Warning: Use of undefined constant CONCATENATE_SCRIPTS - assumed 'CONCATENATE_SCRIPTS' (this will throw an Error in a future version of PHP) in /home/finisgeekis/www/wp-config.php on line 98

Warning: Cannot modify header information - headers already sent by (output started at /home/finisgeekis/www/wp-config.php:98) in /home/finisgeekis/www/wp-includes/rest-api/class-wp-rest-server.php on line 1648

Warning: Cannot modify header information - headers already sent by (output started at /home/finisgeekis/www/wp-config.php:98) in /home/finisgeekis/www/wp-includes/rest-api/class-wp-rest-server.php on line 1648

Warning: Cannot modify header information - headers already sent by (output started at /home/finisgeekis/www/wp-config.php:98) in /home/finisgeekis/www/wp-includes/rest-api/class-wp-rest-server.php on line 1648

Warning: Cannot modify header information - headers already sent by (output started at /home/finisgeekis/www/wp-config.php:98) in /home/finisgeekis/www/wp-includes/rest-api/class-wp-rest-server.php on line 1648

Warning: Cannot modify header information - headers already sent by (output started at /home/finisgeekis/www/wp-config.php:98) in /home/finisgeekis/www/wp-includes/rest-api/class-wp-rest-server.php on line 1648

Warning: Cannot modify header information - headers already sent by (output started at /home/finisgeekis/www/wp-config.php:98) in /home/finisgeekis/www/wp-includes/rest-api/class-wp-rest-server.php on line 1648

Warning: Cannot modify header information - headers already sent by (output started at /home/finisgeekis/www/wp-config.php:98) in /home/finisgeekis/www/wp-includes/rest-api/class-wp-rest-server.php on line 1648

Warning: Cannot modify header information - headers already sent by (output started at /home/finisgeekis/www/wp-config.php:98) in /home/finisgeekis/www/wp-includes/rest-api/class-wp-rest-server.php on line 1648
{"id":19998,"date":"2018-02-28T19:53:48","date_gmt":"2018-02-28T22:53:48","guid":{"rendered":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/?p=19998"},"modified":"2019-02-24T10:38:19","modified_gmt":"2019-02-24T13:38:19","slug":"em-busca-dos-nerds-3-livros-para-entender-o-mundo-geek","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/2018\/02\/28\/em-busca-dos-nerds-3-livros-para-entender-o-mundo-geek\/","title":{"rendered":"3 livros para entender o mundo geek"},"content":{"rendered":"

O geek\u00a0<\/em>dominou a cultura. Filmes de super-her\u00f3i, antes debochados,<\/em>\u00a0s\u00e3o louvados como obras-primas do cinema. Campeonatos de e-sport\u00a0<\/em>disputam espa\u00e7o com as modalidades tradicionais.\u00a0Conven\u00e7\u00f5es como a CCXP agregam todo tipo de artista, de fanzineiros das antigas a celebridades que nunca abriram um gibi um vida.<\/p>\n

N\u00e3o foi uma conquista sem baixas, e muitos t\u00eam se perguntado<\/a> se o resultado valeu a pena.<\/p>\n

<\/p>\n

Faz sentido falar em “nerds” em um mundo em que todos se incluem na categoria? O que her\u00f3is com superpoderes,\u00a0rip-offs\u00a0<\/em>de\u00a0Game of Thrones,<\/em><\/a>\u00a0cash-grabs<\/em> de animes<\/a>\u00a0e o culto \u00e0s “refer\u00eancias”<\/a> diz sobre nossa cultura, quando \u00e9 a praticamente tudo o que produz?<\/p>\n

Em um mundo assim geekificado, em que o mergulho em qualquer franquia est\u00e1 ao alcance de uma wiki, o que raios significa ser um “nerd”?<\/p>\n

