Um novo ano chega, e com ele novas ideias. O Caf\u00e9 com Anime n\u00e3o fica para tr\u00e1s. Para come\u00e7ar o ano com o p\u00e9 direito, preparamos uma surpresa.<\/p>\n
Uma edi\u00e7\u00e3o especial discutindo alguns cl\u00e1ssicos obscuros da anima\u00e7\u00e3o japonesa.<\/p>\n
E coloque “obscuro” nisso. O Finisgeekis traz para voc\u00ea um longa t\u00e3o antigo que talvez nem lhes pare\u00e7a um anime: Horus, Filho do Sol.\u00a0\u00a0<\/em><\/p>\n <\/p>\n <\/p>\n O longa conta a hist\u00f3ria de Horus<\/em>, um garoto que ajuda um gigante de pedra e \u00e9 predestinado por ele a se tornar o Pr\u00edncipe do Sol. Sabendo que sua vila foi destru\u00edda pelo dem\u00f4nio Grunwald, ele parte em busca de novos aliados – e de uma maneira de derrotar seu inimigo.<\/p>\n Suas andan\u00e7as o levam para uma vila de pescadores assolada\u00a0por um peixe gigante. Horus derrota o monstro e torna-se um her\u00f3i para os alde\u00f5es.\u00a0 O peixe, contudo, era uma das crias de Grunwald, que logo trama outros ardis para destruir Horus e os pescadores.<\/p>\n Hilda, uma feiticeira sob seu jugo, chega na aldeia para causar confus\u00e3o. Inicialmente se passando por uma aliada, ela faz de tudo colocar os alde\u00f5es contra Horus.\u00a0 Hilda, por\u00e9m, tamb\u00e9m tem uma consci\u00eancia. A duras custas (e ap\u00f3s grande ajuda de Horus) ela consegue se libertar das garras do dem\u00f4nio. Juntos, eles levar\u00e3o a luz a Grunwald, derrotando-o de uma vez por todas.<\/p>\n <\/p>\n Apesar de ter sido feito no Jap\u00e3o, esse \u00e9 um anime que se insere completamente na est\u00e9tica ocidental disseminada pela Disney. \u00c9 \u00f3bvia, por exemplo, a influ\u00eancia de Mal\u00e9vola, vil\u00e3 de A Bela Adormecida<\/em>, na caracteriza\u00e7\u00e3o de Grunwald.<\/p>\n Devo dizer que esse anime me encanta por ainda outro motivo. Sou um grande f\u00e3 das culturas finlandesa e s\u00e1mi, povo nativo da Lap\u00f4nia. Horus<\/em> \u00e9 ambientado em uma Fenoscania antiga que tem muito em comum as hist\u00f3rias desses povos.\u00a0 Alguns frames parecem tirados de uma tela de Akseli Gallen-Kallela, pintor finland\u00eas que retratou varias dessas lendas.<\/p>\n <\/p>\n Enfim, a bola est\u00e1 com voc\u00eas. Como lhes parece Horus, Pr\u00edncipe do Sol, 50 anos depois de seu lan\u00e7amento?<\/li>\n Mas como entretenimento hoje… Eu diria que Horus<\/em> \u00e9 um filme bem b\u00e1sico, um \u00f3timo filme para passar para crian\u00e7as (e bom, acho que essa era a ideia desde o come\u00e7o), mas n\u00e3o realmente muito al\u00e9m disso. Pra ser sincero, eu meio que perdi o interesse na hist\u00f3ria do filme ap\u00f3s o seu primeiro ter\u00e7o, e acabei demorando um pouquinho mais do que o necess\u00e1rio para termin\u00e1-lo.<\/p>\n Mas eu sei que eu n\u00e3o sou o p\u00fablico alvo do filme, ent\u00e3o n\u00e3o realmente o culpo por isso. S\u00f3 n\u00e3o sei se vou ter muito o que falar nessa nossa conversa\u00a0<\/li>\n \u00c9 como se estiv\u00e9ssemos vendo algum conto heroico do folclore finland\u00eas, como o Vinicius levantou, ou talvez de algum povo do leste europeu. Mesmo o filme sendo antigo ele \u00e9 muito interessante como marco do cinema, bem como esse tipo de hist\u00f3ria me agrada bastante, o t\u00edpico her\u00f3i m\u00edtico.