Bem vindo ao Caf\u00e9 com Anime, sua dose semanal de bom papo e anima\u00e7\u00e3o japonesa!<\/p>\n
Nessa temporada, o Finisgeekis, Anime21, Dissid\u00eancia Pop e \u00c9 S\u00f3 um Desenho discutem\u00a0Happy Sugar Life.<\/em><\/p>\n O lan\u00e7amento mais controverso da temporada chega ao fim como um terror de primeira: chocante na medida certa, digirido com maestria, apavorantemente humana.<\/p>\n Numa \u00e9poca em que animes sofrem para sobreviver aos anos,\u00a0Happy Sugar Life\u00a0<\/em>deixa calafrios que n\u00e3o vamos esquecer t\u00e3o cedo.<\/p>\n Confiram:<\/p>\n Fico me perguntando se o recurso n\u00e3o foi uma forma sutil (e n\u00e3o inteiramente bem sucedida) de mostrar que a Shio j\u00e1 estava mudando, bem antes do final dram\u00e1tico.<\/p>\n Minha esposa disse ter a impress\u00e3o de que o Asahi tamb\u00e9m tinha esse canino para fora. Confesso que n\u00e3o reparei. E tamb\u00e9m n\u00e3o examinei o anime epis\u00f3dio a epis\u00f3dio para ver quando e de que forma isso aparece.<\/li>\n E v\u00e1 l\u00e1, ela j\u00e1 queria proteger a m\u00e3e. Vamos dizer que seja uma pessoa super emp\u00e1tica. Isso explica o papo de cora\u00e7\u00f5es que s\u00e3o vidros vazios (se ela tiver escutado a analogia em algum lugar, o que \u00e9 poss\u00edvel). Ainda assim, o problema real \u00e9 a escolha das palavras dela<\/p>\n Se tivessem feito ela soar uma crian\u00e7a mimada funcionaria. Ao inv\u00e9s, ela soou como a voz do autor explicando o que est\u00e1 acontecendo<\/li>\n O que, sen\u00e3o o estopim, tamb\u00e9m foi uma condi\u00e7\u00e3o para que a trag\u00e9dia acontecesse. Se tivesse um porto seguro para o qual fugir com as crian\u00e7as, as coisas n\u00e3o chegariam naquele n\u00edvel.<\/li>\n Que ela tenha aceitado participar do acordo a torna t\u00e3o supostamente “conformista” quanto ter deixado de ouvir os pais a torna “subversiva”. Ser “livre” nunca foi uma op\u00e7\u00e3o. Esse universo \u00e9 fodido e s\u00f3 se pode escolher entre o fogo ou a frigideira.<\/p>\n N\u00e3o quero dizer que a fam\u00edlia dela \u00e9 ou n\u00e3o \u00e9 uma coisa ou outra. S\u00f3 que n\u00e3o acho, pessoalmente, que essa \u00e9 a mensagem que o anime quis passar. Para mim, \u00e9 uma coisa muito mais “de baixo”, mostrando o sentimento de paranoia de v\u00edtimas de abuso, e como ele distorce o mundo at\u00e9 que pare\u00e7a um pesadelo.<\/p>\n Para que eu e o F\u00e1bio n\u00e3o conversemos sozinho, o que voc\u00eas pensam disso, Diego e Gato?<\/li>\n <\/p>\n O cap\u00edtulo \u00e9 o 29, caso queiram conferir na \u00edntegra.<\/li>\n Parte do que me deixou t\u00e3o chocado, t\u00e3o aflito, no assassinato da Shouko, \u00e9 que eu n\u00e3o consegui ter raiva da Satou.<\/li>\n Mas enfim, estamos aqui falando do que esse final teve de ruim, quando na verdade teve muita coisa de boa.<\/p>\n Eu mesmo n\u00e3o sabia o que encontrar e fiquei positivamente surpreso com a maneira como o castelo de cartas caiu. Quando vi Satou emprestando os passaportes da sua stalker por um momento imaginei se o anime terminaria como um persegui\u00e7\u00e3o na estrada, com a tia maluca dirigindo Satou e Shio rumo \u00e0 liberdade.<\/p>\n Escrevendo agora, acho que a premissa teria sido hil\u00e1ria. Mas de forma alguma caberia no t\u00e3o curto tempo de exposi\u00e7\u00e3o. E n\u00e3o \u00e9 que n\u00e3o tiv\u00e9ssemos tido escapes tragic\u00f4micos de outras naturezas, com o Tayou saltitando pelado e amarrado pelos corredores do pr\u00e9dio em chamas.