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{"id":844,"date":"2015-11-09T17:12:39","date_gmt":"2015-11-09T19:12:39","guid":{"rendered":"http:\/\/finisgeekis.com\/?p=844"},"modified":"2019-02-25T14:42:42","modified_gmt":"2019-02-25T17:42:42","slug":"existe-anime-fora-do-japao","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/2015\/11\/09\/existe-anime-fora-do-japao\/","title":{"rendered":"Existe anime fora do Jap\u00e3o?"},"content":{"rendered":"

\n

Da lista de perguntas que causam\u00a0flamewars <\/em>com maior frequ\u00eancia, essa com certeza est\u00e1 no Top 10. Os animes conquistaram o mundo faz j\u00e1 algum tempo, e de l\u00e1 para c\u00e1 s\u00e3o v\u00e1rios os artistas que se inspiraram no estilo para criar seus pr\u00f3prios trabalhos. Mas seriam essas obras “animes”, tamb\u00e9m?<\/p>\n

<\/p>\n

Se troc\u00e1ssemos “anime” por “mang\u00e1”, creio que poucos discordariam. Muitos cartunistas ocidentais\u00a0j\u00e1 se puseram a escrever seus pr\u00f3prios mang\u00e1s. Apenas no Brasil, a Editora JBC j\u00e1 realizou concursos brasileiros<\/a>, cujos ganhadores foram publicados pela revista Henshin<\/a>. E isso sem mencionar todo o mercado de fanzines.<\/p>\n

Mesmo na anima\u00e7\u00e3o, h\u00e1 quem argumente que o nome “anime” pode ser aplicado a anima\u00e7\u00f5es ocidentais que emprestam f\u00f3rmulas e visuais dos desenhos japoneses. Elas incluiriam s\u00e9ries como\u00a0Avatar, A Lenda de Korra<\/em>,\u00a0Teen Titans, Samurai Jack\u00a0<\/em>e mesmo\u00a0Meninas Super Poderosas<\/em>.<\/p>\n

\"Encontre

Encontre o anime<\/p><\/div>\n

Problema encerrado? Nem de longe. Muita gente discorda dessa posi\u00e7\u00e3o. O Anime News Network<\/a>, maior portal de anime e mang\u00e1 em l\u00edngua inglesa, define “anime<\/a>” exclusivamente como anima\u00e7\u00e3o produzida no Jap\u00e3o. Com o mang\u00e1 \u00e9 a mesma coisa. Cria\u00e7\u00f5es ocidentais inspiradas na est\u00e9tica nip\u00f4nica s\u00e3o chamadas pelo site de “mang\u00e1s do mundo<\/a>.” \u00a0O nome \u00e9 inspirado\u00a0na categoria dos “mang\u00e1s globais”, criada pela editora Tokyopop<\/a>\u00a0para a sua linha de “mang\u00e1s” ocidentais.<\/p>\n

Quem estaria com raz\u00e3o?\u00a0Haveria alguma raz\u00e3o, ou seria esse um assunto melhor deixado \u00e0s\u00a0flamewars\u00a0<\/em>da vida?<\/p>\n

Eu acredito que haja pontos bons de ambos os lados. Por\u00e9m, para chegarmos at\u00e9 eles, precisamos desbravam as opini\u00f5es mais a fundo.<\/p>\n

Anime: uma denomina\u00e7\u00e3o de origem.<\/h3>\n
\"Fonte\"

Fonte<\/a><\/p><\/div>\n

Chris O’Brien<\/a>, em uma coluna para o Escapist, fez uma das defesas mais apaixonadas da universalidade do anime. Ele\u00a0aponta A Lenda de Korra<\/em>\u00a0<\/em>como um perfeito exemplo da m\u00eddia, e justifica seu ponto com\u00a0um paralelo com o mundo das bebidas. Em especial, com o conceito de denomina\u00e7\u00e3o de origem controlada, ou DOC.<\/p>\n

\"doc\"Uma DOC \u00e9 uma categoria de bebidas padronizadas, cuja produ\u00e7\u00e3o precisa cumprir uma s\u00e9rie de requisitos para garantir o selo. Elas podem ser mais ou menos r\u00edgidas – nos casos mais famosos, controlam\u00a0at\u00e9 mesmo como os produtores devem plantar a mat\u00e9ria prima. Se uma bebida n\u00e3o respeitar as regras, n\u00e3o pode levar o nome da DOC.<\/p>\n

