Nessa temporada, o Finisgeekis, Anime21, Dissidência Pop e É Só um Desenho discutem The Promised Neverland.
O primeiro arco de Neverland chega ao fim, e uma excelente história de fuga abre as portas para algo maior. Com um cour finalizado e uma segunda temporada no horizonte, teria o hit da Shounen Jump mostrado ao que veio na telas?
Confiram abaixo:
Fábio “Mexicano” Pensando retroativamente, parece óbvio que não tinha como acabar só com a fuga, não é? O mundo é completamente desconhecido, afinal. Mas fico satisfeito que tenha acabado com a fuga. A grande história é mais do que a fuga, mas essa temporada é, sim, “só uma fuga”. E terminou muito bem. Por óbvio que fosse o final, Neverland continuou surpreendendo nas pequenas coisas e mantendo a tensão alta durante o episódio inteiro. E o que foi aquela revelação no final sobre o Ray? As pistas (vagas, insuficientes) foram cuidadosamente colocadas ao longo do anime. Que bomba! Nosso melhor anime da temporada. Bom, Dororo ainda pode superar, mas ele não acaba nessa temporada, né?
Gato de Ulthar Foi um fim de temporada competente, gostei de ver como a Mamãe lidou com tudo isso, ou melhor dizendo, quais foram suas reações e sentimentos com a fuga. Ficou claro que ela aceitou a fuga e gostou do que aconteceu. Minha visão indica que no fundo ela queria testar as crianças, se elas seriam mesmo capazes de escapar daquilo, e por isso ela não podia facilitar nenhum segundo, já que lá fora também não teriam facilidades. Ela viu a Emma e o Ray realizarem o que ela não foi capaz na juventude. O que me chamou a atenção também, positivamente, foi que o menininho que ficou para trás fez parte do plano da Emma e do Norman. Lembram que nós especulamos se a Emma tentaria voltar para pegá-lo? Claro que o Vinicius sabia o que iria acontecer, mas ninguém mais sugeriu que fazia tudo parte do plano. Parabéns Neverland.
Diego Foi um ótimo final para um ótimo anime. Eu já esperava que de alguma forma a história teria de lidar com o mundo exterior. Não imagino um mangá da Shounen JUMP terminando numa nota tão negativa quanto as crianças escapando, mas o resto das fazendas seguindo numa boa. Totalmente espero um conflito contra os demônios no futuro, e o bom é que talvez nem tenhamos de esperar muito. Segunda temporada já foi anunciada para o ano que vem.
Vinicius Marino Tendo lido o mangá, foi interessante retornar a essa cena. Acho que a imagem da Isabella derrotada, torcendo pelo sucesso das crianças foi tão poderosa que seus esforços anteriores de capturá-las me pareceram até obstinados demais.
Diego Acho que eu nunca abandonei de vez a expectativa de que esse plano deles iria dar errado e a temporada encerraria com as crianças ainda dentro da fazenda. Nesse sentido, foi muito bom estar errado, já que resultou num final bem mais satisfatório.
Gato de Ulthar Eu também nunca cogitei seriamente que as crianças não conseguiriam escapar, e foi preferível assim, ficar só no orfanato por mais tempo poderia tornar tudo enfadonho. Eu só não esperava a grandiosidade do plano que a Emma e o Norman elaboraram, fui pego mesmo de surpresa.
Diego Meio difícil dizer sem saber o que vem pela frente. Mas é normal que mangás tenham arcos melhores e piores, pode ser o próximo não seja tão bom quanto este foi. Também é normal mangás mudarem um pouco de arco pra arco, e talvez o foco ou tom do próximo não tenha agradado tanto os que gostaram deste. Ou talvez o povo só esteja sendo chato mesmo e a história continue excelente daqui pra frente. Só o tempo vai dizer.
Gato de Ulthar Eu comecei a ver Neverland sem saber onde eu estava me metendo. Nem sabia direito sobre o que era o mangá, eu só li a sinopse mesmo, e aquela que aparece no My Anime List. E como não pretendo ler o mangá tão em breve, penso que continuarei a ficar no escuro. Mas algumas coisas são previsíveis. As crianças vão ter que lutar para sobreviver na floresta, eventualmente terão que confrontar algum monstro, etc…
Fábio “Mexicano” Eu tenho a minha expectativa e tenho a minha expectativa sobre a expectativa dos outros. Opiniões negativas viralizam mais fácil, e da mesma forma é fácil imaginar alguém ficando incomodado, irritado, talvez furioso mesmo, com a necessária mudança de gênero que Neverland deve ter após esse arco de fuga. Esse tipo de opinião gruda que nem óleo viscoso e prolifera. Não me espanta que tanta gente reclame, e pela mesma razão que não me espanta, não me assusto por causa disso. Quanto a minha expectativa, bem. Neverland quebrou as minhas expectativas episódio atrás de episódio, vocês me viram aqui, conforme até mais ou menos depois da metade da série isso ainda me incomodava, mas então eu encontrei a paz quando decidi apenas aceitar tudo o que o anime jogar em mim. Ele não me desapontou em nada. É uma história pra assistir sentado na ponta da cadeira, com os olhos bem abertos e segurando o fôlego.
Vinicius Marino De fato, a comparação com o óleo não poderia ser mais apropriada. É incrível observar o quão comum esse tipo de coisa é no universo dos animes. Pontos a mais se for a adaptação de uma light ou visual novel celebrada, e o chorume não for sequer relacionado à produção em questão.
Fábio “Mexicano” Com segunda temporada anunciada nem considero um “adeus”, é só uma pausa um pouco mais longa do que uma semana. Como estou sempre assistindo muitos animes, isso raramente me incomoda – seja por estar acostumado, seja por logo arranjar mais coisas para assistir até lá. Foi um bom anime. O melhor de sua temporada. Tecnicamente impecável, e com um roteiro que te faz prender a respiração. É o tipo de história que é melhor aproveitada de uma sentada só, porque a maioria dos episódios termina com cada cliffhanger que é de matar.
Gato de Ulthar Concordo com os demais, foi um bom anime sem sombra de dúvidas. E como todos, vou esperar ansiosamente pela segunda temporada.
