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{"id":21868,"date":"2019-06-19T18:02:14","date_gmt":"2019-06-19T21:02:14","guid":{"rendered":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/?p=21868"},"modified":"2019-06-20T06:28:41","modified_gmt":"2019-06-20T09:28:41","slug":"por-dentro-do-bloomsday-conheca-os-cenarios-de-ulisses-de-james-joyce","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/2019\/06\/19\/por-dentro-do-bloomsday-conheca-os-cenarios-de-ulisses-de-james-joyce\/","title":{"rendered":"Por dentro do Bloomsday: conhe\u00e7a os cen\u00e1rios de “Ulisses” de James Joyce"},"content":{"rendered":"

Dia 16 de junho \u00e9 a data liter\u00e1ria mais importante da Irlanda. Talvez a <\/strong>data mais importante da Irlanda, depois da festa de um certo santo<\/a> que expulsou as cobras da ilha. E deu ao mundo inteiro uma desculpa para beber<\/a>.<\/p>\n

Esse foi o dia escolhido por James Joyce para situar sua obra-prima, Ulisse<\/em>s. O livro \u00e9 uma releitura da Odisseia adaptada \u00e0 vida de um irland\u00eas chamado Leopold Bloom. Enquanto que o her\u00f3i de Homero passa anos em alto-mar enfrentando monstros, sereias e or\u00e1culos do submundo, Bloom \u00e9 um homem terrivelmente normal com uma rotina sem nada de especial.<\/p>\n

<\/p>\n

Com cada cap\u00edtulo inspirado em um canto da Odisseia, sua \u201cepopeia\u201d o acompanha durante um \u00fanico dia de sua vida, da \u201csentada no trono\u201d ap\u00f3s o caf\u00e9 da manh\u00e3 a uma noitada no bordel nas altas horas da madrugada.<\/p>\n

O resultado foi um dos livros mais criativos, bem-humorados –\u00a0e desafiadores –<\/strong> da hist\u00f3ria da literatura. Que, apesar da dificuldade, inspirou centenas de romances, filmes e todo o tipo de hist\u00f3rias desde sua publica\u00e7\u00e3o em 1922.<\/p>\n

Com o passar dos anos, n\u00e3o faltaram f\u00e3s e curiosos para tentar replicar a epopeia de seu her\u00f3i, tra\u00e7ando os passos do \u201cgrande\u201d Leopold Bloom pelas ruas m\u00e1gicas de Dublin. De prefer\u00eancia, vestidos a car\u00e1ter, com roupas de 1904, ano em que a hist\u00f3ria se passa.<\/p>\n

Nascia o Bloomsday.<\/a><\/p>\n

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“Cosplayers” eduardianos<\/a> no Bloomsday 2018. Fonte: Irish Times<\/a><\/p><\/div>\n

Embora sempre tenhamos sido f\u00e3s de Joyce, nem eu nem Vivian, a minha esposa, t\u00ednhamos participado de um Bloomsday na capital irlandesa. Para retificar esse erro, vestimos nossos chap\u00e9us coco, coletes e xales e decidimos nos aventurar por essa Odisseia irlandesa.<\/p>\n

O resultado voc\u00ea confere abaixo.<\/p>\n

Tel\u00eamaco, Nestor<\/strong><\/h3>\n

A Odisseia de Homero pode ser a hist\u00f3ria de Odisseu, mas seu protagonista n\u00e3o aparece logo de in\u00edcio. Como leitores de Homero sabem, nosso her\u00f3i come\u00e7a a hist\u00f3ria desaparecido enquanto que seu filho, Tel\u00eamaco, tenta proteger sua \u00cdtaca natal de um ex\u00e9rcito de pretendentes.<\/p>\n

Joyce segue o mesmo caminho em\u00a0Ulisses, <\/em>e abre a narrativa apresentando um jovem que vir\u00e1 a se tornar esp\u00e9cie de filho adotivo de Mr. Bloom. Ele \u00e9 ningu\u00e9m menos que Stephen Dedalus, protagonista de seu romance anterior, Um Retrato do Artista Quando Jovem.<\/em><\/p>\n

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Stephen Dedalus nas parades do Blooms Hotel, Dublin. Fonte<\/a><\/p><\/div>\n