Aqueles que vivem nessa cultura talvez n\u00e3o saibam, mas essa \u00e9 uma pergunta que j\u00e1 tem quase vinte anos. Desde a virada do mil\u00eanio, n\u00e3o foram poucos os autores que refletiram sobre esse novo modo de vida.<\/p>\n

N\u00e3o falo em escritores \u201cnerds\u201d como Ernest Cline, George R.R. Martin ou J. K. Rowling, que lotam conven\u00e7\u00f5es e inspiram cosplays. Mas em autores – dos mais variados estilos e g\u00eaneros – que se propuseram a escrever sobre nerds<\/strong>.<\/p>\n

E, por meio deles, entender o que raios se passa com a nossa \u00e9poca.<\/p>\n

1) Densha Otoko<\/strong><\/h3>\n

\"Resultado<\/p>\n

 <\/p>\n

Dos livros dessa lista, Densha Otoko <\/em>(O Homem do Trem<\/em>) \u00e9 aquele que sucedeu em se tornar, ele pr\u00f3prio, um fen\u00f4meno da cultura pop. O \u201cromance\u201d \u2013 se \u00e9 que pode ser chamado assim\u2013 foi adaptado a mang\u00e1<\/a> e dorama<\/a> e traduzido ao redor do mundo.<\/p>\n

O livro conta a hist\u00f3ria de um rapaz introvertido que, um dia, protege uma mulher de um b\u00eabado no trem. Do seu ato de hero\u00edsmo nasce uma paix\u00e3o improv\u00e1vel. Virgem, recluso e viciado em doujins<\/em>, o homem do trem se v\u00ea diante de um desafio maior que intimidar tarados: dar os primeiros passos em um relacionamento de verdade.<\/p>\n

O romance \u00e9 not\u00e1vel menos pelo conte\u00fado que pelo seu formato. Para in\u00edcio de conversa, n\u00e3o se trata de uma obra de fic\u00e7\u00e3o, muito menos de um \u201clivro\u201d stritu sensu. Densha Otoko <\/em>\u00e9 uma compila\u00e7\u00e3o de mensagens trocadas no f\u00f3rum japon\u00eas 2channel<\/a> (o famoso 2ch).<\/p>\n

Trem, como nosso protagonista \u00e9 chamado, \u00e9 um otaku real. Apavorado com o in\u00edcio do namoro, decide pedir ajuda aos \u00fanicos amigos que t\u00eam: outros otakus solit\u00e1rios dos fundilhos do 2ch.<\/p>\n

Desse coaching <\/em>improv\u00e1vel nasceu uma hist\u00f3ria de amor ver\u00eddica, salpicada por desabafos, celebra\u00e7\u00f5es e doses cavalares de kaomojis, <\/em>os emoticons orientais feitos de sinais ASCII.<\/p>\n

\"Resultado

Edi\u00e7\u00e3o japonesa de Densha Otoko<\/em><\/p><\/div>\n

Seu \u201cautor\u201d, Nakano Hitori, \u00e9 um nome fantasia para naka no hito <\/em>(\u201cUm de N\u00f3s\u201d), internauta an\u00f4nimo que acompanhou a conversa e a editou de maneira intelig\u00edvel.<\/p>\n

\u00ad<\/strong>Lido nos dias de hoje, Densha Otoko <\/em>\u00e9 menos o retrato de uma subcultura que uma viagem no tempo. A linguagem do 2ch, com sua etiqueta e vocabul\u00e1rios pr\u00f3prios, soa estranha a uma gera\u00e7\u00e3o em que a nerdice j\u00e1 se libertou do anonimato.<\/p>\n

Sua pr\u00f3pria defini\u00e7\u00e3o de \u201cotaku\u201d bate em teclas que, no Ocidente, j\u00e1 foram reviradas. O Homem do Trem \u00e9 um outcast <\/em>social, que encara seus gostos como um v\u00edcio a ser superado.<\/p>\n

