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{"id":21976,"date":"2019-09-10T18:27:04","date_gmt":"2019-09-10T21:27:04","guid":{"rendered":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/?p=21976"},"modified":"2019-09-10T18:29:40","modified_gmt":"2019-09-10T21:29:40","slug":"a-policia-da-memoria-a-censura-e-como-vence-la","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/2019\/09\/10\/a-policia-da-memoria-a-censura-e-como-vence-la\/","title":{"rendered":"“A Pol\u00edcia da Mem\u00f3ria”: a censura – e como venc\u00ea-la."},"content":{"rendered":"

Eu havia pensado em come\u00e7ar esse texto com uma refer\u00eancia liter\u00e1ria ou a men\u00e7\u00e3o de algum epis\u00f3dio vergonhoso do passado.<\/p>\n

Infelizmente, a realidade tem um talento para superar a fic\u00e7\u00e3o. E o presente, com suas incertezas e passos em falso, nos choca mais que qualquer vexame hist\u00f3rico.<\/p>\n

<\/p>\n

Como brasileiros acompanharam de perto<\/a>, o prefeito do Rio de Janeiro atacou a Bienal, organizada nos dias 7 e 8, por desrespeitar o Estatuto da Crian\u00e7a e do Adolescente. Insatisfeito em usar seu mega-fone virtual, enviou fiscais para recolher material suspeito e intimidar vendedores.<\/p>\n

O alvo da guerra santa, por ironia de nomenclatura, foi a HQ A Cruzada das Crian\u00e7as<\/em>. De todos os quadrinhos da minha cole\u00e7\u00e3o particular, um dos \u00fanicos que nunca imaginei que pudesse causar uma pol\u00eamica.<\/p>\n

\"\"

Tomara que o prefeito n\u00e3o conhe\u00e7a mang\u00e1s<\/p><\/div>\n

Evidentemente, o circo midi\u00e1tico nada tem a ver com quadrinhos. A Cruzada das Crian\u00e7as<\/em> retrata um beijo gay, coisa que para uma parcela – cada vez mais entrincheirada – da popula\u00e7\u00e3o deve ser escondida de olhos sens\u00edveis.<\/p>\n

Impedidos de purgar o mundo daquilo que consideram asqueroso, os partid\u00e1rios desse moralismo tentam fingir que a realidade n\u00e3o existe. Limitados pelo cabresto de uma ideologia datada, querem viver a ilus\u00e3o de um passado puro, t\u00e3o fict\u00edcio que depende da for\u00e7a para resistir \u00e0 luz do dia.<\/p>\n

Felizmente, uma censura capaz de apagar a realidade ao destruir suas representa\u00e7\u00f5es \u2013 de, ao lacrar uma HQ com um saco fosco, for\u00e7ar as pr\u00f3prias pessoas a se confinar em arm\u00e1rios \u2013 ainda existe apenas em seus sonhos molhados. \u00a0N\u00e3o \u00e9 o caso, por\u00e9m, no livro A Pol\u00edcia da Mem\u00f3ria<\/em><\/a> da escritora japonesa Yoko Ogawa.<\/p>\n

Lan\u00e7ado em 1994, mas perfeitamente em casa no presente, \u00a0o livro \u00e9 um retrato apaixonado da import\u00e2ncia da capacidade de criar \u2013 e um lamento comovente das consequ\u00eancias de perd\u00ea-la.<\/p>\n

A Pol\u00edcia da Mem\u00f3ria<\/strong><\/h3>\n

\"\"<\/strong><\/p>\n

A trama conta a hist\u00f3ria de uma romancista. O lugar que chama de casa \u00e9 uma ilha onde as coisas desaparecem. N\u00e3o por vontade pr\u00f3pria. De tempos em tempos, uma corpora\u00e7\u00e3o orwelliana conhecida como a Pol\u00edcia da Mem\u00f3ria decreta o \u201cdesaparecimento\u201d de algum objeto. Seus soldados ent\u00e3o descem ao vilarejo, com fardas e armas \u00e0 mostra, para garantir que sejam eliminados.<\/p>\n

