N\u00e3o digo o primeiro que jogou. Aquele que o fez sentir que era parte de algo maior. Que trazia aquele sorriso de cumplicidade sempre que topava com outro f\u00e3.<\/p>\n

Para mim, h\u00e1 um n\u00famero de games que disputam o lugar. Dentre eles, um dos mais queridos \u00e9 sem d\u00favida Age of Empires II: The Age of Kings.<\/em><\/p>\n

Dia ap\u00f3s dia, eu e meus colegas da escola corr\u00edamos \u00e0 sala de inform\u00e1tica para construir nossos pr\u00f3prios imp\u00e9rios. T\u00ednhamos apenas meia hora de recreio, mas n\u00e3o desperdi\u00e7\u00e1vamos um \u00fanico minuto.<\/p>\n

$\"cobra$
Entendedores entender\u00e3o<\/p><\/div>\n
Renda-se ao wololo<\/em>, tire seu Pentium II do s\u00f3t\u00e3o e embarque em 4 curiosidades da franquia que voc\u00ea tanto amou, e que acaba de completar vinte anos<\/strong> com pompa e gl\u00f3ria.<\/p>\n
\u00a01)\u00a0<\/strong>Foi feito por (quase) amadores<\/strong><\/h3>\n $\"ensemble$
A equipe da\u00a0Ensemble Studios\u00a0<\/em>nos anos 1990<\/p><\/div>\n
Age of Empires<\/em> n\u00e3o foi o primeiro RTS do mercado, mas \u00e9 dif\u00edcil imaginar o g\u00eanero sem ele. Praticamente todos os jogos que o sucederam o tomaram como refer\u00eancia, em menor ou mais medida.<\/p>\n
O fato seria impressionante por si s\u00f3. Mais ainda por ter sido criado por um grupo de \u00a0amadores<\/strong>.<\/p>\n
Com a exce\u00e7\u00e3o de Bruce Shelley, lenda dos games que trabalhou com Sid Meier em Civilization<\/em>, a pequen\u00edssima equipe da Ensemble Studios, fundada em 1994, n\u00e3o tinha a menor experi\u00eancia em games. Na verdade, sequer tinham um espa\u00e7o pr\u00f3prio. A empresa dividia escrit\u00f3rio<\/a> com a Ensemble Corporation, uma firma de consultoria em inform\u00e1tica.<\/p>\n
$\"09-25auevent.jpg\"$
Bruce Shelley com An\u00fabis, Zeus e Thor… ou algo do tipo<\/p><\/div>\n
Ningu\u00e9m imaginava que a brincadeira daria certo. Felizmente, tamb\u00e9m no jogo da vida \u00e0s vezes rolamos \u201c20 naturais\u201d.<\/p>\n
Como lembra o programador Dave Pottinger<\/a>:<\/p>\n
\n
\u201cN\u00f3s n\u00e3o sab\u00edamos quanto n\u00f3s t\u00ednhamos abra\u00e7ado para conseguir terminar aquele jogo. N\u00f3s trope\u00e7\u00e1vamos ao longo do caminho com um tipo de paix\u00e3o que s\u00f3 os est\u00fadios novos possuem. A maioria da equipe, inclusive eu, tinha acabado de sair da escola. A maioria da equipe era solteira; quase ningu\u00e9m tinha filhos. Por isso, virar as noites era mais tranquilo do que \u00e9 hoje. N\u00f3s n\u00e3o t\u00ednhamos ningu\u00e9m de fato (al\u00e9m do Bruce [Shelley]) com experi\u00eancia \u201creal\u201d na ind\u00fastria de games.\u201d<\/p>\n<\/blockquote>\n
Foi um desafio, mas nada melhor que desafios para estimular a criatividade. Como a equipe era pequena, uma mesma pessoa podia ser encarregada de tarefas das mais diversas<\/a>. Um mesmo artista modelava as unidades, desenhava terrenos e at\u00e9 criava anima\u00e7\u00f5es.<\/p>\n
