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{"id":14296,"date":"2017-01-24T18:42:39","date_gmt":"2017-01-24T20:42:39","guid":{"rendered":"http:\/\/finisgeekis.com\/?p=14296"},"modified":"2019-02-25T14:00:51","modified_gmt":"2019-02-25T17:00:51","slug":"a-moralidade-de-rogue-one-e-mesmo-cinza","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/2017\/01\/24\/a-moralidade-de-rogue-one-e-mesmo-cinza\/","title":{"rendered":"A moralidade de “Rogue One” \u00e9 mesmo cinza?"},"content":{"rendered":"

Um bilh\u00e3o de d\u00f3lares.<\/p>\n

Essas s\u00e3o as cifras da bilheteria<\/a> de\u00a0Rogue One,\u00a0<\/em>stand-alone de\u00a0Star Wars\u00a0<\/em>que chachoalhou os cinemas m\u00eas passado. Entre isso e o sucesso de p\u00fablico de\u00a0O Despertar da For\u00e7a<\/em>, parece n\u00e3o haver d\u00favidas de que a aposta da Disney em comprar a Lucasfilm finalmente pagou.<\/p>\n

<\/p>\n

Independente do que achemos dos longas p\u00f3s-Lucas (ou do que aconteceu ao Universo Expandido), parece tamb\u00e9m certo que a Disney est\u00e1 indo bem\u00a0naquilo que sempre\u00a0fora um ponto fraco: spin-offs<\/em>\u00a0de qualidade.<\/p>\n

\"ewoks_avventures\"

Pois \u00e9, n\u00e9<\/p><\/div>\n

Mas\u00a0Rogue One<\/em> n\u00e3o \u00e9 apenas isso. Para alguns cr\u00edticos, ele traz algo diferente. Algo que\u00a0Star Wars<\/em>, pelo menos no cinema, nunca havia feito.<\/p>\n

A palavra aqui \u00e9\u00a0cinza<\/strong>. Reviewers comentaram que o filme abriu m\u00e3o do manique\u00edsmo t\u00edpico da saga e se aventurou pela moralidade amb\u00edgua<\/a>.<\/p>\n

O filme seria “cinza e eficiente<\/a>“, com uma Alian\u00e7a Rebelde cinza<\/a>, uma trama com “tons de cinza<\/a>“, mais “adulta e tr\u00e1gica<\/a>”\u00a0que a trilogia original. Se\u00a0Star Wars<\/em> prosperava na luta do bem contra o mal,\u00a0Rogue One\u00a0<\/em>“coloca a “guerra” em “Guerra” nas Estrelas<\/em><\/a>“<\/i><\/p>\n

\"rogue<\/p>\n

Amando-o<\/a>\u00a0ou odiando-o<\/a>, o veredito \u00e9 o mesmo. Os tempos mudaram, o p\u00fablico mudou e agora\u00a0Star Wars\u00a0<\/em>muda tamb\u00e9m. A moral infantil dos “tempos simples<\/a>” de antigamente j\u00e1 se foi. Est\u00e1 na hora de mostrar a guerra, a dor\u00a0e a humanidade como elas realmente s\u00e3o.<\/p>\n

Ou ser\u00e1 mesmo?<\/p>\n

Por tr\u00e1s da sua fotografia escura, final tr\u00e1gico e aus\u00eancia de Jedi, seria\u00a0Rogue One\u00a0<\/em>t\u00e3o diferente assim? Um tom sombrio e um foco no humano \u00e9 o suficiente para que uma hist\u00f3ria seja “moralmente cinza”?<\/p>\n

E n\u00f3s? Ser\u00e1 que realmente crescemos e estamos “tr\u00e1gicos e adultos”? Ou continuamos t\u00e3o esperan\u00e7osos como antes, maravilhados com a luta do bem contra o mal?<\/p>\n

