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Música – finisgeekis https://www.finisgeekis.com O universo geek para além do óbvio Wed, 01 Sep 2021 20:25:30 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=5.7.11 https://i2.wp.com/www.finisgeekis.com/wp-content/uploads/2019/02/cropped-logo_square.jpg?fit=32%2C32&ssl=1 Música – finisgeekis https://www.finisgeekis.com 32 32 139639372 Entrevista: música e escapismo com o “Sofá a Jato” https://www.finisgeekis.com/2021/09/01/entrevista-musica-e-escapismo-com-o-sofa-a-jato/ https://www.finisgeekis.com/2021/09/01/entrevista-musica-e-escapismo-com-o-sofa-a-jato/#respond Wed, 01 Sep 2021 20:25:26 +0000 http://www.finisgeekis.com/?p=23012 Vocês que acompanham o blog sabem que eu tenho uma queda por artistas que tiram algo a mais da cultura pop. Sejam elas romancistas, cosplayers ou poetas, há algo de belo – e valente – em utilizar games, quadrinhos e animes como ponto de partida, não um fim em si. Em uma paisagem midiática cada vez mais dominada pela impessoalidade e por algoritmos, criar é a maneira mais pura de mostrarmos que somos protagonistas das nossas nerdices, não meros consumidores esperando na fila pelo que quer que esteja em oferta.

Foi uma grata surpresa, assim, conhecer o trabalho do Sofá a Jato, banda gaúcha formada por Frederico Demin, João Beal e Yussef Lima, que partiram de referências comuns a toda uma geração de gamers para encontrar sua própria voz no metaverso da cultura pop.

Nessa entrevista exclusiva, eles me contaram sobre como usam música e recursos audiovisuais para replicar a sensação de escapismo gerada pelos games – e sobre o que significa “escapar” em um mundo onde a alienação vem se tornando o novo normal.

Confiram:

A banda Sofá a Jato

O Sofá a Jato é uma banda com uma identidade bastante distintiva, misturando estilos brasileiros com expressões dos games e da cultura pop. De onde veio a ideia por trás do projeto? Vocês poderiam contar um pouco sobre como foi seu percurso até aqui?

O nome da banda iniciou ainda no colégio. A intenção era participar do show de talentos e se divertir. Esse interesse por games sempre esteve presente no grupo, principalmente pela arte que eles transmitem no visual e no som juntos. A gente sempre curtiu o poder imersivo das trilhas sonoras de jogos, o quanto uma boa música fazia a gente entrar mais no mundo do jogo e esquecer a realidade. Acho que foi natural seguir usando características dessas músicas nas nossas composições. Acho que a partir disso que veio a ideia de usar também essas narrativas mais fantasiosas nas letras e tal.

A compositora Yuki Kajiura certa vez disse que animes exigem trilhas sonoras de peso, pois a animação, por si só, não chega aos pés da expressividade do rosto humano vista no cinema live action. Este princípio também é visto em videogames, sobretudo naqueles que não contam com gráficos fotorrealistas. De certa forma, o Sofá a Jato parece fazer o percurso oposto, trazendo recursos visuais para complementar o som. De onde veio a ideia desse conceito multimídia? Do brainstorm até a performance, como ‘nasce’  e se desenvolve uma obra da banda?

Acho que duas obras influenciaram fortemente isso. Uma delas foi o filme Interstella 5555 do Daft Punk, inclusive um anime muito bom. Ali ficou claro desde cedo o poder narrativo em incorporar as diferentes mídias numa mensagem só, parece que ela fica mais poderosa. E também, a banda sempre teve essa ideia de ser uma trilha sonora de um espetáculo. Isso é uma grande influência que surgiu ao assistirmos os show do Pink Floyd/Roger Waters. Nunca foi nosso foco que o público assistisse apenas a banda tocando ao vivo, mas sim, passar essa sensação de estar em uma sessão de cinema ou teatro em que a trilha sonora está sendo tocada ao vivo. Além de tirar o foco da gente. O palco sempre foi meio delicado pra nós, hahahahah.

No seu livro A Composer’s Guide to Game Music, a compositora Winnifred Phillips cita várias maneiras como a música pode afetar nossa percepção do tempo e espaço. Por exemplo, como peças em tons maiores fazem com que ouvintes percebam a passagem do tempo de forma mais lenta, ou que uma dada imagem pode assumir sentidos diferentes dependendo da música que nos embala enquanto a observamos. Vocês usam alguma técnica do tipo para gerar a vibe psicodélica de seus clipes e shows?

Depende de como veio o processo. Com o nosso disco que está pra sair a gente foi mais cuidadoso, até porque ele envolve contar uma história ao longo dele todo. A gente sempre curtiu muito conversar bastante sobre as diretrizes e intenções e em caso de dúvida tentar se guiar por elas, desafiar a criatividade pra tentar passar aquela parte da maneira emocional adequada. Pra isso usamos de tudo, desde mixes mais espaciais pra dar grandeza até acordes suspensos pra dar um ar de aventura e incerteza do que virá. A parte visual tende a vir depois, com muita experimentação, mas de novo, no caso dessas novas músicas elas foram pensadas pra servir a história e as sensações da músicas, sem necessariamente “explicá-las”.

Há não muito tempo, referências a jogos e personagens eram um código que poucos dominavam. Hoje, esta linguagem consolida cada vez mais seu espaço na mídia mainstream. O trabalho do Sofá a Jato, de certa forma, é um reflexo disso. Como vocês enxergam o seu lugar como artistas dentro dessa paisagem cultural em movimento? Existem novas oportunidades ou desafios que vem surgindo?

Temos percebido mais artistas utilizando referências do mundo geek/nerd em suas obras, seja um sample de um anime em alguma música, ou uma letra que fale sobre a jornada de um herói, esse universo está cada vez mais presente na música. Pra nós, eu diria que o maior desafio é como unificar tudo isso através das várias maneiras que temos que entrar em contato com o “mundo”, com as pessoas. Um exemplo são as história em quadrinhos que fazemos pra contar os bastidores da banda, uma maneira de fazer algo divertido e que combina conosco e também achar uma maneira de não aparecer muito, que não é muito a nossa praia, hahaha.

Como fã de games, não posso deixar de notar a referência a trilhas icônicas em seus trabalhos, como Zelda: Ocarina do Tempo e Chrono Trigger. E quanto a trabalhos mais recentes? Existem artistas/compositores contemporâneos na cena nerd cuja obra vocês acompanhem?

Sim, com certeza. Em termos de trilha sonora de jogos, Celeste seria um que vem a memória fácil. Horizon Chase também. Quando vamos jogar RPG usamos a trilha sonora do The Witcher 3, por aí vai. Acho que em termos de influência mais direta, ultimamente voltamos forte às trilhas dos filmes do Studio Ghibli. O compositor Joe Hisaishi é um gênio.

Clipe da música “Lugar” do Sofá a Jato

 ‘Escapismo’ é uma experiência prometida com frequência por jogos eletrônicos. Talvez como resultado da entrada dos games na cena mainstream, ele também se tornou um tema controverso. Se por um lado ele é visto como um refúgio necessário ao estresse e problemas do mundo, há quem diga que o escapismo nos aliena, incentivando-nos a enxergar esses produtos (e a própria vida) com olhos passivos. A obra do Sofá a Jato evoca várias vezes esse tipo de experiência, notavelmente na música “Lugar”. Como artistas, como vocês navegam essa corda bamba?