O esquema multitask <\/em>pode n\u00e3o ter sido o mais eficiente, mas legou \u00e0 Ensemble o h\u00e1bito de buscar feedback <\/em>de toda a equipe. Quando o est\u00fadio finalmente saiu da garagem, a experi\u00eancia foi crucial para coloc\u00e1-la \u00e0 frente da concorr\u00eancia.<\/p>\n
Ao contr\u00e1rio de est\u00fadios maiores, em que departamentos mal se comunicam, a Ensemble sempre pregou que boas ideias podem vir de qualquer lugar. A aposta pagou: alguns dos maiores insights <\/em>da franquia \u2013 como os monumentos \u2013 vieram de sugest\u00f5es casuais <\/a>envolvendo artistas e programadores.<\/p>\n
Age of Empires<\/em> pode ter redefinido o AAA, mas nunca perdeu o esp\u00edrito de underdog. <\/em><\/p>\n
2) Conquistou todos os p\u00fablicos. E por “todos”, quero dizer *TODOS*<\/strong><\/h3>\n
$\"30seni_CA0.jpg\"$ <\/p>\n
Estrat\u00e9gia \u00e9 um g\u00eanero de nicho. Devido a sua complexidade e curva de aprendizado \u00edngreme, muitos jogos do estilo nunca ganham o p\u00fablico mainstream<\/em>.<\/p>\n
Mesmo assim, quando nos reun\u00edamos para uma partida de \u201cAges\u201d <\/em>na 5\u00aa s\u00e9rie, <\/em>eu e meus amigos est\u00e1vamos bem longe de sermos \u201chardcore\u201d. N\u00e3o fomos uma exce\u00e7\u00e3o: como recorda o designer Matthew Pritchard<\/a>, o jogo vendeu bem entre gamers de todos os gostos, idades e g\u00eaneros.<\/p>\n
Muito antes de \u201cdiversidade\u201d se tornar moda, a Ensemble Studios conseguiu contornar um dos maiores impasses do game design: o fosso entre as demografias.<\/p>\n
Nem tudo foi planejado. Na verdade, como diz Pritchard, o sucesso foi uma surpresa at\u00e9 para os pr\u00f3prios criadores. O que n\u00e3o significa que eles n\u00e3o tenham tomado algumas decis\u00f5es mais do que acertadas.<\/p>\n
A primeira foi em tornar o jogo o mais leve poss\u00edvel. Embora hoje em dia me\u00e7amos RAM em gigabytes, nos long\u00ednquos anos 1990 cada megabyte contava. E uma partida com m\u00faltiplos jogadores em AoE <\/em>podia facilmente exigir demais dos computadores.<\/p>\n
A Ensemble fez de tudo para que o jogo rodasse no maior n\u00famero de m\u00e1quinas poss\u00edvel. Uma partida com 8 jogadores exigia 16 MB de RAM, contra 32 MB do Total Annihilation, <\/em>RTS lan\u00e7ado no mesmo ano.<\/p>\n
$\"TA1st_Ad_Original3.jpg\"$
O game\u00a0Total Annihilation<\/em><\/p><\/div>\n
A otimiza\u00e7\u00e3o teve um efeito assombroso. Exigindo menos do PC, o game se tornou mais acess\u00edvel a \u201ccasuais\u201d e mais responsivo a \u201chardcores\u201d. A batalha pelo mercado estava ganha.<\/p>\n
$\"age-of-empires-II-the-conquerors-expansion-screenshots-pics.jpg\"$ <\/p>\n
AoE <\/em>tamb\u00e9m moveu montanhas com suas localiza\u00e7\u00f5es.<\/p>\n
Na metade do desenvolvimento do primeiro jogo da franquia, a equipe percebeu que tinha um problema em m\u00e3os. O game estava planejado para ser lan\u00e7ado na \u00c1sia, mas n\u00e3o contava com nenhuma fac\u00e7\u00e3o oriental<\/a>. <\/strong><\/p>\n