Vinicius Marino Que ela chegue logo!
Nessa temporada, o Finisgeekis, Anime21, Dissidência Pop e É Só um Desenho discutem The Promised Neverland.
A conclusão de Neverland chega não com sussurro, mas com um estrondo. Às vésperas do episódio final, aproveitamos para discutir o que fez dessa série tão instigante – e onde ela pisou em falso.
Confiram:
Ante-penúltimo episódio. Acho que já podemos fazer um balanço, não?
Não é preciso ser um adivinho para saber que a trama de Neverland está se fechando. De uma maneira ou de outra, seu maior conflito (a tentativa de fuga de Grace Fields) está prestes a ser resolvido.
Tampouco é preciso de muito para notar que seu autor fez de tudo para tornar essa conclusão imprevisível. Episódio após episódio, cena após cena, até, acompanhamos um enredo que insiste em escorregar da nossa mão.
Com base em tudo o que tivemos agora – e tudo o que esse episódio trouxe- vocês acham que Neverland foi longe demais? Teria o anime cumprido seu objetivo bem demais?
Longe demais? A minha impressão é que a história mal começou.
Se fosse só a história da fuga daquelas crianças então sim, estaríamos perto do fim, mas antes sequer que elas tivessem qualquer chance a coisa cresceu de proporção de tal maneira que elas simplesmente fugirem (ou fracassarem) não passa de um prólogo. Quanto a cumprir o objetivo … não sei, qual é o objetivo de Neverland? Às vezes eu ficava com a impressão que seu autor quer fazer uma crítica à criação e consumo de carne, mas a história é muito complicada para justificar que fosse apenas proselitismo vegano. Então o objetivo é a história em si. Bom, mal começou, como eu disse, se a ideia é se estender indefinidamente, sem dúvida está no caminho certo. Se tiver se referido ao tom da trama ou gênero, hmm, é um thriller muito bom, suponho? Mas bastante frustrante para quem espera um mistério ou suspense – e parei de esperar por isso, juro! Como você mesmo disse no encerramento do Café anterior, “tão empenhada em se tornar imprevisível, acaba nos dando pouquíssimo material para especularmos”, e é isso mesmo. Não é problema nenhum se esse o autor não quiser mesmo que especulemos – ou seja, se não for mistério ou suspense. Os atos apresentam várias pistas e são emocionantes, mas nos entreatos pode acontecer literalmente qualquer coisa, até mesmo anulando quase tudo o que (em termos de mistério) se evoluiu até então.
Por “longe demais”, quis dizer exatamente isso. Não o percurso literal que a história tomou, mas as bananeiras que o autor vem plantando para tornar cada twist excitante.
E sim, Neverland não é arte de “mensagem”. (Graças a Deus, aliás! Quem aguentaria um shounen do PETA?)
Mas a morte da Krone evocou forte essa imagem, com as crianças comendo carne ao mesmo tempo em que ela era abatida Aliás, o próprio PETA percebeu a convergência de seus ideais e a mensagem acidental ou não de Neverland.
Quanto a esse tipo de “longe demais”, depende do que se espera da história. Depois de me frustrar mais de uma vez, e vocês aqui foram testemunhas de camarote disso, desisti de encarar Neverland como mistério ou suspense. Mas suponho que mesmo assim possa se tornar cansativo caso a história se estenda demais e o mundo continue crescendo sempre esmagando as esperanças de seus personagens – mas acho que isso ainda não aconteceu.
A cena simplesmente mostrou um paralelo entre a situação das crianças e da Krone. Em nenhum momento estendeu essa imagem a uma crítica ao consumo de carne ou uso de animais. Isto teria feito as próprias crianças “culpadas”, já que estão comendo bichos. Já parou para pensar de onde veio aquela salsicha? Pois é, aposto que o mangaká também não.
E o PETA “percebe a convergência” porque “perceber as convergências” é tudo o que essa seita secular é capaz de fazer. Eles têm uma produção cultural desprezível, um histórico de ativismo vergonhoso, uma causa que não inspira ninguém. E vivem de pedir “caronas”, atacando ou apropriando obras famosas, para se manter na mídia.
Concordo. É preciso uma leitura bastante rasa, do tipo que eles costumam fazer mesmo, por isso que, óbvio, eles enxergam essas convergências. Eu só acho que algumas cenas podem dar azo a esse tipo de interpretação, mas como já disse, não me parece ser a intenção do autor.
Eu vou ignorar todo o papo sobre a PETA (porque né) e só ir direto pra pergunta inicial do Vinicius sobre se o anime está indo longe demais. E isso porque a minha resposta é: olha… eu diria que ta bem perto disso. O anime já tem literalmente mais mistérios do que eu consigo me importar. O código nos livros, o que a Krone tinha descoberto que o Rey sabia, o que a Krone deixou para as crianças, e agora ainda temos o que quer que o Norman tenha visto naquela salinha brilhante. Está começando a me encodar esse empilhar de mistérios sem nunca responder nenhum, e mais um pouco eu nem vou conseguir lembrar de todos.
Fãs de animes adoram dizer que “o mangá é sempre melhor”. Eu sou da impopular minoria que acha que isto não é verdade. Pelo contrário, acredito que a linguagem visual tem um poder intrínseco que os quadrinhos custam a bater. Contudo, assistir Neverland com vocês, depois de ter lido o mangá sozinho, me fez entender que há um quesito, sim, em que mídias escritas podem levar o troféu.
O andamento.
Lendo Neverland um tankobon por vez, as tensões e resoluções do enredo se seguiam de uma forma tão rápida que formavam um ritmo próprio. Você aprendia a gostar daquela história alucinada, mesmo sabendo que não terminaria a história da mesma forma como a começara.
Muito embora o anime seja perfeitamente fiel ao seu material de origem, ter traduzido essa história a doses semanais de 25 minutos parece ter dado outra cara a sua trama. Reviravoltas menores (ex. a porta se abrindo) foram elevadas a grandes acontecimentos. E a simetria dos seus capítulos (ex. os flashbacks) acabam parecendo repetitivos.
