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{"id":22416,"date":"2020-10-22T17:02:36","date_gmt":"2020-10-22T20:02:36","guid":{"rendered":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/?p=22416"},"modified":"2020-10-22T17:22:20","modified_gmt":"2020-10-22T20:22:20","slug":"rayearth-e-a-guerra-sem-fim","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/2020\/10\/22\/rayearth-e-a-guerra-sem-fim\/","title":{"rendered":"“Rayearth” e a guerra sem fim"},"content":{"rendered":"

Tudo come\u00e7ou com um desafio.<\/p>\n

Um dos editores da revista\u00a0shoujo\u00a0<\/em>Nakayoshi<\/a> confessou \u00e0 mangak\u00e1 Nanase Ohkawa que estavam com um problema. A publica\u00e7\u00e3o n\u00e3o conseguia expandir seu p\u00fablico para al\u00e9m das crian\u00e7as.<\/p>\n

Ele esperava que Ohkawa e seu grupo, um quarteto de mulheres conhecidas como CLAMP, tivessem o sucesso que at\u00e9 ent\u00e3o os havia eludido: uma s\u00e9rie infantil que mantivesse as leitoras interessadas mesmo depois de crescidas.<\/p>\n

\u00c0 luz do presente, a aposta parecia fadada a dar certo. Mas aqueles eram os anos 1990. Cardcaptor Sakura<\/em>, seu grande sucesso na demografia\u00a0shoujo,\u00a0<\/em>ainda estava por ser escrito. O pedido do editor trazia um dificuldade, mas era uma dificuldade que Ohkawa n\u00e3o podia ignorar. Tinha sido a Nakayoshi, afinal de contas, que trouxera ao mundo\u00a0A Princesa e o Cavaleiro\u00a0<\/em>e\u00a0Sailor Moon<\/em>.<\/p>\n

Lan\u00e7ar um t\u00edtulo em suas p\u00e1ginas colocaria a CLAMP no rol dos grandes do universo dos mang\u00e1s.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

O t\u00edtulo em quest\u00e3o foi\u00a0Guerras M\u00e1gicas de Rayearth,\u00a0<\/em>e seu sucesso superou em muito o briefing\u00a0<\/em>original. Mais de vinte e cinco anos depois, a s\u00e9rie n\u00e3o apenas superou as barreiras de sua demografia, como continua a inspirar uma gera\u00e7\u00e3o de adultos.<\/p>\n

Apontar o que torna esse\u00a0isekai\u00a0<\/em>da CLAMP t\u00e3o especial \u00e9, de certa forma, uma tarefa insol\u00favel. Nenhuma obra se torna um cl\u00e1ssico desse porte significando o mesmo para todos que a apreciam. Parte dessa riqueza talvez venha do fato de que, para elevar sua hist\u00f3ria, Ohkawa trouxe ao mundo de C\u00e9firo um dos problemas mais espinhosos da experi\u00eancia humana.<\/p>\n

Com\u00a0Rayearth\u00a0<\/em>finalmente dispon\u00edvel no streaming brasileiro<\/a>, n\u00e3o poderia haver oportunidade melhor para mergulhar nessa quest\u00e3o.<\/p>\n

<\/p>\n

At\u00e9 que ponto temos o poder de mudar o mundo?<\/strong><\/h3>\n

\"\"<\/p>\n

Todos que j\u00e1 leram ou assistiram \u00e0 obra sabem dizer exatamente onde ela prova a que n\u00e3o \u00e9 uma s\u00e9rie como as outras. Falo, \u00e9 claro, do final do primeiro arco, quando o conflito que move a s\u00e9rie finalmente se revela pelo que de fato \u00e9.<\/p>\n

Rayearth\u00a0<\/em>come\u00e7a sem surpresas. Tr\u00eas meninas s\u00e3o teleportadas a um mundo paralelo para salvar uma princesa do grande vil\u00e3o. Em retrospecto, \u00e9 poss\u00edvel imaginar Ohkawa puxando as cordinhas de seu enredo, preparando as leitoras da\u00a0Nakayoshi\u00a0<\/em>para um choque de que n\u00e3o se esqueceriam.<\/p>\n

Cap\u00edtulos depois, descobrimos que a princesa n\u00e3o \u00e9 uma donzela em defesa, e sim uma rainha pescadora<\/a>, fadada a governar uma terra regida pelas suas emo\u00e7\u00f5es. O vil\u00e3o n\u00e3o \u00e9 um inimigo, mas o grande amor de sua vida, lutando uma guerra ingrata para libert\u00e1-la de seu fardo. E as guerreiras m\u00e1gicas n\u00e3o s\u00e3o hero\u00ednas, e sim as executoras que ela pr\u00f3pria convocou para dar fim a sua agonia.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

