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viagem – finisgeekis https://www.finisgeekis.com O universo geek para além do óbvio Sun, 24 Feb 2019 16:07:05 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=5.7.11 https://i2.wp.com/www.finisgeekis.com/wp-content/uploads/2019/02/cropped-logo_square.jpg?fit=32%2C32&ssl=1 viagem – finisgeekis https://www.finisgeekis.com 32 32 139639372 Uma aventura no Japão #6: os ninjas de verdade não eram como você imagina https://www.finisgeekis.com/2017/06/26/uma-aventura-no-japao-6-os-ninjas-de-verdade-nao-eram-como-voce-imagina/ https://www.finisgeekis.com/2017/06/26/uma-aventura-no-japao-6-os-ninjas-de-verdade-nao-eram-como-voce-imagina/#comments Mon, 26 Jun 2017 22:34:48 +0000 http://finisgeekis.com/?p=17223 Em toda viagem, há muito a se ganhar saindo das rotas mais óbvias. Em qualquer momento da vida, há ainda mais a se lucrar abandonando pré-concepções simplórias.

É isso o que me levou, nos meus dias de Japão, a explorar a obscura cidade de Iga.

Seu nome pode não ser tão conhecido como Nara, Ise ou Himeji, grandes sítios históricos no país. Mesmo assim, ela desempenhou um papel importantíssimo – e misterioso – no passado do Japão.

Iga é o berço do iga-ryu ninjutsu e sede da mais famosa escola de ninjas da Sengoku Jidai. É o lar de ninguém menos que Hattori Hanzo, guarda-costas do shogun Tokugawa Ieyasu, uma das figuras mais celebradas da história japonesa.

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Hanzo no Mon, mangá de Koike e Kojima sobre Hattori Hanzo

Como historiador, confesso que o passeio me deixava apreensivo. A “história” das artes marciais, tal como contada por seus praticantes, geralmente não passa de invencionices. Com um grupo tão romantizado como os ninjas, estava quase certo de que ouviria baboseiras.

A surpresa que eu tive, porém, não poderia ter sido melhor.

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Castelo de Ueno em Iga

Já aviso de início: Iga não é um passeio de estrangeiros. Em nossa viagem, Vivian e eu fomos os únicos ocidentais entre os turistas que encontramos.

O motivo se torna claro assim que se começa a viagem. Embora seja (relativamente) perto de Kyoto, Iga é uma cidadela perdida entre montanhas e terraços com arrozais. Para alcançá-la, é preciso tomar pelo menos dois trens locais.

A dificuldade faz sentido, se pensarmos nos antigos habitantes da cidade. Uma escola de ninja não seria lá tão boa – nem duraria tanto – se fosse de fácil acesso a qualquer um.

Mesmo assim, não é difícil encontrá-la. Assim que você chegar em uma das estações interioranas que levam à ela, é provável que se depare com trens como esse:

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Se o traço parece familiar, não é por acaso. Os trens foram pintados por ninguém menos que Leiji Matsumoto, homenageado por uma estátua de Tetsuro e Maetel, personagens de Galaxy Express 999, na estação da cidade.

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Os trens são apenas um aperitivo, uma das muitas graças que a cidade arranjou para celebrar seu passado. Até mesmo o guard rail na sua praça principal está decorado com shurikens.

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O apelo dos famosos assassinos é tão grande que influenciou até suas atrações mais “sérias”.

Entre os japoneses, Iga é conhecida por ser o berço de Matsuo Basho, o mais famoso autor de haicais do país. Hoje, mesmo ele anda ombro a ombro (literalmente) com os lendários espiões do passado.

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A pena e a shuriken

Contrário às minhas expectativas, o Museu Ninja traz uma imagem bastante realista (e surpreendente) dos míticos assassinos vestidos de preto.

Para começar, porque não eram, de fato, “assassinos”. Embora ninjas tenham sido contratados para assassinar pessoas, sua principal função era como batedores e sabotadores. Muitas de suas “armas” serviam, na verdade, outros propósitos.

