Primeiras impress\u00f5es, diz o ditado, s\u00e3o as que ficam. E meu primeiro contato com Tomihiko Morimi, um dos \u201cmais populares escritores contempor\u00e2neos do Jap\u00e3o\u201d segundo quem entende<\/a> do mercado, n\u00e3o foi positivo.<\/p>\n Penguin Highway<\/em>, sobre o qual escrevi aqui<\/a>, passou longe de me impressionar. Sua prosa era insossa; sua hist\u00f3ria, soterrada sob a voz de um protagonista antip\u00e1tico. Para o autor de n\u00e3o um, mas dois romances adaptados pelo celebrado Masaaki Yuasa, ver sua estreia em \u00e1guas ocidentais na forma de um romance t\u00e3o ins\u00edpido n\u00e3o foi o melhor cart\u00e3o de visita.<\/p>\n <\/p>\n Aparentemente, o Deus dos Livros deve ter ouvido minhas preces.\u00a0Yoru wa Mijikashi Aruke Yo Otome <\/em>(The Night is Short, Walk on Girl<\/em>) uma de suas parceirias com Yuasa, acaba de ser publicada em ingl\u00eas<\/a>. Ansioso pela oportunidade de dar ao escritor uma segunda chance, s\u00f3 pude interpretar o lan\u00e7amento como um sinal do destino.<\/p>\n Qu\u00e3o ir\u00f4nico, portanto, que o romance verse justamente sobre Deuses dos Livros e preces e sinais do destino.\u00a0 E qu\u00e3o feliz que sua prosa, \u00e1gil, criativa e cheia de cora\u00e7\u00e3o, tenha subvertido completamente meus preconceitos.<\/p>\n <\/p>\n \u201cO Senhor Todou \u00e9 um homem de meia-idade, o astuto gerente do Centro de Carpas Todou em Rokujiro e um fil\u00f3sofo sobre o sentido da vida. Quando, no final de maio, eu sa\u00ed em busca de um drinque, o Sr. Todou foi a primeira pessoa que encontrei. Se eu n\u00e3o tivesse trombado com ele, eu n\u00e3o teria terminado em um certo bar em Kiyamachi, eu n\u00e3o teria sido bolinada, eu n\u00e3o teria sido resgatada pela Srta. Hanuki, eu n\u00e3o teria conhecido o admir\u00e1vel Sr. Higuchi, eu n\u00e3o teria conhecido o Sr. Rihaku, ou o presidente, ou qualquer um dos outros, e meu mundo continuaria t\u00e3o pequeno quanto a testa de um gato.\u201d<\/em><\/p><\/blockquote>\n Sabemos que estamos diante de um livro singular quando n\u00e3o conseguimos sequer resumir seu enredo. Euf\u00f3rica e hil\u00e1ria, a trama de\u00a0The Night is Short <\/em>parece fugir de uma defini\u00e7\u00e3o simples com o mesmo empenho que suas personagens fogem da normalidade para viver a melhor noite de suas vidas.<\/p>\n Isso n\u00e3o significa que o romance n\u00e3o tenha foco. Pelo contr\u00e1rio, sua hist\u00f3ria \u00e9 estruturada com um esmero quase acad\u00eamico, dividida em quatro partes que representam quatro epis\u00f3dios memor\u00e1veis na vida de duas pessoas: uma estudante universit\u00e1ria e seu veterano.<\/p>\n A garota tem uma personalidade inconfund\u00edvel, um otimismo contagiante e uma resist\u00eancia sobrenatural \u00e0 bebida.\u00a0 \u00a0“Num mundo cheio de atores tentando […] se manejar at\u00e9 o papel principal”, o veterano escreve, “ela era estrela da noite sem ao menos tentar”.\u00a0 O rapaz, como seu tom n\u00e3o deixa mentir, est\u00e1 apaixonado por ela. Ao longo de um ano, em aventuras cada vez mais absurdas, ele far\u00e1 de tudo para ganhar seu cora\u00e7\u00e3o.<\/p>\n Em um romance menos inspirado, poderia ser apenas o pretexto da cruzada de um homem em busca de sua musa. Morimi, por\u00e9m, d\u00e1 a voz a ambos, transformando-os em narradores – e protagonistas – de suas vidas.<\/p>\n Os cortes n\u00e3o seguem uma periodicidade clara, e Morimi d\u00e1 pouca indica\u00e7\u00e3o de quem estamos ouvindo. S\u00e3o as pr\u00f3prias personagens, disputando nossa aten\u00e7\u00e3o como numa roda de conversa, que se revezam para nos contar as proezas de uma noite inesquec\u00edvel.<\/p>\n E que noite! De uma festa de casamento que degringola em um pub crawl <\/em>em Ponto-Cho<\/a>, tradicional bar bo\u00eamio de Kyoto, os encontros e desencontros dessas duas personagens eventualmente tomam propor\u00e7\u00f5es \u00e9picas. Suas confus\u00f5es nos levam a feiras de livros, tornados repentinos, pimentas alucin\u00f3genas; \u00e0 companhia de um “agiota t\u00e3o inumano que n\u00e3o derramava nem sangue nem l\u00e1grimas”, mas confiscava livros de valor sentimental;\u00a0 de um clone endiabrado do Conte do Monte Cristo e at\u00e9 mesmo de um Deus dos Resfriados que amea\u00e7a adoecer toda a humanidade.<\/p>\nA trama<\/strong><\/h3>\n