Lendo a hist\u00f3ria pela primeira vez, durante uma viagem de avi\u00e3o aos 18 anos, tive a impress\u00e3o de que algo mais forte que a turbul\u00eancia me sacudia no assento. Ainda hoje estreme\u00e7o ao pensar no qu\u00e3o mais poderosa ela foi \u00e0queles que a acompanharam em sua inf\u00e2ncia.<\/p>\n

Precisei, contudo, de outra d\u00e9cada para descobrir que Ohkawa n\u00e3o fora a primeira a dar vida \u00e0quela f\u00e1bula. Vinte anos anos, a escritora americana Ursula Le Guin havia ganhado o pr\u00eamio Hugo com uma hist\u00f3ria suspeitamente parecida,\u00a0Os Que se Afastam de Omelas<\/a>.<\/em><\/p>\n

\"\"<\/p>\n

O<\/i> conto trata de uma cidade, \u00e0 primeira vista, perfeita demais para existir. Seu povo n\u00e3o precisava de reis, de armas ou de escravos. De prociss\u00f5es nababescas a\u00a0orgias lis\u00e9rgicas, Omelas tinha o suficiente para realizar qualquer sonho. Como a C\u00e9firo de Rayearth<\/em>, era uma terra limitada apenas pela imagina\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Havia apenas um por\u00e9m: num calabou\u00e7o subterr\u00e2neo, escondido das vistas dos outros, uma crian\u00e7a era mantida nas piores condi\u00e7\u00f5es de cativeiro. Sem luz ou ar fresco, longe do contato humano, ela dormia sobre seus escrementos enquanto o resto das pessoas aproveitava sua utopia.<\/p>\n

Ningu\u00e9m sabe ao certo por que manter a crian\u00e7a naquele estado era necess\u00e1rio. Apenas que, sem seu sacrif\u00edcio, o para\u00edso em que viviam deixaria de existir. E ningu\u00e9m estava disposto a desafiar o pacto maldito que fazia as flores desabrocharem.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

Le Guin n\u00e3o foi a \u00fanica<\/a>, nem a\u00a0primeira<\/a>, a nos convidar a pensar numa utopia movida pelo sofrimento de um pilar. No entanto, seu conto \u00e9 aquele que coloca esta f\u00e1bula nos termos mais pr\u00f3ximos aos de\u00a0Rayearth.\u00a0<\/em>De fato, para n\u00f3s que temos familiaridade com a s\u00e9rie, as \u00faltimas palavras de\u00a0Omelas\u00a0<\/em>soam suspeitamente com a voz de Lantis:<\/p>\n

\u00c0s vezes, uma das garotas ou um dos meninos adolescentes que v\u00e3o ver a crian\u00e7a n\u00e3o voltam para casa para chorar ou enraivecer-se; n\u00e3o voltam, de fato, para casa de todo. […] Cada um sozinho, eles se dirigem a oeste ou a norte, em dire\u00e7\u00e3o \u00e0s montanhas. Eles continuam em frente. Eles deixam Omelas, eles seguem adiante escurid\u00e3o adentro e n\u00e3o retornam. O lugar aonde eles v\u00e3o \u00e9 um lugar ainda menos imagin\u00e1vel para a maioria de n\u00f3s que a cidade da felicidade. Eu n\u00e3o posso de forma alguma descrev\u00ea-lo. \u00c9 poss\u00edvel que ele n\u00e3o exista. Mas eles parecem saber onde eles est\u00e3o indo, aqueles que se afastam de Omelas. <\/em><\/p><\/blockquote>\n

\u00c9 um final poderoso como a rajada de um\u00a0mashin<\/em>, n\u00e3o pela natureza de sua cr\u00edtica, mas pela sutileza como a expressa. Indignar-se com a injusti\u00e7a n\u00e3o \u00e9 o suficiente.<\/p>\n

Le Guin nos convida, como Zagato no in\u00edcio de\u00a0Rayearth,\u00a0<\/em>a ousar a acreditar em\u00a0um mundo diferente.<\/p>\n

Mesmo que, para alcan\u00e7\u00e1-lo, precisemos seguir adiante escurid\u00e3o adentro, sem a menor garantia de que encontraremos alguma coisa do outro lado.<\/p>\n

Zagato \u00e9 um daqueles que se afastaram de Omelas.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