Então, esse é exatamente o tema do próximo disco, na qual “Lugar” fará parte! A gente julga importante discutir o escape, ainda mais em tempos modernos de alienação e vidas relativamente falsas online. Lidamos com depressão nas nossas vidas e pessoas próximas e achamos que temos uma responsabilidade de trabalhar melhor a ideia do escape, sim. Acho que falar mais a fundo entregaria um pouco o disco então, por enquanto vamos nos segurar!

Conheçam mais sobre o Sofá a Jato em sua página.

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4 curiosidades sobre o shamisen para entender “Mashiro no Oto” https://www.finisgeekis.com/2021/06/23/4-curiosidades-sobre-o-shamisen-para-entender-mashiro-no-oto/ https://www.finisgeekis.com/2021/06/23/4-curiosidades-sobre-o-shamisen-para-entender-mashiro-no-oto/#respond Wed, 23 Jun 2021 21:39:13 +0000 http://www.finisgeekis.com/?p=22927 Mashiro no Oto pode não ser o melhor anime já feito sobre música. Ainda assim, a série foi uma janela a um mundo fascinante de que raramente escutamos: o shamisen.

Para aqueles, como eu, cujo conhecimento desse instrumento se resume ao filme Kubo e as Cordas Mágicas, Mashiro no Oto também não foi a mais didática das introduções.

O que, afinal, é um futozao ou Tsugaru? O que significa ter um bachi grande ou pequeno? Porque todas as personagens parecem tocar a mesma música? O que diferencia uma performance “boa” de uma “ruim?”

Se você, assistindo ao anime, sentiu-se bombardeado por essa e outras dúvidas, seus problemas acabaram. Conhecer o instrumento a fundo provavelmente é trabalho para uma vida inteira. Ainda assim, abaixo seguem quatro curiosidades para tornar esse universo diferente um tanto menos misterioso:

1) Os shamisen não são todos iguais nem vêm da mesma parte do Japão

Como alguém sem grandes conhecimentos de música japonesa, me dou por satisfeito por conseguir diferenciar um shamisen de um erhu ou ghaychak. Jamais cogitaria imaginar que existissem tipos diferentes de shamisen, com sons e repertórios bastante distintos.

Contudo, esse é justamente o caso.

Existem pelo menos três grandes famílias de shamisen: hosozao, chuzao e futozao, cada uma subdividida em tipos de instrumento desenvolvidas para gêneros distintos. O que mais vemos no anime é o Tsugaru, variante do futozao (“pescoço grosso”). Trata-se de um shamisen grande e potente, com grande projeção de som, que privilegia peças instrumentais com passagens virtuosísticas.

Em outras palavras, é um shamisen feito para impressionar.

Como explica o vendedor de instrumentos Hiroshi Odawara no episódio 6 de Mashiro no Oto, é um estilo bastante específico, criado em um cidade conhecida como Tsugaru, na província de Aomori. Localizada no extremo norte do Japão, esta é uma região super isolada, mesma na época dos aviões e trens-bala. E que, justamente por isso, ganhou fama como uma terra “virgem”, afastada dos delírios da modernidade, onde uma cultura autêntica e tradicional ainda prospera.

Em Aomori, campeonatos deste gênero de música são organizados justamente para promover essa imagem bucólica.

Imagem que Mashiro no Oto promove, enviando seu elenco inteiro a uma excursão à província para aprender as origens do instrumento que tanto amam.

Essa “marketing”, na verdade, vai muito além da música. Aomori é a terra do protagonista, Setsu, mas também de seus rivais, Maimai e Soichi. Seu grupo, originário de Tóquio, é enquadrado como o underdog na competição contra os locais da província.

Quando Soichi a Setsu que o arroz de feijão de Tóquio não tem o mesmo gosto do que se come em Aomori, ele não está falando apenas de culinária. Há um julgamento de valor no seu comentário, contrapondo a cidade grande, aculturada, ao suposto respeito à tradição de sua terra natal.

Uma imagem que chega a ser irônica, já que….

2) O Tsugaru-jamisen não é tão “tradicional” quanto imaginamos

Fonte da imagem

Para quem não tem contato com música tradicional japonesa, é fácil colocar tudo o que não se encaixa nas nossas expectativas no mesmo balaio. Porém, tal como o shamisen comporta toda uma família de instrumentos, os estilos musicais em que aparecem também são dramaticamente diferentes.

E, dentro desse repertório, o tsugaru-jamisen é um dos estilos mais ‘modernos’, ousados e recentes.

O shamisen chegou ao Japão no século XVI como um instrumento de acompanhamento, feito para embalar peças, espetáculos e solenidades. A música, na época, privilegiava o uso da voz, e as cordas se adequavam a esse princípio. As performances precisavam respeitar a virtude do shibumi (algo como “austeridade” ou “adstringência”).

Foi apenas muito tempo depois que a música instrumental ganhou prestígio, e o shamisen se tornou a estrela das apresentações. Se pararmos para pensar, não foi muito diferente do que aconteceu com a música erudita na própria Europa, focada na performance vocal durante a Idade Média e Renascença, para depois ver nascer várias formações instrumentais, com solos cada vez mais virtuosos.

Arcângelo Corelli (1653-1713), um dos compositores que elevou o violino a instrumento de solo

No caso específico do tsugaru-jamisen, esse “muito tempo” foram quase trezentos anos. Segundo alguns musicólogos, o estilo foi criado por um compositor cego chamado Nitabo (1857-1928), que ganhou popularidade apenas nas décadas de 1910 e 1920.

Sim, estamos falando de mais de cem anos atrás. E não há nenhuma regra que diz que tradições não podem ser reconhecidas como tal depois de apenas algumas décadas. Ainda assim, é importante frisar que estamos falando de uma arte tão recente quanto o jazz e o blues.

Mashiro no Oto não é um anime sobre as origens do tsugaru-jamisen, mas está cheio de referências a sua história. Segundo a lenda, Nitabo era um bosama (cego itinerante), que trocava performances por pratos de comida.

É a mesmíssima história dramatizada no avô de Setsu, Matsugorou, que vemos em um flashback nas ruínas do pós-guerra.

Ao tocar a composição de seu avô a uma mulher que se lembrava de tê-la ouvido na época, Setsu recebe a crítica de que sua versão está “complicada demais”. Nada mais justo, já que Matsugorou era um músico da “velha escola”, que apenas começava a abandonar o shibumi em prol da potência e ornamentação

Mesmo o som de Setsu, mais enérgico ao de seu avô, parece “demodê” comparado ao de seus rivais no campeonato. O anime soletra isto com todas as letras no episódio 11, quando Setsu, pressionado pela mãe, faz uma apresentação “tradicional”, austera e diminuta. Para o choque dos jurados, que imediatamente entendem que ele aprendeu a tocar com um músico “das antigas”.

3) Sim, todos os membros do grupo tocam a mesma coisa. Mais ou menos.

Um dos detalhes mais curiosos no campeonato de Mashiro no Oto é o repertório das apresentações ém grupo. De longe, até parece que todos os integrantes de cada grupo estão tocando a mesmíssima coisa.

Levando em conta que o anime nos mostra poucos minutos de cada apresentação – e tem o terrível hábito do anime de “cortar” as performances em favor de um piano & strings genérico – é até difícil distinguir uma equipe da outra.

Na verdade, esse é justamente o propósito.

