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Showa Genroku Rakugo Shinju – finisgeekis https://www.finisgeekis.com O universo geek para além do óbvio Mon, 25 Feb 2019 17:39:11 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=5.7.11 https://i2.wp.com/www.finisgeekis.com/wp-content/uploads/2019/02/cropped-logo_square.jpg?fit=32%2C32&ssl=1 Showa Genroku Rakugo Shinju – finisgeekis https://www.finisgeekis.com 32 32 139639372 Assista a “Jugemu”, o conto de Yotaro em “Showa Genroku Rakugo Shinjuu” https://www.finisgeekis.com/2017/01/28/assista-a-jugemu-o-conto-de-yotaro-em-showa-genroku-rakugo-shinjuu/ https://www.finisgeekis.com/2017/01/28/assista-a-jugemu-o-conto-de-yotaro-em-showa-genroku-rakugo-shinjuu/#comments Sat, 28 Jan 2017 16:43:02 +0000 http://finisgeekis.com/?p=14726

Aqueles que o acompanham sabem que Showa Genroku Rakugo Shinjuu voltou com tudo na temporada de inverno. Com originalidade para dar e vender, o anime sobre rakugo – uma das artes mais tradicionais do Japão – continua a nos emocionar.

O último episódio nos trouxe uma apresentação de Jugemu, um conto infantil sobre as desventuras de uma criança com um nome longo demais.

Para quem curte a série e tem curiosidade em ver um rakugo interpretado na vida real, tenho uma excelente notícia. Jugemu foi interpretado em inglês por Katsura Sunshine, um rakugoka canadense que mantém a arte viva no século XXI.

A apresentação está disponível no Youtube. Confiram abaixo:

É interessante ver como Sunshine-san (nome artístico de Gregory Robic) é, em muitos aspectos, o Yotaro da vida real. Com uma pegada mais moderna, presença nas novas mídias (e um kimono de folhas de maple) ele consegue fazer a ponte entre o antigo rakugo e o moderno stand-up comedy.

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Aqueles que assistiram ao episódio vão também perceber que sua versão de Jugemu não é a mesma mostrada no anime. Os tempos mudam, e junto mudam as histórias. O velho conto sobre uma criança doente incorporou referências às escolas contemporâneas.

O sonho de Higuchi Eisuke (e o pesadelo de Yakumo Yurakutei) parece ter se realizado. Para sobreviver, o rakugo precisou evoluir.

Nós, que pegamos a história pelo fim, só temos a comemorar. Em razão do sucesso do anime o rakugo parece estar passando por uma renascença no Japão, e já é possível encontrar teatros com apresentações em inglês, voltadas a turistas.

Nada mal para uma arte que, já na distante era Showa, parecia próxima de acabar.

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Os animes são uma mídia para adultos? (Parte 1) https://www.finisgeekis.com/2016/07/06/os-animes-sao-uma-midia-para-adultos-parte-1/ https://www.finisgeekis.com/2016/07/06/os-animes-sao-uma-midia-para-adultos-parte-1/#comments Wed, 06 Jul 2016 19:29:55 +0000 http://finisgeekis.com/?p=7891 Para nós, otakus ocidentais, a pergunta parece absurda. Não é raro encontrar comentários de que a animação japonesa é o território para “mentes maduras”, uma luz no fim do túnel em meio à infantilidade grudenta de Hollywood.

De fato, do nosso lado do Pacífico os animes não apenas conquistaram um público devoto entre os maiores de idade. Eles se consagraram como a animação “para adultos” por excelência.

Por incrível que pareça, nem todos concordam com isso. E não falo de desafetos da animação japonesa, mas de alguns de seus maiores fãs e divulgadores.

Justin Sevakis, do Anime News Network, é um dos que têm atacado o senso-comum. Segundo ele, mesmo no Japão a animação é encarada como um passatempo infanto-juvenil – ou, na melhor das hipóteses, como um entretenimento “para toda a família”.

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Com a exceção dos filmes do Studio Ghibli e das grandes franquias para o público jovem, animes são um entretenimento de nicho. Emissoras de TV só aceitam transmiti-los porque são pagas pelos produtores.

