A ind\u00fastria de games adora uma pol\u00eamica. De p\u00e2nicos sobre viol\u00eancia em jogos a acusa\u00e7\u00f5es de aliena\u00e7\u00e3o, gamers j\u00e1 est\u00e3o acostumados a serem maltratados pela m\u00eddia.<\/p>\n
Recentemente, por\u00e9m, o burburinho parece ter vindo de outro lugar. Pela primeira vez na hist\u00f3ria, a Organiza\u00e7\u00e3o Mundial de Sa\u00fade (OMS) considerar\u00e1 v\u00edcio em games como um dist\u00farbio mental<\/a>.<\/p>\n <\/p>\n A not\u00edcia provocou rea\u00e7\u00f5es acaloradas<\/a> nas redes sociais. Muitos n\u00e3o perderam tempo para defender o hobby, lembrando que \u00e9 poss\u00edvel curtir uma jogatina sem preju\u00edzo para a sa\u00fade.<\/p>\n De fato, \u00e9 tentador ver na resolu\u00e7\u00e3o o mesmo p\u00e2nico moral que levou \u00e0s ondas de censura depois do Atentado de Columbine<\/a> em 2001. Ou ainda as histerias contempor\u00e2neas e suas caricaturas de gamers como abusadores t\u00f3xicos e chauvinistas.<\/p>\n Como \u201cveterano\u201d de ambas as pol\u00eamicas, nunca tive simpatia por aqueles que tentavam instigar p\u00e2nico moral<\/a>. A ind\u00fastria de quadrinhos j\u00e1 deixou bem claro o perigo de entregar nossa liberdade aos gritos de moralistas<\/a>.<\/p>\n A decis\u00e3o da OMS, no entanto, n\u00e3o \u00e9 nenhuma dessas coisas.<\/p>\n Videogames s\u00e3o coisas recentes. Pesquisas sobre v\u00edcios relacionados a eles, mais ainda. Ainda resta muito a se explorar para que possamos entender direito esses problemas.<\/p>\n No entanto, eles nos mostram que \u00e9 de fato o momento de conversarmos a s\u00e9rio sobre alguns assuntos:<\/p>\n <\/p>\n Vira e mexe lemos em tabloides sobre uma garota na China que morreu de tanto jogar videogame, ou um hikikomori <\/em>no Jap\u00e3o que largou o emprego para jogar Monster Hunter<\/em>. \u00c0 primeira vista, \u00e9 f\u00e1cil diminuir a decis\u00e3o da OMS como uma rea\u00e7\u00e3o exagerada a casos como esse.<\/p>\n Infelizmente, o v\u00edcio em games \u00e9 um problema muito mais disseminado.\u00a0Qu\u00e3o\u00a0<\/strong>disseminado, obviamente, n\u00e3o \u00e9 l\u00e1 t\u00e3o f\u00e1cil de saber.<\/p>\n Tudo depende do que n\u00f3s chamados de \u201cv\u00edcio\u201d. A OMS fala de sintomas como a dificuldade de controlar o desejo de jogar e a frequ\u00eancia excessiva, que chega a trazer preju\u00edzos para a vida do jogador.<\/p>\n Alguns pesquisadores<\/a> criticaram esse tipo de crit\u00e9rio por ser subjetivo ou inconclusivo demais. Como, por exemplo, determinar que a frequ\u00eancia com que jogamos \u00e9 \u201cdoentia\u201d? Como ter certeza de que os \u201cpreju\u00edzos\u201d foram de fato causados pelos games?<\/p>\n Pesquisas feitas com imagens cerebrais<\/a>, no entanto, efeitos que v\u00e3o muito al\u00e9m disso. Alguns estudos mostraram que o v\u00edcio em games provoca implica\u00e7\u00f5es compar\u00e1veis \u00e0 depend\u00eancia em subst\u00e2ncias.<\/strong><\/p>\n Entre elas, est\u00e3o a redu\u00e7\u00e3o de atividade dopamin\u00e9rgica (relacionada \u00e0 dopamina, estimulante respons\u00e1vel pela sensa\u00e7\u00e3o de recompensa) e mudan\u00e7as estruturais nos padr\u00f5es de circuitos neurais.<\/p>\n H\u00e1 inclusive ind\u00edcios de que rem\u00e9dios utilizados para tratar esses v\u00edcios tamb\u00e9m funcionem com viciados em games. Estudos preliminares<\/a> com bupropiona<\/a>, um supressor de dopamina usado contra a depend\u00eancia em nicotina, tiveram resultados promissores.<\/p>\n \u00c0 primeira vista, pode parecer chocante que um hobby como os games mere\u00e7am um paralelo t\u00e3o extremo. No entanto, a compara\u00e7\u00e3o se torna menos estranha se nos lembrarmos que, s\u00e9culos antes de existirem games, pessoas j\u00e1 se arruinavam e morriam por causa de outro tipo de jogo:<\/p>\n <\/p>\n Esse \u00e9 um ponto que eu j\u00e1 mencionei em outro artigo do Finisgeekis<\/a>, mas que acho importante retomar.<\/p>\n Alguma vez na vida voc\u00ea j\u00e1 sentiu que o tempo voava quando estava com um controle nas m\u00e3os? N\u00e3o \u00e9 por acaso. Desenvolvedores de games tiveram \u00f3timos professores para aprender a capturar nossa aten\u00e7\u00e3o. M\u00e1quinas como essas:<\/p>\n <\/p>\n <\/p>\n E n\u00e3o falo s\u00f3 de games que colocaram, literalmente, ca\u00e7a-n\u00edqueis dentro dos consoles. Como as loot boxes <\/em>de Star Wars: Battlefront II, que j\u00e1 est\u00e3o sendo investigadas<\/a> como jogos de azar.<\/p>\n Ao contr\u00e1rio do que diz o senso comum, m\u00e1quinas de aposta n\u00e3o funcionam na base da sorte. Cada aparelho tem uma \u201crotina\u201d de vit\u00f3rias e derrotas programada pelo dono do cassino ou do estabelecimento.<\/p>\n Se n\u00e3o est\u00e1 na sua \u201cvez\u201d de ganhar, n\u00e3o adianta apelar para o jeitinho, para a habilidade ou para uma for\u00e7a superior: voc\u00ea n\u00e3o ir\u00e1 ganhar. <\/strong><\/p>\n1) Sim, v\u00edcio em games existe<\/strong><\/h3>\n
2) Games s\u00e3o inspirados de jogos de azar.<\/strong><\/h3>\n