Na música tradicional japonesa, mesmo em formações com instrumentos diferentes, os membros tocam variações simultâneas da mesma linha melódica. É um tipo de textura musical conhecida como heterofonia.

Em Mashiro no Oto, vemos isso em prática no episódio 9, quando Setsu e Kaito tocam de maneira que seus instrumentos se complementem.

Pode parecer um detalhe sutil, mas é a diferença entre um troféu e a derrota. Isto porque o repertório de competição do shamisen é minúsculo. Ao todo, existem cerca de vinte peças frequentemente tocadas, das apenas cinco compõem a lista básica.

Não é incomum que todos os concorrentes de uma mesma categoria apresentem a mesma peça. Nesse contexto, truques como o de Setsu e Kaito podem ser tudo o que distingue uma equipe de outra.

Isso e o jogo de cintura para criar na hora. Afinal,

4) O tsugaru-jamisen é um estilo improvisado (dentro de limites )

Como era de se esperar para um estilo inventado por músicos itinerantes e popularizado na era do jazz, o tsugaru-jamisen é fortemente baseado na improvisação. Isto faz dele uma raridade na música tradicional japonesa, que geralmente exige que a música seja seguida mais ou menos à risca.

Esse, de certa forma, é o motivo de seu repertório de competição ser tão pequeno. A intenção não é confinar os jovens músicos, mas servir de ponto de partida para suas próprias invenções. Nenhuma performance é igual a outra.

Como escreveu Kevin Kmetz, mestre em shamisen que trabalhou na música de Kubo e as Cordas Mágicas, interpretar uma peça é “mais um gesto musical que uma composição de verdade”.

Ainda assim, ter liberdade para improvisar não significa que o tsugaru-jamisen seja um vale-tudo. Tanto o repertório quando as variações permitidas “dentro de limites estritos”, que “tem se tornado cada vez mais canonizados e codificados” com o passar do tempo.

Em Mashiro no Oto, Setsu aprende isso da maneira mais difícil quando decide mudar drasticamente seu som na metade de performance. O ato de rebeldia sucede em irritar sua mãe, que o obrigara, contra sua vontade, a imitar o estilo do avô. Infelizmente, ele não impressiona os jurados, que deduzem sua pontuação.

Claro, a situação é outra fora das competições. Graças à liberdade que dá a seus intérpretes, o tsugaru-jamisen conseguiu incorporar elementos de vários gêneros populares, do jpop ao rap. Bandas como os Irmãos Yoshida – que providenciaram consultoria para Mashiro no Oto, além de tocarem na sua música de ending – estão constantemente levando o instrumento ao encontro de novas influências.

Show dos Irmãos Yoshida no Teatro Sérgio Cardoso, São Paulo. Fonte

Ver o tsugaru-jamisen ao lado de sambistas talvez seja radical demais mesmo para alguns fãs do instrumento. Ainda assim, é possível que Nitabo, o lendário criador do estilo, reagisse a isto com um sorriso. Afinal, como disse Hiroshi Odawara em Mashiro no Oto:

[No começo] não havia barreiras nem limitações. Eu acho que a força e o ritmo que o futuzao proporciona é como a alma dos japoneses. Isso que é o “blues”. Tradição? Regras? Eu não acho que existiam essas coisas no começo. Afinal, o fundador do tsugaru-jamisen, Nitabou, e seus aprendizes [ estavam ] sempre estão criando coisas novas. O estilo muda junto com o tempo.”

“O tsugaru-jamisen superou Tsugaru”

Referências bibliográficas

BARSKY, J. Shaping a Music Genre through Competition and Virtuosity : 21st Century Tsugaru Shamisen Contests in Aomori Prefecture, Japan. Dissertação de mestrado: Universidade do Havaí, 2013. Disponível aqui.

HUGHES, D. Folk Music: from local to national to global. In: TOKITA, A.; HUGHES, D. (Eds.) The Ashgate Research Companion to Japanese Music., pp. 281-302

JOHNSON, H. Tsugaru Shamisen : From Region to Nation (and Beyond) and Back Again. Asian Music, v. 37, n.1, 2006, pp. 75-100

PELUSE, M. Not Your Grandfather’s Music: Tsugaru Shamisen Blurs the Lines Between “Folk,” “Traditional,” and “Pop”. Asian Music, v. 36, n. 2, 2005, pp. 57-80

TOKITA, A.; HUGHES, D. Context and change in Japanese music. In: TOKITA, A.; HUGHES, D. (Eds.) The Ashgate Research Companion to Japanese Music. , pp. 1-33

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4 maneiras como a música transforma nossa experiência com os games https://www.finisgeekis.com/2019/11/06/4-maneiras-como-a-musica-transforma-nossa-experiencia-com-os-games/ https://www.finisgeekis.com/2019/11/06/4-maneiras-como-a-musica-transforma-nossa-experiencia-com-os-games/#respond Wed, 06 Nov 2019 20:18:41 +0000 http://www.finisgeekis.com/?p=22055 Pense em algum jogo que tenha te emocionado, e é provável que não é apenas do gameplay que você se lembrará. Jogos têm muitos atrativos. Alguns deles só ganham vida com a batuta de um maestro.

Às vezes, são músicas que fazem parte da mecânica, como as melodias de Zelda: Ocarina do Tempo. Às vezes, são trilhas bombásticas como as da série Final Fantasy ou Nier: Automata. Em outras, são “palhinhas” das próprias personagens, como a canção de Leliana em Dragon Age: Origins ou o dueto de Booker e Elizabeth em Bioshock: Infinite.

Troy Baker e Courtnee Draper, dubladores de Booker e Elizabeth, praticam o dueto de seus personagens em “Bioshock: Infinite”

Seja qual for a melodia que nos faça arrepiar, é inegável que os games não seriam os mesmos sem elas. O que muitos fãs não imaginam é que existe toda uma ciência – quando não  feitiçaria – por trás das trilhas que tanto amamosQue afeta não apenas o que ouvimos, mas também o que vemos, sentimos – e até pensamos. 

Quem conta é Winnifred Phillips, compositora das trilhas para franquias como God of War, Assassin’s CreedLittle Big Planet, que coleciona prêmios por suas músicas e escritos. No livro A Composer’s Guide to Game Musicela destrincha o que faz de instrumentos e joysticks parceiros tão perfeitos um para o outro:

1) A música pode fazer o tempo “passar” mais rápido… ou mais devagar

Sayonara Wild Hearts

Você já teve a impressão de gastar horas em uma jogatina para descobrir que apenas 20 minutos haviam se passado? Ou, pelo contrário, ligar o console para completar algumas side-quests e descobrir, alguns níveis depois, que a noite já caiu?

Para a surpresa de ninguém que já sentiu as horas voarem durante um show, a música afeta nossa percepção de tempo.

Segundo um estudo, músicas escritas em tons maiores fazem ouvintes perceberem a passagem do tempo de forma mais lenta, enquanto que as escritas em tons menores dão a impressão de que os minutos passam mais rápido. Outros estudos encontraram efeitos parecidos relacionados ao volume, andamento e complexidade das músicas. `

Essa propriedade é fundamental para um game como Sayonara Wild Hearts, “álbum interativo” lançado para consoles que coleciona elogios desde o seu lançamento em outubro.

Com apenas 1h de duração, o game precisa convencer as pessoas de que vale a pena comprá-lo em vez de um jogo mais longo. Para alguns críticos, pelo menos, seu híbrido de música e gameplay foi tão efetivo que transformou essa hora em  uma das melhores de suas vidas.