Esse sentido \u00e9 conforme \u00e0 acep\u00e7\u00e3o corrente no pr\u00f3prio Jap\u00e3o, em que \u201cotakus\u201d s\u00e3o fissurados (n\u00e3o necessariamente em animes) cuja devo\u00e7\u00e3o ultrapassa os limites da salubridade.<\/p>\n

Mesmo assim, em uma \u00e9poca em que o premi\u00ea japon\u00eas se veste de M\u00e1rio<\/a> e T\u00f3quio \u00e9 governada por uma cosplayer<\/a>, \u00e9 chocante ver Sailor Moon e Pretty Cure descritos como sintomas de doen\u00e7a.<\/p>\n

\"\"

A n\u00e3o ser que voc\u00ea seja o prefeito de Nagoya<\/a><\/p><\/div>\n

A nerdice, para naka no hito <\/em>(e a horda de otakus que representa), \u00e9 uma fase a ser superada. Uma c\u00f3pia p\u00e1lida do mundo real criada por aqueles incapazes de curti-lo.<\/p>\n

Trem joga fora suas figures <\/em>como um viciado a um estoque de drogas. Herm\u00e8s (como sua musa \u00e9 chamada) surge para salv\u00e1-lo da pornografia, \u201ccurando-o\u201d dos doujins<\/em>. Seus colegas de f\u00f3rum s\u00e3o menos amigos que companheiros de c\u00e1rcere, apreciando sua companhia, mas tamb\u00e9m felizes de v\u00ea-lo partir.<\/p>\n

\n

564 Nome: An\u00f4nimo\u00a0<\/strong>\u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 postado em 18\/03\/04\u00a0 11:53<\/p>\n

>> 562<\/p>\n

Cara, esse sou eu.<\/p>\n

Estava me divertindo acompanhando o t\u00f3pico, mas este n\u00e3o \u00e9 mais lugar prum nerd leg\u00edtimo. Na verdade, acabou se transformando num t\u00f3pico no qual o cara legal e a garota s\u00e3o resgatados dessa profunda exist\u00eancia miser\u00e1vel.<\/p>\n<\/blockquote>\n

Do Ocidente, \u00e9 dif\u00edcil n\u00e3o v\u00ea-la como uma obra datada, a despeito de sua pertin\u00eancia em seu Jap\u00e3o natal e em seu uso inventivo da l\u00edngua. Para entender o “nerd” em nosso pr\u00f3prio entorno, \u00e9 preciso buscar em outro lugar.<\/p>\n

2) A Fant\u00e1stica Vida Breve de Oscar Wao<\/strong><\/h3>\n

\"Imagem<\/p>\n

Se Densha Otoko <\/em>se tornou um fen\u00f4meno pop, A Incr\u00edvel Vida Breve de Oscar Wao,\u00a0<\/em>de Junot D\u00edaz, levou o geek <\/em>\u00e0 torre de marfim. A obra venceu o pr\u00eamio Pullitzer, inspirou estudos e chegou a ser considerada o romance mais importante do s\u00e9culo XXI<\/a>.<\/p>\n

Seu her\u00f3i improv\u00e1vel \u00e9 Oscar de Le\u00f3n (aos amigos, Oscar Wao), um nerd recluso que se sentiria em casa entre os otakus de Densha Otoko<\/em>. Obeso, negro e de ascend\u00eancia dominicana, ele tica todos os crit\u00e9rios de um outsider <\/em>vivendo na periferia de Nova Jersey.<\/p>\n

Inconfundivelmente estrangeiro para os americanos, ele \u00e9 tamb\u00e9m um estranho a seus compatriotas. Contra a masculinidade exacerbada dos dominicanos, Oscar \u00e9 virgem, t\u00edmido e delicado. Enquanto que seus conterr\u00e2neos falam o ingl\u00eas picotado dos imigrantes, Oscar \u00e9 letrado e erudito.<\/p>\n

Poderia ser a premissa de uma vers\u00e3o latina de Big Bang Theory. <\/em>D\u00edaz, no entanto, transforma sua f\u00e1bula em um \u00e9pico sobre a hist\u00f3ria da Rep\u00fablica Dominicana no s\u00e9culo XX.<\/p>\n

