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Umibe na Onnanoko – finisgeekis https://www.finisgeekis.com O universo geek para além do óbvio Sat, 02 Mar 2019 19:35:49 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=5.7.11 https://i2.wp.com/www.finisgeekis.com/wp-content/uploads/2019/02/cropped-logo_square.jpg?fit=32%2C32&ssl=1 Umibe na Onnanoko – finisgeekis https://www.finisgeekis.com 32 32 139639372 ‘Kokosake’: o amargo alívio do escapismo https://www.finisgeekis.com/2016/04/19/kokosake-o-amargo-alivio-do-escapismo/ https://www.finisgeekis.com/2016/04/19/kokosake-o-amargo-alivio-do-escapismo/#comments Tue, 19 Apr 2016 16:17:26 +0000 http://finisgeekis.com/?p=4206

Uma garota vê o pai sair de um castelo ao lado de uma mulher. Ela transborda de alegria. O seu pai era um príncipe e estava escoltando uma donzela. Justo como ela suspeitava desde pequena!

Animada, resolve compartilhar as novas durante o jantar. Se ela não é capaz de juntar os pontos, sua mãe o faz com rapidez. O “castelo” em questão é um motel temático e a “donzela”, a amante de seu esposo. A mãe “sufoca” sua tagarelice com um ovo frito, expulsa o marido de casa e passa a se sustentar por conta própria.

kokosake dinner

Em um último ato de crueldade, o pai da garota lhe diz que a culpa é toda dela. E desaparece para nunca mais dar as caras.

Aflita, a garota é abordada por um ovo falante, mistura de Humpty Dumpty com o Gato de Botas. Ele lhe diz que suas palavras são ruins e provocam a tristeza nos outros. Para evitar que estrague mais vidas, ele a impediria de falar.

E, assim, a garota se torna muda.

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Dessa forma começa Kokoro ga Sakebitagatterunda, ou Kokosake, o muitíssimo esperado longa que chegou há pouco aos cinemas ocidentais. Lançado nos EUA como Anthem of the Heart, o frisson sobre o filme é justificado. Dos mesmos criadores de Ano Hana e ambientado na mesma cidade bucólica de Chichibu, o filme traz altos valores de produção à voga extremamente popular  do anime melodrama.

Se a sinopse não entrega de pronto, Kokosake não é um típico anime de fantasia. Longe da exuberância do Studio Ghibli que conquistou plateias mundo afora, o filme de Tatsuyuki Nagai e Mari Okada fala não do sobrenatural, mas da necessidade (muito mundana, reconheçamos) de escapar.

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Traumatizada pelo divórcio dos pais, a adolescente Jun passa a se convencer de que foi vítima de uma maldição. Sempre que usa a voz, sofre de dor e de ataques de pânico. Suas palavras, quando saem, são hesitantes, picotadas. Releitura trágica de certa personagem de Sayonara Zetsubou Sensei, ela depende do celular para interagir com o mundo.

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Tudo muda quando o coordenador da escola decide montar um musical e a nomeia como uma das responsáveis por sua organização. Jun, que mal é capaz de se comunicar, descobre que precisará cantar em público.

Para sua surpresa – e graças à insistência de um amigo – ela descobre que a música parece ser o “ponto cego” em sua maldição. Muda no dia a dia, ela se desprende no canto, com uma paixão (e afinação) que deixa seus colegas boquiabertos.

Jun decide usar o musical para contar a sua história. Ela escreve um libreto sobre o ovo falante na esperança de que o exercício, de alguma forma, a ajude a se libertar de sua praga.

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Em um enredo que se passaria por slice of life, fosse Kokosake uma minisérie do Noitamina, Jun e seus colegas embarcam em um projeto que mistura imaginação e realidade, conflitos pessoais e (claro) doses copiosas de lágrimas.

Como não podia deixar de ser, tendo em vista sua temática, o destaque é a trilha sonora. O musical de Jun traz uma compilação de clássicos do repertório, revitalizados com letras novas no estilo de Country Roads em Whisper of the Heart.

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A seleção fala por si só. Ela inclui, entre outras coisas, uma das mais singelas versões de Summertime de George Gershwin que já tive o prazer de ouvir.