Opinião similar têm os fãs de GRISgame singelo com pouco mais de 3h de duração, que compensa a simplicidade de seus quebra-cabeças com uma trilha de arrancar lágrimas.

O inverso vale para jogos muito longos, que podem afugentar quem tem pouca paciência para atividades repetidas. Ter de revirar cada pedra em uma sandbox da Ubisoft, ou morrer trocentas vezes diante de um chefão num roguelite não é o programa de fim de semana mais agradável para quem é adulto e tem horas limitadas de tempo livre. Uma trilha sonora eficiente, porém, nos faz mergulhar nas tarefas mais meniais sem que percebamos o tempo passar.

Quem já perdeu dezenas de horas mineirando irídio em Mass Effect 2 pelo puro prazer de escutar a música do Galaxy Map sabe bem do que estou falando.

2) A música afeta a forma como enxergamos

Que a música mude nossa percepção do tempo é fácil de entender. Música, afinal, nada mais é que notas e pausas espalhadas pelo tempo.

Menos óbvio é saber que ela muda também o que nossos olhos são capazes de ver.

Um estudo da Universidade de Groningen, citado por Phillips, colocou pessoas diante de imagens de rostos escondidas por ruído e pediu a elas que identificassem o que viam. Parte das pessoas cumpriu a tarefa ouvindo música triste; a outra metade, música alegre.

Os pesquisadores descobriram que aqueles que escutavam música triste identificaram rostos tristes com mais facilidade. Música alegre, por outro lado, tinha um efeito parecido com rostos felizes. Alguns dos participantes foram tocados de tal forma pela música que disseram ver rostos felizes ou tristes mesmo onde não existiam rostos!

Nier: Automata, possuidor de uma das trilhas mais marcantes dos últimos tempos, é um exemplo do que games são capazes quando colocam isso em prática.

Logo de início, o jogo nos lança em uma cidade em ruínas, sem uma alma sapiente exceto inimigos que querem nos matar. É nosso primeiro contato com o que restou da Terra no futuro apocalíptico do jogo. Fiel à imagem de desolação, a trilha que nos embala é melancólica e sutil. Contudo, assim que descobrimos o acampamento da Anemone – nossos primeiros aliados vivos no planeta – a música se torna mais vigorosa e bombástica, até explodir em um vocal esperançoso.

O que era o esqueleto de uma cidade morta se torna o primeiro estágio de uma jornada épica.

Independente da emoção que um jogo quer despertar, a música também afeta o quanto do jogo nós somos capazes de ver ao mesmo tempo.

Outro estudo citado por Phillips revelou que estar de bom humor  aumenta o campo de visão de uma pessoa, enquanto que emoções negativas tornam nossa vista mais restrita.

É uma estratégia usada com frequência em jogos de terror. Ao nos bombardear com música tensa, estes games nos deixam estressados, o que reduz nossa visão periférica. E nos deixa mais vulneráveis a  todo tipo de monstro, zumbi ou cachorro assassino prestes a nos emboscar.

A infame cena dos cachorros do primeiro Resident Evil, um dos jumpscares mais famosos da história dos games, é a prova viva de que essa ideia funciona.

3) A música afeta que mensagem tiramos das histórias

De todas as coisas que a música poderia influenciar, histórias contadas não parecem estar muito altas na lista. Livros, afinal de contas, não precisam de trilha sonora. Romeu e Julieta não se torna menos trágico se o lermos escutando Kpop (possivelmente, torna-se  ainda mais trágico, se bem que não pelos mesmos motivos). 

Phillips discorda. E traz argumentos para provar seu ponto.

A compositora cita um estudo da Universidade Hildesheim, na Alemanha que sugere que a música muda a forma como interpretamos o enredo de uma obra. 

Os pesquisadores gravaram um curta que acabava em um cliffhanger e o combinaram com cinco trilhas sonoras de estilos e humores diferentes. Cada participante teve de assistir apenas a uma das versões e dar sua opinião sobre a motivação das personagens e o que aconteceria depois.

Ao compararem as respostas dos diferentes grupos, os pesquisadores descobrirem que elas eram “batiam” com o humor da música. Ouvir um ou outro tipo de trilha sonora fez com que as pessoas avaliassem as motivações das personagens de forma distinta. Não só isto, a música também afetou suas previsões sobre o provável final do filme.

Até que ponto a trilha de um determinado jogo não nos faz entender a história de uma forma ou de outra? Nos faz tomar essa personagem como heroína ou aquela outra como vilã? É difícil responder a essa questão, pois raramente temos a oportunidade de jogar uma mesma cena com várias trilhas diferentes.

Philips, porém, dá alguns exemplos de como essa “manipulação musical” geralmente acontece. O mais comum é dar temas específicos a personagens ou lugares e repeti-los ao longo dos jogo. Isto permite que sua atenção seja “guiada” ao que os autores querem dizer.

Em Mass Effect 3, por exemplo, o reencontro de Shepard e sua ex-companheira, Miranda Lawson, é embalado pela faixa Reflections, trilha da cena de romance de Mass Effect 2. Associar a personagem a esta música tem o efeito de provocar uma sensação de carinho e nostalgia, independente do jogador ter ou não feito perseguido um romance com Miranda no jogo anterior – ou mesmo gostar dela para início de conversa.

Witcher 3 faz algo similar com o tema Kaer Morhenouvido pela primeira vez no tutorial, ambientado na fortaleza ancestral dos witchers. Esta fortaleza reaparece mais à frente, não mais como um castelo imponente, mas uma triste ruína. O tema também retorna em uma versão alternativa, tão dilapidada quanto as paredes de Kaer Morhen.

Se rever a casa de Geralt neste estado já seria triste por si só, a música faz da visita uma experiência devastadora, preparando-nos para um episódio trágico que, logo descobrimos, terá na fortaleza o seu palco.

4) Músicas despertam empatia como se fossem pessoas de verdade.

Quase todos nós temos uma música do peito. Nem por isso diríamos que gostamos dela da mesma forma como gostamos do nosso namorado ou de nossa mãe. Coisas inanimadas são uma coisa;  pessoas são outra, completamente diferente.

Para Phillips, contudo, a diferença pode ser mais sutil do que imaginamos.

Um estudo publicado na revista Music Perception descobriu que a música emociona mesmo pessoas que têm dificuldade em expressar ou reconhecer sentimentos, como os que fazem parte do espectro autista. A hipótese dos autores é que, ao ouvir uma música, nós subconscientemente a imaginamos como uma “persona” por quem sentimentos empatia, como se fosse outro ser humano.

Isso é importante para games porque empatia, junto com atmosfera, é um dos requisitos para se chegar à presença virtual, um estado de completa imersão em que o mundo exterior parece sumir, e sentimos-nos, literalmente, transportados ao jogo.

Se você já chegou nesse estágio na sua experiência com algum game, é muito provável que tenha sido embalado por alguma música.  Sejam os temas icônicos de Chrono Trigger ou a canção de Mordin em Mass Effect 3, prestes a dar a vida para destruir o genophage.

E talvez os gráficos, nomes e mesmo tramas por trás desses momentos um dia sumam de nossa memória. Mas a música, provavelmente, continuará. E nós trará calafrios cada vez que a escutarmos por acidente.

