Warning: Use of undefined constant CONCATENATE_SCRIPTS - assumed 'CONCATENATE_SCRIPTS' (this will throw an Error in a future version of PHP) in /home/finisgeekis/www/wp-config.php on line 98

Warning: Cannot modify header information - headers already sent by (output started at /home/finisgeekis/www/wp-config.php:98) in /home/finisgeekis/www/wp-includes/feed-rss2.php on line 8
Especiais – finisgeekis https://www.finisgeekis.com O universo geek para além do óbvio Wed, 08 Sep 2021 22:03:58 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=5.7.11 https://i2.wp.com/www.finisgeekis.com/wp-content/uploads/2019/02/cropped-logo_square.jpg?fit=32%2C32&ssl=1 Especiais – finisgeekis https://www.finisgeekis.com 32 32 139639372 Entrevista: a Dublin de Joyce entre o passado, presente e futuro https://www.finisgeekis.com/2021/09/08/entrevista-a-dublin-de-joyce-entre-o-passado-presente-e-futuro/ https://www.finisgeekis.com/2021/09/08/entrevista-a-dublin-de-joyce-entre-o-passado-presente-e-futuro/#respond Wed, 08 Sep 2021 21:51:06 +0000 http://www.finisgeekis.com/?p=23020 Hoje trago algo diferente para vocês.

Se acompanham o blog há algum tempo, sabem que sou grande fã da obra de James Joyce. Minha admiração por esse autor já me levou a muitos lugares – por exemplo, a fazer cosplay de suas personagens pelas ruas de Dublin. Nunca, porém, antecipei o privilégio que vivi essa semana.

Junto com meu colega, o arqueólogo Alex Martire, entrevistei ninguém menos que Caetano Galindo, escritor, tradutor e um dos brasileiros mais engajados em tornar a obra do autor acessível ao grande público.

Naturalmente, historiadores e arqueólogos que somos, não podíamos deixar de falar sobre o passado. E falando de Joyce, esse “passado” tem nome e sobrenome: Dublin, Irlanda, 16 de junho de 1904.

Sua obra-prima, Ulisses, é uma recontagem da Odisseia de Homero ambientada na capital irlandesa dessa data. Tão detalhado é o retrato que fez da cidade no começo do século XX que o próprio Joyce disse que, se Dublin desaparecesse, poderia ser inteiramente reconstruída usando apenas sua obra de referência.

Isto, claro, em 1922, quanto o romance foi publicado pela primeira. E quanto a 2022, ano de que rapidamente nos aproximamos? Ulisses continuará a ter relevância quando a cidade que o inspirou deixar de existir, substituída por novas “Dublins”? Ou, melhor dizendo, conseguirá a própria Dublin honrar o pedestal em que Joyce a colocou na medida em que se transforma em outra coisa – e os lugares e edifícios citados no livro deixarem de existir?

A mim e ao Alex, Galindo se mostrou otimista. Disse que, por mais louvável que seja a adoração moderna a Joyce (o Bloomsday, evento dedicado ao autor, é atualmente a segunda maior festividade da Irlanda) não podemos esquecer de que ela é um fenômeno turístico bastante recente. Em 1941, quando Joyce morreu, a recepção na cidade foi fria. E levaria muitas décadas a amornar.

“Essa relação da cidade com o livro [foi] alterada na marra” ele disse, comentando sobre a pressão de leitores e críticos, sobretudo nos EUA, que elevaram Ulisses ao patamar de obra-prima da literatura. “A Irlanda meio que teve de engolir o Joyce de atravessado”.

Galindo também comentou como transformar lugares citados por seus livrosem museus não é o mesmo que preservá-los. A farmácia Sweeney, cenário de um dos capítulos de Ulisses, por exemplo, hoje é um centro cultural que organiza leituras de textos de Joyce. Não seria mais fiel ao espírito do romance que continuasse funcionando como uma farmácia? Onde está a linha entre manter a Joyce de Dublin e imortalizá-la como um monumento empalhado, inerte, que não mais pertence à vida cotidiana das pessoas?

“A [Sweeney’s] sobreviveu?” ele pergunta “É uma coisa fake. É uma coisa criada para se vincular ao fato de que aquelas paredes estão de pé. […] É Dublin se alterando por causa do Ulisses.”

E é nisso, talvez, que está a maior força desse romance de cem anos atrás. Dublin não é apenas o palco da história de Joyce. “A paisagem da cidade mudou” diz Galindo. “Ele sacralizou certos espaços […] Delimitou aqueles lugares como lugares especiais.”

Em tempos em que influencers pregam publicamente que clássicos não servem para nada, não é pouca coisa. Como o sultão de Sandman que barganhou com Morfeu para que seu reino durasse para sempre, Joyce conseguiu a proeza de transportar uma cidade inteira para o mundo dos sonhos.

“O Ulisses vai sobreviver. E aquela cidade vai sobreviver no Ulisses.”

Você pode assistir ou ouvir a entrevista completa na página do ARISE.

]]>
https://www.finisgeekis.com/2021/09/08/entrevista-a-dublin-de-joyce-entre-o-passado-presente-e-futuro/feed/ 0 23020
Entrevista: música e escapismo com o “Sofá a Jato” https://www.finisgeekis.com/2021/09/01/entrevista-musica-e-escapismo-com-o-sofa-a-jato/ https://www.finisgeekis.com/2021/09/01/entrevista-musica-e-escapismo-com-o-sofa-a-jato/#respond Wed, 01 Sep 2021 20:25:26 +0000 http://www.finisgeekis.com/?p=23012 Vocês que acompanham o blog sabem que eu tenho uma queda por artistas que tiram algo a mais da cultura pop. Sejam elas romancistas, cosplayers ou poetas, há algo de belo – e valente – em utilizar games, quadrinhos e animes como ponto de partida, não um fim em si. Em uma paisagem midiática cada vez mais dominada pela impessoalidade e por algoritmos, criar é a maneira mais pura de mostrarmos que somos protagonistas das nossas nerdices, não meros consumidores esperando na fila pelo que quer que esteja em oferta.

Foi uma grata surpresa, assim, conhecer o trabalho do Sofá a Jato, banda gaúcha formada por Frederico Demin, João Beal e Yussef Lima, que partiram de referências comuns a toda uma geração de gamers para encontrar sua própria voz no metaverso da cultura pop.

Nessa entrevista exclusiva, eles me contaram sobre como usam música e recursos audiovisuais para replicar a sensação de escapismo gerada pelos games – e sobre o que significa “escapar” em um mundo onde a alienação vem se tornando o novo normal.

Confiram:

A banda Sofá a Jato

O Sofá a Jato é uma banda com uma identidade bastante distintiva, misturando estilos brasileiros com expressões dos games e da cultura pop. De onde veio a ideia por trás do projeto? Vocês poderiam contar um pouco sobre como foi seu percurso até aqui?

O nome da banda iniciou ainda no colégio. A intenção era participar do show de talentos e se divertir. Esse interesse por games sempre esteve presente no grupo, principalmente pela arte que eles transmitem no visual e no som juntos. A gente sempre curtiu o poder imersivo das trilhas sonoras de jogos, o quanto uma boa música fazia a gente entrar mais no mundo do jogo e esquecer a realidade. Acho que foi natural seguir usando características dessas músicas nas nossas composições. Acho que a partir disso que veio a ideia de usar também essas narrativas mais fantasiosas nas letras e tal.

A compositora Yuki Kajiura certa vez disse que animes exigem trilhas sonoras de peso, pois a animação, por si só, não chega aos pés da expressividade do rosto humano vista no cinema live action. Este princípio também é visto em videogames, sobretudo naqueles que não contam com gráficos fotorrealistas. De certa forma, o Sofá a Jato parece fazer o percurso oposto, trazendo recursos visuais para complementar o som. De onde veio a ideia desse conceito multimídia? Do brainstorm até a performance, como ‘nasce’  e se desenvolve uma obra da banda?

Acho que duas obras influenciaram fortemente isso. Uma delas foi o filme Interstella 5555 do Daft Punk, inclusive um anime muito bom. Ali ficou claro desde cedo o poder narrativo em incorporar as diferentes mídias numa mensagem só, parece que ela fica mais poderosa. E também, a banda sempre teve essa ideia de ser uma trilha sonora de um espetáculo. Isso é uma grande influência que surgiu ao assistirmos os show do Pink Floyd/Roger Waters. Nunca foi nosso foco que o público assistisse apenas a banda tocando ao vivo, mas sim, passar essa sensação de estar em uma sessão de cinema ou teatro em que a trilha sonora está sendo tocada ao vivo. Além de tirar o foco da gente. O palco sempre foi meio delicado pra nós, hahahahah.

No seu livro A Composer’s Guide to Game Music, a compositora Winnifred Phillips cita várias maneiras como a música pode afetar nossa percepção do tempo e espaço. Por exemplo, como peças em tons maiores fazem com que ouvintes percebam a passagem do tempo de forma mais lenta, ou que uma dada imagem pode assumir sentidos diferentes dependendo da música que nos embala enquanto a observamos. Vocês usam alguma técnica do tipo para gerar a vibe psicodélica de seus clipes e shows?

Depende de como veio o processo. Com o nosso disco que está pra sair a gente foi mais cuidadoso, até porque ele envolve contar uma história ao longo dele todo. A gente sempre curtiu muito conversar bastante sobre as diretrizes e intenções e em caso de dúvida tentar se guiar por elas, desafiar a criatividade pra tentar passar aquela parte da maneira emocional adequada. Pra isso usamos de tudo, desde mixes mais espaciais pra dar grandeza até acordes suspensos pra dar um ar de aventura e incerteza do que virá. A parte visual tende a vir depois, com muita experimentação, mas de novo, no caso dessas novas músicas elas foram pensadas pra servir a história e as sensações da músicas, sem necessariamente “explicá-las”.

Há não muito tempo, referências a jogos e personagens eram um código que poucos dominavam. Hoje, esta linguagem consolida cada vez mais seu espaço na mídia mainstream. O trabalho do Sofá a Jato, de certa forma, é um reflexo disso. Como vocês enxergam o seu lugar como artistas dentro dessa paisagem cultural em movimento? Existem novas oportunidades ou desafios que vem surgindo?

Temos percebido mais artistas utilizando referências do mundo geek/nerd em suas obras, seja um sample de um anime em alguma música, ou uma letra que fale sobre a jornada de um herói, esse universo está cada vez mais presente na música. Pra nós, eu diria que o maior desafio é como unificar tudo isso através das várias maneiras que temos que entrar em contato com o “mundo”, com as pessoas. Um exemplo são as história em quadrinhos que fazemos pra contar os bastidores da banda, uma maneira de fazer algo divertido e que combina conosco e também achar uma maneira de não aparecer muito, que não é muito a nossa praia, hahaha.

Como fã de games, não posso deixar de notar a referência a trilhas icônicas em seus trabalhos, como Zelda: Ocarina do Tempo e Chrono Trigger. E quanto a trabalhos mais recentes? Existem artistas/compositores contemporâneos na cena nerd cuja obra vocês acompanhem?

Sim, com certeza. Em termos de trilha sonora de jogos, Celeste seria um que vem a memória fácil. Horizon Chase também. Quando vamos jogar RPG usamos a trilha sonora do The Witcher 3, por aí vai. Acho que em termos de influência mais direta, ultimamente voltamos forte às trilhas dos filmes do Studio Ghibli. O compositor Joe Hisaishi é um gênio.

Clipe da música “Lugar” do Sofá a Jato

 ‘Escapismo’ é uma experiência prometida com frequência por jogos eletrônicos. Talvez como resultado da entrada dos games na cena mainstream, ele também se tornou um tema controverso. Se por um lado ele é visto como um refúgio necessário ao estresse e problemas do mundo, há quem diga que o escapismo nos aliena, incentivando-nos a enxergar esses produtos (e a própria vida) com olhos passivos. A obra do Sofá a Jato evoca várias vezes esse tipo de experiência, notavelmente na música “Lugar”. Como artistas, como vocês navegam essa corda bamba?

Então, esse é exatamente o tema do próximo disco, na qual “Lugar” fará parte! A gente julga importante discutir o escape, ainda mais em tempos modernos de alienação e vidas relativamente falsas online. Lidamos com depressão nas nossas vidas e pessoas próximas e achamos que temos uma responsabilidade de trabalhar melhor a ideia do escape, sim. Acho que falar mais a fundo entregaria um pouco o disco então, por enquanto vamos nos segurar!

Conheçam mais sobre o Sofá a Jato em sua página.

]]>
https://www.finisgeekis.com/2021/09/01/entrevista-musica-e-escapismo-com-o-sofa-a-jato/feed/ 0 23012
Entrevista: explorando a Revolução Russa em “The Life and Suffering of Sir Brante” https://www.finisgeekis.com/2021/04/07/entrevista-explorando-a-revolucao-russa-em-the-life-and-suffering-of-sir-brante/ https://www.finisgeekis.com/2021/04/07/entrevista-explorando-a-revolucao-russa-em-the-life-and-suffering-of-sir-brante/#respond Wed, 07 Apr 2021 19:36:35 +0000 http://www.finisgeekis.com/?p=22758

 

 

 

Uma sociedade precariamente dividida em três classes sociais. Um “Império Abençoado” multicultural cuja própria forma traz à mente uma certa confederação europeia. Uma Igreja que enfrenta um cisma entre uma “Velha Fé” tradicionalista e “novos fieis” que exigem o acesso direto às escrituras. Um estilo de arte distintivo que parece tirado direto de um caderno de rascunhos de Albrecht Dürer.

Não é preciso muito para adivinhar que The Life and Suffering of Sir Brante, um RPG text-based lançado mês passado, foi criado por artistas com uma formação em história. Lidando com temas como conflitos ideológicos, inquietação social e autoritarismo em tempos de mudanças sem precedentes, o game cai como uma luva ao momento histórico que enfrentamos.

Os paralelos podem ser coincidência, mas a intenção de trabalhar essas questões de maneira crítica não. Assim me contou Fyodor Slusarchuk, autor do cenário e conceito originais.

Nessa entrevista exclusiva, ele me guiou pelo seu processo criativo e pelas maneiras surpreendentes como sua equipe partiu de uma Renascença fantástica para entender a Rússia contemporânea.

Como revoluções acontecem

Como escrevi na minha resenha, o jogo nos coloca nos pés de Brante, cidadão de um regime opressivo – o Abençoado Império Arkniano – nas vésperas de uma revolução religiosa sem precedentes. Cabe a nós decidirmos que papel tomaremos nos anos que virão.

Para um medievalista que ocasionalmente lida com fontes da era moderna, que nem eu, é díficl não encarar Sir Brante como uma refência à Reforma Protestante e às Guerras de Religião. O próprio “Abençoado Império Arkniano”, como seu nome deixa claro, me parece um equivalente óbvio ao Sacro Império Romano-Germânico, onde Lutero viveu.

De acordo com Slusarchuk, porém, a revolução de Sir Brante foi inspirada por um evento muito mais recente – e mais próximo das sensibilidades de seus criadores russos.

Sir Brante foi baseado em uma série de jogos de LARP que organizamos durante um período de 17 anos, de 1997 a 2014” Slusarchuk me contou “Quando começamos nossa série de jogos, a fantasia medieval tradicional era considerada comum demais. Fantasia ‘sombria’ era um gênero cada vez mais popular”.

Mas houve outra razão para situar o jogo na era moderna. “Conforme nós ficamos mais velhos, nós começamos a pensar nos processos históricos por trás da nossa cultura e do nosso país. Na época, eu era um estudante no instituto histórico da nossa universidade e me interessei pelos períodos revolucionários na França e na Rússia – e em outros países também. Mas eu estava particularmente intrigado pela Primeira e Segunda Revoluções Russas no século XX.”

“É um dos períodos mais importantes da nossa história, o evento que determinou nosso século XX – e talvez também o XXI.”

“Para entendê-la de verdade, eu acreditava que nós precisávamos ir mais fundo e explorar outros modelos de revolução, não apenas a Russa.”

É uma inspiração que se manifesta até mesmo na identidade artística – embora seja difícil para não-russos enxergarem.

“Nosso artista é muito interessado pelas estéticas medievais, coisas como gravuras, e também jogos inspirados na Idade Média como Darkest Dungeon. Foi muito divertido para ele trabalhar nesse estilo.”

“Mas ele também se inspirou em livros ilustrados da Rússia Soviética. Eles tinham ilustrações simples e primitivas feitas a lápis. Mas eles deixavam bastante espaço para a imaginação. Eu acho que nós dois fomos influenciados pelos livros da nossa infância” ele ri.

Àqueles que têm olhos treinados, é também possível identificar alguns paralelos com figuras importantes da história russa.

A amiga de infância de Brante é Sophia, uma jovem que eventualmente se torna líder de um grupo extremista conhecido como “A Ultima Gota”. O artbook oficial menciona que ela compartilha o nome com Sophia Perovskaya, uma das mandantes do assassinato do Czar Alexandre II em 1881.

Mas Slusarchuk me recomendou não prestar muita atenção nas referências específicas.

“Sabe, é até difícil apontar as inspirações históricas das nossas personagens, porque nós as misturamos muito bem, eu acho.”

“Nosso objetivo principal, na  verdade, era criar personagens que tivessem algum poder histórico, que haviam desempenhado um papel na história russa – seja em movimentos laborais, conservadores, religiosos ou intelectuais.”

“Nós temos tido uma discussão muito longa sobre a nossa história; uma discussão que se estende por dois séculos ou mais e que continua a ser feita, não apenas em congressos de história, mas também na nossa vida política.

“Para mim, criar um jogo é uma forma de continuar essa discussão”.

Questões de fé

Um dos elementos mais distintivos de Sir Brante é sua disposição a discutir religião. Muitos jogos retratam a fé de uma maneira ou de outra, mas não é todo dia que nos deparamos com um em que disputas teológicas ganham os holofotes.

Ao contrário do politeísmo de muitas franquias de fantasia, a igreja de Sir Brante é visivelmente inspirada nas religiões abraâmicas – e, especificamente, em uma intepretação particularmente rigorosa do cristianismo. Qualquer ação que desafie o status quo é rotulada de “pecado”, e suas divindades – os Deuses Gêmeos – não oferecem misericórdia aos que erraram. Desafiar a elite política significa condenar sua alma à danação eterna.

No início da história, porém, essa igreja está passando por mudanças drásticas. Um cisma põe o clero tradicional em confronto com fieis dissidentes. A “Velha Fé” argumenta que apenas membros do sacerdócio podem comentar a palavra de Deus, e apenas uma interpretação sancionada pelo estado – escrita por uma figura inspirada em São Paulo, chamada Isatius – deve ser considerada canônica. A “Nova Fé”, por sua vez, acredita que todo mundo deve ser livre para buscar seu próprio caminho até Deus.

“Nós criamos os conceitos de sinas [ as ordens sociais em que a sociedade é dividida ] e deuses inclementes para nossos jogos de LARP, especificamente aquele que foi organizado em 2003, “A Era da Renascença”. Nós queríamos um conflito que envolvesse não apenas ordens políticas diferentes,mas também tradições culturais distintas. Minha própria formação é em história cultural, e eu acredito que a cultura é um dos fatores mais determinantes da história.”

“A inspiração mais importante para a religião do jogo foi o cisma entre a cristandade católica e ortodoxa. Nossa fé é uma metáfora para a tradição russa ortodoxa porque ela era uma tradição bastante vinculada ao Estado.”

Segundo essa metáfora, qual fé representaria a igreja russa no jogo? A Velha ou a Nova?

“Certamente a Velha Fé. É uma religião em que você sabe exatamente o que você deve a Deus e o que você deve  ao seu imperador. Seus padres agem como “profissionais” na vida da sua alma.”

“E um dos maiores problemas, da forma como eu entendo, é que as pessoas investiram muito em líderes religiosos, e procurar seu próprio caminho até Deus não era uma ideia muito disseminada.”