No livro, Stephen mora com um amigo na Martello Tower, uma velha torre das Guerras Napole\u00f4nicas na praia de Sandycove, sul de Dublin. A pequena fortaleza foi a casa do pr\u00f3prio Joyce na sua juventude, e hoje hospeda um museu dedicado ao autor<\/a>.<\/p>\n

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A menos de 10 minutos da esta\u00e7\u00e3o Sandycove & Glasthule do trem DART, o museu \u00e9 uma parada obrigat\u00f3ria para f\u00e3s do escritor. Se o clima colaborar (coisa rara na Irlanda, mesmo no ver\u00e3o), voc\u00ea pode tamb\u00e9m curtir um passeio por D\u00fan Laoghaire, uma charmosa cidade de praia \u00e0 vista da torre.<\/p>\n

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Em Ulisses, <\/em>Stephen trabalha como professor de hist\u00f3ria em uma escola na cidade de Dalkey. Sua rotina de docente ocupa o segundo cap\u00edtulo, Nestor<\/em>. Origem, na minha modesta opini\u00e3o, de alguns dos trechos de mais bela prosa em todo o romance:<\/p>\n

Across the page the symbols moved in grave morrice, in the mummery of their letters, wearing quaint caps of squares and cubes. Give hands, traverse, bow to partner: so: imps of fancy of the Moors. Gone too from the world, Averroes and Moses Maimonides, dark men in mien and movement, flashing in their mocking mirrors the obscure soul of the world, a darkness shining in brightness which brightness could not comprehend.<\/p>\n

Joyce, James. Ulysses (Penguin Modern Classics) (p. 13). Edi\u00e7\u00e3o do Kindle.<\/strong><\/p><\/blockquote>\n

A escola em quest\u00e3o, Summerfield House, hoje \u00e9 uma casa particular, mas Vivian e eu decidimos conhec\u00ea-la mesmo assim.<\/p>\n

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Dalkey fica a vinte minutos de caminhada de Sandycove, mas \u00e9 um vilarejo buc\u00f3lico que valeu cada minuto de esfor\u00e7o. Seu centro hist\u00f3rico preserva v\u00e1rios castelos da \u00e9poca em que era uma cidadela murada, e tamb\u00e9m fervilhava com um\u00a0festival local<\/a>, paralelo ao Bloomsday.<\/p>\n

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Goat’s Castle, na entrada de Dalkey<\/p><\/div>\n

Se o passeio parece puxado, n\u00e3o desanime. H\u00e1 uma esta\u00e7\u00e3o do DART tamb\u00e9m em Dalkey, de maneira que n\u00e3o precisamos voltar a p\u00e9 a Sandycove.<\/p>\n

Proteu, Nausicaa<\/strong><\/h3>\n

Findo seus compromissos docentes, Stephen volta a Dublin ap\u00f3s um breve passeio na praia. Proteu, <\/em>como o segmento se chama,\u00a0\u00e9 um dos cap\u00edtulos mais dif\u00edceis de Ulisses.<\/em> Para alguns, o \u00faltimo, j\u00e1 que seu famoso fluxo de consci\u00eancia \u00e9 suficiente para fazer muita gente desistir da leitura:<\/p>\n

He took the hilt of his ashplant, lunging with it softly, dallying still. Yes, evening will find itself in me, without me. All days make their end. By the way next when is it? Tuesday will be the longest day. Of all the glad new year, mother, the rum tum tiddledy tum. Lawn Tennyson, gentleman poet. Gi\u00e0.<\/em> For the old hag with the yellow teeth. And Monsieur Drumont, gentleman journalist. Gi\u00e0.<\/em> My teeth are very bad. Why, I wonder? Feel. That one is going too. Shells. Ought I go to a dentist, I wonder, with that money? That one. Toothless Kinch, the superman. Why is that, I wonder, or does it mean something perhaps? My handkerchief. He threw it. I remember. Did I not take it up?<\/p>\n

Joyce, James. Ulysses (Penguin Modern Classics) (p. 23). Edi\u00e7\u00e3o do Kindle.<\/strong><\/p><\/blockquote>\n

Que ironia, portanto, que o lugar em que se passa, a praia de Sandymount, seja um dos cen\u00e1rios mais agrad\u00e1veis de todo o livro:<\/p>\n