Não quero dizer que o ‘formato TV’ seja necessariamente ruim. Mas não ornou muito esse tipo específico de história.
Não sei se gostei desse episódio, nem se não gostei, me pareceu sei lá, qualquer coisa. Como o Diego disse, é mistério sobre mistério, e sem grandes pistas e revelações fica difícil conjecturar. É um tanto torturante ter de simplesmente aguardar os fatos ocorrerem sem ter a mínima noção de como, onde e quando algo de relevante pode surgir.
O Norman não me parece que foi levado pelos monstros né? Essa foi minha impressão.
Eu estava irritado com o fato de ele ir lá morrer, mesmo que isso fosse plausível, essa reviravolta pelo menos dá mais pano para manga.
Não sei se é melhor ou pior do que o mangá porque não li o mangá.
Mas das poucas páginas que vi, acho a arte do anime mais bem acabada, e as sombras dão um tom muito mais sinistro à história também, no mangá parece ser tudo muito claro. Se o formato televisivo seriado não é “bom” para a história eu também não sei – pelo mesmo motivo, não conheço o original. Mas tendo a acreditar que sempre é possível adaptar, mas animes de mangás da Jump costumam adaptar bem pouco, optando por apenas transliterar a maior parte do enredo.
Seria um problema de adaptação, então, supondo que o ritmo fique melhor no mangá, e não um problema inerente da TV. De todo modo, desde que não se espere muito mistério (ou melhor, desde que não se espere ser capaz de acompanhar os mistérios), não acho que o anime esteja deixando a desejar.
Neverland quer nos dar esperanças e espatifá-las em seguida, e tem feito isso muito bem. Tão bem que talvez perca o efeito caso se prolongue demais, mas para um cour funciona bem.
Eu concordo, Fábio. A produção do anime está de parabéns Dentro dos parâmetros realistas, não consigo imaginar nada que gostaria de ver de outra maneira.
Mas já que você trouxe o assunto à tona, por que não falamos mais sobre isso? De tudo o que Neverland trouxe até agora, do que vocês mais gostaram?
É difícil escolher uma só coisa. Mas acho que vou com a atmosfera. Neverland merece os parabéns por conseguir manter sempre uma atmosfera de tensão. Tudo parece sempre a um passo de dar errado, e dar errado da pior forma possível para todos os envolvidos. Não é fácil manter esse clima sem a audiência começar a perceber que não tem nada ali.
Eu gostei da ambientação e do contexto no qual o enredo se desenvolve. Essa ideia de matadouro humano é bastante interessante, principalmente quando são crianças que não se dão conta disso as vítimas. Tenho que admitir que é bastante criativo.
Eu gostei de como no final das contas o Ray pensa parecido comigo, hahaha! Excelente décimo primeiro episódio, disparou quase todas as pistolas que o Chekhov deixou armadas =P Mas ainda falta pelo menos a mensagem oculta dos livros, e talvez mais alguma coisa que eu esteja deixando passar agora. Com o que Neverland pretende nos surpreender no final, hein?
Difícil saber, pois o episódio 11 já nos trouxe uma bomba tremenda.
Eu sabia que esse momento chegaria, mas confesso que fiquei surpreso com a maneira como essa conclusão foi dividida. É em momentos como esse que fazem falta aquelas finales longas de dois episódios comuns na TV americana. O que eu não daria para curtir essa fuga como um grande especial!
Seja como for, acredito que esse desenlace comprovou várias das impressões que discutimos aqui ao longo do anime. Em especial, a razão para Neverland ter aproveitado tão cautelosamente seu status quo.
Como dissemos, as coisas não podiam mudar muito pois, se mudassem, seria sem retorno. Um incêndio no refeitório, condenando de vez a Casa Grace Fields, atesta isso melhor que mil palavras.
E falo apenas por mim, mas achei que a tensão e a competência desse episódio mais do que compensaram pelo interlúdio um tanto vagaroso do arco da Krone.
O que vocês acham?
Olha, foi um episódio bem intenso. Eu realmente não esperava que houvesse todo esse plano secreto da Emma e do Norman para contar a situação para todas as crianças há bastante tempo. Me senti meio passado para trás, já que o anime não deu nenhuma pista disso. Mas foi legal de se ver, é gostoso ser pego de surpresa desta forma.
Só me pergunto uma coisa, era realmente necessário o Ray e a Emma terem cortado as orelhas fora? Eles ainda não possuíam aquele aparelho que desliga o rastreador? Na medida que fui escrevendo essa pergunta aqui me veio uma possibilidade, a Emma deve ter deixado o aparelho com o Don ou a Gilda, já que haveria a possibilidade dela não conseguir escapar com o Ray, então eles deveriam fugir sozinhos, e o aparelho era fundamental para usar nas crianças, não seria nada legal arrancar a orelha de todo mundo né?
E fiquei puto com aquele molequinho que ficou com a Mamãe, se bem era questão de tempo para ele aprontar alguma.
Agora capaz da Emma tentar voltar para salvar ele, nesse ponto espero que o pragmatismo do Ray funcione e tire dela essa possível ideia mortal.
Eles precisavam desativar todos os rastreadores ao mesmo tempo, em dois lugares simultâneos, e só tinham um aparelho. Acho isso bem resolvido.
E a Emma pode voltar. Ela é candidata a Mamãe, ela não vai necessariamente morrer. Seria um desenvolvimento … interessante. Quero dizer, se todos eles fugirem, o resto da história vai ser o quê? Será que acompanhar a Emma dentro do esquema não seria mais interessante?
E tem o Norman da questão, não me pareceu que ele foi enviado pro abate no episódio anterior.
Até porque me parece que Neverland deu vários sinais de que a Isabella pode ter sido parecida com a Emma. Até a Krone teve seus momentos. A essa altura a Isabella está definitivamente perdida, ela falar sobre salvar “pelo menos o cérebro” diz muito sobre quão longe ela já foi. Mas e a Emma? Irá conseguir evitar as armadilhas psicológicas que destruíram Krone e Isabella?