“No início do século XX, houve uma grande discussão entre Lev Tolstói e nossa igreja sobre como o cristianismo ortodoxo não tinha experimentado uma reforma. Nós não tínhamos tido um Martinho Lutero, não tínhamos comunidades independentes na nossa igreja. Eu acredito que isto foi muito importante para o caminho histórico que tomamos.”

Nuance e agência do jogador

Nem tudo no jogo é uma referência óbvia à Revolução Russa. É digno de nota que Sir Brante também introduza muitas sociedades esotéricas, algumas das quais têm papeis importantes – e sinistros – na jornada de nosso protagonista. Em vez de moldá-las em sociedades secretas que realmente existiram, Slusarchuk me contou que as ideias por trás delas vieram da literatura.

“Eu não posso dizer que sou um expert na história das sociedades místicas. Minha principal inspiração foi o conto As Três Versões de Judas de Jorge Luís Borges. Foi daí que eu tirei as ideias para a Sociedade Markiana [ uma seita hedonista que puxa as cordas por trás de muitas das instituições do jogo] e os Vontadistas de Ulrich [ uma facção extremista da inquisição ].”

“Eu também devo muito ao Umberto Eco. A provavelmente todos os seus livros, mas sobretudo O Nome da Rosa, O Pêndulo de Foucault e O Cemitério de Praga.”

“Quando eu tinha vinte e poucos anos, era muito importante para mim entender quão diferentes podem ser nossas interpretações de histórias que conhecemos de nossa infância. O Borges me ensinou a enxergar aspectos diferentes das relaçõès entre homem e Deus – e como eles podem ser modificados.”

Alcançar esse nuance ao lidar com os temas do jogo foi, segundo Slusarchuk, a principal preocupação da equipe.

“Nossa tradição de RPG tem alguns princípios básicos, e um deles é não privilegiar um único lado; não fazer um jogo de um único ponto de vista. Era muito importante para nós entender outras posições e tentar representá-las no jogo.”

É uma premissa que o jogo cumpre até bem demais. Desde os primeiros capítulos que lidam como nossos anos de infância, é evidente que o Abençoado Império Arkniano é uma sociedade irremediavelmente quebrada.

Mesmo assim, você não é obrigado a dar um empurrão final nesse leviatã alquebrado.  Algumas escolhas farão com que o protagonista se torne um membro da baixa nobreza, entre para o clero ou continue um plebeu. Embora cada uma dessas decisões possa colocar Brante no caminho de um revolucionário, você também pode decidir apoiar o status quo – e até mesmo instaurar uma ordem reacionária que fará o império de outrora parecer liberal em comparação.

Como Slusarchuk explica, o princípio não é muito diferente de um exercício de história contrafactual. Para realmente apreciar as implicações do future que você criou, é necessário explorar o que teria acontecido se as coisas tivessem se desenrolado de outra maneira.

“Nós desenvolvemos o game de maneira que você tem algumas opções básicas que determinam seu futuro, mas você pode se deparar com alguma coisa que faça você mudar de ideia. E talvez o resultado disto venha a ser um desastre. Talvez fará você desistir ou tentar um outro caminho, mas é importante estar em uma posição reflexiva, tentar entender o que foi que você escolheu.”

Isso casa com um dos poucos elementos explicitamente fantásticos em Sir Brante: a própria morte. No jogo, perder a vida não é necessariamente uma condição de fracasso. Todas as personagens – incluindo os NPCs – podem ser mortas até quatro vezes até que sua alma finalmente abandone o corpo. Sempre que o próprio Brante experimentar uma morte menor nós temos de encarar os Deuses Gêmeos e responder a questões crípticas sobre as decisões que nos trouxeram até ali.

“A morte, no nosso jogo, é um ponto de reflexão. Nós perguntamos ao personagem, e talvez ao jogador, sobre o que foi sua vida. E nós esperamos que jogadores possam então entender que é hora de mudar alguma coisa”.

A mudança, de fato, é talvez o principal tecido conjuntivo que une as pontas de  sua narrativa. Do próprio Brante ao NPC menos relevante, suas personagens são pessoas que entendem que o mundo tal como conhecem deixará de existir e estão lutando para apressar seu fim, para evitá-lo, para sobreviver a ele – às vezes, apenas para tirar algum sentido do que está acontecendo.

É uma mensagem que parece super relevante para nosso próprio presente depois de um ano e meio de pandemia de Covid-19. Teria Sir Brante alguma coisa a dizer sobre os tempos em que vivemos, atormentados como são pela ascensão de populismos radicais, instabilidade econômica e um futuro que parece tão cruel e incerto quanto os desígnios dos Deuses Gêmeos?

“Eu estaria sendo otimista demais se respondesse com um “sim” confiante” disse Slusarchuk. “Era o nosso objetivo ter uma mensagem, embora eu não tenha certeza de que tenhamos conseguido passá-la”.

Talvez, como os mistérios da Nova Fé, essa é uma resposta que cada jogador terá de encontrar por conta própria.

Interview: exploring the Russian Revolution in ‘The Life and Suffering of Sir Brante’ 

A society uneasily divided into three estates. A multicultural “Blessed Empire” whose very shape brings to mind a certain European confederation. A Church that faces a schism between a traditionalist “Old Faith” and “new believers” who advocate direct access to the scriptures. A distinctive art style that seems to have been plucked straight from one of Albrecht Dürer’s sketchbooks.

It does not take much to guess that The Life and Suffering of Sir Brante, a text-based RPG that hit the shelves last month, was created by artists with a background in history. Dealing with themes such as ideological conflicts, social unrest and authoritarianism in times of unprecedented change, the game seems tailor-made for the unique historical moment we find ourselves in.

The parallels may be coincidental, but the intent to tackle these questions in a critical manner wasn’t. Thus told me Fyodor Slusarchuk, author of the original concept and setting.

In this exclusive interview, Slusarchuk guided me through his and his team’s creative process, and often surprising ways a fantasy Renaissance was repurposed as a tool to understand contemporary Russia.

How revolutions come about

As I wrote in my original review, the game puts us in the shoes of Brante, a citizen of an oppressive state called Blessed Arknian Empire at the eve of a epoch-changing religious upheaval. It is up to us to determine which role we will play in the coming rebellion.

For a medievalist who occasionally deals with Early Modern sources like myself, it is hard not to regard Sir Brante as an allegory on the Reformation and Wars of Religion – and the Blessed Arknian Empire itself as an obvious stand-in for the Holy Roman Empire.

According to Slusarchuk, however, Sir Brante’s revolution was inspired by an event that is much more recent – and closer to the sensibilities of its Russian-based creators.

Sir Brante was based on a series of LARP games we organized during a period of 17 years, from 1997 to 2014” Slusarchuk told me “When we started our game series, medieval high fantasy was considered too ordinary. ‘Grim fantasy’ was an increasingly popular genre”.

But there was another reason for setting the game in the Early Modern period. “As we became older, we started to think about historical processes in our culture and our country. I was then a student at the historical institute in our university, and I became interested in the revolutionary periods in France and in Russia, and in other countries as well. But I was particularly intrigued about the First and Second Russian Revolutions in the 20th century.”

“It’s one of the most important periods of our history, the event that determined our 20th century, and maybe 21st century as well.”

“To fully understand it, I believed we had to go deeper and explore other models of revolution, not just the Russian.”

It is an inspiration that manifests itself in the very art style – although it might be difficult for non-Russians to spot.

“Our artist is very interested in medieval aesthetics, in things like engravings, and also medieval-inspired games like Darkest Dungeon. It was very fun for him to work on this style.

“But he was also inspired by picture books from Soviet Russia. They had rather simple, primitive pencilled illustrations. But they left a lot of room for the imagination. I think we were both influenced by the books from our childhood” he chuckles.

To the trained eye, it is also possible to identify parallels to major Russian historical figures.

Brante’s childhood friend is Sophia, a young woman who eventually becomes leader of a violent insurrectionist group known as The Last Straw. The official artbook mentions she shares her name with Sophia Perovskaya, one of the masterminds behind the assassination of Tsar Alexander II in 1881.

But Slusarchuk advised me not to look too closely at the specific references.

“You know, it’s rather hard to tell apart the specific historical inspirations for our characters, because we mixed them very well, I think.”

“Our main goal was to create characters that yielded some historical power, that played a role in Russian history – be it in a labour, conservative, religious or intellectual role.”

“We’ve had a long, long discussion about our history that has been going on for two centuries or more, and continue to do so, not only in historical conferences, but also in our political life.”

“For me, creating a game is a way to continue this discussion”

Matters of faith

One of the most distinguishing elements of Sir Brante is its willingness to discuss religion. Many games feature faith in one way or another, but it is not everyday we come across one in which theological disputes take center stage.

Unlike the polytheism of many fantasy games, Sir Brante’s church is visibly inspired by the Abrahamic religions – and, specifically, a rather vindictive interpretation of Christianity. Any action that defies the status quo is labelled a “sin”, and its deities – the Twin Gods – offer no mercy for the wicked. To defy the political elite means to convict one’s soul to eternal damnation.

At the story’s outset, however, this church is experiencing rapid change. A schism takes place pitting the mainstream clergy against a movement of dissident believers. The “Old Faith” argues that only members of the priesthood can expound on the word of God, and only a state-sponsored interpretation – written by a St. Paul-like figure known as Isatius – is to be considered canon. The “New Faith”, on the other hand, believes everyone should be free to seek their own path to God.

“We created the concept of lots [ the estates in which the society is divided ] and unforgiving gods for our LARP games, specifically the one held in 2003, “The Age of Renaissance”.  We wanted a conflict that involved not only different political estates, but also different cultural traditions. My own intellectual background is cultural history, and I believe culture is one of the most determinant factors in history.”

“The most important inspiration for the religion of the game was the schism between Catholic and Orthodox Christianity. Our faith is a metaphor for the Russian Orthodox tradition, because it is a rather state-oriented tradition.”

And would the Russian church, according to this metaphor, stand for the Old or New Faith?

“Certainly the Old Faith. It’s a religion in which you know for certain what you owe God and what you owe your emperor. Its priests act as “professionals” on the life of your soul.”

“[And] one of the main problems, as I understand it, is that people invested too much in religious leaders, and looking for one’s own way to God wasn’t something very widespread.”

“In the beginning of the 20th century, there was a great discussion between Lev Tolstoy and our Church about how Eastern Orthodoxy had not experienced a Reformation. We had no Martin Luther, no independent communities in our Church. I believe this was very important to the historical path we took.”

Nuance and player agency

Not everything in the game is an obvious stand-in for the Russian Revolution. Notably, Sir Brante features many esoteric societies, some of which may play important- and nefarious roles – in our protagonist’s journey. Rather than modelling them on one of many secret societies founded in 19th Europe, Slusarchuk tells me the ideas behind them came from literature.

“I can’t say that I’m an expert on the historical background of these mystical societies. My major inspiration was the story “Three Version of Judas” by Jorge Luís Borges. It was from there that I took the ideas for the Markian Society [a hedonist sect that pulls the strings behind many of the game’s political institutions] and Ulrich’s Willists [ an extremist branch of the game’s Inquisition ]”.

“I’m also indebted to Umberto Eco. Probably by all of his books, but specifically The Name of the Rose, Foucault’s Pendulum and The Prague Cemetery.”

“When I was in my 20s, it was very important to me to understand how different can be our interpretations of stories that we knew from our childhood. Borges taught me how to see the different aspects of the relationships between man and God, and how they can be modified.”

Achieving this nuance in dealing with the game’s themes was, according to Slusarchuk, the main concern for the team.

“Our roleplaying tradition has some basic principles, and one of them is not to be one-sided; not to make a game from a single point of view.  It was very important for us to understand other positions and to try to present them in the game.”

It is a premise the game accomplishes to a fault. From the earliest chapters dealing with our childhood years, it is evident that the Blessed Arknian Empire is an irremediably broken society.

And yet, you are not required to give the crumbling behemoth a final push. Certain choices will cause the protagonist to become a member of the gentry, join the clergy or remain a commoner. While each of these decisions may set Brante on a revolutionary’s path, you may also decide to support the status quo – and even bring upon a reactionary order that will make the Empire of yore seem liberal in comparison.

As Slusarchuk explains it, the principle is not unlike an exercise in counterfactual history. To fully appreciate the implications of the future you have created, it is vital to explore what would have happened if things had gone differently.

“We designed the game in such a way that you have some basic choices that determine your future, but you may come upon something that makes you change your mind. And maybe the outcome will be a total disaster. Maybe it’ll make you give up or try out a different path, but it is important to be in a reflective mindset, to try to understand what you chose.”

This ties in with one of the few explicitly fantastical elements in Sir Brante: death itself. In the game, passing away is not necessarily a failure condition. Every character – including NPCs – can be killed up to four times before their soul finally departs the mortal realm. Every time Brante himself experiences a lesser death, we have to face the Twin Gods and answer some cryptic questions about our previous decisions.

“Death, in our game, is a reflection point. We ask the character, and maybe the player, what was your life about. And we hope players can then understand that it’s time to change something.”

Change, in fact, is arguably the main connective tissue tying its narrative together. From Brante himself to the lowliest NPC, its characters are people who realize the world as they know will cease to exist, and are fighting to hasten its end, to avoid it, to survive it – sometimes, simply to make sense of it.

It is a message that seems all too relevant to our own present, one and half year into the Covid-19 pandemic. Does Sir Brante has anything to say about the times we live in, beset as they are by the rise of radical populisms, economic instability and a future that seems as harsh and unpredictable as the whims of the Twin Gods?

“It’d be too optimistic of me to answer with a confident ‘yes’” Said Slusarchuk “It was our goal to have some message, although I’m not sure we achieved it.”

Maybe, like the mysteries of the New Faith, this is an answer each player will have to find on its own.

]]>
https://www.finisgeekis.com/2021/04/07/entrevista-explorando-a-revolucao-russa-em-the-life-and-suffering-of-sir-brante/feed/ 0 22758
Anime x Livro: “Penguin Highway” https://www.finisgeekis.com/2019/06/12/anime-x-livro-penguin-highway/ https://www.finisgeekis.com/2019/06/12/anime-x-livro-penguin-highway/#comments Wed, 12 Jun 2019 17:40:57 +0000 http://www.finisgeekis.com/?p=21784 Anime x Livro tem como objetivo comparar romances da literatura com suas adaptações na telinha japonesa. A proposta é sair do fla-flu e esmiuçar essas séries (e livros) em detalhe. 

O Studio Colorido pode não ser um grande nome de referência na animações japonesa. Desde 2018, porém, as coisas podem ter começado a mudar.

Misturando fantasia, ficção científica e um retrato cândido do final da infância, Penguin Highway se tornou um hit da crítica e um cartão de visita a seu diretor, Hiroyasu Ishida. Com seu romance de origem finalmente lançado em águas ocidentais, temos uma oportunidade de ouro para mergulhar a fundo nos porquês desta adaptação.

Em especial porque o romance em questão veio da pena de Tomohiko Morimi, autor de algumas das histórias mais criativas a ganharem as telas nipônicas nos últimos tempos.

Seria o romance de Morimi tudo isso mesmo? E esteve Ishida à altura para reinterpretá-lo?

Vamos juntos descobrir.

Clique nos títulos para ir direto às seções. Ou então só continue abaixo, se estiver com tempo. AVISO (DESNECESSÁRIO): Contém SPOILERS para Penguin Highway)

 

Penguin Highway é um romance notável nem tanto pelo seu conteúdo, mas por quem o escreveu. Lançado originalmente em 2010, o livro é a primeira obra de Tomihiko Morimi a ser lançado em inglês – e, até onde sei, no Ocidente como um todo.

Se você não o reconhece de nome, talvez suas obras lhe dêem uma pista. Morimi é autor de Tatami Galaxy e Yoru wa Mijikashi Arukeyo Otome, cujas adaptações em anime, feitas pelo diretor Masaaki Yuasa, se tornaram hits entre fãs do gênero.

Capa japonesa de “Penguin Highway”

Penguin Highway venceu o prêmio Nihon SF Taishou – o equivalente japonês do Nebula. Rotulado de ficção científica, o romance é na verdade uma obra de fantasia, recheado com uma dose suficiente de cultura pop para parecer uma versão light de Haruki Murakami.

Sua trama acompanha Aoyama, um garoto estudioso que sonha em vencer o Nobel. Seu desejo parece próximo de realizar quando um mistério científico acontece diante de seus olhos:

Uma horda de pinguins invade sua cidade.

Ao lado de seus amigos, Ushida e Hamamoto, Aoyama se compromete a desvendar o mistério. As coisas, todavia, não são o que parecem. E quando se aproxima de solucionar o enigma, mais perto ele fica de aprender uma lição importante sobre si mesmo.

 

Penguin Highway, a animação, foi dirigida por Hiroyasu Ishida, mais conhecido pelo badalado (e nem tão bem avaliado) Typhoon no Noruda.

Misturando fenômenos naturais, fantasia e coming-of-age com uma pitada de romance, seu longa parece, de fato, uma elaboração de temas já ensaiados em Typhoon. Que ambos tenham sido produzidos pelo mesmo estúdio apenas reforça a impressão.

O material parece ter caído como uma luva à Ishida, e sua obra coleciona críticas positivas, além de ter faturado o Prêmio Satoshi Kon por Excelência em Animação no Fantasia Festival, Montreal, onde teve sua première.

Mérito do material de origem? Ou teria o dedo criativo de Ishida sido o responsável pela mágica?

Como diria Aoyama, vamos desvendar esse mistério.

  Aoyama

 

Eu sou extremamente inteligente e nunca pego leve com meus estudos.

É por isso que eu serei muito importante no futuro.

As frases de abertura do livro de Morimi dizem tudo o que é preciso para entender seu protagonista. Ele é um saco.

Aoyama é aquele tipo de criança que pensa que ser mimado pelos pais é reconhecimento, e que ler a National Geographic e montar naves de LEGO o tornam um garoto prodígio. Ele ama se achar melhor que os outros, coisa que não para de repetir – literalmente – do primeiro ao último capítulo.

Filho de cientistas, o garoto age como se ele, próprio, fosse um dos candidatos ao Nobel.

Ele chama nuvens de “cumulonimbus”, é fã de xadrez e bebe café como os adultos. Carrega um caderno diferente para cada fenômeno que estuda e tem uma obsessão por seios femininos – tudo, ele garante, em nome da ciência.

Que Aoyama não seja nem de longe tão adulto quando finge parecer é algo que Morimi nunca esconde. Pelo contrário, não demora para cair a ficha de que seu linguajar chupinhado do Discovery Channel é uma fantasia que veste para esconder suas criancices.

“Todos os pesquisadores sofrem de cáries” ele diz, ao ser confrontado por não escovar os dentes. “Você realmente não fica nervoso”, comenta um amigo “Não se eu penso sobre peitos” ele responde.

Nem sempre sua seriedade convence, e os momentos em que sua máscara cai trazem as maiores pérolas da prosa de Morimi:

Sempre que eu vejo um rastro de vapor eu não consigo evitar olhá-lo. Uchida e eu combinamos que nós assistiríamos a um lançamento de ônibus espacial algum dia, mas eu sinto que se eu visse algo assim tão incrível meu pescoço mais voltaria a sua posição original 

Infelizmente, nem a ironia de Morimi salvam seus diálogos de sucumbirem ao peso do technobabble. E após páginas e páginas narradas por um mala-sem-alça, é difícil não sentir que nosso tempo com o livro foi desperdiçado.

Os diálogos do anime são fidelíssimos aos do romance – em muitos casos, à última sílaba. Assim, é impressionante como a magia visual de Ishida conseguiu transformá-lo em um protagonista cativante. Enquanto que no romance só dispomos da versão de Aoyama, o diretor escancara a cada cena o quão distante seu discurso furado é da realidade. Seja quando está apavorado, tentando arrancar um dente

fazendo bico ao experimentar café

ou queimando de febre.