As garras de ferro nas mãos? Usadas para escalar muralhas. As famosas kunais, que Naruto e afins tornaram famosas? Eram brocas para furar paredes, permitindo que o ninja espionasse na calada da noite.

Nem, tampouco, usavam preto. A imagem do guerreiro vestindo um pijama escuro é coisa da ficção. Os verdadeiros ninjas andavam disfarçados, geralmente de camponeses, o que permitia que carregassem certas armas improvisadas sem atrair suspeita.

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Kama, pequena foice usada como arma pelos ninjas

Talvez o maior “mito” que o museu desbanca, no entanto, é a ideia de que o “ninjutsu” foi uma grande arte marcial organizada, como o karatê ou o judô. Como a exibição deixa bem claro, ninjas eram uma gama de profissionais com as mais diversas especialidades.

Suas perícias iam desde técnicas budistas de meditação – para baixar a frequência cardíaca – ao manejo de pólvora. Não apenas bombas de fumaça ou flechas explosivas: ninjas foram um dos principais disseminadores das armas de fogo no Japão, tanto mosquetes quanto artilharia.

Sim, artilharia. Ninjas tinham menos a ver com o Jiraya do que com engenheiros de cerco. No acervo de Iga, há exemplos de bombardas – canhões de madeira que podiam ser facilmente construídos, levados nas costas e abandonados no caso de uma retirada.

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Museu Ninja de Iga. Note a bombarda no expositor esquerdo. Fonte

Se você cresceu assistindo a ninjas nos animes, talvez sinta que eu esteja destruindo sua infância. Iga, contudo, não passa essa impressão. Mesmo “mundanos”, os ninjas do mundo real são fascinantes a ponto de nos deixar boquiabertos.

Ao lado do museu, existe a “casa dos ninjas”, uma residência em que espiões se encontravam para suas missões.

Por fora, parece uma típica fazenda japonesa. Por dentro, possui portas falsas, rotas de fuga escondidas, compartimentos secretos para armas, acionados com toques especiais. Todo tipo de artifício para lidar com possíveis invasores.

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O tour é infelizmente apenas em japonês, mas os apetrechos dispensam explicação. É também o caso do show ninja,  a mais popular atração da cidade.

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Realizado por artistas marciais, é uma demonstração de vários tipos de armas ninjas, de flautas que atiram dardos a flechas sibilantes usadas para distrair exércitos.

Se estiver inspirado, há também a competição de arremesso de shuriken, em que você também pode experimentar a mais icônica arma japonesa depois da katana.

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De minha parte, dispensei o campeonato. De alguma forma, os ninjas “pés-no-chão” do museu, disfarçados de fazendeiros, usando kunais para abrir buracos me despertaram um fascínio maior que os guerreiros míticos da cultura pop.

Esses ninjas não eram mestres das sombras, e sim espiões, sabotadores, engenheiros de cerco.

Profissões que existiram em quase todas as culturas, mas que o Japão – para variar  -transformou em um ícone global.

Uma aventura no Japão volta na próxima segunda. Fique de olho!

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Uma aventura no Japão #5: o tofu e o sake que você nunca conheceu https://www.finisgeekis.com/2017/06/23/uma-aventura-no-japao-5-o-tofu-e-o-sake-que-voce-nunca-conheceu/ https://www.finisgeekis.com/2017/06/23/uma-aventura-no-japao-5-o-tofu-e-o-sake-que-voce-nunca-conheceu/#respond Fri, 23 Jun 2017 21:49:30 +0000 http://finisgeekis.com/?p=17167 Na minha última coluna, eu trouxe a vocês algumas das atrações mais badaladas (e zicadas) da antiga capital japonesa.

Espero que com isso eu não tenha passado a impressão errada. Kyoto é uma cidade como poucas outras no mundo. Com um pouquinho de esforço – e uma mente aberta – é possível sair do óbvio (e da sobriedade) com muito gosto.

