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{"id":3083,"date":"2016-03-21T20:15:41","date_gmt":"2016-03-21T23:15:41","guid":{"rendered":"http:\/\/finisgeekis.com\/?p=3083"},"modified":"2019-02-25T14:36:16","modified_gmt":"2019-02-25T17:36:16","slug":"de-onde-vieram-os-anti-herois-dos-quadrinhos","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/2016\/03\/21\/de-onde-vieram-os-anti-herois-dos-quadrinhos\/","title":{"rendered":"De onde vieram os anti-her\u00f3is dos quadrinhos?"},"content":{"rendered":"

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Entre a nova (e violenta) adapta\u00e7\u00e3o de\u00a0Demolidor<\/em>, os ecos de Frank Miller em\u00a0Batman vs. Superman,\u00a0<\/em>o status de “lenda cult” de Christopher Nolan e a vinda da Guerra Civil para os cinemas, tudo aponta para a mesma coisa: o anti-her\u00f3i est\u00e1 na moda. E pretende ficar.<\/p>\n

Por si s\u00f3, isso n\u00e3o \u00e9 uma surpresa.\u00a0Seja na literatura,<\/a>\u00a0nos games<\/a>\u00a0ou nas s\u00e9ries de TV<\/a>, o velho confronto do “bem” versus o “mal” parece ter sido substitu\u00eddo por algo mais sofisticado – e muito mais sanguinolento.<\/p>\n

<\/p>\n

\"daredevil<\/p>\n

Roteiristas, quadrinistas e desenvolvedores descobriram (como John Milton<\/a> j\u00e1 havia feito muito tempo atr\u00e1s) que personagens com defeitos e personalidades complexas s\u00e3o muito mais cativantes. Afinal de contas, ningu\u00e9m \u00e9 perfeito. E nada enriquece mais uma obra de arte do que\u00a0her\u00f3is\u00a0veross\u00edmeis.<\/p>\n

Mesmo assim, seria um erro pensar que esses protagonistas\u00a0tortos, interessantes e (pasmem) carism\u00e1ticos simplesmente ca\u00edram do c\u00e9u. Nos quadrinhos \u00a0americanos, em especial, eles foram trazidos por\u00a0uma gera\u00e7\u00e3o espec\u00edfica, tumultuada e muit\u00edssimo criativa.<\/p>\n

Seguem, abaixo, tr\u00eas das principais “m\u00e3es” dos anti-her\u00f3is das HQs.<\/p>\n

1- A decep\u00e7\u00e3o com a pol\u00edtica<\/strong><\/h3>\n

A coisa que\u00a0n\u00e3o podemos esquecer sobre quadrinhos de super-her\u00f3is \u00e9 que sua popularidade veio nos\u00a0anos 1940, a d\u00e9cada da Segunda Guerra Mundial, do ufanismo e da maior radicaliza\u00e7\u00e3o pol\u00edtica j\u00e1 vista na hist\u00f3ria.<\/p>\n

Para al\u00e9m de uma luta do \u201cbem\u201d contra o \u201cmal\u201d, a mensagem desses quadrinhos era a de que as coisas se resolviam dentro do sistema. N\u00e3o era apenas o bom-mocismo que estava em jogo, mas todo um projeto de governo, sociedade e bons costumes.<\/p>\n

Super-her\u00f3is at\u00e9 podiam ser cru\u00e9is e implac\u00e1veis, desde que obedecendo \u00e0s ordens \u201cde cima\u201d ou, no m\u00ednimo, atendendo ao esp\u00edrito de seu tempo.<\/p>\n

\"tojo

Ningu\u00e9m tinha pena do Tojo<\/p><\/div>\n

Se hoje\u00a0esses quadrinhos nos parecem estranhos (quando n\u00e3o grotescos),\u00a0a mensagem que passavam era extremamente popular. Diante da\u00a0amea\u00e7a da guerra total, her\u00f3is que colocavam ditadores no seu lugar, colaboravam\u00a0com a pol\u00edcia e protegiam crian\u00e7as era o que todos\u00a0queriam ver.<\/p>\n