Nada mais autêntico a uma personagem infantil do que vê-la agindo como uma criança de verdade.

 A mulher do consultório

Eu deixei o apartamento e descobri que o céu sobre o morro tinha uma cor incomum. Haviam nuvens fofas cobrindo o céu e elas estavam todas pintadas de um rosa pálido. Eu nunca tinha visto um céu daqueles antes. Havia um buraco nas nuvens além das montanhas, e a luz do entardecer brilhava através dele.

Eu me virei para trás e vi a mulher acenando da sua varanda.

Ela também era rosa.

A mulher do consultório é a personagem mais importante – e, acrescento eu, intrigante dessa história. O fato de não sabermos sequer do seu nome é, em si, uma pista. Ela é um grande mistério, que o pequeno Aoyama fará sua missão desvendar.

Como nós mesmos descobrimos sem grande esforço, Penguin Highway não é apenas uma história sobre pinguins. O “experimento” que Aoyama realiza, no fundo, é apenas um: entender por que seu coração bate tão rápido quando pensa naquela mulher.

Funcionária no dentista que frequenta, a mulher conhece Aoyama durante uma consulta, quando flagra o garoto pregando uma peça no bully da escola.

Amante, ela própria, de xadrez, não demora para que ela se torne uma espécie de babá de Aoyama, passando tardes e tardes ao seu lado em uma mesa no Café à Beira Mar.

A natureza desses encontros ganha contornos diferentes no livro e no anime. Se no romance seu amor não passa de um crush por uma figura materna – vindo de um garoto que ainda tem 3888 dias para se tornar um adulto, como Aoyama mesmo nos conta – no anime de Ishida ganha contornos mais… picantes (veja abaixo, “A Descoberta da Sexualidade).

Hamamoto

Ela era como uma amante de chocolate diante de uma caixa de bombons, pairando sobre o tabuleiro como se decidindo qual peça comer primeiro.

Hamamoto é a garota com que todo menino nerd sonhou alguma vez em namorar. Inteligente, cheia de si – e, de quebra, bonita – ela é a única personagem capaz de colocar nosso protagonista em seu lugar.

Tal como Aoyama, Hamamoto é filha de um cientista – e não faz questão de escondê-lo. A garota sabe jogar xadrez, conhece a Teoria da Relatividade e passa seu tempo livre montando experimentos.

Sua versão animada não ficaria mais fiel à original se Ishida tivesse escrito o romance ele próprio. A Hamamoto das telas é uma recriação da personagem de Morimi nos seus menores detalhes.

Ao contrário de Aoyama, que passa seu tempo construindo naves e estações espaciais de LEGO, Hamamoto tem o tique de empilhar pedras em muros. Ishida não destaca este detalhe da mesma forma que Morimi, mas ele pode ser visto nas tomadas em que aparece brincando.

No livro, Hamamoto é descrita como uma garota de pele clara e cabelos castanhos, que “parecia que tinha se mudado para cá de algum lugar na Europa”. O visual caucasiano é sabidamente difícil de reproduzir em animes, em que todas as personagens possuem pele clara e cabelos coloridos.

Ishida, porém, esteve à altura do desafio. Não só ela parece ligeiramente mais pálida que seus colegas, como ganhou olhos azuis e roupas retrô, no melhor estilo Marnie.

 

Uchida

Uchida era do tipo silencioso, mas aquele era um silêncio muito mais significativo que o habitual

Para um parceiro tão recorrente em suas aventuras, Aoyama tem muito pouco a dizer sobre Uchida. Não por acaso. No romance de Morimi, o garoto é o Pink para o Cérebro de Aoyama, uma imagem inversa do protagonista que parece só existir para nos lembrar de quão excepcional nosso herói é.

Se Aoyama é corajoso, Uchida é um chorão. Se Aoyama é analítico, Uchida é emotivo. Se Aoyama é cego para os sentimentos mais óbvios daqueles ao seu redor – e, até mesmo para os seus – Uchida parece entender tudo, embora nem sempre o ponha em palavras.

Personagem-tipo, nunca escrito para ser mais do que um pedestal ao protagonista, Uchida era uma tela em braco para Ishida pintar seu próprio retrato de um garoto comum na pré-adolescência. E um bom retrato ele pintou, com todo o esmero de que a animação é capaz.

A diferença não está no conteúdo, mas nos detalhes. Com uma sensibilidade digna de Memórias de Ontem, o diretor transforma a personagem na porta-voz daquele lado ridículo, embaraçoso da infância que a maturidade fake de Aoyama tenta a todo custo esconder.

Descrever um menino chorando, apanhando de bullies, fugindo de medo é uma coisa. Ver Uchida titubeando de volta para casa, sujo de ranho e lama após ter caído enquanto brincava, é de uma honestidade tão brutal que traz flashbacks dos nossos próprios traumas de infância.

 

O “Império Suzuki”

Suzuki tinha a voz mais alta na nossa classe e era muito forte. Os meninos sob seu comando o obedeciam sem questioná-lo. Aquela estrutura era fascinante, e eu a estava estudando, fazendo anotações que eu batizei de Observações sobre o Império Suzuki.

A descrição de Aoyama dos bullies de sua escola é uma das mais brilhantes do romance de Morimi. E Suzuki, junto a Kobayashi e Nagasaki, seus fiéis escudeiros, um trio de cretinos de que todo nerd estudioso se lembrará muito bem.

O “Imperador Suzuki I”, como Aoyama o chama, é o antagonista da primeira parte de Penguin Highway. Ao descobrir que os garotos estão fazendo um “experimento”, Suzuki e seu império fazem de tudo para atrapalhá-los. O ponto baixo de sua crueldade vem em uma cena envolvendo uma vending machine – e mais fluidos corporais que esperaríamos encontrar em um anime infantil.

Como tantos outros valentões da ficção – e também da vida real – não demora para que Suzuki se mostre mais inseguro que covarde, menos violento que solitário.

Desde a primeira cena, fica claro que odeia Aoyama por ser o garoto dos olhos de Hamamoto, por quem ele próprio tem uma queda. Embora Ishida nunca chegue a ter pena do sujeito, seu filme deixa claro que muito de sua dor – e, consequentemente, sua crueldade – vem do sofrimento de achar-se burro.

O subtexto é menos forte no romance de Morimi, em que Suzuki e seu comparsas tentam impressionar Hatamoto vencendo Aoyama em seu próprio jogo. O “Império” se torna uma equipe rival de exploradores, tentando solucionar um mistério ainda maior para conquistar os olhos de Hatamoto.

Felizmente, essa trama bisonha foi eliminada quase por completo do anime de Ishida. Suzuki ainda nutre uma rixa por Aoyama, e suas tentativas de sabotar seus experimentos continuam um ponto-chave no enredo. Mas o garoto e seu “império” nunca deixam de ser o que aparentam à primeira vista: três bullies não muito espertos, intimidados pela sua inteligência.

Uma caracterização menos original que a do romance, mas ainda assim mais verossímil.

 

Aoyama começa o romance ao lado de seu fiel escudeiro Uchida, buscando mapear o trajeto de um córrego local. Eles chamam sua empreitada de “Projeto Amazonas”, uma referência aos exploradores que desbravaram os confins do rio brasileiro no passado.

Sua busca é colocada em hiato quando sua cidade é invadida por uma horda de pinguins. Não pinguins normais, mas criaturas que surgem do nada, sobrevivem a atropelamentos e desaparecem quando transportados para longe.

O mistério começa a se complicar quando ele descobre que a mulher do consultório é a responsável pelos bichinhos. Em dado momento, ele a flagra transformando uma lata de Coca-Cola em um pinguim.

O poder, contudo, não parece ser voluntário. E mudanças no seu estado de espírito tem consequências assustadoras. Em dada cena, seu dom dá lugar a uma revoada de morcegos.

Ao saber dos experimentos de Aoyama, sua colega Hamamoto lhe conta que ela, também, está pesquisando uma coisa. Uma aparição misteriosa no meio das florestas da cidade, conhecida como “a lua de prata”.

Não demora para que o garoto perceba que a lua, os pinguins e sua dentista misteriosa são partes do mesmo enigma. E que toda aquela confusão, cedo ou tarde, explodiria diante de seus olhos.

O pior acontece quando a mulher do consultório, em vez de um pinguins, começa a produzir monstros. Quando o valentão Suzuki resolve capturar um espécime, as autoridades intervém. E a pacata cidade de Aoyama e seus amigos viram o palco de um episódio de Stranger Things.

Cabe ao garoto e à mulher do consultório salvarem o dia. Surfando uma estrada (literal) de pinguins, em um clímax tão surreal que daria inveja a Satoshi Kon.

Como as imagens deixam claro, Penguin Highway, o filme, é a adaptação que todo autor que vende os direitos da sua obra amaria receber. O anime de Ishida acompanha praticamente à letra o enredo do livro. A mudança não está no quê acontece, mas em como a história é contada.

Ou, melhor dizendo, em onde Ishida e seu roteirista, Makoto Ueda, decidiram mirar sua lente.

A “perfumaria”

O texto de Morimi segue uma estrutura quase episódica, em que a trama principal se perde em digressões e episódios avulsos.

São cenas de Aoyama peitando seus bullies, de Hamamoto jogando xadrez, de conversas quase idênticas no Café à Beira Mar, onde Aoyama e a mulher do consultório se encontram. Ou simplesmente listas tediosas dos achados do garoto, como se Morimi quisesse fazer o resumo de seu livro antes mesmo de terminar de escrever.

Eu registrei essa descoberta significativa no meu caderno.

> Quando o Mar aumenta, a mulher do consultório fica melhor

> Quando o Mar diminui, a mulher do consultório fica pior

Em termos práticos, isso acaba por diluir a clássica estrutura em três atos da ficção, dando a impressão, em alguns momentos, que a história não caminha a lugar nenhum.

Isso não é um problema para romances slice of life, mais interessados em acompanhar a vida de suas personagens que em expor enredos complicados. Porém, as cenas descritas por Morimi nem sempre são interessantes – e o linguajar pseudo-acadêmico de Aoyama é, simplesmente, um saco.

O filme de Ishida se livrou dessa “gordura” narrativa condensando-a em uma belíssima montagem musicada. Ao longe de apenas 2 minutos, o clipe nos traz alguns dos quadros mais belos de todo o longa. E, junto a eles, referências a cenas que Morimi desenvolve em detalhe em seu romance.

O palavrório científico de Aoyama, por sua vez, é representado por imagens de seus cadernos, pinceladas aqui e ali ao longo do filme. O recurso liberta Ishida da chatice crônica do protagonista, permitindo-o fazer o que conhece melhor: uma boa e honesta história sobre crianças.

Esses ajustes podem parecer coisa pequena, mas são mudanças que fazem toda a diferença. Não apenas na fluidez do roteiro, mas nos próprios temas que abordam.

Os Jaguadartes

Os monstros que a mulher do consultório produz não são criaturas quaisquer. Como tanto o livro quanto o filme nos deixam claro, eles têm uma origem literária.

O jaguadarte (em inglês jabberwocky) é uma criação de Lewis Carroll para o clássico Alice Através do Espelho. A arte de época mostrada no anime nada mais é que uma ilustração original de sua primeira edição.

O aparecimento dessas criaturas é uma virada importante tanto no romance quanto no anime. Nas páginas de Morimi, porém, as referências a Lewis Carroll vão muito mais longe.

No livro, os monstros aparecem logo no início da história. “Jaguadarte” entra para o vocabulário de Aoyama e seus amigos, a ponto de batizaram a floresta em sua cidade de “Bosque dos Jaguadartes”.

A relação entre os monstros e a mulher do consultório tampouco é gratuita. Em Alice Atrás do Espelho, a protagonista do País das Maravilhas retorna a um mundo fantástico, desta vez como peça em um gigantesco jogo de xadrez. Exatamente o jogo que a musa de Aoyama o convida a jogar – e que conecta o garoto às duas mulheres da sua vida.

Não à toa, a primeira tomada do filme (repetida na sua conclusão) mostra um tapete xadrez no quarto do menino.

Mais: os jaguadartes de Morimi são descritos como baleias-azuis com pernas humanas e asas de morcego. Não por acaso, já que Aoyama é obcecado por cetáceos, e suas conversas com a mulher do consultório geralmente convergem até ele. Perto do fim do livro, um sonho do garoto o coloca frente a frente com um espécime falante:

A baleia-azul estava murmurando alguma coisa.

– Jabberwock, o que você está dizendo?

– Deus às vezes comete erros – a baleia-azul disse – É apenas natural.

– Isso é inaceitável – diz a mulher.

– Todos os pinguins concordariam comigo.

– Bem, eu não sou uma pinguim.

– O mar está vindo! O mar está vindo! – a baleia-azul disse misteriosamente.

Todos esses elementos aparecem no anime. Incluindo uma estátua de baleia no Café à Beira Mar, onde Aoyama e sua amiga se encontravam para jogar xadrez.

Sem o contexto dado por Morimi, contudo, esses detalhes são pouco mais que easter eggs de seu material de origem.

A lua de prata

O surgimento dos pinguins não é o único mistério com que Aoyama tem de lidar. Logo no início do livro, o garoto escuta rumores de uma “lua de prata” que adoecia todos que olhassem para ela.

A princípio, Aoyama faz pouco caso para a lenda. É apenas quando Hamamoto chama a atenção para um fenômeno estranho escondido entre as árvores que o mito ganha traços de realidade:

Árvores cercavam a clareira. Uma terra esquecida no coração do Bosque dos Jaguadartes. Como um prato de sopa gigante esperando para ser enchido com algum tipo de líquido. Conforme eu andava por ele eu sentia que o céu era como uma tampa colocada em cima da gente. Como se a tampa da minha cabeça fosse puxada em direção ao céu.

(…).

No meio da grama, onde Hamamoto apontava, havia uma estranha esfera translúcida. De acordo com sua distância a partir de nós, o diâmetro da esfera era aproximadamente cinco metros. Ela flutuava cerca de trinta centímetros do chão. Ela não parecia usar nenhuma espécie de motor para se manter suspensa no ar. Eu sabia disto porque ela não produzia som algum. 

Para o crédito de Morimi, o “mar” – como seria chamado pelas crianças – é o tipo de invenção que parece feita para uma tela de cinema.

O “mar” não é o único ringue em que o anime nocauteia seu material de origem. Ver uma motocicleta dissolvendo-se em pinguins é o tipo de magia visual que nos remete às obra-primas da animação.

A prosa de Morimi tem seus momentos de inspiração (“Nós cruzamos a rua como bolinhas de gude através de um tapete”; “A mulher assobiou […] e os pinguins se ajeitaram como cavalheiros britânicos”). É preciso, contudo, mais do que comparações criativas para vencer o dom de Ishida.

Ponto para o anime.

A iniciação amorosa

Penguin Highway não é apenas um conto de fantasia. Como toda história bem contada, é também uma fábula sobre relações humanas. No seu caso específico, com uma pitadinha de amor.

Ou, pelo menos, sua adaptação é.

Aoyama decidiu “investigar” a mulher do consultório porque estava apaixonado por ela. Hamamoto se convidou ao seu projeto porque, secretamente, sentia ciúmes. Suzuki o atazanava porque curtia Hamamoto e o via como um rival.

O amor é a linha mestra nos principais conflitos no anime. Obcecado por sua “ciência”, contudo, Aoyama parece incapaz até de acreditar em amor, quanto mais de enxergar seus efeitos. Quando fala sobre o assunto, é difícil não imaginar que estamos ouvindo as declarações de um robô:

– Ah. Então o Suzuki está apaixonado pela Hamamoto. Eu não fazia ideia. Se ele se sentia desse jeito, ele devia ter me contado.

– O Suzuki nunca faria isso.

– Por que não?

– Por que ele sente vergonha.

– Por que o Suzuki sentiria vergonha de estar apaixonado pela Hamamoto? Ficar apaixonado com pessoas é totalmente normal. Minha mãe e meu pai se casaram porque eles se apaixonaram. Se meu pai não tivesse se apaixonado eu nunca teria nascido.”

– Isso é verdade – Uchida disse, rindo – Mas você simplesmente não entende.

No anime, o diálogo aparece com pouquíssimas alterações. Porém, graças à linguagem visual de Ishida – e de um competente trabalho de dublagem – nós entendemos o tom professoral de Aoyama pelo que de fato é:  o papo-furado de um garoto inseguro, intimidado pelos seus próprios sentimentos.

A literatura é plenamente capaz de passar essas ideias. Infelizmente, a prosa de Morimi não dá conta, e seus diálogos depenados, com poucos (e batidos) verbos de elocução, fazem o protagonista parecer um desalmado.

Que o próprio Morimi não dê a devida atenção aos sentimentos das suas personagens não ajuda. Em nenhum lugar isto fica mais claro que no festival de verão. Um episódio presente tanto no romance quanto no filme, mas que não poderiam ter sido apresentados de maneira mais diferente.

No livro, a cena se desenrola como uma série de encontros não relacionados, conforme o elenco da história explora as atrações da noite.  Nenhuma destas trocas traz informações nova, e a sequência soa apenas repetitiva. Um meandro desnecessário em um romance que já sofre de uma falta de direção.

No anime, pelo contrário, as personagens são reunidas em uma emboscada digna de uma comédia romântica.

Aoyama encontra Hamamoto e seu pai, que ainda não conhecia – ao contrário do livro, em que já haviam sido apresentados. A mulher do consultório surge segundos depois, e Aoyama se vê espremido dentro do próprio triângulo amoroso.

Cada linha de diálogo – original do anime – é carregada de duplo sentido.

“Quer dizer que somos rivais” diz o pai, ao ouvir de Hamamoto que ela e o garoto brincam juntos. “Nós somos parceiros de pesquisa.” Uma Hamamoto enciumada diz à dentista. “Quer dizer que é por isso que você deixou de lado a nossa pesquisa?” ela diz a Aoyama com um olhar lânguido.

Atento ao que é de fato importante, o roteirista Ueda coloca a bola no campo do Aoyama. O triângulo amoroso Suzuki-Aoyama-Hamamoto dá um passo para trás, substituído por outro: Aoyama e suas duas musas.

Prova: enquanto que no livro Aoyama irrita Suzuki ao dizer que gosta de Hamamoto, no filme é o bully quem sugere que ele tem uma queda pela garota.

Não adianta se esconder atrás dos outros, Aoyama. Nesse filme, é você quem deve tomar uma decisão sobre seus próprios sentimentos.

E é, afinal, esse foco em sentimentos que nos leva à mudança mais significativa de todas:

A descoberta da sexualidade

Morimi jamais esconde que os pinguins de sua história são pretexto para algo maior.  No fundo, o romance é uma crônica de seu amor pela mulher do consultório. E de como, igual a tantos garotos de sua idade com quedas por figuras maternas, ele aprendeu a superá-la.

Penguin Highway é uma indireta, criativa e psicodélica fábula sobre o primeiro amor. Esse detalhe traz aquela lufada de frescor no texto de Morimi e o previne – assim como o anime que o inspirou – de se tornar apenas mais uma fantasia escolar.

Se no livro esse sentimento pode se passar por um amor idealizado, contudo, o filme deixa claro que estamos falando de algo um tanto mais concreto: o despertar da sexualidade.

A diferença de ênfase fica mais clara quando Aoyama é convidado a passar a noite no apartamento de sua musa. No livro, a passagem é a seguinte:

Tudo o que eu podia ouvir era a chuva caindo fora da varanda e o som da mulher respirando.

Seus olhos e lábios estavam fechados, e ela dormia profundamente. Ela não falava durante o sono como minha irmã fazia.