A caracter\u00edstica mais marcante de uma DOC \u00e9 a necessidade de\u00a0ser produzida em uma determinada regi\u00e3o. Assim, s\u00f3 espumantes da regi\u00e3o de Champagne podem se chamar champagne, s\u00f3 os portugueses podem fazer vinho do porto, s\u00f3 os americanos podem fazer Bourbon e s\u00f3 os brasileiros t\u00eam direito a produzir cacha\u00e7a.<\/p>\n

O’Brien\u00a0muito libertariamente diz que isso \u00e9 tudo um grande conchavo de pol\u00edticos para estufar os bolsos de dinheiro e acabar com a livre-concorr\u00eancia. Para ele, o consumidor n\u00e3o est\u00e1 nem a\u00ed para a origem da bebida ou para\u00a0o jeito como ela \u00e9 feita. Ele s\u00f3 deseja beber e se divertir.<\/p>\n

Com a anima\u00e7\u00e3o seria a mesma coisa. O r\u00f3tulo \u201canime\u201d, tal como DOC, estaria a\u00ed apenas para evocar um falso senso de purismo e depreciar as excelentes anima\u00e7\u00f5es em estilo japon\u00eas produzidas fora da Terra do Sol Nascente.<\/p>\n

Eu tenho simpatia por alguns<\/em> pontos de O’Brien. No entanto, se existisse um pr\u00eamio de compara\u00e7\u00e3o mais descabida da internet, ele\u00a0com certeza o levaria. Em primeiro lugar, DOCs n\u00e3o s\u00e3o decretos de cima para baixo, mas fruto\u00a0da press\u00e3o dos pr\u00f3prios produtores para valorizar aquilo que fazem. Na maioria das vezes, elas servem para oficializar pr\u00e1ticas tradicionais que, em alguns lugares, t\u00eam sido feitas informalmente h\u00e1 s\u00e9culos.<\/p>\n

Elas cumprem sim, a fun\u00e7\u00e3o de\u00a0prote\u00e7\u00e3o, mas n\u00e3o a prote\u00e7\u00e3o dos consumidores contra os \u201cimitadores\u201d de meia tigela. Antes, elas servem para proteger os pr\u00f3prios estilos <\/em>frente \u00e0 popularidade de novas formas de se fazer bebida que surgiram no Novo Mundo. Elas n\u00e3o s\u00f3 n\u00e3o \u201creduzem a criatividade\u201d como s\u00e3o, elas mesmas, resultados de um mundo globalizado em que todo mundo t\u00eam direito de fazer o que quer e vender para quem quiser.<\/p>\n

Mais: nenhum produtor \u00e9 \u201cfor\u00e7ado\u201d a produzir dentro da DOC, mesmo se viver na zona de origem. Um exemplo s\u00e3o os supertoscanos<\/a>, vinhos\u00a0 \u201crebeldes\u201d da regi\u00e3o de Chianti que se tornaram alguns dos melhores da It\u00e1lia.<\/p>\n

Dizer que anime \u00e9 um r\u00f3tulo como a DOC \u00e9\u00a0dizer que os japoneses est\u00e3o com medo de serem \u201cocidentalizados\u201d pela anima\u00e7\u00e3o gringa e criaram um r\u00f3tulo para proteger sua produ\u00e7\u00e3o nacional, for\u00e7ando seus profissionais a desenharem sempre do mesmo jeito. Dada a imensa popularidade da est\u00e9tica anime no mundo e\u00a0a receptividade dos japoneses \u00e0s influ\u00eancias\u00a0estrangeiras,\u00a0a explica\u00e7\u00e3o n\u00e3o tem p\u00e9 nem cabe\u00e7a. Ainda mais se considerarmos que a pr\u00f3pria “cultura otaku” que os animes promovem foi feita com base em elementos ocidentais<\/a>.<\/p>\n

O’Brien\u00a0tamb\u00e9m parece esquecer uma coisa muito importante. Ao contr\u00e1rio do que ele diz…<\/p>\n

As pessoas\u00a0n\u00e3o pagam apenas pelo produto<\/h3>\n

\"figures\"<\/p>\n

H\u00e1 um motivo que leva as pessoas a pagarem R$350,00 numa garrafa de Veuve Clicquot em vez de beber um espumante do Vale do S\u00e3o Francisco por R$20,00. E n\u00e3o \u00e9 a\u00a0qualidade (a t\u00edtulo de curiosidade, os espumantes brasileiros s\u00e3o refer\u00eancia mundial).<\/p>\n