Fushimi é conhecido pelo seu santuário, a atração mais batida – e absurdamente lotada – de todo o Japão. Porém, se você estiver disposto a olhar fora da caixa, verá que o distrito oferece uma senhora imersão em cultura japonesa.

O melhor jeito de começar a aventura é com um passeio de barco. Os jikkokubune são antigos transportes de sake que hoje transportam passageiros, navegando por vielas que parecem a Little Venice em Londres, ou os canais de Amsterdã.

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Digo aventura sem aspas: o passeio é completamente em japonês. Não espere encontrar muitos gaijin, mas também não se assuste. Um onegai shimasu ali e um arigatou gozaimasu acolá dão conta de muita coisa. E você não precisará de um guia para curtir o melhor que a viagem tem a oferecer.

Fushimi é famoso por ser o lugar onde Ryoma Sakamoto, um dos heróis da modernização japonesa, foi assassinado por capangas do shogun. Margeando seus canais, é possível ver uma estátua do ativista, assim como o ryokan Teradata, onde ele foi assassinado.

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Como os jikkokubune já sugerem, no entanto, a estrela do distrito é o sake. Fushimi é o lar de vários produtores do icônico vinho de arroz, incluindo a Gekkeikan, que hospeda um belo museu.

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Barris de sake no museu da Gekkeikan

Eu e a Vivian somos formados como sommeliers, então sempre fazemos questão de visitar fábricas de bebida mundo afora. Como é de praxe em outros museus, o da Gekkeikan oferece uma degustação de alguns sakes da marca ao fim da visita.

Sake não é uma bebida muito badalada no Brasil. Em parte, porque as marcas mais populares no comércio são bastante ruins. Em parte, também, porque entendê-la é uma tarefa incrivelmente complexa.

Mesmo para mim, acostumado a decorar terroirs da França, o líquido é um grande mistério. Não ajuda o fato dos rótulos serem escritos apenas em kanji – em muitos casos, a mão.

Como leigo, no entanto, posso dizer que gostei do que bebi. O Ginjoshu é um sake mais adocicado, enquanto que o Tama no Izumi Daiginjo é bem seco. O museu também serve “vinho” de ameixa, um fermentado japonês estupidamente doce que parece uma ume (ameixa de onigiri) reimaginada como bebida de festa junina.

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Bebidas oferecidas na degustação. Fonte

Se você não bebe, outra boa maneira de sair do óbvio é procurar restaurantes especiais, fora do eixo turístico. E não falo do mercado de peixes, nem de franquias gigantes como o Sushi Zanmai.

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É o caso do Tousuiro, especializado no ingrediente mais subestimado da culinária japonesa: o tofu.

Não, não faça careta. Se você pensa no tofu como apenas aquele “queijo” gelatinoso feito de soja, é porque nunca o experimentou em seu país de origem.

O Tousuiro oferece vários menus degustação com séries de pratos cuja estrela é o dito cujo. São tofus preparados de todas as formas imagináveis: cru, cozido no vapor, em blocos rígidos, em pastas, fritos como polenta, grelhados e com todo o tipo de acompanhamento.

Se te parecer exótico demais, uma alternativa bem romântica (fica a dica, namorados) é a famosa culinária kaiseki.

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Kaiseki, originalmente, era uma pequena refeição preparada por monges budistas. Hoje em dia, virou o nome de menus-degustação que servem vários pequeninos pratos (em alguns casos, mais de quinze).

Esses restaurantes podem ser encontrados por todo o Japão, mas em Kyoto parecem brotar em toda parte. Reserve uma noite em um desses lugares e você terá uma noite na cidade para nunca mais esquecer: longe das hordas de turistas, servido por garçonetes de kimono e comendo uma das melhores comidas do Japão.

karyo kaiseki 2

karyo kaiseki

Só não se esqueça de reservar – o que, já aviso, não é tão fácil quanto parece. Restaurantes japoneses não costumam fazer reservas pela internet. Os mais tradicionais nem possuem site.