E sim, fiquei com essa impressão sobre o Norman também. Mas disso isso desde lá: não apareceu corpo, estou desconfiado. E agora descobrimos que ele ganhou chaves da Krone.
Estou tremendo de curiosidade aqui para pesquisar “adult Emma” no Google. Será que estou certo? Será que estou errado? Acho que isso quer dizer muito sobre Neverland.
Eu sei um fato sobre a Emma que me irritou por ser um spoiler descarado que fui exposto não-intencionalmente Deixo registrada minha raiva aqui!
No Facebook?
Sim, já faz um tempo.
Você não dá sorte com o Facebook. Enfim, a minha sorte é que quase não tenho acompanhado grupos de anime em redes sociais. Infelizmente mesmo os melhores deles têm gente tóxica.
Também já tomei spoiler, ainda que um diferente do que o Gato deve ter tomado. Facebook bem podia ter uma tag de “spoiler” que escondesse certas imagens. Pena. Mas voltando ao episódios, foi mesmo bem interessante, e diria até que bem satisfatório, ver tudo se encaixando. Desde mistérios que eu já nem lembrava que existiam, como a conversa da Emma com o Norman, até a situação da Emma e do Rey no episódio passado. E agora é saber o que diabos aquele garotinho está fazendo do lado da mamãe. Será que ele é mesmo (ou quer ser) o novo “Rey”?
Acredito que esse último mistério se deve, em parte, ao “corte” que o anime fez. Ao dividir a fuga em duas – e, especial, desse jeito específico – trouxe uma ambiguidade à aparição do Phil.
Agora, eu preciso dizer que estou entretido com as possibilidades que vocês levantaram. Que a Emma virasse uma Mamãe não foi uma hipótese que passou pela minha cabeça quando eu li esse capítulo pela primeira vez.
Mais o mais interessante foi o que o Fábio disse: se eles fugirem, e aí? É um problema clássico em histórias de fuga (fãs de Prison Break sabem do que estou falando). Uma vez que todos estejam do lado de fora, é preciso voltar para dentro… ou aprontar alguma maracutaia que mude drasticamente o foco da história.
Vocês realmente esperam que a Emma se una ao esquema? Ou acha que Neverland virará a mesa e mandará essas personagens aonde nenhum protagonista jamais foi?
Existe a hipótese também de que “fora da prisão, havia outra prisão”. Uma espécie de matrioska de prisões.
Mas pensando bem, acho que a hipótese nula seria eles fugirem mas a Emma decidir que vai acabar com o complexo e etc. Ela fez tanta questão de tirar cada alma viva de lá que não a imagino bem consigo mesma caso viva e cresça sabendo que aquela porcaria continua existindo. Mas se eles não conseguirem fugir … não sei. Ah, e os livros agora me irritam mais do que nunca. Uma pista que não deu em nada e está ardendo lá dentro.
Não deu em nada ainda. Me parece bem provável que a primeira ação das crianças depois de fugirem deveria ser procurar pelo autor daqueles livros. Quanto ao avançar da série na longa duração, eu imagino que Neverland só acabará mesmo com o fim desse sistema. Que nossos protagonistas consigam fugir é legal, mas sempre ficará aquela lembrança de que em outras fazendas ainda há crianças virando comida de demônios.
Não acho que ela vá se unir com a mamãe, e talvez se ela for será apenas com a intenção de se infiltrar.
E quanto aos livros, não imagino como a pista irá ajudar, como eles vão atrás do autor? Só se eles se esbarrarem sem querer por aí.
Como eles vão atrás do autor? Ah, Gato essa é a pergunta de um milhão de reais
Mas não vou dizer mais nada, com o risco de passar spoilers. E posto que amanhã teremos nosso grande finale, talvez seja melhor deixar as coisas por aqui, para dar tempo de preparamos a pipoca.
Até lá – e que a conclusão seja de fato bombástica!
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Nessa temporada, o Finisgeekis, Anime21, Dissidência Pop e É Só um Desenho discutem The Promised Neverland.
Com nove episódios sob o braço, Neverland se aproxima de seu desenlace mais crítico. Mas estaria esta fantasia de suspense entregando o que prometia?
Venha discutir com a gente:
O resto do episódio seguiu por linhas previsíveis. Tivemos o obrigatório flashback que humaniza nosso vilão antes dele sumir de cena (e que parece estar se tornando onipresente nos animes esses dias).
Lembra que eu lhes contei que o mangá trazia informações adicionais no diálogo da Krone com as crianças? Pois bem, elas apareceram todas nessa cena, convenientemente orquestradas com sua morte dolorosa.
O que imagino que vocês não imaginavam, no entanto, era isso:
E a revelação de que nosso esperto Norman, o terceiro pé do móvel, nas palavras inspiradíssimas do Fábio, está com os dias contados.
Ou estou enganado?
Gostei daquele cena curta onde deu para ver que a mamãe também tentou fugir quando criança. Me pergunto se tentarão converte a Emma em uma mamãe/irmã.
E concordo com o Diego, a humanização da Krone veio muito repentina logo antes de sua morte, o que cortou um pouco o seu efeito.
Mas isso foi só a cena final (e me incomodou bastante pelos motivos de sempre, mas não vou insistir nisso). O resto do episódio foi sim muito bom.
Teve a coisa da humanização da Krone em seu último suspiro que vocês apontaram, né, e isso é um problema supondo que seja, de fato, humanização. Não acho que dá para ter certeza que tenha sido isso. Mas não sei dizer também porque ela fez questão de puxar o tapete da Isabella se já havia sido designada à uma fazenda, a não ser que “Fazenda 4” seja algum código para “Você está morta”, o que não é de todo impossível dado que o número 4 e a morte têm uma associação forte em japonês. Se ela já sabia que estava condenada, faz sentido que quisesse jogar a merda no ventilador – e isso não é uma “humanização”, é só, como a própria tentativa vã dela de fugir do demônio, uma infeliz criatura se debatendo até a morte, por impossível que seja escapar.
Testemunhamos inclusive aquela boneca creepy de dar medo se transformar num símbolo da sua inocência perdida.
Acho que é isso que o Diego e o Gato quiseram dizer ao mencionar que ela foi humanizada.
