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{"id":22992,"date":"2021-08-04T18:10:05","date_gmt":"2021-08-04T21:10:05","guid":{"rendered":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/?p=22992"},"modified":"2021-08-04T18:20:25","modified_gmt":"2021-08-04T21:20:25","slug":"a-mulher-da-saia-roxa-humor-intrigas-e-pessoas-invisiveis","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/2021\/08\/04\/a-mulher-da-saia-roxa-humor-intrigas-e-pessoas-invisiveis\/","title":{"rendered":"“A Mulher da Saia Roxa”: humor, intrigas e pessoas invis\u00edveis"},"content":{"rendered":"\n

Certas hist\u00f3rias nos transportam para outros mundos. Outras arrancam nossas vendas, mostrando-nos universos paralelos escondidos debaixo dos nossos olhos. <\/p>\n\n\n\n

A Mulher da Saia Roxa<\/em>, de Natsuko Imamura, pertence ao segundo grupo. \u00c9, \u00e0 primeira vista, um romance sobre uma obsess\u00e3o mundana entre pessoas inconsequentes, escrito em uma prosa t\u00e3o simples que nos desafia a procurar sentidos escondidos.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9, tamb\u00e9m, um romance sobre compl\u00f4s e silenciamentos, sobre o pre\u00e7o de ver demais e os riscos de enxergar de menos. Um romance sobre temas t\u00e3o s\u00e9rios, escritos com tanta irrever\u00eancia que parecem nos zombar ao mesmo tempo em que nos intrigam. <\/p>\n\n\n\n\n\n\n\n

\"\"<\/figure><\/div>\n\n\n\n

A julgar pelo t\u00edtulo \u2013 e primeiros cap\u00edtulos – \u00e9 f\u00e1cil ter a impress\u00e3o de que estamos diante de uma hist\u00f3ria sobre uma personagem sui generis, <\/em>uma Manic Pixie Dream Girl<\/a> <\/em>rec\u00e9m-chegada \u00e0 meia-idade.<\/p>\n\n\n\n

A Mulher da Saia Roxa, como a narradora nos conta, \u00e9 uma figura da vizinhan\u00e7a. Fa\u00e7a sol ou fa\u00e7a chuva, usa sempre o mesmo figurino. Sempre almo\u00e7a sozinha na mesma pra\u00e7a, em um banco que os locais j\u00e1 aprenderam a reservar para ela. Nem sempre \u00e9 f\u00e1cil encontr\u00e1-la, pois sua rotina irregular. Quando passa na rua, todos imediatamente reagem a sua presen\u00e7a. Reza a lenda que v\u00ea-la duas vezes ao dia traz boa sorte; tr\u00eas vezes, azar. Se \u00e9 feita de carne e osso, ningu\u00e9m sabe: \u00e9 imposs\u00edvel toc\u00e1-la. Ela evita a multid\u00e3o como se tivesse  \u201cum terceiro olho habilmente escondido debaixo de sua franja, girando em 360 graus, dando a ela uma boa vis\u00e3o de o que quer que se aproximasse dela\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Isso, ao menos, \u00e9 o que diz a narradora. Leitores atentos, contudo, entender\u00e3o logo de cara que h\u00e1 algo mais sinistro em seu interesse. A Mulher da Saia Roxa<\/em>, no final das contas,n\u00e3o \u00e9 uma hist\u00f3ria sobre sua personagem ep\u00f4nima. \u00c9 uma hist\u00f3ria sobre aquela que a observa.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9, enfim, uma hist\u00f3ria sobre uma stalker<\/em>.<\/p>\n\n\n\n

\"\"
Capa da edi\u00e7\u00e3o japonesa de “A Mulher da Saia Roxa”<\/figcaption><\/figure><\/div>\n\n\n\n