Enquanto eu observava seu rosto, eu me flagrei me perguntando como que ele tinha adquirido aquela forma, quem decidia esse tipo de coisa. Claro, eu sabia que são os genes que decidem como seu rosto se parece. Mas não era isto que eu queria saber. Por que eu comecei a gostar tanto de olhar seu rosto? E como que os genes tinham conseguido fazer o rosto de que eu tanto gostava tão completamente perfeito? Era isto que eu queria saber.

Eu tentei escrever sobre esse mistério no meu caderno, mas eu nunca tinha escrito nada daquele tipo nas minhas anotações, então eu não soube encontrar as palavras para isso. Eu terminei apenas escrevendo O rosto da mulher, felicidade, genes, perfeição. Então eu escrevi sobre os ingredientes no espaguete da mulher e como extremamente gostoso ele tinha sido. Então eu escrevi sobre como nós tínhamos feito a salada como dois profissionais, começando com o molho, então misturando os vegetais.

Quando eu terminei de escrever, a mulher já estava dormindo.

Ocorreu-me que se ela ficasse com frio, ela podia pegar um resfriado, então eu peguei uma toalha na sua cama e e coloquei sobre ela.

No anime, não é apenas sobre a salada que Aoyama rabisca em seu caderno:

E, antes de cobri-la, seus olhos caem num ponto bem específico de seu corpo:

Essa conotação já existe no romance de Morimi. O próprio autor a coloca nos lábios de Aoyama:

Mulheres adultas não deixam homens adultos entrarem em seus apartamentos com frequência. E elas nunca dormem na frente deles. Isto só acontece se eles forem um casal. Mas a mulher do consultório me deixou entrar no seu apartamento e dormiu na minha frente. Isto porque eu era só uma criança.

Entretanto, é uma observação que não leva a nada.  No parágrafo seguinte,  o garoto volta a falar sobre as origens do sono e a NASA e seus planos para ganhar o Nobel. No filme, por outro lado, somos deixados com a lembrança daquela barriga descoberta. E o sentimento que algo mudou dentro de Aoyama.

Não é possível dizer que Ishida modificou seu material de origem. As duas sequências, afinal, são idênticas. Mesmo assim, o mero apelo à linguagem visual é suficiente para trazer uma bagagem que parece peitar os confins da prosa.

 

Penguin Highway é um romance medíocre com uma linda metáfora sobre o amadurecimento, soterrada debaixo de uma prosa insípida, um enredo recalcitrante e um protagonista antipático. Que Hiroyasu Ishida tenha construído a partir dele um filme desse calibre é praticamente um milagre – e prova de que o diretor é um dos novos talentos do anime contemporâneo.

Como um escultor respeitando os veios da madeira, Ishida enxugou Penguin Highway aos seus elementos fundamentais, libertando os temas-chave da fábula de Morimi da encheção de linguiça  que os tornava difíceis de ver.

Filmes que superam os livros em que são baseados são coisa rara. Penguin Highway, porém, entra para o seleto clube dos que violam a regra. E o faz nos ensinando uma lição que muitos roteiristas – e não poucos fãs – deveriam ter em mente:

Mais conteúdo nem sempre é o melhor. E o bom criador trabalha não só com a caneta, mas também com a tesoura.

Um único quadro expressivo, encaixado em um filme sem um grama de gordura, pode nos tocar muito mais fundo que parágrafos e parágrafos de devaneios.


Gostou do artigo? Gostaria de ver outras adaptações destrinchadas? Deixe-me saber nos comentários!

]]>
https://www.finisgeekis.com/2019/06/12/anime-x-livro-penguin-highway/feed/ 1 21784
Café com Anime: “The Promised Neverland” episódio final https://www.finisgeekis.com/2019/04/23/cafe-com-anime-the-promised-neverland-episodio-final/ https://www.finisgeekis.com/2019/04/23/cafe-com-anime-the-promised-neverland-episodio-final/#comments Tue, 23 Apr 2019 20:57:39 +0000 http://www.finisgeekis.com/?p=21740 Bem vindos ao Café com Anime, sua dose semanal de bom papo e animação japonesa!

Nessa temporada, o Finisgeekis, Anime21, Dissidência Pop e É Só um Desenho discutem The Promised Neverland.

O primeiro arco de Neverland chega ao fim, e uma excelente história de fuga abre as portas para algo maior. Com um cour finalizado e uma segunda temporada no horizonte, teria o hit da Shounen Jump mostrado ao que veio na telas?

Confiram abaixo:

  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino Desde o primeiro episódio acredito que vocês tenham remoido uma dúvida: seria Neverland uma história de fuga ou seria a fuga apenas o prelúdio para algo maior?
    Eu me contive para não dar spoilers, mas agora, felizmente, não tenho mais o que esconder. As crianças finalmente escaparam da Casa Grace Fields. Com um mundo inteiro pela frente, e outra história triste para trás. Desta vez, de ninguém menos que a Isabella. Ou, devo dizer, a mãe do Ray?
    E então, o que acharam do final do cour?
  • buniiito4Fábio “Mexicano” Pensando retroativamente, parece óbvio que não tinha como acabar só com a fuga, não é? O mundo é completamente desconhecido, afinal. Mas fico satisfeito que tenha acabado com a fuga. A grande história é mais do que a fuga, mas essa temporada é, sim, “só uma fuga”. E terminou muito bem. Por óbvio que fosse o final, Neverland continuou surpreendendo nas pequenas coisas e mantendo a tensão alta durante o episódio inteiro. E o que foi aquela revelação no final sobre o Ray? As pistas (vagas, insuficientes) foram cuidadosamente colocadas ao longo do anime. Que bomba! Nosso melhor anime da temporada. Bom, Dororo ainda pode superar, mas ele não acaba nessa temporada, né?

  • cat ultharGato de Ulthar  Foi um fim de temporada competente, gostei de ver como a Mamãe lidou com tudo isso, ou melhor dizendo, quais foram suas reações e sentimentos com a fuga. Ficou claro que ela aceitou a fuga e gostou do que aconteceu. Minha visão indica que no fundo ela queria testar as crianças, se elas seriam mesmo capazes de escapar daquilo, e por isso ela não podia facilitar nenhum segundo, já que lá fora também não teriam facilidades. Ela viu a Emma e o Ray realizarem o que ela não foi capaz na juventude. O que me chamou a atenção também, positivamente, foi que o menininho que ficou para trás fez parte do plano da Emma e do Norman. Lembram que nós especulamos se a Emma tentaria voltar para pegá-lo? Claro que o Vinicius sabia o que iria acontecer, mas ninguém mais sugeriu que fazia tudo parte do plano. Parabéns Neverland.

  • diego gonçalvesDiego  Foi um ótimo final para um ótimo anime. Eu já esperava que de alguma forma a história teria de lidar com o mundo exterior. Não imagino um mangá da Shounen JUMP terminando numa nota tão negativa quanto as crianças escapando, mas o resto das fazendas seguindo numa boa. Totalmente espero um conflito contra os demônios no futuro, e o bom é que talvez nem tenhamos de esperar muito. Segunda temporada já foi anunciada para o ano que vem.

  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino Tendo lido o mangá, foi interessante retornar a essa cena. Acho que a imagem da Isabella derrotada, torcendo pelo sucesso das crianças foi tão poderosa que seus esforços anteriores de capturá-las me pareceram até obstinados demais.

    Talvez minhas memórias estejam simplesmente me traindo, mas tive a impressão que os sentimentos da Mamãe foram colocados em termos mais ambíguos nessa adaptação. Da primeira vez que acompanhei a história, não tive como não pensar que ela estivesse, do começo, torcendo fracassar.
    Obviamente, eu não fui o único a ter expectativas desafiadas por esse final. Vocês, próprios, haviam criado hipóteses diferentes para os papéis da Emma e do Phil, sobretudo. Tendo visto o desenlace acontecer, quanto ele distoou do que vocês haviam imaginado para a história?
  •  buniiito4Fábio “Mexicano” Eu tinha parado há alguns episódios de tentar adivinhar o que iria acontecer =D Apenas tinha me preparado emocionalmente para o pior desfecho possível: ninguém foge, a Emma vira uma Mamãe, repete o ciclo. Mesmo a partir do momento em que tudo pegou fogo isso ainda era possível. Um cenário um pouco mais “realista”: alguns fogem, exceto talvez a Emma, que voltaria para buscar o Phil. Ou talvez aí sim o Ray tivesse sua oportunidade de se sacrificar, que ela negou antes. Sobre a Isabella, que você mencionou, não me foge a sensação de que ela estava sendo 100% sincera tanto quando queria capturar todo mundo quanto quando percebeu que foi derrotada e desejou sorte para as crianças.
  • diego gonçalvesDiego Acho que eu nunca abandonei de vez a expectativa de que esse plano deles iria dar errado e a temporada encerraria com as crianças ainda dentro da fazenda. Nesse sentido, foi muito bom estar errado, já que resultou num final bem mais satisfatório.

  • cat ultharGato de Ulthar Eu também nunca cogitei seriamente que as crianças não conseguiriam escapar, e foi preferível assim, ficar só no orfanato por mais tempo poderia tornar tudo enfadonho. Eu só não esperava a grandiosidade do plano que a Emma e o Norman elaboraram, fui pego mesmo de surpresa.

  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino Gostei também de ver que o anime terminou logo após a fuga, mas imediatamente antes de termos qualquer vislumbre do universo que se desdobrará pela frente. De certa forma, este foi o cliffhanger para acabar com os cliffhangers. Nem o tom, nem mesmo o gênero da próxima temporada está claro aos espectadores.

    Vocês têm alguma expectativa em relação a isso? No começo, o Diego comentou que a recepção do mangá era meio ambivalente, com muitas pessoas manifestando a opinião de que a história piorava após certo ponto.
    Esse é um medo concreto para vocês também?
  • diego gonçalvesDiego Meio difícil dizer sem saber o que vem pela frente. Mas é normal que mangás tenham arcos melhores e piores, pode ser o próximo não seja tão bom quanto este foi. Também é normal mangás mudarem um pouco de arco pra arco, e talvez o foco ou tom do próximo não tenha agradado tanto os que gostaram deste. Ou talvez o povo só esteja sendo chato mesmo e a história continue excelente daqui pra frente. Só o tempo vai dizer.

  • cat ultharGato de Ulthar Eu comecei a ver Neverland sem saber onde eu estava me metendo. Nem sabia direito sobre o que era o mangá, eu só li a sinopse mesmo, e aquela que aparece no My Anime List. E como não pretendo ler o mangá tão em breve, penso que continuarei a ficar no escuro. Mas algumas coisas são previsíveis. As crianças vão ter que lutar para sobreviver na floresta, eventualmente terão que confrontar algum monstro, etc…

  • buniiito4Fábio “Mexicano” Eu tenho a minha expectativa e tenho a minha expectativa sobre a expectativa dos outros. Opiniões negativas viralizam mais fácil, e da mesma forma é fácil imaginar alguém ficando incomodado, irritado, talvez furioso mesmo, com a necessária mudança de gênero que Neverland deve ter após esse arco de fuga. Esse tipo de opinião gruda que nem óleo viscoso e prolifera. Não me espanta que tanta gente reclame, e pela mesma razão que não me espanta, não me assusto por causa disso. Quanto a minha expectativa, bem. Neverland quebrou as minhas expectativas episódio atrás de episódio, vocês me viram aqui, conforme até mais ou menos depois da metade da série isso ainda me incomodava, mas então eu encontrei a paz quando decidi apenas aceitar tudo o que o anime jogar em mim. Ele não me desapontou em nada. É uma história pra assistir sentado na ponta da cadeira, com os olhos bem abertos e segurando o fôlego.

  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino  De fato, a comparação com o óleo não poderia ser mais apropriada. É incrível observar o quão comum esse tipo de coisa é no universo dos animes. Pontos a mais se for a adaptação de uma light ou visual novel celebrada, e o chorume não for sequer relacionado à produção em questão.

    Seja como for, não precisaremos esperar por muito tempo. Como vocês sabem, a segunda temporada de Neverland já foi confirmada.
    Palavras finais para dizer adeus à série, ao menos por enquanto?
  • buniiito4Fábio “Mexicano” Com segunda temporada anunciada nem considero um “adeus”, é só uma pausa um pouco mais longa do que uma semana. Como estou sempre assistindo muitos animes, isso raramente me incomoda – seja por estar acostumado, seja por logo arranjar mais coisas para assistir até lá. Foi um bom anime. O melhor de sua temporada. Tecnicamente impecável, e com um roteiro que te faz prender a respiração. É o tipo de história que é melhor aproveitada de uma sentada só, porque a maioria dos episódios termina com cada cliffhanger que é de matar.

  • diego gonçalvesDiego Concordo com o Fábio que isso é muito mais um “até logo” do que um “adeus” :smile: O que é bom, ou eu teria de correr ir ler o mangá :stuck_out_tongue: (e a porcaria da Panini nada de reimprimir o volume 1, que esgotou em nem 3 meses >.>). Mas bom, como palavras finais, fica que Neverland foi uma agradável surpresa. Já esperava que fosse ser bom, pelo hype que há para com a série, mas acabou superando muitas das minhas expectativas. Aguardo ansiosamente a continuação.
  • cat ultharGato de Ulthar Concordo com os demais, foi um bom anime sem sombra de dúvidas. E como todos, vou esperar ansiosamente pela segunda temporada.

  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino Que ela chegue logo!

    Muito obrigado a todos vocês que nos acompanharam nessa jornada. E até a próxima!

]]>
https://www.finisgeekis.com/2019/04/23/cafe-com-anime-the-promised-neverland-episodio-final/feed/ 1 21740
Café com Anime: “The Promised Neverland” episódios 10 e 11 https://www.finisgeekis.com/2019/03/27/cafe-com-anime-the-promised-neverland-episodios-10-e-11/ https://www.finisgeekis.com/2019/03/27/cafe-com-anime-the-promised-neverland-episodios-10-e-11/#comments Wed, 27 Mar 2019 21:17:45 +0000 http://www.finisgeekis.com/?p=21718 Bem vindos ao Café com Anime, sua dose semanal de bom papo e animação japonesa!

Nessa temporada, o Finisgeekis, Anime21, Dissidência Pop e É Só um Desenho discutem The Promised Neverland.

A conclusão de Neverland chega não com sussurro, mas com um estrondo. Às vésperas do episódio final, aproveitamos para discutir o que fez dessa série tão instigante – e onde ela pisou em falso.

Confiram:

  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino

    Ante-penúltimo episódio. Acho que já podemos fazer um balanço, não?

    Não é preciso ser um adivinho para saber que a trama de Neverland está se fechando. De uma maneira ou de outra, seu maior conflito (a tentativa de fuga de Grace Fields) está prestes a ser resolvido.

    Tampouco é preciso de muito para notar que seu autor fez de tudo para tornar essa conclusão imprevisível. Episódio após episódio, cena após cena, até, acompanhamos um enredo que insiste em escorregar da nossa mão.

    Com base em tudo o que tivemos agora – e tudo o que esse episódio trouxe- vocês acham que Neverland foi longe demais? Teria o anime cumprido seu objetivo bem demais?

  • buniiito4Fábio “Mexicano”

    Longe demais? A minha impressão é que a história mal começou.

    Se fosse só a história da fuga daquelas crianças então sim, estaríamos perto do fim, mas antes sequer que elas tivessem qualquer chance a coisa cresceu de proporção de tal maneira que elas simplesmente fugirem (ou fracassarem) não passa de um prólogo. Quanto a cumprir o objetivo … não sei, qual é o objetivo de Neverland? Às vezes eu ficava com a impressão que seu autor quer fazer uma crítica à criação e consumo de carne, mas a história é muito complicada para justificar que fosse apenas proselitismo vegano. Então o objetivo é a história em si. Bom, mal começou, como eu disse, se a ideia é se estender indefinidamente, sem dúvida está no caminho certo. Se tiver se referido ao tom da trama ou gênero, hmm, é um thriller muito bom, suponho? Mas bastante frustrante para quem espera um mistério ou suspense – e parei de esperar por isso, juro! Como você mesmo disse no encerramento do Café anterior, “tão empenhada em se tornar imprevisível, acaba nos dando pouquíssimo material para especularmos”, e é isso mesmo. Não é problema nenhum se esse o autor não quiser mesmo que especulemos – ou seja, se não for mistério ou suspense. Os atos apresentam várias pistas e são emocionantes, mas nos entreatos pode acontecer literalmente qualquer coisa, até mesmo anulando quase tudo o que (em termos de mistério) se evoluiu até então.

  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino

    Por “longe demais”, quis dizer exatamente isso. Não o percurso literal que a história tomou, mas as bananeiras que o autor vem plantando para tornar cada twist excitante.

    E sim, Neverland não é arte de “mensagem”. (Graças a Deus, aliás! Quem aguentaria um shounen do PETA?)

  • buniiito4Fábio “Mexicano”

    Mas a morte da Krone evocou forte essa imagem, com as crianças comendo carne ao mesmo tempo em que ela era abatida Aliás, o próprio PETA percebeu a convergência de seus ideais e a mensagem acidental ou não de Neverland.

    Quanto a esse tipo de “longe demais”, depende do que se espera da história. Depois de me frustrar mais de uma vez, e vocês aqui foram testemunhas de camarote disso, desisti de encarar Neverland como mistério ou suspense. Mas suponho que mesmo assim possa se tornar cansativo caso a história se estenda demais e o mundo continue crescendo sempre esmagando as esperanças de seus personagens – mas acho que isso ainda não aconteceu.

  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino

    A cena simplesmente mostrou um paralelo entre a situação das crianças e da Krone. Em nenhum momento estendeu essa imagem a uma crítica ao consumo de carne ou uso de animais. Isto teria feito as próprias crianças “culpadas”, já que estão comendo bichos. Já parou para pensar de onde veio aquela salsicha? Pois é, aposto que o mangaká também não.

    E o PETA “percebe a convergência” porque “perceber as convergências” é tudo o que essa seita secular é capaz de fazer. Eles têm uma produção cultural desprezível, um histórico de ativismo vergonhoso, uma causa que não inspira ninguém. E vivem de pedir “caronas”, atacando ou apropriando obras famosas, para se manter na mídia.

  • buniiito4Fábio “Mexicano”

    Concordo. É preciso uma leitura bastante rasa, do tipo que eles costumam fazer mesmo, por isso que, óbvio, eles enxergam essas convergências. Eu só acho que algumas cenas podem dar azo a esse tipo de interpretação, mas como já disse, não me parece ser a intenção do autor.

  • diego gonçalvesDiego

    Eu vou ignorar todo o papo sobre a PETA (porque né) e só ir direto pra pergunta inicial do Vinicius sobre se o anime está indo longe demais. E isso porque a minha resposta é: olha… eu diria que ta bem perto disso. O anime já tem literalmente mais mistérios do que eu consigo me importar. O código nos livros, o que a Krone tinha descoberto que o Rey sabia, o que a Krone deixou para as crianças, e agora ainda temos o que quer que o Norman tenha visto naquela salinha brilhante. Está começando a me encodar esse empilhar de mistérios sem nunca responder nenhum, e mais um pouco eu nem vou conseguir lembrar de todos.

  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino

    Fãs de animes adoram dizer que “o mangá é sempre melhor”. Eu sou da impopular minoria que acha que isto não é verdade. Pelo contrário, acredito que a linguagem visual tem um poder intrínseco que os quadrinhos custam a bater. Contudo, assistir Neverland com vocês, depois de ter lido o mangá sozinho, me fez entender que há um quesito, sim, em que mídias escritas podem levar o troféu.

    O andamento.

    Lendo Neverland um tankobon por vez, as tensões e resoluções do enredo se seguiam de uma forma tão rápida que formavam um ritmo próprio. Você aprendia a gostar daquela história alucinada, mesmo sabendo que não terminaria a história da mesma forma como a começara.