O champagne \u00e9 uma bebida hist\u00f3rica, estilosa, que \u201cagrega no camarote\u201d, como disse um certo meme-humano. Quem paga uma pequena fortuna em um champagne n\u00e3o o faz apenas pelas bolinhas. Eles querem algo mais.<\/p>\n

E n\u00e3o digo isso apenas pela \u201costenta\u00e7\u00e3o\u201d. Cria\u00e7\u00f5es tradicionais atraem pessoas porque o p\u00fablico\u00a0j\u00e1 sabe o que esperar delas. Elas t\u00eam uma fama e um prop\u00f3sito que vai al\u00e9m da experi\u00eancia.<\/p>\n

Animes \u2013 tais como outras \u201cescolas\u201d de anima\u00e7\u00e3o \u2013 tem suas pr\u00f3prias conven\u00e7\u00f5es, o seu pr\u00f3prio \u201cbanco de dados<\/a>\u201d de personagens, cen\u00e1rios e hist\u00f3rias que ati\u00e7a a mem\u00f3ria do f\u00e3. Isso sem contar toda a fascina\u00e7\u00e3o com a cultura japonesa, que normalmente leva jovens e estudantes de l\u00edngua a tornaram-se espectadores ass\u00edduos.<\/p>\n

Quem busca esse tipo de entretenimento pode muito bem se divertir com outros tipos de anima\u00e7\u00e3o \u2013 afinal de contas, ver uma coisa n\u00e3o nos pro\u00edbe de assistir\u00a0outra tamb\u00e9m. No entanto, o que ele busca no momento em que deseja assistir ao anime \u00e9 algo que acha que s\u00f3 o anime \u00e9 capaz de dar.<\/p>\n

Ou, ao menos, \u00e9 o que certos f\u00e3s dizem. Na pr\u00e1tica,\u00a0a coisa \u00e9 um pouco mais complicada, pois…<\/p>\n

N\u00e3o h\u00e1, no Jap\u00e3o, um consenso sobre o que seja \u201canime\u201d<\/h3>\n
\"Logo

Logo do Studio Ghibli. A palavra “anime” (\u30a2\u30cb\u30e1) n\u00e3o aparece.<\/p><\/div>\n

Aqui quem nos\u00a0ilumina\u00a0\u00e9 Brian Ashcraft<\/a>, o correspondente da Kotaku no Jap\u00e3o. Segundo ele, os japoneses nunca tiveram uma \u00fanica palavra para definir a arte\u00a0que faziam. Mesmo o termo \u201canime\u201d s\u00f3 se tornou popular a partir dos anos 1970. Ou seja: os cl\u00e1ssicos do Osamu Tezuka dos anos 1960, tidos por alguns como a origem do anime, s\u00f3 ganharem esse nome depois <\/em>de terem sido produzidos.<\/p>\n

Para complicar, se o termo \u201canime\u201d acabou se tornando uma marca para a anima\u00e7\u00e3o japonesa no exterior, no Jap\u00e3o isto n\u00e3o aconteceu. O nome \u00e9 usado para se referir a Sailor Moon<\/em>\u00a0<\/em>e Samurai X\u00a0<\/em>\u00a0tanto quanto para anima\u00e7\u00f5es ocidentais como os\u00a0Looney Toons<\/em>:<\/p>\n

\"anime<\/p>\n

N\u00e3o fosse o bastante, muitos animadores japoneses n\u00e3o utilizam o termo \u201canime\u201d para suas pr\u00f3prias obras. O pr\u00f3prio Studio Ghibli, talvez a maior refer\u00eancia em anima\u00e7\u00e3o japonesa, muitas vezes opta apenas pelo termo sakuhin<\/em> (\u201cobra\u201d), o mesmo usado pela Disney em seus lan\u00e7amentos no Jap\u00e3o. E, se a est\u00e9tica do Ghibli est\u00e1 indiscutivelmente dentro do que chamamos de \u201canime\u201d, o mesmo n\u00e3o pode ser dito de muitas outras s\u00e9ries que n\u00e3o obstante levam o nome do estilo:<\/p>\n