<\/p>\n Gente, Happy Sugar Life<\/em> \u00e9 uma s\u00e9rie doente, hein? Quando assistimos at\u00e9 parece normal, mas basta escrever a respeito que a ficha cai\u00a0<\/li>\n Ali\u00e1s, esse \u00e9 o v\u00edcio do Humbert Humbert, protagonista de Lolita,<\/em> se bem me lembro. Ele teve uma namorada na adolesc\u00eancia que morreu tragicamente e “busca” ela no corpo de outras garotas.<\/li>\n <\/li>\n <\/li>\n E no caso espec\u00edfico do Jap\u00e3o, h\u00e1 a quest\u00e3o do budismo, especialmente do budismo Terra-Pura, e nessa corrente, amantes, casais e etc, podem renascer juntos na pr\u00f3xima reencarna\u00e7\u00e3o, ou no para\u00edso, se tiverem vencido o ciclo de reencarna\u00e7\u00f5es, ainda mais quando morrem juntos.<\/li>\n Veja que, de certa forma, Satou tentou salvar Shio. Mas foi in\u00fatil, em v\u00e3o, pois ela ainda vive, como uma maldi\u00e7\u00e3o, dentro de Shio. E o ciclo de trag\u00e9dias vai continuar.<\/li>\n Assim, agrade\u00e7o a todos que participaram, comentaram e se arrepiaram aqui com a gente. E at\u00e9 o pr\u00f3ximo Caf\u00e9 com Anime!<\/li>\n<\/ul>\n<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Bem vindo ao Caf\u00e9 com Anime, sua dose semanal de bom papo e anima\u00e7\u00e3o japonesa! 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\n<\/strong>\u00c9 isso. Depois de doze epis\u00f3dios, a hist\u00f3ria de Satou \u00e9 Shio finalmente chegou ao fim. Como suspeitavamos, o primeiro epis\u00f3dio foi mesmo um foreshadow do que estava por vir. Seu “amor” doentio terminou n\u00e3o em flores, mas numa ru\u00edna em chamas.Sei que esse final foi bastante cat\u00e1rtico. Na Internet, n\u00e3o faltaram rea\u00e7\u00f5es acaloradas (para o bem e para o mal). Ent\u00e3o vou direto ao assunto: antes de mais nada, voc\u00eas est\u00e3o bem? O final os traumatizou de alguma forma?<\/li>\n
\n<\/strong>Bom, pelo menos pra mim esse final n\u00e3o supera a morte da Shouko em desconforto. N\u00e3o sei se isso me deixa aliviado ou desapontado \ud83d\ude1b<\/li>\n
\n<\/strong>Para mim tamb\u00e9m n\u00e3o. E eu acho que isso me deixou um tanto desapontado por mais uma raz\u00e3o. Mas n\u00e3o quero me antecipar!<\/li>\n
\n<\/strong>O final de Happy Sugar Life<\/em> foi decente. Teve cenas muito emblem\u00e1ticas, como o ped\u00f3filo loirinho sendo estuprado pela tia da Satou. Mas o que foi dif\u00edcil de engolir foi a Shio, eu j\u00e1 n\u00e3o estava conseguindo engolir ela nos \u00faltimos epis\u00f3dios, mas o jeito dela se portar n\u00e3o foi de uma crian\u00e7a, mesmo de uma que foi v\u00edtima de abusos.<\/li>\n
\n<\/strong>De novo, a Shio pareceu ter amadurecido r\u00e1pido demais. E entendi a mensagem de ciclo de trag\u00e9dia que ela se transformar na nova Satou no final quer dizer, mas ainda assim achei um salto meio dif\u00edcil de explicar. N\u00e3o obstante essas quest\u00f5es l\u00f3gicas, em termos de espet\u00e1culo foi um bel\u00edssimo final.<\/li>\n
\n<\/strong>A postura da Shio sem d\u00favida \u00e9 o grande elefante branco da sala. Vamos come\u00e7ar por ele, ent\u00e3o?\u00c9 algo que me incomoda desde aquele discurso uns epis\u00f3dios atr\u00e1s, em que Shio parece supernaturalmente amadurecida s\u00f3 por uma conveni\u00eancia de roteiro. Assistindo a esses dois epis\u00f3dios, no entanto, notei outra coisa.<\/li>\n