A partir dos anos\u00a01970, isso deixou de ser verdade.<\/p>\n

Com o conflito no\u00a0Vietn\u00e3, os americanos entenderam que a guerra\u00a0nem sempre \u00e9 para o \u201cbem\u201d, e que o combate \u00e9 bem menos glorioso quando se est\u00e1 do lado perdedor. Com a Crise de Ref\u00e9ns no Ir\u00e3<\/a> e o Caso Watergate<\/a>, o governo americano mostrou que podia errar e ser corrupto.\u00a0A\u00a0Crise do Petr\u00f3leo<\/a> jogou a economia para baixo, e a Guerra Fria trouxe o medo de um holocausto nuclear. Como confessou Frank Miller<\/a>, \u201co mundo estava ficando louco\u201d.<\/p>\n

Desconfiadas da autoridade, as pessoas buscaram seus herois em outros lugares. Em Watchmen, <\/em>Rorschach se recusa a abrir m\u00e3o de seu c\u00f3digo de conduta,\u00a0mesmo que isso traga a promessa de paz mundial.\u00a0Em O Retorno do Cavaleiro das Trevas<\/em>, Batman prefere se tornar um criminoso a virar um novo Superman, um her\u00f3i \u201cdo partido\u201d que s\u00f3 luta as batalhas autorizadas pelo presidente.<\/p>\n

\"batman<\/p>\n

Por\u00e9m, a\u00a0mudan\u00e7a mais impressionante foi\u00a0a do\u00a0maior \u00edcone do bom-mocismo patri\u00f3tico: o Capit\u00e3o Am\u00e9rica. \u201cRessuscitado\u201d em 1964<\/a>, Steve Rogers se sente mais e mais decepcionado com os rumos da pol\u00edtica. Em 1974<\/a>, ele \u00a0passa a combater o crime como o N\u00f4made, um her\u00f3i, como o nome j\u00e1 diz, sem p\u00e1tria.<\/p>\n

Seu momento definidor veio tamb\u00e9m das m\u00e3os de Frank Miller. Em Daredevil: Born Again<\/a><\/em>, ele deixa claro que os Estados Unidos que defende s\u00e3o uma ideia, n\u00e3o um governo.<\/p>\n

\"born<\/p>\n

De campe\u00f5es do sistema, os super-her\u00f3is viraram\u00a0outsiders<\/em>. O her\u00f3i n\u00e3o \u00e9 mais um\u00a0role model\u00a0<\/em>para servir de exemplo aos jovens. Agora,\u00a0ele segue o seu pr\u00f3prio caminho, apontando a hipocrisia nos outros e mostrando como a pr\u00e1tica do “bem” passa longe\u00a0de seu ideal.<\/p>\n

\u00c9 por isso que, em sua primeira hist\u00f3ria p\u00f3s-11\/9<\/a>, o Capit\u00e3o Am\u00e9rica n\u00e3o esmurra Bin Laden como antes fizera com Hitler. Em vez disso, ele visita Dresden, cidade alem\u00e3 que foi obliterada por bombardeios aliados na Segunda Guerra.\u00a0Longe de ser um fan\u00e1tico patriota, ele\u00a0se lembra de todo o sangue que j\u00e1 foi derramado em nome da “justi\u00e7a”.<\/p>\n

\u00c9 por isso que na\u00a0Guerra Civil<\/a> – uma alegoria do Patriot Act<\/a>, lei americana que reduziu a prote\u00e7\u00e3o constitucional de\u00a0civis em nome da luta contra o terrorismo – Steve Rogers se posiciona contra a ideologia de que a seguran\u00e7a \u00e9 prefer\u00edvel \u00e0\u00a0liberdade.<\/p>\n

E \u00e9\u00a0por isso que, no filme\u00a0Soldado Invernal<\/em>,\u00a0<\/em>ele se rebela contra a tentativa da SHIELD de se tornar uma “pol\u00edcia global”. No longa, tudo \u00e9 obra da Hydra. Na vida real, \u00e9 preciso bem menos.\u00a0Basta olhar para o esc\u00e2ndalo de espionagem da NSA<\/a>, cujos alvos inclu\u00edram at\u00e9 a Presid\u00eancia brasileira.<\/p>\n