Para garantir um lugar, é preciso ligar – de um endereço japonês, ainda por cima! Isso significa que, muito embora alguns dos endereços sejam bastante procurados, não é sempre possível reservar com antecedência.

Mas não se preocupe: basta pedir para a recepcionista de seu hotel para que faça a reserva para vocês. Não tenha vergonha, elas estão acostumadas.

Os restaurantes kaiseki podem ser bastante salgados (com o perdão do trocadilho). Entretanto, lembre-se que o Japão possui uma excelente comida de rua. Pagando de 500¥ a 1000¥ por uma refeição ao longo da semana, é fácil economizar para um jantar super especial.

Acredite em mim, vale a pena. Aquele sashimi de baigai não reaparecerá na sua frente tão cedo.

Uma Aventura no Japão continua segunda feira. Fique de olho!

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Uma aventura no Japão #4: a Kyoto que os guias não mostram https://www.finisgeekis.com/2017/06/19/uma-aventura-no-japao-4-a-kyoto-que-os-guias-nao-mostram/ https://www.finisgeekis.com/2017/06/19/uma-aventura-no-japao-4-a-kyoto-que-os-guias-nao-mostram/#respond Mon, 19 Jun 2017 20:53:00 +0000 http://finisgeekis.com/?p=17088 Ah, Kyoto! Patrimônio da humanidade. Paris do Oriente!

Se você, como eu, é apaixonado pelo Japão, já teve ter ouvido que sua antiga capital é o lugar para se visitar. Se Tóquio é o templo da modernidade, Kyoto é a metrópole da tradição.

Isso tudo é verdade, mas não necessariamente da forma como você imagina. Ao visitar a cidade, percebi que ela é realmente a “Paris do Oriente” – para o bem e também para o mal.

A primeira impressão é a que fica. Para Kyoto, no entanto, isso pode ser problemático. Ao chegar na cidade, é muito provável que você se depare com uma cena como essa:

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Todo mundo sabe que o kimono é a roupa típica do Japão. Mesmo assim, é um traje cerimonial, usado apenas em ocasiões solenes, como casamentos ou festivais.

Não parece ser o caso em Kyoto. Na antiga capital nipônica, não é preciso sair da estação para ser soterrado por multidões inteiras desfilando seus obis.

Para um gaijin recém-saído de Tóquio, a impressão é que o Shinkansen é, na verdade, uma máquina do tempo. De uma metrópole histérica povoada por maids e homens de terno, chegamos a uma cidade que parece saída do Período Muromachi.

O problema é que tudo mentira.

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Kyoto possui centenas de lojas de aluguel de kimono. As hordas de homens e mulheres vestidos a caráter são na verdade turistas (na sua maioria chineses) que pagaram para viver um “dia de japonês”.

Essas lojas existem por todo o Japão, mas em nenhum lugar são tão numerosas quanto em Kyoto. Não é difícil entender por quê: os destinos turísticos mais famosos do Japão se encontram na antiga capital imperial.

Pense em uma imagem tradicional do “Japão”, e é muito provável que ela seja de Kyoto. É o caso do santuário de Fushimi, onde milhões de turistas (na sua maioria chineses) se amontoam para tirar fotos com a sanha de quem pega o metrô de São Paulo no horário de pico.

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Queria tirar foto só do torii? Boa sorte

Ou o célebre Kinkakuji, o Templo do Pavilhão Dourado, que estampa 9 de cada 10 guias turísticos sobre o país.

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Maravilhoso, né? Seria melhor ainda se fosse o original.

Sim, você leu corretamente. O prédio dourado que serve de para-raios a estrangeiros de kimono é uma cópia. O original foi completamente destruído em 1950 por um noviço piromaníaco.

O episódio foi tão chocante – e bizarro – que serviu de inspiração ao romance O Templo do Pavilhão Dourado do grande escritor Yukio Mishima.

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Kinkakuji após o incêndio de 1950

O novo Kinkakuji ainda assim é muito bonito, e serve de fundo para aquela sua foto linda com o kimono.