\n<\/strong>O que notastes Vinicius? S\u00f3 o que me fez sentir mal pela parte final de Happy Sugar Life foi justamente esse “Elefante Branco”. Lembro que comentamos em algum momento que crian\u00e7as abusadas sexualmente acabam amadurecendo mais r\u00e1pido, mesmo assim as atitudes da menina ainda parecem for\u00e7adas, pois n\u00e3o me parece o tipo de amadurecimento que se cria com um abuso.A Shio “amadureceu” mentalmente e n\u00e3o sexualmente.<\/li>\n
\n<\/strong>Em algumas tomadas, Shio \u00e9 mostrada com um canino para fora – o famoso “yaeba ” da cultura pop japonesa, tamb\u00e9m conhecido como cute little fang<\/em><\/a> em ingl\u00eas. Que, em animes e mang\u00e1s, geralmente \u00e9 sinal de uma personagem travessa, arisca ou de alguma forma peralta.<\/p>\n
\n<\/strong>Yeah… isso funcionaria t\u00e3o bem quanto sei l\u00e1, ela usar uma meia de cada cor.Eu acho que ela querer casar (mesmo sem entender o que isso significa), beijar, aceitar a Satou com tudo o que ela \u00e9 faz sentido. Ela vocalizar isso racionalmente, ou aquele discurso dela pro Asahi, n\u00e3o faz.<\/p>\n
\n<\/strong>Falando na m\u00e3e e no Asahi, eu n\u00e3o sei se compro o desenlace de ambos. Ok, tivemos uma explica\u00e7\u00e3o melhor sobre o que levou a m\u00e3e a abandonar os filhos. V\u00ea-la envenenar o marido amarrou as pontas de uma forma competente. E de quebra, pelo menos para mim, tornou a personagem bem mais interessante.Mas aquele final espec\u00edfico, com ela ressurgida das cinzas, olhando o hospital de longe? E o Asahi com aquele discurso que, francamente, parece feito sobre medida para dar um microfone para a Shio? Sei que 12 epis\u00f3dios \u00e9 pouca coisa, mas eu esperava um acompanhamento um pouco mais robusto dessas \u00faltimas cenas.<\/li>\n
\n<\/strong>Eles s\u00e3o a fam\u00edlia modelo do anime, n\u00e9? Normal que os maiores defeitos estejam neles. E s\u00f3 eu fiquei com a impress\u00e3o que tudo isso s\u00f3 aconteceu porque a m\u00e3e desobedeceu os pais e casou com um homem violento? Isso n\u00e3o seria um estranho apelo \u00e0 tradi\u00e7\u00e3o e autoridade em uma hist\u00f3ria que no geral mostra como a sociedade, pelo menos em suas franjas, est\u00e1 quebrada e produz trag\u00e9dias? N\u00e3o \u00e9 contradit\u00f3rio?<\/li>\n
\n<\/strong>Sem d\u00favida que o casamento foi o estopim de tudo (pelo menos, do lado da Shio). N\u00e3o entendi o ponto sobre a tradi\u00e7\u00e3o, no entanto. Qual seria o apelo aqui?<\/li>\n
\n<\/strong>Ora, a sociedade \u00e9 o que \u00e9 por causa, entre outras coisas, das tradi\u00e7\u00f5es. Ent\u00e3o ou voc\u00ea diz que as filhas devem ouvir os pais ou voc\u00ea diz que h\u00e1 problemas estruturais na sociedade<\/li>\n
\n<\/strong>S\u00f3 n\u00e3o acho que os pais n\u00e3o queriam que ela casasse com um homem violento, isso parece algo um tanto incomum quando se critica uma tradi\u00e7\u00e3o social. Faria mais sentido supor que ela casou por amor com um cara que n\u00e3o foi aprovado pelos pais, e que por acabou se tornando violento com o tempo, ou apenas dava poucos sinais disso antes do casamento. Mas tudo isso \u00e9 suposi\u00e7\u00e3o, nem d\u00e1 apra saber se o autor pensou nisso tudo.<\/li>\n
\n<\/strong>Sim, mesmo o desenvolvimento da Shio e do Asahi podem ter parecido estranhos apenas por falta de tempo. Happy Sugar Life fez um trabalho excelente em retratar a Satou, mas ficou devendo do outro lado.<\/li>\n