(AVISO: Cont\u00e9m SPOILERS de\u00a0<\/em>Rogue One: Uma Hist\u00f3ria Star Wars.)<\/p>\n

Uma hist\u00f3ria Star Wars<\/strong><\/h3>\n

\"los-alamos-poster-tall-1536x864-5.jpg\"<\/p>\n

Quem acompanha o blog h\u00e1 algum tempo sabe que meus coment\u00e1rios sobre O Despertar da For\u00e7a<\/em> n\u00e3o foram l\u00e1 muito positivos<\/a>. Neste caso, deixe eu ser claro desde j\u00e1: Rogue One <\/em>\u00e9 um excelente filme.<\/p>\n

O longa de Gareth Edwards\u00a0conseguiu pagar seu tributo \u00e0 saga sem soar derivativo. Seu tom \u00e9 sombrio, mas temperado com humor. O talento dos veteranos Mads Mikkelsen\u00a0e Forest Whitaker\u00a0mais do que compensam a protagonista pouco inspirada.<\/p>\n

\"rogue<\/p>\n

\u00c9 um filme de grande peso emocional, do tipo que Lucas, amante\u00a0do espet\u00e1culo e de uma lore <\/em>expansiva, nunca deu muito espa\u00e7o. \u00c9, tamb\u00e9m, uma obra que a Disney raramente fez em seus live-actions<\/em>.<\/p>\n

Fora do recente selo Marvel (e mesmo dentro dele), o est\u00fadio americano sempre teve uma zona de conforto na leveza infanto-juvenil. Que um gigante midi\u00e1tico como a Disney esteja dando espa\u00e7o para hist\u00f3rias como essa \u00e9 um acontecimento. N\u00e3o apenas para Star Wars<\/em>, mas para tudo o que pode vir depois.<\/p>\n

A fotografia \u00e9 escura. A sujeira e desgaste da cenografia levam o conceito de\u00a0futuro usado<\/a><\/strong>, caro a George Lucas, a um novo patamar. O enredo troca o mito de origem por uma hist\u00f3ria de soldados, e o final\u00a0nos traz apenas trag\u00e9dias.<\/p>\n

\"princesa-leia-reaparece-em-cena-final-de-rogue-one-uma-historia-star-wars-1482864042425_v2_615x300\"

E a esperan\u00e7a de um futuro melhor<\/p><\/div>\n

Moralidade “cinza”? Ou s\u00f3 escondida?<\/strong><\/h3>\n

Mesmo assim, se o avaliarmos como um filme adulto, <\/strong>alguma coisa n\u00e3o soa muito certa. E n\u00e3o digo em termos de produ\u00e7\u00e3o (reconstru\u00e7\u00f5es bizarras em CG \u00e0 parte).<\/p>\n

Algo em sua seriedade parece artificial: por um lado, \u00f3bvia demais;\u00a0por outro, explorada de menos. E parece ter a ver com a\u00a0insist\u00eancia, da cr\u00edtica e do pr\u00f3prio diretor<\/a>, na famosa\u00a0moralidade cinza.\u00a0<\/strong><\/p>\n

O termo \u00e9 geralmente utilizado como\u00a0oposto \u00e0 moral “preta e branca”<\/strong>. que a saga original t\u00e3o bem encarna.\u00a0Os bons s\u00e3o bons, os maus s\u00e3o maus, e a hist\u00f3ria \u00e9 o confronto de um contra o outro. Que os “do bem”, se tudo der certo, ganhar\u00e3o.<\/p>\n

\"star<\/p>\n

Hist\u00f3rias s\u00e3o chamadas de\u00a0“cinzas”<\/strong>\u00a0quando as linhas que separam o bem do mal n\u00e3o estiverem muito claras.<\/p>\n

Isso pode acontecer quando humanizam um vil\u00e3o<\/a>\u00a0ou\u00a0desumanizam um her\u00f3i<\/a>. Quando mostram que “bem” e “mal” n\u00e3o existem em formas puras<\/a>. Ou, ainda, quando\u00a0se rebelam\u00a0contra a pr\u00f3pria ideia de moralidade<\/a>.<\/p>\n

