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{"id":20675,"date":"2018-11-19T19:25:22","date_gmt":"2018-11-19T21:25:22","guid":{"rendered":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/?p=20675"},"modified":"2019-02-28T11:45:04","modified_gmt":"2019-02-28T14:45:04","slug":"maquia-o-cinema-okada-levado-ao-seu-limite","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/2018\/11\/19\/maquia-o-cinema-okada-levado-ao-seu-limite\/","title":{"rendered":"“Maquia”: o cinema Okada levado ao seu limite"},"content":{"rendered":"

Alguns filmes nos dizem tudo o precisamos s\u00f3 de olhar suas fichas.<\/p>\n

P.A. Works \u00e9 um est\u00fadio conhecido pelos seus visuais deslumbrantes. Kenji Kawai, por suas trilhas sonoras comoventes. Mari Okada, pelos roteiros mais chorosos do mundo dos animes. Ao combinar os tr\u00eas em um mesmo projeto, sabemos exatamente o que nos aguarda: um filme grande, farto, capaz de fazer o marmanj\u00e3o mais sisudo se afogar em l\u00e1grimas.<\/p>\n

A parceria tem nome e sobrenome: Sayonara no Asa ni Yokusoku no Hana wo Sazarou<\/em>, ou Maquia: When the Promised Flower Blooms. <\/em>Estreia de Okada como diretora, o longa oferece isso e muito mais.<\/p>\n

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O enredo<\/strong><\/h3>\n
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A hist\u00f3ria acompanha as desventuras de Maquia, membro de um povo conhecido como Iorph.\u00a0 Sua ra\u00e7a tem a apar\u00eancia de adolescentes loiros e vive de tecer mantas cujas tramas podem ser \u201clidas\u201d como um escrito. Eles tamb\u00e9m s\u00e3o imortais.<\/p>\n
Iorph vivem isolados, pois sua longevidade pro\u00edbe rela\u00e7\u00f5es normais. \u201cVoc\u00ea n\u00e3o deve amar ningu\u00e9m\u201d uma anci\u00e3 diz a Maquia. \u201cA partir do momento em que amar algu\u00e9m voc\u00ea estar\u00e1 de fato sozinha\u201d.<\/p>\n
A solid\u00e3o de Maquia, por\u00e9m, est\u00e1 apenas come\u00e7ando. Interessado em gerar uma linhagem que, como os Iorph, viva para sempre, o l\u00edder do reino de Mezarte decide sequestrar uma noiva da tribo e for\u00e7\u00e1-la a se casar com seu herdeiro.<\/p>\n
$\"\"$ <\/p>\n
Maquia sobrevive ao ataque, mas se v\u00ea jogada de cabe\u00e7a em um pa\u00eds dilacerado pela guerra. Suas andan\u00e7as a levam ao encontro de um beb\u00ea cuja m\u00e3e foi assassinada por soldados. Contra seu melhor julgamento, a garota decide adot\u00e1-lo.<\/p>\n
A hist\u00f3ria de uma m\u00e3e arrastando sua crian\u00e7a por um campo de batalha \u00e9 uma das imagens cl\u00e1ssicas da literatura de guerra. B\u00f4nus se a crian\u00e7a for adotiva: uma met\u00e1fora poderosa (e esperan\u00e7osa) de que um povo dilacerado \u00e9 capaz de se reatar. N\u00e3o \u00e9 \u00e0 toa que Kono Sekai no Katasumi Ni <\/em><\/a>, conto sobre a trag\u00e9dia de Hiroshima, escolheu esta mesm\u00edssima imagem para encerrar sua narrativa.<\/p>\n
Maquia <\/em>poderia se tornar outra vers\u00e3o desse mote, n\u00e3o fosse pela imortalidade de sua protagonista. Como Iorph, Maquia est\u00e1 condenada a viver para sempre nas peles de uma adolescente. J\u00e1 seu filho, Ariel, est\u00e1 fadado a crescer, envelhecer \u2013 e, inevitavelmente, morrer nos seus bra\u00e7os.<\/p>\n
Mommy issues<\/em><\/strong><\/h3>\n
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Mari Okada ganhou fama como a rainha indisput\u00e1vel do melodrama<\/a>. Pela for\u00e7a bruta de seus temas,Maquia <\/em>\u00e9 o trabalho mais ambicioso, sens\u00edvel e visceral que j\u00e1 veio de sua pena.<\/p>\n