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18 insert songs que marcaram seus animes (parte 2) https://www.finisgeekis.com/2015/10/12/18-insert-songs-que-marcaram-seus-animes-parte-2/ https://www.finisgeekis.com/2015/10/12/18-insert-songs-que-marcaram-seus-animes-parte-2/#respond Mon, 12 Oct 2015 17:01:19 +0000 http://finisgeekis.com/?p=778

(Essa é a segunda parte de uma lista. Para ver a primeira, clique aqui.)

9) Call Your Name – Attack on Titan

Outro da recente leva mainstream que não dá para deixar passar. Além de cenas de ação eletrizantes e um elenco carismático, Attack on Titan entregou uma trilha de peso, com faixas instrumentais marcantes, canções de tirar o fôlego e um dos openings mais populares da história do anime.

Com as devidas menções honrosas a Reluctant Heroes e Bauklötze, é Call Your Name que ganha os louros de grande hino da série. Tocada quando Eren, Mikasa e Armin finalmente ingressam no Survey Corps, a canção acompanha o divisor de águas do anime, o momento em que os jovens – agora soldados formados – se preparam para tomar o ofensiva contra os titãs. Nenhuma faixa é mais fiel ao espírito de heroismo e rebeldia da série como essa.

8) Hai Iro no Suiyobi – Mawaru Penguindrum

Esse é um insert song tão marcante que foi “promovido” a ending na segunda metade do anime. E não por acaso.

Tal como outras canções da trilha, Hai Iro no Suiyobi é um cover da banda ARB, interpretada na série pelo fictício trio HHH. Longe de perfumaria, as músicas do grupo cumprem um papel essencial na história. À medida que as peças de quebra-cabeça entram em seus lugares e a fábula surrealista de Penguindrum dá lugar a um drama sobre solidão e terrorismo, o trágico envolvimento das personagens com o HHH começa a se tornar aparente.

7) Ningyo Hime – Chobits

Oficialmente, esse é o segundo ending de Chobits, mas uma versão alternativa tocou no episódio 14, acompanhando uma das maiores revelações do seriado.

Usar openings e endings como insert songs não é nenhuma novidade. Seja para poupar verba com o licenciamento de novas canções (como em Sailor Moon e outros animes gigantes de sua época), seja para aumentar a carga dramática de uma cena específica, a prática é comum.

Chobits, no entanto, se destaca pela importância da cena em particular. Em um anime já recheado de romances trágicos e amantes perdidos, Hideki flagra (SPOILER WARNING para um anime de 13 anos) a professora Shimizu nos braços de seu melhor amigo, Shinbo.

Ningyo Hime ainda não tinha sido utilizada como ending até esse ponto, o que só tornou o episódio ainda mais chocante. Nada mal para uma série que, a despeito da temática ecchi, se mostrou uma das mais profundas da CLAMP.

6) Tennyo no Uta – A Lenda da Princesa Kaguya

Kaguya Hime não é apenas um dos melhores animes dos últimos tempos, mas uma das animações mais bonitas já feitas. De sua qualidade, basta dizer que é um dos poucos filmes a ter uma nota de 100% no agregador Rotten Tomatoes.

Como eu já disse certa vez, boa parte do charme do longa está no visual, feito para imitar a arte japonesa do período Heian.

A música não ficou para trás, como prova Tennyo no Uta, canção tradicional que acompanha a trajetória da protagonista. Presa em uma vida que não escolheu, vê na melodia um refúgio contra o mundo frio e desumano da nobreza.

5) No One’s Home – Darker than Black

Darker than Black é o anime que Charlotte seria caso abrisse mão de seus 12 primeiros episódios e construísse um enredo a partir do último.

O conto de mercenários mutantes, conspirações internacionais e muita ação logo de cara mostra que não está de brincadeira. Já nos seus primeiros episódios nos presenteia com No One’s Home, uma canção lenta e sombria que casa perfeitamente com sua vibe mais adulta.

Como a segunda temporada de True Detective mostrou (a despeito de todos os seus problemas), uma música down com um vocal feminino faz toda a diferença na hora de acertar o tom de um história.

4) Kodoku no SIGNALSerial Experiments Lain

Lain não é uma série abertamente musical, apesar de dispor de um dos melhores openings já feitos. Na maior parte do tempo, o anime preferiu ornar sua estética cyberpunk com uma trilha abstrata, repleta de ruídos e composições atonais.

Isso muda (como bem havia de mudar) no último episódio. Kodoku no SIGNAL é uma surpresa em uma série já repleta de surpresas, um convite à realidade após 13 episódios de um suspense cerebral que nos fez questionar nossa própria lucidez.

3) Call Me Call Me – Cowboy Bebop

Cowboy Bebop é menção obrigatória para qualquer artigo sobre música em animes. A série, justamente considerada uma das melhores já produzidas, superou todas as espectativas com uma trilha variada e criativa que transformou a jornada de seus aventureiros espaciais em um monumento à animação.

Seria possível encher uma seleção inteira apenas com canções da série. No entanto, mesmo comparada aos altíssimos padrões do anime, Call Me Call Me merece uma posição de destaque. O insert song do episódio 24 dá o tom a uma das cenas de separação mais inesquecíveis da telinha.

A faixa é uma colaboração de Yoko Kanno com Steve Conte, o mesmo cantor que emprestou sua voz a Heaven’s not Enough, de Wolf’s Rain. Para alguns, suas músicas para anime foram o auge da carreira de Conte. Entre esses dois exemplos, não tenho como discordar.

2) Canta per Me – Noir

Todos os animes têm trilhas. Muitos animes têm trilhas inesquecíveis. Pouquíssimos animes, contudo, têm músicas de tal forma sensacionais que roubam o lugar do roteiro e narram elas mesmas a história.

Noir é uma joia perdida dos idos de 2000, um conto sombrio e intimista sobre duas assassinas profissionais em uma jornada para conhecer o próprio passado. O anime é levíssimo em termos de diálogos e deixa às suas canções a tarefa de comunicar a tensão das cenas e os sentimentos das personagens.

Com qualquer outro compositor é possível que o resultado fosse um fracasso. Para nossa sorte, Noir caiu nas mãos de Yuki Kajiura, uma das musicistas mais icônicas do mundo do anime. Esqueça Tsubasa, Madoka ou Mai-Hime: é em Noir que a compositora mostra aquilo de que é capaz.  Melhor que Canta per Me, apenas Canta per Me… ao vivo.

1) Country Road – Whisper of the Heart

Como não podia deixar de ser, o melhor sempre fica por conta do Studio Ghibli. Whisper of the Heart é uma animação menor e pouco conhecida da trupe de Miyazaki. Em vez de espíritos das florestas e cidades voadoras, o longa acompanha a relação de uma aspirante a escritora com um aprendiz de luthier (fabricante de violinos).

Em dado momento, as personagens fazem uma palhinha e nos dão sua versão de Country Road,  clássico de John Denver. Tudo no clipe é perfeito, do acompanhamento do violino ao momento em que os luthiers se unem à cantoria com uma viola da gamba e um alaúde.

Os puristas devem estar se perguntando por que coloquei o link da versão dublada, e não da original. Geralmente dou prioridade ao áudio japonês, mas nesta canção específica não há comparação. Talvez seja o John Denver, mas a performance da dubladora americana de Shizuku é simplesmente a definitiva.