Claro, o que nos leva ao ponto crucial. Esses flashbacks truncados, tão comuns em anime, banalizam a própria razão de existir do flashback.
Nós comentamos em um Café passado (não me lembro de qual anime) sobre como o passado só é importante numa história se influenciar o futuro de alguma maneira. Diretamente (ex: um inimigo que volta à ativa) ou indiretamente (um trauma que paralisa o herói). E como alguns animes se perdem em reminiscências desnecessárias, que nunca se encaixam na trama principal.
Eu sinto que esse “adeus” para a Krone foi justamente isso. Um obituário. Nós não precisávamos saber do seu passado, pois a essa altura do campeonato tudo aquilo era prescindível.
O que dá raiva é que bastaria inverter a ordem da exposição que tudo se resolvia. Como, aliás, fez o mangá. Ao entrarmos na mente da Krone durante sua artimanha para convencer as crianças, o flashback se transformava em uma potencial pista. Nós tínhamos um incentivo para guardar aquela informação, pois não sabíamos se a Krone continuaria ou não no pedaço.
Felizmente, nem todas as personagens estão com o destino traçado. Falo, é claro, nesse nosso amigo aqui:
Vocês já me disseram que não esperam uma grande baixa. Mas isso foi há alguns episódios.
O Norman parece estar com a corda no pescoço. Vocês acham que ele consegue escapar?
Poderia dar vários exemplos históricos, mas vou citar um de que vocês talvez se lembrem. Em 2012, centenas de funcionários chineses de uma fábrica da Microsoft ameaçaram um suicídio coletivo se suas condições de trabalho não melhorassem.
Esse episódio ganhou a mídia, mas está longe de ser o único. Pelo contrário. Os funcionários, submetidos a uma rotina de sweatshop, frequentemente decidiam tirar a vida.
Cheguei a cogitar que fosse rebelião contra a Isabella em si, mas se fosse o caso suponho que teríamos visto pista em seu flashback. Não tem nada, assisti de novo para me certificar. Duas hipóteses: ou ela descobriu que ia morrer na conversa que teve com a Isabella (ou tinha motivos muito fortes para suspeitar disso), ou foi pura ganância, sabendo que aquela fazenda é, nas palavras da Vovó, “especial”.
Tendo à primeira, por ser mais dramática E também por ela ter feito questão de dizer, no episódio passado, que uma vez feita a operação para se tornar uma Irmã, candidata a Mamãe, ela nunca mais pode sair do terreno da fazenda ou instalações anexas, e pelos seus últimos pensamentos, desejando que as crianças consigam escapar. Nessa hipótese, talvez ela estivesse desde sempre trabalhando de alguma forma para acabar com aquele sistema – daí a “humanização positiva” que mencionei.
E uma coisa que ficou mal explicada, desde o começo foi mostrado que a Krone conhecia a Isabella e que nutria uma rixa. Elas até podem não ter se encontrado antes, mas a Krone evidentemente invejava a Isabela, e pode ser por ela ser a queridinha da Vovó, o que ficou claro nesse episódio, já que ela apagou a Krone para botar panos quentes na conduta errônea da Isabella em relação às crianças.
No fim das contas a Krone queria tanto sobreviver que se meteu em uma grande enrascada.
Pergunta melhor: vocês acham que alguém escapa?
A não ser que o terreno seja muito menor do que o anime constantemente dá a entender. Nesse particular, faço a pequena concessão de que o mundo sempre parece maior do que realmente é para uma criança, então não podemos ter certeza das escalas apresentadas porque as estamos experimentando provavelmente do ponto de vista de seus protagonistas, que são crianças.
Em segundo lugar, não era uma ideia melhor quebrar um braço ou perna do próprio Norman? Ok, não era, porque se existe o risco de mandarem outro em seu lugar teriam que quebrar todos, e isso simplesmente é uma ideia bem ruim. A “fuga” permitiria que pelo menos um deles estivesse em plenas condições físicas – enquanto os outros dois conseguissem manter a saúde e nutrição dele fora da casa, claro.
Talvez o anime venha dizer no próximo episódio que ele fez isso, embora claramente o tempo não pareça ter sido possível, enfim.
Mas acho que há aqui um pouco da ambição do próprio Norman. Imagine que você é um menino prodígio, vivendo numa gaiola dourada. Você sabe que há um mundo externo. Você quer conhecer esse mundo. Se tivesse a oportunidade de dar uma espiada, um instante que fosse, você não a abraçaria?
E bom, informação é o de menos, eu quero é sobreviver em primeiro lugar Ele estava desesperado, foi um feito homérico para uma criança ele ter conseguido se controlar na frente dos outros.
Então, enquanto nós criamos gado para ser gordo e macio, eles criam crianças para serem CDFs. Achar isso estranho seria como achar estranho que um boi de alta qualidade tenha a carne bastante macia e com bastante gordura nos lugares certos.
Mas no caso do trio, Neverland vai além. Fica estabelecido que a fazenda 1, a deles, é especial. Dentre todas as crianças criadas para abate, eles já são top só por saírem de lá.
Mais ainda, o processo de criação tem vários filtros, e as crianças menos promissoras são abatidas antes da idade máxima. Eles chegaram a essa idade, portanto são top do top. E mais ainda, é dito especificamente sobre esses três que eles são uma safra de qualidade especialmente elevada. Emma, Norman e Ray são top do top do top. E isso implica que eles sejam muito, muito, muito inteligentes.
A minha imagem de criança inteligente demais para a idade é justamente de alguém socialmente retraído, o contrário deles, principalmente da Emma, mas não sei o suficiente sobre o assunto.
Aliás, nem me ocorreu perguntar isso antes, mas essa conversa trouxe a ideia à tona. Eu já entendi que vocês acham que ninguém morrerá. Mas vocês esperavam que alguma das personagens mudará? De personalidade, de princípios, talvez?
Bom, só nos resta vermos o que acontece lá na frente. Até lá!
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Nessa temporada, o Finisgeekis, Anime21, Dissidência Pop e É Só um Desenho discutem The Promised Neverland.