Ao tirar a Allian\u00e7a Rebelde do seu pedestal de idealismo,\u00a0Rogue One\u00a0<\/em>parece acenar para esse tipo de hist\u00f3ria.<\/p>\n

O retrato de Saw Gerrera \u00e9 talvez o s\u00edmbolo mais evidente. Ao nos mostrar um conhecido her\u00f3i de universos expandidos passados como um bandido, o filme sugere que a dist\u00e2ncia entre “hero\u00edsmo” e “terrorismo” est\u00e1 no fio de uma navalha.<\/p>\n

\"saw<\/p>\n

Mesmo assim,\u00a0Rogue One\u00a0<\/em>tem um certo brilho que sugere que n\u00e3o \u00e9 l\u00e1 t\u00e3o cinza\u00a0quanto parece.<\/p>\n

Ouvir os rebeldes falarem\u00a0das \u201ccoisas ruins\u201d que fizeram em nome da alian\u00e7a mostra que eles n\u00e3o s\u00e3o mais os her\u00f3is infantis de Uma Nova Esperan\u00e7a<\/em>. Mas a cena tem muito menos impacto do que teria se nos mostrassem o que, <\/em><\/strong>exatamente, eles fizeram.<\/p>\n

A introdu\u00e7\u00e3o de Cassian matando um informante \u00e9 chocante, mas tamb\u00e9m limpa, cl\u00ednica. A v\u00edtima \u00e9 menos um ser humano que um NPC inconveniente, que seu personagem Leal e Neutro executa aborrecido -para, depois, seguir com sua quest.<\/p>\n

N\u00e3o se trata de viol\u00eancia gr\u00e1fica, mas de escala. Como dizia Nietzsche, “quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para voc\u00ea.”<\/strong>. Em Rogue One<\/em>, fazer o mal em nome do bem n\u00e3o causa\u00a0as personagens a perderem f\u00e9 na sua causa. Pelo contr\u00e1rio, apenas as motiva a serem\u00a0mais heroicas.\u00a0<\/strong><\/p>\n

\"cassian-and-k2so-in-rogue-one1-700x394.jpg\"<\/p>\n

\u00c9 engra\u00e7ado, nesse sentido, \u00a0o qu\u00e3o diferente ele \u00e9 das obras “adultas” e “s\u00e9rias” com as quais foi comparado<\/a>, como\u00a0Falc\u00e3o Negro em Perigo\u00a0<\/em>e\u00a0O Resgate do Soldado Ryan<\/em>.<\/p>\n

Confronte apenas\u00a0a postura de\u00a0Cassian em Rogue One<\/em>\u00a0com a cena do prisioneiro alem\u00e3o no filme de Spielberg, em que os protagonistas\u00a0passam horas pensando\u00a0se devem ou n\u00e3o matar\u00a0um\u00a0soldado nazista. Em plena Segunda Guerra.<\/strong><\/p>\n

Quem \u00e9 o manique\u00edsta agora?<\/p>\n

\"rogue<\/p>\n

\u00c9 o mesmo conflito do capit\u00e3o de A Vida dos Outros<\/a><\/em>, que de tanto grampear um suspeito, acaba traindo a pol\u00edcia pol\u00edtica para a\u00a0qual trabalha. Ou do terrorista de\u00a0Convidados da Na\u00e7\u00e3o<\/a><\/em>, ao ter de executar os\u00a0ref\u00e9ns de quem ficou amigo.<\/p>\n

Em Rogue One<\/em>, apenas Galen e Bodhi\u00a0passam por essa metamorfose. Mas o Imp\u00e9rio, j\u00e1 sabemos, \u00e9 o \u201clado\u201d dos malvados. E virar a casaca contra os malvados \u00e9 o que \u00e9 esperado dos bonzinhos.<\/p>\n