<\/p>\n E concordo com o F\u00e1bio, a anima\u00e7\u00e3o deixou a desejar em algumas cenas de a\u00e7\u00e3o, principalmente por culpa dos quadros es est\u00e1ticos.<\/li>\n Mesmo que eu n\u00e3o consiga contextualiz\u00e1-lo em um mito espec\u00edfico, ele \u00e9 um comp\u00eandio de s\u00edmbolos comuns a diversas culturas ao redor do mundo, \u00e9 um comp\u00eandio desses elementos .<\/p>\n E curiosamente o t\u00edtulo do filme em ingl\u00eas \u00e9 “O Pequeno Pr\u00edncipe N\u00f3rdico”<\/em>.<\/li>\n O antrop\u00f3logo e mangak\u00e1 Eiji Otsuka<\/a>\u00a0 que diz que os topoi<\/em> dos animes t\u00eam grande similaridade com o teatro bunraku<\/a>. Horus insinua que uma boa parte da bagagem a que estamos acostumados pode ter vindo via Ocidente, junto com as t\u00e9cnicas de anima\u00e7\u00e3o e os olhos grandes. Por mais conformes que eles sejam \u00e0 fic\u00e7\u00e3o cl\u00e1ssica nip\u00f4nica.<\/p>\n Falando em tropes<\/em>, devo dizer que esse foi um terceiro motivo que me levaram at\u00e9 Horus.<\/em> O TV Tropes<\/a> considera a Hilda uma das primeiras mahou shoujo “dark” da hist\u00f3ria dos animes.<\/p>\n Voc\u00eas sabem que eu amo esse tipo de personagem. Assistindo a Horus<\/em>, n\u00e3o pude deixar de notar a semelhan\u00e7a.<\/p>\n De fato, a rela\u00e7\u00e3o entre Hilda e Grunwald \u00e9 quase id\u00eantica \u00e0 de Odile e Rothbart, o Cisne Negro e o Bruxo Corvo de O Lago dos Cisnes.<\/p>\n <\/p>\n Na hist\u00f3ria, Rothbart condena uma rainha a virar um cisne branco. Sua maldi\u00e7\u00e3o pode ser quebrada apenas pelo sacrif\u00edcio de um pr\u00edncipe. Quando ela finalmente encontra um trouxa amor da sua vida, o bruxo envia Odile para seduzi-lo em seu lugar.<\/p>\n A natureza da Odile varia de montagem a montagem. Em algumas vers\u00f5es, ela \u00e9 a pr\u00f3pria filha do Rothbart, disfar\u00e7ada por um feiti\u00e7o para parecer a rainha. Em outras, \u00e9 um homunculo ou simulacro. Seja como for, a pr\u00f3pria men\u00e7\u00e3o a uma Hilda maligna disputando espa\u00e7o com uma benigna traz \u00e0 toda o dualismo Odile\/Odette (como se chama o Cisne Branco).<\/p>\n Enfim, o que voc\u00eas acham dessa personagem?<\/li>\n Vil\u00f5es, por outro lado, tem o direito de aloprar. Eles exercitam todos os v\u00edcios humanos, mas todos n\u00f3s carregamos esses v\u00edcios, em menor ou maior medida. Orgulho, inveja, raiva, ci\u00fame. S\u00e3o essas as coisas que, em boa parte, nos fazem humanos. De onde nossa facilidade em nos reconhecer neles.<\/p>\n Mesmo o Grunwald reflete isso em certa medida. Ele tem limites. Ele se sente encurralado. Amedrontado. Vejam s\u00f3 esse rosto:<\/p>\n <\/p>\n Esse n\u00e3o \u00e9 um Senhor do Mal que morre lutando com uma risada maligna. Ele \u00e9 “humano” – limitado e emocional – mesmo em sua maldade.<\/li>\n Essa \u00e9 uma mudan\u00e7a peculiar, por motivos diferentes. Por um lado, h\u00e1 uma similaridade entre povos do Norte da Eur\u00e1sia, sobretudo nessa pseudo-Idade do Ferro em que Horus se passa. Eu consigo ver tra\u00e7os de Hokkaido nessa Escandin\u00e1via fict\u00edcia e at\u00e9 pensei nisso enquanto assistia ao filme.<\/p>\n Por outro lado, foi uma decis\u00e3o que relegou Horus a ser um simulacro oriental de uma hist\u00f3ria ocidental. Ser\u00e1 que apostar num tema distintamente japon\u00eas n\u00e3o teria colocado o filme em outro patamar no c\u00e2none da anima\u00e7\u00e3o? (E nem digo necessariamente um lugar melhor).