Para Sevakis, não haveria, no Japão inteiro, mais do que algumas centenas de milhares de otakus. Para o japonês comum, “anime” é sinônimo de infantilidade. Ou, o que é ainda pior, de adultos que se recusam a crescer, hikikomoris e pervertidos fascinados por dakimakuras e jogos eroges.

otaku bedroom

E que habitam quartos como esse

Há razões para crer que Sevakis possa estar exagerando. Uma pesquisa online feita pela agência DoHouse em 2010 concluiu que cerca de metade dos japoneses assiste a animes na TV.

Se números por si só não forem reveladores, a oferta de animes na última temporada com certeza é. Embora a maior parte dos lançamentos corresponda a gêneros com grande apelo entre o público juvenil, algumas séries distoam – e muito – da imagem da mídia como um “hobby de crianças”.

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Showa Genroku Rakugo Shinju, que ganhará em breve uma segunda temporada, nos trouxe um drama lento e pés-no-chão sobre uma das artes mais tradicionais do Japão. Já Joker Game pisou em todos os calos e arriscou abordar um dos períodos mais polêmicos da história japonesa.

Seriam esses animes prova de uma mudança de demografia? Ou, pelo menos, de que há um nicho de otakus adultos, interessados em algo mais além de battle shounens e slice of lifes escolares? Ou estaria o Justin Sevakis certo, e não seria isso tudo apenas nossa impressão?

Essa não é uma pergunta simples. Felizmente, não preciso encará-la sozinho. Fábio Godoy do Anime21, Diego Gonçalves do É Só um Desenho e Vitor Seta do Otaku Pós-Moderno  se juntaram a mim para tentar respondê-la.

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Diego: Antes de mais nada, eu acho… não exatamente “pertinente”, mas interessante apontar que no último Festival de Annecy, Guillermo del Toro fez um comentário sobre como ele acha que a animação é uma arte adulta.

Acho que no mundo inteiro temos essa noção de que “desenhos são para crianças”, e com a quantia brutalmente maior de obras em animação saindo para esse público do que para qualquer outro, acho que é difícil não haver, nas pessoas, pelo menos uma noção de que a maioria das animações é mesmo para crianças.

Isso dito, eu acho que não podemos tratar os animes da mesma forma que tratamos, digamos, os desenhos americanos. Porque a animação japonesa é quase que uma mídia própria, por assim dizer. E dentro dessa mídia você vai, sim, ter os animes mais voltados para crianças e adolescentes, como Naruto, Dragon Ball, One Piece, Death Note e por ai vai.

Mas ao mesmo tempo você tem obras que eu duvido que fossem entreter alguém muito jovem. E eu nem me refiro a coisas como Showa ou Joker Game, embora possa incluir, mas penso em coisas como Kino no Tabi, Mushishi, ou mesmo animes que são ridiculamente complexos e intrincados, como Ghost In The Shell Stand Alone Complex, ou Mawaru Penguindrum, são obras que se você der pra uma criança ver, mesmo pra um adolescente (digamos, até uns 15, 16 anos), a criança não vai entender nada.

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Na minha opinião, anime não “é” de faixa etária alguma, temos obras para todas as idades, desde criancinhas na pré escola (Hamtaro), passando por adolescentes (Naruto, Dragon Ball), jovens adultos (digamos, Joker Game), até mesmo adultos para lá dos 30 anos (Master Keaton, por exemplo).

Isso dito, eu vou encerrar com uma pequena provocação, que é a seguinte: que fosse, então, algo de criança, haveria ai algum problema? Por que temos essa noção que o que é “para crianças” é, de alguma forma, inferior aos demais? Ser “para adultos” é algum tipo de “atestado de qualidade” ou de respeito?

Fábio: O próprio Vinicius, ao abrir essa conversa, e o Diego depois, trouxeram vários dados, entre estatísticos e factuais, que mostram sem muito espaço para dúvidas que pelo menos parte da produção de animes, inclusive da produção mainstream (ou seja, o anime para TV, ou se preferirem, os “animes de temporada”), tem como público alvo pessoas adultas.

Se elas são apenas hikikomoris e outros rejeitos sociais contados em centenas de milhares (um número pequeno para o tamanho da população japonesa) eu não vou debater por enquanto, mas ainda assim que se note: hikikomoris e qualquer um que por qualquer razão desvie do padrão da sociedade, vivendo ora dentro dela em posição desconfortável, ora como um pária à sua margem, continuam sendo adultos.