    Muito embora o anime seja perfeitamente fiel ao seu material de origem, ter traduzido essa história a doses semanais de 25 minutos parece ter dado outra cara a sua trama. Reviravoltas menores (ex. a porta se abrindo) foram elevadas a grandes acontecimentos. E a simetria dos seus capítulos (ex. os flashbacks) acabam parecendo repetitivos.

    Não quero dizer que o ‘formato TV’ seja necessariamente ruim. Mas não ornou muito esse tipo específico de história.

  • cat ultharGato de Ulthar

    Não sei se gostei desse episódio, nem se não gostei, me pareceu sei lá, qualquer coisa. Como o Diego disse, é mistério sobre mistério, e sem grandes pistas e revelações fica difícil conjecturar. É um tanto torturante ter de simplesmente aguardar os fatos ocorrerem sem ter a mínima noção de como, onde e quando algo de relevante pode surgir.

    O Norman não me parece que foi levado pelos monstros né? Essa foi minha impressão.

    Eu estava irritado com o fato de ele ir lá morrer, mesmo que isso fosse plausível, essa reviravolta pelo menos dá mais pano para manga.

  • buniiito4Fábio “Mexicano”

    Não sei se é melhor ou pior do que o mangá porque não li o mangá.

    Mas das poucas páginas que vi, acho a arte do anime mais bem acabada, e as sombras dão um tom muito mais sinistro à história também, no mangá parece ser tudo muito claro. Se o formato televisivo seriado não é “bom” para a história eu também não sei – pelo mesmo motivo, não conheço o original. Mas tendo a acreditar que sempre é possível adaptar, mas animes de mangás da Jump costumam adaptar bem pouco, optando por apenas transliterar a maior parte do enredo.

    Seria um problema de adaptação, então, supondo que o ritmo fique melhor no mangá, e não um problema inerente da TV. De todo modo, desde que não se espere muito mistério (ou melhor, desde que não se espere ser capaz de acompanhar os mistérios), não acho que o anime esteja deixando a desejar.

    Neverland quer nos dar esperanças e espatifá-las em seguida, e tem feito isso muito bem. Tão bem que talvez perca o efeito caso se prolongue demais, mas para um cour funciona bem.

  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino

    Eu concordo, Fábio. A produção do anime está de parabéns Dentro dos parâmetros realistas, não consigo imaginar nada que gostaria de ver de outra maneira.

    Mas já que você trouxe o assunto à tona, por que não falamos mais sobre isso? De tudo o que Neverland trouxe até agora, do que vocês mais gostaram?

  • diego gonçalvesDiego

    É difícil escolher uma só coisa. Mas acho que vou com a atmosfera. Neverland merece os parabéns por conseguir manter sempre uma atmosfera de tensão. Tudo parece sempre a um passo de dar errado, e dar errado da pior forma possível para todos os envolvidos. Não é fácil manter esse clima sem a audiência começar a perceber que não tem nada ali.

  • cat ultharGato de Ulthar

    Eu gostei da ambientação e do contexto no qual o enredo se desenvolve. Essa ideia de matadouro humano é bastante interessante, principalmente quando são crianças que não se dão conta disso as vítimas. Tenho que admitir que é bastante criativo.

  • buniiito4Fábio “Mexicano”

    Eu gostei de como no final das contas o Ray pensa parecido comigo, hahaha! Excelente décimo primeiro episódio, disparou quase todas as pistolas que o Chekhov deixou armadas =P Mas ainda falta pelo menos a mensagem oculta dos livros, e talvez mais alguma coisa que eu esteja deixando passar agora. Com o que Neverland pretende nos surpreender no final, hein?

  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino

    Difícil saber, pois o episódio 11 já nos trouxe uma bomba tremenda.

     

    Eu sabia que esse momento chegaria, mas confesso que fiquei surpreso com a maneira como essa conclusão foi dividida. É em momentos como esse que fazem falta aquelas finales longas de dois episódios comuns na TV americana. O que eu não daria para curtir essa fuga como um grande especial!

    Seja como for, acredito que esse desenlace comprovou várias das impressões que discutimos aqui ao longo do anime. Em especial, a razão para Neverland ter aproveitado tão cautelosamente seu status quo.

    Como dissemos, as coisas não podiam mudar muito pois, se mudassem, seria sem retorno. Um incêndio no refeitório, condenando de vez a Casa Grace Fields, atesta isso melhor que mil palavras.

    E falo apenas por mim, mas achei que a tensão e a competência desse episódio mais do que compensaram pelo interlúdio um tanto vagaroso do arco da Krone.

    O que vocês acham?

  • cat ultharGato de Ulthar

    Olha, foi um episódio bem intenso. Eu realmente não esperava que houvesse todo esse plano secreto da Emma e do Norman para contar a situação para todas as crianças há bastante tempo. Me senti meio passado para trás, já que o anime não deu nenhuma pista disso. Mas foi legal de se ver, é gostoso ser pego de surpresa desta forma.

    Só me pergunto uma coisa, era realmente necessário o Ray e a Emma terem cortado as orelhas fora? Eles ainda não possuíam aquele aparelho que desliga o rastreador? Na medida que fui escrevendo essa pergunta aqui me veio uma possibilidade, a Emma deve ter deixado o aparelho com o Don ou a Gilda, já que haveria a possibilidade dela não conseguir escapar com o Ray, então eles deveriam fugir sozinhos, e o aparelho era fundamental para usar nas crianças, não seria nada legal arrancar a orelha de todo mundo né?

    E fiquei puto com aquele molequinho que ficou com a Mamãe, se bem era questão de tempo para ele aprontar alguma.

    Agora capaz da Emma tentar voltar para salvar ele, nesse ponto espero que o pragmatismo do Ray funcione e tire dela essa possível ideia mortal.

  • buniiito4Fábio “Mexicano”

    Eles precisavam desativar todos os rastreadores ao mesmo tempo, em dois lugares simultâneos, e só tinham um aparelho. Acho isso bem resolvido.

    E a Emma pode voltar. Ela é candidata a Mamãe, ela não vai necessariamente morrer. Seria um desenvolvimento … interessante. Quero dizer, se todos eles fugirem, o resto da história vai ser o quê? Será que acompanhar a Emma dentro do esquema não seria mais interessante?

  • cat ultharGato de Ulthar

    E tem o Norman da questão, não me pareceu que ele foi enviado pro abate no episódio anterior.

  • buniiito4Fábio “Mexicano”

    Até porque me parece que Neverland deu vários sinais de que a Isabella pode ter sido parecida com a Emma. Até a Krone teve seus momentos. A essa altura a Isabella está definitivamente perdida, ela falar sobre salvar “pelo menos o cérebro” diz muito sobre quão longe ela já foi. Mas e a Emma? Irá conseguir evitar as armadilhas psicológicas que destruíram Krone e Isabella?

    E sim, fiquei com essa impressão sobre o Norman também. Mas disso isso desde lá: não apareceu corpo, estou desconfiado. E agora descobrimos que ele ganhou chaves da Krone.

    Estou tremendo de curiosidade aqui para pesquisar “adult Emma” no Google. Será que estou certo? Será que estou errado? Acho que isso quer dizer muito sobre Neverland.

  • cat ultharGato de Ulthar

    Eu sei um fato sobre a Emma que me irritou por ser um spoiler descarado que fui exposto não-intencionalmente Deixo registrada minha raiva aqui!

  • buniiito4Fábio “Mexicano

    No Facebook?

  • cat ultharGato de Ulthar

    Sim, já faz um tempo.

  • buniiito4Fábio “Mexicano”

    Você não dá sorte com o Facebook. Enfim, a minha sorte é que quase não tenho acompanhado grupos de anime em redes sociais. Infelizmente mesmo os melhores deles têm gente tóxica.

  • diego gonçalvesDiego

    Também já tomei spoiler, ainda que um diferente do que o Gato deve ter tomado. Facebook bem podia ter uma tag de “spoiler” que escondesse certas imagens. Pena. Mas voltando ao episódios, foi mesmo bem interessante, e diria até que bem satisfatório, ver tudo se encaixando. Desde mistérios que eu já nem lembrava que existiam, como a conversa da Emma com o Norman, até a situação da Emma e do Rey no episódio passado. E agora é saber o que diabos aquele garotinho está fazendo do lado da mamãe. Será que ele é mesmo (ou quer ser) o novo “Rey”?

  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino

    Acredito que esse último mistério se deve, em parte, ao “corte” que o anime fez. Ao dividir a fuga em duas – e, especial, desse jeito específico – trouxe uma ambiguidade à aparição do Phil.

    Agora, eu preciso dizer que estou entretido com as possibilidades que vocês levantaram. Que a Emma virasse uma Mamãe não foi uma hipótese que passou pela minha cabeça quando eu li esse capítulo pela primeira vez.

    Mais o mais interessante foi o que o Fábio disse: se eles fugirem, e aí? É um problema clássico em histórias de fuga (fãs de Prison Break sabem do que estou falando). Uma vez que todos estejam do lado de fora, é preciso voltar para dentro… ou aprontar alguma maracutaia que mude drasticamente o foco da história.

    Vocês realmente esperam que a Emma se una ao esquema? Ou acha que Neverland virará a mesa e mandará essas personagens aonde nenhum protagonista jamais foi?

  • buniiito4Fábio “Mexicano”

    Existe a hipótese também de que “fora da prisão, havia outra prisão”. Uma espécie de matrioska de prisões.

    Mas pensando bem, acho que a hipótese nula seria eles fugirem mas a Emma decidir que vai acabar com o complexo e etc. Ela fez tanta questão de tirar cada alma viva de lá que não a imagino bem consigo mesma caso viva e cresça sabendo que aquela porcaria continua existindo. Mas se eles não conseguirem fugir … não sei. Ah, e os livros agora me irritam mais do que nunca. Uma pista que não deu em nada e está ardendo lá dentro.

  • diego gonçalvesDiego

    Não deu em nada ainda. Me parece bem provável que a primeira ação das crianças depois de fugirem deveria ser procurar pelo autor daqueles livros. Quanto ao avançar da série na longa duração, eu imagino que Neverland só acabará mesmo com o fim desse sistema. Que nossos protagonistas consigam fugir é legal, mas sempre ficará aquela lembrança de que em outras fazendas ainda há crianças virando comida de demônios.

  • cat ultharGato de Ulthar

    Não acho que ela vá se unir com a mamãe, e talvez se ela for será apenas com a intenção de se infiltrar.

    E quanto aos livros, não imagino como a pista irá ajudar, como eles vão atrás do autor? Só se eles se esbarrarem sem querer por aí.

  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino

    Como eles vão atrás do autor? Ah, Gato essa é a pergunta de um milhão de reais 🙂

    Mas não vou dizer mais nada, com o risco de passar spoilers. E posto que amanhã teremos nosso grande finale, talvez seja melhor deixar as coisas por aqui, para dar tempo de preparamos a pipoca.

    Até lá – e que a conclusão seja de fato bombástica!

 

]]>
https://www.finisgeekis.com/2019/03/27/cafe-com-anime-the-promised-neverland-episodios-10-e-11/feed/ 1 21718
Café com Anime: “The Promised Neverland” episódios 8 e 9 https://www.finisgeekis.com/2019/03/15/cafe-com-anime-the-promised-neverland-episodios-8-e-9/ https://www.finisgeekis.com/2019/03/15/cafe-com-anime-the-promised-neverland-episodios-8-e-9/#respond Fri, 15 Mar 2019 19:35:28 +0000 http://www.finisgeekis.com/?p=21682 Bem vindos ao Café com Anime, sua dose semanal de bom papo e animação japonesa!

Nessa temporada, o Finisgeekis, Anime21, Dissidência Pop e É Só um Desenho discutem The Promised Neverland.

Com nove episódios sob o braço, Neverland se aproxima de seu desenlace mais crítico. Mas estaria esta fantasia de suspense entregando o que prometia?

Venha discutir com a gente:

  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino
    Neverland pode ter uma premissa macabra, mas nem por isso abre mão do humor negro. Acompanhar Krone se tornando uma presa foi uma das sequências mais inspiradas até agora.

    O resto do episódio seguiu por linhas previsíveis. Tivemos o obrigatório flashback que humaniza nosso vilão antes dele sumir de cena (e que parece estar se tornando onipresente nos animes esses dias).

    Lembra que eu lhes contei que o mangá trazia informações adicionais no diálogo da Krone com as crianças? Pois bem, elas apareceram todas nessa cena, convenientemente orquestradas com sua morte dolorosa.

    O que imagino que vocês não imaginavam, no entanto, era isso:

    E a revelação de que nosso esperto Norman, o terceiro pé do móvel, nas palavras inspiradíssimas do Fábio, está com os dias contados.

    Ou estou enganado?

     

  • diego gonçalvesDiegoPelo que a mamãe falou, o Norman vai embora no dia seguinte. O que é um choque sobretudo porque eu esperava que os três seriam despachados juntos. Talvez isso seja uma pista de que a mamãe está começando a ficar com medo das crianças? Ou será que era tudo parte do plano desde o início? A cena que busca humanizar a Krone soou bem forçada pra mim. É o tipo de coisa que precisava ter vindo antes, porque colocar ali fica muito com cara de “oh, sinta-se mal por essa pessoa que até o episódio passado era uma das maiores vilãs da história, vai, chora ai”. Nada contra humanizar vilões, mas Neverland fez de uma forma meio preguiçosa. E bom, pobre Emma. Isso ai deve ter doído.

     

  • cat ultharGato de Ulthar Esse episódio me gerou emoções conflitantes, por um lado gostei da tensão gerada e por outro me pareceu as ações de todo mundo um tanto forçadas. A mamãe demorou muito para agir não? Ela sempre pareceu ter a faca e o queijo na mão, e até demorou bastante para tomar uma iniciativa.

    Gostei daquele cena curta onde deu para ver que a mamãe também tentou fugir quando criança. Me pergunto se tentarão converte a Emma em uma mamãe/irmã.

    E concordo com o Diego, a humanização da Krone veio muito repentina logo antes de sua morte, o que cortou um pouco o seu efeito.

     

  • buniiito4Fábio “Mexicano”Posso reclamar de novo de algo que não ficou claro? A cena da Isabella levando a Emma no colo de encontro às crianças mais novas. As reações das crianças mais novas pareceram muito … estranhas. Eu não sei dizer o que foi (o anime não quer que eu saiba nada, afinal), mas elas pareciam mais assustadas e desconfortáveis do que apenas crianças vendo uma amiga delas com a perna machucada porém já sob cuidados de um adulto. Exceto o Phil, claro, a falta de percepção inocente dele já ultrapassou sei lá quantas fronteiras de suspeição.

    Mas isso foi só a cena final (e me incomodou bastante pelos motivos de sempre, mas não vou insistir nisso). O resto do episódio foi sim muito bom.

    Teve a coisa da humanização da Krone em seu último suspiro que vocês apontaram, né, e isso é um problema supondo que seja, de fato, humanização. Não acho que dá para ter certeza que tenha sido isso. Mas não sei dizer também porque ela fez questão de puxar o tapete da Isabella se já havia sido designada à uma fazenda, a não ser que “Fazenda 4” seja algum código para “Você está morta”, o que não é de todo impossível dado que o número 4 e a morte têm uma associação forte em japonês. Se ela já sabia que estava condenada, faz sentido que quisesse jogar a merda no ventilador – e isso não é uma “humanização”, é só, como a própria tentativa vã dela de fugir do demônio, uma infeliz criatura se debatendo até a morte, por impossível que seja escapar.

     

  • booker finisgeekis 1Vinicius MarinoNós escutamos a historinha triste da Krone. Assistimos sobre como ela, também, é gente como a gente. E, como as crianças do presente, batalhou pela própria vida, fazendo o necessário para sobreviver.

    Testemunhamos inclusive aquela boneca creepy de dar medo se transformar num símbolo da sua inocência perdida.

     

    Acho que é isso que o Diego e o Gato quiseram dizer ao mencionar que ela foi humanizada.

    Claro, o que nos leva ao ponto crucial. Esses flashbacks truncados, tão comuns em anime, banalizam a própria razão de existir do flashback.

    Nós comentamos em um Café passado (não me lembro de qual anime) sobre como o passado só é importante numa história se influenciar o futuro de alguma maneira. Diretamente (ex: um inimigo que volta à ativa) ou indiretamente (um trauma que paralisa o herói). E como alguns animes se perdem em reminiscências desnecessárias, que nunca se encaixam na trama principal.

    Eu sinto que esse “adeus” para a Krone foi justamente isso. Um obituário. Nós não precisávamos saber do seu passado, pois a essa altura do campeonato tudo aquilo era prescindível.

    O que dá raiva é que bastaria inverter a ordem da exposição que tudo se resolvia. Como, aliás, fez o mangá. Ao entrarmos na mente da Krone durante sua artimanha para convencer as crianças, o flashback se transformava em uma potencial pista. Nós tínhamos um incentivo para guardar aquela informação, pois não sabíamos se a Krone continuaria ou não no pedaço.

    Felizmente, nem todas as personagens estão com o destino traçado. Falo, é claro, nesse nosso amigo aqui:

    Vocês já me disseram que não esperam uma grande baixa. Mas isso foi há alguns episódios.

    O Norman parece estar com a corda no pescoço. Vocês acham que ele consegue escapar?

     

  • buniiito4Fábio “Mexicano”Nesse tipo de circunstância, eu acho que me mataria, e de alguma forma que me tornasse “impróprio para consumo”. Aquela ideia de veneno do Ray, que no fim das contas era só um despiste, viria à calhar aqui. É por despeito mesmo, para negar aos meus algozes o prazer da vitória. Por saber que se vou morrer de qualquer jeito, quero escolher como. Talvez contar tudo para as outras crianças seja uma boa ideia, só pelo caos mesmo. Talvez tacar fogo na casa seja uma boa ideia. Mas eu ainda acho que ele não vai morrer agora. Não confio mais nesse anime

     

  • diego gonçalvesDiegoAcho que agora seria uma boa hora pra por em prática o plano de matar a mamãe, contar tudo pra crianças, tomar a fazenda e estabelecer uma resistência contra os demônios Mas nah, o Norman não morre. Não agora.

     

  • booker finisgeekis 1Vinicius MarinoInteressante você ter citado isso, Fábio. Pois o suicídio é, de fato, uma tática de resistência comum entre escravos ao longo da história.

    Poderia dar vários exemplos históricos, mas vou citar um de que vocês talvez se lembrem. Em 2012, centenas de funcionários chineses de uma fábrica da Microsoft ameaçaram um suicídio coletivo se suas condições de trabalho não melhorassem.

    Esse episódio ganhou a mídia, mas está longe de ser o único. Pelo contrário. Os funcionários, submetidos a uma rotina de sweatshop, frequentemente decidiam tirar a vida.

     

  • cat ultharGato de UltharDuvido que o Norman se mate ou morra, duvido que qualquer um do elenco principal encontre o seu fim, devido ao plot armor, posso esta enganado, mas é isso que eu penso. Acho cedo demais para acontecer qualquer coisa com o Norman, ele é o cabeça de toda a operação.

     

  • buniiito4Fábio “Mexicano”E será que foi o caso da Krone, que, bem, aí sim então teria sido “humanizada” no sentido que eu quis dizer antes? Um sentido necessariamente positivo, que, admito, não é o único possível para a palavra. Continuo achando estranho que, supostamente tendo conquistado seu sonho de se tornar uma Mamãe ela ainda tenha tentado dar duas apunhaladas finais na Isabella (a denunciou e deixou algo para as crianças).

    Cheguei a cogitar que fosse rebelião contra a Isabella em si, mas se fosse o caso suponho que teríamos visto pista em seu flashback. Não tem nada, assisti de novo para me certificar. Duas hipóteses: ou ela descobriu que ia morrer na conversa que teve com a Isabella (ou tinha motivos muito fortes para suspeitar disso), ou foi pura ganância, sabendo que aquela fazenda é, nas palavras da Vovó, “especial”.

