Ah, Kyoto!\u00a0Patrim\u00f4nio da humanidade. Paris do Oriente!<\/p>\n

Se voc\u00ea, como eu, \u00e9 apaixonado pelo Jap\u00e3o, j\u00e1 teve ter ouvido que sua antiga capital \u00e9 o lugar para se visitar. Se T\u00f3quio \u00e9 o templo da modernidade, Kyoto \u00e9 a metr\u00f3pole da tradi\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Isso tudo \u00e9 verdade, mas n\u00e3o necessariamente da forma como voc\u00ea imagina. Ao visitar a cidade, percebi que ela \u00e9 realmente a “Paris do Oriente” – para o bem e tamb\u00e9m para o mal.<\/p>\n

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A primeira impress\u00e3o \u00e9 a que fica. Para Kyoto, no entanto, isso pode ser problem\u00e1tico. Ao chegar na cidade, \u00e9 muito prov\u00e1vel que voc\u00ea se depare com uma cena como essa:<\/p>\n

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Todo mundo sabe que o kimono \u00e9 a roupa t\u00edpica do Jap\u00e3o. Mesmo assim, \u00e9 um traje cerimonial, usado apenas em ocasi\u00f5es solenes, como casamentos ou festivais.<\/p>\n

N\u00e3o parece ser o caso em Kyoto. Na antiga capital nip\u00f4nica, n\u00e3o \u00e9 preciso sair da esta\u00e7\u00e3o para ser soterrado por multid\u00f5es inteiras desfilando seus\u00a0obis<\/em>.<\/p>\n

Para um gaijin<\/em> rec\u00e9m-sa\u00eddo de T\u00f3quio, a impress\u00e3o \u00e9 que o Shinkansen \u00e9, na verdade, uma m\u00e1quina do tempo. De uma metr\u00f3pole hist\u00e9rica povoada por maids e homens de terno, chegamos a uma cidade que parece sa\u00edda do Per\u00edodo Muromachi<\/a>.<\/p>\n

O problema \u00e9 que tudo mentira.<\/strong><\/p>\n

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Kyoto possui centenas de lojas de aluguel de kimono. As hordas de homens e mulheres vestidos a car\u00e1ter s\u00e3o na verdade turistas (na sua maioria chineses) que pagaram para viver um \u201cdia de japon\u00eas\u201d.<\/p>\n

Essas lojas existem por todo o Jap\u00e3o, mas em nenhum lugar s\u00e3o t\u00e3o numerosas quanto em Kyoto. N\u00e3o \u00e9 dif\u00edcil entender por qu\u00ea: os destinos tur\u00edsticos mais famosos do Jap\u00e3o<\/strong> se encontram na antiga capital imperial.<\/p>\n

Pense em uma imagem tradicional do \u201cJap\u00e3o\u201d, e \u00e9 muito prov\u00e1vel que ela seja de Kyoto. \u00c9 o caso do santu\u00e1rio de Fushimi, onde milh\u00f5es de turistas (na sua maioria chineses) se amontoam para tirar fotos com a sanha de quem pega o metr\u00f4 de S\u00e3o Paulo no hor\u00e1rio de pico.<\/p>\n

Queria tirar foto s\u00f3 do torii? Boa sorte<\/p><\/div>\n

Ou o c\u00e9lebre Kinkakuji, o Templo do Pavilh\u00e3o Dourado, que estampa 9 de cada 10 guias tur\u00edsticos sobre o pa\u00eds.<\/p>\n

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Maravilhoso, n\u00e9? Seria melhor ainda se fosse o original.<\/p>\n

Sim, voc\u00ea leu corretamente. O pr\u00e9dio dourado que serve de para-raios a estrangeiros de kimono \u00e9 uma c\u00f3pia. O original foi completamente destru\u00eddo<\/strong> em 1950 por um novi\u00e7o piroman\u00edaco.<\/p>\n

O epis\u00f3dio foi t\u00e3o chocante \u2013 e bizarro \u2013 que serviu de inspira\u00e7\u00e3o ao romance O Templo do Pavilh\u00e3o Dourado<\/a> <\/em>do grande escritor Yukio Mishima.<\/p>\n

Kinkakuji ap\u00f3s o inc\u00eandio de 1950<\/p><\/div>\n

O novo <\/strong>Kinkakuji ainda assim \u00e9 muito bonito, e serve de fundo para aquela sua foto linda com o kimono.<\/p>\n

Ou, caso a grana esteja curta, voc\u00ea pode em vez disso visitar o Kinkakuji do Brasil<\/a>, uma r\u00e9plica id\u00eantica do monumento constru\u00eddo em Itapecerica da Serra.<\/p>\n