Novas ideias, no entanto, demandam novos p\u00fablicos. E para conquistar novos\u00a0p\u00fablicos \u00e9 preciso\u00a0novas formas de se vender quadrinhos. O que nos leva \u00e0 segunda “m\u00e3e” dos anti-her\u00f3is<\/p>\n

\u00a02- O surgimento das gibiterias<\/strong><\/h3>\n

\"comic<\/p>\n

Como\u00a0quem j\u00e1 se aventurou pela arte sabe muito bem, a distribui\u00e7\u00e3o \u00e9 a alma de qualquer\u00a0obra de sucesso.<\/p>\n

Quando os quadrinhos de superher\u00f3is surgiram nos anos 1930, ningu\u00e9m pensava em ganhar o pr\u00eamio Pullitzer ou em escrever o mesmo personagem por 70 anos. Os gibis\u00a0eram vendidos em qualquer lugar por onde meninos perambulassem: bancas de jornal, lojas de brinquedo, farm\u00e1cias e at\u00e9 docerias.<\/p>\n

Como n\u00e3o havia garantia de que a crian\u00e7a voltaria a comprar o mesmo t\u00edtulo, a ideia era prezar a quantidade sobre a qualidade. Cada HQ tinha um come\u00e7o, meio e fim e eram feitas para o maior p\u00fablico poss\u00edvel, sem continuidade nem, muitas vezes, coer\u00eancia. Para chamar a aten\u00e7\u00e3o, n\u00e3o era raro uma editora publicar hist\u00f3rias estapaf\u00fardias. Ou o que era pior: hist\u00f3rias estapaf\u00fardias repetidas<\/strong>.<\/p>\n

\"superman<\/p>\n

\"superman<\/p>\n

Com o passar do tempo, esse modelo perdeu popularidade. Com o envelhecimento do p\u00fablico alvo, o fim dos vil\u00f5es \u00f3bvios da\u00a0Segunda Guerra e a press\u00e3o de moralistas (vide o pr\u00f3ximo t\u00f3pico), o n\u00famero de vendas mensais caiu de 59,8 milh\u00f5es em 1952 para 18,5 milh\u00f5es em 1979<\/a>.<\/p>\n

Para o hobby n\u00e3o morrer, alguma coisa precisava mudar. A volta por cima veio com Phil Seuling<\/a>, um f\u00e3 de quadrinhos e criador da Comic Art Convention<\/a> de Nova York. Seuling desenvolveu um sistema de distribui\u00e7\u00e3o baseado em lojas especializadas, dirigidas ao f\u00e3. Assim, nasciam as primeiras gibiterias.<\/p>\n

\"austin-books-comics\"

Austin Books & Comics<\/a>, no ramo desde 1977<\/p><\/div>\n

Para os envolvidos, esse novo modelo (chamado de mercado direto<\/a>)\u00a0era muito mais interessante. Antes, gibis n\u00e3o vendidos eram devolvidos para os fornecedores, o que for\u00e7ava as lojas a calcular bem a quantidade de HQs que achavam que venderiam (e, obviamente, n\u00e3o adquirir obras mais controversas). Na gibiteria, pelo contr\u00e1rio, n\u00fameros antigos simplesmente entravam para o cat\u00e1logo.<\/p>\n

Com menos risco, as editoras passaram a apostar em t\u00edtulos mais trangressores. N\u00e3o s\u00f3 isso, como produtores independentes finalmente conseguiram uma chance de entrar no mercado. O resultado foi um boom <\/em>de hist\u00f3rias inovadoras e selos independentes capazes de\u00a0rivalizar com a Marvel e DC.<\/p>\n

Ao mesmo tempo, as gibiterias criaram uma \u201ccontracultura\u201d dos quadrinhos, oferecendo espa\u00e7o para f\u00e3s confraternizarem, montarem cole\u00e7\u00f5es e acompanharem\u00a0artistas e personagens espec\u00edficos. Pela primeira vez, a base do que se tornaria a \u201ccena nerd\u201d come\u00e7ou a ganhar for\u00e7a.<\/p>\n

A capacidade de se enturmar com outros f\u00e3s e ficar “pr\u00f3ximo” dos autores se mostraria fundamental para a sobreviv\u00eancia do hobby. Isto porque, nessa mesma \u00e9poca, os quadrinhos\u00a0se tornaram\u00a0o campo de batalha de uma verdadeira guerra cultural.<\/p>\n