    Tendo à primeira, por ser mais dramática E também por ela ter feito questão de dizer, no episódio passado, que uma vez feita a operação para se tornar uma Irmã, candidata a Mamãe, ela nunca mais pode sair do terreno da fazenda ou instalações anexas, e pelos seus últimos pensamentos, desejando que as crianças consigam escapar. Nessa hipótese, talvez ela estivesse desde sempre trabalhando de alguma forma para acabar com aquele sistema – daí a “humanização positiva” que mencionei.

     

  • cat ultharGato de UltharNão consigo pensar que ela tenha trabalhado para acabar com o sistema. No flashback eu senti que ela queria entender direito aquilo tudo e sobreviver, só isso. A empatia pelas crianças e o desejo que elas conseguissem escapar teria vindo no momento em que ela se viu completamente derrotada pela Isabella e desejou que elas perpetuassem uma espécie de vingança, que consistiria em derrotar a Mamãe, a Vovó e mais sei lá quem seja e escaparem.

     

  • buniiito4Fábio “Mexicano”Então você acha que ela arriscou desesperadamente a vida só por ganância?

     

  • cat ultharGato de UltharPenso que sim, a posição de mamãe parece ser a mais confortável e a estabilidade emocional da Krone não é o seu forte, o que pode ser visto pela relação doentia com sua boneca, e isso a fez tomar medidas precipitadas. Além disso, as irmãs me parecem meras estagiárias, que ainda estão na fase de testes, sendo uma Mamãe ela poderia ter uma estabilidade e segurança que tanto desejava.

    E uma coisa que ficou mal explicada, desde o começo foi mostrado que a Krone conhecia a Isabella e que nutria uma rixa. Elas até podem não ter se encontrado antes, mas a Krone evidentemente invejava a Isabela, e pode ser por ela ser a queridinha da Vovó, o que ficou claro nesse episódio, já que ela apagou a Krone para botar panos quentes na conduta errônea da Isabella em relação às crianças.

    No fim das contas a Krone queria tanto sobreviver que se meteu em uma grande enrascada.

     

  • buniiito4Fábio “Mexicano”Mas supostamente ele ia virar Mamãe, só que de outra fazenda. A ganância que eu digo é a de querer ser daquela, que é “especial”.

     

  • cat ultharGato de UltharSim, mas ela não sabia que iria virar Mamãe, e nem é certo que iria virar, para mim foi uma desculpa para ela ir até o portão ser morta. E sim, concordo, ela foi gananciosa e invejosa da posição da Isabella, por isso foi imprudente. Aposto que se fosse o contrário, a Krone como Mamãe e a Isabella como Irmã, ela não teria dificuldades em desbancar a Krone de uma maneira muito sutil e eficiente.

     

  • diego gonçalvesDiegoEu nem acho que foi ganância, acho que foi é rancor. Lembram que alguns episódios atrás ela ficou tão emputecida com a Isabella que decidiu que faria tudo para derrubá-la? Contar o que ela sabia para a Vovó foi uma espécie de “última tentativa”, e no que ela viu que mesmo isso falhou ela deseja que as crianças escapem. Uma espécie de última chance de vingança só.

     

  • buniiito4Fábio “Mexicano”Vingança ou ganância, essas duas hipóteses, no momento, me soam tão pobres, tão carentes de motivação, subdesenvolvidas, e inconsequentes para o enredo, que admito que não quero que seja isso por puro pensamento positivo.

     

  • booker finisgeekis 1Vinicius MarinoChegamos então no episódio nove. E eu repito a pergunta: e agora, José? Vocês ainda acham que o Norman se safa?

    Pergunta melhor: vocês acham que alguém escapa?

     

  • buniiito4Fábio “Mexicano”Em primeiro lugar eu tinha entendido que ele não ia fugir, só ia fingir que fugiu e ficaria se escondendo em algum lugar nos bosques dentro do terreno da fazendo. E, mesmo se o plano era se esconder fora e ficar indo e voltando para conversar, a descoberta do precipício tornaria a ideia de se esconder dentro razoável.

    A não ser que o terreno seja muito menor do que o anime constantemente dá a entender. Nesse particular, faço a pequena concessão de que o mundo sempre parece maior do que realmente é para uma criança, então não podemos ter certeza das escalas apresentadas porque as estamos experimentando provavelmente do ponto de vista de seus protagonistas, que são crianças.

    Em segundo lugar, não era uma ideia melhor quebrar um braço ou perna do próprio Norman? Ok, não era, porque se existe o risco de mandarem outro em seu lugar teriam que quebrar todos, e isso simplesmente é uma ideia bem ruim. A “fuga” permitiria que pelo menos um deles estivesse em plenas condições físicas – enquanto os outros dois conseguissem manter a saúde e nutrição dele fora da casa, claro.

     

  • diego gonçalvesDiegoO plano de se esconder falhou no momento em que ele percebeu aquele precipício. Digo, o fato dele existir já denuncia que o Norman só poderia estar em algum lugar da propriedade, e ai era só uma questão de procurar. Ou de ficar de olho na Emma e no Rey até um deles levar ao Norman. Não tinha mesmo saída. E agora sabemos porque a Isabella aceitou se tornar uma mamãe naquele flashback da Vovó, mesmo depois dela ter conseguido subir o paredão.

     

  • buniiito4Fábio “Mexicano”Eu ainda teria aproveitado para andar o muro inteiro, ou uma boa parte dele, para fazer um reconhecimento melhor do terreno.

    Talvez o anime venha dizer no próximo episódio que ele fez isso, embora claramente o tempo não pareça ter sido possível, enfim.

     

  • cat ultharGato de UltharPois é, não teria sido melhor o Norman ficar escondido na floresta? Sempre haveria o risco da Mamãe achar ele, mas mesmo assim foi o que eu pensei que ele faria.

     

  • booker finisgeekis 1Vinicius MarinoSe ele neutralizasse o localizador (como o Ray sugeriu) ele poderia tranquilamente ter ficado na floresta. Ok, não seria um esconderijo permanente, mas o que a Isabella vai fazer? Deixar as tarefas de lado para caçá-lo entre as árvores? Chamar ajuda externa, comprometendo potencialmente o segredo?

    Mas acho que há aqui um pouco da ambição do próprio Norman. Imagine que você é um menino prodígio, vivendo numa gaiola dourada. Você sabe que há um mundo externo. Você quer conhecer esse mundo. Se tivesse a oportunidade de dar uma espiada, um instante que fosse, você não a abraçaria?

     

  • buniiito4Fábio “Mexicano”Supondo que seja impossível sair pelo muro, que é o plano deles e a Isabella sabe, é fácil ela deduzir que, se o Norman sumiu, ainda está escondido em algum lugar dentro. Não precisa procurá-lo, basta ficar de olho no rastreador para quando notar movimentação suspeita na floresta. Uma hora Ray, Don ou Gilda teriam que ir alimentá-lo ou trocar informações com ele.

    E bom, informação é o de menos, eu quero é sobreviver em primeiro lugar Ele estava desesperado, foi um feito homérico para uma criança ele ter conseguido se controlar na frente dos outros.

     

  • cat ultharGato de UltharUma coisa que eu reparei nesse anime, as crianças, pelo menos as três principais, são tão inteligentes que o roteiro não as fazem agir como crianças que são. Isto meio que tira o impacto de “crianças fugindo de uma situação extremamente mortal”, é como se estivéssemos lidando com adultos, o Norman nesse episódio foi exatamente isto.

     

  • diego gonçalvesDiegoÉ complicado porque não é como se desse pra ser crianças normais. Afinal, crianças normais seriam pegas e despachadas com facilidade. A situação exige que sejam super gênios, e nisso acabam tendo de agir de forma mais adulta. Mas olha, acho que se eu estivesse no lugar do Norman nesse ponto eu contava a verdade pra todo mundo nem que só de raiva (e acho que o Fábio já disse algo do tipo mais cedo).

     

  • buniiito4Fábio “Mexicano”Já discutimos sobre isso, lá nos primeiros episódios. E bom, em defesa de Neverland, o anime se esforçou bastante para tornar crível que eles sejam tão inteligentes. Em primeiro lugar, os demônios são como os nativos de Indiana Jones e gostam de cérebros. Cérebros inteligentes, bem nutridos, com muitos neurônios e muitas sinapses.

    Então, enquanto nós criamos gado para ser gordo e macio, eles criam crianças para serem CDFs. Achar isso estranho seria como achar estranho que um boi de alta qualidade tenha a carne bastante macia e com bastante gordura nos lugares certos.

    Mas no caso do trio, Neverland vai além. Fica estabelecido que a fazenda 1, a deles, é especial. Dentre todas as crianças criadas para abate, eles já são top só por saírem de lá.

    Mais ainda, o processo de criação tem vários filtros, e as crianças menos promissoras são abatidas antes da idade máxima. Eles chegaram a essa idade, portanto são top do top. E mais ainda, é dito especificamente sobre esses três que eles são uma safra de qualidade especialmente elevada. Emma, Norman e Ray são top do top do top. E isso implica que eles sejam muito, muito, muito inteligentes.

     

  • booker finisgeekis 1Vinicius MarinoSe eu quisesse ser chato, podia argumentar que a inteligência não é sinônimo de maturidade. Uma criança superdotada pode ser tão ou mais impetuosa, carente e emocionalmente frágil quanto uma normal.

     

  • buniiito4Fábio “Mexicano”Eu pensei em tocar nesse assunto, mas meu comentário já estava longo

    A minha imagem de criança inteligente demais para a idade é justamente de alguém socialmente retraído, o contrário deles, principalmente da Emma, mas não sei o suficiente sobre o assunto.

     

  • booker finisgeekis 1Vinicius MarinoIsso é verdade, mas eu ainda acho ela a mais verossímil dos três, se nada mais porque ela se permite arroubos de ingenuidade. Claro, ela não foi escrita assim porque é uma criança, mas porque é A Personagem Emotiva. Sua função na história é lançar problemas para o Ray e o Norman calcularem em cima. Quer dizer, sua função nesse momento da história. Não quero dar spoilers, mas suficiente dizer que as coisas não ficarão assim para sempre.(editado)

    Aliás, nem me ocorreu perguntar isso antes, mas essa conversa trouxe a ideia à tona. Eu já entendi que vocês acham que ninguém morrerá. Mas vocês esperavam que alguma das personagens mudará? De personalidade, de princípios, talvez?

     

  • buniiito4Fábio “Mexicano”Achar eu não acho, mas vejo gente reclamando de como o mangá “muda”, então tenho que considerar essa hipótese. O problema é que Ray e Norman já estão perto do “prazo de validade”. Como a Krone disse, apenas mulheres podem viver além dos 12, e apenas se aceitarem trabalhar para os demônios. Então …

     

  • cat ultharGato de UltharNão é difícil de imaginar que eles mudem ao longo da provável fuga e briga com os monstros. Querendo ou não eles vão ter que ficar muito mais severos com tudo isso. Não é uma situação simples, estamos falando de vida ou morte, isso não tem como passar batido psicologicamente falando.

     

  • diego gonçalvesDiegoAcho que a pergunta é complicada porque levanta outra: mudar como? A Emma é a personagem mais aberta a desenvolvimento, sendo a mais emotiva, então é possível que passando por tudo isso ela se torne menos ingênua e talvez ligeiramente mais “fria” (ainda que eu duvide, ela é a protagonista shounen por excelência, afinal). Mas o Norman e o Rey… Eles meio que já são a combinação comum de frieza e afeto, calmos para bolarem planos, mas ainda preocupados uns com os outros. Não vejo muito pra onde esses personagens poderiam ir.

     

  • booker finisgeekis 1Vinicius MarinoÉ um barato. Neverland parece concebida para nos fazer especular. Mas, de tão empenhada em se tornar imprevisível, acaba nos dando pouquíssimo material para especularmos. Tenho notado isso nas nossas últimas conversas.

    Bom, só nos resta vermos o que acontece lá na frente. Até lá!

  • Add Content here

 

 

 

]]>
https://www.finisgeekis.com/2019/03/15/cafe-com-anime-the-promised-neverland-episodios-8-e-9/feed/ 0 21682
Café com Anime: “The Promised Neverland” episódios 6 e 7 https://www.finisgeekis.com/2019/03/01/cafe-com-anime-the-promised-neverland-episodios-6-e-7/ https://www.finisgeekis.com/2019/03/01/cafe-com-anime-the-promised-neverland-episodios-6-e-7/#respond Fri, 01 Mar 2019 21:33:49 +0000 http://www.finisgeekis.com/?p=21626 Bem vindos ao Café com Anime, sua dose semanal de bom papo e animação japonesa!

Nessa temporada, o Finisgeekis, Anime21, Dissidência Pop e É Só um Desenho discutem The Promised Neverland.

O mistério mais extrovertido de Neverland finalmente ganha o holofote que merecia. Infelizmente, a mansão Grace Fields esconde armadilhas que nem a irmã Krone é capaz de prever.

Confiram abaixo:

  • booker finisgeekis 1Vinicius MarinoAcho incrível como Neverland consegue progredir tanto sem sair do lugar.As crianças ainda estão presas. O plano ainda está em andamento. A Mamãe e a Irmã Krone estão mais ou menos a par da fuga, mas ainda receosas (ou cautelosas) para tomar providências drásticas. Tudo está igual. Mas, ao mesmo tempo, tudo está diferente.Eis que Ray acaba de descobrir que seus dias estão contados. E, se a pressa não fosse o bastante, Krone resolve abordar as crianças diretamente, forçando-as a abrir o jogo.

    Mais do que nunca até agora, temos muita coisa para especular. Antes disso, porém, por que não me dizem suas impressões gerais?

     

  • buniiito4Fábio “Mexicano”Dois comentários sobre a execução: Eu sabia que aquele cliffhanger da porta não ia dar em nada. Eu devia ter dito isso, mas preferi ficar fazendo comparações com Fuga das Galinhas e agora ninguém vai acreditar em mim. Bom, cada um tem o que merece. Mas né, era óbvio que não ia aparecer o carão da Mamãe por aquela porta. Era óbvio porque era uma situação sem escapatória, a Isabella teria que fazer algo, e como bem disse o Vinicius na sua primeira frase sobre o episódio, Neverland é um anime que avança sem mexer no status quo. E é assim, suponho, porque a hora que mexer vai ter que mexer muito.O outro comentário é sobre a espionagem da Krone. Ela ficou ausente do episódio inteiro de forma muito suspeita, depois de participações bastante barulhentas desde que foi apresentada. Mas em mais de uma cena que eles estavam conversando a noite, a câmera eventualmente passava para trás de alguma janela ou coisa do tipo. Da primeira vez nem liguei, mas da segundo já tive certeza que eles estavam sendo espionados. E bom, era pela Krone, faz sentido. Será que vão tentar enganar ela da mesma forma que já estão enganando a Isabella? Bom, dos que estão ali só o Norman seria capaz de pensar nisso e levar à cabo. 
  • diego gonçalvesDiego Eu esperava o Rey abrindo a porta. Mas agora eu estou seriamente suspeitando do Phil. Não só por esse momento, mas também por depois a Emma dizer que foi ele quem achou o código morse nos livros. Sei lá, tirando o Don e a Gilda (e claro, os três protagonistas), ele é o personagem do orfanato que mais recebe destaque. Ai tem coisa!
  • buniiito4Fábio “Mexicano”Bom, o Ray foi recrutado como espião com 5 ou 6 anos, né? Justíssimo duvidar do Phil.
  • diego gonçalvesDiego Uma coisa que me incomodou foi a mamãe deixar claro que o Rey é que iria pros demônios em algum tempo. Em primeiro lugar, eu esperava que o pacto dele com ela garantisse a sobrevivência dele até a idade adulta. Que não seja o caso me parece estranho. A Mamãe sabe que estão planejando fugir, não é possível que ela não considere que a possibilidade de fuga seja mais tentadora do que viver só mais alguns meses. Ela acaba de deixar bem claro que o Rey não tem nada a perder, e essa é a pior situação possível para isso. Ou ela tem ai um plano ou talvez seja confiante demais para o próprio bem.
  • buniiito4Fábio “Mexicano”Ela teve anos – e os melhores anos da vida do Ray – para quebrar o espírito dele contra qualquer esperança de viver além de seu destino. Eu sinto que aquilo ali foi, talvez, um teste de lealdade.
  • cat ultharGato de UltharCreio que a mamãe saiba que o Rey seja um dos principais articuladores e que esteja apenas jogando com ela, mas é como o anime já mostrou que está fazendo, ela está deixando o jogo rolar para no final tentar dar um bote.Se é o melhor a se fazer eu acho que não. 
  • booker finisgeekis 1Vinicius MarinoMesmo se ela prometesse ao Ray sobreviver até a idade adulta, vocês acham que ele acreditaria? Ele não tem motivos nenhum para acreditar que isso seja possível. As únicas adultas que ele conhece são as Mamães (existiram Papais em outras fazendas?). E mesmo elas nunca disseram de onde vieram. Podem ser humanas “nascidas livres” até onde ele pode presumir.
  • buniiito4Fábio “Mexicano”Sequer temos certeza que sejam humanas, embora eu prefira acreditar que sim, por motivos já discutidos noutra ocasião.Com efeito, até as marcações nos livros que eles perceberam nesse episódio pode ser só pista falsa plantada. É com esse tipo de inimigo que eles estão lidando. 
  • booker finisgeekis 1Vinicius MarinoPessoalmente, eu assumiria que elas são pistas falsas assim que as visse. Qual é a chance de um aliado externo conseguir colocar uma pista em livros e infiltrá-los numa biblioteca? Mais de uma, possivelmente, já que Grace Fields certamente não é a única fazenda do gênero.
  • diego gonçalvesDiegoMais ou menos: com que finalidade plantariam pistas falsas? Especialmente pistas que poderiam levar uma das crianças a descobrir a verdade de onde estão. Soa um risco desnecessário.
  • booker finisgeekis 1Vinicius MarinoSupondo que essa “verdade” está nos livros, não? Do contrário, é só uma armadilha para pegar xeretas.
  • diego gonçalvesDiego“Verdade” no sentido de ali ser uma fazenda, algo que os livros parecem implicar bem fortemente. O risco de uma criança insuspeita acabar descobrindo isso parece alto demais para o que terminaria sendo apenas uma armadilha elaborada.
  • buniiito4Fábio “Mexicano”Os livros têm só palavras soltas, e por acaso são exatamente as palavras que elas queriam encontrar. Se elas não soubessem de antemão, achariam ser apenas uma brincadeira ou sei lá o quê. Sem mencionar o fato de que não foram elas que encontraram, mas um garotinho de quem acho justo desconfiar que seja o próximo Ray, como já comentado.(editado)E mesmo assumindo que sejam pistas, eu não seria tão rápido em concluir que sejam externas. Talvez aquela tinta ali seja descascável, e crianças que descobriram a verdade antes tentaram alertar crianças do futuro. Isso explicaria o círculo sem mensagem. 
  • cat ultharGato de UltharNa minha intuição as pistas são verdadeiras, mas é como o Fábio mesmo disse, será que é de alguém de fora? Pensar que foram outras crianças que plantaram a pista soa muito mais plausível.
  • booker finisgeekis 1Vinicius MarinoSe vieram fora ou de dentro o tempo nos dirá. Entrando no episódio 6, porém, temos uma fonte de pistas obviamente interna.Falo, é claro, da irmã Krone, que ganhou episódio quase inteiro para si.Convenhamos, ela contou (e mostrou) muita coisa. Foi, talvez, a revelação mais substanciosa que já tivemos até agora.

    (Contada ao sabor de dancinhas dignas de um NPC de Ocarina do Tempo. Afinal, por que não, né? )

    Coreografias à parte, o que vocês tiram de tudo isso?