<\/li>\n A vila do anime, assim, seria uma representa\u00e7\u00e3o do idela comunal, egalitario e “socialista” defendido por Takahata e Cia.<\/p>\n Confesso que foi uma surpresa ler sobre esse sub-texto. N\u00e3o acho que seja algo que acrescente muito ao filme (nem que seja facilmente identific\u00e1vel, considerando qu\u00e3o arquet\u00edpica a aldeia de Horus<\/em> \u00e9). Claro, por se tratar de um anime lan\u00e7ado em 1968 eu n\u00e3o duvido de nada. Esse foi um ano de efervesc\u00eancia pol\u00edtica no mundo todo.<\/p>\n Tamb\u00e9m acho ir\u00f4nico que Takahata tenha iniciado sua carreira militando por melhoras nas condi\u00e7\u00f5es de trabalho e falecido em meio a den\u00fancias de tratamento insalubre de seus funcion\u00e1rios. J\u00e1 dizia o ditado: morra um her\u00f3i ou viva o suficiente para se tornar um vil\u00e3o.\u00a0 <\/li>\n Pode ser tamb\u00e9m que todas essas p\u00e1ginas angl\u00f3fonas estejam bebendo da mesma fonte. Que pode ou n\u00e3o ser fidedigna.<\/li>\n Um abra\u00e7o a todos ent\u00e3o, e que venha a temporada de inverno!<\/li>\n<\/ul>\n<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Um novo ano chega, e com ele novas ideias. O Caf\u00e9 com Anime n\u00e3o fica para tr\u00e1s. Para come\u00e7ar o ano com o p\u00e9 direito, preparamos uma surpresa. Uma edi\u00e7\u00e3o especial discutindo alguns cl\u00e1ssicos obscuros da anima\u00e7\u00e3o japonesa. E coloque “obscuro” nisso. 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\nFeliz ano novo a todos, e obrigado por me acompanharem nessa nova aventura!A obra que discutiremos hoje \u00e9 um marco da hist\u00f3ria dos animes. Isto porque Horus<\/em> \u00e9 nada menos que o filme de estreia de Isao Tahakata como diretor. E sua primeira parceira com Hayao Mizayaki. Embora mal pare\u00e7a um anime para os padr\u00f5es contempor\u00e2neos, foi aqui que o germe do Studio Ghibli surgiu.<\/p>\n
\n\u00c9 meio dif\u00edcil de julgar esse filme porque, bom, como o Vin\u00edcius apontou, ele j\u00e1 tem 50 freaking anos.\u00a0<\/strong>Parando pra pensar, eu nem tenho certeza se a palavra “anime” j\u00e1 era largamente usada quando ele saiu (se bem que no come\u00e7o a palavra s\u00f3 valia para anima\u00e7\u00f5es para a TV, ent\u00e3o ele com certeza n\u00e3o seria visto como um de qualquer maneira).Como pe\u00e7a hist\u00f3rica ele \u00e9 bem interessante, e \u00e9 curioso como a ideia do pingente azul ressurge ao longo da carreira do Miyazaki. \u00c9 dito que foi ele quem criou a premissa para Fushigi no Umi no Nadia<\/em> ainda nos anos 70 (e ai ela foi engavetada at\u00e9 os anos 90), e claro, temos Laputa<\/em>.<\/p>\n
\nO problema n\u00e3o \u00e9 apenas o tempo. O tra\u00e7o ser antigo n\u00e3o atrapalha em nada, e assim que se acostuma, \u00e9 at\u00e9 um charme. O problema mesmo \u00e9 que claramente Horus n\u00e3o contou com recursos suficientes. V\u00e1rias batalhas teriam sido muito mais interessantes se n\u00e3o fossem sequ\u00eancias de quadros est\u00e1ticos. S\u00f3 por isso, definitivamente, O Pr\u00edncipe do Sol n\u00e3o \u00e9 um filme para qualquer um hoje em dia.A hist\u00f3ria, por\u00e9m, \u00e9 s\u00f3lida, ainda que se possa fazer um bingo de tropos ao assistir o anime e encher a cartela. \u00c9 uma hist\u00f3ria positiva, acima de tudo, o que \u00e9 mais evidente em como o Horus se recusa a batalhar Hilda at\u00e9 o final. O que tinha tudo para ser uma trag\u00e9dia, e que talvez nenhum diretor atual deixaria de retratar dessa forma, em Horus se torna uma pe\u00e7a de resist\u00eancia da boa vontade, da virtude de acreditar no bem que h\u00e1 no cora\u00e7\u00e3o do outro.<\/li>\n