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18 insert songs que marcaram seus animes (parte 1) https://www.finisgeekis.com/2015/10/05/18-insert-songs-que-marcaram-seus-animes-parte-1/ https://www.finisgeekis.com/2015/10/05/18-insert-songs-que-marcaram-seus-animes-parte-1/#comments Mon, 05 Oct 2015 15:48:22 +0000 http://finisgeekis.com/?p=773

Na semana passada falei de Charlotte e de seu criador, Jun Maeda. Compositor de formação, Maeda é famoso pela verve musical de seus animes, os quais muitas vezes contam com canções escritas por ele mesmo.

Insert songs, como o nome já diz, são canções tocadas no meio de episódios. Elas podem ser músicas incidentais ou performances propriamente ditas, tal como as da banda ZHIEND em Charlotte. Se há tempos produtores aprenderam a investir em melodias chamativas para seus openings endings, alguns criadores perceberam que incluir canções ao longo da série poderia levar seus animes a um novo patamar.

Essa é uma lista de 18 animes cujos criadores tiveram essa sacada. Sozinhos, eles já seriam ótimos exemplos de seus gêneros. Acompanhados por suas canções, no entanto, eles se tornaram alguns dos títulos mais marcantes de suas temporadas.

18) God Knows – A Melancolia de Haruhi Suzumiya

Essa é batida, mas não dá para falar de insert songs sem inclui-la. Haruhi Suzumiya foi a série que deu as linhas para uma geração inteira de animes, e na música não foi diferente. Ela pode não ter sido a primeira produção a incluir um show no meio de um episódio, mas foi a responsável por levar a prática à moda. Sem God Knows, é pouco provável que tivessemos Dead Girl Monster ou ZHIEND.

17) For You – Shigatsu wa Kimi no Uso

Como todo anime de música clássica, a maior parte da trilha de Shigatsué composta de peças eruditas. Isto não impediu que sua trama, um dos destaques da vibe “feels” dos últimos tempos, não contasse com composições modernas.

O insert song For You é uma delas. Uma canção doce e melancólica, tal como a relação de Kousei e Kawori que acompanhamos ao longo dos episódios.

16) Heaven’s not Enough – Wolf’s Rain

Wolf’s Rain é um misto de conto de fadas com ficção científica pós-apocalíptica. Após o colapso da civilização, uma matilha de lobos busca uma flor que os levará ao paraíso.

O enredo fora de série só tem páreo na trilha, assinada pela Yoko Kanno, compositora de Cowboy Bebop. O anime está repleto de canções – uma das quais interpretada pela nossa Simone – mas é Heaven’s not Enoughque rouba a cena. Apresentada logo no primeiro episódio e repetida ao longo da série, ela nos lembra a todo momento da tristeza do mundo destruído e da determinação dos lobos ao buscarem uma razão para a vida.

15) Servante du Feu – Sora no Woto

Sora no Woto é um anime frequentemente comparado a K-ON! Entre outras coisas, isso significa dar um grande destaque para a música.

Mesmo aqueles que não gostam de moe não têm como negar a qualidade de seus valores de produção. De referências ao Pássaro de Fogo de Stravinsky à ambientação em uma cidade baseada na histórica Cuenca, na Espanha, a série é simplesmente um primor. Não é exatamente uma surpresa, portanto, que logo no primeiro episódio ela nos entregue uma bela canção em francês – talvez a última coisa que esperamos ao assistirmos animação japonesa.

14) Ai no Senshi – Sailor Moon

É impossível fazer qualquer lista sobre animes marcantes sem incluir Sailor Moon. A série é não apenas a mãe do gênero shoujo, como foi responsável por popularizar a animação japonesa ao redor do globo nos anos 1990.

Assim, não é de se espantar que conte com um dos mais famosos insert songs de todos os tempos. Ai no Senshi é uma excelente canção, com uma pegada upbeat que combina perfeitamente com a série. Mais do que isso, em um anime de cenas de luta relativamente estáticas, a sequência do episódio 68 foi de cair o queixo.

Que ela pôde ser feita do jeito que foi é quase um milagre. Sailor Moon pertence a outra época, em que animes tinham orçamentos limitados e a produção optava pela quantidade em vez da qualidade. Muitos de seus episódios eram mal animados, e seuopening, MOONLIGHT Densetsu, era muitas vezes tocado nos episódios para evitar despesas com insert songs. A decisão de incluir não apenas uma faixa nova, mas um clipe inteiro para acompanhá-la foi por si só uma ousadia. Felizmente, bem recompensada.

13) Ki ni Naru Aitsu – Cardcaptor Sakura

Pode ser fanboyismo da minha parte, mas acho incrivelmente difícil escolher uma única canção para Sakura. Fugindo do óbvio, do “formal”  e do kawaii, fico com Ki ni Naru Aitsu.

Trata-se do insert song do episódio 57, em que Sakura e seus amigos vão a uma exposição de ursos de pelúcia, e Shaoran finalmente admite a si mesmo que está apaixonado. Em outras palavras, este episódio:

sakura elevator

A canção é interpretada pela própria seiyuu do Shaoran, e mereceu um clipe inteiro, na fórmula que Sailor Moon já havia testado. Nada mais digno para um dos momentos mais importantes da série.

12) Again and Again – Plastic Memories

A mistura de Chobits com A Partida pode não ser o anime mais cabeça de todos os tempos, mas acerta em cheio no quesito “feels”. Logo no primeiro episódio fez marmanjões chorarem com um clímaz tocante acompanhado por uma canção que poderia se tornar a definição auditiva de “bittersweet”.

Again and Again eventualmente tornou-se o hino de Isla e Tsukasa, integrando a trilha sonora nos momentos mais doces do casal.

11) D-City Rock – Panty and Stocking with Garterbelt

Panty and Stocking é uma série tão propositalmente “errada”  que há quem até questione se é de fato um anime. Paródia politicamente incorreta do gênero mahou shoujo animado em estilo ocidental, à laMeninas Superpoderosas, a série é cruel no humor e não perdoa nada. Nem os insert songs.

Assim, é de certa forma extraordinário que a série nos tenha mostrado um dos melhores clipes in-episode de memória recente – e um dos mais espirituosos tributos animados ao rock das últimas décadas.

10) Dreamscape & You Are My Love – Tsubasa Reservoir Chronicle

Ok, aqui admitirei que estou roubando, mas por um bom motivo. Se escolher uma única canção é difícil para Sakura, é impossível paraTsubasa. Poucas séries de sua geração foram tão musicais. Yuki Kajiura, sempre um nome de peso, fez um de seus trabalhos mais longos e versáteis, com ampla colaboração de suas cantoras favoritas.

Para não dizer “todas”, decidi-me entre duas músicas, escolhidas não por serem melhores que as outras, mas justamente porque são muito diferentes entre si.

Dreamscape faz homenagem ao espírito fantástico e exuberante dos primeiros episódios, em que a excitação com os universos paralelos que Shaoran e seu grupo descobrem só não é maior do que a de rever personagens consagradas da CLAMP.

You Are My Love por sua vez, é a faceta melancólica, dos momentos de nostalgia e tristeza. É também um lembrete aos espectadores que a série logo logo perderia sua vibe “alegrinha” e tomaria rumos negros. ApósTokyo Revelations, nada mais seria como antes.

