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Bairro de Ponto-Cho, em Quioto. Fonte<\/a><\/p><\/div>\n
“Como um tofu de am\u00eandoas”<\/strong><\/h3>\n
Dizer que sua prosa \u00e9 visual \u00e9 quase um desservi\u00e7o para a imagina\u00e7\u00e3o e bom-humor que saltam de cada p\u00e1gina. Morimi pinta n\u00e3o apenas com cores, mas tamb\u00e9m com gostos, cheiros, texturas e ru\u00eddos. Encontrar um lugar comum em seu texto \u00e9 t\u00e3o dif\u00edcil quanto achar as chaves de casa ap\u00f3s uma noite de bebedeira. E, tal como em uma madrugada bem curtida, nem sempre temos certeza do que estamos experimentando.<\/p>\n
\u201cS\u00e1bios leitores” diz o veterano no cap\u00edtulo de abertura \u201csaboreiem a fofura [da garota] e a minha estupidez; desfrutem\u00a0 o sabor sutil e requintado da vida, n\u00e3o muito diferente daquele de um tofu de am\u00eandoas.”<\/p>\n
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Annin tofu ou tofu de am\u00eandoas. Esp\u00e9cie de manjar t\u00edpico da culin\u00e1ria chinesa<\/p><\/div>\n
Todou, um quarent\u00e3o pervertido, sorria como \u201cum peda\u00e7o de papel amassado\u201d. Seu rosto “tinha uma not\u00e1vel semelhan\u00e7a com a ponta de um pepino coberta de limalhas de ferro.\u201d<\/p>\n
A garota acha sua m\u00e3o feia como \u201cuma massa no formato de uma folha de maple<\/em>\u201d. O \u201camuleto\u201d que recebe de um colecionador de arte er\u00f3tica \u201cn\u00e3o era nem um canh\u00e3o nem uma carpa, mas inconfundivelmente o monstro do desenho \u2013 isto \u00e9, por mais que eu hesitasse em dizer, um esp\u00e9cime da assim chamada masculinidade\u201d.<\/p>\n
Um g\u00eanio euf\u00f3rico… e a\u00e9reo<\/strong><\/h3>\n
Como categorizar um escritor desses? Sua prosa \u00e9 mais rebuscada que uma light novel<\/em>, mais despretensiosa que o politizado realismo m\u00e1gico, mais deliberadamente \u201cjaponesa\u201d que a fantasia urbana, despatriada de seu conterr\u00e2neo Haruki Murakami.<\/p>\n
Uma de suas personagens cria carpas ornamentais, que em v\u00e1rios momentos chovem sobre as personagens em cenas dignas de\u00a0Kafka \u00e0 Beira Mar.\u00a0<\/em>Outra, uma jovem cujo passatempo \u00e9 invadir festas e lamber desesperadamente quem encontra pela frente, \u00e9 descrita como uma “mulher-peixe”.<\/p>\n
O bo\u00eamio Higuchi, amigo de Hanuki, \u00a0tinha \u201ca pose de um grande Buda reclinado\u201d e sorria com a \u201cexpress\u00e3o enrugada de uma m\u00e1scara de teatro Noh\u201d. Ele diz que sua profiss\u00e3o \u00e9 ser um tengu<\/em>. Vendo suas fa\u00e7anhas ao longo do livro, — que incluem conjurar carpas da boca e maneki nekos<\/em> de seus ouvidos \u2013 come\u00e7amos a nos perguntar se n\u00e3o pode ser verdade.<\/p>\n
V\u00e1rias sub-tramas dizem respeito a um grupo de colecionadores de Shunga \u2013 nas palavras da hero\u00edna, \u201chomens e mulheres entrela\u00e7ados como an\u00e9is de quebra-cabe\u00e7a e algum tipo de monstro enrolado em volta das suas partes pudentas.\u201d Boa sorte para ler esse livro em p\u00fablico sem cair em gargalhada.<\/p>\n
Podemos apenas imaginar quantas outras refer\u00eancias e jogos de palavra n\u00e3o se perderam na tradu\u00e7\u00e3o. A vers\u00e3o para o ingl\u00eas de Emily Balistrieri \u00e9 leve e fluida, mas peca pelo excesso de didatismo, acompanhando termos japoneses por seus equivalentes ocidentais:\u00a0 \u201cEu sou um goblin <\/em>tengu\u201d; \u201c[ele] relaxava em uma yukata, <\/em>uma roupa tradicional\u201d; “eu olhei de volta para a cara feia de um boneco Daruma – um boneco japon\u00eas redondo e vermelho de um homem ranzinza e barbado”.<\/p>\n
