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Infelizmente, essa p\u00e9rola ficou de fora do document\u00e1rio<\/p><\/div>\n
Tr\u00eas dos epis\u00f3dios dizem respeito a momentos cruciais na hist\u00f3ria dos games: o surgimento dos consoles e a crise de 1983 (Epis\u00f3dio 1), a entrada da Nintendo no mercado (Epis\u00f3dio 2) e a hom\u00e9rica rivalidade entre a Nintendo e a Sega nos anos 1990 (Epis\u00f3dio 4).<\/p>\n
Os demais s\u00e3o dedicados ao desenvolvimento de g\u00eaneros espec\u00edficos: RPGs (Epis\u00f3dio 3), luta (Epis\u00f3dio 5) e FPSs (Epis\u00f3dio 6). Estes t\u00f3picos s\u00e3o ganchos mais do que linhas de argumenta\u00e7\u00e3o. O document\u00e1rio n\u00e3o hesita em saltar de um tema para o outro ao sabor das experi\u00eancias contadas por seus entrevistados.<\/p>\n
Entre o rol de personalidades, GDLK <\/em>conta com gigantes do naipe de John Romero<\/a> e Toru Iwatani<\/a>, mas tamb\u00e9m com nomes menos conhecidos.<\/p>\n
\u00c9o caso de Shaun Bloom, que trabalhou como um conselheiro de jogos da Nintendo: especialistas a quem gamers telefonavam<\/strong> atr\u00e1s de dicas antes da inven\u00e7\u00e3o de detonados ou subreddits<\/em>.<\/p>\n
O pr\u00f3prio fato de ter existido um servi\u00e7o de telemarketing dedicado a ajudar gamers a passar de fase deve soar absurdo \u00e0s novas gera\u00e7\u00f5es. Mais chocantes, no entanto, eram as condi\u00e7\u00f5es de treinamento, que fazem de Nolan Sorrento, vil\u00e3o de Jogador No 1<\/a>, <\/em>parecer um chefe modelo.<\/p>\n
Bloom fala de uma rotina de gritarias, surpresas e rasteiras di\u00e1rias. Seu supervisor fazia testes surpresas interrogando seus pupilos sobre cada dungeon, <\/em>item ou easter egg <\/em>nos jogos da companhia. Era apenas gra\u00e7as \u00e0 for\u00e7a da nerdice que Bloom e seus colegas encontraram for\u00e7ar para perseverar.<\/p>\n
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Pior ainda \u00e9 o caso de Gail Tilden, diretora de marketing respons\u00e1vel pela introdu\u00e7\u00e3o da revista Nintendo Power <\/em>nos EUA. Obter autoriza\u00e7\u00e3o de seus chefes japoneses foi tarefa custosa, e sua assertividade lhe rendeu um apelido pouco lisonjeiro:\u00a0 \u201cdragoa\u201d.<\/p>\n
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GDLK <\/em>apresenta essas e outras anedotas como relatos de uma era mais simples; um faroeste em que jovens adultos, movidos por quase nada al\u00e9m do amor por jogos, gozaram da liberdade criativa para inventar uma m\u00eddia do zero.<\/p>\n
\u00c9 dif\u00edcil, por\u00e9m, enxergar a diferen\u00e7a entre esses epis\u00f3dios e os problemas estruturais que abalam a ind\u00fastria de games at\u00e9 os dias de hoje.<\/p>\n
N\u00e3o seria o abuso que Bloom relata um pren\u00fancio da cultura de crunch <\/em>que levou companhias como a Rockstar<\/a>\u00a0e EA<\/a> \u00e0 vergonha global?<\/p>\n
N\u00e3o seria a humilha\u00e7\u00e3o sofrida por Tilden um introito das experi\u00eancias vexat\u00f3rias de tantas funcion\u00e1rias da Ubisoft sob o jugo de Serge Hasc\u00f6et<\/a>?<\/p>\n
At\u00e9 que ponto, ao apresentar esses testemunhos n\u00e3o como absurdos, mas curiosidades, GDLK <\/em>n\u00e3o \u00e9 c\u00famplice na cultura de conforma\u00e7\u00e3o que impediu, por tantos anos, que tais abusos viessem \u00e0 tona?<\/p>\n
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Uma m\u00eddia para todos<\/strong><\/h3>\n
Insistir demais nesse ponto talvez seja perder de vista o objetivo da s\u00e9rie. GDLK<\/em>, afinal de contas, n\u00e3o \u00e9 um document\u00e1rio voltado para gamers, mas sim leigos que desconhecem o sentido da sigla \u201cRPG\u201d ou mesmo o que \u00e9 um \u201cAtari\u201d.<\/p>\n
Ironicamente, esse mesmo p\u00fablico dificilmente saber\u00e1 o que significa \u201cGDLK\u201d \u2013 sigla para godlike,<\/em> g\u00edria pouco utilizada fora dos jogos competitivos. O t\u00edtulo original, High Score<\/em>, \u00e9 muito mais apropriado.<\/p>\n