(A parte 2 será publicada semana que vem)

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A ‘Wild Hunt’ na música clássica https://www.finisgeekis.com/2015/09/24/a-wild-hunt-na-musica-classica/ https://www.finisgeekis.com/2015/09/24/a-wild-hunt-na-musica-classica/#respond Thu, 24 Sep 2015 18:37:30 +0000 http://finisgeekis.com/?p=740 no meu primeiro post nesse blog eu disse que o mais sensacional do universo geek é sua capacidade de agregar aquilo que está do lado de fora. Para a surpresa dos que rotulavam todos os videogames como “baixa cultura”, isso inclui as maiores obras-primas da humanidade.

No meu artigo sobre The Witcher, eu mencionei que a série é baseada na mitologia eslava, e que algumas de suas lendas já haviam servido de inspiração a compositores. A ‘Caçada Selvagem’, tropa de cavaleiros fantasmagóricos que Geralt enfrenta no homônimo The Wild Hunt, não é exceção. Há algo de muito badass em guerreiros voadores que roubam as almas das pessoas em tempos de guerra, e isto não escapou à atenção dos grandes mestres da música.

Se você já jogou ou pretende jogar The Wild Hunt e precisa de uma trilha sonora para entrar no clima (ou só quer relembrar a luta sensacional contra Imlerith), vai aqui uma pequena seleção.

Gurre Lieder, de Arnold Schoenberg

Gurre Lieder é uma peça monumental para coro e orquestra sobre uma história trágica de amor. O texto acompanha a paixão do rei Valdemar IV da Dinarmarca por Tove, a qual é eventualmente assassinada. Dramática como é, a história não podia deixar de chamar a atenção dos cavaleiros espectrais. Uma das canções da 3a parte soará familiar a todos os fãs do game da CD Projekt Red:

Salve, ó rei, na praia de Gurre!

Agora nós caçamos ao longo da ilha!

Holla!

Atirando flechas de arcos sem corda,

com olhos vazios e mãos esqueléticas,

Atingindo a imagem espectral do cervo,

De forma que o orvalho do bosque brote da ferida.

Holla! Os corvos do cadafalso nos seguem,

Sobre as copas das árvores trotam os cavalos,

Holla!

Então nós caçamos como era dito,

toda noite até o juízo final.

Estudo Trancendental N.8, ‘A Caçada Selvagem’, de Franz Liszt

Liszt é conhecido como um dos maiores pianistas de todos os tempos e adaptador de vários clássicos à música, de Fausto à Divina Comédia. Húngaro de nascença, ele também pagou seu tributo ao famoso mito eslavo. Um de seus Estudos Trancedentais é dedicado à Caçada Selvagem.

De minha parte, não sei o que é mais assustador: a força e velocidade da peça ou o rosto do intérprete, que parece ter feito um pacto com Eredin e seus tenentes.

O Franco Atirador, de Carl Maria von Weber

A ópera O Franco Atirador não é exatamente sobre a Caçada Selvagem, mas sobre um caçador que faz um pacto com o demônio para conseguir balas que nunca errassem o alvo. No entanto, seria uma heresia deixar o terror dos cavaleiros fantasmagóricos de fora de uma história macabra como essa.

Maria von Weber deve ter concordado, pois incluiu a aparição da Caçada em sua cena mais tensa. Em dado momento, o protagonista visita o Caçador Selvagem (na história, um disfarce para o demônio), e testemunha uma série de horrores, incluindo a tropa voadora.

Cenário de

Cenário de “O Franco Atirador” usado em uma apresentação de 1822

Maria von Weber tinha uma afinidade com a Caçada Selvagem, pois escreveu ainda outra peça sobre ela. A música, com seu forte tom marcial, acabou virando canção de marcha para os soldados prussianos nas Guerras Napoleônicas. Nada melhor para afugentar um inimigo que se comparar a um exército de mortos-vivos.

]]> https://www.finisgeekis.com/2015/09/24/a-wild-hunt-na-musica-classica/feed/ 0 740 “O Homem de Palha” que você nunca conheceu https://www.finisgeekis.com/2015/06/15/o-homem-de-palha-que-voce-nunca-conheceu/ https://www.finisgeekis.com/2015/06/15/o-homem-de-palha-que-voce-nunca-conheceu/#respond Mon, 15 Jun 2015 20:29:49 +0000 http://finisgeekis.com/?p=362

Christopher Lee, morto semana passada, foi um daqueles homens que nos fazem perguntar o que tanto fazemos sentados no sofá. Em 93 anos de vida, interpretou mais de 250 papeis, lutou em quase todos os fronts da Segunda Guerra Mundial e aproveitou para escalar o Monte Vesúvio durante uma folga após a batalha de Monte Cassino – uma das mais sangrentas do conflito. Falava inglês, italiano, francês, espanhol, alemão, sueco, russo, grego e mandarim. Era treinado em canto lírico e gravou CDs de Heavy Metal, tornando-se o músico mais velho a entrar na lista de mais ouvidos do Reino Unido. Foi amigo de J.R.R. Tolkien e primo de Ian Fleming, o criador de James Bond.

Cada um tem uma razão especial para lamentar sua morte. Para alguns, foram os vilões a quem deu vida no fim de carreira, Saruman e Conde Dooku. Para as gerações mais antigas, talvez seja sua interpretação do Conde Drácula. De minha parte, cito aquele que, na opinião do grande ator (e desse humilde blogueiro) foi o seu melhor filme: O Homem de Palha de 1973.

Em situações normais, bastaria citar o título para deixar registrada a homenagem. Infelizmente, O Homem de Palha foi um filme tão diferente, tão mutilado por cortes, prejudicado por uma distribuição maluca e pelo seu próprio legado que a recomendação precisa de uma disclaimer. Assim, aqui vão três pontos para tentar encorajar os que até agora nunca se interessaram por  esse clássico do terror a vê-lo.

1. Não tem nada a ver com Nicolas Cage

Remakes são uma coisa estranha. Se bem feitos, podem ajudar uma franquia a sobreviver aos anos ou mesmo ressuscitar uma série depois de décadas de esquecimento. Se mal feitos, no entanto, condenam qualquer obra ao deboche. O Homem de Palha, já um fracasso de bilheteria quando foi lançado em 1973, sentiu isso na pele. O remake de 2006, além de ter sido (até então) o maior pé na jaca da carreira de Nicolas Cage e fonte de um dos memes mais batidos da internet, não entendeu nada do material de origem.

O Homem de Palha é um filme sobre um policial, o sargento Howie, que descobre uma comunidade de pagãos no interior da Escócia. Enquanto que o mundo deu voltas e abraçou a modernidade, um líder carismático, Lord Summerisle, mantém aquele pequeno grupo de pessoas no mesmo lugar que estavam na época dos druidas. O terror do filme está em observarmos aquela vila pacata, de rostos sorridentes e costumes esquisitos, e sentirmos que algo está muito errado. Em especial quando entendemos que este povo pretende sacrificar uma pessoa queimando-a dentro de um boneco de palha.

wicker-man-1973-4O remake de 2006, para se adequar aos padrões gore do que se passa por “terror” hoje em dia, nos deu uma seita de endiabrados sádicos, cenas de tortura e esquemas maquiavélicos para ludidriar pobres inocentes a seu povoado da perdição. Mas não é nada disso que O Homem de Palha quis dizer. Os aldeões do filme de 1973 não demonstram sadismo, apenas indiferença, uma tranquilidade fria com o modo como “as coisas têm de ser”.  Animais morrem, são comidos por outros, procriam e envelhecem. O mundo é regido pelos deuses da natureza, e tudo em seu cotidiado envolve agradá-los. O sacrifício é uma medida de emergência, um pedido de desculpas para o que eles entendem ser fruto da ira divina: o fracasso da colheita, coisa que desde a fundação da vila nunca acontecera. O homem de palha é uma exceção, não o que define a seita.