Para isso, ele tece uma trama improv\u00e1vel, amarrando refer\u00eancias a quadrinhos e fic\u00e7\u00e3o cient\u00edfica ao realismo fant\u00e1stico da literatura latina. A ambi\u00e7\u00e3o \u00e9 anunciada desde a ep\u00edgrafe, que mistura uma cita\u00e7\u00e3o de Galactus junto a versos de Derek Walcott<\/a>, um dos maiores nomes da poesia caribenha.<\/p>\n

Oscar \u00e9 um geek que \u201cveste sua nerdice como um Jedi porta um sabre-de-luz\u201d, \u201csabe mais sobre o Universo Marvel que Stan Lee\u201d e que \u201cN\u00e3o se passaria por Normal mesmo se tentasse.\u201d Sua hist\u00f3ria, contudo, \u00e9 narrada por nativos de um outro mundo: seus colegas dominicanos, divididos entre Nova Jersey e Santo Domingo tal como Oscar entre a realidade e o escapismo.<\/p>\n

Oscar \u00e9 filho de imigrantes fugidos da ditadura de Rafael Trujillo<\/a>, um dos ditadores mais sanguinolentos da Am\u00e9rica Latina. Sua fam\u00edlia pensa ter escapado do pior, mas o tirano ter\u00e1 a \u00faltima risada.<\/p>\n

A crueldade do Trujillato \u00e9 tamanha que n\u00e3o pode ser sofrida por apenas uma pessoa. Sua fam\u00edlia \u00e9 alvo de um\u00a0fuk\u00fa,\u00a0<\/em>mistura de maldi\u00e7\u00e3o caribenha com esp\u00edrito maligno que persegue cada gera\u00e7\u00e3o e leva-a \u00e0 desgra\u00e7a.<\/p>\n

<\/p>\n

O romance \u00e9 entremeado por espangl\u00eas, a mistura de espanhol e ingl\u00eas falada por imigrantes latinos nos EUA. O pr\u00f3prio nome de guerra de seu protagonista (Oscar Wao) \u00e9 uma corrup\u00e7\u00e3o espanholada de \u201cOscar Wilde\u201d.<\/p>\n

D\u00edaz pinta um retrato do nerd lisonjeiro aos que se identificam com o termo. A nerdice, em seu livro, \u00e9 uma express\u00e3o da marginalidade. Uma cultura sem v\u00ednculos, sem p\u00e1tria e sem glamour em que deslocados, exilados e caretas podem se encontrar.<\/p>\n

Uma cultura, no entanto, que s\u00f3 existe em fun\u00e7\u00e3o do que h\u00e1 por fora. D\u00edaz n\u00e3o est\u00e1 interessado na nerdice pela nerdice, como tantos que vestem o r\u00f3tulo. Oscar, para ele, \u00e9 uma ferramenta para entender as v\u00edtimas do Trujillato – e os sobreviventes de tiranias de uma forma geral.<\/p>\n

Uma trag\u00e9dia t\u00e3o insana, com sequelas t\u00e3o amargas, que n\u00e3o pode ser contada de outra forma. Como ele disse em uma entrevista:<\/a><\/p>\n

\n

\u201cNingu\u00e9m pode escrever um romance pol\u00edtico <\/em>straightforward sobre o <\/em>Trujillato e capturar seu poder fantasmag\u00f3rico. Esta \u00e9 outra raz\u00e3o pela qual eu tive de virar um nerd hard-core. Porque sem maldi\u00e7\u00f5es e mangustos alien\u00edgenas e Sauron e Darkseid o <\/em>Trujillato n\u00e3o pode ser compreendido, elude nossas mentes \u201cmodernas\u201d. N\u00f3s precisamos dessas lentes da fic\u00e7\u00e3o, do contr\u00e1rio n\u00e3o conseguimos ver.\u201d<\/em><\/p>\n<\/blockquote>\n