N\u00e3o h\u00e1 nada de \u201ccomplexo\u201d em sua defec\u00e7\u00e3o. \u00c9 uma cena que j\u00e1 vimos com Finn em O Despertar da For\u00e7a\u00a0<\/em>e melhor ainda com\u00a0Darth Vader em O Retorno de Jedi. \u00a0<\/em><\/p>\n

\"spirits1983.jpg\"<\/p>\n

O problema\u00a0\u00e9 que, ao misturar esses dois mundos, o resultado nem sempre \u00e9 harmonioso.<\/p>\n

‘Cinza’ n\u00e3o \u00e9 sin\u00f4nimo de adulto<\/h3>\n

Em Rogue One<\/em>, na cena do\u00a0tiroteio em Jedha, vemos uma crian\u00e7a asi\u00e1tica chorando no meio dos lasers. \u00c9 dif\u00edcil ver a cena sem pensar em Phan Thi Kim Phuc<\/a>, a sul-vietnamita queimada por napalm cuja foto mudou o mundo:<\/p>\n

\"150512085932-31-seventies-timeline-0512-restricted-super-169.jpg\"<\/p>\n

\u00c9 uma imagem fort\u00edssima, que nos entender que guerras\u00a0n\u00e3o s\u00e3o\u00a0lutas entre clones e dr\u00f3ides bobalh\u00f5es. N\u00e3o \u00e9 \u00e0 toa que fotos de crian\u00e7as sempre s\u00e3o usadas (e abusadas) em mensagens pacifistas.<\/p>\n

\"large_bwVhmPpydv8P7mWfrmL3XVw0MV5<\/p>\n

\u00c9 tamb\u00e9m uma diferen\u00e7a gritante em rela\u00e7\u00e3o ao que est\u00e1vamos acostumados, nos long\u00ednquos tempos de George Lucas.<\/p>\n

Star Wars <\/em>nunca escondeu que a inspira\u00e7\u00e3o de seus vil\u00f5es foram os nazistas. O pr\u00f3prio termo stormtrooper (sto\u00dftruppen)\u00a0<\/i>\u00a0<\/em>veio do apelido das tropas de elite alem\u00e3s<\/a>. O capacete de Darth Vader \u00e9 inspirado no stahlhelm<\/em>, usado por elas desde 1916.<\/p>\n

\"GasMask7.jpg\"

Stormtroopers com m\u00e1scaras de g\u00e1s. Primeira Guerra Mundial.<\/p><\/div>\n

Rogue One <\/em>\u00a0parece ter buscado refer\u00eancias mais \u201ccinzas\u201d para sua guerra. O problema \u00e9 se esqueceu do porqu\u00ea <\/strong>essas imagens s\u00e3o consideradas \u201ccinzas.\u201d<\/p>\n

Phan Thi Kim Phuc (processe isso!) foi bombardeada pelo seu pr\u00f3prio \u201clado\u201d. <\/strong>O objetivo da sua foto – e de tantas outras fotos de crian\u00e7as em guerra – n\u00e3o foi pregar que dever\u00edamos lutar com mais afinco. Pelo contr\u00e1rio, foi mostrar que a cruzada dos \u201cbonzinhos\u201d (Vietn\u00e3 do Sul e Estados Unidos) estava causando mais mal do que bem.<\/p>\n

No formato, Rogue One\u00a0<\/em>emprestou de\u00a0hist\u00f3rias cuja proposta era nos fazer repensar a guerra. No conte\u00fado, por\u00e9m, ele as\u00a0colocou a servi\u00e7o de uma mensagem oposta, celebrando\u00a0a mesma luta do “bem” versus “mal” com que vibramos em\u00a0Uma Nova Esperan\u00e7a.<\/em><\/p>\n