 <\/p>\n

1- A necessidade de chocar<\/strong><\/h3>\n

\"watchmen<\/p>\n

 <\/p>\n

Quem v\u00ea a trucul\u00eancia do Rorschach em Watchmen<\/em>\u00a0ou a lista de baixas do Justiceiro\u00a0<\/em>j\u00e1 percebe que os anti-her\u00f3is n\u00e3o est\u00e3o de brincadeira. Muito menos\u00a0os seus autores.<\/p>\n

Se essas HQs parecem \u00e0s vezes desnecessariamente cru\u00e9is, \u00e9 porque a inten\u00e7\u00e3o foi de fato chocar. E, se uma gera\u00e7\u00e3o inteira de artistas sentiu a necessidade de chacoalhar o p\u00fablico, \u00e9 porque eles tinham um inimigo em comum.<\/p>\n

Quando os quadrinhos de super-her\u00f3i surgiram nos EUA, eles foram imediatamente alvo da persegui\u00e7\u00e3o de moralistas<\/a>. A Igreja, os pol\u00edticos, intelectuais e at\u00e9 m\u00e9dicos\u00a0criaram a narrativa de que hist\u00f3rias em quadrinhos estimulavam a viol\u00eancia, atentavam contra a moral e desvirtuavam as crian\u00e7as.<\/p>\n

Nos casos mais extremos, entidades justiceiras organizaram mutir\u00f5es para remover gibis do com\u00e9rcio e queim\u00e1-los em fogueiras.<\/p>\n

\"comic-burning\"<\/p>\n

Para os quadrinistas, a grande batalha foi \u201cperdida\u201d em 1954, com a publica\u00e7\u00e3o de A Sedu\u00e7\u00e3o dos Inocentes<\/a><\/em>, do psiquiatra Fredric Wertham. O livro dava um roupagem cient\u00edfica para a tese de que HQs eram uma influ\u00eancia ruim no desenvolvimento de crian\u00e7as e se tornou a b\u00edblia dos que buscavam proibi-las.<\/p>\n

As evid\u00eancias de Wertham eram completamente furadas, mas isso era irrelevante. Nos anos 1950, a delinqu\u00eancia juvenil se tornou um p\u00e2nico moral<\/a>. A<\/em> Sedu\u00e7\u00e3o dos Inocentes <\/em>dizia aquilo que as pessoas queriam ouvir. Assim, se tornou uma sensa\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

A consequ\u00eancia direta da repercuss\u00e3o foi a promulga\u00e7\u00e3o do Comics Code Authority<\/a>, um c\u00f3digo de conduta destinado a regular o conte\u00fado dos quadrinhos. A iniciativa foi obra da Comics Magazines Association of America (CMAA), um grupo de figur\u00f5es da ind\u00fastria\u00a0que acreditou que uma auto-regula\u00e7\u00e3o\u00a0mostraria a boa vontade do profissionais\u00a0em aceitar as “cr\u00edticas”. A alternativa\u00a0seria uma censura oficial, o que enterraria as HQs de vez.<\/p>\n

Num argumento ainda muito comum entre moralistas, o CCA dizia que os artistas tinham uma \u201cresponsabilidade\u201d para a \u201ccena cultural americana\u201d e deviam \u201cfazer uma contribui\u00e7\u00e3o positiva para a vida contempor\u00e2nea\u201d.<\/p>\n

\"Approved_by_the_Comics_Code_Authority\"Na pr\u00e1tica, isso significava \u201cpurificar\u201d quadrinhos de tudo o que fosse considerado ofensivo, perigoso ou de mau gosto. Estava banido o uso das palavras \u201cterror\u201d ou \u201chorror\u201d (Parte B, 1), viol\u00eancia excessiva (Parte B, 3), apologia ao crime (Parte A, 4 e 5), excesso de g\u00edrias (Parte C, 3), nudez e sensualidade (Costume, 1 a 4) e mesmo incentivo ao div\u00f3rcio (Marriage and sex, 1).<\/p>\n