Ao mesmo tempo, na linha do que há de melhor no anime melodrama, Kokosake preza pelas sutilezas. Por trás dos encontros e desencontros de colegiais em fim de semestre, temos uma garota dividida entre a realidade e a fantasia. Pior: uma fantasia que – reconheça ela ou não – foi criada para protegê-la.

Escapar é viver

O conflito de Jun é comum a todas as pessoas, e não é difícil entender por quê. Depois da respiração e do polegar opositor, o escapismo é talvez um dos ingredientes mais importantes da existência humana. Para alguns, é a pedra angular da cultura e parte daquilo que faz de nós animais racionais.

Graças ao escapismo, podemos mergulhar em uma obra de ficção, sonhar com mundos paralelos e amanhãs melhores. Graças a ele, podemos digerir e suportar realidades cruéis, seja um trabalho degradante, um provincialismo modorrento, uma guerra, o interior de uma cela ou mesmo um campo de concentração.

Em Kokosake, o conto de príncipes e ovos falantes de Jun pode parecer infantil, mas a protege da culpa de ter destruído o casamento dos pais. Diante de sua mãe solteira, lutando mês a mês para não entrar no vermelho, sujeitar-se a uma maldição é uma ideia menos dolorosa do que saber que suas vidas poderiam ser melhores se tivesse sido menos intrometida.

O problema, como provocava certa escritora, é que podemos escapar da realidade, mas não das consequências de se escapar da realidade. Fugir para a fantasia pode ser terapêutico, mas imaginação nenhuma é fértil o suficiente para nos salvar de uma enrascada ou de reverter um mal que tenhamos feito.

Ações têm consequências. Esse é um ponto fundamental da vida, dos nossos sistemas de moralidade e do próprio sentido de “crescer”.

Como um meio consagrado pelo seu foco na juventude – e acusado não raras vezes de vender o sonho da juventude eterna – não é uma surpresa que os animes já tenham refletido (e muito) sobre essa questão.

Chuunibyou

umibe no onnanoko taser

Poucas expressões capturaram esse “outro lado” do escapismo melhor que chuunibyou, um dos últimos de uma longa lista de nomes japoneses para problemas distintamente universais.

A palavra, uma contração de chuugakkou ni-nen byou (lit. “síndrome do segundo ano do ginásio”), diz respeito ao hábito de adolescentes de se considerarem “especiais” em relação aos outros. Nos casos mais brandos, trata-se apenas de vestir uma máscara blasé, não conformista, too cool for school. Nos exemplos mais escalafobéticos, eles podem chegar a inventar poderes mágicos ou identidades secretas (como um grande amigo meu de escola que dizia ter nascido em Netuno).

É com essa segunda definição que otakus devem estar acostumados, graças ao açucarado Chuunibyou Demo Koi ga Shitai! De fato, o anime se sagrou tão bem como ode a esse “mal” da juventude que passou a ser basicamente tudo o que nos vem quando pesquisamos a respeito.

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Há, porém, aqueles que tenham interpretado os delírios de chuunibyou de uma maneira bem mais séria. É revelador, neste sentido, que Inio Asano tenha dito que conhecer a gíria foi o que o inspirou a escrever Umibe no Onnanoko, seu polêmico mangá incluído na competição oficial do último Festival de Quadrinhos de Angôuleme.

A obra, sobre a qual já falei semanas atrás, não tem nada em comum com o escapismo colorido de Chuunibyou Demo Koi ga Shitai! Antes, é a história de um garoto deslocado lidando com a família ausente e com o suicídio do irmão mais velho.

Tal como Jun em Kokosake, ele se sente culpado pela situação da família (mesmo que não tenha, de um ponto de vista racional, culpa alguma). Se Jun “perde” a voz em uma maldição, Kosuke, o protagonista do conto de Asano, acredita que está amaldiçoado a morrer jovem. Para dar sentido a seus últimos dias, ele se entrega a uma rotina de sexo selvagem com uma garota que não ama e a brigas violentas com seus colegas de escola.

umibe no onnanoko fight

Asano, que não tem fama de segurar seus leitores pela mão (ele mesmo admitiu que Oyasumi Punpun foi escrito para fazer as pessoas se sentirem mal), nos mostra o outro lado da moeda. Esbanjando a sua “juventude difícil”, Kosuke não apenas não resolve seus problemas, como mergulha em traumas ainda maiores e chega perto de ser preso.