O poder de ditar nosso pr\u00f3prio destino<\/strong><\/h3>\n

Essas similaridades entre as duas obras levaram\u00a0alguns<\/a> a afirmar que Rayearth <\/em>e Omelas <\/em>s\u00e3o essencialmente a mesma hist\u00f3ria. Mas existe uma diferen\u00e7a fundamental nos pensamentos de Ohkawa e le Guin que n\u00e3o pode ser menosprezada.<\/p>\n

Individualista convicta, a l\u00edder do CLAMP acredita que cada pessoa \u00e9 respons\u00e1vel \u2013 e a \u00fanica<\/strong> respons\u00e1vel \u2013 por mudar seu destino. Como ela disse em uma\u00a0entrevista \u00e0 Animerica<\/a>,<\/p>\n

Eu acho que \u00e9 uma mentira [dizer] que existe uma for\u00e7a m\u00edstica a\u00ed fora, manipulando sua sina. […] Eu acho que destino \u00e9 algo que voc\u00ea escolhe fazer, mesmo quando voc\u00ea est\u00e1 sendo conduzido por ele. Por exemplo, se voc\u00ea est\u00e1 no trabalho e voc\u00ea quer pedir demiss\u00e3o, \u00e9 necess\u00e1rio muita energia para faz\u00ea-lo. Voc\u00ea estar\u00e1 perdendo uma vida est\u00e1vel, e se voc\u00ea n\u00e3o gosta disto, voc\u00ea ter\u00e1 de aprender a lidar com a maneira como as coisas s\u00e3o. Mas se voc\u00ea quiser mudar as coisas, apenas voc\u00ea pode fazer isso para voc\u00ea mesma. Se voc\u00ea n\u00e3o gostar de fazer <\/em>isto<\/strong>, voc\u00ea deixa as circunst\u00e2ncias ditarem seu destino. Mas se voc\u00ea tem determina\u00e7\u00e3o e coragem, eu acho que voc\u00ea pode mudar seu destino.<\/em><\/p><\/blockquote>\n

\"\"

A mangak\u00e1 e roteirista Nanase Ohkawa<\/p><\/div>\n

\u00c9, talvez, por conta dessa cren\u00e7a inabal\u00e1vel na a\u00e7\u00e3o humana que Ohkawa n\u00e3o perde tempo explicando como C\u00e9firo deu a volta por cima.\u00a0 No anime, as guerreiras m\u00e1gicas abandonam o mundo paralelo t\u00e3o cedo sua miss\u00e3o acaba.\u00a0 No epis\u00f3dio final, somos brindados com um vislumbre do que ele se tornou, j\u00e1 inteiramente reconstru\u00eddo.<\/p>\n

No mang\u00e1, temos de nos contentar com explica\u00e7\u00e3o de que todas as dificuldades enfrentadas pelas guerreiras m\u00e1gicas foram\u201cpalavras certas em linhas tortas\u201d, escritas por um demiurgo \u2013 Mokona \u2013 e postas em pr\u00e1tica por uma hero\u00edna ainda mais rom\u00e2ntica e individualista que Ohkawa \u2013 Hikaru.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

 <\/p>\n

Ohkawa d\u00e1 por certo que sua protagonista tem o que precisa para nos por no caminho do progresso — e as outras pessoas, a unidade de prop\u00f3sito para seguir seu exemplo.<\/p>\n

Mas ser\u00e1 que as coisas, na realidade, s\u00e3o simples assim?<\/p>\n

N\u00e3o seria a guerra civil em que C\u00e9firo se encontrava quando da chegada das guerreiras m\u00e1gicas a prova de que seus habitantes t\u00eam suas pr\u00f3prias ideias de como o mundo deva ser? E que elas n\u00e3o s\u00e3o, necessariamente, compat\u00edveis?<\/p>\n

N\u00e3o seria a pr\u00f3pria insist\u00eancia de Esmeralda em viver \u2013 e morrer \u2013 sob o sistema do pilar prova de que n\u00e3o acreditava na capacidade das pessoas de resolver seus pr\u00f3prios problemas?<\/strong><\/p>\n

\"\"<\/p>\n

N\u00e3o estar\u00edamos n\u00f3s, habitantes de um mundo onde n\u00e3o existem guerreiras m\u00e1gicas, mais pr\u00f3ximos do pessimismo de Esmeralda que do otimismo de Hikaru?<\/p>\n