Em poucos instantes, uma montanha de papel havia se formado no ch\u00e3o. Quase tudo no quarto tinha alguma coisa a ver com o trabalho do meu pai. Documentos cobertos com a escrita familiar do meu pai e fotografias que ele havia tirado no observat\u00f3rio voaram das m\u00e3os dos policiais uma ap\u00f3s a outra. N\u00e3o havia d\u00favida de que eles estavam criando o caos, mas eles procediam em uma maneira t\u00e3o precisa que davam a impress\u00e3o de uma ordem cuidadosa.<\/em><\/p><\/blockquote>\n

Os objetos n\u00e3o s\u00e3o apenas destru\u00eddos, mas apagados da exist\u00eancia. No surrealismo t\u00edpico<\/a> da escrita de Ogawa, a Pol\u00edcia da Mem\u00f3ria apaga n\u00e3o apenas as coisas do mundo, mas tamb\u00e9m da mente das pessoas. Num dia, estamos regando nosso canteiro de rosas. No outro, sequer sabemos o que \u00e9 uma flor.<\/p>\n

\u201cN\u00e3o se preocupe. N\u00e3o machuca, e voc\u00ea sequer ficar\u00e1 particularmente triste. Uma manh\u00e3 voc\u00ea simplesmente acordar\u00e1 e ter\u00e1 acabado antes de voc\u00ea sequer se dar conta. Deitada sem se mexer, de olhos fechados e orelhas agu\u00e7adas, tentando sentir o curso do ar matinal, voc\u00ea sentir\u00e1 que alguma coisa mudou desde a noite passada, e voc\u00ea saber\u00e1 que perdeu alguma coisa, que alguma coisa foi desaparecida da ilha\u201d. <\/em><\/p><\/blockquote>\n

Cada desaparecimento tamb\u00e9m altera o mundo de alguma forma, como se a fun\u00e7\u00e3o que cada coisa desempenhasse sumisse junto com ela. Quando barcos desaparecem, as pessoas deixam de pensar em fuga. Quando calend\u00e1rios desaparecem, as esta\u00e7\u00f5es param de passar, e a ilha fica presa em um inverno sem fim. Quando romances desaparecem, as pessoas perdem a capacidade de encadear ideias.<\/p>\n

\"\"

Fonte<\/a><\/p><\/div>\n

A hist\u00f3ria de Ogawa tem poucas personagens e ainda menos nomes pr\u00f3prios. Sua prosa \u00e9 magra e melanc\u00f3lica como a distopia que nos narra. Suas frases, curtas e diretas, parecem elas pr\u00f3prias ter sido depuradas pela Pol\u00edcia da Mem\u00f3ria.<\/p>\n

Embora seja dif\u00edcil n\u00e3o l\u00ea-lo como uma alegoria pol\u00edtica,\u00a0o nunca comete o erro de ser proselitista. Ogawa n\u00e3o insulta a intelig\u00eancia de seus leitores for\u00e7ando o paralelo com alguma causa do momento.<\/p>\n

Sua Pol\u00edcia da Mem\u00f3ria n\u00e3o tem manifestos nem bandeiras, ideologia ou explica\u00e7\u00f5es. Ela simplemente existe, como uma for\u00e7a da natureza ou um imperativo c\u00f3smico.<\/p>\n

\u201cVoc\u00ea sabe o que acontece quando guardamos coisas que deveriam ter sumido\u201d um policial da mem\u00f3ria diz \u00e0 protagonista num tom condescendente. Ele nunca completa o pensamento. Se existe uma raz\u00e3o para fazerem o que fazem, n\u00e3o cabe a ela, nem a n\u00f3s, leitores, saber.<\/p>\n

\u201cN\u00e3o \u00e9 censura nem homofobia<\/a>\u201d disse o prefeito do Rio em uma deflex\u00e3o parecida \u201cA quest\u00e3o envolvendo os gibis na Bienal tem um objetivo bem claro: cumprir o que prev\u00ea o Estatuto da Crian\u00e7a e do Adolescente\u201d. Ele, tamb\u00e9m, n\u00e3o completa o pensamento, embora suas platitudes seguintes imitem a estrutura, se n\u00e3o o conte\u00fado, de um argumento.<\/p>\n