\"shin<\/p>\n

Se nem mesmo os japoneses est\u00e3o preocupados em preservar sua \u201cmarca\u201d, haveria sentido em definir anime como uma produ\u00e7\u00e3o exclusivamente oriental? Em um mundo cosmopolita em que todos se influenciam mutuamente, n\u00e3o seria melhor nos guiarmos apenas pela est\u00e9tica?<\/p>\n

O que dizem os contr\u00e1rios<\/h3>\n

O blog Animenation acha que n\u00e3o, e apresenta um argumento compartilhado pelo Anime News Network, que citei acima. Segundo seu autor<\/a>, \u00e9 justamente por vivermos em ambiente interconectado em que todos se influenciam que \u00e9 necess\u00e1rio definir com precis\u00e3o o que significa \u201canime\u201d.<\/p>\n

Hoje em dia, a est\u00e9tica da anima\u00e7\u00e3o japonesa j\u00e1 est\u00e1 t\u00e3o difundida que \u00e9 poss\u00edvel encontrar refer\u00eancias em filmes e s\u00e9ries que nada t\u00eam a ver um com o\u00a0outro. Mais: o pr\u00f3prio estilo exagerado do anime, com seus olhos gigantescos e gestos extravagantes, n\u00e3o foi criado no Jap\u00e3o, mas \u201cimportado\u201d por Osamu Tezuka e seus contempor\u00e2neos de personagens famosas dos Estados Unidos, como a Betty Boop.<\/p>\n

\"betty<\/p>\n

Se f\u00f4ssemos, seguindo O’Brien, levar apenas o estilo em considera\u00e7\u00e3o, logo \u00a0\u201canime\u201d se tornaria quase sin\u00f4nimo de \u201canima\u00e7\u00e3o\u201d. E,\u00a0se \u00e9 verdade que animadores de toda parte t\u00eam seus pontos em comum, \u00e0s vezes queremos nos referir especificamente<\/em>\u00a0\u00e0 m\u00eddia popularizada\u00a0no Jap\u00e3o. Para fins anal\u00edticos \u2013 dizem essas p\u00e1ginas \u2013 n\u00e3o h\u00e1 alternativa melhor do que definir anime pelo seu pa\u00eds de origem.<\/p>\n

E quando ao uso casual? Neste caso, tanto o Animenation quanto o Anime News Network acreditam\u00a0que n\u00e3o haja diferen\u00e7a\u00a0em adotar o nome \u201canime\u201d para tudo. Afinal de contas, se n\u00e3o estamos escrevendo um artigo acad\u00eamico ou calculando uma estat\u00edstica de mercado, por que isso seria importante?<\/p>\n

Por que, como tudo na vida, mesmo as coisas complicadas podem ficar ainda mais\u00a0<\/i>complicadas.<\/p>\n

O anime \u00e9 uma express\u00e3o da cultura japonesa<\/h3>\n

\"Space-Battleship-Yamato\"<\/p>\n

Para a maioria dos otakus ocidentais, a frase acima \u00e9 suficiente para faz\u00ea-los revirar os olhos. Aqueles que\u00a0fazem\u00a0cosplay talvez se lembrem\u00a0das pe\u00e7as raras\u00a0na internet\u00a0que dizem que apenas japoneses podem encarnar personagens de anime, j\u00e1 que eles foram \u201cfeitos para japoneses.\u201d<\/p>\n

Acreditem em mim, no entanto, quando digo que\u00a0essa frase n\u00e3o tem a ver com nenhum discurso do tipo. Mais do que isso: ela n\u00e3o foi dita por um troll nos f\u00f3runs do Crunchyroll, mas por dois dos maiores g\u00eanios do meio: Satoshi Kon e Mamoru Oshii.<\/p>\n

Exatos dez anos atr\u00e1s, os dois diretores integraram um n\u00famero de profissionais da ind\u00fastria entrevistados pela Tokyo Foundation. Os textos originais j\u00e1 sa\u00edram do ar, mas felizmente as p\u00e1ginas foram preservadas<\/a> no archive.org.<\/p>\n

Para os dois diretores, o anime n\u00e3o \u00e9 qualquer anima\u00e7\u00e3o \u2013 mesmo que o termo, casualmente, seja usado desta forma. Tamb\u00e9m n\u00e3o \u00e9 uma est\u00e9tica, um grupo de conven\u00e7\u00f5es ou uma fanbase. \u00c9 uma express\u00e3o aut\u00eantica da mente japonesa, que nenhuma outra cultura \u00e9 capaz de imitar.<\/p>\n