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Antes de qualificarmos os adultos que assistem anime precisamos primeiro chegar a um acordo sobre eles existirem ou não. E eles existem. E existem animes de conteúdo adulto que portanto só podem ser produzidos para eles. O que veio primeiro: adultos consumindo anime ou animes produzidos para consumo adulto?

Essa questão é relevante mas não tratarei dela nessa introdução. Se e quando a discussão chegar nesse ponto vamos argumentar e pesquisar sobre isso.

Sendo isso apenas uma introdução, introduzir-me-ei: como muitos brasileiros, meu primeiro anime foi Cavaleiros do Zodíaco. Eu ainda não sabia o que era anime e portanto não sabia que Cavaleiros era isso. Juro, eu não tinha consciência de que aquilo vinha do Japão.

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Claro, devo ter notado isso em alguns momentos, como quando parava para pensar nos nomes deles ou no fato da base de operações dos heróis ser no Japão, mas não é como se nosso país tivesse uma tradição em animações mesmo e eu cresci assistindo-as de toda parte do mundo. Bom, basicamente dos EUA com Hanna Barbera, Looney Tunes, Ducktales, Tom & Jerry e Pica-Pau, principalmente, mas como também sempre fui fã da TV Cultura assistia com alguma frequência desenhos de origem europeia.

Bom, a maioria era chato, pensando bem, mas o ponto não é esse: animação, “desenho”, era algo necessariamente estrangeiro, poderia vir de qualquer lugar do mundo, então mesmo quando eu percebia a, er, “japonicidade” de Cavaleiros do Zodíaco, isso simplesmente não me dizia nada.

Eu já era adolescente quando assisti Cavaleiros do Zodíaco. Só fui ter consciência da indústria de animação japonesa como algo especial anos depois, assistindo anime em VHS pirata de famosa loja de animes piratas que já sustentou sozinha eventos de anime no bairro da Liberdade por alguns anos.

Saber Marionette J e Love Hina, foram esses os primeiros animes que assisti. Em japonês com legendas em português, com plena consciência de que eram animes (“e não desenhos”, o que levei uns anos para desaprender) e de que isso fazia deles algo especial, diferente das animações com as quais eu estava acostumado até então.

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E eram bem diferentes mesmo! Diferentes inclusive do tal Cavaleiros do Zodíaco. Não são obras adultas não importa como se olhe para elas, mas eu já era um adulto quando assisti, e assisti junto com outros adultos, e ainda que fossem produtos adolescentes (não infantis, e mesmo isso já os diferenciava de tudo o que eu havia conhecido até então – inclusive Cavaleiros) eventualmente tocavam em temas mais sérios (não complexos, apenas mais sérios mesmo), coisas com as quais eu podia me identificar ou me emocionar sinceramente.

Acho que até hoje eu vou chorar assistindo os episódios finais de Saber Marionette J – mesmo hoje em dia não é qualquer anime que acerta o timing emotivo como aquele, quem assistiu sabe do que estou falando e quem não assistiu, por favor acredite nas minhas palavras.

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Depois disso, conheci muito mais animes. Na verdade, conheci só mais alguns e estagnei por anos apenas lendo mangás, mas as duas indústrias são contíguas, então nunca estive muito afastado.

Quando retornei aos animes, os conheci aos montes. Animes novos, antigos. Filmes animados, animes para TV, especiais direto para o vídeo. Os mais diferentes tipos de traço, narrativa, gênero. E para diversos públicos-alvos distintos. Animes para crianças. Animes para adultos. Eles com certeza existem. Mesmo se não existissem acredito que eu continuaria assistindo animes – eu sou um pouco pária social, como as centenas de milhares de japoneses que o Sevakis apontou, hehe.

Mas não acredito que seria só eu, nem acredito que apenas párias como eu assistiriam. E é porque todos nós, párias ou não, assistem animes, e os produtores japoneses sabem disso, em um país com uma população cada vez mais velha, que animes para adultos são produzidos.

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Eu sou adulto e assisto animes. Mais do que isso: eu só comecei a assistir animes porque animes depois de adulto. E embora nem japonês seja, embora não exista um só engravatado japonês pensando especificamente em mim (meia-verdade: supostamente a recente onda de mais produtos da franquia Cavaleiros do Zodíaco tem sim muito a ver com os fãs ocidentais), eu sei que, em que pese a diferença de valores entre japoneses e ocidentais, muita coisa do que eu assisto definitivamente só pode estar sendo produzida tendo o espectador adulto como paradigma necessário.

