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{"id":20356,"date":"2018-09-11T15:41:07","date_gmt":"2018-09-11T18:41:07","guid":{"rendered":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/?p=20356"},"modified":"2019-02-24T10:07:02","modified_gmt":"2019-02-24T13:07:02","slug":"anime-x-livro-gankutsuou-o-conde-de-monte-cristo","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/2018\/09\/11\/anime-x-livro-gankutsuou-o-conde-de-monte-cristo\/","title":{"rendered":"Anime x Livro: “Gankutsuou: O Conde de Monte Cristo”"},"content":{"rendered":"

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Muitos animes s\u00e3o baseados em mang\u00e1s. Outros tantos em games ou\u00a0visual novels.<\/em><\/p>\n

Mas existem tamb\u00e9m aqueles baseados em livros. E n\u00e3o digo apenas as\u00a0light novels\u00a0<\/em>t\u00e3o populares na Terra do Sol Nascente. Mas romances “inteiros”, para o p\u00fablico infanto-juvenil ou adulto, que j\u00e1 possuem um espa\u00e7o cimentado na literatura. E, em alguns casos, uma fama<\/strong>\u00a0que remonta a s\u00e9culos.<\/strong><\/p>\n

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Qu\u00e3o fi\u00e9is s\u00e3o essas adapta\u00e7\u00f5es? O que acontece com suas personagens, conflitos e ideias depois de transpostos \u00e0 era contempor\u00e2nea, ou ao mundo oriental? \u00c9 verdade que “o livro \u00e9 sempre melhor”?<\/p>\n

Se voc\u00ea j\u00e1 se perguntou essas coisas, \u00e9 com prazer que lhe dedico essa nova s\u00e9rie tem\u00e1tica do Finisgeekis. O projeto mais ambicioso, longo, trabalhoso e (por que n\u00e3o?)\u00a0baddass\u00a0<\/em>que esse site j\u00e1 viu.<\/p>\n

Anime x Livro\u00a0<\/em>tem como objetivo comparar romances da literatura com suas adapta\u00e7\u00f5es na telinha japonesa. Baseado no excelente\u00a0<\/em>Book vs. Film<\/a> do A.V. Club,\u00a0 a proposta \u00e9 sair do fla-flu e esmiu\u00e7ar essas s\u00e9ries (e livros) em detalhe.<\/p>\n

E para dar a largada, nada melhor que uma das mais ousadas adapta\u00e7\u00f5es da\u00a0m\u00eddia:\u00a0Gankutsuou: O Conde de Monde Cristo.\u00a0<\/em>A adapta\u00e7\u00e3o mais longa, complexa e diferente do cl\u00e1ssico de Alexandre Dumas j\u00e1 feita em qualquer formato.<\/p>\n

Uma aviso aos marinheiros de primeira viagem: esse artigo \u00e9\u00a0longo<\/strong>.\u00a0O Conde de Monte Cristo\u00a0<\/em>tem mais de 1000 p\u00e1ginas e o anime deixa muito pouco de fora.\u00a0Para facilitar a navega\u00e7\u00e3o, ele est\u00e1 dividido em se\u00e7\u00f5es que podem ser acessadas individualmente abaixo.<\/p>\n

AVISO (DESNECESS\u00c1RIO): Cont\u00e9m SPOILERS para\u00a0<\/em>O Conde de Monte Cristo\u00a0e\u00a0<\/em>Gankutsuou.<\/p>\n

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O Conde de Monte Cristo por Mead Schaeffer (1898-1980)<\/p><\/div>\n

O Conde de Monte Cristo <\/em>\u00e9 um dos maiores cl\u00e1ssicos da literatura mundial. Lan\u00e7ado em cap\u00edtulos entre 1844 e 1846, a obra se tornou um fen\u00f4meno imediato de p\u00fablico.<\/p>\n

Sua trama acompanha Edmond Dant\u00e8s, um jovem marinheiro de Marselha que parece ter vencido a loteria da vida. Noivo, promovido a capit\u00e3o do navio em que trabalhava, nada poderia lhe dar errado.<\/p>\n

Infelizmente para Dant\u00e8s, seus queridos amigos n\u00e3o s\u00e3o assim t\u00e3o queridos. Motivados pela inveja, tr\u00eas de seus companheiros montam um compl\u00f4 para coloc\u00e1-lo atr\u00e1s das grades. Acusado de bonapartismo logo ap\u00f3s a derrota de Napole\u00e3o, Edmond \u00e9 enviado \u00e0 pris\u00e3o para nunca mais sair.<\/p>\n

Para a sorte de Dant\u00e8s, ele n\u00e3o \u00e9 a \u00fanica alma tra\u00edda pela justi\u00e7a. No c\u00e1rcere, o jovem conhece um pol\u00edmata chamado Padre Faria, que lhe confia um grande segredo: um tesouro inestim\u00e1vel escondido na ilha de Monte Cristo, esperando ser descoberto. Com o passar do anos, os dois montam um plano para resgat\u00e1-lo.<\/p>\n

Faria n\u00e3o sobrevive \u00e0 fuga, mas Dant\u00e8s sim. E munido de uma riqueza infind\u00e1vel, com todo o conhecimento que recebeu do padre, decide criar para si uma outra identidade: O Conde de Monte Cristo, um nobre sem p\u00e1tria, sem passado e sem v\u00ednculos.<\/p>\n

Na pele desse estranho misterioso, Dant\u00e8s come\u00e7a a arquitetar um plano de vingan\u00e7a.\u00a0 A vingan\u00e7a mais completa, maquiav\u00e9lica, cruel e imprevis\u00edvel que qualquer um poderia conceber.<\/p>\n

Uma vingan\u00e7a t\u00e3o complexa que daria\u00a0ao Batman<\/a> uma li\u00e7\u00e3o de humildade. E faria leitores se descabelarem tentando acompanhar cada um de seus passos.<\/p>\n

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O mapa da vingan\u00e7a do Conde de Monte Cristo<\/p><\/div>\n

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Exibido entre 2004 e 2005, Gankutsuou<\/a>\u00a0<\/em>n\u00e3o foi para os animes o arrasa-quarteir\u00e3o que o livro de Dumas foi para a literatura. Mesmo assim, suas credenciais n\u00e3o podiam ser melhores.<\/p>\n

A obra \u00e9 assinada por ningu\u00e9m menos que Mahiro Maeda<\/a>, que conta no curr\u00edculo com\u00a0Animatrix: Segunda Renascen\u00e7a,<\/em>\u00a0Blue Submarine No 6<\/em>\u00a0e\u00a0o segmento animado de\u00a0Kill Bill.<\/em><\/p>\n

O anime adapta a hist\u00f3ria a um futuro distante e anacr\u00f4nico, em que aliens e naves espaciais dividem espa\u00e7o com dirig\u00edveis, carruagens e roupas do s\u00e9culo XIX. O cen\u00e1rio \u00e9 uma refer\u00eancia a\u00a0Estrelas O Meu Destino\u00a0<\/em>de Alfred Bester, cl\u00e1ssico do\u00a0sci fi<\/em>\u00a0que tamb\u00e9m homenageia a obra de Dumas.<\/p>\n

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Curiosamente, a maior diferen\u00e7a entre as obras n\u00e3o est\u00e1 no cen\u00e1rio espacial, mas em seu ponto de vista. Enquanto que Dumas nos conta sua hist\u00f3ria pelos olhos de Dant\u00e8s, Maeda nos coloca nos p\u00e9s de Albert de Morcerf, filho de Fernand Mondego, um dos alvos da vingan\u00e7a do Conde.<\/p>\n

Embora os eventos narrados sejam praticamente os mesmos, essa decis\u00e3o traz uma mudan\u00e7a dr\u00e1stica ao tom da s\u00e9rie. Se no livro Dant\u00e8s \u00e9 um anti-her\u00f3i se vingando daqueles que merecem, no anime ele se torna uma figura sinistra, manipulando pessoas e destruindo vidas para satisfazer o pr\u00f3prio \u00f3dio.<\/p>\n

At\u00e9 que ponto essas mudan\u00e7as s\u00e3o fieis ao esp\u00edrito do romance? Vamos por partes.<\/p>\n

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Os inimigos de Dant\u00e8s<\/h2>\n

Fernand Mondego, conde de Morcerf<\/strong><\/h3>\n

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N\u00e3o \u00e9 voc\u00ea o soldado Fernand que desertou na v\u00e9spera da batalha de Waterloo? N\u00e3o \u00e9 voc\u00ea o tenente Fernand que serviu de guia e espi\u00e3o ao ex\u00e9rcito franc\u00eas na Espanha? N\u00e3o \u00e9 voc\u00ea o coronel Fernand que traiu, vendeu e assassinou seu benfeitor Ali? E todos esses Fernands aqui reunidos n\u00e3o formam o general de divis\u00e3o conde de Morcerf, par de Fran\u00e7a?\u00a0(cap\u00edtulo XCII)<\/em><\/p>\n<\/blockquote>\n

