O Finisgeekis, Dissidência Pop, É Só um Desenho e Anime21 compraram um desafio. Toda a semana, até o final da temporada, teremos um novo quadro a vocês.
Depois das agruras do dia, cheio de escrita, pesquisa e trabalho, nós nos sentaremos para um bom café, uma poltrona confortável – e um bate papo sobre o melhor da temporada.
Peça uma xícara você também, e mergulhe conosco no episódio final de Girls Last Tour:
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- Vinicius Marino
Deus do céu, que final! Crédito a quem é devido: nunca vi um slice of life descompromissado nos pegar pelas entranhas como fez Girls’ Last Tour
Eis que finalmente temos todas as respostas: a antiga sociedade da Terra, a guerra que devastou o planeta, a origem das máquinas e equipamentos, a natureza dos estranhos deuses em formato de salsicha.
E, de quebra, um vislumbre do futuro: a humanidade de fato está condenada. Ishii e Kanazawa estão provavelmente mortos. Yuu e Chi são as últimas humanas no planeta, e Nuko e seus progenitores preparam o leito para um sono coletivo de que ninguém acordará.
É tanta coisa a se pensar que nem sei por onde começar. Então lanço a vocês. O que acharam? O que mais marcou? O que os fez coçar a cabeça, derramar lágrimas, sorrir de satisfação? - Fábio “Mexicano”
Eu fiquei feliz de não ter sido pego de calças curtas. Há muitos episódios já havia interpretado o fim do mundo como uma metáfora para as nossas vidas limitadas. É como eu já disse várias vezes: elas estão vivendo ao máximo, dentro das possibilidades que têm.
E isso é precisamente o que cada um de nós, em nosso mundo confortável ainda longe do fim, está ou deveria estar fazendo. Elas e seu mundo não são fundamentalmente diferentes de nós.
Dito isso, o episódio conseguiu me maravilhar com o mosaico de séculos de vida humana, e me deixar tenso com a Yuuri sendo devorada. - Gato de Ulthar
PRIMEIRAMENTE: Que ótimo último episódio para um ótimo anime.
Bom, eu não afirmaria que a Yuu e a Chi são as últimas humanas na Terra, já que os cogumelos sencientes afirmaram que inda não haviam vasculhado com exatidão os andares acima. Só fiquei triste pela confirmação de que a Ishii e o Kanazawa muito certo estão mortos.
A cena no submarino onde são colacionadas várias imagens alternadas do sociedade humana, foi belíssima. A transição entre filmagens felizes e de guerra mostraram exatamente a humanidade como ela é. - Fábio “Mexicano”
Eu não acredito que o que os cogumelos disseram confirma que Kanazawa e Ishii estejam mortos. Até onde sabemos, eles não são oniscientes e muito provavelmente passaram pelos níveis inferiores antes das garotas encontrarem os dois, o que significa que simplesmente não os viram. Eu interpreto o que eles disseram como “até onde pudemos averiguar, daqui para baixo não tem mais ninguém vivo, só vocês duas”.
Independente disso, é muito possível que os dois estejam mortos. Não porque os cogumelos disseram isso, mas porque é mesmo difícil viver nesse mundo. Eles estão sozinhos e sequer dispõe de um veículo. O Kanazawa tinha uma moto que quebrou antes dele encontrar as garotas. A Ishii nunca teve um veículo, mas tinha uma fonte de alimentação próxima de onde vivia. - Vinicius Marino
Talvez seja o formato fúngico, talvez o fato de captarem ondas eletromagnéticas. Mas eu tive a impressão que aqueles seres, pelo menos na forma adulta, possuem uma espécie de “inteligência de enxame” que os permite captar coisas muito além dos seus sentidos imediatos. E eles parecem incumbidos de um propósito quase divino de “resetar” a criação. Então sim, acredito que haja uma boa probabilidade das duas garotas serem de fato o último biscoito do pacote.
Falando nos cogumelos, o que vocês acharam deles? Finalmente tivemos algo próximo de uma explicação da sua natureza, mas foi suficiente? De minha parte, achei que a cena dos ICBMs trouxe mais perguntas que respostas (o que não é de forma alguma ruim). - Fábio “Mexicano”
Enquanto os cogumelos estavam no submarino, um robô gigante de destruição em massa despencava na cabeça da Chito e da Yuuri – e estava ativo. Eles foram para o nível superior e o robô continua lá, ainda que talvez sem alguns componentes necessários para ser ligado. Ainda tem a questão das luzes do templo e da cidade a sua volta – eles já haviam passado por lá e deixaram aquela fonte de energia funcionando? Ou passaram pouco depois, e estão se movendo basicamente na mesma velocidade que as garotas? - Diego
Bom, há algumas explicações para isso. Para começar, provavelmente aqueles que vimos não são os únicos cogumelos antropomórficos comendo energia por ai. Pode ser que houvessem outros que simplesmente não haviam chegado até aquele templo ainda.