Expandir um jogo na metade do caminho \u00e9 uma decis\u00e3o cara (e perigosa). Outros est\u00fadios teriam se contentado com o caminho de menor risco. A Ensemble, no entanto, pensou diferente. Engolindo noites em claro, seus designers suaram para incluir um novo continente em seu game. Nasciam as fac\u00e7\u00f5es de Choson, Shang e Yamato.<\/p>\n
$\"age_of_empires-7.jpg\"$ <\/p>\n
A aposta, novamente, deu certo: Age of Empires <\/em>tornou-se um sucesso no mercado internacional. Quando Age of Mythology <\/em>foi lan\u00e7ado em 2002, as vendas estrangeiras j\u00e1 superavam as dom\u00e9sticas<\/a>.<\/p>\n
Nada mais digno para uma franquia que embalou, com entretenimento e humor, quase toda a hist\u00f3ria humana.<\/p>\n
3) Rise of Rome <\/em>foi um acidente<\/strong><\/h3>\n
\u00a0 $\"aoe_box\"$ <\/strong><\/p>\n
Rise of Rome<\/a> <\/em>\u00e9 uma das expans\u00f5es mais celebradas da franquia. Lan\u00e7ado em 1998, o pacote adicionou Roma, Cartago, Maced\u00f4nia e Palmira ao game original.<\/p>\n
Para aqueles que foram apresentados tarde \u00e0 franquia (caso de muitos aqui no Brasil), \u00e9 quase imposs\u00edvel pensar no jogo sem ela. Afinal, qual o sentido de reviver a antiguidade se n\u00e3o podemos encarnar C\u00e9sar, An\u00edbal ou Alexandre o Grande?<\/p>\n
$\"rise$ <\/p>\n
Por incr\u00edvel que pare\u00e7a, Rise of Rome<\/em> quase n\u00e3o viu a luz do dia. A raz\u00e3o \u00e9 que, originalmente, Age of Empires <\/em>sequer ganharia uma expans\u00e3o<\/a>. <\/strong><\/p>\n
N\u00e3o era falta de vontade. Muito pelo contr\u00e1rio: quando o primeiro Age <\/em>se tornou um best-seller, a Ensemble ficou t\u00e3o confiante que prometeu uma sequel <\/em>para o ano seguinte.<\/p>\n
Bastou colocar a m\u00e3o na massa para que a equipe, ainda inexperiente, percebesse que dera um passo maior que as pernas. Age of Kings <\/em>encontrou problema atr\u00e1s de problema, e logo ficou claro que seu deadline n\u00e3o seria cumprido.<\/p>\n
$\"aoe$ <\/p>\n
O problema \u00e9 que a Microsoft j\u00e1 contava com um lan\u00e7amento de RTS em seu calend\u00e1rio. Para evitar se indispor com o publisher, <\/em>os rapazes da Ensemble prometeram uma expans\u00e3o de peso para seu \u00faltimo grande sucesso.<\/p>\n
Trabalhar com um sistema j\u00e1 criado era menos custoso, mas nem por isso f\u00e1cil. Divididos entre dois projetos de peso, a equipe precisou varar muitas outras noites para dar conta do recado.<\/p>\n
Tudo por uma boa causa: Rise of Rome <\/em>ganhou o pr\u00eamio \u201cadd-on<\/em> do ano\u201d da revista Computer Games Strategy Plus<\/a>. E Age of Kings, <\/em>lan\u00e7ado no ano seguinte, entrou para os anais como um dos melhores jogos da hist\u00f3ria.<\/p>\n
4) Transformou modders <\/em>em profissionais \u2013 com sangue, suor e l\u00e1grimas<\/strong><\/h3>\n
\u00a0 $\"FE$ <\/strong><\/p>\n