Quem exatamente \u00e9 essa narradora \u00e9 algo que Imamura, nos apresenta apenas a conta-gotas. Ela chama a si mesma de \u201cMulher do Casaco Amarelo\u201d. Ela trabalha como camareira, embora n\u00e3o ganhe o bastante para pagar o aluguel. Esconde suas economias no guarda-volumes de uma esta\u00e7\u00e3o, \u00e0 espera do dia em que ser\u00e1 despejada. \u00c9 de se perguntar se o \u201cCasaco Amarelo\u201d que veste com tanto orgulho \u00e9 uma tentativa de se equiparar a sua hero\u00edna, ou apenas a \u00fanica pe\u00e7a de roupas que lhe resta.<\/p>\n\n\n\n

Por que ela \u00e9 t\u00e3o obcecada pela Mulher de Saia Roxa \u00e9 um mist\u00e9rio que nos acompanha at\u00e9 as \u00faltimas p\u00e1ginas. Longe das reviravoltas e emo\u00e7\u00f5es \u00e0 flor da pele que esperamos de um suspense, o enredo de A Mulher da Saia Roxa <\/em>\u00e9 corriqueiro a ponto de ser opressivo. Algo que a prosa frugal de Imamura vende com uma for\u00e7a diab\u00f3lica.<\/p>\n\n\n\n

Com exce\u00e7\u00e3o de uma cena, um tour de force <\/em>de realismo m\u00e1gico que poderia ensinar um truque ou dois a Haruki Murakami, n\u00e3o h\u00e1 no livro grandes tiradas ou floreios \u2013 ou, se eles existem, n\u00e3o foram inclu\u00eddos na tradu\u00e7\u00e3o que li, escrita por Lucy North<\/a>. Como um excelente thriller,<\/em> \u00e9 um livro para se ler em uma \u00fanica sentada.<\/p>\n\n\n\n

Mas elogi\u00e1-lo nesses m\u00e9ritos n\u00e3o d\u00e1 conta de explicar qu\u00e3o fundo o romance mergulha no po\u00e7o dos sentimentos humanos. Tal como a vida da Mulher em Saia Roxa, h\u00e1 mais aqui do que aflora na superf\u00edcie.<\/p>\n\n\n\n

N\u00e3o \u00e9 preciso muito para entendermos que a Mulher da Saia Roxa n\u00e3o \u00e9 \u201cfolcl\u00f3rica\u201d mais do que exclu\u00edda. Se os outros a evitam ou inventam hist\u00f3rias \u00e0s suas custas \u00e9 porque \u00e9 assim que fazemos com as pessoas que chamamos de \u201cestranhas\u201d. Ela \u00e9 magra porque come pouco, tem h\u00e1bitos irregulares porque faz bicos de madrugada, usa amostras de xampu porque n\u00e3o tem dinheiro para produtos de higiene. Se possu\u00edsse mais do que uma saia, talvez seu nome seria outro.<\/p>\n\n\n\n

Em dado momento, ap\u00f3s muitas entrevistas fracassadas, A Mulher de Saia Roxa arranja emprego como camareira no mesmo hotel em que trabalha a narradora.<\/p>\n\n\n\n

Coincid\u00eancia ou arma\u00e7\u00e3o? Para Imamura, a resposta n\u00e3o \u00e9 importante. Suas personagens s\u00e3o misteriosas n\u00e3o porque guardam algum grande segredo, mas porque existem \u00e0 margem da sociedade.<\/p>\n\n\n\n

\u201c\u00c0s vezes, nossas funcion\u00e1rias simplesmente desistem, sem nenhum aviso\u201d conta o diretor do hotel, como se fosse a coisa mais normal do mundo. “Eu n\u00e3o entendo voc\u00ea. Geralmente, voc\u00ea \u00e9 quieta como um rato” ele diz em outra cena, enquanto escuta uma amea\u00e7a que o sacode nas bases. A Mulher de Saia Roxa <\/em>\u00e9 um livro sobre pessoas invis\u00edveis.<\/p>\n\n\n\n

H\u00e1 uma cena marcante no in\u00edcio do romance em que A Mulher da Saia Roxa <\/em>sofre provoca\u00e7\u00f5es das crian\u00e7as do bairro. Elas se aproximam escondidas e encostam em seu ombro para logo depois fugirem em gargalhada.Sua rela\u00e7\u00e3o muda radicalmente quando a mo\u00e7a \u00e9 empregada pelo hotel e passa a trazer chocolates para distribuir entre os jovens. <\/p>\n\n\n\n