Ou, caso a grana esteja curta, você pode em vez disso visitar o Kinkakuji do Brasil, uma réplica idêntica do monumento construído em Itapecerica da Serra.

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Meu sarcasmo pode ter passado a impressão errada, então é melhor que eu diga de pronto: Kyoto é uma cidade espetacular, um dos lugares mais emocionantes que já conheci.

A impressão não é só minha, mas também de Henry L. Stimson, que assim como eu passou sua lua de mel na cidade.

Quem é esse sujeito, você me pergunta? Apenas o secretário de guerra dos EUA durante a Segunda Guerra, que fez o possível e o impossível para que Kyoto não virasse alvo da bomba atômica.

Sim, Kyoto é uma cidade tão maravilhosa que escapou de um apocalipse nuclear. Da próxima vez que seu amigo de exatas disser que museus não servem para nada, esse é o exemplo que você precisa dar.

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O homem que salvou Kyoto

Infelizmente, como toda cidade histórica, Kyoto é hoje vítima de seu próprio sucesso. A invasão de estrangeiros torna o centro histórico um caos, e dá incentivo a toda sorte de “armadilhas de turista” feita para te fazer gastar dinheiro.

Em Gion, o antigo bairro das gueixas, restaurantes cobram pequenas fortunas por comidas que não necessariamente são lá aquelas coisas. Isso sem falar nas gueixas em si, que sofrem assédio frequente nas ruas.

Tive o desprazer de testemunhar um episódio do tipo durante a minha viagem, e o mal-estar ainda não me abandonou. Uma maiko (aprendiz de gueixa) tentou atravessar a rua e foi prontamente emboscada por uma turba de turistas, enfiando flashes e câmeras de iPads em seu rosto como se ela fosse um animal exótico.

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Não foi na minha viagem, mas não é difícil achar fotos do tipo.  Sério, não seja esse turista

Felizmente, nem todas as “armadilhas de turista” são ruins. Se estiver pensando em pernoitar em Kyoto, fique de olho nos ryokans. São pousadas típicas japonesas com quartos de tatame, com futons nos aposentos e buffets típicos de café da manhã.

Já fiz um post sobre comidas bizarras semana passada, então não entrarei nesse mérito agora. Mas vou dizer apenas uma coisa: se você nunca comeu arroz com flocos de bonito na primeira refeição do dia, você ainda não sabe o que é acordar.

Ryokans são muito cobiçados – e, por causa disso, podem ser bem caros. A boa notícia é que a demanda levou a vários empreendedores a abrir “réplicas” de ryokans, com todas as características dos originais, mas localizados em prédios novos.

Leitores do blog sabem que não é minha proposta fazer propaganda, mas seria omissão da minha parte não recomendar o lugar onde fiquei. O Lucky You, perto da estação Gojo do metrô, é simplesmente um mimo.

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Lucky You em Kyoto, registrado por outro brasileiro.

Nada melhor para descansar depois de passar o dia sanduichado entre turistas chineses.

Nem todo turismo em Kyoto é farofa. Uma Aventura no Japão volta na sexta-feira, quando vou lhes contar o que fazer para sair da mesmice na cidade imperial.

 

 

 

 

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Uma aventura no Japão #2: os fantasmas de Yasukuni https://www.finisgeekis.com/2017/06/09/uma-aventura-no-japao-2-os-fantasmas-de-yasukuni/ https://www.finisgeekis.com/2017/06/09/uma-aventura-no-japao-2-os-fantasmas-de-yasukuni/#respond Fri, 09 Jun 2017 16:53:39 +0000 http://finisgeekis.com/?p=16835 Esse artigo é parte de uma série. Para ver os demais, clique aqui.

Alguns passeios são óbvios. Outros, nos fazem coçar a cabeça em desassossego.

No Japão, esse é o caso do santuário Yasukuni.

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Trata-se de um templo dedicado aos heróis militares que morreram em nome do Japão.

Até aí, nada demais. O problema é que, entre os “homenageados” estão 14 criminosos de guerra classe A, incluindo Hideki Tojo, primeiro ministro fascista que liderou o país durante a segunda guerra.