Vitor: Na minha visão, a noção do público-alvo como indicador de audiência recomendada é algo extremamente duvidoso em uma obra de animação.

E isso não se restringe às animações japonesas. Em 2004, o estúdio Pixar abordava temas como vigilantismo, desestruturação familiar e frustração pessoal e profissional em um dos seus maiores sucessos, Os Incríveis.

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Aqui vai uma sinopse básica desse filme: uma família de (ex)super-heróis tem que resolver suas diferenças para enfrentar um novo vilão. Perfeito para levar as crianças para o cinema, certo?

Pois é, animações infantis não são idealizadas por mentes infantis. No Oriente, quem faz esse papel, até há mais tempo e com mais intensidade, nos cinemas, é o Studio Ghibli, com filmes carregados de críticas sociais, simbolismos e levantamento de bandeiras, que mesmo assim funcionam com o público infantil.

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Essa pequena divagação me leva ao ponto principal: em animações, público-alvo é uma noção puramente comercial, uma orientação mercadológica de quem investe nesses produtos.

Poderíamos mergulhar numa discussão ainda mais ampla que remete à origem da animação e a práticas culturais nas sociedades orientais e ocidentais, o que nos ajudaria a entender por que o publico infantil é, na esmagadora maioria das vezes e nos dois polos do globo, o associado às animações.

Entretanto, meu ponto aqui, por enquanto, é separar o comercial do artístico. É plenamente possível abordar temáticas adultas em obras direcionadas para o publico infantil, ainda que essas temáticas estejam “mastigadas” para uma mais fácil compreensão e absorção do seu publico-alvo, assim como deixar as mensagens lá, de forma que só a mamãe ou o papai que levaram os filhos para assistir Princesa Mononoke ou Os Incríveis, captarão.

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O que tudo isso tem a ver com o mercado de animes?É o fato dessas temáticas sempre estarem lá, há anos e aos montes, estigmatizadas pela tal noção comercial de público-alvo. O que acarreta em um bizarro sentimento de “perda” de maturidade ao consumir esse tipo de material, especialmente em uma sociedade estrita na questão da relevância social, como a japonesa.A pesquisa da DoHouse e o sucesso recente de obras com essa temática, citadas no começo da discussão, só reforçam isso. Há públicos dispostos a consumir essas obras, dentro e fora do nicho, mas como quebrar a barreira de uma mídia negativamente marcada?

 

Confiram semana que vem a segunda parte dessa discussão

 

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‘Showa Genroku Rakugo Shinju’: O lado exótico (e cômico) da cultura japonesa https://www.finisgeekis.com/2016/01/18/showa-genroku-rakugo-shinju-o-lado-exotico-e-comico-da-cultura-japonesa/ https://www.finisgeekis.com/2016/01/18/showa-genroku-rakugo-shinju-o-lado-exotico-e-comico-da-cultura-japonesa/#respond Mon, 18 Jan 2016 21:02:49 +0000 http://finisgeekis.com/?p=1574

Em um meio repleto de mechas, cenas de ação em CG e heroínas de cabelos coloridos, qual a chance de um drama histórico sobre pessoas normais fazer sucesso?

E se o anime em questão for focado em um estilo de teatro virtualmente desconhecido fora do Japão, que mesmo em seu país natal é considerado uma cultura de nicho?

E se, em adição a tudo isso, esse anime abrisse com um episódio de 50 minutos, dos quais 15 são ocupados por apresentações de duas performances na íntegra?

Em um mundo “normal”, nenhuma. Felizmente para nós, o universo otaku é tudo menos normal. É assim que Showa Genroku Rakugo Shinju, anime sobre um aprendiz de teatro rakugo, tornou-se um dos lançamentos mais badalados da última temporada.

A série inusitada se passa nos anos 1970 e acompanha Kyoji, um ex-presidiário que se apaixonou pelo teatro rakugo após assistir a uma performance do famoso ator Yakumo Yurakutei. Uma vez solto, Kyoji procura Yakumo e pede para se tornar seu aprendiz.