Os cr\u00edticos est\u00e3o cert\u00edssimos ao dizer que o longa trouxe a “guerra” a\u00a0Guerra nas Estrelas.<\/em><\/a>\u00a0S\u00f3 n\u00e3o qualquer “guerra”. Como bem apontou a\u00a0revista Time<\/a>, \u00e9 a guerra de\u00a0Labaredas do Inferno<\/a>\u00a0<\/em>e\u00a0Canh\u00f5es de Navarone<\/a>,\u00a0<\/em>filmes heroicos e patri\u00f3ticos que celebram a “guerra justa”.<\/p>\n

\"MV5BMDIyNDA3NGMtNWFmMi00NDRlLWEzMTEtOGIxMDZhZmRmYjJlXkEyXkFqcGdeQXVyNjUwNzk3NDc@._V1_.jpg\"<\/p>\n

Obviamente,\u00a0\u00e9\u00a0<\/strong>injusto esperar\u00a0diferente de Rogue One.\u00a0<\/em><\/p>\n

O longa de Gareth Edwards pode mirar um p\u00fablico adulto, mas ainda \u00e9 um filme da Disney. Esperar um festival de v\u00edsceras como\u00a0At\u00e9 o \u00daltimo Homem<\/a>\u00a0<\/em>\u00e9 n\u00e3o entender a proposta do est\u00fadio – nem\u00a0do pr\u00f3prio universo\u00a0Star Wars<\/em>.<\/p>\n

No entanto, tamb\u00e9m n\u00e3o consigo afastar a impress\u00e3o de que h\u00e1 algo a mais por tr\u00e1s disso.<\/p>\n

E se a esperan\u00e7a que fechou Rogue One\u00a0<\/em>for n\u00e3o apenas uma exig\u00eancia editorial, mas um reflexo dos nossos tempos? \u00a0<\/strong>E se \u00a0o preto-no-branco que\u00a0Rogue One\u00a0<\/em>tenta esconder estiver l\u00e1 de prop\u00f3sito, para atender a uma demanda<\/strong> por\u00a0uma moralidade adulta, mas tamb\u00e9m\u00a0simples e justa<\/strong>?<\/strong><\/p>\n

Para responder isso, \u00e9 preciso\u00a0nos lembrarmos\u00a0de quando o universo\u00a0Star Wars\u00a0<\/em>seguiu caminhos\u00a0bem diferentes.<\/strong><\/p>\n

 <\/p>\n

Knights of the Old Republic: The Sith Lords<\/strong><\/h3>\n

\"pic\"<\/p>\n

Ao leitor contrariado: n\u00e3o me odeie, n\u00e3o \u00e9 o que parece. Prometo que n\u00e3o sou daqueles que coloca tudo do\u00a0velho Universo Expandido num pedestal.<\/p>\n

Por\u00e9m, \u00e9\u00a0ineg\u00e1vel que o game KotOR 2: The Sith Lords<\/em>\u00a0tamb\u00e9m trouxe moralidade cinza ao universo\u00a0Star Wars –<\/em>\u00a0s\u00f3 que\u00a0<\/em>de uma maneira\u00a0bastante distinta. Com a\u00a0Velha Rep\u00fablica voltando ao c\u00e2none<\/a>\u00a0e\u00a0easter eggs\u00a0<\/a><\/em>aos jogos<\/a> em tomadas de\u00a0Rogue One,\u00a0<\/em>\u00e9 interessante\u00a0ver o que isso nos diz sobre\u00a0a saga.<\/p>\n

Knights of the Old Republic 2\u00a0<\/em>se passa milhares de anos antes da Guerra Civil Gal\u00e1tica, quando a Rep\u00fablica est\u00e1 se recuperando de uma terr\u00edvel guerra contra os mandalorianos.<\/p>\n

O conselho Jedi se recusou a tomar parte na guerra. Dois cavaleiros, Revan e Malak, se recusaram a obedecer a ordem e lideraram \u00e0 guerra um grupo de volunt\u00e1rios.<\/p>\n