\nO F\u00e1bio levanta o fato de se poder fazer um “bingo de topos”, para mim isso \u00e9 uma qualidade em uma obra do g\u00eanero, como eu gosto de estudar mitos e folclore, h\u00e1 v\u00e1rios s\u00edmbolos cl\u00e1ssicos no filme, como o arqu\u00e9tipo do her\u00f3i solar, tanto que ele \u00e9 o Pr\u00edncipe Sol, como tamb\u00e9m o pr\u00f3prio fato de se tirar a espada da pedra, o que dispensa qualquer tipo de explica\u00e7\u00e3o.Tamb\u00e9m a import\u00e2ncia que um ferreiro tinha em tempos imemoriais, quando quem sabia forjar metais era tido como praticante de magia, j\u00e1 que essa habilidade teria sido dada pelos deuses. Tanto \u00e9 que h\u00e1 registros de que as pessoas levavam os feridos e doentes para serem tratados pelos ferreiros.<\/p>\n
\nO Her\u00f3i Solar que doma a Deusa Lunar. Mais antigo que a hist\u00f3ria escrita, certamente.<\/li>\n
\nAntiqu\u00edssimo.Mitologia pura esse filme.<\/p>\n
\nEssa bagagem mitol\u00f3gica \u00e9 interessante se considerarmos o legado que o filme conquistou. O Theron Martin<\/a> do ANN enxerga Horus como um dos disseminadores do trope do her\u00f3i shounen. De fato, \u00e9 f\u00e1cil ver no protagonista o germe de tantas personagens ic\u00f4nicas do g\u00eanero \u2013 o pacifismo de Kenshin Himura, a bondade quase inocente de Goku, a garra e o grit<\/em> de Ashitaka de Princesa Mononoke etc).Mas admitir que um topos desse veio de uma obra distintamente ocidental, calcada em mitos estrangeiros (por mais que sejam, em \u00faltima medida, universais) \u00e9 fascinante se considerarmos o lugar que os animes ocupam na cultura japonesa.<\/p>\n
\nEu gostei bastante desta personagem. Geralmente em anima\u00e7\u00f5es mais antigas n\u00e3o vemos muito deste dualismo em seus personagens, o her\u00f3i \u00e9 sempre her\u00f3i, como no caso de Horus, o vil\u00e3o \u00e9 sempre um vil\u00e3o, como o Grunwald, mas a Hilda \u00e9 diferente, vemos claramente um embate de disposi\u00e7\u00f5es em seu cora\u00e7\u00e3o, e isso a torna uma personagem bastante interessante, mais pr\u00f3xima a n\u00f3s, menos arquet\u00edpica e mais humana.<\/li>\n
\nEu n\u00e3o seria t\u00e3o r\u00e1pido em dizer que n\u00e3o vemos esse dualismo em anima\u00e7\u00f5es mais antigas. N\u00e3o conhe\u00e7o o bastante do per\u00edodo para afirmar algo assim Mas especificamente sobre a Hilda, eu curti a personagem: sua introdu\u00e7\u00e3o, desenvolvimento, conclus\u00e3o…Tudo bem “by the book<\/em>“, mas ainda assim executado muito bem. Quando ela primeiro aparece eu mesmo n\u00e3o pensei de imediato que ela fosse ser uma vil\u00e3, ainda que a coruja deveria ter sido um aviso bem claro kkkkk<\/li>\n
\nGostei muito da Hilda. \u00c9 a minha personagem preferida. Nada contra o Horus, mas ele \u00e9 tao by the book<\/em> que n\u00e3o tem muito o que gostar ou deixar de gostar dele. Com suas trai\u00e7\u00f5es, d\u00favidas, com a raiva que eu eventualmente senti dela em v\u00e1rios momentos, a Hilda foi a personagem mais humana desse filme.<\/li>\n
