Para n\u00f3s, do outro lado do mundo, essa pergunta soa estranha. O Guia da Cultura Japonesa<\/a> carrega uma se\u00e7\u00e3o inteira sobre o assunto (algo de se esperar, j\u00e1 que \u00e9 publicado pela JBC). No bairro da Liberdade em S\u00e3o Paulo mang\u00e1s e merchandise otaku dividem espa\u00e7o com kimonos, mistura para miss\u00f4 e cogumelos shiitake. Mesmo os mais \u00e1vidos “militantes” anti-anime reconhecem seu carimbo nip\u00f4nico: anos atr\u00e1s, um deputado americano<\/a> declarou que a m\u00eddia \u00e9 a prova de que duas bombas n\u00e3o haviam sido suficientes.<\/p>\n O leitor pode ficar surpreso ao saber que na terra do sol nascente essa opini\u00e3o tem seus contr\u00e1rios. Pol\u00edticos como Shintaro Ishihara, ex-prefeito de T\u00f3quio, aproveitam cada oportunidade para atacar a influ\u00eancia da cultura otaku na “sa\u00fade dos jovens”, a ponto de terem\u00a0trocado farpas <\/a>com gigantes da ind\u00fastria com um projeto de lei de controle da m\u00eddia anos atr\u00e1s. Ishihara n\u00e3o \u00e9 um \u00fanico: para v\u00e1rios japoneses, mang\u00e1 e anime n\u00e3o s\u00e3o cultura japonesa “de verdade”. Para eles, n\u00e3o passariam de pervers\u00f5es ocidentais que retratam – quando n\u00e3o zombam – de s\u00edmbolos nip\u00f4nicos leg\u00edtimos. O “verdadeiro Jap\u00e3o” n\u00e3o usa palavras em ingl\u00eas em seu vocabul\u00e1rio, nem\u00a0baba com garotas estilizadas de pouca roupa\u00a0e her\u00f3is de topetes coloridos. Estes s\u00e3o costumes ocidentais – em especial, americanos – que japoneses abra\u00e7aram por vergonha, ignor\u00e2ncia ou degenera\u00e7\u00e3o.<\/p>\n Por mais hist\u00e9ricos\u00a0que esses cr\u00edticos soem, eles n\u00e3o est\u00e3o 100% errados. H\u00e1 algo de n\u00e3o-japon\u00eas na cultura otaku, que abala a pr\u00f3pria ideia de uma “cultura japonesa”. Por\u00e9m, como em todas as coisas, a verdade \u00e9 sempre mais complicada.<\/p>\n <\/p>\n Hiroki Azuma, um autor que j\u00e1 citei aqui<\/a> algumas vezes, tem uma explica\u00e7\u00e3o. Al\u00e9m de cr\u00edtico especialista em cultura otaku, ele \u00e9 o escritor da\u00a0hist\u00f3ria que inspirou o belo anime\u00a0Fractale<\/a>\u00a0<\/em>e \u00e9 parceiro de Takashi Murakami no movimento\u00a0Superflat<\/a><\/em>. Para aqueles que n\u00e3o s\u00e3o familiares com o mundo da arte, Murakami \u00e9 um pintor que incorpora influ\u00eancias da anima\u00e7\u00e3o japonesa e da cultura pop em seus trabalhos. D\u00e1 para perceber, portanto, que para ele a quest\u00e3o \u00e9 pessoal.<\/p>\nQuando os japoneses foram proibidos de ser japoneses<\/h3>\n