O mistério mais extrovertido de Neverland finalmente ganha o holofote que merecia. Infelizmente, a mansão Grace Fields esconde armadilhas que nem a irmã Krone é capaz de prever.
Confiram abaixo:
Mais do que nunca até agora, temos muita coisa para especular. Antes disso, porém, por que não me dizem suas impressões gerais?
(Contada ao sabor de dancinhas dignas de um NPC de Ocarina do Tempo. Afinal, por que não, né? )
Coreografias à parte, o que vocês tiram de tudo isso?
Então até a semana que vem!
Não é difícil entender por quê. A ideia de um mundo em que crianças são criadas para o abate é tenebrosa o suficiente para comover qualquer um.
Ou seria mesmo?
Obviamente, não me anima a ideia de que eu ou você, leitor, possamos terminar nossos dias em uma bandeja. E, embora meu peixetarianismo não seja ideológico, tampouco nego que os animais da indústria de alimentos muitas vezes são tratados de forma horrível.
Imagine, porém, que nessa distopia hipotética nós sejamos criados e abatidos com a máxima humanidade. E que o fim chegue não na infância, como em Promised Neverland, mas ao final dos nossos 20 anos.
Imagine, ainda, que não precisemos ficar confinados. Que possamos nos divertir, experimentar todos os prazeres da carne, viver a vida sem trabalhar. Fazer, enfim, tudo o que quiséssemos. Menos escapar do relógio.
Esse mundo seria assim tão ruim?
Pergunta errada: seria ele muito diferente da realidade que temos hoje? Labutando das 8h às 18h, acatando escolhas feitas por outras pessoas, à espera de uma morte que mais dia, menos dia, chegará de qualquer maneira?
Não seríamos todos nós uma espécie de “gado”, aguardando um “abate” de outra natureza?
Não se preocupe, leitor, eu não estou ficando louco (pelo menos, não ainda).
A metáfora é obviamente uma provocação. Por mais morosa que seja nossa vida, ela nunca se comparará ao pesadelo de Neverland.
Mesmo assim, o fato dessa provocação nos incomodar prova que ela traz um fundinho de verdade.
E Kaiu Shirai, escritor de Neverland, não foi o primeiro a perceber isto.
Fãs do mangá de Shirai talvez não saibam, mas essa reflexão já foi feita por outra pessoa. E o resultado foi um dos romances mais impactantes dos anos 2000.
Escrito por Kazuo Ishiguro (que, a despeito do nome, é mais britânico que o chá das cinco), Não me Abandone Jamais se tornou um best-seller e ajudou seu autor a faturar um Nobel da literatura.
Seu enredo acompanha Kathy, Tommy e Ruth, três crianças do colégio interno de Hailsham, no interior da Inglaterra. Narrado em primeira pessoa por uma das garotas, a trama parece, a princípio, uma história qualquer de amadurecimento.
Kathy e seus amigos estudam, descobrem sua sexualidade, fazem planos para o futuro. Até que as frestas em seu paraíso começam a aparecer.
A verdade chega com Miss Lucy, uma professora rebelde, ao escutar um aluno dizer que sonha em ser ator de Hollywood:
“Se ninguém mais for falar para vocês” ela continuou “falo eu. O problema, ao meu ver, é que eles contaram para vocês, mas não contaram para vocês. Eles contaram para vocês, mas nem um de vocês realmente entendeu, e, eu ouso dizer, algumas pessoas estão bem felizes em deixar as coisas desse jeito. Mas eu não vou. Para que vocês tenham vidas decentes vocês precisam saber e saber propriamente. Nenhum de vocês vai para os Estados Unidos, nenhum de vocês será uma estrela de cinema. E nenhum de vocês trabalhará em supermercados como eu ouvi alguns de vocês falando outro dia. Suas vidas foram decididas para vocês. Vocês se tornarão adultos, então, antes de envelhecerem, antes de chegarem à meia idade, vocês começarão a doar seus órgãos vitais. É para isso que cada um de vocês foi criado.”
Não me Abandone Jamais se passa em um futuro alternativo em que fazendas de clones foram estabelecidas para suprir órgãos de transplante. A medida provocou um avanço inconcebível na medicina, a troco de um tenebroso custo humano.
Nas palavras de Miss Emily, a diretora de Hailsham:
“Depois da guerra, no início dos anos cinquenta, quando as grandes descobertas da ciência seguiam uma à outra tão rapidamente, não houve tempo para refletir, para perguntar as questões delicadas. Subitamente existiam todas essas novas possibilidades à nossa frente, todas essas maneiras de curar tantas doenças que antes eram incuráveis. […] Mas, quando as pessoas começaram a se preocupar com os…estudantes, quando começaram a se preocupar com como vocês eram criados, se vocês deviam ou não existir, já era tarde demais. Como você pode pedir a um mundo que passou a tratar o câncer como curável, como você pode pedir a um mundo desses para se desfazer dessa cura, voltar para a idade das trevas?”
A genialidade de Ishiguro é que a verdade não nos aparece até as páginas finais. Esse não é um livro de ficção científica. É uma meditação sobre o livre arbítrio, a finitude da vida – e, em último caso, aquilo que nos faz humanos.
Os clones de Ishiguro passam suas infâncias nos colégios internos, protegidos do mundo exterior. Na adolescência, são remanejados a chalés, de onde podem sair e se divertir desde que retornem de noite.
Assim que se tornam adultos, seus órgãos começam a ser colhidos, uma cirurgia por vez. Clones ainda não operados servem de cuidadores para seus colegas, acompanhando-os durante suas horas finais.
Por motivos que não são explicados, nem as vítimas, nem a sociedade que as explora demonstra a menor revolta ou remorso. A distopia mexe seus pauzinhos com uma frieza hospitalar.
Não é difícil entender o porquê. Por trás das brumas da ficção especulativa, o romance de Ishiguro é uma alegoria contundente da nossa própria vida: da gaiola dourada dos anos de escola à liberdade da adolescência e, finalmente, à idade adulta, quando somos moídos pelas engrenagens do Sistema.