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Meu sarcasmo pode ter passado a impress\u00e3o errada, ent\u00e3o \u00e9 melhor que eu diga de pronto: Kyoto \u00e9 uma cidade espetacular, <\/em><\/strong>um dos lugares mais emocionantes que j\u00e1 conheci.<\/p>\n

A impress\u00e3o n\u00e3o \u00e9 s\u00f3 minha, mas tamb\u00e9m de Henry L. Stimson, que assim como eu passou sua lua de mel na cidade.<\/p>\n

Quem \u00e9 esse sujeito, voc\u00ea me pergunta? Apenas o secret\u00e1rio de guerra dos EUA<\/a> durante a Segunda Guerra, que fez o poss\u00edvel e o imposs\u00edvel para que Kyoto n\u00e3o virasse alvo da bomba at\u00f4mica<\/a>.<\/p>\n

Sim, Kyoto \u00e9 uma cidade t\u00e3o maravilhosa que escapou de um apocalipse nuclear<\/strong>. Da pr\u00f3xima vez que seu amigo de exatas disser que museus n\u00e3o servem para nada, esse \u00e9 o exemplo que voc\u00ea precisa dar.<\/p>\n

O homem que salvou Kyoto<\/p><\/div>\n

Infelizmente, como toda cidade hist\u00f3rica, Kyoto \u00e9 hoje v\u00edtima de seu pr\u00f3prio sucesso. A invas\u00e3o de estrangeiros torna o centro hist\u00f3rico um caos, e d\u00e1 incentivo a toda sorte de \u201carmadilhas de turista\u201d feita para te fazer gastar dinheiro.<\/p>\n

Em Gion, o antigo bairro das gueixas, restaurantes cobram pequenas fortunas por comidas que n\u00e3o necessariamente s\u00e3o l\u00e1 aquelas coisas. Isso sem falar nas gueixas em si, que sofrem ass\u00e9dio frequente nas ruas.<\/p>\n

Tive o desprazer de testemunhar um epis\u00f3dio do tipo durante a minha viagem, e o mal-estar ainda n\u00e3o me abandonou. Uma maiko<\/em> (aprendiz de gueixa) tentou atravessar a rua e foi prontamente emboscada por uma turba de turistas, enfiando flashes e c\u00e2meras de iPads em seu rosto como se ela fosse um animal ex\u00f3tico.<\/p>\n

N\u00e3o foi na minha viagem, mas n\u00e3o \u00e9 dif\u00edcil achar fotos do tipo. \u00a0S\u00e9rio, n\u00e3o seja esse turista<\/p><\/div>\n

Felizmente, nem todas as \u201carmadilhas de turista\u201d s\u00e3o ruins. Se estiver pensando em pernoitar em Kyoto, fique de olho nos ryokans<\/em>. S\u00e3o pousadas t\u00edpicas japonesas com quartos de tatame, com futons nos aposentos e buffets t\u00edpicos de caf\u00e9 da manh\u00e3.<\/p>\n

J\u00e1 fiz um post sobre comidas bizarras semana passada, ent\u00e3o n\u00e3o entrarei nesse m\u00e9rito agora. Mas vou dizer apenas uma coisa: se voc\u00ea nunca comeu arroz com flocos de bonito <\/a>na primeira refei\u00e7\u00e3o do dia, voc\u00ea ainda n\u00e3o sabe o que \u00e9 acordar.<\/p>\n

Fonte<\/a><\/p><\/div>\n

Ryokans<\/em> s\u00e3o muito cobi\u00e7ados \u2013 e, por causa disso, podem ser bem caros. A boa not\u00edcia \u00e9 que a demanda levou a v\u00e1rios empreendedores a abrir \u201cr\u00e9plicas\u201d de ryokans<\/em>, com todas as caracter\u00edsticas dos originais, mas localizados em pr\u00e9dios novos.<\/p>\n

Leitores do blog sabem que n\u00e3o \u00e9 minha proposta fazer propaganda, mas seria omiss\u00e3o da minha parte n\u00e3o recomendar o lugar onde fiquei. O Lucky You<\/a>, perto da esta\u00e7\u00e3o Gojo do metr\u00f4, \u00e9 simplesmente um mimo.<\/p>\n

Lucky You em Kyoto, registrado por outro brasileiro.<\/a><\/p><\/div>\n

Nada melhor para descansar depois de passar o dia sanduichado entre turistas chineses.<\/p>\n

Nem todo turismo em Kyoto \u00e9 farofa. Uma Aventura no Jap\u00e3o <\/strong>volta na sexta-feira, quando vou lhes contar o que fazer para sair da mesmice na cidade imperial.<\/em><\/p>\n

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