\n<\/strong>N\u00e3o entendo a dicotomia. \u00c9 plenamente poss\u00edvel argumentar que a sociedade est\u00e1 quebrada e que \u00e9 salutar ouvir os pais ao mesmo tempo. Ali\u00e1s, \u00e9 poss\u00edvel inclusive juntar os dois argumentos e colocar os pais (ou um pai ou m\u00e3e espec\u00edfico) como for\u00e7a de subvers\u00e3o contra a tradi\u00e7\u00e3o e autoridade. \u00c9 o que faz por exemplo o romance O Filho do Mestre de \u00d3rf\u00e3os<\/em>, ambientado na Coreia do Norte (pra citar s\u00f3 um exemplo que me veio \u00e0 mente agora.N\u00e3o acho que Happy Sugar Life<\/em> quis dizer algo t\u00e3o espec\u00edfico, justamente porque o background da Shio n\u00e3o foi l\u00e1 t\u00e3o bem explorado. Mas salta aos olhos, na minha opini\u00e3o, como (quase) ningu\u00e9m no anime tem uma fam\u00edlia funcional. A m\u00e3e da Shio tinha, mas acabou perdendo-os.<\/p>\n
\n<\/strong>Duas coisas a\u00ed: a primeira \u00e9 uma coisa de l\u00f3gica, mas talvez se aplique. Como o antecedente \u00e9 falso, n\u00e3o se pode afirmar nada. Porque a fam\u00edlia da Shio e a pr\u00f3pria s\u00e3o muito mal desenvolvidos, naturalmente qualquer conclus\u00e3o aqui al\u00e9m da superf\u00edcie \u00e9 s\u00f3 especula\u00e7\u00e3o. Estou especulando.Segundo, concordo com a avalia\u00e7\u00e3o geral sobre os pais serem importantes e tal, mas n\u00e3o estamos falando do caso geral, e sim especificamente sobre a sociedade japonesa. N\u00e3o consigo vislumbrar como, na sociedade japonesa, se voc\u00ea tiver pais tradicionais (e n\u00e3o os conhecemos, estatisticamente \u00e9 o que faz sentido assumir, por\u00e9m), obedec\u00ea-los possa ser subversivo.<\/li>\n
\n<\/strong>Mas a\u00ed voc\u00ea est\u00e1 comprando o panfleto. “Sociedade japonesa” n\u00e3o \u00e9 um caso espec\u00edfico. \u00c9 uma generaliza\u00e7\u00e3o,e ao se fiar nela voc\u00ea deixa coisas mais importantes passar.Por exemplo, que a decis\u00e3o da m\u00e3e da Shio n\u00e3o foi um ato de rebeldia contra a autoridade familiar. Foi, sim, parte de uma tradi\u00e7\u00e3o muito mais funesta: o “casamento de espingarda<\/a>”\u00a0quando um jovem \u00e9 for\u00e7ado a casar com uma garota que engravida.<\/p>\n
\n<\/strong>Deixei escapar mesmo, porque n\u00e3o tinha entendido que foi dessa forma. \u00c9 no m\u00ednimo uma interpreta\u00e7\u00e3o t\u00e3o boa quanto a minha, e estou curioso para saber se voc\u00ea viu algum elemento apontando que tenha sido o caso?De casamento for\u00e7ado, quero dizer. De todo modo, eu admito que n\u00e3o tenho base para essa minha interpreta\u00e7\u00e3o em particular, foi s\u00f3 uma impress\u00e3o baseada em fragmentos revelados pelo anime e o pouco conhecimento que tenho.<\/li>\n
\n<\/strong>Sim, pe\u00e7o desculpas. Acabo de ver que acabei trazendo algo que s\u00f3 apareceu no mang\u00e1. Como a m\u00eddia \u00e9 sempre mais prolixa, acabou incluindo mais detalhes da vida dos dois.Aqui est\u00e1 um screen, para que vejam do que se trata:<\/p>\n
\n<\/strong>Ah, entendi. Bom, ainda assim, na falta de informa\u00e7\u00e3o, seria uma suposi\u00e7\u00e3o v\u00e1lida que tamb\u00e9m explica tudo o que aconteceu.<\/li>\n
\n<\/strong>Bom, eu diria que essa informa\u00e7\u00e3o do Vinicius meio que resolve o dilema do F\u00e1bio, n\u00e3o? Se a m\u00e3e foi for\u00e7ada a se casar, eis ai uma \u00f3bvia cr\u00edtica \u00e0 tradi\u00e7\u00e3o. S\u00f3 \u00e9 uma pena o anime nunca ter inclu\u00eddo esse “detalhe”. Dito isso, os pais completamente abandonarem a filha porque ela namorou – e engravidou de – algu\u00e9m que os pais n\u00e3o gostavam me parece denotar que sua fam\u00edlia tamb\u00e9m passava bem longe de funcional. Ou mesmo do ideal tradicional. Mas posso estar enganado.<\/li>\n