Fernand Mondego \u00e9 o mais famoso dos inimigos de Dant\u00e8s – em algumas interpreta\u00e7\u00f5es, o \u00fanico. Rival amoroso de Edmond durante sua juventude, ele se une ao compl\u00f4 para conquistar o cora\u00e7\u00e3o de Merc\u00e8des, garota que disputa com o jovem.<\/p>\n

Mondego (ou Morcerf, como veio depois a se chamar) \u00e9 descrito como um covarde cr\u00f4nico, um militar p\u00e9rfido que sobe na vida surfando a mar\u00e9 da oportunidade –\u00a0 \u00e0s custas, muitas vezes, de seus aliados.<\/p>\n

Espanhol de ber\u00e7o, n\u00e3o teve problema em marchar contra a Espanha a servi\u00e7o da Fran\u00e7a, nem em trair a Fran\u00e7a a favor dos ingleses em 1815, quando o regime de Napole\u00e3o come\u00e7ava a desmoronar.<\/p>\n

Sua pior trai\u00e7\u00e3o, no entanto, aconteceu em 1822, quando se voluntariou como consultor de Ali Tebelin, o\u00a0pasha\u00a0<\/em>(governador) de Janina, na Gr\u00e9cia, em sua rebeli\u00e3o contra o Imp\u00e9rio Otomano. Seduzido pelos turcos, Mondego vendeu seu aliado \u00e0s for\u00e7as de sult\u00e3o, capturou sua mulher e filha e as leiloou como escravas.<\/p>\n

Por ser uma personagem t\u00e3o calcada em eventos hist\u00f3ricos, \u00e9 \u00f3bvio que Fernand sofreria as maiores mudan\u00e7as em\u00a0Gankutsuou<\/em>. No anime futurista de Maeda, o s\u00e9culo XIX \u00e9 uma lembran\u00e7a remota, e seu cen\u00e1rio geopol\u00edtico passa longe da complexidade do mundo de Dumas.<\/p>\n

Em\u00a0Gankutsuou<\/em>, o Imp\u00e9rio Otomano n\u00e3o existe, mas h\u00e1 de fato um “Imp\u00e9rio” que rege um “Quadrante Oriental”, com uma inimizade em rela\u00e7\u00e3o a Paris que reflete a desconfian\u00e7a para com os turcos durante boa parte da hist\u00f3ria europeia.<\/p>\n

Surpreendentemente, o epis\u00f3dio de Janina \u00e9 reproduzido nos m\u00ednimos detalhes, com direito a um planeta chamado “Janina” (na vida real, uma cidade na Gr\u00e9cia<\/a>).<\/p>\n

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O “planeta” Janina em Gankutsuou. Note que a catedral \u00e9 uma c\u00f3pia exata da Bas\u00edlica de Santa Sofia<\/a> em Constantinopla (atual Istambul).<\/p><\/div>\n

Mondego preservou seu car\u00e1ter como militar corrupto, embora sua personalidade tenha sofrido algumas mudan\u00e7as. Enquanto que no livro ele \u00e9 um traidor compulsivo, o general do anime \u00e9 um aspirante a ditador sedendo pela viol\u00eancia.<\/p>\n

No curso dos epis\u00f3dios, chega a conduzir campanhas militares\u00a0para firmar sua candidatura a presidente. Humilhado publicamente por Hayd\u00e9e (veja abaixo), decide dar um golpe de Estado que coloca Paris em rebuli\u00e7o.<\/p>\n

Nada disso existe no romance de Dumas, em que Fernand h\u00e1 muito j\u00e1 aposentou a espada, e a Fran\u00e7a, mon\u00e1rquica, n\u00e3o tinha presidentes.<\/p>\n

Villefort<\/strong><\/h3>\n

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Para seus amigos, M. de Villefort era um protetor poderoso; para seus inimigos, um advers\u00e1rio surdo, por\u00e9m ardoroso; para os indiferentes, era a est\u00e1tua da lei feita homem: atitude arrogante, fisionomia impass\u00edvel, olhar insosso e g\u00e9lido ou insolentemente afiado e perscrutador, tal era o homem que quatro revolu\u00e7\u00f5es habilmente empilhadas uma sobre a outra haviam constru\u00eddo, depois cimentado o pedestal. (cap\u00edtulo XLVIII)<\/em><\/p>\n<\/blockquote>\n

Se Mondego \u00e9 um mau-car\u00e1ter desde o come\u00e7o – um “pecador”, como Dumas nunca cansa de cham\u00e1-lo – Villefort \u00e9, \u00e0 primeira vista, uma alma atormentada.<\/p>\n

Ao contr\u00e1rio das outras personagens dessa lista, ele n\u00e3o \u00e9 um dos membros do compl\u00f4 contra Dant\u00e8s, mas o delegado que o recebe quando \u00e9 injustamente preso.<\/p>\n

Jovem, prestes a se casar com o amor de sua vida, ele simpatiza com o marinheiro de imediato.\u00a0 Infelizmente, o compl\u00f4 contra Dant\u00e8s acaba colocando sua pr\u00f3pria carreira em risco.<\/p>\n

Na carta bonapartista carregada por Edmond, Villefort encontra o nome de seu pai, M. Nortier. Como oficial da Coroa, ele sabe que aquele esc\u00e2ndalo pode trazer abaixo tudo o que construiu. Para garantir que a hist\u00f3ria n\u00e3o venha \u00e0 tona, ele prende Dant\u00e8s ilegalmente e o priva de qualquer recurso.<\/p>\n

O tempo passa, e Villefort se torna o mais severo procurador da Fran\u00e7a. Como se para compensar seu passado criminoso, ele se torna a personifica\u00e7\u00e3o da justiceiro hip\u00f3crita, usando a lei para esconder os esqueletos em seu arm\u00e1rio.<\/p>\n

Gankutsuou\u00a0<\/em>capturou bem os tra\u00e7os gerais de Villefort, embora sua personagem seja menos explorada que as outras. De todos os inimigos de Dant\u00e8s, Villefort \u00e9 o mais complexo. Para destrui-lo, o Conde se ampara em uma s\u00e9rie de detalhes da sua vida pessoal que o anime n\u00e3o aborda t\u00e3o bem quanto deveria.<\/p>\n

Villefort \u00e9 filho de Noirtier, um velho bonapartista que sofreu um derrame e s\u00f3 consegue mover uma das p\u00e1lpebras. Ele tem uma filha do primeiro casamento, Valentine, e um filho chamado \u00c9douard, da sua segunda esposa, H\u00e9lo\u00efse.<\/p>\n

Noirtier e Villefort se detestam por quest\u00f5es pessoais e pol\u00edticas. H\u00e9lo\u00efse detesta Valentine, pois a garota receber\u00e1 uma heran\u00e7a que, na sua opini\u00e3o, deveria ir para seu filho. Valentine, por sua vez, ama seu av\u00f4 Noirtier, que a protege de tudo e de todos – apesar de s\u00f3 ter uma p\u00e1lpebra para se comunicar!<\/p>\n

Complicado? E isso porque n\u00e3o falamos da Valentine, que vive um amor proibido com Maximilien Morrel, que \u00e9 filho de M. Morrel, dono do Pharaon, navio onde trabalharam Dant\u00e8s e Danglars, com cuja esposa…<\/p>\n

Enfim, \u00e9 coisa demais para 24 epis\u00f3dios, e os cortes foram inevit\u00e1veis. O cl\u00e3 Villefort aparece quase todo em cena, mas como resultado seu tempo de tela \u00e9 dramaticamente reduzido.<\/p>\n

Danglars<\/strong><\/h3>\n

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Danglars \u00e9 um daqueles homens de c\u00e1lculo que nascem com uma pluma atr\u00e1s da orelha e um pote de tinta no lugar do cora\u00e7\u00e3o. Tudo nesse mundo \u00e9 para ele subtra\u00e7\u00e3o ou multiplica\u00e7\u00e3o, e um n\u00famero lhe parece mais valioso que um homem, quando esse n\u00famero pode aumentar o total que este homem pode diminuir.\u00a0(cap\u00edtulo IX)<\/em><\/p>\n<\/blockquote>\n

Contador do\u00a0Pharaon, navio em que Dant\u00e8s trabalhava, Danglars \u00e9 o mais vil, mundano e asqueroso dos vil\u00f5es do romance.<\/p>\n

Movido por inveja a Edmond, que estava prestes a se tornar capit\u00e3o, o contador arquiteta o compl\u00f4 para tir\u00e1-lo de cena – e lucra horrores com a sua desgra\u00e7a.<\/p>\n

