Aconteceu no meu primeiro ano da faculdade.<\/p>\n\n\n\n
Foi a melhor \u00e9poca da minha vida at\u00e9 o momento, mas tamb\u00e9m a mais estressante. Farto at\u00e9 a medula de simulados e aulas de decoreba, decidi que tinha chegado a hora de aproveitar minha vida ao m\u00e1ximo. Tudo o que sentia vontade de fazer fiz quest\u00e3o de levar a cabo. Ao mesmo tempo.<\/p>\n\n\n\n
Toquei violino em uma orquestra de c\u00e2mara amadora. Comecei minha inicia\u00e7\u00e3o cient\u00edfica. Entrei em turmas de latim e japon\u00eas. Nas horas vagas, sa\u00eda com minha namorada ou meus dois c\u00edrculos de amigos: os novos, da faculdade, e os antigos da escola.<\/p>\n\n\n\n
Minha rotina era uma montanha-russa entre o sentimento de realiza\u00e7\u00e3o e a imin\u00eancia de um burnout<\/em>. Nunca me sentira t\u00e3o completo e, ao mesmo tempo, t\u00e3o cansado.<\/p>\n\n\n\n Foi ent\u00e3o que escutei de um colega da aula de japon\u00eas:<\/p>\n\n\n\n \u201cQuer dizer que voc\u00ea n\u00e3o vai em festas? Voc\u00ea n\u00e3o tem medo de deixar essa oportunidade passar e viver com remorso pelo resto da vida?\u201d<\/p>\n\n\n\n Eu travei. Menos, imagino, por ter visto sabedoria em suas palavras que por ter escutado uma frase t\u00e3o absurda de algu\u00e9m que, para todos os fins, era at\u00e9 ent\u00e3o um desconhecido. Tirando os \u201cbons dias\u201d e os exerc\u00edcios de di\u00e1logo que faz\u00edamos na aula, aquela era a conversa mais longa que j\u00e1 t\u00ednhamos tido.<\/p>\n\n\n\n Senti vontade de responder que estudava na FFLCH-USP, que pouco tinha a ver com o campus cor-de-rosa das com\u00e9dias rom\u00e2nticas americanas. E que meus colegas eram menos conhecidos por festas que por ocuparem a reitoria durante greves e se vestirem de mendigo em tempo integral. (Era um clich\u00ea, obviamente, mas todo clich\u00ea tem uma ponta de verdade).<\/p>\n\n\n\n Mas apenas desconversei com uma desculpa qualquer, chocado pela minha pr\u00f3pria fraqueza diante de um coment\u00e1rio t\u00e3o est\u00fapido. Eu j\u00e1 estava dando tudo de mim. N\u00e3o havia mais horas no dia para fazer qualquer outra coisa. Ser\u00e1 que mesmo assim estava desperdi\u00e7ando meus anos de juventude?<\/p>\n\n\n\n