\"Birth_Darth_Revan_Darth_Malak.jpg\"<\/p>\n

No entanto, bastou\u00a0os mandaloriano serem\u00a0derrotados para que eles pr\u00f3prios sucumbissem ao lado negro. E invadissem a Rep\u00fablica em uma guerra ainda pior.<\/p>\n

KotOR 2\u00a0<\/em>se passa ap\u00f3s o final desses conflitos. A gal\u00e1xia se encontra em peda\u00e7os. Os Jedi foram quase todos mortos, e os poucos que sobreviveram andam escondidos, protegendo-se do\u00a0restante dos Sith.<\/p>\n

O game acompanha uma Jedi exilada que retorna aos planetas centrais. Entre conspira\u00e7\u00f5es, lutas de sabre e batalhas espaciais, sua hist\u00f3ria \u00e9 uma reflex\u00e3o sobre um dos maiores dilemas que a Ordem j\u00e1 se perguntou:<\/p>\n

A culpa \u00e9 dos Sith? Ou fomos n\u00f3s que erramos<\/strong>?<\/p>\n

Se todos esses Sith foram treinados por n\u00f3s,\u00a0ser\u00e1 que o problema n\u00e3o estaria na pr\u00f3pria Ordem? Ao for\u00e7ar seus cavaleiros a abrir m\u00e3o do amor, sentimentos fortes e outros impulsos humanos, n\u00e3o estaria ela\u00a0incentivando seus membros a\u00a0migrar para o lado negro?<\/strong><\/p>\n

Se os ensinamentos Jedi n\u00e3o contemplam essas falhas, n\u00e3o seria ele o grande culpado? Pode o “jeda\u00edsmo ut\u00f3pico” se eximir das atrocidades que o “jeda\u00edsmo real” cometeu?<\/p>\n

KotOR 2<\/em> \u00e9 muito mais um jogo autoral da\u00a0Obsidian do que um game\u00a0Star Wars.\u00a0<\/em>Em retrospecto, \u00e9 poss\u00edvel ver o germe do que viria a ser\u00a0Fallout: New Vegas<\/em>,\u00a0Pillars of Eternity\u00a0<\/em>e o excelente\u00a0Tyranny<\/a>.\u00a0<\/em>Uma discuss\u00e3o franca sobre a complexidade do mundo – e dos limites das nossas bitolas de “bem” e “mal”.<\/p>\n

\u00c9 at\u00e9 curioso\u00a0que desenvolvedores com essas opini\u00f5es fossem se interessar por uma lore<\/em>\u00a0t\u00e3o manique\u00edsta como a do universo Star Wars<\/em>. E compreens\u00edvel por que\u00a0colocaram nas bocas de uma personagem, Zez Kai-Ell, uma pergunta espinhosa n\u00e3o s\u00f3 para os Jedi, mas para todos n\u00f3s:<\/p>\n

\n

Do fracasso dos mestres, do nosso fracasso em trainar Jedi corretamente veio o desastre. E eu comecei a pensar se o erro, no final das contas, n\u00e3o estava nos pr\u00f3prios ensinamentos Jedi. (…) Entre tudo o que realizamos para preservar a gal\u00e1xia, de tamanha arrog\u00e2ncia de achar que tudo o que fazemos \u00e9 justo e bom<\/strong>, eu me pergunto se n\u00e3o existe um contra-efeito que volta para nos atingir. (…)<\/p>\n

Nem uma m\u00edsera vez eu ouvi algu\u00e9m do Conselho se responsabilizar por Revan, por Exar Kun, por Ulic, por Malak… ou por voc\u00ea. Talvez haja alguma coisa errada em n\u00f3s mesmos, em nossos ensinamentos. E, por mais que eu tentasse, n\u00e3o conseguia me livrar desse pensamento. Por isto abandonei o Conselho.<\/p>\n<\/blockquote>\n