Com o passar dos anos, ele se torna um banqueiro influente, com tent\u00e1culos nos principais investimentos, cart\u00e9is e m\u00e1fias do mundo financeiro. A obsess\u00e3o pelo dinheiro se d\u00e1 \u00e0s custas de sua empatia com as outras pessoas – incluindo sua pr\u00f3pria fam\u00edlia.<\/p>\n

Sua filha, Eug\u00e9nie, \u00e9 tratada como uma moeda de troca, prometida e “desprometida” em casamento sem que sua opini\u00e3o sequer seja consultada. J\u00e1 sua esposa\u00a0usa sua fortuna para seus pr\u00f3prios fins, dormindo com uma legi\u00e3o de amantes que incluem o pr\u00f3prio Villefort.<\/p>\n

Dos tr\u00eas antagonistas de\u00a0Gankutsuou<\/em>, Danglars \u00e9 sem d\u00favida o mais fiel \u00e0 sua caracteriza\u00e7\u00e3o original.<\/p>\n

O costume design\u00a0<\/em>de Anna Sui<\/a>, utilizando texturas est\u00e1ticas em vez de cores tradicionais, traz sua caricatura \u00e0 vida. Danglars se veste com texturas de barras de ouro, em uma casa estampada por cifr\u00f5es e notas de d\u00f3lar.<\/p>\n

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No romance, ele \u00e9 contatado pelo Conde de Monte Cristo como um potencial cliente. Seduzido pela aparente riqueza do desconhecido, ele aceita dar ao conde um contrato de cr\u00e9dito ilimitado.<\/p>\n

Tudo parte do plano de Dant\u00e8s, que passa a exigir empr\u00e9stimos pesados enquanto manipula o mercado de a\u00e7\u00f5es para que ele perca investimentos. Pouco a pouco, toda a sua fortuna vai para o espa\u00e7o.<\/p>\n

O anime \u00e9 surpreendentemente fiel a esse plano, reproduzindo-o at\u00e9 nos m\u00ednimos detalhes. Danglars aceita o Conde como cliente ap\u00f3s receber uma carta de recomenda\u00e7\u00e3o do banco MM Thomson & French.<\/p>\n

A carta – e o banco – existem no livro original e constituem uma das muitas fachadas de Dant\u00e8s. N\u00e3o satisfeito em roubar dinheiro Danglars, o conde funda seu pr\u00f3prio banco (e cria uma identidade secreta como seu representante) para derrubar todo o sistema que o enriqueceu.<\/p>\n

\u00c9 preciso dar cr\u00e9dito ao Conde. N\u00e3o satisfeito em se vingar, ele tamb\u00e9m se tornou um empreendedor!<\/p>\n

Caderousse<\/h3>\n

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Uma segunda fortuna caiu para voc\u00ea do c\u00e9u, voc\u00ea reencontrou o dinheiro e a tranquilidade, voc\u00ea p\u00f4de recome\u00e7ar a viver a vida de todos os homens, voc\u00ea, que havia sido condenado a viver entre os presidi\u00e1rios. Mas ent\u00e3o miser\u00e1vel, ent\u00e3o voc\u00ea quis tentar a Deus uma terceira vez. Eu n\u00e3o tenho o suficiente, voc\u00ea disse, quando voc\u00ea tinha mais do que jamais havia possu\u00eddo. Voc\u00ea cometeu um terceiro crime, sem motivo, sem desculpas. Deus est\u00e1 cansado. Deus vai te punir.\u00a0(cap\u00edtulo LXXXIII)<\/em><\/p>\n<\/blockquote>\n

O Caderousse de Maeda \u00e9 t\u00e3o diferente de sua vers\u00e3o liter\u00e1ria que pode ser considerado uma outra personagem.<\/p>\n

Menos importante de todos os inimigos de Dant\u00e8s, Caderousse \u00e9 o \u00fanico que n\u00e3o se d\u00e1 bem com a sua ru\u00edna. Pelo contr\u00e1rio, ele \u00e9 tido como um eterno azarado, recebendo o carma pelas suas m\u00e1s a\u00e7\u00f5es assim que as comete.<\/p>\n

\u00c9 Caderousse quem Dant\u00e8s procura assim que escapa do Castelo d’If. Disfar\u00e7ado como um de seus alter-egos, o padre Busoni, Edmond lhe oferece um anel de diamante em troca do paradeiro de Villefort, Mondego e Danglars.<\/p>\n

Por gan\u00e2ncia, ele mata o joalheiro que contrata para avaliar a joia. O crime o leva \u00e0 pris\u00e3o, onde vira companheiro de cela de Benedetto, um criminoso inveterado que mais tarde seria recrutado pelo Conde, cumprindo um papel fundamental na sua vingan\u00e7a.<\/p>\n

Caderousse tenta extorquir Benedetto e at\u00e9 planeja roubar a mans\u00e3o de Dant\u00e8s quando descobre que ele est\u00e1 ajudando o ex-comparsa. O crime termina mal, e somos presenteados com uma das mais satisfat\u00f3rias cenas de morte do romance.<\/p>\n

Nada disso aparece no anime, em que Caderousse \u00e9 reduzido a uma exposi\u00e7\u00e3o ambulante, pincelando detalhes do enredo que escapam \u00e0s outras personagens.<\/p>\n

Triste fim para uma personagem que, desde a origem, n\u00e3o teve sorte na vida…<\/p>\n

O c\u00edrculo de Albert<\/strong><\/h2>\n

Albert de Morcerf<\/strong>\"\"<\/h3>\n
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Albert n\u00e3o era apenas um cavalheiro muito elegante, mas tamb\u00e9m um homem de muito esp\u00edrito. Mais ainda, ele era visconde: de nobreza jovem \u00e9 verdade, mas hoje em dia n\u00e3o se pede mais esse tipo de prova. Que importa se um t\u00edtulo data de 1399 ou de 1815?\u00a0(cap\u00edtulo XXXIV)<\/em><\/p>\n<\/blockquote>\n

Personagem secund\u00e1rio elevado a protagonista, Albert \u00e9 obviamente a personagem que mais sofreu modifica\u00e7\u00f5es na vis\u00e3o de Maeda.<\/p>\n

No livro, Albert \u00e9 o filho de Fernand Mondego e Merc\u00e9d\u00e8s, noiva de Edmond antes de seu aprisionamento. O jovem tem um imenso orgulho do pai, que considera um grande her\u00f3i militar.<\/p>\n

Ele \u00e9 a porta de entrada ao Conde \u00e0 Paris, tendo-o conhecido meses antes em Roma, durante o Carnaval.<\/p>\n

No anime, Albert se torna praticamente uma figura filial para o Conde. Mais jovem que sua contraparte liter\u00e1ria, o garoto \u00e9 a \u00e2ncora de humanidade que impede que o Conde se perca no labirinto da vingan\u00e7a.<\/p>\n

Em algumas cenas, como no clim\u00e1tico epis\u00f3dio 23, sua devo\u00e7\u00e3o chega a um n\u00edvel quase rom\u00e2ntico.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

O subtexto homoer\u00f3tico n\u00e3o existe no romance (pelo menos, n\u00e3o entre os dois). Nem a devo\u00e7\u00e3o de Albert ao Conde, que ofusca o carinho de Dant\u00e8s com outra personagem jogada no escanteio:<\/p>\n

Maximilien Morrel<\/strong><\/h3>\n

\"\"<\/p>\n

\n

Em seu regimento, Maximilien Morrel era citado como um r\u00edgido observador, n\u00e3o apenas de todas as obriga\u00e7\u00f5es impostas ao soldado, mas tamb\u00e9m de todos os deveres exigidos do homem, e ningu\u00e9m o chamava de outra coisa sen\u00e3o de “o estoico”. N\u00e3o \u00e9 preciso dizer que muitos dos que lhe davam esse ep\u00edteto o repetiam por t\u00ea-lo escutado e n\u00e3o sabiam eles pr\u00f3prios o que queria dizer.\u00a0(cap\u00edtulo XXX)<\/em><\/p>\n<\/blockquote>\n

Filho de M. Morrel, dono do navio em que Dant\u00e8s trabalhava, Maximilien \u00e9 o \u00fanico entre seus conhecidos de Paris que o Conde n\u00e3o apenas n\u00e3o odeia, mas abertamente ama.<\/p>\n

Edmond conheceu Maximilien quando era crian\u00e7a. Embora o jovem n\u00e3o mais o reconhe\u00e7a, o Conde esteve disposto a tudo para ajud\u00e1-lo. Retribui\u00e7\u00e3o ao seu pai, M. Morrel, que fez o poss\u00edvel e o imposs\u00edvel para tentar (inutilmente) tir\u00e1-lo da pris\u00e3o.<\/p>\n