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Fonte: William Murphy<\/a><\/p><\/div>\n

Joyce parece concordar, pois a transformou no palco de n\u00e3o uma, mas duas cenas de Ulisses. <\/em>Mais para frente, Sandymount ser\u00e1 tamb\u00e9m visitada por Leopold Bloom no cap\u00edtulo\u00a0Nausicaa<\/em>.<\/p>\n

Como j\u00e1 conhec\u00edamos o lugar e j\u00e1 hav\u00edamos andado bastante em Sandycove, decidimos pular a caminhada e voltar direto para Dublin. Se voc\u00ea \u00e9 novo na cidade de Joyce, por\u00e9m, fa\u00e7a quest\u00e3o de apanhar sua bengala e tra\u00e7ar os passos de Stephen.<\/p>\n

Calipso, \u00cdtaca, Pen\u00e9lope<\/strong><\/h3>\n
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7 Eccles St. nos anos 1960, por Flora H. Mitchell. Fonte<\/a><\/p><\/div>\n

Como na Odisseia de Homero, o quarto cap\u00edtulo de Ulisses <\/em>deixa seu Tel\u00eamaco de lado e nos introduz finalmente ao nosso protagonista, Leopold Bloom, na sua casa na Eccles Street, No. 7.<\/p>\n

Na Odisseia, Ulisses \u00e9 prisioneiro da ninfa Calypso, que o impede de sair de sua ilha. No romance de Joyce, o pr\u00e9dio de tr\u00eas andares no norte de Dublin representa tanto seu cativeiro quanto a morada para onde retorna.<\/p>\n

Num de seus muitos lances de sarcasmo, Joyce faz de Calypso, a ninfa que o aprisiona, e Pen\u00e9lope, a esposa que deseja rever, a mesma pessoa: sua mulher Molly.<\/p>\n

Para a infelicidade de n\u00f3s, joyceanos, o n\u00famero 7 da Eccles Street\u00a0 n\u00e3o existe mais. O pr\u00e9dio original se transformou em um corti\u00e7o nos anos 1930 e foi demolido em 1967, ap\u00f3s d\u00e9cadas de neglig\u00eancia. Hoje, o endere\u00e7o abriga o Hospital Mater Misericordiae, vinculado ao University College Dublin<\/a>, onde o pr\u00f3prio Joyce estudou.<\/p>\n

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7 Eccles Street em ru\u00ednas. Foto de 1965. Fonte<\/a><\/p><\/div>\n

Contudo, outras casas da mesma rua tiveram sorte diferente. Com as fachadas preservadas, elas ainda esbanjam a\u00a0vibe <\/em>do in\u00edcio do s\u00e9culo. Com um pequeno esfor\u00e7o de imagina\u00e7\u00e3o, \u00e9 poss\u00edvel ver Mr. Bloom saindo de uma das portinhas naquele fat\u00eddico 16 de Junho.<\/p>\n

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Lot\u00f3fagos<\/strong><\/h3>\n

Mr Bloom come\u00e7a o seu dia comprando um sabonete para tomar banho, de forma a se preparar para um funeral. A pregui\u00e7a que sente ao entrar na banheira \u00e9 comparada por Joyce aos lot\u00f3fagos<\/a>\u00a0de Homero, povo mitol\u00f3gico que vive confinado em uma ilha, dopados pelas flores de l\u00f3tus que consomem.<\/p>\n

A loja que visita ainda existe, com os mesm\u00edssimos m\u00f3veis e fachada, e tornou-se um dos destinos de peregrina\u00e7\u00e3o mais populares entre f\u00e3s do escritor.<\/p>\n

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A Sweny\u2019s Pharmacy<\/a>, como \u00e9 conhecida, n\u00e3o trabalha mais com cosm\u00e9ticos. Hoje, \u00e9 um verdadeiro santu\u00e1rio dedicado a Ulisses<\/em>, onde exemplares do livro dividem espa\u00e7o com artigos de \u00e9poca. Frascos, fotos e an\u00fancios antigos com que Bloom e seus contempor\u00e2neos achariam bastante familiar.<\/p>\n