O escapismo juvenil é cruel, auto-destrutivo e pode acabar conosco se não nos livrarmos dele antes. Como já adivinhara John Milton, séculos atrás, a mente é seu próprio lugar e pode fazer um céu do inferno. Porém, com a mesma facilidade, ela faz um inferno do céu.

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Colocando tudo na balança, seria o alívio do escapismo valioso a ponto de justificar os riscos? Haveria sentido em se proteger do terrível mundo real se o preço a se pagar for a capacidade de viver na realidade – quando não nossa própria vida ou integridade física?

Para Asano, a resposta é sim. Em Umibe no Onnanoko, Kesuke certo dia encontra uma câmera com fotos de uma garota. Ele se apaixona de imediato e se convence de que seu destino na vida é encontrá-la.

Tempos mais tardes, depois de meses de violência e paixão tóxica, ele encontra uma menina idêntica, com o uniforme de um dos melhores colégios da região. Ele decide conhecê-la, custe o que custar. Muda o penteado, corta relações com sua companheira e volta a estudar para passar no vestibulinho. O escapismo de sua crush infantilóide faz o que o raciocínio frio não foi capaz: trazê-lo de volta à realidade.

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De Kokosake, não darei spoilers. Se o dom de sua recém-encontrada voz será a Jun tão catártico quanto o reencontro de Menma em Ano Hana, o espectador descobrirá por conta própria. Um ponto, no entanto, avanço desde já. Provando o seu valor ao cânone do melodrama japonês, Kokosake é uma jornada dolorosa(e encantadora)mente honesta.

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Inio Asano e a “voz” da nossa geração https://www.finisgeekis.com/2016/04/04/inio-asano-e-a-voz-da-nossa-geracao/ https://www.finisgeekis.com/2016/04/04/inio-asano-e-a-voz-da-nossa-geracao/#comments Mon, 04 Apr 2016 22:38:33 +0000 http://finisgeekis.com/?p=3731 Estaria a juventude sem rumo?

Essa é uma daquelas perguntas que custam a ficar velhas (com o perdão do trocadilho). Já faz mais de 25 anos que Mundo Fantasma sugeriu a mesma coisa. De lá para cá, não parecemos estar mais certos. Ou menos perdidos.

No universo do mangá, é difícil falar sobre essas questões sem pensar em Inio Asano, autor de alguns dos mangás mais impressionantes (e bizarros) de memória recente, que tem voltado aos holofotes nos últimos anos.

Nomeado para o prêmio Eisner em 2009, convidado para o Salão do Mangá de Barcelona em 2015 e incluído na seleção oficial do Festival de Quadrinhos de Angoûleme esse ano, Asano é uma das maiores estrelas da nova geração de mangakás.

Misturando ultra-realismo com a caricatura, o absurdo e o realismo fantástico, Asano encontrou um estilo inconfundivelmente seu. No espaço de alguns tankobons, ele consegue passar de um detalhismo digno de Makoto Shinkai

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às personagens propositalmente distorcidas do Satoshi Kon de Paranoia Agent e Tokyo Godfathers.

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A comparação com o mundo do anime não é à toa. Asano é conhecido pela vibe cinemática de seu trabalho, a ponto de incluir “trilhas sonoras” em suas páginas. Não por acaso, seu maior sucesso, Solanin, foi adaptado em um filme de banda em 2010.

Mais do que pela técnica, Asano é celebrado como uma “voz” da juventude atual. Seus quadrinhos foram elogiados por fugir dos estereótipos do mangá e mostrar a vida “nua e crua” dos jovens adultos, com tudo o que ela tem de absurdo, deprimente e patético.

Não por acaso, o jornal japonês Yomiuri Shimbum chamou seu universo de um “mundo descontente”. Suas personagens são indecisas, entediadas, sem coragem de abrir mão dos privilégios da juventude e com medo de mergulhar de cabeça nas obrigações adultas.