O design de Maximilien \u00e9 um dos mais inusitados (e apropriados) de\u00a0Gankutsuou<\/em>. No livro, o jovem \u00e9 um capit\u00e3o de sipahis<\/a>, <\/em>regimento\u00a0inspirado na cavalaria otomana. No anime, ele \u00e9 reimaginado como um militar moderno, com uma farda austera que contrasta com a pompa nababesca de seus colegas.<\/p>\n

\u00c9 Maximilien, n\u00e3o Albert, que o Conde toma como filho adotivo. \u00c9 Maximilien a quem ele diz as famosas palavras\u00a0attendre et \u00e9sp\u00e9rer\u00a0<\/em>(“espere e tenha esperan\u00e7a”), o lema mais famoso do livro. E, finalmente, \u00e9 a ele – e \u00e0 sua namorada, Valentine de Villefort –\u00a0 que o Conde lega toda a sua fortuna quando sua vingan\u00e7a \u00e9 conclu\u00edda.<\/p>\n

(Sim, o Dant\u00e8s n\u00e3o morre ao final do romance. Mais sobre isso em “O destino do Conde”, l\u00e1 embaixo).<\/p>\n

Franz d\u2019\u00c9pinay<\/strong><\/h3>\n

\"\"<\/p>\n

\n

“Eu sou exc\u00eantrico, \u00e9 verdade, mas minha excentricidade n\u00e3o inclui retirar minha palavra depois que eu a tenha dado.”\u00a0(cap\u00edtulo LXVIII)<\/em><\/p>\n<\/blockquote>\n

Se Maximilien foi relegado ao banco de reservas, Franz d’\u00c9pinay, melhor amigo de Albert, sofreu o processo inverso.<\/p>\n

No romance, o jovem \u00e9 um personagem secund\u00e1rio, cuja principal fun\u00e7\u00e3o \u00e9 servir de\u00a0wingman<\/em> a Albert durante suas folias no carnaval de Roma. Franz \u00e9 noivo de Valentine, filha de Villefort e cumpre um papel importante na subtrama entre ela e Maximilien, seu amor verdadeiro.<\/p>\n

Assim que esse conflito se resolve, ele simplesmente sai de cena por quase todo o restante da hist\u00f3ria!<\/p>\n

Maeda deve ter achado que Dumas cometeu uma injusti\u00e7a. Pois Franz, de figurante, se tornou a personagem mais importante depois de Albert.<\/p>\n

Franz \u00e9 a voz da raz\u00e3o que se interp\u00f5e entre o amigo e o Conde. \u00c9 a partir dos olhos dele que vemos Monte-Cristo como algo mais sinistro do que aparenta \u00e0 primeira vista, amea\u00e7ando um Albert deslumbrado demais para enxergar onde pisa.<\/p>\n

Jovem honrado (e at\u00e9 cabe\u00e7a-dura), ele leva sua amizade aos \u00faltimos limites. Quando Albert desafia o Conde a um duelo (que, no livro, sequer acontece) ele dopa o amigo e vai disfar\u00e7ado em seu lugar.<\/p>\n

O resto, como dizem, \u00e9 hist\u00f3ria.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

Eug\u00e9nie Danglars<\/strong><\/h3>\n

\"\"<\/p>\n

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Mlle. Danglars era a mesma de sempre, quer dizer bela, fria, e debochada. Nenhum de seus olhares, nenhum dos suspiros de Andrea lhe fugiam. Pode-se dizer que eles eram defletidos pela coura\u00e7a de Minerva, coura\u00e7a que alguns fil\u00f3sofos dizem \u00e0s vezes remontar ao busto de Safo. (cap\u00edtulo LXXVI)<\/em><\/p>\n<\/blockquote>\n

A refer\u00eancia a Safo de Lesbos<\/a>, por si s\u00f3, diz tudo o que precisa ser tido sobre Eug\u00e9nie. Se Albert e o Conde viraram amantes na imagina\u00e7\u00e3o de Maeda, a filha de Danglars do livro gosta de outro tipo de fruta.<\/p>\n

Em\u00a0Gankutsuou<\/em>, Eug\u00e9nie \u00e9 a amiga de inf\u00e2ncia de Albert a quem ele foi prometido em casamento. Embora nenhum dos dois deseje a uni\u00e3o, eles acabam desenvolvendo sentimentos um pelo outro. Que culminam em um dos beijos mais emocionantes que j\u00e1 tive o prazer de ver num anime:<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

Longe de mero objeto de conquista, Eug\u00e9nie \u00e9 uma das principais aliadas de Albert e tamb\u00e9m seu term\u00f4metro, ao lado de Franz, que o avisam das maquina\u00e7\u00f5es do Conde.<\/p>\n

Nada disso poderia ser mais diferente da Eug\u00e9nie de Dumas, uma l\u00e9sbica apaixonada por sua professora de m\u00fasica, hostil a quase todas as personagens e que parece odiar homens como um todo.<\/p>\n

Eug\u00e9nie cumpre um papel central nos planos do Conde, mas nunca se envolve profundamente com nenhuma das personagens principais. Tal como sua contraparte em\u00a0Gankutsuou,\u00a0<\/em>tudo o que ela deseja \u00e9 abandonar a vida aristocr\u00e1tica e viver como artista ao lado de sua namorada.<\/p>\n

Coisa que de fato fez, com certa ajudinha do Conde. Em uma das passagens mais divertidas do romance, Eug\u00e9nie foge ao lado de sua amada, vestida de homem de maneira a evitar suspeitas.<\/p>\n

Maeda chegou a considerar incluir sua sexualidade original. Em um dos trailers do anime, vemos uma cena da garota com um\u00a0character design\u00a0<\/em>alternativo, beijando outra mulher:<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

\u00c9, no entanto, compreens\u00edvel porque Maeda n\u00e3o tenha insistido na ideia.<\/p>\n

Em uma adapta\u00e7\u00e3o relativamente curta (para os padr\u00f5es gigantescos do livro), n\u00e3o haveria muito espa\u00e7o para uma personagem secund\u00e1ria como a Eug\u00e9nie de Dumas. No pior dos casos, ela sofreria o mesmo problema da fam\u00edlia de Villefort: jogados ao escanteio por falta de tempo de TV.<\/p>\n

Maeda tamb\u00e9m quis tra\u00e7ar um paralelo entre o c\u00edrculo de Albert e o c\u00edrculo do pr\u00f3prio Dant\u00e8s antes de se tornar o vingador de Monte Cristo. No \u00faltimo epis\u00f3dio, nos \u00e9 mostrado um\u00a0flashback<\/em> de sua vida em Marselha, em que Dant\u00e8s, Merc\u00e8des e Fernand (na \u00e9poca, ainda amigos) brincam juntos na praia.<\/p>\n

A cena \u00e9 funcionalmente id\u00eantica ao\u00a0opening<\/em>, que mostra os amigos Albert, Franz e Eug\u00e9nie em um momento de descontra\u00e7\u00e3o:<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

Os asseclas do Conde<\/strong><\/h2>\n

Ali<\/strong><\/h3>\n

\"\"<\/p>\n

Ali n\u00e3o \u00e9 uma personagem central nem para o livro nem para o anime. O pr\u00f3prio fato de ter sido inclu\u00eddo, no entanto, mostra o esmero de\u00a0Gankutsuou<\/em> com seu material de origem.<\/p>\n

Na s\u00e9rie de Maeda, Ali \u00e9 um alien\u00edgena a servi\u00e7o do Conde. Em nenhum momento ele ergue a voz para questionar seu mestre – ou, na realidade, para qualquer outra coisa. O pr\u00f3prio Dant\u00e8s o descreve como “marionete”.<\/p>\n

Seu momento de gl\u00f3ria aparece quando salva H\u00e9lo\u00efse e Ed\u00f3uard de Villefort de um acidente de carruagem. Tudo \u00e9 parte de um plano do pr\u00f3prio Conde para seduzir a esposa de seu rival: colocando sua vida em risco para depois salv\u00e1-la e bancar o her\u00f3i.<\/p>\n

O epis\u00f3dio \u00e9 id\u00eantico \u00e0 sua contraparte no romance, com um detalhe peculiar. No livro, Ali \u00e9 um escravo mudo de um sult\u00e3o da Tun\u00edsia, cuja vida Dant\u00e8s salvou.<\/p>\n

A cena em que \u00c9douard “agradece” ao seu salvador xingando sua apar\u00eancia? Trata-se de um ataque racista do moleque ao escravo do Conde. Coisa que se repete em outros momentos da hist\u00f3ria – e que Dant\u00e8s n\u00e3o est\u00e1 disposto a perdoar:<\/p>\n