\n<\/strong>Sim, perfeitamente resolvido nesse aspecto – que era uma cr\u00edtica “terci\u00e1ria” minha, se muito.Olhando para a cara de desespero da garota e considerando o qu\u00e3o jovem ela \u00e9, me parece que foi estupro mesmo.<\/li>\n
\n<\/strong>At\u00e9 dava para inserir rapidamente esse background<\/em> no anime, teria soado bem melhor as coisas.v<\/li>\n
\n<\/strong>O anime foi bastante parcimonioso com backgrounds<\/em>. O da Satou \u00e9 simples, e mesmo assim deixa aberto a especula\u00e7\u00e3o: os pais dela morreram e ela foi morar com a tia louca. Minha especula\u00e7\u00e3o: todo o resto da fam\u00edlia se recusou a ficar com a garota. Como isso \u00e9 vida real e n\u00e3o um anime de parenting fofo como Usagi Drop, sobrou a louca.<\/li>\n
\n<\/strong>Olha, eu vou dizer que tem bem pouco de “real” na vasta maior parte desse anime\u00a0<\/li>\n
\n<\/strong>Eu sei.Mas eu o entendo como uma hip\u00e9rbole do real para criticar algo, n\u00e3o sei se sou o \u00fanico, mas j\u00e1 disse isso antes.<\/li>\n
\n<\/strong>E o que seria esse “algo”? Porque, francamente falando, e apesar de ter gostado do anime, Happy Sugar Life<\/em> me soou, tematicamente, apenas a variante mais recente do trope “a humanidade \u00e9 horr\u00edvel”.O que, justo, conta como uma cr\u00edtica, mas \u00e9 uma bastante superficial. Arriscaria mesmo a dizer que sem a excelente dire\u00e7\u00e3o, HSL se diferenciaria bem pouco de obras similares.<\/li>\n
\n<\/strong>Sim, boa parte do que falamos at\u00e9 agora \u00e9 exatamente isso\u00a0Os diferenciais todos s\u00e3o t\u00e9cnicos. Happy Sugar Life<\/em> abusa da linguagem animada para entregar sua mensagem da forma mais pungente poss\u00edvel. A leva ao limite – o limite poss\u00edvel pelo or\u00e7amento, claro. E que se diga tamb\u00e9m que \u00e9 muita coisa que tenha conseguido evitar que em qualquer momento odi\u00e1ssemos a Satou.<\/p>\n
\n<\/strong>Happy Sugar Life<\/em> faz algo que outros mang\u00e1s j\u00e1 fizeram (Mahou Shoujo Site<\/em> vem \u00e0 mente): dar uma “pausa” na trama principal pr\u00f3ximo ao seu quarto final e despejar flashbacks sobre as personagens principais.Acho um jeito um tanto canhestro de desenvolver essas personagens. Pior ainda porque raramente isso \u00e9 traduzido ao anime de forma apropriada.<\/p>\n
\n<\/strong>Tente apenas dar a sinopse desse anime pra um desavisado sem ele te olhar torto. Fica ai o desafio :PMas uma coisa eu achei interessante nesse final foi a cena final de fato, aquele pequeno discurso da Shio. Sim, a menina claramente amadureceu muito al\u00e9m do que seria realista, mas todo aquele momento tem tanto um clima de terror, t\u00edpico daqueles filmes onde o inimigo sobrenatural nunca \u00e9 derrotado, apenas muda seu alvo, que eu achei genuinamente muito bom. Denota com perfei\u00e7\u00e3o a mensagem sobre um ciclo de desgra\u00e7a que s\u00f3 faz se propagar.<\/li>\n
\n<\/strong>Eu concordo. Est\u00e1 impl\u00edcito que a Shio perpetuar\u00e1 o ciclo vicioso. Se fosse o diretor, eu at\u00e9 enfatizaria isso mais.Terminaria com um time skip mostrando uma Shio j\u00e1 adolescente, cercada de garotos (como a Satou tamb\u00e9m era). Ent\u00e3o ela v\u00ea uma criancinha de cabelo rosa, parecida com a Satou, e sente o desejo aflorar. Talvez seu canino exposto ficasse at\u00e9 mais evidente. E a\u00ed n\u00f3s saber\u00edamos que ela virou uma nova Satou, para uma Shio de outra gera\u00e7\u00e3o.<\/p>\n