Ao atravessarmos o batente, Vivian e eu fomos logo convidados para uma roda de leitura do romance. Uma de tantas atividades que o endere\u00e7o realiza periodicamente.<\/p>\n

A loja conta ainda com uma sele\u00e7\u00e3o de souvenires tem\u00e1ticos, incluindo barras de sabonete de lim\u00e3o. A mesma fragr\u00e2ncia \u2013 e embalagem! \u2013 que Mr. Bloom compra na sua visita em 1904.<\/p>\n

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Para o banho em quest\u00e3o, o protagonista escolhe um balne\u00e1rio turco em Lincoln Place, ao lado do Trinity College Dublin. Nos seus anos de gl\u00f3ria, o estabelecimento era um pastiche de mesquita digno de um cassino de Las Vegas:<\/p>\n

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N\u00e3o demorou para que o estilo fosse considerado brega, e a casa de banhos fechou logo depois. Hoje, ela se tornou o pub favorito dos medievalistas do Trinity College, onde vamos toda semana para nosso happy hour.<\/p>\n

\"Resultado<\/p>\n

Estranho pensar que Mr. Bloom admirava suas partes \u00edntimas no mesmo lugar onde hoje bebemos cerveja…<\/p>\n

Hades<\/strong><\/h3>\n

O pr\u00f3ximo passo na odisseia de Bloom \u00e9 o Cemit\u00e9rio de Glasnevin, onde participa do funeral de seu amigo, Paddy Dignam. O cap\u00edtulo \u00e9 uma das partes mais conhecidas (e divertidas) de Ulisses<\/em>.<\/p>\n

\u00c9, tamb\u00e9m uma das que mais literalmente respeita suas origens nos versos de Homero. No caso, o epis\u00f3dio de Hades, em que Odisseu e seus marinheiros descem ao submundo para pedir a ajuda do or\u00e1culo Tir\u00e9sias.<\/p>\n

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Durante o Bloomsday, o cemit\u00e9rio de Glasnevin se transforma num verdadeiro para\u00edso liter\u00e1rio, com atividades que v\u00e3o de leituras coletivas a encena\u00e7\u00f5es da prociss\u00e3o funer\u00e1ria do livro.\u00a0 Em nenhum lugar de Dublin \u00e9 mais f\u00e1cil encontrar cosplayers de personagens de Joyce. Ou do criador em pessoa, com os \u00f3culos e barbicha que o fizeram famoso.<\/p>\n

Para al\u00e9m da bagagem joyceana, o cemit\u00e9rio \u00e9 um passeio imperd\u00edvel para qualquer interessado em hist\u00f3ria irlandesa. Nele, est\u00e3o sepultados alguns dos figur\u00f5es mais famosos do pa\u00eds, como os revolucion\u00e1rios Michael Collins e Eamonn DeValera, a musa de Yeats, Maud Gonne, e o pintor e escritor Christy Brown, imortalizado no filme Meu P\u00e9 Esquerdo. <\/em><\/p>\n

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T\u00famulo de Michael Collins<\/a>, um dos her\u00f3is da independ\u00eancia da Irlanda<\/p><\/div>\n

\u00c9olo, Lestrig\u00f5es<\/strong><\/h3>\n

Com Paddy Dignam morto e enterrado, Leopold Bloom se dirige aos escrit\u00f3rios do Freeman\u2019s Journal,<\/em> peri\u00f3dico onde tenta vender um an\u00fancio.<\/p>\n

Em 1904, o Freeman <\/em>era um dos jornais mais conhecidos de toda a Irlanda. Infelizmente, sua gr\u00e1fica foi destru\u00edda em 1916 durante o Levante da P\u00e1scoa<\/a>. A primeira grande batalha do que se tornaria a Guerra de Independ\u00eancia Irlandesa<\/a>.<\/p>\n

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Ru\u00ednas do Freeman’s Journal ap\u00f3s o Levante da P\u00e1scoa. Fonte<\/a><\/p><\/div>\n

Sem um pr\u00e9dio para visitarmos, decidimos ir direto ao cap\u00edtulo 8, \u201cLestrig\u00f5es.\u201d<\/p>\n