Felizmente, o document\u00e1rio distoa da falta de tato dos tradutores \u00e0 vers\u00e3o brasileira. Na s\u00e9rie, termos, personalidades e refer\u00eancias s\u00e3o explicados em um tom did\u00e1tico, com o entusiasmo de um pai que mostra aos filhos da gera\u00e7\u00e3o Z seus volumes antigos da Nintendo Power<\/em>.<\/p>\n
Nesse sentido, a est\u00e9tica retr\u00f4 do document\u00e1rio, com interl\u00fadios em pixel art <\/em>pontuando as entrevistas, parece feita sob medida para atender a uma imagem folcl\u00f3rica do que videogames s\u00e3o.<\/p>\n
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Boa parte das anedotas que seus epis\u00f3dios trazem \u2013 da maneira como o jogo E.T. <\/em>quase levou a ind\u00fastria inteira \u00e0 fal\u00eancia, \u00e0 origem do nome da personagem Kirby \u2013 s\u00e3o bastante conhecidas por f\u00e3s de jogos eletr\u00f4nicos. Elas fazem , no entanto, um excelente trabalho de humanizar o esfor\u00e7o criativo por tr\u00e1s dos cl\u00e1ssicos do g\u00eanero.<\/p>\n
Entre os entrevistados est\u00e3o Rebecca Heineman, campe\u00e3 de Space Invaders <\/em>em uma \u00e9poca em que e-sports <\/em>eram um hobby de garagem. Ryan Best, criador de GayBlade, o primeiro jogo abertamente LGBT+ da hist\u00f3ria. Gordon Bellamy, cuja paix\u00e3o pela s\u00e9rie Madden<\/em> o levou a buscar um emprego na produtora EA. <\/em>O profissional foi o respons\u00e1vel por introduzir jogadores negros pela primeira vez na hist\u00f3ria da franquia.<\/p>\n
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Gordon Bellamy em cena de “GDLK”<\/p><\/div>\n
GDLK<\/em> brande essa e outras entrevistas como uma profiss\u00e3o de f\u00e9 em prol da diversidade em games. A mensagem de fundo \u00e9 que games n\u00e3o s\u00e3o feitos somente de pixels <\/em>ou pol\u00edgonos, mas dos sonhos coletivos de todos aqueles que os usam e os usaram para se autoexpressar.<\/p>\n
Dar voz aos jogadores, independente de quem seja, sempre foi sua for\u00e7a vital.<\/p>\n
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\u00c9 poss\u00edvel questionar a honestidade intelectual dessa abordagem. Ela celebra a tenacidade desses gamers <\/em>e desenvolvedores, mas pouco fala das dificuldades que os obrigaram a batalhar em primeiro lugar.<\/p>\n
Quantos Gordon Bellamys amargaram decep\u00e7\u00f5es para que um deles conquistasse seu emprego dos sonhos? Quantos GayBlades n\u00e3o foram perdidos \u00e0s brumas do passado, esquecidos em disquetes e arquivos que nunca mais viram a luz do dia?<\/p>\n
GDLK <\/em>prefere focar nas hist\u00f3rias de sucesso, n\u00e3o nos casos menos felizes que mostram que o progresso nunca \u00e9 r\u00e1pido ou definitivo.<\/p>\n
\u00c0 luz de 2020, pode parecer pouco. No entanto, o pr\u00f3prio fato de se esfor\u00e7ar para associar games ao que h\u00e1 de melhor no ser humano \u00e9 a prova do quanto as coisas mudaram.<\/p>\n
N\u00e3o faz muito tempo que jogos apareciam na grande m\u00eddia \u00fanica e exclusivamente como bodes expiat\u00f3rios para todo tipo de pol\u00eamica. GLDK <\/em>n\u00e3o s\u00f3 se nega a reduzir games a estas discuss\u00f5es, como defende abertamente a m\u00eddia.<\/p>\n
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O p\u00e2nico moral que associou RPGs ao satanismo<\/a> nos anos 1990 aparece apenas em seu epis\u00f3dio 3 \u2013 e, mesmo assim, sob uma \u00f3tima cr\u00edtica. N\u00e3o h\u00e1 men\u00e7\u00e3o \u00e0 Jack Thompson<\/a>, que em 1997 processou produtoras de games pelo atentado na Col\u00e9gio Heath<\/a>, em Kentucky. O mesmo advogado lideraria uma cruzada moralista ao GTA<\/em> na d\u00e9cada seguinte, que resultaria na exclus\u00e3o de seu direito de exercer a profiss\u00e3o<\/a> em 2007.<\/p>\n