Para entender o quão chocante isso é, imagine um monumento aos heróis da Alemanha em Berlim, com Hitler e Himmler entre os imortais consagrados.

Yasukuni é uma polêmica a céu aberto, que virá e mexe azeda a relação do Japão com seus vizinhos. Cada visita que o santuário recebe de um primeiro ministro (e acredite, foram mais de uma) é um incidente diplomático.

As objeções vêm sobretudo de chineses e coreanos, que dizem que o monumento esconde as pavorosas atrocidades que os japoneses cometeram contra seus povos. É fácil  simpatizar: a China foi o país com o segundo maior número de mortos de toda a guerra, atrás apenas da União Soviética.

Não é exatamente um passeio good vibe, muito menos um ponto turístico no topo da lista de qualquer guia. Entretanto, como historiador, senti que era meu dever enxergar esse monumento com meus próprios olhos.

O que encontrei foi de arrepiar, mas também foi fascinante.

A primeira coisa que chama a atenção, ao chegar da estação Ichigaya do metrô, é seu tamanho. Yasukuni não é apenas um santuário, mas um complexo que inclui até mesmo um teatro noh.  Mesmo visitando num dia de chuva, seus portões são uma visão de peso.

Não mentiria se dissesse que foi o templo mais imponente com que cruzei no Japão. E olha que não foram poucos.

Mais importante (e  controverso) é o museu militar Yushukan, que faz parte do complexo. Sua coleção possui legendas em inglês, mas não se engane: você não verá muitos ocidentais no passeio. Ao explorar as galerias, não é difícil entender o porquê.

O museu possui uma exibição sobre os primórdios da guerra no Japão, da antiguidade até o período Edo (1603-1868). A maior parte da sua exposição, contudo, diz respeito à modernização do Japão – e sua escalada como potência global no século XX.

À primeira vista, há muito mesmo do que se orgulhar. Em 1900 afinal de contas, um outrora primitivo Japão marchava lado a lado com as potências ocidentais. Em 1905, tornou-se a primeira nação não-ocidental a derrotar um império europeu. Em 1941, sua marinha era uma das mais formidáveis e modernas do mundo.

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Planador suicida Ohka e dive-bomber Suisei, em exposição no museu Yushukan

O que a exposição não fala (mas deixa subentendido) é que a cruzada do Japão contra o “imperialismo ocidental” fora feita na tentativa de imitá-lo. E que sua visão de “prosperidade asiática” implicou em um dos regimes mais sanguinários da história da humanidade.

A invasão japonesa da China, que ocupa boa parte da exibição, é mascarada como uma série de “incidentes” entre tropas japoneses e insurgentes chineses – os últimos, obviamente, sempre os agressores.

Suas explicações vão do patético (ao dizer que o Chi Ha era um tanque de respeito) ao humilhante (ao implicar que os civis massacrados no Estupro de Nanquim eram soldados chineses disfarçados).

O museu reitera em quase todas as salas que o Japão sempre foi uma “nação de paz”. Seus painéis, contudo, celebram baixas americanas na Guerra do Pacífico, e seus corredores estão decorados com fotos de Wildcats abatidos por Zeros.

O custo humano da beligerância de Tojo mal é mencionado. Pelo contrário, fãs do ditador podem conferir uma bandeira autografada por ele e pelos demais réus do Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente, o equivalente japonês de Nuremberg.

Não, não estou brincando. Isso é sério, e faz parte da exposição. O museu não permite fotos da maior parte de seu acervo (por que será?), mas eu por sorte guardei o flyer:

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Repare que o museu diz “supostos” criminosos de guerra, sugerindo que o Tribunal Internacional não foi um julgamento legítimo.

Yasukuni é um monumento ao vitimismo. É a apologia a uma ditadura que arruinou a vida de seus cidadãos, que esteve tão certa de sua vitória que, 70 anos depois, ainda não consegue entender como perdeu.