KotOR 2<\/em> n\u00e3o questiona nossos m\u00e9todos<\/strong>, mas nossas inten\u00e7\u00f5es<\/strong>. O game nos lembra que nem sempre estamos certos \u2013 e que as causas que defendemos, muitas vezes, podem ser a verdadeira raiz do mal.<\/p>\n

\"teutonic<\/p>\n

\u00c9 um ponto que Rogue One<\/em>, por mais sombrio que seja seu clima, passa longe de abordar.<\/p>\n

Saw Gerrera \u00e9 um terrorista torturador. Cassian Andor, um assassino de sangue frio. No entanto, n\u00e3o h\u00e1 a menor quest\u00e3o que pessoas como eles s\u00e3o prefer\u00edveis a um Imp\u00e9rio que destr\u00f3i cidades com a casualidade de quem espreme uma espinha.<\/p>\n

\"maybe-jedha-doesnt-completely-go-boom.gif\"<\/p>\n

Rogue One <\/em>\u00e9 um filme adulto, sem d\u00favida. Por\u00e9m, atr\u00e1s da fotografia pesada, sua moralidade continua t\u00e3o dicot\u00f4mica quanto a f\u00e1bula que o inspirou. Como bem disse um cr\u00edtico<\/a>, a Alian\u00e7a se tornou cinza, mas o imp\u00e9rio continua negro.<\/p>\n

O que isso nos diz sobre n\u00f3s mesmos?<\/h3>\n

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Numa entrevista sobre Rogue One<\/em><\/a>, seu diretor Gareth Edwards fez o seguinte coment\u00e1rio:<\/p>\n

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Quando eles fizeram Star Wars <\/em>nos anos 1970, o mundo talvez se sentisse um pouco mais simples: aqueles s\u00e3o os malvados, n\u00f3s somos os bonzinhos. Hoje \u2013 com a internet e a conex\u00e3o global \u2013 n\u00f3s sabemos l\u00e1 no fundo que n\u00e3o \u00e9 t\u00e3o simples assim. Antigamente, quando voc\u00ea vencia, voc\u00ea acabava com o malvado. Isto nunca vai levar a paz nenhuma. Eu acho que n\u00f3s s\u00f3 vamos conseguir acabar com a guerra quando entendermos um ao outro e tivermos empatia.<\/p>\n<\/blockquote>\n

Belas palavras, mas Edwards n\u00e3o parece ter combinado com o resto da equipe. Pouco antes do filme ser lan\u00e7ado, os roteiristas Chris Weitz e Gary Whitta causaram no Twitter<\/a> ao anunciar o filme como um ato de resist\u00eancia contra a candidatura Trump.<\/p>\n

A pol\u00eamica foi t\u00e3o grande que levou o CEO da Disney<\/a>, Bob Iger, a se manifestar publicamente dizendo que o filme \u00e9 completamente apol\u00edtico<\/strong>.<\/p>\n

N\u00e3o h\u00e1 a menor d\u00favida de que Weitz e Whitta acreditam\u00a0que representam o “bem” e que o inimigo contra o qual lutam \u00e9 o “mal”. Na sua “luta justa”, \u00e9 muito mais prov\u00e1vel que assumam a certeza de Jyn Erso do que o pessimismo de Zez Kai-Ell.<\/p>\n

E n\u00e3o s\u00f3 eles. Com mensagens vagas como “rebeli\u00f5es s\u00e3o feitas de esperan\u00e7a”, \u00e9 dif\u00edcil n\u00e3o simpatizar – em algum n\u00edvel – com a guerra moral que a Alian\u00e7a trava. Todos n\u00f3s somos rebeldes contra alguma coisa e precisamos de esperan\u00e7a para ir em frente.<\/p>\n