Que o abismo entre Maquia e Ariel seja uma trag\u00e9dia n\u00e3o anunciada n\u00e3o reduz em nada o poder de sua execu\u00e7\u00e3o. O desenvolvimento nos chega aos poucos, uma morte por mil pequenos cortes.<\/p>\n
A imortalidade for\u00e7a Maquia a uma vida itinerante. Para n\u00e3o atrair suspeitas, m\u00e3e e filho circulam de cidade a cidade, tendo apenas a companhia um do outro.<\/p>\n
Ariel, por\u00e9m, deseja separar-se. \u00c9 poss\u00edvel culp\u00e1-lo? Um adolescente n\u00e3o deveria ter de dividir a cama com uma garota da sua idade. Talvez ele deseje criar ra\u00edzes, fazer amigos. Viver uma vida que tenha sentido. Sen\u00e3o isso, uma vida que ao menos que perten\u00e7a a ele, defeitos e tudo.<\/p>\n
$\"\"$ <\/p>\n
Em uma cena, Ariel \u00e9 for\u00e7ado a beber al\u00e9m da conta por seus colegas de trabalho. Ele retorna a casa embriagado, vacilante de enjoo, medo e culpa. O reencontro com a m\u00e3e n\u00e3o termina bem. Ariel precisa de uma figura de autoridade. Um porto seguro. Eternamente em fuga, fisicamente presa na juventude, Maquia \u00e9 incapaz de oferecer qualquer um dos dois.<\/p>\n
Okada teve uma rela\u00e7\u00e3o tempestuosa com sua pr\u00f3pria m\u00e3e, e \u00e9 tentador ver na protagonista um desabafo pessoal. Uma m\u00e3e infantilizada, despreparada para os desafios do mundo adulto, cujo filho, a despeito de seus esfor\u00e7os, a trata apenas como uma igual.<\/p>\n
Quantos jovens pais mundo afora enfrentaram barras parecidas? S\u00e3o momentos de honestidade como esse que fazem Maquia <\/em>brilhar.<\/p>\n
Uma guerra vista de baixo<\/strong><\/h3>\n
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\u00c9 dif\u00edcil apontar o que corta mais fundo: seus conflitos familiares ou o terror sempre presente da guerra. Para Maquia, <\/em>Okada pincela um mundo fant\u00e1stico gigantesco, mas n\u00e3o parece interessada em colorir os detalhes. Seu cen\u00e1rio fant\u00e1stico \u00e9 um pano de fundo mais que um catalisador de seu enredo.<\/p>\n
De fato, sua trama chega a ser confusa e inconstante, narrada em arcos fechados que parecem existir \u00e0 revelia um do outro. F\u00e3s de aventura fant\u00e1stica talvez percam a paci\u00eancia com esse descaso. Mas esse n\u00e3o \u00e9 um filme para eles.<\/p>\n
Muito da fantasia se perde em nomes pr\u00f3prios. Aten\u00e7\u00e3o demais \u00e9 gasta identificando fac\u00e7\u00f5es em guerra, enumerando baixas e descrevendo estrat\u00e9gias, quando os pr\u00f3prios conflitos do nosso tempo mostram que essas coisas pouco importam.<\/p>\n
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Maquia <\/em>destila esses conflitos ao seu valor humano, em um retrato visto de baixo. Contado com uma sensibilidade honesta, dolorosamente feminina.<\/p>\n
Considere Leilia, amiga de Maquia for\u00e7ada a gerar um herdeiro para o pr\u00edncipe. Leilia d\u00e1 \u00e0 luz uma garota. O pal\u00e1cio n\u00e3o est\u00e1 impressionado. Meninas n\u00e3o t\u00eam valor; apenas um filho homem pode levar o reino \u00e0 frente.<\/p>\n
O parto, contudo, leva a beleza do seu corpo. Em dada cena, n\u00f3s a vemos atormentada, coberta de penduricalhos. Seu marido perdeu o interesse sexual por ela, e o pal\u00e1cio tenta v\u00e1rias simpatias para que consiga procriar. \u201cFa\u00e7am alguma coisa\u201d grita o rei. \u201cPelo menos deem a ele outra mulher!\u201d<\/p>\n
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Leilia foi sequestrada, estuprada e confinada em uma torre como chocadeira. Mas seu desespero vai al\u00e9m: ao ser rejeitada, ela perde at\u00e9 a capacidade de se resignar. N\u00e3o basta priv\u00e1-la da sua liberdade ou dignidade. A guerra precisou tirar qualquer sentido da sua vida.<\/p>\n