Ao rondar pelos destroços de torpedos e aviões, confesso que fantasiei em vê-los tomando vida e se integrando à natureza, como os robôs de Laputa. O museu faz o pacifismo caricato de Miyazaki finalmente ganhar sentido, e mostra como a mensagem de seus filmes, às vezes criticada por ser programática, é obrigatória em seu país de origem.

laputa-castle_crop.jpgNesse sentido, é digno que a parte mais honesta e tocante da exposição seja justamente o lixo.

Capacetes, cantis e armas destruídas, espalhados às centenas. Um epitáfio aos milhões de japoneses mortos na selva em nome de um regime odioso.

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DSC_6390Tal como nos filmes de Miyazaki, o orgulho militarista foi ao Japão sua asa de Ícaro. E é ao pó, à ferrugem e a sujeira que esteve fadado a se estatelar.

the wind rises end

Uma aventura no Japão continua na próxima segunda. Fique de olho!

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Uma aventura no Japão #1: Tóquio pela primeira vez https://www.finisgeekis.com/2017/06/05/uma-aventura-no-japao-1-toquio-pela-primeira-vez/ https://www.finisgeekis.com/2017/06/05/uma-aventura-no-japao-1-toquio-pela-primeira-vez/#comments Mon, 05 Jun 2017 20:41:27 +0000 http://finisgeekis.com/?p=16690

O Finisgeekis está de volta!

Nas últimas semanas, eu e minha esposa, a Vivian, tivemos a oportunidade de realizar um grande sonho e conhecer de perto a Terra do Sol Nascente. Para dois otakus como nós, foi uma experiência como nenhuma outra.

Estamos cansados de saber que a mídia não é o melhor espelho da realidade. É fascinante, mesmo assim, notar como os pequenos detalhes são bem reproduzidos. Visitar o Japão como um otaku é um grande dejà vu: certas peças você já viu em animes, outras em livros – algumas em sonhos.

Se você também planeja algum dia contornar o globo para visitar os samurais, ou se é apenas fascinado em cultura nipônica, preparei um guia em 10 partes com o melhor, mais estranho e divertido do Japão.

Confira abaixo!

Tóquio pela primeira vez

Toda cidade é um mundo próprio. Tóquio, no entanto, parece ser um mini universo.

Não digo apenas pelo tamanho (com uma população metropolitana de 37 milhões de habitantes, é maior que São Paulo). Como disse a Vivian durante a viagem, se acordássemos em bairros diferentes da capital japonesa, não perceberíamos que estávamos numa mesma cidade.

Veja por exemplo Shinkuju, onde ficamos hospedados. O distrito é um labirinto de ruas estreitas e letreiros luminosos. É talvez a primeira imagem que nos vem à mente quando pensamos em “Tóquio”. Não à toa, aparece na abertura da série da Netflix Midnight Diner: Tokyo Stories.

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Andando pelas suas ruas, dá para entender porque Ridley Scott se inspirou em Tóquio para o cenário de seu Blade RunnerShinjuku é uma pequena Coruscant terráquea, com bancas de lamen, bordéis de maids e esquisitices japoneses escondidas em cada beco.

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Apenas um dia normal em Shinkuju

Vire uma esquina, porém, e dará de cara com um passeio arborizado. Não qualquer passeio: você está diante da prefeitura de Tóquio, uma das barreiras de X/1999 e cenário de Tsubasa Chronicles: Tokyo Revelations. 

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Isso, claro, é apenas um bairro. Basta atravessar uma ponte (ou melhor, outra barreira) e somos transportados, tal como um livro do Murakami, a uma realidade paralela.

Odaiba

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Odaiba é uma ilha artificial separada de Tóquio pela imponente Rainbow Bridge. Quem topar uma boa caminhada pode atravessá-la a pé, ao lado de um corredor ensandecido de caminhões de frente cromada. Se existir uma forma melhor de se sentir como Aomame, protagonista de 1Q84, eu não conheço.