\n

– Na verdade – disse Monte-Cristo – sua Paris \u00e9 uma cidade estranha, e voc\u00eas parisienses um povo singular. Parece que \u00e9 a primeira vez que v\u00eaem um n\u00fabio. Veja como se comprimem ao redor do pobre Ali, que nem sabe o que isto quer dizer. Eu lhes respondo uma coisa: se um parisiense for, por exemplo, a T\u00fanis, a Constantinopla, a Bagd\u00e1 ou ao Cairo n\u00e3o se far\u00e1 um c\u00edrculo em torno dele. (cap\u00edtulo LIII)<\/em><\/p>\n<\/blockquote>\n

O assunto tinha uma import\u00e2ncia pessoal ao pr\u00f3prio Alexandre Dumas. Pardo, o escritor foi filho de Thomas-Alexandre Dumas, haitiano que se tornou general do ex\u00e9rcito napole\u00f4nico e militar negro mais condecorado da hist\u00f3ria da Europa:<\/p>\n

\"\"

General Thomas-Alexandre Dumas (1762-1806), pai de Alexandre Dumas<\/p><\/div>\n

Os coment\u00e1rios de \u00c9douard a Ali decerto n\u00e3o eram estranhos a ele – nem ao seu pai. E a invectiva de Monte-Cristo \u00e9, sem d\u00favida, algo que esperou muitas vezes escutar.<\/p>\n

Bertuccio<\/strong><\/h3>\n

\"\"<\/p>\n

\n

– O bom servidor para mim \u00e9 aquele sobre o qual eu tenho direito de vida ou de more.<\/p>\n

– E voc\u00ea tem direito de vida ou de morte sobre Bertuccio? – perguntou Albert<\/p>\n

– Sim – respondeu friamente o conde.<\/p>\n

H\u00e1 palavras que encerram a conversa como uma porta de ferro. O “sim” do conde foi uma destas palavras.\u00a0(cap\u00edtulo LXXXV)<\/em><\/p>\n<\/blockquote>\n

O capanga mais leal do Conde \u00e9 uma personagem curiosa. Levando em conta seu papel na obra original, Bertuccio consegue ser, a um s\u00f3 tempo, explorado de menos e demais na adapta\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Em\u00a0Gankutsuou<\/em>, o brutamontes de voz forte \u00e9 um s\u00edmbolo da metamorfose de Dant\u00e8s. De in\u00edcio um servo leal, Bertuccio se torna cada vez mais transtornado com a conduta s\u00e1dica de seu mestre.<\/p>\n

\u00c9 curioso, no entanto, que sua\u00a0backstory\u00a0<\/em>tenha sido completamente ignorada. Muito embora os eventos que protagonizou – e que o levaram a conhecer o Conde – estejam todos presentes no anime.<\/p>\n

No romance de Dumas, Bertuccio \u00e9 irm\u00e3o de um soldado de Napole\u00e3o, assassinado por um monarquista ao voltar para casa depois de Waterloo. Desesperado, ele procura o procurador local, que n\u00e3o \u00e9 ningu\u00e9m menos que Villefort.<\/p>\n

Sem vontade de se associar ao bonapartismo, Villefort se recusa a ajud\u00e1-lo. Indignado, Bertuccio decide fazer a justi\u00e7a com as pr\u00f3prias m\u00e3os. Ele segue o procurador at\u00e9 o quintal de sua casa e lhe fere com uma punhalada.<\/p>\n

Infelizmente, o plano n\u00e3o segue o esperado. Villefort sobrevive ao ferimento. Pior: Na sanha para fugir, Bertuccio descobre que o procurador estava enterrando um beb\u00ea, filho ileg\u00edtimo de Villefort com Mme. Danglars, com quem estava tendo um caso. Incapaz de deixar uma crian\u00e7a para morrer, ele a toma consigo.<\/p>\n

O\u00a0affair\u00a0<\/em>de Villefort e seu filho se tornar\u00e3o duas das pe\u00e7as-chaves no no plano de vingan\u00e7a do Conde, tanto no livre quanto no anime. Curiosamente, toda a atua\u00e7\u00e3o de Bertuccio \u00e9 omitida na vers\u00e3o de Maeda. Em\u00a0Gankutsuou,\u00a0<\/em>o beb\u00ea \u00e9 encontrado por um servo qualquer, e o capanga n\u00e3o demonstra o menor conhecimento de Villefort.<\/p>\n

Hayd\u00e9e<\/strong><\/h3>\n

\"\"\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0<\/strong><\/h3>\n
\n

Sua cabe\u00e7a estava coberta por uma pequena touca de ouro bordada com p\u00e9rolas, tombada para um lado, e debaixo da touca, do lado em que se inclinava, uma bela rosa de cor p\u00farpura se misturava a cabelos t\u00e3o negros que pareciam azuis.<\/p>\n

Quanto \u00e0 beleza daquele rosto, era a beleza grega em toda a perfei\u00e7\u00e3o de seu tipo, com seus grandes olhos negros aveludados, seu nariz retil\u00edneo, seus l\u00e1bios de coral e seus dentes de p\u00e9rola.\u00a0(Cap\u00edtulo XLIX)<\/em><\/p>\n<\/blockquote>\n

Escrava alien\u00edgena a servi\u00e7o do Conde, Hayd\u00e9e \u00e9, a princ\u00edpio, a personagem mais distante das intrigas mediterr\u00e2neas da obra de Dumas. \u00c9 impressionante, assim, que consiga ser tamb\u00e9m a personagem mais fiel de todas ao livro.<\/p>\n

E n\u00e3o falo apenas de seu character design<\/em>, que reproduziu perfeitamente a beleza ex\u00f3tica que o autor lhe atribui – incluindo at\u00e9 seus cabelos azulados, como se pode ler acima.<\/p>\n

Hayd\u00e9e \u00e9 singular por ser quase uma personagem hist\u00f3rica. Na trama, ela \u00e9 filha de Ali Tebelin, o\u00a0pasha\u00a0<\/em>otomano que tentou se rebelar contra o sult\u00e3o – e foi tra\u00eddo por Fernand Mondego.\u00a0Foram Hayd\u00e9e e sua m\u00e3e que Fernand vendeu como escravas depois do epis\u00f3dio de Janina.<\/p>\n

Tebelin de fato existiu<\/a>. E, a despeito de ser um alien do “Quadrante Oriental”, sua vers\u00e3o de\u00a0Gankutsuou\u00a0<\/em>\u00e9 incrivelmente fiel ao l\u00edder hist\u00f3rico:<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

Hayd\u00e9e possui uma rela\u00e7\u00e3o amb\u00edgua para com o Conde. Dant\u00e8s a trata como escrava em p\u00fablico, mas parece t\u00ea-la como filha em particular. Em dado momento, at\u00e9 tenta uni-la com Maximilien, at\u00e9 descobrir sua paix\u00e3o secreta por Valentine.<\/p>\n

Ao mesmo tempo, a garota parece ter um afeto por ele que vai al\u00e9m do familiar. At\u00e9 que ponto se amor \u00e9 correspondido \u00e9 algo que Dumas deixa a cargo da nossa imagina\u00e7\u00e3o. O livro termina com ambos partindo juntos \u00e0 Janina para nunca mais serem vistos.<\/p>\n

Esse amor complicado (para dizer o m\u00ednimo) n\u00e3o aparece em\u00a0Gankutsuou.\u00a0<\/em>Mesmo assim, a estranhice de sua rela\u00e7\u00e3o chega a ser comentada por Albert.<\/p>\n

Ao ser questionado do v\u00ednculo entre os dois, ele comenta que \u00e9 uma “rela\u00e7\u00e3o comum entre dois adultos”. O jovem se encabula, percebendo que nem ele sabe o que quer dizer com isso.<\/p>\n

<\/a><\/p>\n

\"\"<\/a><\/h2>\n

\u00a0O carnaval de Roma<\/strong><\/h3>\n

\"\"<\/p>\n

Ao contr\u00e1rio do livro de Dumas, Gankutsuou\u00a0<\/em>come\u00e7a sua hist\u00f3ria\u00a0in media res.\u00a0<\/em>Somos apresentados ao Conde no carnaval de Roma, quando Albert conhece Dant\u00e8s pela primeira vez.<\/p>\n

Todos os detalhes sobre seu passado, de sua romance com Merc\u00e9d\u00e8s ao seu per\u00edodo na pris\u00e3o, s\u00e3o revelados apenas muito depois, por meio de\u00a0flashbacks\u00a0<\/em>e infodumps.\u00a0<\/em><\/p>\n

A despeito da mudan\u00e7a de foco, o epis\u00f3dio em si \u00e9 uma das partes mais fi\u00e9is \u00e0 hist\u00f3ria original.<\/p>\n