Sobre os empr\u00e9stimos entre Hollywood e o cinema japon\u00eas e a possibilidade de uma arte universal, Satoshi Kon<\/a> foi bastante categ\u00f3rico:<\/p>\n

– Voc\u00ea acredita que a arte ou o estilo s\u00e3o universais? Que as linhas que separam a anima\u00e7\u00e3o norte americana da japonesa est\u00e3o se apagando?<\/em><\/p>\n

Satoshi Kon: <\/strong>N\u00e3o. Eu acho\u00a0que n\u00e3o. A est\u00e9tica americana, n\u00e3o importa de que lado voc\u00ea olhe, \u00e9 americana. Por exemplo, a Disney ou a Dreamworks poderiam usar t\u00e9cnicas da anima\u00e7\u00e3o japonesa para fazer um fime. Mas n\u00e3o h\u00e1 como algu\u00e9m dizer que o resultado \u00e9 \u201canima\u00e7\u00e3o japonesa\u201d.<\/p>\n

(…)<\/p>\n

Mas Hollywood ainda tenta \u2013 e com teimosia, alguns diriam.<\/em><\/p>\n

Satoshi Kon:<\/strong> A cultura da anima\u00e7\u00e3o e dos quadrinhos japoneses \u00e9 e foi constru\u00edda sobre a experi\u00eancia, mentalidade e nuances do povo japon\u00eas, ent\u00e3o algu\u00e9m que n\u00e3o tenha essa mentalidade n\u00e3o consegue criar a mesma coisa. Ela se torna apenas uma imita\u00e7\u00e3o. \u00c9 a mesma coisa com os japoneses. Se n\u00f3s tentarmos fazer algo \u201cocidental\u201d, ele se tornar\u00e1 s\u00f3 uma imita\u00e7\u00e3o. Claro que n\u00f3s podemos nos influenciar, mas apenas imitar n\u00e3o saud\u00e1vel e n\u00e3o \u00e9 bom.<\/p>\n

Mamoru Oshii, \u00a0tem uma opini\u00e3o semelhante, muito embora (como em toda a sua obra) ele a coloque de forma bem mais dram\u00e1tica:<\/p>\n

– (…) Como voc\u00ea se sente em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 popularidade do anime e do mang\u00e1 no exterior?<\/em><\/p>\n

Mamoru Oshii: <\/strong>Eu n\u00e3o acho que a anima\u00e7\u00e3o pode ser descrita de forma t\u00e3o simples. Anima\u00e7\u00e3o japonesa, anima\u00e7\u00e3o americana, anima\u00e7\u00e3o europeia, elas t\u00eam suas diferen\u00e7as. O formato \u00e9 similar. Mas, por exemplo, quanto que uma pessoa japonesa pode entender da Guerra do Vietn\u00e3? Quanto que n\u00f3s podemos transmitir sobre a guerra em um filme, de qualquer maneira? Se n\u00f3s tivermos um impacto no p\u00fablico, isto \u00e9 \u00f3timo. Na Am\u00e9rica do Norte e na Europa, meus filmes podem ser uma forma de entretenimento, mesmo que haja\u00a0partes com que eles possam se relacionar\u00a0porque nossas hist\u00f3rias est\u00e3o entrela\u00e7adas. Mas no Oriente M\u00e9dio ou em outros lugares no mundo isl\u00e2mico, eu n\u00e3o acho que o p\u00fablico responderia bem aos meus filmes porque eles s\u00e3o muito diferentes. H\u00e1 uma barreira que precisamos ultrapassar. Eu n\u00e3o acho que exista uma cultura global. H\u00e1 culturas diferentes com cren\u00e7as diferentes, e isto n\u00f3s n\u00e3o podemos esquecer. A [Guerra do] Iraque est\u00e1 acontecendo porque as pessoas n\u00e3o entendem isso.<\/p>\n

\"mamoru<\/p>\n

Oshii toca num ponto interessante, e no qual geralmente n\u00e3o pensamos. Para ele, o que define uma “arte” n\u00e3o \u00e9 s\u00f3 seu estilo, mas sua escolha de conte\u00fado. N\u00e3o h\u00e1 anima\u00e7\u00e3o\u00a0como a japonesa porque apenas os japoneses falam das coisas de que falam do jeito como\u00a0falam.<\/p>\n