Próxima ao mar e coroada por uma roda gigante, o distrito salta aos olhos na skyline da cidade – um refresco em meio aos prédios quadrados dos anos 1970 e torres de karaokê que dominam o resto da metrópole.

A ilhazinha é uma paraíso de fins de semana saído de um romance shoujo. Como fã de Cardcaptor Sakura, não pude deixar de notar como algumas das casas pareciam o apartamento de Shaoran:

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Odaiba, de fato, parece ter sido criada de propósito para servir de cenário ao episódio da date no parque de diversões. A ilha conta com jardins, shoppings, showrooms de automóveis e até sua própria praia.

Mais do que tudo – ao menos para o otaku que vos escreve – é um prato cheio para uma das mais inusitadas paixões japonesas: os gashapons.

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Essas máquinas de brinde, que nos dão miniaturas em troca de moedas, são típicas da cena otaku. O que faz a diferença, como tudo no Japão, é a escala.

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Nos parques de Odaiba, existem muitos gashapons. E por “muitos”, quero dizer muitos.

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E não apenas gashapons. Há galpões inteiros de máquinas de brinde, jogos de garra, clones de Guitar Hero com taikô e fliperamas rodando Luigi’s Mansion, Final Fantasy e Kantai Collection.

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A jogatina parece ser bem-querida aos japoneses, o que comprovamos pela popularidade desse tipo de estabelecimento. Fora Odaiba, confinados pelo espaço, eles brotam na vertical, andares atrás de andares.

Curiosamente, uma das redes mais famosas, a Game Taito Station, também apareceu na opening de Midnight Diner.

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Dia após dia em nossa viagem, testemunhamos vários funcionários de escritório, paletó e tudo, dirigindo-se em grupo a esses espaços na tentativa de faturar uma figure da Madoka.

Falando em figures, algo interessante que pude constatar é que uma boa parte das linhas que chegam ao Brasil (e pelas quais pagamos fortunas) são originalmente brindes de máquinas como essas.

Óbvio, a rotatividade é bem alta, e elas são eventualmente vendidas em lojas. Com raridade e especulação, algumas chegam a valer bastante.

Mesmo assim, é desolador pensar que, lá do outro lado do mundo, elas estão ao alcance de uma moedinha de 100 ienes… e alguma sorte no jogo da garra.

Oh, well. Pelo menos a Vivian pegou uma Sailor Jupiter.

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Torre de Tóquio

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Nenhum passeio otaku estaria completo sem o cartão postal máximo dos animes. Localizada em Minato, ao lado de Odaiba, tivemos a oportunidade perfeita para visitá-la.

Em si, a Torre de Tóquio é apenas uma cópia da Torre Eiffel com uma pintura vermelha de gosto questionável. No entanto, por ter sido o edifício mais alto do Japão (até a inauguração da Tokyo Sky Tree, em 2012), ela figurou em quase todos os animes ambientados na metrópole.

Esse é um legado que a Torre ostenta a todo momento, da bilheteria até suas exposições temporárias.

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Aos otakus mais inveterados, a Torre possui uma loja dedicada a esvaziar seu bolso, com todo tipo de merchandise das séries mais (e também menos) conhecidas.

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Alguns produtos, como baralhos de Joker Game, nos fazem pensar “por que ninguém fez isso antes”. Outras, como perfumes de Attack on Titan, são um pouco mais difíceis de entender.

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Infelizmente, a Torre de Tóquio ainda é uma cópia da Torre Eiffel – e, infelizmente, Minato não é o Campo de Marte. Assim, ao contrário do monumento parisiense, sua versão japonesa possui um impacto bem menor sobra a paisagem.

Isso não significa que você não deva visitá-la. Porém, se você quiser uma super vista da Torre, faça-se um favor e suba ao mirante do Roppongi Hills (六本木ヒルズ), um dos arranha-céus mais famosos de Tóquio.

De preferência de noite, quando mau tempo algum estragará o seu passeio.

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Não é bem o primeiro episódio de Sakura. Mas, vai lá, chega perto.

Uma aventura no Japão continua na próxima sexta. Fique de olho!

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