“Roma” \u00e9 trocada por Luna, uma col\u00f4nia humana na Lua. Todos os seus detalhes, no entanto (inclusive a presen\u00e7a da Santa S\u00e9!) s\u00e3o mantidos exatamente como no livro.<\/p>\n

Albert e seu amigo Franz est\u00e3o buscando um lugar para curtir a folia quando se encontram com o Conde, que se oferece para cicerone\u00e1-los.<\/p>\n

Tudo vai bem, at\u00e9 que Albert decide se aventurar pelos inferninhos da noite. Ele \u00e9 sequestrado por Luigi Vampa, um dos bandidos mais perigosos da It\u00e1lia. Para sua surpresa, o Conde aparece para salv\u00e1-lo. A mera presen\u00e7a de Monte-Cristo \u00e9 suficiente para intimidar o bandido, que liberta seu ref\u00e9m de imediato.<\/p>\n

Do epis\u00f3dio nasce uma amizade entre Albert e o Conde, e um convite para que Dant\u00e8s venha visit\u00e1-lo em Paris. Tudo parte do plano de Edmond: Albert \u00e9 o filho de seu inimigo Fernand, e ele pretende us\u00e1-lo de ferramenta para se aproximar do rival.<\/p>\n

Gankutsuou<\/em>\u00a0traz, no entanto, uma pequena diferen\u00e7a em rela\u00e7\u00e3o ao livro.<\/p>\n

No anime, o Conde convida Albert e Franz para assistir a uma execu\u00e7\u00e3o em pra\u00e7a p\u00fablica. Por\u00e9m, antes que o carrasco fa\u00e7a seu servi\u00e7o, revela que possui uma carta de anistia escrita por um cardeal.<\/p>\n

Em vez de salvar a vida do criminoso que considera menos culpado, o Conde decide apostar o destino em um jogo de cartas, com Albert como executor. A despeito dos protestos de Franz, o jovem participa e acaba, inadvertidamente, salvando a pele do pior dos condenados.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

A cena \u00e9 um soco no est\u00f4mago n\u00e3o apenas de Albert, mas tamb\u00e9m do espectador. Seduzidos pela ideia de que o Conde seria um her\u00f3i (ele \u00e9, afinal, a personagem titular!) somos apresentados a um homem calculista, arbitr\u00e1rio e s\u00e1dico.<\/p>\n

Sua contraparte no romance \u00e9 menos dram\u00e1tica que no anime, por\u00e9m mais significativa. O relevante nela n\u00e3o \u00e9 sequer a execu\u00e7\u00e3o em si, mas o que acontece imediatamente depois.<\/p>\n

Ao descobrir que o homem ao seu lado foi anistiado, um dos criminosos tem um ataque de raiva. “Eu n\u00e3o vou morrer sozinho!” ele grita “\u00c9 injusto! Ele tem que morrer tamb\u00e9m!”.<\/p>\n

O protesto provoca gargalhadas no Conde, que emenda com um dos seus melhores discursos do livro:<\/p>\n

\n

– Coloque dois carneiros no a\u00e7ougue, dois bois no abatedouro e fa\u00e7a compreender a um que seu companheiro n\u00e3o morrer\u00e1.\u00a0O carneiro balir\u00e1 de alegria, o boi mugir\u00e1 de prazer, mas o homem, o homem que Deus fez \u00e0 sua imagem, o homem a quem Deus imp\u00f4s por primeira, por \u00fanica, por suprema lei o amor de seu pr\u00f3ximo, o homem a quem Deus deu uma voz para exprimir seu pensamento, qual ser\u00e1 seu primeiro grito quando descobrir que seu camarada est\u00e1 a salvo? Uma blasf\u00eamia. Honra ao homem, este mestre de obras da natureza, este rei da cria\u00e7\u00e3o!<\/p>\n

E o conde irrompeu em riso, mas um riso terr\u00edvel que indicava que ele havia tido de sofrer terrivelmente para chegar a rir de tal maneira.\u00a0(cap. XXXV)<\/em><\/p>\n<\/blockquote>\n

\u00c9 um\u00a0foreshadow\u00a0<\/em>brutal do que est\u00e1 por vir, e uma prova definitiva de que o Dant\u00e8s que vimos no come\u00e7o n\u00e3o \u00e9 mais o mesmo homem.<\/p>\n

Tal como o condenado na pra\u00e7a p\u00fablica, o Conde de Monte-Cristo \u00e9 um esp\u00edrito distorcido pelo \u00f3dio, que s\u00f3 quer ver seus rivais sofrerem. Custe o que custar.<\/p>\n

A noite na \u00f3pera<\/strong><\/h3>\n

\"\"<\/p>\n

Depois de se despedirem em Roma, o conde aceita o convite de Albert e compra um palacete nos Champs-Elys\u00e9es, disposto a integrar a sociedade parisiense.<\/p>\n

Aqueles que j\u00e1 visitaram Paris sabem que a avenida \u00e9 um espet\u00e1culo \u00e0 parte. Nada, contudo, se compara \u00e0 sua mans\u00e3o no anime, um\u00a0underground\u00a0<\/em>nababesco que parece desafiar as leis da f\u00edsica.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

Mas nem s\u00f3 de pal\u00e1cios vive um nobre. Para se introduzir aos c\u00edrculos dos aristocratas, o Conde decide atender a uma noite na \u00f3pera.<\/p>\n

Sua\u00a0date\u00a0<\/em>\u00e9 ningu\u00e9m menos que Hayd\u00e9e, que faz queixos ca\u00edrem, bochechas corarem e olhos revirarem com sua beleza fora da s\u00e9rie e seu vestido impossivelmente luxuoso.<\/p>\n

\n

Ao fim de um instante, a jovem mulher se tornou o objeto de aten\u00e7\u00e3o n\u00e3o s\u00f3 da plateia, mas de toda a sala; as mulheres se debru\u00e7avam para fora dos camarotes para ver jorrar sob o fogo dos lustres aquela catarata de diamantes. (cap\u00edtulo LIII)<\/em><\/p>\n<\/blockquote>\n

\"\"<\/p>\n

A tomada \u00e9 um dos pontos fortes do anime. O corpo da garota, coberto com mais pedras do que caberia em uma joalheria, foi animado completamente em CG. O resultado salta aos olhos mesmo em uma s\u00e9rie como\u00a0Gankutsuou<\/em>, cuja dire\u00e7\u00e3o de arte \u00e9 tudo menos discreta.<\/p>\n

Infelizmente, Hayd\u00e9e estaria fadada a roubar a cena de outra forma. Do alto de seu camarote, a garota enxerga Fernand Mondego. Reconhecendo o rosto do homem que a vendeu \u00e0 escravid\u00e3o, ela fica transfigurada:<\/p>\n

Naquele momento, Hayd\u00e9e, que buscava os olhos do conde, reconheceu sua cabe\u00e7a p\u00e1lida ao lado daquela de M. de Morcerf, que o envolvia em um abra\u00e7o.<\/p>\n

Aquela vis\u00e3o produziu na jovem garota o efeito da cabe\u00e7a da Medusa. Ela fez um movimento como se quisesse devorar a ambos com o olhar, depois, quase ao mesmo tempo, jogou-se para tr\u00e1s soltando um grito d\u00e9bil, que foi no entanto ouvido pelas pessoas mais pr\u00f3ximas dela e de Ali, que ent\u00e3o abria a porta.<\/p>\n[…]\n

– Ah! O miser\u00e1vel! – exclamou Hayd\u00e9e – \u00c9 ele que me vendeu aos turcos!<\/p>\n<\/blockquote>\n

\"\"<\/p>\n

A cena da \u00f3pera \u00e9 um daqueles momentos em que a adapta\u00e7\u00e3o supera seu material de origem. O misto de ostenta\u00e7\u00e3o visual, dire\u00e7\u00e3o competente e trilha sonora arrepiante passa uma tens\u00e3o maior que a prosa seca de Dumas – e estupidamente melhor que qualquer outra adapta\u00e7\u00e3o da obra que conhe\u00e7o.<\/p>\n

Infelizmente, o que \u00e9 bom dura pouco. A despeito de seus acertos, o anime de Maeda logo derrapa em uns pontos chaves.
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<\/a><\/p>\n

\"\"<\/a><\/h2>\n

O jantar em Auteuil<\/strong><\/h3>\n

\"\"<\/p>\n

Logo depois de causar um furor na sociedade parisiense, o Conde de Monte Cristo decide convidar seus inimigos a um jantar. O local? Uma casa de campo em Auteuil, perto de Paris.<\/p>\n