Ningu\u00e9m era obrigado a usar o selo, mas distribuidores se recusavam a vender HQs que n\u00e3o o tinham.\u00a0Depois de meses de persegui\u00e7\u00e3o (e inclusive uma audi\u00eancia p\u00fablica<\/a>\u00a0no senado), ningu\u00e9m queria ser visto como um defensor da delinqu\u00eancia juvenil.<\/p>\n

Para os artistas, isso n\u00e3o foi apenas um \u201cmundo ficando chato\u201d : foi um desastre que por pouco n\u00e3o afundou toda a ind\u00fastria de quadrinhos. Frank Miller, um dos \u201cpais\u201d indisput\u00e1veis dos anti-her\u00f3is, nos diz isso com todas as letras no pref\u00e1cio de Batman: O Cavaleiro das Trevas<\/em>:<\/p>\n

\n

N\u00e3o vale a pena citar o nome daquele psiquiatra lun\u00e1tico ou de seu livro absolutamente desprez\u00edvel. H\u00e1 muito o mundo se esqueceu dos dois.<\/p>\n

No pequeno universo dos quadrinhos, entretanto, aquele lixo de livro causou tanto estrago quanto um ciclope. Ou Galactus. As vendas ca\u00edram mais e mais. Por algum tempo, os artistas de HQs sequer revelavam sua profiss\u00e3o. N\u00e3o em companhia de pessoas cultas.<\/p>\n

Deus sabe que n\u00e3o abord\u00e1vamos temas pol\u00edticos.<\/p>\n

Mas n\u00f3s apenas parec\u00edamos irrelevantes. Apenas parec\u00edamos mortos.<\/p>\n<\/blockquote>\n

\"frank_miller-1\"<\/p>\n

Foi justamente o desejo de n\u00e3o ser irrelevante que motivou Miller e outros criadores (como Robert Crumb, Richard Corben e Neal Adams) a pisar nos calos. A partir dos anos 1970, com a populariza\u00e7\u00e3o das conven\u00e7\u00f5es e\u00a0o mercado direto, a cena de quadrinhos\u00a0underground <\/em>finalmente\u00a0<\/i>mostrou as suas garras.<\/p>\n

Autores pol\u00eamicos agora sabiam que havia uma\u00a0maneira de seus trabalhos chegarem aos f\u00e3s,\u00a0com ou sem o selo de aprova\u00e7\u00e3o. N\u00e3o demorou para as grandes editoras peitarem a CMAA, chegando, em casos extremos, a publicar gibis mesmo sem o aval\u00a0do CCA.<\/p>\n

\"AmazingSpider-Man096.jpg\"

Amazing Spider Man #96, que teve o selo negado por mostrar\u00a0Harry Osborne em crise de abstin\u00eancia.<\/p><\/div>\n

 <\/p>\n

A consequ\u00eancia foi uma gera\u00e7\u00e3o de her\u00f3is (e vil\u00f5es) complexos, inclementes e repletos de defeitos. O Justiceiro<\/a> e o Motoqueiro Fantasma<\/a>\u00a0deram as caras pela primeira vez. O Homem de Ferro<\/a> virou um alc\u00f3olatra. E o Batman<\/a> se tornou o l\u00edder de uma gangue sanguin\u00e1ria, fazendo com as pr\u00f3prias m\u00e3os a justi\u00e7a que\u00a0faltava ao governo.<\/p>\n

Os anti-her\u00f3is dos anos 1970 e 1980 n\u00e3o desafiavam s\u00f3 as normas de seus mundos fict\u00edcios. Eles eram, tamb\u00e9m, s\u00edmbolo do desafio de seus pr\u00f3prios criadores, lutando para que as HQs tivessem o mesmo tratamento\u00a0de filmes ou livros.<\/p>\n

\"Robert-Crumb-660x602.jpg\"<\/p>\n

Esses artistas nunca deixaram de militar pela sua liberdade criativa.\u00a0Em 1987, Alan Moore deixou a DC<\/a> ap\u00f3s a editora tentar implementar um sistema de classifica\u00e7\u00e3o et\u00e1ria. Em 1997, Frank Miller, que nunca foi exemplo de sutileza, escreveu\u00a0Tales to Offend<\/em>.<\/p>\n

