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{"id":18329,"date":"2017-09-25T19:16:34","date_gmt":"2017-09-25T22:16:34","guid":{"rendered":"http:\/\/finisgeekis.com\/?p=18329"},"modified":"2019-02-24T12:45:20","modified_gmt":"2019-02-24T15:45:20","slug":"cosplay-steampunk-e-medievalismo-muito-alem-da-fantasia","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/2017\/09\/25\/cosplay-steampunk-e-medievalismo-muito-alem-da-fantasia\/","title":{"rendered":"“Cosplay, Steampunk e Medievalismo”: muito al\u00e9m da fantasia"},"content":{"rendered":"

Hoje trago a voc\u00eas um artigo um pouco diferente.<\/p>\n

Apesar de ser cosplayer e medievalista (do tipo que faz pesquisa acad\u00eamica, n\u00e3o batalha campal), n\u00e3o tenho grandes fetiches pela Idade M\u00e9dia (como leitores do blog est\u00e3o<\/a> cansados<\/a> de<\/a> saber<\/a>, \u00e9 o Jap\u00e3o dos anos 1930 que me ocupa esse espa\u00e7o).<\/p>\n

Mesmo assim, \u00e9 dif\u00edcil seguir na profiss\u00e3o sem topar com aqueles que vestem (literalmente) o tabardo de outras \u00e9pocas.<\/p>\n

<\/p>\n

Qual foi minha surpresa, assim, ao descobrir um livro que unia partes t\u00e3o diferentes da minha vida.\u00a0Cosplay, Steampunk\u00a0<\/em><\/a>e Medievalismo<\/a>,\u00a0<\/em>lan\u00e7ado m\u00eas passado, \u00e9 um livro que responde a todas as suas d\u00favidas sobre esses hobbies de performance – mesmos as que voc\u00ea n\u00e3o sabia que tinha<\/strong>.<\/p>\n

\"capa<\/p>\n

O livro \u00e9 um fruto do\u00a0Mnemon<\/a>,\u00a0<\/em>Grupo de Pesquisa em Mem\u00f3ria, Comunica\u00e7\u00e3o e Consumo, liderado pela professora M\u00f4nica Nunes da ESPM.<\/p>\n

O assunto est\u00e1 longe de lhes ser estranho. O grupo publicou outro livro<\/a> especificamente sobre cosplay anos atr\u00e1s, al\u00e9m de uma produ\u00e7\u00e3o expressiva em peri\u00f3dicos acad\u00eamicos.<\/p>\n

Cada cap\u00edtulo foi escrito por um autor diferente – que tentei, no melhor da minha habilidade, identificar nos meus coment\u00e1rios. Os papers\u00a0<\/em>s\u00e3o independentes e podem ser lidos em qualquer ordem, \u00e0 conveni\u00eancia do leitor.<\/p>\n

Se voc\u00ea \u00e9 um\u00a0cosplayer,\u00a0steamer\u00a0<\/em>ou revivalista e est\u00e1 interessado no livro pelo assunto, esteja avisado. Este \u00e9 uma obra cient\u00edfica, direcionada a um p\u00fablico acad\u00eamico. Para os n\u00e3o aclimatados no estilo, seus jarg\u00f5es e formalidade podem assustar.<\/p>\n

Mesmo assim, a mera quantidade de depoimentos e curiosidades que o estudo traz j\u00e1 o torna uma leitura divertida e edificante.<\/p>\n

\"asylum

Asylum Steampunk Festival <\/a>em Lincoln, onde pesquisadores do\u00a0Mnemon\u00a0<\/em>fizeram trabalho de campo. Fonte<\/a><\/p><\/div>\n

O livro \u00e9 resultado de um trabalho de campo realizado em conven\u00e7\u00f5es de v\u00e1rias partes do Brasil e tamb\u00e9m na Inglaterra.<\/p>\n

Para isto, utilizaram o m\u00e9todo conhecido como\u00a0fl\u00e2nerie.\u00a0<\/em>A t\u00e9cnica consiste em “passear” pelas conven\u00e7\u00f5es com aparente casualidade, de maneira a extrair testemunhos mais espont\u00e2neos dos participantes.<\/p>\n