Embora pague de anfitri\u00e3o cordial, as inten\u00e7\u00f5es de Dant\u00e8s est\u00e3o longe de ser puras. O local era uma antiga casa de Villefort, que o procurador vendeu depois de cometer um grave crime.<\/p>\n

Anos antes, foi l\u00e1 que ele e Mme. Danglars, vivendo um\u00a0affair\u00a0<\/em>\u00e0s custas do marido, enterraram um beb\u00ea nascido de sua rela\u00e7\u00e3o. Ao ser trazido de volta \u00e0quele lugar, Villefort se sente imediatamente intimidado.<\/p>\n

Dant\u00e8s n\u00e3o p\u00e1ra por a\u00ed. Ele aproveita a situa\u00e7\u00e3o para apresentar ao c\u00edrculo um certo Andrea Cavalcanti, nobre italiano de muito boa fam\u00edlia. O “pr\u00edncipe” \u00e9 na verdade um criminoso de carreira chamado Benedetto – o mesmo que dividiu cela com Caderousse.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

\u00c9 no jantar em Auteuil que seu plano de vingan\u00e7a come\u00e7a a tomar forma. Infelizmente, \u00e9 tamb\u00e9m a\u00ed que a hist\u00f3ria de\u00a0Gankutsuou\u00a0<\/em>come\u00e7a a desviar bruscamente do romance.<\/p>\n

Em vez de confiar no espectador para formar suas pr\u00f3prias conclus\u00f5es, o Conde do anime decide for\u00e7ar a barra, convidando todos a participar de uma “ca\u00e7a ao tesouro” para descobrir as pistas de um antigo crime.<\/p>\n

O crime em quest\u00e3o, \u00e9 o enterro do beb\u00ea de Villefort e Mme. Danglars. Recado que os dois entendem imediatamente.<\/p>\n

\u00c9 uma apela\u00e7\u00e3o digna de um filme de terror B, que faz todos os presentes suspeitarem imediatamente do Conde. O fato da mans\u00e3o de Auteuil parecer o castelo do Dr\u00e1cula s\u00f3 torna a cena mais tacanha.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

Acreditar que um mestre calculista como Dant\u00e8s faria uma provoca\u00e7\u00e3o t\u00e3o amadora \u00e9 uma incoer\u00eancia de co\u00e7ar a cabe\u00e7a.<\/p>\n

A situa\u00e7\u00e3o s\u00f3 piora com a pr\u00f3xima “artimanha” que apronta. Dois epis\u00f3dios depois, Edmond envia uma carta (assinada com seu pr\u00f3prio nome!) a todos os membros de seu compl\u00f4.<\/p>\n

O\u00a0twist\u00a0<\/em>\u00e9 um recurso para introduzir os espectadores ao passado de Dant\u00e8s, que at\u00e9 esse ponto n\u00e3o tinha sido abordado. Na pr\u00e1tica, parece uma par\u00f3dia de\u00a0Eu Sei o que Voc\u00eas Fizeram no Ver\u00e3o Passado.\u00a0<\/em><\/p>\n

O resultado \u00e9 que todos todos os inimigos de Dant\u00e8s come\u00e7am a trocar suspeitas sobre o Conde, coisa que o Edmond do livro jamais deixou acontecer. T\u00e3o cuidadoso ele \u00e9, na verdade, que at\u00e9 mesmo evita reuni-los no mesmo lugar! No romance, Dant\u00e8s convida os Villeforts e Danglars ao jantar, mas n\u00e3o os Morcerf.<\/p>\n

A tramoia for\u00e7a Gankutsuou<\/em> a apelar a uma s\u00e9rie de contor\u00e7\u00f5es narrativas para que a hist\u00f3ria volte aos trilhos. Comparado ao in\u00edcio e ao fim, fi\u00e9is \u00e0 prosa de Dumas, isto faz a por\u00e7\u00e3o central do anime parecer muito mais fraca que o resto.<\/p>\n

Franz e Noirtier<\/strong><\/h4>\n

\"\"<\/p>\n

Paralelo \u00e0 vingan\u00e7a de Dant\u00e8s,\u00a0O Conde de Monte Cristo\u00a0<\/em>nos conta a hist\u00f3ria de Maximilien e Valentine, dois pombinhos vivendo um amor imposs\u00edvel.<\/p>\n

Maximilien, como dito acima, \u00e9 um pobre soldado, filho de M. Morrel, ex-patr\u00e3o de Edmond quando ele era marinheiro. Valentine \u00e9 a filha do procurador Villefort, uma aristocrata prometida a Franz d’\u00c9pinay em um casamento arranjado.<\/p>\n

Na sua luta para fugir do destino armado pelo pai, a jovem tem apenas um aliado: seu av\u00f4 Noirtier, que vive paralisado devido a um derrame.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

A situa\u00e7\u00e3o \u00e9 complicada por fatos que est\u00e3o al\u00e9m de seu controle. Valentine \u00e9 filha do primeiro casamento de Villefort, que agora vive com outra mulher, H\u00e9lo\u00efse.<\/p>\n

Temendo que a garota roube a heran\u00e7a de seu filho, a madrasta arma para que Valentine seja assassinada. Tudo com o apoio de Monte-Cristo, que lhe ensina um ou dois truques sobre envenenamento.<\/p>\n

\"\"

E algumas “coisas” mais<\/p><\/div>\n

Esse\u00a0sub-plot\u00a0<\/em>d\u00e1 as caras em\u00a0Gankutsuou.<\/em>\u00a0Infelizmente, \u00e9 levado para destinos siderais.<\/p>\n

Em dado momento, Valentine tomba comatosa, v\u00edtima do veneno de H\u00e9lo\u00efse. Franz e Maximilien (que, no livro, s\u00e3o rivais amorosos) se unem para sequestr\u00e1-la junto com seu av\u00f4.<\/p>\n

Noirtier (que n\u00e3o consegue mais falar) aproveita a ocasi\u00e3o para plugar sua consci\u00eancia \u00e0 de Franz. E lhe passa o\u00a0infodump <\/em>dos\u00a0infodumps<\/em>,\u00a0narrando a verdade sobre o Castelo d’If, a vingan\u00e7a de Edmond e outras coisas que nem Franz, nem eu (nem, imagino, ele) entenderam direito.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

N\u00e3o h\u00e1 nada no romance minimamente parecido com essa cena.<\/p>\n

A amizade entre Franz e Maximilien n\u00e3o existe. Franz, como bom noivo oitocentista, n\u00e3o d\u00e1 a m\u00ednima para sua futura esposa.\u00a0 O sequestro n\u00e3o acontece. Noirtier n\u00e3o faz nenhuma revela\u00e7\u00e3o sobre o passado de Dant\u00e8s –\u00a0 pelo contr\u00e1rio, sequer sabe das coisas que Maeda coloca em sua boca.<\/p>\n

Mesmo assim, por mais fantasiosa que seja, a cena \u00e9 uma jogada de mestre como adapta\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Ao atribuir uma grande exposi\u00e7\u00e3o a duas personagens secund\u00e1rias, Maeda encontrou um jeito de nos passar parte da backstory\u00a0<\/em>que Dumas leva mais de 1000 p\u00e1ginas para construir.\u00a0E ainda acrescentar detalhes importantes de sua pr\u00f3pria\u00a0lore\u00a0<\/em>que a transi\u00e7\u00e3o para o\u00a0sci fi\u00a0<\/em>acabou exigindo.<\/p>\n

N\u00e3o fosse o bastante, ainda tivemos um velhinho\u00a0badass\u00a0<\/em>desparafusando sua m\u00e3o rob\u00f3tica para revelar uma caneta m\u00e1gica. Qu\u00e3o legal \u00e9 isso? Dumas que me perdoe. Maeda ganhou essa.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

O Duelo<\/strong><\/h3>\n

\"\"<\/p>\n

Se o jantar em Auteuil \u00e9 quando a trilha de domin\u00f3 de Dant\u00e8s termina de ser montada, seu duelo com Albert \u00e9 quando a primeira pe\u00e7a leva o peteleco.<\/p>\n

Tudo come\u00e7a quando rumores sobre o passado de Mondego come\u00e7am a circular em Paris. Enfurecido pelas not\u00edcias, Albert acusa Beauchamp, seu amigo jornalista, de espalhar mentiras sobre a sua fam\u00edlia.<\/p>\n

N\u00e3o demora para que ele perceba que a fonte do esc\u00e2ndalo \u00e9 outra: Hayd\u00e9e, a protegida do Conde, que denuncia Mondego em foro p\u00fablico.<\/p>\n

Procurado pelo jovem, Edmond o insulta de prop\u00f3sito para que o desafie a um duelo. Novamente, tudo parte de seu plano: sujar o nome de seu rival e matar seu filho em uma \u00fanica tacada.<\/p>\n