Não me Abandone Jamais é um livro emocionalmente devastador. Em grande parte, porque dá a todos entre nós a oportunidade de se reconhecer.
Em Kathy e seus amigos, ele traz a angústia de doentes terminais ao pesar suas pontas soltas contra o tempo que têm em vida.
Na terminologia asséptica de seu sistema, ele escancara a higiene desumana dos nossos sistemas de saúde, que tratam abortos como “subtrações” e mortes como “óbitos”.
Em Miss Lucy, o dilema de professores de escolas desfavorecidas, divididos entre mentir a seus alunos ou lhes contar que seus caminhos na vida estão traçados.
“Se você consegue andar por esse enredo sem tropeçar em paralelos com nossa própria sociedade e sistemas educacionais” bem disse Roger Ebert da sua adaptação cinematográfica “você tem o pé mais firme que o meu”.
Um escritor menos talentoso se daria por satisfeito em levantar essas questões. Não que elas não sejam importante em nossa época– e suas soluções, tão complicadas como o são no seu universo fictício.
É de fato crucial perguntar se nossa sociedade forma seres humanos e não apenas “peões sortudos” com vidas confortáveis, resignados a um destino que não escolheram.
Mas o destino, Ishiguro nos lembra, chega a todos, dentro e fora de Hailsham. E o fato de vivermos vinte ou oitenta anos não muda o fato de que nosso tempo na Terra é contado.
Se nos resta alguma coisa, é a coragem para lhe dar um sentido.
]]>Nessa temporada, o Finisgeekis, Anime21, Dissidência Pop e É Só um Desenho discutem The Promised Neverland.
Portas se abrindo, vira-casacas e revelações de última hora podem ser *red herrings*. Mas são justamente pistas falsas que fazem um bom enigma, e *Neverland* continua sem decepcionar. Confiram:
Achava que as coisas tinham ido longe demais com a revelação sobre o Ray? Imagina, agora temos um pouco de terror tradicional. Com dois cabeças-de-vento decidindo testar a sorte – e uma porta misteriosa mostrando que o karma é guiado à laser.
Acho que você curtiu isso, não foi, Fábio? Não abandonamos a onisciência narrativa (e nem vamos abandonar). Mas esse episódio nos colocou muito mais nos pés das crianças – com toda a paranoia que isto inspira.
E eu já imaginava que a Gilda e o Dan, principalmente o Dan, fossem fazer alguma merda, eles não são geniais como o Norman e cia.
Era só questão de tempo.
Confesso que não é fácil, eu sou quase geneticamente programado para reconhecer pistas e tentar antecipar resoluções, mas isso é simplesmente impossível em Neverland. E impossível, do ponto de vista da ficção de mistério, no mau sentido. É um mistério ruim porque me frustra a cada episódio com mais uma tonelada de informações que mudam tudo o que eu sabia antes.
É complicado, né? Mas como suspense funciona muito bem. Poderia até ser horror se quisesse ser (e a Jump permitisse). De preferência com menos falatório e mais portas se abrindo.
Surpresa é abrir um armário e encontrar um cadáver. Suspense é saber que há um cadáver num armário, mas não em qual deles.
Nesse sentido, Neverland é fundamentalmente uma história de surpresas, não de suspense.
E aqui pode ser juízo pessoal meu, mas não acho que histórias de surpresa precisa colocar todas as cartas na mesa. Os criadores de Breaking Bad e Better Call Saul já disseram várias vezes que não sabem como suas histórias acabarão – nas suas próprias palavras, eles “temem o futuro tanto quanto os fãs“.
Não estou encontrando a entrevista exata, mas lembro-me de ler lido certa vez que eles consideram isso um bônus para a história. Ao criar uma trama imprevisível até mesmo para eles, ela se tornava imprevisível aos espectadores também.
Não é um mistério no sentido tradicional porque como espectadores não podemos nem tentar nos antecipar, já que sabemos tão pouco e coisas novas surgem o tempo todo.
Não é exatamente um suspense porque, como bem colocado, na maior parte do tempo não sabemos o que esperar, o que poderá nos surpreender e quando. Tampouco é horror. É uma história de fuga da prisão? Uma bem heterodoxa, mas enfim…
(Eu sei que tecnicamente fui eu quem começou, mas isso só torna tudo ainda mais engraçado)
(Aliás, assistam Paddington 2. Só assistam.)
Esqueça os bebês, que já são um problema em si. Quando até mesmo seus braços-direitos (Don e a Gilda) não podem se ver sozinhos que já começam a jogar areia na fuga, você sabe que essa não será uma fuga fácil.
Agora: é evidente que não teremos uma tragédia. Porém, como vocês também sabem, “esforço” também faz parte da santíssima trindade da nossa querida Jump.
O que vocês acham que azedará a escapada primeiro? Um inimigo externo (como tivemos nos primeiros episódios) ou uma caga interna, como a que acabamos de ver?
Melhorar a comunicação vai ajudar? Eu não sei. Eles têm o medo justificado de espalhar o pânico, o que não ajudaria. Ainda acho que para o sucesso da fuga, é fundamental que eles explorem as divergências entre as adultas e partam para uma guerra de informações. E eles também acham isso. Assim, o que vai prejudicá-los é provavelmente o oposto disso. Falhar em jogar Krone contra Isabella. Não conseguir enganá-las (imagino o disfarce do Ray ruindo a qualquer momento). Mas tudo considerado, e lembrando que o mangá ainda está em andamento, eu tenho a impressão que eles vão ficar eternamente planejando essa fuga …
Nesse caso, o melhor que eu penso que eu posso fazer é torcer para ser um caso semelhante ao de Assassination Classroom, com o mangá terminando ano que vem e o anime terminando junto em um segundo cour. Meta-conhecimento às vezes estraga a graça
Se ele não cagar os planos para o lado do mal, acho que é muito provável que uma das crianças o façam, como a Gilda e o Don já se mostraram capazes.
Mas temos que ter em conta que nada é fácil para as crianças e nem nada é garantido 100%, eles estão todos quase que no escuro.