\n<\/strong>Quase tudo o que a gente diz que \u00e9 “defeito” deixa de ser se falarmos que o anime \u00e9 uma hist\u00f3ria de terror e a Satou na verdade \u00e9 uma entidade maligna que sempre vai assistir. E a cr\u00edtica social que o anime porventura tenha n\u00e3o desaparece.<\/li>\n
\n<\/strong>N\u00e3o apenas n\u00e3o desaparece, como se torna bem mais forte.<\/li>\n
\n<\/strong>N\u00e3o \u00e0 toa, ele est\u00e1 listado como “terror” no My Anime List.(Entre outras coisas, claro)<\/li>\n
\n<\/strong>Pois \u00e9, mas acho que ningu\u00e9m assistiu como anime de terror. E at\u00e9 seu visual, os enquadramentos, as express\u00f5es faciais, \u00e9 tudo obviamente linguagem de terror. Ser\u00e1 que muita gente “assistiu errado”? Se sim, por qu\u00ea?<\/li>\n
\n<\/strong>Tinha gente legitimamente torcendo pra Shio e a Satou ficarem juntas. N\u00e3o \u00e9 uma quest\u00e3o de “ser\u00e1”: tinha gente assistindo errado e ponto final\u00a0<\/li>\n
\n<\/strong>At\u00e9 a\u00ed, muita gente assiste filme de terror e torce pro monstro. Carrie \u00e9 o maior exemplo.Assisti ao \u00faltimo reboot no cinema. A galera levantava e aplaudia em p\u00e9 a cada morte\u00a0<\/li>\n
\n<\/strong>Mas pelo menos sabem que \u00e9 terror.Eu assisti o remaster de O Exorcista<\/em> com meus amigos e a gente tava vibrando tamb\u00e9m<\/li>\n
\n<\/strong>Acho que na nossa \u00e9poca terror ficou um tanto estigmatizado pelo jumpscare (pense Five Nights at Freddy’s<\/em>) e aquela praga do “seinen psicol\u00f3gico”. Basicamente, se n\u00e3o est\u00e1 tudo escuro, desbotado e n\u00e3o tem gore o pessoal associa a outra coisa.O que \u00e9 uma injusti\u00e7a ao pr\u00f3prio g\u00eanero. Muitos cl\u00e1ssicos de terror iam por vertentes totalmente diferentes. Os filmes do Hitchcock n\u00e3o tinham medo de apelar ao humor. O Homem de Palha<\/em> (1973), meu terror favorito, \u00e9 um musical todo colorido!<\/p>\n
\n<\/strong>E n\u00e3o esque\u00e7a do gorefest, estilo Another<\/em> e Higurashi.<\/em> <\/li>\n
\n<\/strong>Tem esse tamb\u00e9m! Faz tanto tempo que n\u00e3o vejo um que j\u00e1 tinha esquecido. <\/li>\n
\n<\/strong>Teve o excelente (ao contr\u00e1rio) Ousama Game<\/em> ano passado. <\/li>\n
\n<\/strong>Eu particularmente n\u00e3o vi o anime como terror, estava mais para uma aventura de suspense eletrizante, mas entendo perfeitamente os motivos de classificarem o anime como tal. E falando francamente, a Shio n\u00e3o estaria bem com ningu\u00e9m do enredo que cruzou o caminho dela, talvez, e nem tenho certeza, o irm\u00e3o seria uma boa op\u00e7\u00e3o.<\/li>\n
\n<\/strong>Vamos falar ent\u00e3o do cl\u00edmax em si? N\u00e3o vou dizer que foi mais impactante que a morte da Shouko, mas foi sem d\u00favida o que mais me deixou desconfort\u00e1vel nesses dois \u00faltimos epis\u00f3dios.O salto do pr\u00e9dio em chamas em si foi um exemplo de shinjuu (suic\u00eddio duplo), um trope comum da fic\u00e7\u00e3o japonesa. N\u00e3o sei quanto a voc\u00eas, mas ver a Satou e a Shio caindo foi para mim bastante desconcertante. Nem tanto pela morte, mas pelo tom com que revivemos aquelas mem\u00f3rias de sua vida em conjunto. Era como se o anime quisesse nos emocionar com sua hist\u00f3ria de amor.<\/li>\n
\n<\/strong>Eu acredito que a inten\u00e7\u00e3o era passar um sentimento de trag\u00e9dia, n\u00e3o realmente pelo “amor imposs\u00edvel” da Satou com a Shio, mas sim por toda a situa\u00e7\u00e3o que levou at\u00e9 aquele momento, a hist\u00f3ria de vida das duas, os problemas familiares de cada uma, e por ai vai.Uma sensa\u00e7\u00e3o de que as coisas n\u00e3o precisavam terminar daquela forma, mas terminaram por conta de uma longa cadeia de abusos e erros que, pra jogar sal na ferida, ainda devem continuar com a pr\u00f3pria Shio.<\/li>\n