Outra explicação seria isso ser um simples furo de roteiro, talvez consequência da autora não ter a série inteira planejada desde o início (mais do que comum nessa indústria, caso o leitor não saiba).
Eu sou do time que acredita nos cogumelos, se mais nada porque me parece mais tematicamente coerente serem as duas as últimas humanas. Agora, sobre o episódio em si, vou dizer que foi a melhor finalização que o anime poderia ter tido (e tendo tomado alguns spoilers de como o mangá parece que irá terminar, acho que vou preferir o final do anime mesmo rs).
E eis que temos aqui o glorioso retorno da melhor trilha sonora do ano: a musiquinha da chuva (hiperbólico, claro, mas quem não gostou dela tocando ao final?). Ah sim, e os cogumelos… Hum, a explicação foi suficiente? Bom, teve uma explicação? Soubemos o que eles são, mas não muito sobre como surgiram. E francamente, nem acho que seja necessária uma explicação mais detalhada rs. - Fábio “Mexicano”
Kanazawa e Ishii já estavam narrativamente mortos após seus arcos, de todo modo, então não vejo porque seria necessário deuses cogumelos dizerem isso. A Yuuri já havia até esquecido quem era o Kanazawa alguns episódios atrás.
E sim, acredito que existam outros panteões de cogumelos (se eles são cultuados como deuses, o substantivo coletivo panteão é adequado, certo? hehe), mas isso não implica que eles se comuniquem à distância uns com os outros de modo a sempre todos estarem cientes de toda a situação do mundo.
Ao fim e ao cabo, acho que estamos exigindo explicação demais do que não precisa de explicação nenhuma, em primeiro lugar. - Vinicius Marino
Bom, então vamos a outro tópico, de que definitivamente recebemos uma explicação: o fim do mundo. Finalmente tivemos um vislumbre do que foi, afinal, o mundo do anime antes do apocalipse. Confesso que me trouxe à mente a Terra futurista de Cowboy Bebop. O videozinho das meninas, parte do mosaico final, até me pareceu reminiscente da “cápsula do tempo” da Faye Valentine em um dos episódios do clássico.
E reparem que o robozinho que a menina fez é de fato uma máquina Von Neumann. Ela diz especificamente que sua função é se autorreplicar!
- Fábio “Mexicano”
Apesar de ser só um vislumbre, apenas poucas cenas, fiquei positivamente impressionado com a dedicação da autora em contar uma história complexa. Seria fácil só mostrar que está tudo bem, depois vem uma guerra e acabou. Mas houve pelo menos três guerras, para começar.
E inúmeras cenas de vida cotidiana, momentos de felicidade e de tristeza, coisas enormes como asteroides (ou eram armas?) entrando na atmosfera da Terra e coisas minúsculas como uma aranha devorando uma borboleta. Modernidade e tradição. Aquilo foi realmente emocionante. - Vinicius Marino
Pareceu até uma versão não-brega do filme A Árvore da Vida. Com uma aranha no lugar de um velociraptor rs
- Fábio “Mexicano”
Para mim, aquele mosaico foi o ponto alto do episódio. E um dos maiores do anime inteiro. - Diego
Eu concordo com o Fábio, o mosaico foi talvez o melhor momento do episódio e um dos melhores da série. Mas não vou ter muito o que acrescentar: foi de fato um exímio esforço de worldbuilding em um tempo incrivelmente curto, créditos para a autora. - Gato de Ulthar
Sem sombra de dúvidas, o mosaico foi sim o ponto alto do episódio. A maneira como filmagens felizes e outras nem tanto se sobrepunham umas pelas outras foi o melhor jeito possível de contar a história da Terra de uma maneira rápida e eficiente. O impacto das duas descobrindo isso por meio de um livro ou alguém contanto à elas seria muito menor. Ou pior, poderia ter havido um flashback contando a história. Mas enfim, foi uma maneira felicíssima de mostrar o que a autora queria.
E mais, mesmo assim as duas não ficaram especialmente tristes, apenas melancólicas. Outro ponto alto do episódio foi a Yuu sendo devorada pela criatura fúngica, onde mostrou o desespero que seria uma perder a outra. - Vinicius Marino
Bom, pelo visto é unânime. Todos nós amamos o episódio.