\nSeu julgamento n\u00e3o me surpreende, F\u00e1bio. Vil\u00f5es e anti-her\u00f3is, sobretudo de hist\u00f3rias como essa, geralmente passam essa impress\u00e3o. O pr\u00f3prio Lago dos Cisnes que mencionei \u00e9 o melhor exemplo. Pergunte a 100 f\u00e3s de ballet quem \u00e9 o melhor cisne e 99 responder\u00e3o Odile. Ningu\u00e9m gosta da Odette\u00a0Me pergunto se isso n\u00e3o tem rela\u00e7\u00e3o com o subtexto moral que essas hist\u00f3rias costumavam ter. O her\u00f3i, na falta de palavra melhor, \u00e9 o “perfeitinho”. Ele encarna aquilo que \u00e9 bom, o que deve ser emulado. Mais do que isso, ele \u00e9 a pr\u00f3pria personifica\u00e7\u00e3o do bem – a “luz” do sol contra a “escurid\u00e3o” do mal.<\/p>\n
\nE Grunwald \u00e9 um vil\u00e3o interessante, embora seja um t\u00edpico mago do mal, s\u00edmbolo bastante comum na fic\u00e7\u00e3o, ele n\u00e3o \u00e9 onipotente e senhor de todo mal, ele demonstra muitas fraquezas do filme.<\/li>\n
\nAgora, a despeito do filme ser um conto folcl\u00f3rico quase exemplar, h\u00e1 algumas interpreta\u00e7\u00f5es curiosas sobre ele que acho interessante comentar.Originalmente, Horus foi concebido como um filme sobre o povo ainu<\/a> de Hokkaido. A ideia n\u00e3o foi bem aceita pelo est\u00fadio, talvez pelo medo de provocar atritos entre japoneses e Ainus. (Hoje, Golden Kamuy<\/em> n\u00e3o parece ter problema com isso, mas entendo que os anos 1960, no auge do p\u00f3s-colonialismo, poderiam enxergar isso de outra forma.)<\/p>\n
\nSe fosse o caso ele talvez soaria mais distinto para n\u00f3s, aqui no Ocidente, mas imagino que a abordagem escolhida o faria se destacar mais em sua terra de origem, justamente por lidar com uma ambienta\u00e7\u00e3o e tem\u00e1ticas mais ocidentais.<\/li>\n
\nEu totalmente pensei nos ainus enquanto assistia Horus<\/em> Mas pode ter sido s\u00f3 minha mem\u00f3ria recente de Golden Kamuy,<\/em> vai saber. <\/li>\n
\nQuando eu vi o nome do filme eu pensei em Egito Antigo\u00a0 <\/li>\n
\nSobre o tema … acho que eu teria gostado mais se fossem mesmo ainus? N\u00e3o porque tenha ficado faltando nada, \u00e9 s\u00f3 que, como ocidental que sou, obviamente aquela hist\u00f3ria me pareceu igual a sei l\u00e1 quantas que eu j\u00e1 assisti ou li ou ouvi falar. Algo ainu seria novo para mim. Mas da\u00ed estamos falando de uma enorme dist\u00e2ncia no tempo e no espa\u00e7o. Para a \u00e9poca, n\u00e3o sei se teria sido melhor. Bom, eu acredito que o Takahata faria algo bom de qualquer jeito.<\/li>\n
\nPrincesa Mononoke tamb\u00e9m esbarra naquest\u00e3o dos ainu n\u00e9? E \u00e9 do final dos anos noventa n\u00e9? Mas acho que nessa \u00e9poca j\u00e1 estavam de boa as coisas.<\/li>\n
\nA segunda interpreta\u00e7\u00e3o que encontrei \u00e9 mais curiosa, e eu queria saber o que voc\u00eas pensam dela.H\u00e1 quem diga que Horus<\/em> reflete disputas internas no sei da Toei quando o filme foi realizado. Especificamente, que ele \u00e9 uma alegoria da rebeldia, dos jovens artistas (em especial, o pr\u00f3prio Takahata, ent\u00e3o com 32 anos) contra as condi\u00e7\u00f5es de trabalho e hierarquia fossilizada do est\u00fadio.<\/p>\n