     

  • buniiito4Fábio “Mexicano”Eu gostei da sinceridade da Krone e de como ela ensinou pra Emma e pro Norman algo talvez mais importante do que as informações que passou: eles precisam ser mais cuidadosos, muito mais cuidadosos, pra não se entregarem em linguagem corporal ou em ato falho.O que eu não gostei foi de como aconteceu toda uma cadeia de coisas que não temos a menor ideia do que sejam mas que aparentemente (nem isso dá para saber ainda!) terminou com o fim da Krone, e provavelmente envolveu um plano que vem sendo gestado há algum tempo pelo Ray e pelo Norman. 
  • cat ultharGato de UltharSorte das crianças que a Krone contou muita coisa antes de dançar (no pior sentido da palavra). Foi divertido o susto que ela levou pensando que a mamãe a fosse matar. No começo eu não comprei a história delas sendo crianças das fazendas, muito bem poderia ter sido uma pista falsa, mesmo a tatuagem no pescoço podia ser falsa, mas com o desenrolar do longo diálogo, passei a acreditar nela.
  • Fábio “Mexicano”A Krone transmitiu uma sensação de honestidade o tempo todo, sem deixar de parecer uma interesseira perversa. Mesmo assim, a gente sabe, e eles sabiam também, que pelo menos em uma coisa ela estava mentindo: ela tinha zero interesse na fuga deles.
  • diego gonçalvesDiegoParando aqui pra pensar, não sei se tivemos tantas revelações assim não. A única verdadeira grande revelação que a Krone deu foi que existem humanos vivendo fora das fazendas que não estão subordinados aos demônios. Isso é bem interessante, porque há de se perguntar o que os humanos ganham deixando os demônios criarem outros humanos para consumo. Pra uma sociedade aceitar algo assim, não duvido que haja algo de “inumano” nas crianças. Talvez sejam clones ou pessoas geradas artificialmente, algo que as torne diferentes o bastante para a sociedade como um todo aceitar que sejam apenas “gado”.
  • buniiito4Fábio “Mexicano”Podemos estar assistindo ao futuro distópico de A Máquina do Tempo
  • booker finisgeekis 1Vinicius MarinoAcho interessante apontar que esse capítulo foi relativamente abreviado em relação ao mangá. O roteiro “viaja” muito mais entre as cabeças do Norman e da Krone, deixando claro que o Fábio acertou na lata: a Krone não dá a mínima para as crianças:
    A “dança” literal da irmã e sua “dança” figurada também são separadas por um flashback que… bom, prefiro nem mencionar, pois há uma chance do anime inclui-lo no próximo episódio. Não seria a primeira vez que um anime inverte a ordem de um ou outro episódio.Mas falando no Fábio e nessa omissão. Ele também disse que não gostou de como esse diálogo nos deixou no escuro. Vocês também se sentiram um tanto incomodados com o desenrolar dessa cena? Prefeririam um episódio que lhes desse algum material para especulação, em vez de explicar apenas no fim (torçamos)?

     

  • buniiito4Fábio “Mexicano”Não é só o diálogo. Tem a anotação que ela achou, os planos whatever entre Ray e Norman, a quase certeza que foi o Ray quem armou pra ela junto à Isabella, etc, um monte de coisa que a gente não sabe.
  • diego gonçalvesDiegoEu suponho que tudo ficará claro no próximo episódio, mas entendo a crítica do Fábio. Fora que séries de mistério estão sempre em uma corda bamba. Não podem informações demais, mas se começam a empilhar mistérios eu sinto que chega um ponto onde a audiência só para de se importar, até por não conseguir nem se lembrar do que falta ser explicado.
  • cat ultharGato de UltharO problema de um episódio no qual todo ele quase se passa e um diálogo tão expositivo é justamente esse, parece que todo mundo sabe de tanta coisa menos quem estiver assistindo, e o que nos é passado é mastigado na forma do diálogo dos personagens. Eu particularmente prefiro as cosias sendo descobertas por outros meios
  • booker finisgeekis 1Vinicius MarinoPois é. Nesse sentido, não dá para escapar do juízo de que Neverland é uma obra terrivelmente segura.Deixar todas as cartas sobre a mesa seria a proposta mais sedutora do ponto de vista do suspense. Mas você sempre corre o risco do espectador ser mais esperto que você imagina.Claro, nem só de mistério vive Neverland. E não sei quanto a vocês, mas estou morrendo de vontade de ver esse desenlace.

    Então até a semana que vem!

]]>
https://www.finisgeekis.com/2019/03/01/cafe-com-anime-the-promised-neverland-episodios-6-e-7/feed/ 0 21626
Café com Anime: “The Promised Neverland” episódio 5 https://www.finisgeekis.com/2019/02/15/cafe-com-anime-the-promised-neverland-episodio-5/ https://www.finisgeekis.com/2019/02/15/cafe-com-anime-the-promised-neverland-episodio-5/#respond Fri, 15 Feb 2019 11:31:23 +0000 http://www.finisgeekis.com/?p=20815 Bem vindos ao Café com Anime, sua dose semanal de bom papo e animação japonesa!

Nessa temporada, o Finisgeekis, Anime21, Dissidência Pop e É Só um Desenho discutem The Promised Neverland.

Portas se abrindo, vira-casacas e revelações de última hora podem ser *red herrings*. Mas são justamente pistas falsas que fazem um bom enigma, e *Neverland* continua sem decepcionar.  Confiram:

  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino
    Neverland, Neverland, o anime que nos faz espumar de raiva com um cliffhanger espinhoso atrás do outro.

    Achava que as coisas tinham ido longe demais com a revelação sobre o Ray? Imagina, agora temos um pouco de terror tradicional. Com dois cabeças-de-vento decidindo testar a sorte – e uma porta misteriosa mostrando que o karma é guiado à laser.

    Acho que você curtiu isso, não foi, Fábio? Não abandonamos a onisciência narrativa (e nem vamos abandonar). Mas esse episódio nos colocou muito mais nos pés das crianças – com toda a paranoia que isto inspira.

  • cat ultharGato de Ulthar
    Eu achei engraçado o cliffhanger no final do episódio, aposto que é umas das crianças que abriu a porta! Não digo que achei engraçado para desmerecer o episódio, mas é eu que acho graça dessas coisas. Além disso, achei divertida a conversa do Norman com o Rey, uma hora chegou a me parecer uma novela mexicana com todas aquelas revelações jogadas na cara!

    E eu já imaginava que a Gilda e o Dan, principalmente o Dan, fossem fazer alguma merda, eles não são geniais como o Norman e cia.

    Era só questão de tempo.

  • diego gonçalvesDiego
    Era só questão de tempo e os dois realmente não perderam tempo, né? Também imagino que seja uma das crianças. Provavelmente o Rey, já que foi ele quem mandou o Dan descer para preparar o jantar. No mínimo um teste para ver o quanto os dois novos companheiros podem lidar com a situação (e se for, fracassaram com honras!)
  • buniiito4Fábio “Mexicano”
    Curtir não é bem a palavra Mas há algo de bom na atmosfera do anime e estou tentando adaptar minhas expectativas.

    Confesso que não é fácil, eu sou quase geneticamente programado para reconhecer pistas e tentar antecipar resoluções, mas isso é simplesmente impossível em Neverland. E impossível, do ponto de vista da ficção de mistério, no mau sentido. É um mistério ruim porque me frustra a cada episódio com mais uma tonelada de informações que mudam tudo o que eu sabia antes.

    É complicado, né? Mas como suspense funciona muito bem. Poderia até ser horror se quisesse ser (e a Jump permitisse). De preferência com menos falatório e mais portas se abrindo.

  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino
    Isso me lembra de algo que o escritor Philip Pullman gosta de dizer: suspense é o contrário da surpresa.

    Surpresa é abrir um armário e encontrar um cadáver. Suspense é saber que há um cadáver num armário, mas não em qual deles.

    Nesse sentido, Neverland é fundamentalmente uma história de surpresas, não de suspense.

    E aqui pode ser juízo pessoal meu, mas não acho que histórias de surpresa precisa colocar todas as cartas na mesa. Os criadores de Breaking Bad e Better Call Saul já disseram várias vezes que não sabem como suas histórias acabarão – nas suas próprias palavras, eles “temem o futuro tanto quanto os fãs“.

    Não estou encontrando a entrevista exata, mas lembro-me de ler lido certa vez que eles consideram isso um bônus para a história. Ao criar uma trama imprevisível até mesmo para eles, ela se tornava imprevisível aos espectadores também.

  • buniiito4Fábio “Mexicano”
    Uma história de horror é uma que pode se utilizar da surpresa da forma como você disse, Vinicius. E há um quase clima de horror em Neverland, que no entanto não se concretiza.

    Não é um mistério no sentido tradicional porque como espectadores não podemos nem tentar nos antecipar, já que sabemos tão pouco e coisas novas surgem o tempo todo.

    Não é exatamente um suspense porque, como bem colocado, na maior parte do tempo não sabemos o que esperar, o que poderá nos surpreender e quando. Tampouco é horror. É uma história de fuga da prisão? Uma bem heterodoxa, mas enfim…

  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino
    História de fuga me parece uma ótima descrição. Heterodoxa, você diz? Pode ser, embora caçando aqui nas minhas memórias acho que todas as histórias de fuga que li/assisti foram heterodoxas de uma forma ou de outra.
  • buniiito4Fábio “Mexicano”
    Vamos com história de fuga então. E aí, será que Neverland já superou Prison School?
  • diego gonçalvesDiego
    Acho que Neverland cai ligeiramente naquela categoria extremamente mal definida – e que alguns diriam que nem existe – de obras “psicológicas”, no meu entender por sua ênfase em cada lado tentando prever o que o outro irá fazer. Mas numa categorização tradicional, não vejo problemas com o termo suspense, pra ser sincero.
  • buniiito4Fábio “Mexicano”
    Tá bom então Neverland é uma mistura de Prison School com Death Note e isso só tá piorando têm certeza que vocês querem fazer isso?

    (Eu sei que tecnicamente fui eu quem começou, mas isso só torna tudo ainda mais engraçado)

  • diego gonçalvesDiego
    Calma que ainda falta enfiar Fuga das Galinhas na lista de comparações.
  • buniiito4Fábio “Mexicano”
    Isso é outro nível, acho que só o Gato conseguiria.

     

  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino
    Acho melhor a gente parar, pois logo mais chegamos em Paddington 2

    (Aliás, assistam Paddington 2. Só assistam.)

  • cat ultharGato de Ulthar
    Fuga das galinhas é uma boa comparação, a dona do galinheiro me lembra um pouco a Mamãe…
  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino
    Pior que ela parece mesmo.

  • buniiito4Fábio “Mexicano”
    E como as galinhas, as crianças vão virar comida. Faz muito sentido.

     

  • diego gonçalvesDiego
    Pra ser sincero, estamos bem atrasados na comparação Internet afora, já estavam fazendo ela desde o episódio 1

     

  • cat ultharGato de Ulthar
    Mas falando um pouquinho mais sério, de fuga da prisão eu lembro de alguns filmes, na maioria americanos, como Alcatraz – Fuga Impossível, com o Clint Eastwood. E não me parecem nada com Neverland, para mim está mais para um jogo de tabuleiros, onde cada lado faz a sua jogada.
  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino
    Seja como for, acho que isso joga um olhar bem crítico sobre o plano da Emma, não acham?

    Esqueça os bebês, que já são um problema em si. Quando até mesmo seus braços-direitos (Don e a Gilda) não podem se ver sozinhos que já começam a jogar areia na fuga, você sabe que essa não será uma fuga fácil.

    Agora: é evidente que não teremos uma tragédia. Porém, como vocês também sabem, “esforço” também faz parte da santíssima trindade da nossa querida Jump.

    O que vocês acham que azedará a escapada primeiro? Um inimigo externo (como tivemos nos primeiros episódios) ou uma caga interna, como a que acabamos de ver?

  • buniiito4Fábio “Mexicano”
    Note-se que, em parte, a Emma e Norman são co-responsáveis pelo que Gilda e Don estão fazendo. Acharam que era uma boa ideia contar a verdade pra eles, mas só um pedacinho da verdade. O que os dois querem agora, o Don principalmente, é, veja só, descobrir o que aconteceu com as crianças do lado de fora. E isso Emma e companhia já sabem!

    Melhorar a comunicação vai ajudar? Eu não sei. Eles têm o medo justificado de espalhar o pânico, o que não ajudaria. Ainda acho que para o sucesso da fuga, é fundamental que eles explorem as divergências entre as adultas e partam para uma guerra de informações. E eles também acham isso. Assim, o que vai prejudicá-los é provavelmente o oposto disso. Falhar em jogar Krone contra Isabella. Não conseguir enganá-las (imagino o disfarce do Ray ruindo a qualquer momento). Mas tudo considerado, e lembrando que o mangá ainda está em andamento, eu tenho a impressão que eles vão ficar eternamente planejando essa fuga …

    Nesse caso, o melhor que eu penso que eu posso fazer é torcer para ser um caso semelhante ao de Assassination Classroom, com o mangá terminando ano que vem e o anime terminando junto em um segundo cour. Meta-conhecimento às vezes estraga a graça

  • cat ultharGato de Ulthar
    Ainda não engoli o Rey ser um agente duplo, não dá para confiar nele, ou pode ser que ele tenha contado a verdade, o que eu particularmente duvido.

    Se ele não cagar os planos para o lado do mal, acho que é muito provável que uma das crianças o façam, como a Gilda e o Don já se mostraram capazes.

    Mas temos que ter em conta que nada é fácil para as crianças e nem nada é garantido 100%, eles estão todos quase que no escuro.

  • diego gonçalvesDiego
    Eu também não sei se engulo a história do Rey. Faz sentido, ao mesmo tempo que parece ter alguma coisa errada ai. Talvez pela forma como ele se expressou no episódio, mas fica parecendo que ele não contou toda a verdade. Não duvido que sua prioridade seja sim escapar e sobreviver, mas não duvido que haja mais ai. Já sobre a Gilda e o Don, são dois tapados. Mas é compreensível: são crianças, de 10 anos ainda por cima. Nem todo mundo pode ser um super gênio como os três principais
  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino
    Vamos para nosso roleplay, então?

    Vocês são os super gênios. Tudo está mais ou menos se encaminhando para a fuga. Mas aí um dos seus tenentes tapados resolve fazer uma cagada. Xereta nas coisas da Mamãe. Conta mais do que devia para uma das outras crianças. Cede ao olhar irresistível da Krone.

    O que vocês fazem?

  • cat ultharGato de Ulthar
    O melhor seria matar a criança problemática em prol dos demais, um sacrifício necessário. Mas como não somos todos maquiavélicos, teríamos que tentar o máximo os conscientizar.
  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino
    Supondo que você matasse. O que você faria com o corpo? Crianças de 10 anos não caem duras da noite para o dia. Não acha que isso poderia alertar a Mamãe?
  • cat ultharGato de Ulthar
    Como elas brincam sempre de pega-pega, bate com uma pedra na cabeça dela na floresta e forja uma queda de uma árvore.
  • buniiito4Fábio “Mexicano”
    O ruim de eu não ser um gênio é que tenho dificuldade imensa para responder isso. Matar parece uma opção, mas não sei se eu teria sangue frio para tanto. Ele não fez por mal, fez? Além do quê, dependendo do quanto ele já ferrou tudo, matar ou não matar não vai consertar nada. E tem ainda a dificuldade em disfarçar como acidente, além das consequências totalmente imprevisíveis da morte de uma criança. Pense em uma fazenda de gado. Um boi aparece morto. O que o pecuarista vai fazer?

    Acho que minha resposta tem que ser algo tedioso mesmo. Eu tentaria botar o tonto na linha de volta. Se necessário, liberaria mais um pouco de informação para ele para que confie mais no que eu falo ou tenha menos motivação pra fazer besteira.

  • diego gonçalvesDiego
    Acho que dar mais informação agora não é uma boa ideia. Primeiro porque pra isso você precisaria admitir que estava mentindo em primeiro lugar, e uma quebra de confiança só pioraria as coisas. Mas pior ainda é o que foi omitido aqui: é bem possível que a verdade seja “demais” pra eles. Acho que o que se pode ser feito é tentar enfiar juízo na cabeça dos dois, e tentar fazer eles entenderem que não é só a vida deles que está em jogo, e que atitudes imbecis por parte deles colocam a todos no orfanato em risco.
  • buniiito4Fábio “Mexicano”
    Eu não disse que era fácil. Mas a gente sabe que eles fizeram essa merda porque têm esperança das crianças ainda estarem vivas. Sabendo que estão mortas, um dispositivo de comunicação com o exterior é totalmente inútil, e por isso os três gênios ignoraram a descoberta.
  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino
    Pois é. Eu também não mataria ninguém. Não só por falta de sangue-frio (acho que, em condições extremas, eu até poderia contemplar essa ideia), mas porque imagino que as repercussões seriam muito grandes.

    Como o Fábio bem disse, eles são gado. E não qualquer gado, mas produtos de luxo – numa comparação com nossos bovinos, seriam bois wagyu. A margem de lucro por cabeça deve ser gigantesca. Se um deles caísse morto na certa a Mamãe iria rodar. E sabe-se lá mais quem.

    Mas é interessante que vocês tenham apontado esses dois caminhos. Por enquanto, Emma e seus amigos têm evitado o enfrentamento direto. Mas, supondo que o plano dê certo, até que ponto eles conseguirão se eximir da violência.

    Só há um jeito de saber. Vamos lá ao próximo episódio, que já está no ar!

]]>
https://www.finisgeekis.com/2019/02/15/cafe-com-anime-the-promised-neverland-episodio-5/feed/ 0 20815
Café com Anime: “The Promised Neverland” episódios 3 e 4 https://www.finisgeekis.com/2019/02/07/cafe-com-anime-the-promised-neverland-episodios-3-e-4/ https://www.finisgeekis.com/2019/02/07/cafe-com-anime-the-promised-neverland-episodios-3-e-4/#respond Thu, 07 Feb 2019 07:44:42 +0000 http://www.finisgeekis.com/?p=20811 Bem vindos ao Café com Anime, sua dose semanal de bom papo e animação japonesa!

Nessa temporada, o Finisgeekis, Anime21, Dissidência Pop e É Só um Desenho discutem The Promised Neverland.

Neverland ganhou fama a partir de seus twists vertiginosos, e esses dois episódios ilustram bem o porquê. Com uma nova funcionária na Casa Grace Fields e a suspeita de um traidor entre as crianças, a situação de Emma e seus amigos nunca foi mais tensa.

Confiram:

  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino
    BEM-VINDO A TODOS PARA MAIS UM EPISÓDIO DE THE PROMISED NEVERLAND!ESTOU GRITANDO COM VOCÊS PORQUE, COMO VIRAM, NO MUNDO DE NEVERLAND É PRECISO ARTICULAR BEM AS PALAVRAS! MESMO SE ESTAMOS FALANDO SOZINHOS SOBRE UM PLANO SECRETO!
  • buniiito4Fábio “Mexicano”
    Eu apontei isso no episódio anterior, né? E eles continuam, agora com o dobro do perigo. Mas acho que está um pouco menos pior, foram menos situações e pareceram menos absurdas – além de ter o Ray, que é a calma, tranquilidade e o silêncio em pessoa.Enquanto isso, no episódio 2 Emma e Norman literalmente desceram dois lances de escada pra falar mal da Mamãe, que estava de onde eles saíram. Acho que a gente vai ter que acostumar, apenas. Lado positivo: os adultos parecem ter parafusos soltos também. Eles têm números e a Krone tem uma relação muito peculiar com uma boneca.

    Ah, e o Ray é realmente dos meus: TEM QUE MATAR ATÉ A MORTE SIM. Na verdade começo a perceber que esse anime é bom para despertar impulsos primais que, por criação, eu sou bastante inibido.