2. É um musical

wicker man 2

Não, você não leu errado. O Homem de Palha é um musical, ou o mais próximo de um que você vai encontrar no cinema britânico de horror de quarenta anos atrás.

Quando o sargento Howie chega à comunidade pagã, o que ele encontra é uma aldeia que vive em função da música. Faz sentido. Como disse no item acima, a intenção do diretor foi criar uma seita plausível, que vive de acordo com suas crenças. E todas as religiões, de uma forma ou de outra, têm música em seus cultos. Por que o paganismo de Summerisle seria diferente?

As canções não aparecem apenas de forma incidental. Pelo contrário, muitas vezes são elas que avançam o enredo. É por meio da música – e de suas letras sugestivas – que o sargento Howie descobre que há algo muito errado com a “educação” das crianças na ilha:

Mais tarde, a filha do taverneiro tenta seduzir o policial. A cena é contada inteiramente pela música:

O próprio Christopher Lee não perde a chance de mostrar sua voz e canta um dueto como o Lord Summerisle:

E, para o clímax, o filme nós traz um acompanhamento quase tão impressionante quanto seu desfecho: Summer is Icumen In, uma canção do século XIII cantada em médio inglês:

Dá para entender porque um cantor como Christopher Lee gostou tanto de participar desse projeto.

3. Segundo o filme, o “paganismo celta” nunca existiu

Isso pode soar absurdo para quem nunca assistiu ao filme, mas é parte de um grande twist em seu enredo. Tão grande, aliás, que colocarei um SPOILER WARNING aqui para aqueles que não quiserem maiores detalhes. (Não que ‘estrague’ o filme de qualquer maneira. Se nada mais, é até interessante assisti-lo do começo com isso em mente).

Christopher Lee ) Lord Summerisle is the leader of a small village at the isolated island of Summerisle. The inhabitants practice old, pre-Christian pagan beliefs. And sometimes they sacrifice an adult male virgin.

Saruman: Origins

Em um dado momento, o sargento Howie pede ao Lord Summerisle autorização para exumar a tumba de uma garota que acredita ter sido assassinada na vila. Durante a conversa, ele descobre a história do vilarejo. Originalmente, Summerisle era uma típica ilha escocesa: fria, pobre e rochosa. Em 1865, no entanto, o avô do atual líder, um agrônomo vitoriano de grande renome, percebe que o local tem a combinação de solo e clima ideal para a criação de plantas exóticas. A empreitada tinha o potencial de revolucionar a economia da região, mas havia um problema: como convencer as pessoas de que uma ilha desolada subitamente havia se tornado um paraíso da agricultura? Era necessário contar uma pequena mentira. Os “deuses antigos” haviam retornado e abençoado a ilha com prosperidade.

Óbvio que para o truque funcionar era preciso fazer uma performance convincente. Eis, então, que o agrônomo vitoriano se pôe a copiar os clichés mais famosos de paganismo celta: danças ao redor de fogueiras, ritos de fertilidade, o Green Man e, é claro, o costume gaulês de queimar um homem de palha como oferenda aos deuses. Com o tempo, o que era invencionice virou dogma. Nas palavras de Lord Summerisle, o que seu avô fizera por necessidade ele continuara por devoção.

Como, entretanto, alguém convence uma comunidade inteira a viver de tal maneira? Para o historiador Ronald Hutton, isso não só é explicável como aconteceu de verdade, mas ou menos na mesma época em que o avô de Summerisle, no filme, chega à ilha.  Segundo ele, o que hoje se chama de “paganismo celta” foi inventado duzentos anos atrás nos dois países mais obcecados com “a moral e os bons costumes” de sua época: a Alemanha e a Inglaterra vitoriana. Entre a rigidez dos valores cristãos, a modernização e mecanização do trabalho, o rigor das teorias científicas e o crescimento das grandes cidades, parte da população disse basta. Eles queriam uma vida simples, próxima à natureza, aos velhos costumes, à sabedoria popular. Se o mundo “de verdade” não entregava mais isso, precisavam apelar à magia.

Quer dizer que os antigos povos das Ilhas Britânicas não tinham uma religião própria? Claro que tinham. Mas esse paganismo não tem nada a ver com o paganismo “new age” que ganhou popularidade ao longo do século XX. Pelo contrário, este último foi feito sob medida para ser o exato oposto da moral vitoriana. Algo que o desconforto do sargento Howie ilustra muito bem. Se o policial é casto e reserva a virgindade para sua mulher, os habitantes de Summerisle participam de orgias todas as noites. Se Howie se guia pela ciência, as professoras da seita ensinam superstições aos seus alunos. Se ele defende o Estado e a justiça pública, o vilarejo prefere cuidar de seus próprios problemas. Se ele acredita num Deus que nos observa do Paraíso, eles acreditam em deuses naturais, que vivem na Terra.

É irônico que Lord Summerisle levanta o homem de palha justamente porque sua comunidade está indo para as cucuias. A colheita fracassou porque as plantas que cultivavam não eram nativas da Escócia, e sem um agrônomo experiente um dia elas morreriam. Todavia, ao substituir a ciência pelo culto aos deuses, os habitantes perderam o know-how para garantir o próprio sustento. Howie, nos momentos finais do filme, diz com todas as letras: eles podem queimar quantos homens de palha quiserem, pois a colheita vai fracassar de novo e de novo e de novo. Um grupo de camponeses pode até ser enganado. A realidade, não.

]]> https://www.finisgeekis.com/2015/06/15/o-homem-de-palha-que-voce-nunca-conheceu/feed/ 0 362 As fronteiras do universo geek https://www.finisgeekis.com/2015/01/31/as-fronteiras-do-universo-geek/ https://www.finisgeekis.com/2015/01/31/as-fronteiras-do-universo-geek/#respond Sat, 31 Jan 2015 21:19:41 +0000 http://finisgeekis.com/?p=3 O universo geek deve ser como o mundo. Deve abranger tudo.

Mahler não disse isso, mas talvez dissesse, caso vivesse nos dias de hoje e tivesse design de games como uma segunda profissão. O fato é que a profecia de Bill Gates se cumpriu: nerds, outrora uma subcultura de nicho, cresceram e conquistaram o mundo.

Isso, porém, não é tão impressionante quando à facilidade – e receptividade – com que a cultura geek acrescenta à si o que está por fora. De Klimt à Rachmaninoff, passando pela poesia de Yeats, e pela vida de Chopin, nem mesmo o mestre austríaco escapou de se tornar referência.

O mundo geek não é uma fantasia mais do que é uma miniatura do que existe ao seu redor. Ele vive de inspirações e as remodela à sua maneira.

Eu sou um nerd. Eu, também, me acrescentei à subcultura. E meu hobby é observar aquilo que vejo por aqui e constatar o que há por trás. O que games, animes, séries e comics carregam de curioso, de trágico, de grande… enfim, de humano.

Esse é um espaço para discutir o mundo geek e o que ele traz de suas andanças para além de suas fronteiras. E para incentivar outros geeks, de onde quer que venham, a misturar o físico ao virtual, as letras aos pixels.

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