Nas palavras da Gabriella Ekens, do Anime News Network, esse é o enredo que esperamos encontrar em um filme concorrendo ao Oscar, não em um anime. A surpresa é sem dúvida maior para nós, ocidentais, do que para o público japonês. Em sua terra de origem, Showa Genroku Rakugo Shinju é a adaptação de um celebrado mangá vencedor de vários prêmios, incluindo o Kodansha. O próprio anime já teve um “teste de fogo” em dois OVAs produzidos pelo mesmo estúdio e lançados nas bancas com os últimos volumes do mangá.

Para uma série desse calibre, no entanto, qualidade é apenas o começo. É necessário, também, ser acessível. De um lado, não é a primeira vez que animes abordam o inabordável. Hikaru no Go, baseado no clássico e dificílimo jogo de estratégia oriental, fez tamanho sucesso que motivou vários fãs a estudar o jogo ou mesmo comprar seus próprios tabuleiros.

hikaru no go

Incluindo esse blogueiro que vos escreve

De outro lado, séries como Mad Men e Downtown Abbey popularizaram o drama histórico sério na geração atual. Entretanto,  seu apelo não atinge necessariamente o mesmo público – ou a mesma faixa etária – que a maioria dos animes comerciais.

Conseguirá Rakugo ganhar um espaço no coração dos otakus, tal como Hikaru no Go? Isto, só o tempo dirá. Uma coisa é certa: você dificilmente assistirá a um anime mais exótico esse ano.

Mas o que, afinal, é rakugo?

Em tempo: rakugo é uma espécie de “sit-downcomedy japonesa. Trata-se de um monólogo teatral em que o ator, sempre sentado e vestido com trajes formais, narra uma história cômica. Nas palavras de uma especialista, o rakugo é uma sitcom em que todos os papeis são interpretados por uma mesma pessoa.

rakugo phoebe

“Você sabia que 9 entre 10 casamentos terminam em divórcio?” “Phoebe, isso não é verdade!”

 

Como tudo o que vem do Japão, o segredo está nos detalhes. O artista de rakugo interpreta todas as personagens de sua história e usa linguagem corporal e mudanças de intonação para sinalizar os diversos papéis.

Para ajudá-lo, ele tem ao seu dispor apenas um leque e uma toalha. Por meio da mímica e muito faz-de-conta, estes objetos ganham vida como todo o tipo de aparato, de um par de hashi até armas de fogo.

rakugo prop

As apresentações geralmente começam no estilo de um stand-up ocidental, com uma roda de piadas e um momento para o ator “testar” a sua plateia. No caso de performances para ocidentais, ele geralmente inclui uma explicação sobre o próprio rakugo. Depois, o ator entra na história (ou histórias) propriamente ditas, que podem durar de alguns segundos a quase uma hora.

Para os curiosos, há alguns rakugokas (atores de rakugo) que se apresentam em inglês, e seus vídeos podem ser encontrados no YouTube. Um dos mais pitorescos é Katsura Sunshine, ou Sunshine-san, um canadense oxigenado que veste kimonos de folhas de maple:

Se você é fã de cultura japonesa e nunca ouviu falar de rakugo, não tenha medo. Sua carteirinha não será revogada. Rakugo é um gênero teatral notoriamente obscuro, e não por acaso.

Ao contrário de muitos stand-ups, as performances não são improvisadas. Tal como no antigo teatro grego, as histórias vêm (ou costumavam vir) de um cânone comum, e cabia aos atores apenas interpretá-las à sua maneira.

Considerando que o rakugo foi criado por monges budistas no século X e que várias das histórias datam do período Edo (1603-1868), trata-se de um humor bem específico… e bastante tradicional.

No final do primeiro episódio, Yakumo diz ao seu discípulo que só aceitará ensiná-lo caso ele o ajude a ressuscitar o rakugo. Independente do que aconteça no anime, fora das telas a série parece ter cumprido a missão. Basta pesquisar por “rakugo” no google para constatar que quase metade dos resultados dizem respeito ao anime.

Uma relíquia do passado…

Anos atrás, em uma conversa entre otakus, um amigo meu disse que todos os clichés de anime vêm do Genji Monogatari, o grande clássico da literatura japonesa escrito quase mil anos atrás.

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“Não faça isso, Senpai!”

Ele talvez ficará contente em saber que não é o único a ter formulado essa ideia. Um estudioso da universidade Kwansei Gakuin, no Japão, acredita que não apenas o anime, mas toda a cultura cool japonesa teria suas raízes no passado antigo.