N\u00e3o \u00e9 a primeira coisa que nos vem \u00e0 cabe\u00e7a quando pensamos em pesquisa acad\u00eamica. Entretanto, ao ler os in\u00fameros depoimentos compilados no livro, \u00e9 imposs\u00edvel duvidar de seu m\u00e9rito.<\/p>\n

Cosplay, Steampunk e Medievalismo\u00a0<\/em>\u00e9 uma janela ao cora\u00e7\u00e3o dos\u00a0hobbies <\/em>de performance. Mesmo eu, cosplayer\u00a0<\/em>h\u00e1 nove anos e LARPer na adolesc\u00eancia, me flagrei descobrindo um universo novo.<\/p>\n

Est\u00e1 certo o ditado: quem s\u00f3 conhece sua aldeia n\u00e3o conhece a sua aldeia.<\/p>\n

\"lan\u00e7amento

Lan\u00e7amento de\u00a0Cosplay, Steampunk e Medievalismo na\u00a0<\/em>Geek.etc.br<\/p><\/div>\n

Cosplayers desconfiam de\u00a0quem os olha “de fora”, e com raz\u00e3o. Como Pri Suicun disse na entrevista que deu a mim<\/a>, quando cosplayers aparecem na m\u00eddia, quase sempre s\u00e3o retratados como doentes mentais.<\/p>\n

N\u00e3o \u00e9 o caso desse livro. Pelo contr\u00e1rio, seu grande m\u00e9rito \u00e9 demonstrar que esses hobbies s\u00e3o express\u00f5es de desejos que, de uma forma, ou de outra, ardem em cada um de n\u00f3s: viver sob princ\u00edpios, encontrar uma comunidade, construir sua pr\u00f3pria hist\u00f3ria.<\/p>\n

Estamos todos confinados a uma \u00e9poca que n\u00e3o escolhemos, presos \u00e0 certeza de que, um dia, tudo acabar\u00e1. Diante do fim, procuramos um escape. Alguns, na longevidade de um livro. Outros, na efemeridade de uma foto.<\/p>\n

Na vida, e n\u00e3o s\u00f3 no palco, todos n\u00f3s usamos m\u00e1scaras.<\/p>\n

Steampunk: o futuro que nunca chegou<\/h3>\n
\"steampunk_italia_by_steampunk_italia-d4ev1jc.jpg\"

Fonte<\/a><\/p><\/div>\n

De um ponto de vista hist\u00f3rico, seus cap\u00edtulos sobre o steampunk <\/em>e o revivalismo\u00a0s\u00e3o os mais interessantes.<\/p>\n

O livro n\u00e3o \u00e9 uma propriamente uma hist\u00f3ria sobre o retrofuturismo. Mesmo assim, traz um prato cheio para quem sempre quis saber mais sobre chamin\u00e9s fumacentas e\u00a0goggles\u00a0<\/em>acobreados.<\/p>\n

Como Dora Carvalho nos conta, embora a est\u00e9tica se baseie em cl\u00e1ssicos como J\u00falio Verne, H.G. Wells e Mary Shelley, sua origem \u00e9 muito mais recente. O termo surgiu nos anos 1980, em uma tentativa de transportar o\u00a0cyberpunk\u00a0<\/em>\u00e0 era do gim e do vapor.<\/p>\n

O que se buscou foi justamente o\u00a0underground<\/em>, o dist\u00f3pico. Nas palavras de Raul C\u00e2ndido de Souza, co-fundador do Conselho Steampunk de S\u00e3o Paulo<\/a>\u00a0entrevistado no livro, um “vapor marginal.”<\/p>\n

\"Steampunk-costumes.jpg\"<\/p>\n

Cosplay, Steampunk e Medievalismo\u00a0<\/i>acompanha o fen\u00f4meno n\u00e3o apenas nas conven\u00e7\u00f5es, mas tamb\u00e9m nas subculturas que as cercam.<\/p>\n