Vocês são os super gênios. Tudo está mais ou menos se encaminhando para a fuga. Mas aí um dos seus tenentes tapados resolve fazer uma cagada. Xereta nas coisas da Mamãe. Conta mais do que devia para uma das outras crianças. Cede ao olhar irresistível da Krone.
O que vocês fazem?
Acho que minha resposta tem que ser algo tedioso mesmo. Eu tentaria botar o tonto na linha de volta. Se necessário, liberaria mais um pouco de informação para ele para que confie mais no que eu falo ou tenha menos motivação pra fazer besteira.
Como o Fábio bem disse, eles são gado. E não qualquer gado, mas produtos de luxo – numa comparação com nossos bovinos, seriam bois wagyu. A margem de lucro por cabeça deve ser gigantesca. Se um deles caísse morto na certa a Mamãe iria rodar. E sabe-se lá mais quem.
Mas é interessante que vocês tenham apontado esses dois caminhos. Por enquanto, Emma e seus amigos têm evitado o enfrentamento direto. Mas, supondo que o plano dê certo, até que ponto eles conseguirão se eximir da violência.
Só há um jeito de saber. Vamos lá ao próximo episódio, que já está no ar!
Nessa temporada, o Finisgeekis, Anime21, Dissidência Pop e É Só um Desenho discutem The Promised Neverland.
Um dos animes mais esperados dos últimos tempos finalmente chegou até nós. Será que Promised Neverland repetirá nas telas a experiência avassaladora de seu mangá? Confiram conosco!
O livro conta a história de alunos de um colégio interno modelo que descobrem que sua escola é, na verdade, uma fazenda de órgãos. É uma história de cortar os pulsos, melancólica na medida em que Neverland é cheia de suspense. Já recebeu diversas adaptações na Ásia, incluindo um dorama e peças de teatro. Não me surpreenderia se o mangá tivesse sido inspirado por ela.
Estou super animado para discutir esse anime, se nada mais porque me deu uma oportunidade para falar desse romance incrível (quem sabe até mesmo uma resenha futura)? Mas, confesso que isso faz de mim um espectador enviesado. Uma coisa é acompanhar essa história com alguma noção do que vai acontecer. Outra coisa é despencar de cabeça no mundo de Emma, Norman e Ray sem saber o que encontrar.
Acho que vocês não conheciam o material de origem, não é mesmo? Pois bem, como foi então sua primeira dose de Neverland?
Gostei muito do clima de tensão que a obra sabe criar. Desde a primeira cena fica explicito que tem algo de errado ali, e quando vemos o que é a revelação não decepciona. Já o segundo episódio foi tensão pura. Nunca esperei uma história de horror da Shounen JUMP, mas cá estamos e eu estou bem feliz com isso
Dito isso, eu quero perguntar a opinião do Vinicius em uma coisa. Muita gente fala que Neverland começa muito bem, mas decai consideravelmente conforme o mangá avança. Você diria o mesmo, ou acha que as pessoas estão erradas?
Foi um episódio tenso que revelou um pouco do óbvio sobre como fugir dali não vai ser fácil. O ponto alto foi o Ray tentando socar razão na cabeça da Emma e ela se recusando. O que fazer quando todo mundo está, de alguma forma, certo?
É verdade que só os três talvez consigam fugir, mas dado o mundo em que vivem, não têm garantia nenhuma de que sobreviveriam não importa quão inteligentes eles sejam. Existe um limite para a inteligência, e esse limite é o que é conhecido. Eles não sabem nada sobre o que há além do muro. Então, se é para apostar a vida (e eles, perto dos 12 anos, não têm outra escolha), tanto faz se é só eles ou se é todo mundo. Se para a Emma todo mundo é importante, então que seja todo mundo.
O segundo episódio manteve a qualidade, incrível como esses dois episódios terminam muito bem com seus ganchos para o próximo, se a obra se manter assim vai ser algo muito bem feito.
Analisando informações dadas pelo anime, o primeiro episódio abarcou um dia e o segundo o dia seguinte, no próprio início do episódio segundo mostra a data no ano de 2045, penso se o mangá cobriu dia a dia da aventura de fuga das crianças, nesse caso a história se passa em um período de tempo bem curto, o que seria bastante interessante.
O que acontece é que, conforme a história avança, é inevitável que mais detalhes do mundo venham à tona. E o medo, como H. P. Lovecraft bem dizia, bebe do desconhecido. Quanto mais conhecemos de um monstro, menos assustador ele parece.
No atual ponto da história, eu sequer diria que Neverland continua um “terror” stritu sensu. Entendo que isso talvez tenha aliado fãs do gênero.
Mas talvez seja melhor falarmos das nossas próprias expectativas. Por que não começamos pelo nosso elenco?
O Fábio mencionou como eles parecem gênios. Claro, também concordo que eles agem com impulsos infantis, e isso poderá custar a vida deles. O que vocês esperam desses protagonistas, agora que acabaram de conhecê-los? Esperam acompanhá-los por muito tempo ou acha que teremos algumas baixas pelo caminho?
Vide o interrogatório que a Emma sofreu.
Mas falando dos protagonistas em si, concordo com o Fábio, eles são necessários para a história funcionar, imaginem se todo mundo fosse crianças normais? Não teriam nenhuma chance.
Simpatizo com o desejo dela, seu coração é puro e me alegra ver alguém como ela, ao mesmo tempo em que me entristece pensar que ela está fadada ao fracasso.
Ou estaria, não é? Ainda preciso ver para crer.
Mas, segunda coisa, em última instância eu espero sim que os personagens conseguirão se salvar. É Shounen JUMP, afinal.
Como o opening já sugere, ela é bastante diferente da Mamãe titular, tanto em aparência quanto em personalidade. O que vocês esperam dela? Será apenas um obstáculo a mais para as crianças? Ou vocês acham que ela pode ter uma agenda própria?
Imagem que vocês são crianças da Casa Grace Field. Meninos de 12 anos, que nem a Emma, o Ray e o Norman, à espera da próxima colheita. Vocês acabaram de descobrir o segredo do orfanato e estão pensando em vias de escapar. Mas eis que a Mamãe chama seu reforço. Com base no conhecimento que vocês têm hoje, como vocês procederiam?