Como tantos adultos, aquelas crian\u00e7as s\u00f3 enxergam outra pessoa como humana quando tem algo que podem lhe tirar.<\/p>\n\n\n\n

A narradora \u00e9 um caso ainda mais tr\u00e1gico: uma mulher t\u00e3o solit\u00e1ria que precisa inventar uma obsess\u00e3o com uma completa estranha para sentir que sua vida ter\u00e1 o que menor impacto sobre o mundo.<\/p>\n\n\n\n

Como a dona de motel de Ap\u00f3s o Anoitecer<\/a> <\/em>e as hostesses <\/em>de Breasts and Eggs<\/a><\/em>, as camareiras de A Mulher da Saia Roxa <\/em>s\u00e3o mulheres economicamente vulner\u00e1veis, substitu\u00edveis, batalhando por espa\u00e7o num mundo pronto para cuspi-las quando cumprem sua fun\u00e7\u00e3o. Mas nem por isso s\u00e3o privadas de garras com que se defender \u2013 ou dar o bote quando suas v\u00edtimas quando elas menos esperam.<\/p>\n\n\n\n

A Mulher da Saia Roxa rapidamente acaba seu treinamento, distingue-se entre suas pares, sobe na hierarquia do hotel. Rumores come\u00e7am a surgir: alguns lisonjeiros, outros perigosos. Ela ganha o apre\u00e7o de suas supervisoras, ent\u00e3o o desd\u00e9m, finalmente o medo.<\/p>\n\n\n\n

Quando uma das personagens finalmente sai das sombras e suas a\u00e7\u00f5es amea\u00e7am trazer abaixo o hotel e seu dono, come\u00e7amos a nos perguntar se n\u00e3o foi tudo proposital. At\u00e9 os twists <\/em>de seu enredo mudam de sentido, como se n\u00e3o fossem reviravoltas de verdade, mas apenas verdades ululantes que aprendemos a ignorar.<\/p>\n\n\n\n

O quarto estava em sil\u00eancio mais uma vez. A porta autom\u00e1tica lentamente se fechou, e o diretor respirou um longo suspiro de al\u00edvio.<\/em><\/p>

\u201cDiretor\u201d eu subitamente ergui a voz.<\/em><\/p>

Ele levou um susto. \u201cAh! Voc\u00ea me assustou. H\u00e1 quanto tempo voc\u00ea est\u00e1 a\u00ed, Gondo-san?<\/em><\/p>

\u201cEu estive aqui o tempo todo\u201d.<\/em><\/p><\/blockquote>\n\n\n\n

Com quantas Mulheres da Saia Roxa cruzamos todos os dias nas ruas? Camareiras, garis, entregadores de comida, subempregados de toda sorte? Pessoas que sequer olhamos nos olhos para apanhar o troco que nos oferecem ou o negar o panfleto que nos empurram?<\/p>\n\n\n\n

Imamura trabalhou como camareira antes de se dedicar apenas \u00e0 literatura. Lendo seu romance, n\u00e3o \u00e9 nenhuma surpresa. Nem tanto pelas descri\u00e7\u00f5es dos bastidores do hotel, mas pela sensibilidade cruel, mas ao mesmo tempo bem-humorada com que nos for\u00e7a a enxergar aqueles que a sociedade perde entre suas frestas.<\/p>\n\n\n\n

Diz uma nota ao fim da edi\u00e7\u00e3o angl\u00f3fona que Imamura \u00e9 f\u00e3 de Yoko Ogawa<\/a> e conhecida no Jap\u00e3o como “a segunda Sayaka Murata<\/a>. Entre elas e Hiromi<\/a> e Mieko Kawakami<\/a>, s\u00f3 temos a agradecer o privil\u00e9gio de compartilhar uma gera\u00e7\u00e3o com escritoras desse calibre. O mundo em que vivemos parece uma montanha-russa com os freios quebrados. Gra\u00e7as a elas, e aos seus coment\u00e1rios, pelo menos encaramos a descida com os olhos abertos.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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