Assim, Wagner Silva se debru\u00e7ou sobre o colecionismo na cena\u00a0Steampunk<\/em>. Lilia Horta, por sua vez, escreve sobre as refer\u00eancias\u00a0steampunk\u00a0<\/em>e medievalistas nos filmes de Miyazaki.<\/p>\n

\u00c9 uma pena que nenhum dos autores tenho abordado a influ\u00eancia do\u00a0steampunk\u00a0<\/em>na cultura pop japonesa como um todo. Embora, dada a complexidade do assunto, n\u00e3o \u00e9 poss\u00edvel culp\u00e1-los por conta disso.<\/p>\n

O\u00a0Steampunk, <\/em>afinal,\u00a0tem uma longu\u00edssima tradi\u00e7\u00e3o nos animes, de cl\u00e1ssicos como\u00a0Nadia<\/a>\u00a0\u00a0<\/em>a novidades como\u00a0Kabaneri<\/a>\u00a0<\/em>e\u00a0Princess Principal<\/a><\/em>. \u00a0Isto sem falar nos JRPGs, em que tornou esp\u00e9cie de segunda pele.<\/p>\n

\"midgar

A cidade de Midgar no game\u00a0Final Fantasy VII<\/em><\/p><\/div>\n

Para al\u00e9m das influ\u00eancias ocidentais, tenho a impress\u00e3o que essas obras trazem inquieta\u00e7\u00f5es bem particulares.\u00a0 N\u00e3o exatamente de sua bagagem como pa\u00eds asi\u00e1tico, mas do pa\u00eds que foi na virada do s\u00e9culo – e que a bomba at\u00f4mica condenou ao passado.<\/p>\n

Como disse Mahiro Maeda<\/a>, produtor de\u00a0Last Exile<\/a><\/em>:<\/p>\n

\n

N\u00f3s t\u00ednhamos essa imagem da Alemanha no in\u00edcio do s\u00e9culo XX. N\u00f3s pensamos que a Alemanha do entreguerras tinha caracter\u00edsticas muito interessantes. As pessoas pensam em algo sombrio e negativo por causa da ascens\u00e3o do nazismo. Mas tantas coisas apareceram naquela \u00e9poca, como o crescimento r\u00e1pido das cidades e riqueza. Tecnologia industrial, qu\u00edmica, descobertas cient\u00edficas (…) Eu acho que tudo o que a Alemanha produziu naquele tempo foi extremo e \u00fanico<\/em>.<\/p>\n<\/blockquote>\n

\"last

Last Exile<\/em><\/p><\/div>\n

\u00c9 uma vis\u00e3o que tamb\u00e9m encontra eco no Jap\u00e3o: um pa\u00eds fechado e agr\u00edcola que se converteu, quase da noite para o dia, em uma pot\u00eancia industrial, com direito a luz el\u00e9trica, ferrovias e encoura\u00e7ados.<\/p>\n

No pa\u00eds que se tornou o primeiro Estado asi\u00e1tico a derrotar um imp\u00e9rio Ocidental. E herdar, com igual crueldade, seus ideais colonialistas.<\/p>\n

\"Stonewall-Kotetsu.jpg\"

Kotetsu, <\/em>primeiro encoura\u00e7ado da Marinha Imperial Japonesa. Originalmente batizado de CSS Stonewall<\/em>, constru\u00eddo na Fran\u00e7a para a Confedera\u00e7\u00e3o durante a Guerra Civil Americana. Mais steampunk, <\/em>imposs\u00edvel.<\/p><\/div>\n

Trata-se de um dilema que o pr\u00f3prio Miyazaki abordou em outro de seus longas, Vidas ao Vento<\/em>. E que, como o filme bem lembra, teve\u00a0consequ\u00eancias funestas<\/a>.<\/p>\n