Como a Pol\u00edcia da Mem\u00f3ria, ele se coloca como executor imparcial de uma Autoridade que a meros mortais n\u00e3o cabe questionar, apenas obedecer.<\/p>\n

A derrota da raz\u00e3o<\/strong><\/h3>\n

Em sua resenha para o The Guardian\u00a0<\/em>Madeleine Thien<\/a>\u00a0comentou que\u00a0o romance de Ogawa\u00a0pode ser lido como uma met\u00e1fora sobre o envelhecimento. O tempo, afinal, tamb\u00e9m \u00e9 uma \u201cpol\u00edcia da mem\u00f3ria\u201d. Ele some com objetos, enfraquece nossos sentidos, leva embora pessoas que amamos \u2013 quando n\u00e3o at\u00e9 a recorda\u00e7\u00e3o de que um dia as conhecemos.<\/p>\n

As personagens de Ogawa, de fato, encaram a vida como idosos moribundos. Elas temem a morte que se aproxima, mas sabem que evit\u00e1-la n\u00e3o \u00e9 uma op\u00e7\u00e3o. Desaparecer – e n\u00e3o sere lembrado – \u00e9 o \u00fanico futuro que contemplam.<\/p>\n

\u201cO que acontecer\u00e1 conosco?\u201d pergunta uma personagem ap\u00f3s um desaparecimento chocante. \u201cNada\u201d responde outra. \u201cEsse \u00e9 o ponto. \u00c9 apenas mais um buraco que se abriu na ilha. No que ele \u00e9 diferente dos outros\u201d?<\/p>\n

\u201cVoc\u00ea precisa parar de se preocupar com esse tipo de coisa\u201d ouvimos em outra cena. \u201cOs desaparecimentos est\u00e3o al\u00e9m do nosso controle. Eles n\u00e3o t\u00eam nada a ver conosco. Todos n\u00f3s morreremos um dia, ent\u00e3o qual \u00e9 a diferen\u00e7a? N\u00f3s simplesmente precisamos deixar as coisas nas m\u00e3os do destino\u201d.<\/p>\n

\u00c9 um sentimento que, eventualmente, chega aos l\u00e1bios da pr\u00f3pria narradora:<\/p>\n

\u201cAo observar as cinzas, ocorreu-me que os desaparecimentos talvez n\u00e3o fossem t\u00e3o importantes quanto a Pol\u00edcia da Mem\u00f3ria queria que acredit\u00e1ssemos. A maioria das coisas desapareceria daquela forma quando incendiadas, e elas poderiam ser sopradas ao vento com pouca considera\u00e7\u00e3o pelo que elas um dia poderiam ter sido.\u201d<\/em><\/p><\/blockquote>\n

Para garantir que as pessoas n\u00e3o sintam falta do real, a Pol\u00edcia da Mem\u00f3ria faz sumir at\u00e9 mesmo nossa necessidade por coisas que de fato existam. O problema \u00e9 que pessoas alienadas s\u00e3o for\u00e7adas a viver nas nuvens, a merc\u00ea da mais fraca das brisas.<\/p>\n

\u201cConforme as coisas se tornam mais rasas, mais cheias de furos\u201d uma personagem explica \u201cnossos cora\u00e7\u00f5es tamb\u00e9m se tornam mais rasos, mais dilu\u00eddos de alguma forma.\u201d<\/p>\n

Escritas h\u00e1 mais de 20 anos, as ang\u00fastias de Ogawa soam quase prof\u00e9ticas se considerarmos o quanto foram ecoadas nos \u00faltimos anos.<\/p>\n

\u00c9 o caso de Alan Moore, que chamou a obsess\u00e3o com filmes de superher\u00f3i de \u201ccat\u00e1strofe cultural\u201d<\/a>, em que adultos se refugiam em \u201cpersonagens e situa\u00e7\u00f5es […] criadas para entreter meninos de doze anos\u201d para evitar as \u201ccomplexidades esmagadores da exist\u00eancia moderna\u201d.<\/p>\n