\n\u00c9… n\u00e3o me convence n\u00e3o Ainda que n\u00e3o fosse imposs\u00edvel, dado o contexto, a hist\u00f3ria de fato soa arquet\u00edpica demais para carregar esse tipo de mensagem. Pra mim parece superinterpreta\u00e7\u00e3o, e at\u00e9 gostaria de perguntar onde foi que voc\u00ea viu essa, Vinicius.<\/li>\n
\nEssa teoria pode ser curiosa mas me parece improv\u00e1vel, ainda mais que \u00e9 puta especula\u00e7\u00e3o,.<\/li>\n
\nEssa interpreta\u00e7\u00e3o vira e mexe aparece em an\u00e1lises do filme. Como essa<\/a> , essa<\/a> \u00a0ou essa.<\/a>Por\u00e9m, n\u00e3o achei nenhum material de primeira m\u00e3o confirmando sua veracidade. Pode ser que, por se tratar de um anime antigo e obscuro, ele simplesmente n\u00e3o exista mais. A produ\u00e7\u00e3o de Horus<\/em> \u00e9 cercada de mist\u00e9rios at\u00e9 os dias de hoje. At\u00e9 mesmo a romaniza\u00e7\u00e3o oficial de seu t\u00edtulo (Horus vs Hols) \u00e9 disputada.<\/p>\n
\nIsso para mim soa \u00e0 lenda urbana. Est\u00e1 no mesmo n\u00edvel daquela que diz que Totoro \u00e9 uma alegoria para um crime brutal que aconteceu de verdade. Vou nem detalhar ou botar links, \u00e9 s\u00f3 boato, basta pesquisar que encontra. Faz sentido? Claro que faz! A caracter\u00edstica fundamental das lendas urbanas \u00e9 fazer sentido.<\/li>\n
\nBom, n\u00e3o posso culpar esses comentaristas por especularem. Horus<\/em>, como voc\u00eas bem disseram, \u00e9 uma obra bastante cl\u00e1ssica. Para os padr\u00f5es contempor\u00e2neos, \u00e9 quase um template do que um longa de anime deve ser.<\/li>\n
\n\u00c9 que sem nenhuma fonte prim\u00e1ria fica realmente parecendo s\u00f3 especula\u00e7\u00e3o. E como eu disse, faz sentido. \u00c9 bonito at\u00e9. O Takahata foi do sindicato, e ele e o Miyazaki se conheceram por causa do sindicato. Ent\u00e3o sem d\u00favida \u00e9 uma hist\u00f3ria veross\u00edmil.<\/li>\n
\nPois \u00e9, n\u00e3o d\u00e1 para inventar em cima do que n\u00e3o sabemos.Enfim, estamos hoje em 2019. Como disse no come\u00e7o, mais de 50 anos depois do lan\u00e7amento do Horus<\/em>. Para voc\u00eas, espectadores contempor\u00e2neos, qual foi a imagem que ficou? O que voc\u00eas diriam que melhor permanece de todo o filme?<\/li>\n
\nHum, \u00e9 dif\u00edcil dizer. Como hist\u00f3ria ele \u00e9 bem b\u00e1sico, mas ainda guarda um charme bem pr\u00f3prio. Acho que n\u00e3o tem uma coisa ou um elemento que eu diga que se destaca, ele como um todo ainda \u00e9 gostosinho de se assistir, por simples que seja.<\/li>\n
\nVale a pena assistir nem que seja s\u00f3 para ter raiva e depois pena da Hilda.<\/li>\n
\n\u00c9 o tipo de hist\u00f3ria que n\u00e3o envelhece para falar a verdade, \u00e9 a cl\u00e1ssica e batida jornada do her\u00f3i, mas que sempre funciona em qualquer \u00e9poca.<\/li>\n
\nPois \u00e9. Se tivesse um or\u00e7amento melhor para anima\u00e7\u00e3o, com certeza estaria entre os grandes filmes animes que todo mundo diz que precisam ser assistidos at\u00e9 hoje.<\/li>\n
\nEstou com o f\u00e1cil. Achei que a Hilda valeu o “ingresso”, por assim dizer. Fosse um anime contempor\u00e2neo, decerto ganhar\u00edamos um spin-off<\/em> s\u00f3 dela.Enfim, acho que \u00e9 isso a\u00ed, pessoal. Agrade\u00e7o a todos voc\u00eas por essa jornada no t\u00fanel do tempo. Est\u00e3o se sentindo mais iluminados? Mais a baixo do iceberg de conhecimento geral otaku? Eu com certeza estou!<\/p>\n