\"Tales-to-Offend-1997-1.jpg\"<\/p>\n

O criador de Elektra <\/em>n\u00e3o tem nenhum remorso pela postura “in your face”<\/em>.\u00a0Como ele disse em um depoimento<\/a>, \u201ctudo o que se colocar\u00a0entre meu pincel e minha mesa de desenho \u00e9 meu inimigo\u201d.<\/p>\n

Os anti-her\u00f3is nos dias de hoje<\/h3>\n

\u00c9 curioso, mas nem um pouco surpreendente, que os anti-her\u00f3is fa\u00e7am tanto sucesso nos dias atuais. Em muitas aspectos, nossa gera\u00e7\u00e3o tem v\u00e1rias coisas em comum com o universo dos anos 1970 e 1980 de onde eles surgiram.<\/p>\n

Tal como h\u00e1 30 anos, nossa \u00e9poca \u00e9 marcada por um\u00a0enorme niilismo pol\u00edtico.\u00a0De protestos nas ruas ao sucesso de candidatos implaus\u00edveis\u00a0(veja apenas Trump nos EUA) h\u00e1 uma sensa\u00e7\u00e3o generalizada de que o jogo est\u00e1 viciado, e que a resposta se encontra em outro lugar.<\/p>\n

Tal como nos tempos de Phil Seuling, temos a nosso dispor uma imensidade de formas alternativas de produ\u00e7\u00e3o e distribui\u00e7\u00e3o de quadrinhos: de servi\u00e7os como o Comixology<\/a>\u00a0ao cen\u00e1rio do\u00a0crowdfunding,\u00a0<\/em>da cena efervescente das fanzines aos webcomics<\/em>. Os quadrinhos nunca foram t\u00e3o diversos e acess\u00edveis a tantas pessoas (leitores e<\/strong> criadores).<\/p>\n

Tal como na \u00e9poca do CCA, p\u00e2nicos morais continuam estourando na cena nerd, e a ideologia de que artistas t\u00eam uma “responsabilidade social” de produzir obras de bom gosto parece ter renascido das cinzas. O site da\u00a0CBLDF<\/a>, uma ONG dedicada \u00e0 prote\u00e7\u00e3o da liberdade de express\u00e3o de quadrinistas, cont\u00e9m uma lista de obras<\/a>\u00a0que t\u00eam sido atacadas por\u00a0moralistas nos \u00faltimos anos. Os t\u00edtulos s\u00e3o surpreendentemente variados, e incluem desde\u00a0Dragonball\u00a0<\/em>at\u00e9\u00a0Pers\u00e9polis<\/em>.<\/p>\n

Qual ser\u00e1 o futuro do\u00a0nosso novo “culto ao anti-her\u00f3i”, s\u00f3 o tempo nos dir\u00e1.\u00a0Uma coisa, no entanto, podemos afirmar\u00a0com certeza: se as nossas turbul\u00eancias trouxerem novos gigantes do calibre de Miller, Moore, Crumb e Gaiman, estamos em boas m\u00e3os.<\/p>\n

\u00a0<\/strong><\/p>\n

\u00a0<\/strong><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Entre a nova (e violenta) adapta\u00e7\u00e3o de\u00a0Demolidor, os ecos de Frank Miller em\u00a0Batman vs. Superman,\u00a0o status de “lenda cult” de Christopher Nolan e a vinda da Guerra Civil para os cinemas, tudo aponta para a mesma coisa: o anti-her\u00f3i est\u00e1 na moda. E pretende ficar. Por si s\u00f3, isso n\u00e3o \u00e9 uma surpresa.\u00a0Seja na literatura,\u00a0nos […]<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":3397,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"spay_email":"","jetpack_publicize_message":"","jetpack_is_tweetstorm":false},"categories":[580,15],"tags":[40,53,57,75,93,108,110,140,242,316,325],"jetpack_featured_media_url":"https:\/\/i1.wp.com\/www.finisgeekis.com\/wp-content\/uploads\/2016\/03\/daredevil-cover.jpg?fit=1500%2C896","jetpack_publicize_connections":[],"jetpack_shortlink":"https:\/\/wp.me\/p9rUzW-NJ","_links":{"self":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/3083"}],"collection":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=3083"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/3083\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":21320,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/3083\/revisions\/21320"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media\/3397"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=3083"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=3083"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=3083"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}