\u00e3o V, fosse a personagem customiz\u00e1vel. <\/strong>Na linha de Tides de Numenera<\/a>, <\/em>o jogo poderia ter contado a hist\u00f3ria do ponto de vista de Silverhand, <\/strong>rec\u00e9m-despertado ap\u00f3s o roubo ao Kompeki Plaza. Como o \u00daltimo Descartado do game da InXile, ter\u00edamos de revisitar Night City num corpo que n\u00e3o nos pertence.<\/p>\n

As escolhas que far\u00edamos na cria\u00e7\u00e3o de personagens ainda teriam um impacto no jogo, determinando a vida \u2013 e as ponta soltas \u2013 que herdar\u00edamos ap\u00f3s o malfadado roubo da rel\u00edquia. As cenas de Johnny, por outro lado, teriam muito mais impacto. Mesmo nossas pequenas conquistas – como reencontrar a jaqueta da banda Samurai \u2013 traziam um peso emocional muito maior. N\u00e3o estar\u00edamos fazendo cosplay de um roqueiro morto, e sim recuperando a pessoa que um dia fomos.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

Mas Cyberpunk 2077 <\/em>n\u00e3o \u00e9 esse jogo, e Johnny s\u00f3 entra em cena quando j\u00e1 enxergamos em V um rosto conhecido nas trevas de Night City.<\/p>\n

Dizia Alfred Hitchcock que, se um filme come\u00e7a mostrando um ladr\u00e3o roubando uma casa e depois o surpreende com as sirenes da pol\u00edcia, o p\u00fablico naturalmente torcer\u00e1 para o ladr\u00e3o. N\u00e3o importa que ele esteja errado e a pol\u00edcia certa. Quando enxergamos a vida pelos olhos de algu\u00e9m n\u00f3s nos colocamos do seu lado.<\/p>\n

Em Cyberpunk 2077, <\/em>V \u00e9 o nosso ladr\u00e3o. E nem mesmo Keanu Reeves pode salvar um jogo que a abandona \u00e0 merc\u00ea de seu destino.<\/p>\n


\n

Nota: a anedota de Hitchcock \u00e9 contada por Philip Pullmann em seu livro\u00a0Daemon Voices<\/a>, no ensaio “Making it Up and Writing it Down”. N\u00e3o pude encontrar a fonte original.<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

(Aviso: cont\u00e9m SPOILERS de Cyberpunk 2077) Tive um amigo parecido com Johnny Silverhand. N\u00e3o, ele n\u00e3o era um roqueiro, nem terrorista, tampouco tinha um bra\u00e7o cibern\u00e9tico. Mas ele tinha, como o deuteragonista de Cyberpunk 2077, a gana de \u201cencarar a morte”. Meu amigo sofreu uma grande decep\u00e7\u00e3o amorosa enquanto prestava o servi\u00e7o militar. O fora […]<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":22515,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"spay_email":"","jetpack_publicize_message":"","jetpack_is_tweetstorm":false},"categories":[580,21],"tags":[683,682,337,427],"jetpack_featured_media_url":"https:\/\/i1.wp.com\/www.finisgeekis.com\/wp-content\/uploads\/2021\/01\/20210106-cyberpunk-emotion-cover.jpg?fit=1866%2C1047&ssl=1","jetpack_publicize_connections":[],"jetpack_shortlink":"https:\/\/wp.me\/p9rUzW-5QR","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/22497"}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=22497"}],"version-history":[{"count":12,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/22497\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":22746,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/22497\/revisions\/22746"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media\/22515"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=22497"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=22497"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=22497"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}