A Doom, <\/em>cl\u00e1ssico dos jogos de tiro, o document\u00e1rio dedica quase um epis\u00f3dio inteiro. O foco, por\u00e9m, n\u00e3o \u00e9 sua viol\u00eancia gr\u00e1fica, que o levou a ser culpabilizado pelo Massacre de Columbine em 2001<\/a>. Pelo contr\u00e1rio, GDLK <\/em>o louva pelo seu seu papel de facilitador no surgimento de uma cultura participativa.<\/p>\n
Sem o game, a s\u00e9rie explica, n\u00e3o ter\u00edamos a cultura de modding <\/em>que contribuiu para a transforma\u00e7\u00e3o de Skyrim <\/em>em um marco da cultura pop. Isto sem falar em cl\u00e1ssicos como Team Fortress <\/em>ou Counter Strike, <\/em>originalmente mods <\/em>de Quake <\/em>e Half Life, <\/em>respectivamente.<\/p>\n
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Counter Strike<\/p><\/div>\n
Uma reden\u00e7\u00e3o aos games<\/em><\/strong><\/h3>\n
Parte paneg\u00edrico, parte hist\u00f3ria dos games, GDLK <\/em>escolhe para si um palco estreito. A falta de uma linha argumentativa coesa e reflex\u00f5es mais aprofundadas correm o risco de torn\u00e1-lo banal a gamers <\/em>veteranos. <\/em>Por outro lado, pergunto-me at\u00e9 que ponto seu cont\u00ednuo apelo ao fator nostalgia far\u00e1 sentido aqueles que n\u00e3o cresceram com um joystick em m\u00e3os.<\/p>\n
Tendo ou n\u00e3o sucesso, essa carta de amor \u00e0 era de ouro dos games merece ser celebrada, se nada mais, pelo respeito ao seu objeto e sua positividade contagiante.<\/p>\n
O hist\u00f3rico da Netflix com a cultura pop est\u00e1 longe de ser estelar. Universo Anime,<\/em> outra de suas tentativas de explorar estas m\u00eddias, foi amplamente criticado<\/a> por sua abordagem orientalista, preconceituosa e fatualmente incorreta da anima\u00e7\u00e3o japonesa.<\/p>\n
GDLK, <\/em>de certa forma, \u00e9 sua reden\u00e7\u00e3o, dando a \u00edcones como Tomohiro Nishikado<\/a> e Nolan Bushnell<\/a>\u00a0a defer\u00eancia esperada do entretenimento mainstream<\/em>. A seu conte\u00fado falta o peso de uma palavra definitiva, mas o esfor\u00e7o sem d\u00favida \u00e9 um GG<\/em>.<\/a><\/p>\n
NOTA: Esse artigo foi originalmente publicado no site do ARISE<\/a>, com t\u00edtulo “\u201cGDLK\u201d : uma carta de amor (um tanto desajeitada) \u00e0 hist\u00f3ria dos games”<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
73,4% dos brasileiros joga jogos eletr\u00f4nicos, segundo a \u00faltima pesquisa Game Brasil. Mais de 2 milh\u00f5es (incluindo este que vos fala) j\u00e1 prestigiaram a BGS, maior evento de games da Am\u00e9rica Latina. Os e-sports s\u00e3o uma ind\u00fastria bilion\u00e1ria. Personagens ic\u00f4nicas da m\u00eddia, de Sonic \u00e0 Comandante Shepard, n\u00e3o s\u00f3 ultrapassaram os consoles, como hoje fazem […]<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":22409,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"spay_email":"","jetpack_publicize_message":"","jetpack_is_tweetstorm":false},"categories":[21],"tags":[675,676,672,673,175,674,677,427],"jetpack_featured_media_url":"https:\/\/i2.wp.com\/www.finisgeekis.com\/wp-content\/uploads\/2020\/09\/202009818-high-score-cover.png?fit=2560%2C1440","jetpack_publicize_connections":[],"jetpack_shortlink":"https:\/\/wp.me\/p9rUzW-5Pe","_links":{"self":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/22396"}],"collection":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=22396"}],"version-history":[{"count":5,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/22396\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":22413,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/22396\/revisions\/22413"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media\/22409"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=22396"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=22396"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=22396"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}