Por um lado, \u00e9 realmente imposs\u00edvel acompanhar o romance sem dominar essas refer\u00eancias. Por outro, \u00e9 question\u00e1vel at\u00e9 que ponto um leitor que n\u00e3o saiba o que \u00e9 um boneco Daruma conseguir\u00e1 sobreviver no Bairro da Liberdade animado que \u00e9 a prosa de Morimi.<\/p>\n
$\"\"$ Produtos japoneses em loja do Bairro da Liberdade. Fonte<\/a><\/p><\/div>\n
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Se The Night is Short <\/em>entrega menos do que promete \u00e9 no seu compromisso, quase militante, em n\u00e3o se comprometer com nada.<\/p>\n
Enquanto que outros escritores usam o absurdo para questionar a realidade ou endere\u00e7ar traumas, Morimi parece, como sua protagonista, querer apenas curtir o momento.<\/p>\n
Sua escrita n\u00e3o pesa com nenhuma ang\u00fastia profunda, nenhuma grande quest\u00e3o que precise de resposta.<\/p>\n
Inferior como \u00e9 em qualidade liter\u00e1ria, Penguin Highway <\/em>pelo menos continha uma f\u00e1bula consistente sobre o fim da inf\u00e2ncia e o despertar sexual. Em compara\u00e7\u00e3o, The Night is Short <\/em>parece levar \u00e0 risca as li\u00e7\u00f5es de uma de suas personagens:<\/p>\n
Eu estava voando sem preocupa\u00e7\u00f5es sobre Ponto-Cho<\/em>.<\/p>\n
Higuchi, o tengu estudante, me ensinou de um jeito que n\u00e3o poderia ter sido mais vago. Ele invadiu a casa de um dono de sebo que ele conhecia, saiu pelo varal e ent\u00e3o apontou para o c\u00e9u:<\/em> \u201cA quest\u00e3o \u00e9 viver sem deixar seus p\u00e9s tocarem o ch\u00e3o. A\u00ed sim voc\u00ea consegue voar.\u201d<\/em><\/p>\n
Eu achei que ele estava tirando sarro de mim at\u00e9 que eu imaginei um futuro completamente impratic\u00e1vel para mim: um dia, eu vou escavar aquela montanha l\u00e1 na casa dos meus pais, encontrar petr\u00f3leo, nadar na grana, me tornar um trilhard\u00e1rio, largar a universidade e viver uma vida feliz at\u00e9 eu morrer. Meu corpo rapidamente se tornou mais leve, e subitamente eu estava flutuando acima da varanda.<\/em><\/p><\/blockquote>\n
Morimi, como Higuchi, nos ensina apenas a flutuar. N\u00e3o \u00e9 o romance mais profundo que voc\u00ea ler\u00e1 na vida. Mas qu\u00e3o surreal \u00e9 Ponto-cho visto de cima!<\/p>\n
$\"\"$ Fonte<\/a><\/p><\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
Primeiras impress\u00f5es, diz o ditado, s\u00e3o as que ficam. E meu primeiro contato com Tomihiko Morimi, um dos \u201cmais populares escritores contempor\u00e2neos do Jap\u00e3o\u201d segundo quem entende do mercado, n\u00e3o foi positivo. Penguin Highway, sobre o qual escrevi aqui, passou longe de me impressionar. Sua prosa era insossa; sua hist\u00f3ria, soterrada sob a voz de […]<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":21971,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"spay_email":"","jetpack_publicize_message":"","jetpack_is_tweetstorm":false},"categories":[580,17],"tags":[226,515,619,608,620],"jetpack_featured_media_url":"https:\/\/i1.wp.com\/www.finisgeekis.com\/wp-content\/uploads\/2019\/08\/20190826-night-is-short-cover-1.jpg?fit=2000%2C1532&ssl=1","jetpack_publicize_connections":[],"jetpack_shortlink":"https:\/\/wp.me\/p9rUzW-5I8","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/21956"}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=21956"}],"version-history":[{"count":5,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/21956\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":21975,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/21956\/revisions\/21975"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media\/21971"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=21956"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=21956"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=21956"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}