    Disse e repito que não mataria ninguém, mas assistindo Neverland e me colocando no lugar dos três inconfidentes eu sinto vontade de matar qualquer um que represente a menor das ameaças. Entendam: eu senti vontade de matar a … Gilda? É esse o nome da garota de óculos? Enfim. Não é ódio. É só que estamos falando de uma situação de matar ou morrer.

    Eu quero salvar todo mundo. Nem que para isso precise matar cada um deles no processo.

  • diego gonçalvesDiego
    Eu estou gostando de Neverland, mas devo admitir que é bastante distrativo ter esse personagens gritando seus planos sem maiores consequências. No caso das crianças eu engulo por falta mesmo de opção, e elas pelo menos parecem tentar falar baixo na maior parte das vezes.Mas ai temos a Krone, literalmente gritando seus planos pra casa inteira ouvir. Essas paredes devem ter um isolamento acústico fenomenal, em? Sei lá, acho que é algo que atrapalha um pouco no fator thriller da coisa.

    O quão mais interessante – e com isso quero dizer, mais tenso – não seria se todo mundo tivesse medo de abrir a boca e ser ouvido?

    Talvez tivessem de começar a buscar lugares mais secretos pra conversar, ou a falar em códigos que só alguns entenderiam, ou qualquer coisa assim. Um nível crescente de paranoia onde você nunca sabe quem pode estar com a orelha colada na parede ao lado.

  • buniiito4Fábio “Mexicano”
    São paredes com isolamento acústico demoníacoMas sim, a Krone contrastou muito com a Isabella. Isso é incômodo. O fato dela ser assertiva, e agir, como eu achei que ela fosse fazer, se comprovou, ela foi lá brincar de pega com as crianças, fez uma proposta diabólica pra Emma, achei legal isso. Mas os momentos dela sozinha são um pouco hiperbólicos, principalmente quando comparada com a outra.
  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino
    Na real, eu tiro sarro mais perdoo. É evidente para mim que isso é um recurso para mostrar seus pensamentos – e quão entusiasmada, ou irritada, ou afoita ela se sente. Peças de teatro fazem a mesma coisa. Ninguém fala em monólogo e, quando fala, não é com aquela intonação e gestos exagerados. Mas precisa ser desse jeito, para que o sujeito que sentou na última cadeira consiga enxergar e entender.Anime é parecido. Com raras exceções, personagens animadas não tem feições detalhadas. Fica difícil transmitir pensamentos por meio de tiques e olhares, como fazem atores de carne e osso. De onde o recurso a feições super deformadas e, em certa medida, reações “codificadas”, até didáticas.

    Tipo a garota moe que tem necessidade de parar de comer e soltar um HUMMMMM digno de Ana Maria Braga para mostrar que está gostando. Ou o sujeito que escuta algo que o surpreende, para de falar e solta um “hoe?”, em vez de, sei lá, franzir o cenho. Ou o anti-herói que, para soltar uma frase dramática, vira de costas para o interlocutor e fica nessa posição por meia hora.

    Pessoas reais não agem assim, mas a gente leva numa boa.

  • buniiito4Fábio “Mexicano”
    Então, acho que só a Krone ficou um pouco acima do tom do próprio anime mesmo, de Neverland. Não é algo que me tenha feito tirar pontos desse episódio, de forma alguma, gostei dele. Mas a minha impressão dela é que é completamente psicótica ordens de grandeza acima da Isabella, e não sei se é exatamente isso.
  • cat ultharGato de Ulthar
    Acho que nunca vi uma brincadeira de pega-pega tão brutal! Eu curti bastante a Krone, adoro personagens psicóticas como ela, a maneira de encarar as crianças com aquele olhar assustador….E a ideia do Ray foi dificultada, matar a Krone não me parece fácil, a mulher é super forte e rápida, algo como veneno talvez?

    E faço coro com os demais, é hilário ver o pessoal falando dos seus planos em voz alta, não me admira usar a menina de óculos como espiã.

  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino
    Esse pega-pega foi incrível, pois é um dos melhores exemplos de foreshadow que já vi em adaptações de mangás longos.Nós assistimos aos protagonistas correndo, escondendo-se, apagando suas pegadas. Vemos personagens específicas tendo dificuldades com isso ou aquilo, brilhando nessa ou naquela tarefa.

    Acredito que não seja spoiler dizer que tudo isso voltará mais para a frente. E, quando a situação se tornar realmente quente, será esse “treinamento” que guiará suas ações.

  • buniiito4Fábio “Mexicano”
    Adorei o pega-pega justamente por causa disso. Além de ter sido em si uma sequência interessante, claro, a gente conheceu um pouco mais sobre todas aquelas dezenas de crianças em pouquíssimo tempo. Digo, conhecemos o que é realmente importante sobre elas: fugir e sobreviver. Inteligência, físico, essas coisas. Além de termos uma breve noção do terreno e do tipo de desafios que enfrentarão.
  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino
    Acham que já têm material para especular mais sobre isso? O que vocês acham, concretamente, que serão esses desafios?Já vimos que há duas mamães. Que elas contam com alguma espécie de rastreador. Que o orfanato, se nada mais, possui muralhas. Qual fundo vocês acham que irá a toca do coelho?
  • diego gonçalvesDiego
    Em termos de habilidades físicas, a Krone parece ser o maior problema. Por algum motivo a mamãe não me pareceu muito atlética, e nesse sentido da até pra dizer que pouco importa o seu rastreador: de pouco adianta saber onde as crianças estão se você continua sem conseguir pegá-las.Mas ai tem toda a questão de o que é que existe lá fora. Uma sociedade inteira de “demônios”? Se for, então o Ray tem razão em achar que as chances deles são pequenas.

    Uma sociedade talvez em conflito, com humanos de um lado e “demônios” do outro? Menos pior, mas ainda não uma perspectiva animadora para as crianças. Um monte de mato?

    Pra ser sincero, essa seria a melhor opção: que as crianças ao menos pudesse fugir pra algum lugar desolado para viverem em paz.

  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino
    Lembrando que não temos confirmação nenhuma que esse orfanato sequer “exista”. Pode ser tão real quando aquela miniatura de naufrágio que colocamos dentro de aquários. Um verdadeiro Show de Truman.
  • diego gonçalvesDiego
    Existir ele existe, a menos que você esteja sugerindo algo nível as crianças estarem na verdade com as mentes plugadas em uma simulação de computador Se o que há para além dele for um muro ainda mais impenetrável – e que talvez cubra todo o lugar – ai é mais um desafio a superar.
  • cat ultharGato de Ulthar
    Eu não acho que seja uma ilusão, não é impossível, mas acho que nesse caso seria um desperdício para a obra.E respondendo a pergunta original do Vinicius, as crianças estão ferrados, peço perdão pelo termo mas é isso mesmo, elas precisam de muito plot armor para sobreviverem nas atuais circunstâncias.

    Contudo, acho a adição da irmã Krone muito mais prejudicial para a mamãe do que qualquer outra coisa, a mulher é visivelmente doida e quer tomar o lugar da mamãe, se as crianças souberem aproveitar essas brigas internas, pode ser a melhor chance delas.

  • buniiito4Fábio “Mexicano”
    Se isso fosse o mundo real, a chance seria grande deles pularem de uma fazenda para dentro de outra. Imagino que tipo de rebosteio isso poderia dar.Será que é tudo uma simulação de alto nível para que as crianças cresçam da melhor forma possível, entendo-se por melhor aqui o mais saboroso para os demônios? Se esse for o caso, então talvez elas batam na fronteira ao tentar ultrapassar o muro, estilo vídeo-game, ou talvez algo muito bizarro aconteça. O mais divertido seria a fazenda ser como Pac-Man e o muro dar para o lado exato oposto de onde elas “saíram”.

    Mas sinto que qualquer dessas hipóteses as deixa sem ter como fugir, a não ser que apareça-lhes um Morfeu a oferecer a pílula vermelha para escapar da Matrix. Não é impossível, mas me parece idiota, então acho que a fazenda existe, é real, e dá para fugir.

    O que não quer dizer nada sobre o que possa estar do lado de fora. Talvez estejam em um meteoro e só a área da fazenda seja terraformada, por exemplo. No fundo acho que temos muito pouco (nada, na verdade) para especular sobre o “lado de fora”.

    Ignorando essa questão, acredito que o maior trunfo que as crianças têm para conseguir escapar é a rivalidade entre as duas adultas. Se a Krone se convencer que o melhor para ela é deixar que as crianças fujam para que a Isabella seja penalizada, por exemplo, ela pode até acabar ajudando.

    Dito isso, a Isabella parece ter escolhido a Krone a dedo, então mesmo essa vantagem talvez seja apenas ilusória.

  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino
    Essa ideia do wraparound de Pac Man poderia dar tanto uma bela comédia ou um terror de gelar o sangue. Também terminaria a história rapidinho. Depois de uma dessas, o que você faz?Mas enfim, de volta à nossa brincadeira. Vocês estão na Casa Grace Field e Isabelle e Krone não parecem estar se dando muito bem. O que vocês fariam? Explorariam a rixa? De que maneira?
  • cat ultharGato de Ulthar
    Explorar a rixa claro, de que forma?Primeiro as crianças teriam que descobrir que há uma rixa, o que ainda não parece que conseguiram fazer totalmente, apenas a Emma ouviu que a irmã Krone estava do lado deles, mas parece que não acreditaram nessa fala pretensiosa (eu também não acreditaria).

    Depois de descobrirem do que se trata a rixa, deveriam dar um jeito de explorá-la, como por exemplo, fazer a Isabella perceber que a irmã Krone quer lhe passar a rasteira, e o inverso também.

  • booker finisgeekis 1Fábio “Mexicano”
    Começo repetindo o que o Gato disse: em primeiríssimo lugar, eles precisam saber que existe essa rivalidade. Por tudo o que viram até agora, eles ainda não sabem. Ainda há tempo de descobrir, mas quando descobrirem ainda haverá tempo de planejar e executar algo com base nisso? Não sei, mas por enquanto parece a melhor ideia até agora.O mais óbvio é o que já insinuei, tentar convencer a Krone de que a fuga deles vai pesar totalmente na conta da Isabella, e que isso oferece a ela um melhor custo-benefício do que tentar provar que é mais capacitada que a outra capturando algumas ou todas as crianças.

    Mas, embora óbvio, não parece nada fácil. Assim como a Isabella já arranjou uma espiã, talvez essa seja a chave: pelo que me consta, as adultas ainda não sabem que Emma e Norman pretendem fugir com todas as crianças. Se conseguirem um ou mais agentes duplos para alimentar as adultas com informações conflitantes, podem fazê-las bater cabeça na hora da execução da fuga.

    ….alguma criança com muita coragem também poderia cortar a própria orelha e enfiar secretamente nos bolsos de uma das duas. Não é muito eficiente já que todas têm rastreadores, mas achei por bem soltar no ar uma hipótese gore.

  • diego gonçalvesDiego
    Acho que só posso fazer coro com os demais. Primeiro precisariam saber que a krone tem seus próprios interesses, e ai pensar em como usar isso. De minha parte, nenhum plano me ocorre 😛
  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino
    Que resposta será que o anime nos trará? Veja só, não precisamos esperar o próximo episódio. Ele já está aqui:

    Se havia alguma dúvida de que Krone não vê olhos nos olhos com a Isabella ela acabou de ser dissipada.

    Aliás, falando em Krone, o que são essas expressões faciais:

    Alguém dê um Oscar para essa mulher antes que os demônios resolvam retirar seus privilégios.

    Óbvio, os conluios da Krone, por mais importantes, estão longe de ser o ponto alto do episódio. Acho que todos vocês sabem exatamente do que estou falando.

    Pois bem, como lhes caiu o twist mais sacolejante do momento?

  • diego gonçalvesDiego
    Qual deles? Que a Guilda não é a espiã? Eu meio que já esperava: estava um pouco óbvio demais. Que o Rey talvez o seja? Torço pra que seja o caso mesmo!Odiaria se o próximo episódio começasse com o Norma soltando um “há, brincadeira”. Até porque, se formos levar a sério o que a Krone falou no episódio passado, faz todo sentido: se o Rey tem mesmo a tendência de abandonar planos com facilidade, faria sentido ele desistir de sair com todos e virar um espião se isso lhe der melhores chances de sobreviver.
  • cat ultharGato de Ulthar
    Se pararmos para pensar, é bem fácil entender o raciocínio do Norman de que o Rey seja um espião.Vejamos, ele disse para o Rey que o Dan iria encontrar a corda em um lugar e a Gilda encontraria em outro, mas ele simplesmente não disse nada disso para os dois (pelo menos não aparece ele falando nada), só sabemos que ele falou para o Rey, só ele teria essa informação, se fosse indicar que a corda estive em qualquer um dos lugares seria o Rey que fez a denúncia, e como não vimos quem deixou a carta debaixo da porta, é bem provável que tenha sido o Rey.

    O Norman é muito astuto, no fim das contas, com toda aquela operação das cordas, ele queria apenas testar o Rey.

    É bem plausível que tanto a Gilda o Dan não fosse espiões, os dois não são lá muito espertos, mas o Rey ele é bem mais suspeito, seria o espião perfeito, e foi isso que o Norman pensou.

  • buniiito4Fábio “Mexicano”
    Tecnicamente, “tudo” estava óbvio. Só não podia ser tudo ao mesmo tempo, e a Gilda era ligeiramente “mais óbvia”.Gostei muito dessa reviravolta porque uma das coisas que me incomodou no episódio 3 foi justamente como eles concluíram do nada que existe um espião. Ora, foi o próprio Ray quem concluiu isso! O raciocínio da Emma e do Norman parecia ir por essa direção, mas eles ainda podiam explorar outras possibilidades (por exemplo, a de que houvesse dispositivos de monitoramento sim, só que, como os rastreadores, eles fossem de difícil detecção). Mas o Ray já tinha certeza:

    E falando em todos os suspeitos óbvios, dá uma olhada nisso:

    Ou nisso, que é o que aparece logo em seguida. Não há nenhum vínculo causal, mas há a conexão narrativa: o Norman fala que há um traidor entre eles e quase no mesmo instante foca nesse carinha, em quem o Ray tentou lançar suspeitas no episódio 4:

    Depois de novo, enquanto as crianças entram no refeitório, ele olha para Emma (e além dele só a Gilda, da forma suspeita que já sabíamos) e sorri desse jeito:

    E o Don é um tipo de “suspeito natural” (é que nem “o mordomo”) porque é mais velho, se destaca fisicamente, mas não parece especialmente esperto. Se fosse pra lançar suspeição sobre outros personagens para no final revelar que outro, insuspeito, era o culpado, o Don era o candidato ideal para isso. E nesse quarto episódio a balança da suspeição pendeu forte para o lado dele.

    Agora o que começa a me incomodar é outra coisa, mas se ninguém falar eu fico quieto também. Neverland tem um bom histórico de me incomodar com algo e justificar muito bem logo em seguida (ainda que seja plausível que isso em si possa ficar cansativo também, ainda me parece que estejamos longe desse hipotético ponto de saturação).

  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino
    Acho que o Fábio está falando de soluções ad hoc, quando pouco ou nada no build-up de uma revelação parece levar até ela.Bom, isso é bem frequente em shounens do tipo. Um exemplo que me fez rir bastante recentemente foi Shokugeki no Souma. Temos duas personagens disputando um duelo culinário. Uma vence, ao que a outra intervém: “mas você ainda não sentiu a essência do meu prato” e saca uma concha de molho. Algumas batalhas são tão “disputadas” que tem várias dessas revelações, com os cozinheiros sacando molhos, temperos e ingredientes extras de sabe-se lá onde.

    Em defesa de Neverland: os elementos, nesse caso, já estão aí. Lembra que conversávamos sobre os “treinos” era um foreshadow do que estava por vir? Pois bem, eles reaparecem o tempo todo na narrativa, como veremos em breve.

  • buniiito4Fábio “Mexicano”
    Não é isso.E bem, já que tentou adivinhar, melhor eu dizer ao invés de ficar brincando de suspense aqui: me parece que seria uma história muito mais interessante, asfixiante até, se o tempo todo só estivéssemos no ponto de vista das crianças.

    Ver a partir das Mamães ou até dos demônios, como foi em um episódio, quebra um pouco o clima. Mas como eu disse, outras coisas em Neverland me incomodaram antes e se justificaram muito bem, e a solução ad-hoc do episódio anterior, quando concluíram que havia um espião, foi uma delas. E se justificou lindamente nesse episódio!

    Então estou mais do que disposto a dar esse voto de confiança.

  • cat ultharGato de Ulthar
    Não dá para negar que colocar o Rey como espião de uma maneira tão engenhosa como o Norman fez foi uma jogada de mestre.
  • diego gonçalvesDiego
    Bom, o Fábio não é o primeiro que vejo reclamar de que a história deveria focar apenas nas crianças. Mas talvez seja justamente ela não fazer isso o que revele seu lado mais “shounen“, estabelecendo heróis e vilões, os anseios e problemas de cada um, e por ai vai. Menos um terror puro e simples e algo mais próximo, de fato, das “batalhas mentais” de outros shounen (Death Note sendo o que mais vem à mente do pessoal, mas esse tipo de embate, de tentar prever o que o oponente irá fazer, é meio que comum em muitos títulos da categoria)(editado)
  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino
    Como ficção, isso realmente traz uma série de problemas. A mesma informação poderia ser introduzida sem mudar o foco narrativo, desde que a história fosse arquitetada de acordo. Isto, de fato, contribui para o fator “rá!” que o Diego mencionou (e não dá para negar que uma obra como Neverland depende de seus “rás!”). Mas perde bastante em atmosfera.Mas já que o anime resolveu nos dar todas as cartas que tal especularmos por aí?

    Acho que tudo o que discutimos nesses últimos dois episódios deságua na mesma questão: o que vocês acham que as mamães são, no final das contas?

    A Krone deu algumas pistas, mas não sabemos quão bem podemos confiar nela. Acha que são crianças que escaparam da colheita? Humanos livres aliados dos demônios? Demônios disfarçados?

  • buniiito4Fábio “Mexicano”
    Acho que são humanos criados especificamente para esse propósito. Talvez possam ser separados das fazendas normais, dependendo daqueles testes doidos lá.
  • diego gonçalvesDiego
    Em primeiro lugar, eu espero que sejam sim humanos. Isso porque algo do tipo adiciona um nível de “creepy“: a ideia de que pessoas como qualquer um de nós esteja de conluio com tudo isso é simplesmente mais aterradora do que se forem apenas demônios disfarçados.Mas há também um elemento de incerteza num caso do tipo. Digo, se forem humanos, por que estão fazendo isso? Porque gostam? Bom, isso só aumenta o fator creepy.

    Porque estão sendo forçados? Ai a coisa já muda de figura: se for o caso, abre-se a possibilidade de se tornarem aliados improváveis no caso de um confronto direto entre humanos e demônios.

  • cat ultharGato de Ulthar
    Penso que são humanas mesmo, talvez uma parte dos humanos ainda seja utilizada para fiz de realização de serviços, é só fazer uma paralelo com o mundo real, pois um bom, além de fornecer carne, pode servir como meio de transporte de mercadorias e pessoas.
  • buniiito4Fábio “Mexicano”
    Comparar pode ser útil, né? Existe gado de corte, gado leiteiro, bois de carga, e até criados para tourada. O gado de corte pode ser criado de forma intensiva ou intensiva, pode ser abatido adulto ou ainda filhote (carne de novilho). Enfim.
  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino
    Eu amei essas respostas.Por quê? Não contarei agora. Seria spoiler.

    Até o próximo episódio. Torça para sobrevivermos até a próxima semana!

]]>
https://www.finisgeekis.com/2019/02/07/cafe-com-anime-the-promised-neverland-episodios-3-e-4/feed/ 0 20811