Deixem-me perguntar outra coisa então. Agora que Girls’ Last Tour acabou, vocês sentiram que o anime mudou alguma coisa em vocês? Seja na forma como o enxergavam no começo, seja na maneira como enxergavam animes de uma forma geral?
De minha parte, devo dizer que ele melhorou minhas impressões tanto de slice of lifes quanto de personagens moe. O primeiro porque, muito embora já tenha assistido vários slice of lifes bons, é uma premissa meio hit or miss que sempre arrisca sacrificar conteúdo pela forma. E a segunda porque… bom, eu nunca imaginei que blobs fofas podiam servir uma função outra que o fanservice.
Desde o primeiro episódio, tive medo de que Girls fosse se mostrar um repeteco mais zoado de Sora no Woto, série que eu abandonei logo cedo, a despeito da produção incrível. Foi uma imensa alegria ver que este não foi o caso. - Fábio “Mexicano”
Animes slice of life normalmente vêm em um de três sabores: cute girls doing cute things, comédia e iyashikei. Pode ser também uma mistura em quantidades variadas desses três.
Girls’ Last Tour está mais para o terceiro tipo, só que ele não é o que estamos exatamente acostumados a ver no gênero. É certamente agridoce, mas não é sobre memórias da juventude ou da infância (necessariamente japonesas), mas sobre viver. É um tema universal.
Não ficamos com sentimentos mistos em relação ao passado e ao destino dos personagens (bom, isso também, mas não só), mas sim com relação à nossa própria vida. Estamos vivendo direito? Estamos aproveitando ao máximo o mundo em que vivemos? Se até elas podem, por que nós não podemos? Será que estamos apenas sobrevivendo?
Eu não sei dizer se assistir isso mudou algo em mim. Eu tenho certeza que ainda pretendo viver para sempre – e isso com certeza mata parte do propósito. Mesmo assim, mexe comigo pensar nesse tipo de coisa. - Gato de Ulthar
Bom, não posso afirmar que o anime mudou algo significativo em mim. O que posso afirmar é que foi uma obra de arte de qualidade que me deu muito prazer assistindo, e essa experiência positiva levarei para a vida toda, bem como pelo conhecimento que adquiri mediante as informações passadas pelo anime.
Quanto a questão de slice-of-life e o moe, acho que é uma combinação que pode dar bastante certo quando utilizada da maneira certa, e Girls’ Last Tour mostrou isso, assim como outros bons animes. E quanto ao design moe, ele pode sim ser utilizado em obras mais profundos, e quando isso acontece, a sensação causada é ainda mais profunda do que um design habitual, dada a “estranheza” formada pelo dicotomia”forma x conteúdo” - Diego
Eu vou dizer que não sei bem até que ponto o design de Girl’s Last Tour conta como “moe“. Ele é bastante estilizado e cartunesco, sim, com cabeças grandes e tudo mais, mas não exatamente chamaria de moe. Mas até ai a definição de “moe” é um vespeiro que talvez seja melhor eu não me meter kkkkk
De minha parte, não posso dizer que esse anime tenha me deixando algum impacto profundo ou coisa do tipo. Ele é certamente muito bom, um dos melhores animes que eu assisti esse ano, e lembrarei dele com bastante carinho. Mas não é algo que tenha mudado a minha vida ou mesmo a forma como eu vejo essa mídia. Fica como “só” mais uma obra muito boa rs. - Vinicius Marino
O que não é, de forma alguma, uma coisa negativa. Séries boas como essa não são coisa que vemos todo o dia.
E gostaria de terminar aqui com essa imagem:
Não, não é uma cena desse capítulo final. É uma tomada do primeiro episódio, que eu não tenham sequer registrado. Tudo para mostrar quão “fechado” e coerente Girls’ Last Tour foi. Um anime sem passos em falso, que sabe aonde quer ir desde o momento em que girou a ignição do Kettenkrad.
Acho que é isso, não? Chegamos ao fim! Agradeço a vocês pelos excelentes debates e a vocês, leitores, por nos acompanharem até aqui.
Um feliz ano novo e até a temporada que vem!
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Sei que não é sobre o texto, mas como tava procurando por aqui e não achei nada sobre… vocês bem que poderiam abordar em alguma nova postagem um pouco sobre essa nova temporada de sangatsu no lion e o “bullying” , tanto nessa obra como em outros animes/mangás/filmes etc. fica a dica 😀