Uma guerra sem fim<\/strong><\/h3>\n

\"\"<\/p>\n

Para Ursula Le Guin, a resposta \u00e9 sim. E \u00e9 por isso que apostar todas as fichas em uma interven\u00e7\u00e3o miraculosa \u00e9 uma receita para o fracasso.<\/p>\n

Em um ensaio chamado Uma Guerra Sem Fim<\/em><\/a>, ela critica aqueles que, na luta pelo progresso, argumentam que a mudan\u00e7a violenta \u00e9 a \u00fanica solu\u00e7\u00e3o poss\u00edvel. E que aqueles que n\u00e3o concordam s\u00e3o omissos — ou, pior, conformistas.<\/p>\n

Le Guin nos lembra que nem todos t\u00eam o poder de ditar seu destino como aconselha Ohkawa. Para escravos, v\u00edtimas do Holocausto e toda sorte de oprimidos ao longo da hist\u00f3ria, virar o sistema de ponta cabe\u00e7a nunca foi uma op\u00e7\u00e3o. O que n\u00e3o significa que n\u00e3o fizeram sua parte, nem que por isso valem “menos” que seus pares mais poderosos.<\/p>\n

Como a autora explica, existem um meio-termo entre baixar a cabe\u00e7a e morrer inutilmente por uma causa: A relut\u00e2ncia em aceitar cegamente a tradi\u00e7\u00e3o. O esfor\u00e7o para capacitar novas gera\u00e7\u00f5es.\u00a0 A coragem de imaginar que um mundo melhor \u00e9 poss\u00edvel \u2013 e a capacidade de fazer os outros acreditarem nele.<\/p>\n

Essa resist\u00eancia flex\u00edvel, <\/strong>como ela a batiza, \u201cn\u00e3o \u00e9 um lugar f\u00e1cil de se encontrar ou de se viver.\u201d Insistir nessa luta, de certa maneira, \u00e9 uma guerra sem fim.<\/p>\n

“Mas […] \u00e9 onde Gandhi se firmou. Lincoln chegou l\u00e1, dolorosamente. O Bispo Tutu<\/a>, tendo vivido l\u00e1 por anos em honra singular, viu seu pa\u00eds se mover, ainda que desajeitada e incertamente, em dire\u00e7\u00e3o a um terreno de esperan\u00e7a.”<\/p>\n

\"\"

Ursula Le Guin. Foto de Marion Wood Kolisch. Fonte<\/a><\/p><\/div>\n

\u00c0 primeira vista, esse modelo de hero\u00edsmo tem pouqu\u00edssimo a ver com a Hikaru do mang\u00e1. Ele encontra, por\u00e9m, um inesperado terreno comum com sua adapta\u00e7\u00e3o \u00e0s telas.<\/p>\n

Estamos no mundo, n\u00e3o contra ele<\/strong><\/h3>\n

Como f\u00e3s\u00a0<\/em>bem sabem, o anime de\u00a0Rayearth\u00a0<\/em>toma rumos bastante diferentes em sua segunda temporada.<\/p>\n

Se no mang\u00e1 o arco de Esmeralda \u00e9 seguido por uma batalha real pelo legado da princesa, na s\u00e9rie animada o que est\u00e1 em jogo \u00e9 a pr\u00f3pria alma de C\u00e9firo.<\/p>\n

Os medos desencadeados pela morte de Esmeralda se transformam em uma entidade que amea\u00e7a reduzir o mundo a uma terra de pesadelos.<\/p>\n

Esse medo encarnado tem um nome \u2013 Debonair \u2013 mas \u00e9 sua bra\u00e7o direito, Nova, quem rouba os holofotes da vilania.<\/p>\n

A s\u00e9rie pouco faz para esconder seu protagonismo: se Debonair \u00e9 despachada em quest\u00f5a de minutos, a batalha final contra Nova dura quatro epis\u00f3dios inteiros \u2013 mais um sem n\u00famero de confus\u00f5es que recheiam o segundo arco.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

Esse destaque tem um motivo claro. Nova, afinal de contas, \u00e9 para Hikaru o que Debonair \u00e9 para Esmeralda: uma contraparte odiosa, fal\u00edvel e humana para uma garota impossivelmente boa, capaz de transformar a terra no para\u00edso pela simples for\u00e7a de se cora\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Se parasse por a\u00ed, ter\u00edamos os ingredientes de uma hist\u00f3ria convencional sobre o triunfo do bem. Por\u00e9m, num twist<\/em> que faria Le Guin sorrir, Hikaru derrota Nova n\u00e3o ao destrui-la, mas ao\u00a0traz\u00ea-la para dentro de si, <\/strong>v\u00edcios e tudo.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