Ou de tantas pessoas que acreditam que o avan\u00e7o das fake news <\/em>e fatos alternativos pode estar matando o jornalismo e a ci\u00eancia \u2013 e, com eles, nossa conex\u00e3o com a verdade.<\/p>\n

Ou ainda dos que v\u00eaem na ascens\u00e3o de l\u00edderes inconsequentes, que negociam com insultos e governam com tweets<\/em>, o sinal de que a pr\u00f3pria humanidade regride a uma fase infantil<\/a>.<\/p>\n

\"\"

Imagem de S\u00e9bastien Thibault. Fonte<\/p><\/div>\n

\u00c9 uma ideia desconfort\u00e1vel, que se torna aterrorizante se pensarmos que ela pode n\u00e3o ser apenas paranoia.<\/p>\n

Um estudo italiano<\/a> publicado esse ano vinculo o consumo de entretenimento rasteiro \u00e0 ascens\u00e3o do populismo nos \u00faltimos anos. Os pesquisadores encontraram uma correla\u00e7\u00e3o entre \u00e1reas servidas pelas emissora Mediaset nos anos 1980 e 1990 e a ascens\u00e3o de seu presidente, Silvio Berlusconi, ao estrelato da pol\u00edtica italina.<\/p>\n

O curioso \u2013 e pavoroso \u2013 \u00e9 que eles n\u00e3o est\u00e3o falando de propaganda pol\u00edtica. Pelo contr\u00e1rio, a Mediaset veiculava muito pouco conte\u00fado pol\u00edtico \u2013 ou mesmo \u201cconte\u00fado\u201d de qualquer tipo. Nos seus primeiros anos, a emissora mal contava com notici\u00e1rios ou programas educativos. A esmagadora maioria de sua grade era composta de filmes, novelas e programas de variedade. Boa parte importada do estrangeiro.<\/p>\n

Segundo os pesquisadores, foi justamente a bo\u00e7alidade desse entretenimento vazio que chocou os ovos da radicaliza\u00e7\u00e3o. Acostumadas desde cedo a uma m\u00eddia que n\u00e3o as desafia, as pessoas se tornaram \u201ccognitivamente e culturalmente mais rasas, e em \u00faltima medida mais vulner\u00e1veis \u00e0 ret\u00f3rica populista\u201d.<\/p>\n

\u201cAt\u00e9 agora, eu publiquei tr\u00eas romances […]. Cada um deles contava a hist\u00f3ria de alguma coisa que havia sido desaparecida. Todo mundo gosta desse tipo de coisa. Mas aqui, na ilha, escrever romances \u00e9 uma das profiss\u00f5es menos impressionantes e apreciadas que algu\u00e9m pode seguir. Ningu\u00e9m pode dizer que a ilha est\u00e1 transbordando de livros. A biblioteca, um prec\u00e1rio pr\u00e9dio t\u00e9rreo de madeira ao lado de um jardim de rosas, tinha apenas um punhado de clientes, n\u00e3o importava que horas algu\u00e9m a visitava, e os livros pareciam se encolher nas prateleiras, com medo de virar poeira ao mero toque. Eles ser\u00e3o todos, no final, jogados fora sem serem bem cuidados ou restaurados \u2013 e \u00e9 por isso que a cole\u00e7\u00e3o nunca cresce. Mas ningu\u00e9m jamais reclama.<\/em><\/p>\n

[…]<\/em><\/p>\n

Poucas pessoas aqui tem qualquer necessidade de romances.\u201d<\/em><\/p><\/blockquote>\n

Um passo a mais que nos afasta do abismo<\/h3>\n

\"\"<\/p>\n

Muitos artistas acreditam que a arte nasceu para mudar o mundo. E invariavelmente se decepcionam quando n\u00e3o s\u00e3o levados a s\u00e9rio.<\/p>\n