Na Odisseia, <\/em>esse \u00e9 o nome de uma ra\u00e7a de gigantes canibais que Ulisses e seus homens encontram em sua jornada. No romance de Joyce, eles s\u00e3o \u2013 adivinhem! \u2013 uma met\u00e1fora para a fome de Bloom, em busca de um almo\u00e7o.<\/p>\n

O lugar escolhido foi o pub do Davy Byrne, onde come um sandu\u00edche de gorgonzola com uma ta\u00e7a de Borgonha. Para a alegria dos joyceanos, o restaurante ainda existe \u2013 e ainda serve o lanche que o imortalizou na literatura.<\/p>\n

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Caso uma fatia de queijo n\u00e3o satisfa\u00e7a sua fome, n\u00e3o h\u00e1 raz\u00e3o para se preocupar. O restaurante conta com um menu completo, bastante saboroso. N\u00e3o \u00e0 toa, j\u00e1 que suas mesas, entre as centrais Dawson e Grafton Streets, est\u00e3o sempre cheias.<\/p>\n

Se repetir o almo\u00e7o de Mr. Bloom lhe der um apetite de outra natureza, voc\u00ea pode aproveitar e visitar Ulysses, <\/em>uma loja de livros raros em frente \u00e0 lanchonete. Entre sua cole\u00e7\u00e3o est\u00e3o v\u00e1rias primeiras edi\u00e7\u00f5es de autores consagrados da literatura irlandesa.<\/p>\n

\"Resultado

Fonte<\/a><\/p><\/div>\n

S\u00f3 esteja avisado: os exemplares da loja podem ser muito caros<\/strong>. Por quest\u00f5es de seguran\u00e7a (inclusive financeira) \u00e9 melhor n\u00e3o passar da vitrine…<\/p>\n

Cila e Caribde, As Rochas Ondulantes<\/strong><\/h3>\n

O pr\u00f3ximo passo da saga de Bloom acontece a algumas ruas de dist\u00e2ncia, na Biblioteca Nacional da Irlanda. Como historiador, o pr\u00e9dio j\u00e1 me era bastante conhecido. N\u00e3o poucas vezes precisei consultar seu acervo para minha pesquisa.<\/p>\n

Mesmo assim, fizemos quest\u00e3o de visit\u00e1-lo durante a caminhada. A biblioteca \u00e9 um dos edif\u00edcios mais bonitos de Dublin e vale uma caminhada nem que apenas a caminho do Museu Nacional, logo a sua frente.<\/p>\n

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De l\u00e1, por\u00e9m, entramos em um dos cap\u00edtulos mais confusos de Ulisses \u2013 <\/em>pelo menos, de um ponto de vista geogr\u00e1fico. Em Rochas Ondulantes,\u00a0<\/em>Joyce divide seu foco em uma s\u00e9rie de pequenas vinhetas, ambientadas, simultaneamente, em lugares diferentes da cidade.<\/p>\n

Nem todos ainda existem hoje em dia, mas os que sobrevivem valem uma visita. Entre elas, est\u00e3o o Merchants Arch, no Temple Bar,<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

E a Crampton Court, descrita por Joyce como um “tiny square”; hoje uma pequena quadra espremida entre restaurantes.<\/p>\n

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O mais importante, por\u00e9m, talvez seja o palco de um di\u00e1logo entre as personagens Buck Mulligan e Haines em uma lanchonete na Dame Street.\u00a0 Sua conversa entrou para a hist\u00f3ria da literatura \u2013 e o lugar onde se encontraram, para os mapas de Dublin. Hoje, um pub no mesmo endere\u00e7o carrega o nome dos dois:<\/p>\n

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Sereias, Ciclope, Gado do Sol, Circe<\/strong><\/h3>\n

Se os cen\u00e1rios de\u00a0Ulisses\u00a0<\/em>na parte sul de Dublin se tornaram destinos populares sorte parecida n\u00e3o tiveram os na parte norte. Menos tur\u00edstica que o centro hist\u00f3rico, a margem oposta do Rio Liffey sofreu modifica\u00e7\u00f5es radicais nos mais de cem anos que nos separam de Leopold Bloom. Com a exce\u00e7\u00e3o do cemit\u00e9rio de Glasnevin e alguns points de\u00a0Rochas Ondulantes,\u00a0<\/em> tudo o que temos s\u00e3o lembran\u00e7as.<\/p>\n