O f\u00faku <\/em>que guia Oscar ao seu destino\u00a0\u00e9 a express\u00e3o de uma maldi\u00e7\u00e3o maior, de que ser humano nenhum \u00e9 capaz de fugir. A hist\u00f3ria.<\/p>\n

3) As Incr\u00edveis Aventuras de Kavalier e Clay<\/strong><\/h3>\n

\"Resultado<\/p>\n

\u00c9 justamente a hist\u00f3ria o tema do precedessor de D\u00edaz – e um dos primeiros grandes livros a trazer a nerdice \u00e0 fic\u00e7\u00e3o liter\u00e1ria.<\/p>\n

Escrito por Michael Chabon em 2000,\u00a0As Incr\u00edveis Aventuras de Kavalier e Clay<\/em> foi um marco tanto para os romances quanto para os quadrinhos. Uma celebra\u00e7\u00e3o do nascimento dos super-her\u00f3is e de sua import\u00e2ncia para a cultura.<\/p>\n

Josef Kavalier \u00e9 um judeu checo que sonha seguir os passos de\u00a0Houdini<\/a>, o lend\u00e1rio escapista do in\u00edcio do s\u00e9culo. Quando seu pa\u00eds \u00e9 ocupado pelos nazistas, por\u00e9m, o jovem \u00e9 for\u00e7ado a uma escapada de outra natureza.<\/p>\n

Josef foge aos Estados Unidos para viver com seu primo, Samuel Clay. \u201cSam\u201d \u00e9 um aspirante a desenhista interessado nos rec\u00e9m-criados super-her\u00f3is. \u201cJoe\u201d, por sua vez, tem um her\u00f3i \u00e0 espera de uma pena: O Escapista, uma mary sue <\/em>de si mesmo, capaz de invadir o Terceiro Reich de assalto e resgatar sua fam\u00edlia.<\/p>\n

Juntos, eles se tornam dois dos pioneiros da Era de Ouro dos quadrinhos americanos. Da agruras de dois primos deslocados nasce o germe da cultura nerd.<\/p>\n

Vencedor do pr\u00eamio Pullitzer,\u00a0Kavalier & Clay\u00a0<\/em>chegou a inspirar seu pr\u00f3prio quadrinho, baseado nas personagens – e no estilo – criados por seus her\u00f3is.<\/p>\n

\"Resultado<\/p>\n

O romance \u00e9 uma defesa apaixonada do escapismo, que as press\u00f5es materialistas e os cr\u00edticos da \u201caliena\u00e7\u00e3o\u201d ainda hoje insistem em condenar.<\/p>\n

Para Joe, que assistia impotente \u00e0 ascens\u00e3o do Terceiro Reich, os quadrinhos eram o campo de batalha de que a vida lhe privara. Ao desenhar panzers <\/em>destru\u00eddos, h<\/em>einkels<\/em> em chamas e soldados da Wehrmacht<\/em> voando pelos ares, ele se aliviava da certeza de que, no in\u00edcio dos anos 1940, a Alemanha Nazista era um imp\u00e9rio imbat\u00edvel.<\/p>\n

Sam Clay, seu parceiro, travava uma luta de outra natureza. Gay em uma \u00e9poca em que homossexualidade era crime, ele se voltou aos quadrinhos para consumar fantasias proibidas.<\/p>\n

Na sua pena, sidekicks <\/em>como Bucky e Robin se tornam as m\u00e1scaras de seus desejos. Sob o \u201carm\u00e1rio\u201d de v\u00ednculos paternais, Clay esconde romances homoafetivos.<\/p>\n

Em suas revistas toscas, mal desenhadas, impressas em papel jornal, Joe e Sam encontram uma libera\u00e7\u00e3o que o mundo real \u00e9 incapaz de prover. Um universo paralelo, simplista, mentiroso e irreal, mas de que a vida nua e crua dependia para se sustentar.<\/p>\n