Vista sob esse ponto de vista, toda a segunda temporada nada mais \u00e9 que uma met\u00e1fora para o\u00a0luto<\/strong> da pr\u00f3pria Hikaru,<\/strong> que aprende a superar o trauma da morte de Esmeralda aceitando — e n\u00e3o suprimindo — seus defeitos.<\/p>\n

A implica\u00e7\u00e3o desse aprendizado vai al\u00e9m do n\u00edvel pessoal. Seres humanos s\u00e3o imperfeitos por natureza, e esta imperfei\u00e7\u00e3o deve ser levada em conta em nossos planos para um futuro melhor. Do contr\u00e1rio, eles estar\u00e3o fadados a dar errado.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

\u201cEu acho que todas as pessoas t\u00eam naturezas duais\u201d\u00a0 disse Ohkawa sobre o Kamui de X\/1999<\/em>, num coment\u00e1rio que serve igualmente bem para Hikaru\/Nova \u201cEu teria medo de um homem bom que fosse apenas bom\u201d. Esmeralda, aparentemente, tamb\u00e9m. Por isso convocou guerreiras para eliminar tal pessoa.<\/p>\n

Ohkawa e Le Guin discordam sobre os limites da a\u00e7\u00e3o humana, mas est\u00e3o na mesma p\u00e1gina em rela\u00e7\u00e3o ao que torna uma a\u00e7\u00e3o \u201chumana\u201d. Lendo suas obras lado a lado, n\u00e3o consigo afastar a impress\u00e3o de que as personagens das duas escritoras tamb\u00e9m teriam figurinhas a trocar.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

N\u00e3o sei o que passou na cabe\u00e7a de \u00c1guia ao entender que jamais seria o pilar de C\u00e9firo. Ou na de Alcione, quando fez as pazes com a morte de Zagato e ajudou as guerreiras a encontrarem Debonair. Ou ainda nas daquelas crian\u00e7as que protegeram Mokona dos escombros do pal\u00e1cio, cientes de que n\u00e3o tinha poderes para consertar o mundo; convictas de que, naquele momento, isto de pouco importava.<\/p>\n

Mas suspeito que n\u00e3o seja muito diferente do que pensou George Orr, protagonista de outro livro de Le Guin, Os Tormentos dos C\u00e9us<\/em><\/a>:<\/p>\n

N\u00f3s estamos no mundo, n\u00e3o contra ele. N\u00e3o funciona tentar permanecer fora das coisas e conduzi-las desta forma. Simplesmente n\u00e3o funciona, vai contra a vida. O mundo <\/em>\u00e9<\/strong>, n\u00e3o importa como n\u00f3s pensamos que ele deva ser. Voc\u00ea precisa ser junto com ele. Voc\u00ea precisa deix\u00e1-lo ser. <\/em><\/p><\/blockquote>\n

\"\"<\/p>\n

A entrevista com Nanase Ohkawa citada nesse artigo foi realizada em 1997 e publicada em LEDOUX, T.\u00a0Anime Interviews: The First Five Years of Animerica, Anime & Manga Monthly (1992-1997).<\/strong><\/em>\u00a0Cadence Books: San Francisco, 1997,\u00a0<\/em>\u00a0pp. 172-83<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Tudo come\u00e7ou com um desafio. Um dos editores da revista\u00a0shoujo\u00a0Nakayoshi confessou \u00e0 mangak\u00e1 Nanase Ohkawa que estavam com um problema. A publica\u00e7\u00e3o n\u00e3o conseguia expandir seu p\u00fablico para al\u00e9m das crian\u00e7as. Ele esperava que Ohkawa e seu grupo, um quarteto de mulheres conhecidas como CLAMP, tivessem o sucesso que at\u00e9 ent\u00e3o os havia eludido: uma […]<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":22419,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"spay_email":"","jetpack_publicize_message":"","jetpack_is_tweetstorm":false},"categories":[576,580,577],"tags":[45,88,678,226,238,680,679],"jetpack_featured_media_url":"https:\/\/i2.wp.com\/www.finisgeekis.com\/wp-content\/uploads\/2020\/10\/20201020-rayearth-cover.jpg?fit=2394%2C2139&ssl=1","jetpack_publicize_connections":[],"jetpack_shortlink":"https:\/\/wp.me\/p9rUzW-5Py","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/22416"}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=22416"}],"version-history":[{"count":14,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/22416\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":22452,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/22416\/revisions\/22452"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media\/22419"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=22416"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=22416"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=22416"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}