\n<\/strong>Suic\u00eddio duplo \u00e9 um tropo comum de amor tr\u00e1gico, que n\u00e3o se pode realizar. Ent\u00e3o sim, o anime quis transmitir exatamente esse sentimento – por isso que exibiu tanto flashbacks quanto cenas de um futuro especulativo. Depois ficamos sabendo que aquilo tudo era imagina\u00e7\u00e3o da Satou, e n\u00e3o o enquadramento do pr\u00f3prio anime acerca da situa\u00e7\u00e3o.<\/li>\n
\n<\/strong>Falando de suic\u00eddio duplo e do criativo uso de elementos gr\u00e1ficos diferenciados em Happy Sugar Life<\/em>, os quais ajudam a criar a atmosfera buscada, lembrei de um filme bastante ic\u00f4nico, Double Suicide<\/em>, do diretor Masahiro Shinoda, de 1969, baseado em uma pe\u00e7a de 1721 de Monzaemon Shikamatsu, e que conforme o pr\u00f3prio nome diz, gira em torno de um suic\u00eddio duplo de um casal.O diferencial deste filme \u00e9 que ele usa atores vivos controlados por marionetistas, como se fosse o cl\u00e1ssico teatro de marionetes bunraku, para proporcionar uma vis\u00e3o fatalista do amor e da esperan\u00e7a e que os seres humanos s\u00e3o fantoches do destino. Mas talvez uma conquista ainda maior no filme seja a forma como apresenta uma mistura perfeita de artificial e humano. E Happy Sugar Life tamb\u00e9m brinca com essas quest\u00f5es, utilizando elementos n\u00e3o humanos, como potes quebrados e doces, para fazer uma analogia aos sentimentos dos personagens.<\/p>\n
\n<\/strong>Pe\u00e7a de 1721? Com um pouco de sorte estamos falando de um dos codificadores do tropo…<\/li>\n
\n<\/strong>\u00c9 poss\u00edvel. E no Ocidente temos Shakespeare com Romeu e Julieta<\/em>, que \u00e9 do s\u00e9culo XVI.<\/li>\n
\n<\/strong>Que foi acidental Mas o conceito de amor imposs\u00edvel \u00e9 similar, simSe n\u00e3o me engano o termo em ingl\u00eas para isso, “star crossed lovers<\/em>“, foi criado por Shakespeare, justamente em Romeu e Julieta<\/em><\/li>\n
\n<\/strong>Romeu e Julieta<\/em> n\u00e3o era baseado num conto folcl\u00f3rico da \u00e9poca, este baseado num mito ainda mais antigo? Ou qualquer coisa do tipo?Porque a hist\u00f3ria em si de amores imposs\u00edveis, da pra gente voltar at\u00e9 bem longe da mitologia, do pouco que me lembro.<\/li>\n
\n<\/strong>Sim, o amor imposs\u00edvel em si \u00e9 provavelmente t\u00e3o antigo quanto a civiliza\u00e7\u00e3o. Falei do termo em ingl\u00eas, de uso corrente.<\/li>\n
\n<\/strong>E s\u00f3 para constar, em japon\u00eas h\u00e1 um termo para suic\u00eddio duplo, Shinj\u016b<\/em>, o que j\u00e1 foi mencionado acho, mas o curioso \u00e9 que esse termo foi cunhado a partir da pe\u00e7a que eu citei acima, de 1791, Shinj\u016b Ten no Amijima<\/em> (The Love Suicides at Amijima<\/em>).Ent\u00e3o essa pe\u00e7a deve realmente ter marcado o in\u00edcio da popularidade deste tropo no Jap\u00e3o.<\/p>\n
\n<\/strong>Provavelmente tamb\u00e9m j\u00e1 era algo popular, mas a pe\u00e7a em quest\u00e3o codificou, na fic\u00e7\u00e3o, e no geral popularizou ainda mais o conceito, agora moldado segundo o que se viu na pe\u00e7a.Acho que o que diferencia o shinjuu do star-crossed lovers \u00e9 que, bem, o shinjuu \u00e9 de fato insolv\u00edvel. \u00c9 suic\u00eddio, morte. Para o simples amor imposs\u00edvel ocidental h\u00e1 v\u00e1rias solu\u00e7\u00f5es menos tr\u00e1gicas, e que se tornaram bastante populares na cultura.<\/p>\n