H\u00e1, obviamente, exce\u00e7\u00f5es. O Studio Ghibli, com seu universalismo, est\u00e1 muito mais pr\u00f3ximo da Disney<\/a> da velha guarda do que de muito do que se produz no \u00e2mbito do anime. Mesmo sim, \u00e9 dif\u00edcil olhar para os animes e n\u00e3o ver reflex\u00f5es de uma sociedade que n\u00e3o \u00e9 a nossa.<\/p>\n

Sky Crawlers<\/a>,\u00a0<\/i>do pr\u00f3prio Oshii, j\u00e1 foi interpretado como um ataque aos otakus japoneses, que preferem permanecer eternas crian\u00e7as a se tornarem\u00a0cidad\u00e3os produtivos.\u00a0Paranoia Agent\u00a0<\/em>fala sobre o ritmo alucinado dos trabalhadores no Jap\u00e3o e como muitos descambam para a loucura e o suic\u00eddio.\u00a0Mawaru Penguindrum<\/em> \u00e9 um drama sobre o ataque de g\u00e1s sarin no metr\u00f4 de T\u00f3quio em 1995, um atentado terrorista completamente diferente daqueles com o qual o\u00a0ocidente est\u00e1 acostumado. E eu j\u00e1 falei<\/a>\u00a0diversas vezes\u00a0de como o trauma<\/a> da Segunda Guerra<\/a> e as quest\u00f5es sem resposta daquele \u00e9poca s\u00e3o um tema recorrente em v\u00e1rios animes e mang\u00e1s.<\/p>\n

\"paranoiaagent\"<\/p>\n

E isso para citar apenas os t\u00edtulos “cabe\u00e7a”. Mesmo nos lan\u00e7amentos comerciais n\u00f3s vemos\u00a0sinais inconfund\u00edveis de que estamos lidando com algo feito em outro pa\u00eds. Os uniformes escolares que adolescentes usam o tempo todo, n\u00e3o importa se estejam em aula ou pilotando um mecha no espa\u00e7o. A rever\u00eancia ao\u00a0senpai<\/em>. As personagens que falam de costas umas para as outras para efeito dram\u00e1tico. As vending machines que vendem pocky e kit kats de sabores estranhos. Os\u00a0baito\u00a0<\/em>dos jovens adultos. Os apartamentos min\u00fasculos de um quarto s\u00f3, com ch\u00e3o de tatame e um kotatsu<\/a> para os dias frios.<\/p>\n

\"kotatsu\"<\/p>\n

\u00c9 poss\u00edvel separar o anime de toda essa carga cultural? Para Mamoru Oshii, n\u00e3o. \u00c9 poss\u00edvel para um criador ocidental fazer uma obra que lide com tudo isso? Poss\u00edvel \u00e9, mas como disse Satoshi Kon, isso seria uma imita\u00e7\u00e3o, e quem deseja uma imita\u00e7\u00e3o?\u00a0Os\u00a0gaikokujin\u00a0<\/em>t\u00eam suas pr\u00f3prias hist\u00f3rias para contar. Eles n\u00e3o precisam copiar as japonesas.<\/p>\n

Independente do lado que cada um tome, h\u00e1 um ponto com o qual todos concordam. A boa anima\u00e7\u00e3o pode vir de qualquer lugar, n\u00e3o importa o nome que damos a ela.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Da lista de perguntas que causam\u00a0flamewars com maior frequ\u00eancia, essa com certeza est\u00e1 no Top 10. Os animes conquistaram o mundo faz j\u00e1 algum tempo, e de l\u00e1 para c\u00e1 s\u00e3o v\u00e1rios os artistas que se inspiraram no estilo para criar seus pr\u00f3prios trabalhos. Mas seriam essas obras “animes”, tamb\u00e9m?<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":851,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"spay_email":"","jetpack_publicize_message":"","jetpack_is_tweetstorm":false},"categories":[576,580],"tags":[31,45,53,192,236,344,372],"jetpack_featured_media_url":"https:\/\/i1.wp.com\/www.finisgeekis.com\/wp-content\/uploads\/2015\/11\/korra.jpg?fit=1920%2C1080","jetpack_publicize_connections":[],"jetpack_shortlink":"https:\/\/wp.me\/p9rUzW-dC","_links":{"self":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/844"}],"collection":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=844"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/844\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":21336,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/844\/revisions\/21336"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media\/851"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=844"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=844"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=844"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}