Oficialmente, Age of Kings<\/em> terminou com a expans\u00e3o The Conquerors, <\/em>lan\u00e7ada em 2000. Com Age of Mythology <\/em>e AoE III <\/em>invadindo o novo mil\u00eanio, o game j\u00e1 come\u00e7ava a empoeirar. Quando da fal\u00eancia da Ensemble em 2009, j\u00e1 era apenas uma lembran\u00e7a.<\/p>\n
Nos bastidores, por\u00e9m, o cen\u00e1rio era outro. Uma equipe dedicada de modders <\/em>arrega\u00e7ou as mangas para garantir que o game nunca morresse. Mais do que isso, que se tornasse maior, melhor e mais inesquec\u00edvel. <\/strong><\/p>\n
Se voc\u00ea baixou Age of Kings HD<\/em>, lan\u00e7ando em 2013, j\u00e1 sabe do que estou falando. Os esfor\u00e7os dos modders <\/em>foi notado pela Microsoft, que incorporou seu trabalho na forma de tr\u00eas expans\u00f5es: The Forgotten, African Kingdoms<\/em> e Rise of the Rajas<\/em><\/p>\n
$\"aoe$ <\/p>\n
Tratam-se de projetos simplesmente herc\u00faleos, acrescentando d\u00fazias de fac\u00e7\u00f5es novas, incluindo na\u00e7\u00f5es como Burma, Vietn\u00e3 e o Imp\u00e9rio Inca. A empreitada foi t\u00e3o \u201c\u00e9pica\u201d que resultou na cria\u00e7\u00e3o de um novo est\u00fadio \u2013 Forgotten Empires<\/a> \u2013 dedicado a manter a chama viva.<\/p>\n
$\"aoe$ <\/p>\n
Obviamente, nada foi t\u00e3o f\u00e1cil como parecia. Montado por gamers sem experi\u00eancia na ind\u00fastria, a Forgotten Empires enfrentou problemas muito parecidos aos encarados pela Ensemble nos seus primeiros anos.<\/p>\n
Ao comprar a tarefa de expandir um jogo com vinte anos de idade, o est\u00fadio descobriu que precisariam voltar, eles tamb\u00e9m, \u00e0 Idade da Pedra.<\/p>\n
Antes das engines <\/em>intuitivas, com suas fartas lojas de assets<\/em>, cada elemento do jogo tinha de ser modelado pol\u00edgono a pol\u00edgono<\/a>. N\u00e3o fosse o bastante, precisavam se limitar a uma paleta de 256 cores, infinitamente menor do que nossos padr\u00f5es contempor\u00e2neos.<\/p>\n
$\"aoe2_african_imp_market_stages.png\"$ <\/p>\n
Se as dificuldades t\u00e9cnicas n\u00e3o fossem o bastante, a equipe da Forgotten Empires teve de lidar com entraves legais<\/a>. Ao transformar um mod <\/em>em uma expans\u00e3o oficial, o est\u00fadio precisou dar cr\u00e9dito \u2013 e remunerar \u2013 as dezenas <\/strong>de f\u00e3s que haviam contribu\u00eddo para o projeto.<\/p>\n
Alguns se recusaram a participar. Outros exigiram pequenas fortunas para que seu trabalho fosse utilizado. O entusiasmo dos gamers, outrora grande for\u00e7a, se mostrou um pesadelo para lan\u00e7ar um jogo comercial.<\/p>\n
O projeto foi um sucesso, mas seu maior triunfo vai al\u00e9m das expans\u00f5es. Em 2013, Age of Kings HD <\/em>virou um hit instant\u00e2neo. O jogo mant\u00e9m uma cena de\u00a0mods\u00a0<\/em>fortes, que n\u00e3o d\u00e1 sinal de desaparecer.<\/p>\n
Com uma mistura de ingenuidade e talento, AoE <\/em>uniu uma coaliz\u00e3o improv\u00e1vel de f\u00e3s. E a sustentou ao longo das d\u00e9cadas, com paix\u00e3o, sorte – e \u00e9 claro, muito humor.<\/p>\n
$\"cobra\"$ Fonte<\/a><\/p><\/div>\n
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