\n<\/strong>Vai continuar em grande medida porque n\u00e3o devem existir psic\u00f3logos nesse universo\u00a0<\/li>\n
\n<\/strong>Por tudo o que eu sei de fato a sa\u00fade mental \u00e9 desprezada no Jap\u00e3o, e na fic\u00e7\u00e3o em geral, em animes e mang\u00e1s muito em particular, psicologia \u00e9 uma \u00e1rea de pesquisa que simplesmente n\u00e3o existe.<\/li>\n
\n<\/strong>Vi algumas pessoas dizendo que a Satou “virou” no meio da queda, usando seu pr\u00f3prio corpo para proteger a Shio. Confesso que estava t\u00e3o atormentado que n\u00e3o reparei nisso. Voc\u00eas repararam?<\/li>\n
\n<\/strong>N\u00e3o lembro agora se virou, mas com certeza protegeu Shio. Ela \u00e9 muito maior, \u00f3bvio, ela se abra\u00e7ou a garotinha e acho que no momento final a deixou por cimaCom certeza notei a inten\u00e7\u00e3o, e sabendo disso tinha certeza que a Shio iria sobreviver. Porque fic\u00e7\u00e3o.<\/li>\n
\n<\/strong>Eu notei. S\u00f3 n\u00e3o tinha certeza que tinha funcionado at\u00e9 ver a Shio viva no hospital.<\/li>\n
\n<\/strong>Bom, falamos de muita coisa! Acho que podemos ir fechando por aqui ent\u00e3o.Coment\u00e1rios finais sobre Happy Sugar Life<\/em>?<\/li>\n
\n<\/strong>Um dos melhores animes do ano. Com a temporada final terr\u00edvel que j\u00e1 come\u00e7ou, ele n\u00e3o perde esse posto. E a cena do assassinato da Shouko \u00e9 uma que vai me acompanhar para sempre.<\/li>\n
\n<\/strong>Certamente uma experi\u00eancia diferente pra mim. \u00c9 um desses animes que eu teria completamente ignorado se n\u00e3o fosse pelo Caf\u00e9. A cena da Shouko de fato foi o ponto alto, mas \u00e9 uma produ\u00e7\u00e3o bastante s\u00f3lida de maneira geral, e fico feliz de ter acompanhando.<\/li>\n
\n<\/strong>Acho que podemos dizer que aquela cena foi… Shoukante?<\/li>\n
\n<\/strong>Todos a favor de deixarmos o F\u00e1bio de castigo no cantinho durante o pr\u00f3ximo Caf\u00e9 levantem a m\u00e3o o\/<\/li>\n
\n<\/strong>Podemos deixar ele de castigo na casa da tia da Satou. Pensando bem n\u00e3o, seria cruel demais<\/li>\n
\n<\/strong>Ainda bem que ela foi presa\u00a0 <\/li>\n
\n<\/strong>Falando em preso, como exatamente a policia chegou at\u00e9 o professor? \ud83d\ude1b <\/li>\n
\n<\/strong>N\u00e3o fa\u00e7o ideia. Talvez o mang\u00e1 tenha dado alguma pista? N\u00e3o cheguei a ler esse desenlace final. Nem sei se j\u00e1 foi escrito, ali\u00e1s.<\/li>\n
\n<\/strong>N\u00e3o que eu me importe tamb\u00e9m. Ele era um ped\u00f3filo abusador e foi preso. Estou feliz com isso.<\/li>\n
\n<\/strong>Chegando atrasado, tamb\u00e9m penso que Happy Sugar Life<\/em> foi um \u00f3timo anime. E a cena da morte da Shouko foi realmente Shoukante! Vai facilmente para a lista de maiores mortes dos animes dos \u00faltimos tempos.<\/li>\n
\n<\/strong>Concordo com tudo o que voc\u00eas disseram. Para mim, hospedar essa discuss\u00e3o de Happy Sugar Life foi uma grande aposta. Mesmo tendo lido parte do mang\u00e1, n\u00e3o fazia a m\u00ednima ideia se a hist\u00f3ria seria conclu\u00edda de uma forma satisfat\u00f3ria, se a transi\u00e7\u00e3o \u00e0s telas traduziria bem sua loucura – e, mais importante, se eu pr\u00f3prio estava gostando do que via.O resultado foi uma surpresa das mais agrad\u00e1veis, com uma cena em especial que entrar\u00e1 para os c\u00e2nones do anime contempor\u00e2neo. E tudo isso foi muito mais legal com a participa\u00e7\u00e3o de voc\u00eas aqui.<\/p>\n