Medievalismo: entre a justi\u00e7a e a viol\u00eancia<\/h3>\n
\"duch\u00e9

Batalha campal do\u00a0Duch\u00e9 de Bicolline<\/a><\/em><\/p><\/div>\n

A se\u00e7\u00e3o sobre medievalismo \u00e9 igualmente instigante – embora, talvez por influ\u00eancia dos estudiosos em\u00a0steampunk,\u00a0<\/em>tenha dado uma import\u00e2ncia desmedida ao pa\u00eds da rainha Vit\u00f3ria.<\/p>\n

Luis Martino diz que \u201cn\u00e3o seria de todo errado registrar a data e o local de nascimento do medievalismo na Inglaterra do s\u00e9culo XIX\u201d. Na verdade, ele pode ser encontrado desde muito antes<\/strong> \u2013 e em muitos outros lugares<\/strong>.<\/p>\n

Ele est\u00e1 presente, por exemplo, no romantismo alem\u00e3o do s\u00e9culo XVIII e na Alemanha unificada de Bismarck, que legou n\u00e3o s\u00f3 a hist\u00f3ria medieval, mas a pr\u00f3pria no\u00e7\u00e3o de “hist\u00f3ria”<\/a> como a conhecemos.<\/p>\n

Ele pode ser visto nas f\u00e1bulas ossi\u00e2nicas<\/a> do escoc\u00eas James MacPherson, inspiradas no her\u00f3i medieval \u00d3is\u00edn. No h\u00e1bito dos reis da Fran\u00e7a de batizarem seus filhos como Louis<\/strong>, em homenagem a Cl\u00f3vis<\/strong>, primeiro rei crist\u00e3o da G\u00e1lia Merov\u00edngia. E no uso da\u00a0Joyeuse,<\/em> espada de Carlos Magno, nas suas cerim\u00f4nias de coroa\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

\"Joyeuse_louvre.JPG\"

Joyeuse em exibi\u00e7\u00e3o no<\/em> Museu do Louvre em Paris. A espada foi reformada v\u00e1rias vezes ao longo dos s\u00e9culos \u2013 o que a torna, tamb\u00e9m, uma recria\u00e7\u00e3o medievalista.<\/em><\/p><\/div>\n

Isto sem contar nos \u201cmedievalismos\u201d da pr\u00f3pria Idade M\u00e9dia. Por exemplo, na Ordem do Garter<\/a>, irmandade cavalheiresca fundada em 1348 e inspirada nos cavaleiros do Rei Arthur. Ou nas t\u00e1volas redondas<\/a>, \u201cfeiras medievais\u201d em que membros da corte se fantasiavam de personagens da lenda arturiana.<\/p>\n

O revivalismo existe desde que o passado era \u201cpresente\u201d.<\/p>\n

\"round<\/p>\n

Luis est\u00e1 certo, no entanto, ao lembrar que algo muito importante aconteceu na Inglaterra da rainha Vit\u00f3ria.\u00a0 Diante de polui\u00e7\u00e3o, mudan\u00e7as econ\u00f4micas e m\u00e1quinas que n\u00e3o entendiam, muitos oitocentistas preferiram sonhar com um mundo anterior.<\/p>\n

Essa “revolta” teve uma express\u00e3o no Pr\u00e9-rafaelismo<\/a>, movimento que pregava um retorno \u00e0 Idade M\u00e9dia – est\u00e9tico, mas tamb\u00e9m moral. Uma tentativa, como explica Cynthia Luderer, de resgatar algo de espiritual a um mundo cada vez mais desencantado.<\/p>\n

\"lady<\/p>\n

\u00c9 um retorno com que sonham tamb\u00e9m os entrevistados pelo livro.\u00a0Para eles, as mulheres do passado eram \u201cmais femininas\u201d; os homens, \u201cmais cavalheiros\u201d; a vida, mais “justa”.<\/p>\n

Em algum lugar do presente, algo importante escapou pelas frestas. Com tabardos e crinolinas, boffers<\/a>\u00a0<\/i>e x\u00edcaras de ch\u00e1, eles est\u00e3o dispostos a recuper\u00e1-lo.<\/p>\n