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Rogue One, <\/em>diz o Charles do Cosmo Nerd<\/a>, carrega uma mensagem. \u201cN\u00e3o importa qual princ\u00edpio guie seus passos, \u00e9 preciso acreditar que voc\u00ea est\u00e1 no caminho certo.\u201d N\u00e3o podia estar mais certo.<\/p>\n

Mas e se esse \u201cprinc\u00edpio\u201d que nos guia for, por exemplo, a manuten\u00e7\u00e3o da escravid\u00e3o<\/a>? A repress\u00e3o colonial<\/a>? O apoio a um governo tirano?<\/p>\n

E se o \u201ccaminho\u201d que achamos certo se provar um fracasso? E se nossa cruzada causar mais danos do que o mal contra o qual lutamos?<\/p>\n

\u00c9 o dilema que assombrou os confederados<\/a> ap\u00f3s a Guerra Civil Americana, os italianos ap\u00f3s a Primeira Guerra Mundial, os franceses na Guerra da Arg\u00e9lia e os americanos no Vietn\u00e3.<\/p>\n

\u00c9 o dilema que Star Wars<\/em>, lan\u00e7ado dois anos depois da queda de Saigon<\/a>, quis esconder ao inaugurar o cinema blockbuster<\/em>. E de que n\u00f3s, ap\u00f3s d\u00e9cadas de prosperidade, escapismo e alegria, nos esquecemos.<\/p>\n

Mas talvez seja para o melhor.<\/p>\n

Ao contr\u00e1rio do que Edwards acredita, os anos setenta passaram\u00a0bem longe de ser simples<\/strong>.\u00a0A Guerra Fria dividia o mundo, e suas consequ\u00eancias – o Vietn\u00e3, as ditaduras, a Crise dos Ref\u00e9ns do Ir\u00e3<\/a>, o poss\u00edvel holocausto nuclear – tiravam o sono de muita gente.<\/p>\n

Star Wars\u00a0<\/em>conquistou seu espa\u00e7o ao convidar essas pessoas para um outro mundo. Aterrorizadas em casa, elas ganharam um universo paralelo onde podiam sonhar, pensar e – sim – ver o bem derrotar o mal.<\/p>\n

Tal como fez a poesia desde a antiguidade e o ballet no s\u00e9culo XIX,\u00a0Star Wars\u00a0<\/em>trouxe ao s\u00e9culo XX “uma nova esperan\u00e7a”, na forma de uma fantasia otimista, ordenada e atemporal.<\/p>\n

N\u00e3o \u00e9 \u00e0 toa que sobrevive forte nos dias de hoje. E que, segundo alguns,\u00a0durar\u00e1 para sempre<\/a>.<\/p>\n

Perto disso tudo,\u00a0n\u00e3o d\u00e1 para negar: moralidade cinza \u00e9\u00a0overrated<\/em>.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Um bilh\u00e3o de d\u00f3lares. Essas s\u00e3o as cifras da bilheteria de\u00a0Rogue One,\u00a0stand-alone de\u00a0Star Wars\u00a0que chachoalhou os cinemas m\u00eas passado. Entre isso e o sucesso de p\u00fablico de\u00a0O Despertar da For\u00e7a, parece n\u00e3o haver d\u00favidas de que a aposta da Disney em comprar a Lucasfilm finalmente pagou.<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":14297,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"spay_email":"","jetpack_publicize_message":"","jetpack_is_tweetstorm":false},"categories":[580,20],"tags":[86,215,334,367],"jetpack_featured_media_url":"https:\/\/i1.wp.com\/www.finisgeekis.com\/wp-content\/uploads\/2017\/01\/rogue-one.jpg?fit=1688%2C1406&ssl=1","jetpack_publicize_connections":[],"jetpack_shortlink":"https:\/\/wp.me\/p9rUzW-3IA","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/14296"}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=14296"}],"version-history":[{"count":2,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/14296\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":21264,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/14296\/revisions\/21264"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media\/14297"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=14296"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=14296"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=14296"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}