Quando era adolescente, estudei com uma mentirosa compulsiva.<\/p>\n
N\u00e3o falo do chuunibyou<\/em>, o costume de alguns jovens de inventar hist\u00f3rias inocentes sobre si mesmos. Como eu, que dizia a todos que frequentava uma escola de arqueologia ou um amigo meu que jurava ter vindo de Netuno.<\/p>\n Ela espalhava rumores sobre colegas para que brigassem entre si. Justificava faltas com explica\u00e7\u00f5es absurdas. Ao menos uma vez, pediu dinheiro emprestado e engambelou sua benfeitora por meses a fio.<\/p>\n <\/p>\n Eu me surpreendia com seu talento em conjurar hist\u00f3rias do nada. Em como, ao ser confrontada com uma mentira, ela se safava com outra ainda maior. Sem piscar, sem derrubar a m\u00e1scara, como se conseguisse tirar do meu pr\u00f3prio rosto os ind\u00edcios de que precisava para me enganar.<\/p>\n Nunca entendi por que ela fazia isso. Se era, de fato, uma garota perturbada ou se sofria de algum problema que n\u00e3o sabia (ou podia) nos contar.<\/p>\n N\u00e3o posso dizer que minha situa\u00e7\u00e3o mudou depois de ler O Marionetista<\/em>\u00a0de Jostein Gaarder. Mas, sem d\u00favida, passei a olhar para essas lembran\u00e7as de outra maneira.<\/p>\n <\/p>\n