Como diz um dos “guerreiros” citados no cap\u00edtulo de Sami Neppo:<\/p>\n

\u201cpara o grupo o lema: <\/em>In Gladius Victoria Est significa: lute com honra, seja honesto, acuse os golpes, aceite perder, entenda seu erro, treine bastante e n\u00e3o trapaceie. E \u00e9 isso que fa\u00e7o para a vida.<\/em>\u201d<\/p><\/blockquote>\n

Isso n\u00e3o significa que medievalistas desejam voltar literalmente ao passado. O objetivo, no final das contas, \u00e9 resgatar as coisas “boas” que se perderam – e abandonar as “ruins” que n\u00e3o cabem no presente.<\/p>\n

Obviamente, distinguir umas das outras \u00e9 mais dif\u00edcil do que parece. Ao longo da hist\u00f3ria do revivalismo,\u00a0 coisas ditas “ruins” j\u00e1 inclu\u00edram a ci\u00eancia, as liberdades individuais e a pr\u00f3pria ideia de progresso.<\/p>\n

\"hitler

Cartaz nazista retratando Hitler como um cavaleiro<\/p><\/div>\n

\u00c9 o ponto em que toca Davi de S\u00e1, ao comentar sobre o papel da viol\u00eancia nas leituras sobre a Idade M\u00e9dia. Quando pensamos em medievalistas, quase sempre falamos de aspirantes a guerreiros que se batem com armas de espuma.<\/p>\n

\u00c9 como se mil anos de hist\u00f3ria tivessem sido caracterizados por um grande mortic\u00ednio, \u00e0 exclus\u00e3o de todas as coisas. E dev\u00eassemos, por algum motivo arcano, ver nisso uma esp\u00e9cie de virtude.<\/p>\n

At\u00e9 que ponto \u00e9 positivo remediar um passado feito s\u00f3 de guerras, razias e combates? Em especial quando estas lutas serviram a prop\u00f3sitos eticamente question\u00e1veis, como as cruzadas?<\/p>\n

Infelizmente, essa vis\u00e3o continua muito comum, a despeito dos esfor\u00e7os de historiadores de acabar com o mito da \u201cIdade das Trevas\u201d. \u00c9 uma imagem, por\u00e9m, que diz muito mais respeito \u00e0 nossa mentalidade que a um passado medieval.<\/p>\n

Como defendem alguns autores<\/a>, a proje\u00e7\u00e3o dos males do mundo ao \u201cpassado\u201d \u00e9 uma forma de aliviarmos nossas neuras sobre o presente. \u00c9 muito mais f\u00e1cil lidar com erros herdados da Idade M\u00e9dia do que admitir que foi a pr\u00f3pria modernidade que criou os seus dem\u00f4nios.<\/p>\n

Felizmente, nem tudo est\u00e1 perdido. Embora n\u00e3o seja o foco dos grupos estudados pelo\u00a0Mnemon\u00a0<\/em>(apesar disto aparecer em alguns cap\u00edtulos), o medievalismo tamb\u00e9m \u00e9 forte em grupos dedicados \u00e0 m\u00fasica, gastronomia e outros aspectos da cultura.<\/p>\n

\"hurdy

Revivalista tocando <\/em>hurdy gurdy <\/a>no IMC Leeds<\/a>, um dos maiores congressos de hist\u00f3ria medieval do mundo<\/em><\/p><\/div>\n

Co<\/strong>nclus\u00e3o: o que tirar disso tudo?<\/strong><\/h3>\n

Existe algo em comum entre cosplayers,\u00a0steamers\u00a0<\/em>e medievalistas? A cada p\u00e1gina que lia dos pesquisadores do\u00a0Mnemon,\u00a0<\/em>minhas certezas diminu\u00edam.<\/p>\n

Como conciliar escapistas que s\u00f3 querem se divertir de\u00a0steamers\u00a0<\/em>politicamente engajados? Revivalistas que idolatram o passado daqueles que n\u00e3o trocariam o presente por nada? Medievalistas que se chamam de cosplayers daqueles que se prezam como uma tribo a parte?<\/p>\n