\u00c9 o caso do Hotel Ormond, onde se passa o epis\u00f3dio Sereias.\u00a0<\/em>Situado \u00e0 beira do rio, o estabelecimento\u00a0foi gradualmente dilapidado ao longo dos anos at\u00e9 que, nos anos 1930, j\u00e1 n\u00e3o restasse nada da sua estrutura original. O pr\u00e9dio foi abandonado, condenado \u00e0 demoli\u00e7\u00e3o e hoje est\u00e1 perdido em um limbo judicial.<\/a><\/p>\n

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Ru\u00ednas do Hotel Ormond. Foto de Dave Meehan via Irish Times<\/a><\/p><\/div>\n

Destino similar teve o pub de Barney Kiernan, palco do cap\u00edtulo\u00a0Ciclope, <\/em>onde Mr. Bloom, um judeu, discute com um\u00a0feniano<\/a>\u00a0antissemita. Na releitura de Joyce, o olho \u00fanico do C\u00edclope \u00e9 equiparado \u00e0 cegueira do preconceito, um das muitas sacadas inspiradas de sua obra-prima.<\/p>\n

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Pub de Barry Kiernan em 1922. Fonte.<\/a><\/p><\/div>\n

Desaparecido tamb\u00e9m est\u00e1 o cen\u00e1rio daquele que \u00e9 talvez meu epis\u00f3dio favorito: Monto ou Nighttown. A vers\u00e3o dublinense da Baixo Augusta paulistana. No romance, palco de uma caminhada lis\u00e9rgica pelo “submundo” urbano de Dublin, narrada na forma de um script teatral.<\/p>\n

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Prostitutas em Monto, AKA Nighttown. Fonte<\/a><\/p><\/div>\n

Na \u00e9poca de Joyce, o bairro era a zona da luz vermelha de Dublin. Como todo distrito de prostitui\u00e7\u00e3o, “Nighttown” fazia jus ao seu nome, com pr\u00e9dios decadentes, becos escuros e toda esp\u00e9cie de esconderijo para foras-da-lei. Em\u00a0Ulisses<\/em>, esse \u00e9 o lugar aonde Bloom e Stephen se dirigem no epis\u00f3dio Circe.\u00a0<\/em>Se na Odisseia a Circe em quest\u00e3o \u00e9 uma poderosa feiticeira, nas p\u00e1ginas de Joyce \u00e9 ningu\u00e9m menos que Bella Cohen, dona de um bordel em que nossos protagonistas terminam sua noite.<\/p>\n

A maioria dos bord\u00e9is fechou nos anos 1920, e o bairro de hoje (para o bem de Dublin!) n\u00e3o tem nada em comum com as vielas perigosas da \u00e9poca de Joyce. Sem nada para ver, permanecemos na margem sul e tra\u00e7amos caminho para a Maternidade de Holles Street, onde Bloom e Stephen se encontram pela primeira vez, no epis\u00f3dio\u00a0Gado do Sol<\/em>.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

Perto do Merrion Square, na regi\u00e3o central de Dublin, o hospital fica a alguns minutos casa de Oscar Wilde, outro celebrado escritor irland\u00eas. Embora o pr\u00e9dio n\u00e3o seja aberto ao p\u00fablico, voc\u00ea pode tirar uma foto com sua est\u00e1tua<\/a>\u00a0– uma das mais populares de Dublin.<\/p>\n

Eumeu<\/strong><\/h3>\n

Stephen e Bloom terminam sua jornada no epis\u00f3dio Eumeu,\u00a0<\/em>cambaleando at\u00e9 um ponto de t\u00e1xis, de onde pegam uma condu\u00e7\u00e3o at\u00e9 sua casa, na Eccles Street n\u00famero 7. Na Dublin de 1904, por\u00e9m, “t\u00e1xis” n\u00e3o eram autom\u00f3veis, e sim carruagens. Por incr\u00edvel que pare\u00e7a, esse tipo de transporte continuou em uso muito depois da introdu\u00e7\u00e3o dos carros – n\u00e3o apenas para transportar turistas.<\/p>\n

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Foto dos anos 1950 mostrando carruagens na Butt Bridge. \u00a0Fonte<\/a><\/p><\/div>\n