\n

Ele sabia que n\u00e3o estava sendo razo\u00e1vel. Mas, por um ano agora, a falta de raz\u00e3o – a persegui\u00e7\u00e3o firme e esgotante de uma guerra de mentira contra inimigos que ele n\u00e3o podia derrotar, por meios que nunca poderiam dar certo – o havia oferecido a \u00fanica possibilidade de salva\u00e7\u00e3o da sua sanidade. Que as pessoas cujas fam\u00edlias n\u00e3o estivessem sendo mantidas prisioneiras fossem razo\u00e1veis.<\/p>\n<\/blockquote>\n

Chabon, no entanto, n\u00e3o \u00e9 um simples apologista. Seu livro \u00e9 um retrato do poder fantasia, mas tamb\u00e9m de seu potencial para arruinar uma pessoa \u2013 ou uma sociedade.<\/p>\n

Enfurecido com a relut\u00e2ncia dos EUA em se unir aos Aliados, Joe decide fazer a justi\u00e7a com as pr\u00f3prias m\u00e3os. O cartunista se torna ele pr\u00f3prio um vigilante, ca\u00e7ando nazistas nos becos de Nova York.<\/p>\n

Em uma de suas patrulhas, depara-se com o esconderijo da Liga Ariana da Am\u00e9rica. O que encontra no seu interior, no entanto, faz seu queixo cair: todas as edi\u00e7\u00f5es de sua HQ, O Escapista.<\/em><\/p>\n

De um inimigo, Joe fizera um f\u00e3.<\/p>\n

\n

“Ent\u00e3o, abruptamente, foi sua vez de se sentir envergonhado, n\u00e3o s\u00f3 por ter estendido, conquanto momentaneamente, a considera\u00e7\u00e3o da sua simpatia a um nazista, mas por ter produzido trabalho que agradava a tal homem. Joe Kavalier n\u00e3o foi o \u00fanico dos pioneiros dos quadrinhos a perceber a imagem refletida do fascismo inerente no seu super-homem anti-fascista – Will Eisner, outro judeu quadrinista, deliberadamente vestiu Blackhawks, seu her\u00f3i dos Aliados, em uniformes modelados nas elegantes roupas com a cabe\u00e7a da morte da Waffen-SS. Mas Joe foi talvez o primeiro a sentir a vergonha de glorificar, em nome da democracia e liberdade, a brutalidade vingativa de um homem muito forte. (…) Agora ocorria a Joe pensar se tudo o que eles haviam feito, desde o come\u00e7o, n\u00e3o era ceder aos seus piores impulsos e fomentar a cria\u00e7\u00e3o de uma nova gera\u00e7\u00e3o de homens que veneravam a for\u00e7a e a domina\u00e7\u00e3o.”<\/p>\n<\/blockquote>\n

A epifania de Joe \u00e9 um alerta ao mundo nerd como um todo. De todas as m\u00eddias \u201cgeeks\u201d, as HQs de her\u00f3is sempre foram as mais abertamente panflet\u00e1rias.<\/p>\n

Aqueles que acusam gibis de comprarem pautas \u201cengajadas\u201d se esquecem de que a pol\u00edtica \u2013 na sua forma mais chula e simpl\u00f3ria \u2013 sempre foi o soro do super soldado que alimentou suas canetas.<\/p>\n

Por\u00e9m, ao adaptar quest\u00f5es complexas ao binarismo dos anos 1940, esses gibis instigam o mesmo fanatismo que abasteceu os desmandos da Segunda Guerra. E inspiram radicais como o \u201cf\u00e3\u201d nazista de Joe, que perpetuam a viol\u00eancia sob novas bandeiras.<\/p>\n

\"Resultado<\/p>\n

Em uma \u00e9poca em que filmes de her\u00f3is s\u00e3o louvados como b\u00fassola moral, essa \u00e9 uma advert\u00eancia que \u201cnerds\u201d deveriam escutar com aten\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Conclus\u00e3o: uma terceira linguagem?<\/strong><\/h3>\n