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Ou ent\u00e3o considere Dita, que tamb\u00e9m d\u00e1 \u00e0 luz uma crian\u00e7a no curso do longa. As dores de seu parto s\u00e3o intercaladas a uma cena de batalha, de que seu marido participa. Os dois combatem pela pr\u00f3pria vida, e n\u00e3o sabemos dizer qual das lutas \u00e9 mais acirrada.<\/p>\n
Na verdade, sabemos sim. \u00c9 evidente que o choque de espadas e o trovejar de canh\u00f5es \u00e9 apenas um pano de fundo para o verdadeiro duelo.<\/p>\n
Homens gostam de pensar que a hist\u00f3ria \u00e9 escrita com o cano de uma arma. Okada nos lembra, como fizeram outras escritoras<\/a>, que para cada guerreiro em marcha h\u00e1 uma mulher reunindo os cacos que a viol\u00eancia dispersou.<\/p>\n
$\"\"$ <\/p>\n
A tomada funciona gra\u00e7as \u00e0 produ\u00e7\u00e3o da P.A. Works, um trabalho prodigioso mesmo para os padr\u00f5es do est\u00fadio. De fato, Maquia <\/em>\u00e9 um filme grande, que est\u00e1 em seu elemento em tomadas ambiciosas, cen\u00e1rios detalhados e uma das melhores trilhas da carreira de Kenji Kawai.<\/p>\n
Embora o filme nunca supere a beleza das tomadas de abertura, sua fotografia e ambienta\u00e7\u00e3o nunca deixam a desejar. No pa\u00eds de Mezarte, vielas mediterr\u00e2neas dividem espa\u00e7o com catedrais g\u00f3ticas, forna\u00e7as industriais e tavernas abarrotadas. Poucos s\u00e3o os animes que oferecem um retrato t\u00e3o vibrante de uma cidade em movimento.<\/p>\n
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\u201c100% Okada\u201d<\/strong><\/h3>\n
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\u00c9 uma pena, por\u00e9m, que Maquia <\/em>se deixe levar pela pr\u00f3pria grandiloqu\u00eancia.<\/p>\n
Como roteirista, Okada carrega nas tintas nos momentos mais inoportunos, cometendo exageros que beiram a manipula\u00e7\u00e3o. A cena de Maquia libertando Ariel de um cad\u00e1ver em rigor mortis <\/em>\u00e9 a mais apelativa que j\u00e1 vi em qualquer um de seus animes. O funeral choroso de um cachorro chega a ser rid\u00edculo.<\/p>\n
Melodramas s\u00e3o uma corda bamba, e Okada sempre deixou o excesso de l\u00e1grimas derrub\u00e1-la para um dos lados. Foi assim no final hist\u00e9rico de Ano Hana <\/em>ou no \u00faltimo ter\u00e7o de Hisone to Masotan, <\/em>incomparavelmente mais fraco que seu in\u00edcio.<\/p>\n
Mesmo comparado a ele, no entanto,\u00a0Maquia <\/em>parece um retrocesso. Apesar de sua sensibilidade transbordante, Okada escreve (e dirige) como se nos guiasse pela m\u00e3o, dizendo exatamente o que devemos sentir.<\/p>\n
A coisa passa dos limites nas cenas finais, quando o cl\u00edmax \u00e9 intercalado com flashbacks <\/em>de cenas chorosas de outros momentos do longa.\u00a0 \u00c9 um recurso batido, desnecess\u00e1rio e condescendente, que me leva a pensar se esse filme \u201c100% Okada\u201d n\u00e3o teria a ganhar com um diretor mais experiente.<\/p>\n
Sem colegas para barrar seus excessos, Okada entrega um filme que parece uma obra de estreia: ambicioso e apaixonado, mas tamb\u00e9m pat\u00e9tico, repetitivo e desconjuntado.<\/p>\n
Dizem que escritores param de ser editados quando ficam famosos.\u00a0Maquia\u00a0<\/em>\u00e9 a prova de que isso nem sempre \u00e9 bom. Artistas adoram reclamar de que sofrem interfer\u00eancia. A verdade, por\u00e9m, \u00e9 que boas obras devem tanto \u00e0 tesoura quanto \u00e0 caneta.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
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