O “ponto” de carruagens n\u00e3o existe mais. Mas Butt Bridge, onde ele ficava, ainda existe, e constitui uma das principais art\u00e9rias de Dublin. Cansados ap\u00f3s um dia e meio de uma caminhada pesada (Vivian e eu dividimos o itiner\u00e1rio em dois), chegar na ponte nos trouxe um al\u00edvio que n\u00e3o vamos esquecer t\u00e3o cedo.<\/p>\n

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Rio Liffey e Butt Bridge (\u00e0 esquerda da Vivian, abaixo dos trilhos elevados)<\/p><\/div>\n

Outras atividades<\/strong><\/h3>\n

Se voc\u00ea n\u00e3o \u00e9 do tipo atl\u00e9tico, n\u00e3o deixe o texto acima murchar seu entusiasmo. Nem s\u00f3 de caminhadas \u00e9 feito o Bloomsday. Pelo contr\u00e1rio, o 16 de junho \u00e9 a data de toda sorte de atividades, de pe\u00e7as de teatro a baladas inspiradas nas orgias de Nighttown.<\/p>\n

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Foto promocional de Bloomsday Blowout<\/a>, uma “experi\u00eancia cabar\u00e9” inspirada em Joyce.<\/p><\/div>\n

Muitos dos eventos s\u00e3o oferecidos pelo James Joyce Centre<\/a>, localizado perto do Belvedere College<\/a>, onde o pr\u00f3prio Joyce fez seu ensino m\u00e9dio. Dentre as muitas atividades, Vivian e eu participamos de um ch\u00e1 da tarde embalados por m\u00fasicas mencionadas em\u00a0Ulisses\u00a0<\/em>e leituras de trechos do romance.<\/p>\n

Uma performance realizada por duas atrizes a car\u00e1ter, encarnando Molly Bloom e a pr\u00f3pria esposa de Joyce, Nora Barnacle.<\/p>\n

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Conclus\u00e3o<\/h3>\n

Leopold Bloom est\u00e1 de parab\u00e9ns. Seguir os passos de sua odisseia dublinense foi uma das atividades mais exaustivas que j\u00e1 fiz num fim-de-semana. Cada dor no corpo, por\u00e9m, foi mais que bem-vinda.<\/p>\n

Em uma \u00e9poca em que n\u00e3o poucos declaram que o “livro est\u00e1 morto”, ver uma cidade inteira se dobrar em homenagem a um dos romances mais dif\u00edceis j\u00e1 escritos \u00e9 uma vis\u00e3o de emocionar.<\/p>\n

Com ou sem meu colete e chap\u00e9u-coco, espero participar de muitos outros Bloomsdays. Mais do que uma feira liter\u00e1ria, \u00e9 uma prova viva de que a literatura – mesmo na sua forma mais culta e inescrut\u00e1vel – \u00e9 capaz de tocar pessoas comuns. E evid\u00eancia de que\u00a0 aquela velha frase de Oscar Wilde ainda n\u00e3o perdeu sua relev\u00e2ncia:<\/p>\n

Estamos todos na sarjeta, mas alguns de n\u00f3s est\u00e3o olhando para as estrelas.<\/p>\n

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Dia 16 de junho \u00e9 a data liter\u00e1ria mais importante da Irlanda. Talvez a data mais importante da Irlanda, depois da festa de um certo santo que expulsou as cobras da ilha. E deu ao mundo inteiro uma desculpa para beber. Esse foi o dia escolhido por James Joyce para situar sua obra-prima, Ulisses. O […]<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":21895,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"spay_email":"","jetpack_publicize_message":"","jetpack_is_tweetstorm":false},"categories":[580,17],"tags":[611,612,589,610,226,613],"jetpack_featured_media_url":"https:\/\/i1.wp.com\/www.finisgeekis.com\/wp-content\/uploads\/2019\/06\/18062019-photoshop.jpg?fit=2000%2C1500","jetpack_publicize_connections":[],"jetpack_shortlink":"https:\/\/wp.me\/p9rUzW-5GI","_links":{"self":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/21868"}],"collection":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=21868"}],"version-history":[{"count":8,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/21868\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":21912,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/21868\/revisions\/21912"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media\/21895"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=21868"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=21868"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=21868"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}