Qualquer um que faça faculdade ou a tenha terminado recentemente pode simpatizar com esses dramas. Um cliché que aprendemos na infância (e que alguns carregam por muito tempo) é o de que tudo se resolve se tivermos liberdade para fazer o que quisermos. Porém, quando esse dia finalmente chega, logo entendemos que liberdade total é sinônimo de tédio, e viver sem uma rotina é pior do que não viver.

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É um detalhe pequeno, mas que faz todo o sentido do mundo para quem depende dos pais, trabalha meio-período ou faz uma pós-graduação em dedicação exclusiva e tem metade do dia livre para olhar para o teto e se lembrar de que não tem mais 18 anos.

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Aí, talvez, esteja a razão de seu trabalho fazer tanto sucesso. E não parece uma coincidência que Asano tenha despontado justamente no Japão. Afinal de contas, em poucos lugares do mundo essa discussão aparece com mais frequência e de forma mais acalorada do que na Terra do Sol Nascente.

Jovens (in)felizes…

De fato, a ideia de que o Japão é uma terra de jovens infelizes é um lugar comum quase tão popular quanto o White Day e os natais no KFC.

Não é preciso ir muito longe para ler que a Terra do Sol Nascente é o país do suicídio, o lugar onde as pessoas são obrigadas a morar em gavetas e trabalhar até morrer. Mesmo os animes, supostamente um entretenimento escapista, estão cheios de jovens que fogem da escola, que se trancam dentro de casa ou que inventam calamidades para fugir da vida real.

O argumento é que os tempos andam tão difíceis, a esperança tão em baixa e as ofertas de trabalho tão insuportáveis que os adolescentes fazem de tudo para evitar a vida adulta – e os adultos, por sua vez, vendem a própria alma para poder voltar à adolescência. “Ter alma de 12 anos”, se antes um insulto, hoje é uma virtude que muitos ostentam com orgulho.

Não é à toa que Inio Asano foi chamado de uma “voz da nossa geração”. Solanin acompanha um grupo de jovens divididos em arranjar empregos meniais ou se dedicar ao sonho adolescente de montar uma banda. Subarashii Sekai nos mostra pessoas infelizes cuja vida é virada de ponta cabeça por algum feito absurdo. E sua obra-prima, Oyasumi Punpun, é a odisséia de um “garoto” que parece ter passado pelo child broiler de Mawaru Penguindrum:

punpun

O rabisco, não a garota

penguindrum child broiler

Levando tudo isso em consideração, parece evidente que Asano assina embaixo do que já sabemos. O mundo é insuportável. A vida contemporânea é vazia de perspectivas. Os sonhos de infância são ilusões. Quando crescemos, nós invariavelmente nos unimos ao “sistema”, em uma rotina cinza e entediante até o dia em que morrermos. Correto?

Não exatamente.

… de um País Desesperado

Quem dá a pista é o próprio Asano. Em seu mangá atual, Dead Dead Demon’s Dededededestruction (que título!), ele nos entrega o ouro de lambuja:

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Noritoshi Furuichi não é famoso no ocidente, mas se tornou uma sensação no seu país natal. Com apenas 25 anos (e sem nem mesmo terminar um doutorado em sociologia), ele publicou um livro que chacoalhou completamente o que todos pensavam sobre as novas gerações.

Ele diz que os jovens nunca estiveram tão felizes.

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Noritoshi Furuichi

Contrariando a sabedoria popular, ele cita pesquisas que apontam que 80% da juventude japonesa diz estar satisfeita com a vida. Entre estudantes de ensino médio, não menos de 90% se consideram felizes.

Furuichi não quer dizer que os problemas não existem, mas que as pessoas conseguem ser felizes a despeito disso. Há muitas opções baratas para quem deseja consumir. A internet (no Japão, uma das mais rápidas do mundo) permite que mesmo quem segue uma rotina cruel se divirta e interaja com o mundo. Se tudo falhar, resta o fato de que muitos jovens vivem com ou dependem dos pais, e podem sempre recorrer a eles caso tudo vá para as cucuias.