Essa é uma discussão interessante, que bate em uma questão ainda mais complicada e que já citei aqui antes: animes são, de fato, parte da cultura japonesa?

Muito embora o gênro esbanje samurais, geishas, uniformes de sailor e takoyaki, há quem diga que o formato do anime deve mais ao ocidente do que ao oriente. Isto inclui não somente as técnicas de animação, mas todo um modelo de produção de entretenimento importado dos Estados Unidos após o fim da Segunda Guerra. Para alguns, das influências de Walt Disney em Tezuka e Miyazaki às convenções de cosplay, a cultura pop japonesa pode ser tudo, menos made in Japan.

Se não fose o bastante, vários diretores, mangakás e mesmo artistas inspirados na estética anime – como o popular Takashi Murakami – se afeiçoaram ao estilo justamente pela sua cara fantasiosa e internacional. A ideia era reapropriar elementos da cultura japonesa em um novo contexto, não prestar homenagem ao passado. Sob este ponto de vista, o anime não seria uma continuação do entretenimento da era Edo mais do que os romances do George R.R. Martin seriam uma continuação das novelas de cavalaria.

canterbury tales

Quase uma série da HBO

…Ou um legado para o presente?

Continuação ou não, é difícil negar que o anime deve muito às formas de arte que o precederam. Como não poderia deixar de ser, dado sua natureza cinematográfica, isso vale em dobro para as artes cênicas.

Shigeru Mizuki, um dos “pais” do mangá ao lado de Osamu Tezuka, começou a carreira como narrador de kamishibai, performance tradicional em que uma história é contada com a ajuda de quadros desenhados. A temática youkai em que ele foi pioneiro  deve muito a sua experiência com contos populares.

kitaro

Já Eiji Otsuka, antropólogo e mangaká autor de Delivery Service of Corpse, disse que os grandes gêneros de anime (Mahou Shoujo, Slice of Life, Artes Marciais, Magical Girlfriend etc) seguem a mesma lógica de classificação das antigas peças de teatro kabuki e bunraku.

O rakugo teve uma presença menor, mas nem por isso é um estranho no universo do anime. Rakugo Tennyo Oyui,  um Mahou Shoujo que elevou o conceito de off model a um novo patamar, tinha como protagonista uma aspirante a rakugoka que ganhava poderes mágicos e era transportada ao período Edo. 

rakugo tennyo oyui

rakugo também pode ser visto em espírito, se não em forma, na enorme influência de seu gênero irmão, o manzaiTrata-se de um estilo de performance humorística quase tão antigo quanto o rakugo. Sua principal diferença é que, em vez de um monólogo, o manzai se baseia em um dupla, composta por uma personagem séria (o tsukkomi) e uma atrapalhada (o boke). 

manzai se tornou uma das bases do humor japonês contemporâneo. Preste atenção em seu anime favorito e muito provavelmente você verá que boa parte das cenas cômicas giram em torno de um sujeito ingênuo ou engraçado atiçando a raiva do amigo sério.

Takeshi-Kitano

Takeshi Kitano

Curiosidade: do manzai também veio Takeshi Kitano, diretor de Dolls Zatoichi e ator na adaptação cinematográfica de Batalha Real. Tal como o protagonista de Showa Genroku Rakugo Shinju, ele tornou-se comediante nos anos 1970. No Japão, ainda é conhecido como Beat Takeshi, seu nome de palco.

Em alguns casos, o manzai aparece com toda a sua teatralidade. Quem jogou Ni no Kuni, o game da Level-5 desenhado pelo Studio Ghibli, deve se lembrar de uma apresentação da modalidade nos Fairygrounds:

manzai tem uma grande vantagem: desde sua origem, ele sempre foi muito mais informal e adaptável a diferentes circunstâncias. O rakugo, por sua vez, tem uma estrutura bem mais rígida, algo que os criadores de Showa Genroku Rakugo Shinju parecem ter reconhecido ao fazer a obra como um drama, e não um pastelão à la Nodame Cantabile.

nodame cantabile

Que, por sinal, dá vários exemplos de ‘manzai’ entre Chiaki e Nodame

Em todo o caso, um possível sucesso da série pode significar mais do que uma excelente estreia para a abertura do ano. Showa Genroku Rakugo Shinju tem o potencial de criar um gênero próprio, e nos introduzir a uma forma completamente diferente de vibrar- e de rir – com os animes.

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