Como conciliar os desejos e testemunhos, \u00e0s vezes conflitantes, dos pr\u00f3prios f\u00e3s? Como explicar um movimento que pregue o retorno aos “valores do passado”, mas que atribui a esse passado valores contempor\u00e2neos, como a “toler\u00e2ncia” e o “respeito \u00e0s diferen\u00e7as”?<\/p>\n

Como todo grande trabalho cient\u00edfico,\u00a0Cosplay, Steampunk\u00a0<\/em>e\u00a0<\/em>Medievalismo<\/em> traz mais perguntas que respostas. E \u00e9 m\u00e9rito de seus pesquisadores terem tido a humildade para reconhec\u00ea-lo.<\/p>\n

Como diz \u00d3scar Ruiz no pref\u00e1cio \u00e0 colet\u00e2nea:<\/p>\n

\n

Nessa ocasi\u00e3o foram as din\u00e2micas cosplay de jovens paulistas que se me apresentaram como um conjunto de m\u00e1scaras que (eu) deveria decodificar como antrop\u00f3logo e sobre as quais emitir um ju\u00edzo a respeito do que de fato significavam. V\u00e3 ilus\u00e3o, a antropol\u00f3gica e a minha, de acreditar que podemos dizer algo sobre \u201co fundo\u201d das coisas, que corresponde \u00e0 vida cultural de grupos e de pessoas.<\/em><\/p>\n

Ilus\u00e3o porque em primeiro lugar nosso pr\u00f3prio etnocentrismo nos obriga a pensar que as coisas, a cotidianidade cosplay, por exemplo, t\u00eam algo mais ou significam algo mais do que a pr\u00f3pria encena\u00e7\u00e3o de imagens que reelaboram a vida social (das pessoas e das coisas). E ilus\u00e3o tamb\u00e9m porque seguimos suspeitando que a identidade \u00e9 algo que est\u00e1 \u201cno fundo\u201d e, portanto, \u00e9 tarefa disciplinar visibiliz\u00e1-la, como se fosse uma opera\u00e7\u00e3o neutra, e n\u00e3o mediada por saberes, poderes e tecnologias pr\u00f3prias.<\/em><\/p>\n<\/blockquote>\n

Ci\u00eancias sociais, por lidarem com seres humanos, est\u00e3o sempre \u00e0 merc\u00ea da imprevisibilidade. E jovens, bem diz uma das autores citadas pelo livro, s\u00e3o dif\u00edceis de se etiquetar.<\/p>\n

At\u00e9 que ponto tudo isso converge para um denominador comum? E se n\u00e3o converge, como podemos fazer sentido dessa diferen\u00e7a – se nada mais, para entender para onde estamos indo como sociedade?<\/p>\n

S\u00e3o quest\u00f5es que dar\u00e3o pano para manga a futuros trabalhos. E que eu, sem d\u00favida, terei o maior prazer de acompanhar.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Hoje trago a voc\u00eas um artigo um pouco diferente. Apesar de ser cosplayer e medievalista (do tipo que faz pesquisa acad\u00eamica, n\u00e3o batalha campal), n\u00e3o tenho grandes fetiches pela Idade M\u00e9dia (como leitores do blog est\u00e3o cansados de saber, \u00e9 o Jap\u00e3o dos anos 1930 que me ocupa esse espa\u00e7o). Mesmo assim, \u00e9 dif\u00edcil seguir […]<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":18740,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"spay_email":"","jetpack_publicize_message":"","jetpack_is_tweetstorm":false},"categories":[12,580],"tags":[95,98,99,249,257,370],"jetpack_featured_media_url":"https:\/\/i1.wp.com\/www.finisgeekis.com\/wp-content\/uploads\/2017\/09\/steampunk-star-wars-group-photo.jpg?fit=900%2C600&ssl=1","jetpack_publicize_connections":[],"jetpack_shortlink":"https:\/\/wp.me\/p9rUzW-4LD","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/18329"}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=18329"}],"version-history":[{"count":1,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/18329\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":21175,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/18329\/revisions\/21175"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media\/18740"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=18329"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=18329"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=18329"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}