Essa geração sabe que seu conforto não vai durar para sempre, e que cedo ou tarde serão jogadas no mundo “real”. Para Furuichi, a solução que encontraram foi a de uma espécie de carpe diem. Em vez de se preocupar com os problemas do futuro, as pessoas preferem curtir o aqui e o agora.

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E pudera. Se nós precisássemos resumir a época em que vivemos em uma única palavra, poucas cairiam melhor que “incerteza”. Nossa profissão pode ser substituída antes de terminarmos a faculdade. Uma crise econômica pode nos levar do luxo ao lixo em menos de um ano. Os desandos da política deixam todos com medo. Não é raro, nas redes sociais, se deparar com desabafos de que “no futuro, os historiadores não saberão explicar o que aconteceu”.

O Japão não precisa importar problemas; já tem os seus próprios. A população fica cada vez mais velha, e os custos da previdência logo vão pesar de vez sobre os impostos. Com a competição com a China e os Tigres Asiáticos, a economia arrisca despencar. A rotina profissional é sofrida, e as condições de trabalho, desumanas. Desastres naturais são frequentes, e há sempre a Coreia do Norte para armar um sequestro se tudo falhar.

As novas gerações poderiam se preocupar com o futuro e passar as noites em claro em angústia. Ou podem simplesmente curtir a vida enquanto ainda podem, ler mangás e jogar Monster Hunter beliscando um pacote de Pocky.

É esse “mundo fantasma” que Inio Asano se tornou um expert em retratar.

Em Solanin, uma garota que vive com o namorado (mas que ainda recebe comida da mãe) prefere largar tudo e ajudar os amigos a montar uma banda. Curtir o verão desempregada e se arriscar trazendo o sonho à realidade é, para ela, melhor do que envelhecer em um escritório entediante.

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Dead Dead Demon, cuja protagonista aparece lendo o próprio livro de Furuichi, mostra esse carpe diem de forma ainda mais direta. Aqui, Tóquio se tornou literalmente o campo de batalha de uma guerra com alienígenas, e um grupo de colegiais prefere curtir a adolescência a se preocupar com picuinhas como bombardeios, balas perdidas ou o colapso da civilização.

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Umibe no Onnanoko, publicado em inglês como A Girl on the Shore, é um exemplo ainda mais visceral. Sua história acompanha um casal de adolescentes excluídos que decidem fazer sexo sem compromisso.

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O que para outros autores seria a deixa para uma comédia romântica ou um sonho molhado, nos pincéis de Asano vira o que de fato é: uma desgraça. Não há nenhuma felicidade em ver o outro apenas como um corpo para saciar nossos desejos. Sem amor, amizade ou pelo menos respeito, nos transformamos em meros pedaços de carne para nossos parceiros usufruírem.

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A “paixão” evervescente de Sato e Isobe (os protagonistas da HQ) não tem um pingo de prazer, realização pessoal ou desejo de se vangloriar. É apenas uma desculpa para não encararem o mundo real. Tal qual uma anestesia, é uma tentativa de se esconderem em sensações fortes para esquecer os problemas que vivem dia após dia.

Que o leitor fique avisado: é também um dos raros mangás não-hentai que não tem medo de incluir cenas de sexo explícito. Não é à toa que Asano teve seu trabalho reconhecido na França. Seus mangás podem ser estranhos, excessivos e chocantes, mas eles estão fartos da sinceridade  que há muito se tornou marca do que há de melhor no BD francês.

Perdidos ou encontrados?

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Se há algo que podemos dizer de Asano, é que nunca se contentou em seguir modas. O seu retrato da juventude não é nem um pouco diferente.

Se a imagem “tradicional” do jovem japonês é a de um sujeito torturado, preso nas bitolas da sociedade, o jovem de Asano é sarcástico, bem-humorado, patético. Mesmo nos seus momentos mais depressivos, seus mangás não abrem mão da ironia ou de alguma forma de leveza redentora.

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Se o “mal da nossa geração” é visto por outros como uma tragédia, para Asano é uma farsa. Talvez o fato de ter ele próprio vivido uma juventude conturbada, saltando de emprego a emprego, desprovido da certeza de que sua vocação vingaria, tenha feito a diferença.

Sobre a dor, a perda e a falta de propósito, o seu ponto de vista é irreverentemente jovem.

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