Por mais que denunciem os absurdos ou proponham novas ideias, \u00a0a realidade sempre marcha impass\u00edvel, pisoteando suas ambi\u00e7\u00f5es com a mesma indiferen\u00e7a com que nega um retorno financeiro.<\/p>\n

Suas obras, como aquelas do romance de Ogawa, amargam n\u00e3o lidas em bibliotecas esquecidas, encolhidas nas prateleiras com medo de virar p\u00f3.<\/p>\n

\u201cO que as pessoas dessa ilha conseguem criar?\u201d Eu continuei. \u201cAlguns tipos de legume, carros que sempre quebram, fornos pesados e impr\u00e1ticos, alguns animais esfaimados, cosm\u00e9ticos gordurosos, beb\u00eas, uma pe\u00e7a simples de teatro de quando em quando, livros que ningu\u00e9m l\u00ea… Coisas pobres, inconstantes que jamais compensar\u00e3o por todas aquelas que est\u00e3o desaparecendo \u2013 e a energia que vai junto com elas. \u00c9 sutil, mas parece estar acelerando, e n\u00f3s temos que ter cuidado. Se continuar assim e n\u00f3s n\u00e3o conseguirmos compensar pelas coisas que se perdem, a ilha logo mais ser\u00e1 nada al\u00e9m de aus\u00eancias e buracos, e quando estiver completamente oca, n\u00f3s todos desapareceremos sem deixar rastro\u201d.<\/em><\/p><\/blockquote>\n

Se o estudo italiano estiver certo, por\u00e9m, talvez a arte n\u00e3o precise mudar o mundo. Talvez ela \u2013 e a imagina\u00e7\u00e3o a que d\u00e1 voz \u2013\u00a0 seja\u00a0pela mera virtude de existir aquilo que nos protege de um futuro ainda pior. A cola fundamental que nos impede, como a protagonista de Ogawa, de \u201cdissolver em peda\u00e7os\u201d ao sermos tirados de nossos espa\u00e7os seguros, \u201ccomo um peixe abissal trazido r\u00e1pido demais \u00e0 superf\u00edcie.”<\/p>\n

Se isso, de fato, \u00e9 o que nos resta, ent\u00e3o nosso prospecto \u00e9 terr\u00edvel, mas tamb\u00e9m esperan\u00e7oso.<\/p>\n

Terr\u00edvel, pois significa que batalhar pela imagina\u00e7\u00e3o \u00e9 viver em um constante estado de cerco. N\u00e3o importa qu\u00e3o altos sejam os ombros dos gigantes em que sentamos, nem qu\u00e3o inspiradores os monumentos que nos deixaram. A Pol\u00edcia da Mem\u00f3ria pode lev\u00e1-los embora de uma hora para outra.<\/p>\n

Esperan\u00e7oso, pois significa que cada coisa que criamos acima daquelas que nos s\u00e3o tiradas \u00e9 um passo a mais que nos afasta do abismo. Mesmo que aquilo que venhamos a criar seja t\u00e3o simples quanto um painel de HQ.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Eu havia pensado em come\u00e7ar esse texto com uma refer\u00eancia liter\u00e1ria ou a men\u00e7\u00e3o de algum epis\u00f3dio vergonhoso do passado. Infelizmente, a realidade tem um talento para superar a fic\u00e7\u00e3o. E o presente, com suas incertezas e passos em falso, nos choca mais que qualquer vexame hist\u00f3rico.<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":21979,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"spay_email":"","jetpack_publicize_message":"","jetpack_is_tweetstorm":false},"categories":[580,17],"tags":[622,624,226,623,621],"jetpack_featured_media_url":"https:\/\/i1.wp.com\/www.finisgeekis.com\/wp-content\/uploads\/2019\/09\/20190910-memory-police.jpg?fit=2517%2C1821","jetpack_publicize_connections":[],"jetpack_shortlink":"https:\/\/wp.me\/p9rUzW-5Is","_links":{"self":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/21976"}],"collection":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=21976"}],"version-history":[{"count":9,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/21976\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":21994,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/21976\/revisions\/21994"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media\/21979"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=21976"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=21976"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=21976"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}