\"Resultado<\/p>\n

Um hobby pat\u00e9tico de ratos de por\u00e3o? Um prisma fantasioso para entender os absurdos da vida? Uma fantasia de poder, que pode nos aliviar, mas tamb\u00e9m nos destruir?<\/p>\n

Lendo os tr\u00eas livros lado a lado, \u00e9 dif\u00edcil escapar \u00e0 constata\u00e7\u00e3o de que o “nerd”, para esses autores, trazem mensagens bem diferentes. A ilus\u00e3o de um mundo nerd unificado, vendida por conven\u00e7\u00f5es e lojas de camisa, pode ser mais ef\u00eamera do que parece.<\/p>\n

Ou seria mesmo?<\/p>\n

A pista quem nos d\u00e1 \u00e9 Junot D\u00edaz<\/a>. Ao comentar a preval\u00eancia de refer\u00eancias pop em seu romance, o escritor disse encar\u00e1-las n\u00e3o s\u00f3 como conte\u00fado, mas como uma\u00a0terceira l\u00edngua <\/strong>ao lado do ingl\u00eas e espanhol:<\/p>\n

\n

Eu diria que [a fic\u00e7\u00e3o cient\u00edfica e a fantasia]<\/em> s\u00e3o uma terceira linguagem para nosso momento cultural. Desde sua consolida\u00e7\u00e3o como g\u00eanero, o SF [sci-fi]<\/em> nos ajudou a administrar os deslocamentos e confus\u00f5es e fantasias de “progresso” e certamente nos ajudou a ler o presente de formas que s\u00e3o indispens\u00e1veis. Eu mesmo estaria perdido sem meus \u00f3culos de SF.<\/p>\n<\/blockquote>\n

A cultura pop pode ter nascido de orcs e\u00a0tie fighters<\/em>, waifus\u00a0<\/em>e mutantes, mas n\u00e3o precisa se limitar a eles. Ao contr\u00e1rio da profus\u00e3o de livros<\/a>, s\u00e9ries<\/a>\u00a0e jogos\u00a0<\/a>que veneram a nostalgia como um fim em si, D\u00edaz e Chabon encontraram nelas um caminho para coisas maiores.<\/p>\n

Um guarda-roupa encantado com o de C.S Lewis, que nos leva n\u00e3o \u00e0 um mundo m\u00e1gico de faz-de-conta, mas a um lugar mais interessante. A absurda, indescrit\u00edvel, \u00e0s vezes alegre, \u00e0s vezes tr\u00e1gica experi\u00eancia humana.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

O geek\u00a0dominou a cultura. Filmes de super-her\u00f3i, antes debochados,\u00a0s\u00e3o louvados como obras-primas do cinema. Campeonatos de e-sport\u00a0disputam espa\u00e7o com as modalidades tradicionais.\u00a0Conven\u00e7\u00f5es como a CCXP agregam todo tipo de artista, de fanzineiros das antigas a celebridades que nunca abriram um gibi um vida. N\u00e3o foi uma conquista sem baixas, e muitos t\u00eam se perguntado se […]<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":19999,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"spay_email":"","jetpack_publicize_message":"","jetpack_is_tweetstorm":false},"categories":[580,17],"tags":[451,453,455,452,226,454,456],"jetpack_featured_media_url":"https:\/\/i2.wp.com\/www.finisgeekis.com\/wp-content\/uploads\/2018\/02\/kavalier-clay-cover.png?fit=600%2C516&ssl=1","jetpack_publicize_connections":[],"jetpack_shortlink":"https:\/\/wp.me\/p9rUzW-5cy","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/19998"}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=19998"}],"version-history":[{"count":7,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/19998\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":21109,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/19998\/revisions\/21109"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media\/19999"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=19998"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=19998"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=19998"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}