O epis\u00f3dio \u00e9 importante nem tanto pelo duelo em si, mas pelo que acontece imediatamente antes dele. Na v\u00e9spera do combate, o Conde recebe a visita de Merc\u00e9d\u00e8s, que lhe diz palavras que nem ele, nem o leitor, esperavam ouvir:<\/p>\n

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– Edmond – disse ela – voc\u00ea n\u00e3o matar\u00e1 meu filho!<\/p>\n

O Conde deu um passo atr\u00e1s, soltou um grito d\u00e9bil e deixou cair a arma que segurava.<\/p>\n

– Que nome \u00e9 esse que voc\u00ea pronunciou, madame de Morcerf? – disse ele.<\/p>\n

– O seu! – ela exclamou, removendo seu v\u00e9u – o seu que talvez apenas eu, de todos, nunca esqueci. N\u00e3o \u00e9 a Mme. de Morcerf que vem at\u00e9 voc\u00ea, Edmond, \u00e9 Merc\u00e9d\u00e8s.<\/p>\n

– Merc\u00e9d\u00e8s est\u00e1 morta, madame – disse Monte-Cristo – e eu n\u00e3o conhe\u00e7o ningu\u00e9m com esse nome.<\/p>\n

– Merc\u00e9d\u00e8s vive, monsieur, e Merc\u00e8d\u00e9s se lembra, pois apenas ela o reconheceu assim que ela o viu, e mesmo antes de v\u00ea-lo, assim que ouviu sua voz, Edmond, o sotaque da sua voz. E desde aquele momento ela o segue passo a passo, ela o espiona, ela o teme e ela n\u00e3o tem necessidade de procurar a m\u00e3o de onde partir\u00e1 o golpe que matar\u00e1 M. de Morcerf. (cap\u00edtulo LXXXIV)<\/em><\/p>\n<\/blockquote>\n

O encontro \u00e9 um baque na confian\u00e7a do Conde, que finalmente se d\u00e1 conta de\u00a0 duas coisas. Primeiro que seu disfarce n\u00e3o \u00e9 t\u00e3o bom quanto imaginava.<\/p>\n

Segundo que, na sanha para se vingar de quem o injusti\u00e7ou, ele pode acabar fazendo inocentes sofrer. Incluindo, entre eles, o antigo amor de sua vida.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

O duelo \u00e9 um momento crucial tanto no anime quanto no filme por motivos radicalmente opostos.<\/p>\n

No livro, \u00e9 a acusa\u00e7\u00e3o de perf\u00eddia, mais do que qualquer outra coisa, que motiva Albert a procurar as armas.<\/p>\n

Desde a sua primeira apari\u00e7\u00e3o, ele \u00e9 descrito como um jovem orgulhoso e valente. \u00c9 essa bravura que o leva a explorar as ruas de Roma e cair nos bra\u00e7os de Luigi Vampa.<\/p>\n

Seu\u00a0role model<\/em>\u00a0para tudo isso n\u00e3o \u00e9 outro que seu pai. Da\u00ed o baque que sente ao saber que seu her\u00f3i \u00e9 um covarde que fraudou seu t\u00edtulo de nobreza.<\/p>\n

No anime, pelo contr\u00e1rio, Albert \u00e9 descrito como um menino carente de uma figura paterna. Ele n\u00e3o d\u00e1 a m\u00ednima para\u00a0o que\u00a0<\/strong>o Conde lhe diz. \u00c9 o fato de t\u00ea-lo enganado, de n\u00e3o reciprocar o afeto que sente, que o machuca.<\/p>\n

Isso torna Albert uma personagem mais humana e pr\u00f3xima da \u00e9poca atual. Infelizmente (e talvez justamente por isso), tamb\u00e9m o faz parecer um chor\u00e3o.<\/p>\n

O julgamento \u00e9 enfatizado pela interven\u00e7\u00e3o de Merc\u00e9d\u00e8s, que chora aos bra\u00e7os de Bertuccio dizendo que “seu beb\u00ea n\u00e3o sabe o que faz”. De aristocrata do Segundo Imp\u00e9rio, a nobre virou uma m\u00e3e helic\u00f3ptero.<\/p>\n

N\u00e3o era exatamente o que Dumas tinha em mente com suas personagens.
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\u00a0O destino de H\u00e9lo\u00efse e \u00c9douard de Villefort<\/strong><\/h3>\n

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Depois de aprender sobre venenos com o Conde de Monte-Cristo, H\u00e9lo\u00efse de Villefort pegou gosto pela coisa.<\/p>\n

A primeira a morrer foi a av\u00f3 de Valentine. Depois um criado e a pr\u00f3pria garota. A bomba-rel\u00f3gio finalmente explode na cara de Villefort, que descobre que est\u00e1 na capa do maior esc\u00e2ndalo da hist\u00f3ria de Paris.<\/p>\n

Afinal, como confiar na justi\u00e7a quando o procurador do rei acoberta um\u00a0serial killer\u00a0<\/em>na sua pr\u00f3pria casa?<\/p>\n

Villefort\u00a0 eventualmente descobre a verdade e se volta contra a esposa. A novela n\u00e3o poderia ser mais agrad\u00e1vel ao Dant\u00e8s, que v\u00ea os Villeforts se destru\u00edrem sem que precise mover um dedo.<\/p>\n

O “sequestro” da Valentine aprontado por Maeda o for\u00e7a a mudar um pouco a ordem dos acontecimentos. Seu final, no entanto, \u00e9 quase o mesmo ao escrito por Dumas.<\/p>\n

Infelizmente, esse “quase” \u00e9 um problema. Pois o destino de H\u00e9lo\u00efse e \u00c9douard, ao lado do duelo, \u00e9 um dos eventos mais cruciais do romance.<\/p>\n

No anime, H\u00e9lo\u00efse se envenena acidentalmente. A subst\u00e2ncia a deixa num estado abobalhado, “como se tivesse regredido \u00e0 inf\u00e2ncia”, nas palavras de uma das personagens. Ela e seu filho passam a viver na mans\u00e3o do Conde, onde permanecem at\u00e9 o pen\u00faltimo epis\u00f3dio.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

No livro, a vingan\u00e7a custa a vida de ambos.<\/p>\n

Descoberta pelo marido, H\u00e9lo\u00efse decide se suicidar. E tomada pelo desespero (ou, mais provavelmente, pela loucura) decide levar o filho consigo.<\/p>\n

A morte da crian\u00e7a \u00e9 o Ponto Sem Retorno<\/a> que faz todos entenderem que aquele jogo de vingan\u00e7a foi longe demais.<\/p>\n

Villefort simplesmente pira. J\u00e1 Dant\u00e8s toma o chacoalh\u00e3o que sua vers\u00e3o de\u00a0Gankutsuou\u00a0<\/em>n\u00e3o recebe at\u00e9 ser tarde demais. Ao ver uma crian\u00e7a inocente morta por sua causa, ele entende que a vingan\u00e7a n\u00e3o \u00e9 uma forma de justi\u00e7a, mas um ciclo vicioso que o levar\u00e1 para o abismo:<\/p>\n

\n

E, como se tivesse medo de que os muros da mans\u00e3o maldita tombassem sobre ele, lan\u00e7ou-se pela rua, duvidando pela primeira vez que tivesse o direito de fazer aquilo que havia feito.<\/p>\n

– Oh, \u00e9 o bastante! Isso tudo j\u00e1 foi o bastante! – disse ele – poupemos o \u00faltimo.<\/p>\n

Retornando \u00e0 sua casa, Monte-Cristo reencontrou Morrel, que perambulava pela mans\u00e3o nos Champs-\u00c9lys\u00e9es, silencioso como um espectro que aguarda o momento fixado por Deus para retornar \u00e0 sua tumba.<\/p>\n

– Prepare-se, Maximilien – ele lhe disse com um sorriso – n\u00f3s deixaremos Paris amanh\u00e3.<\/p>\n

– Voc\u00ea n\u00e3o tem mais nada a fazer?<\/p>\n

– N\u00e3o – respondeu Monte-Cristo – e queira Deus que eu n\u00e3o tenha feito demais!\u00a0(cap\u00edtulo CXI)<\/em><\/p>\n<\/blockquote>\n

O epis\u00f3dio muda radicalmente sua postura desse ponto em diante, com consequ\u00eancias importantes para o mais odioso de seus inimigos:<\/p>\n

O destino de Danglars<\/strong><\/h3>\n

\"\"<\/p>\n

Mandante do compl\u00f4 contra Dant\u00e8s, \u00e9 para Danglars que fora preparada a vingan\u00e7a mais cruel.<\/p>\n

Encantado com o “pr\u00edncipe” Andrea Cavalcanti, Danglars decide romper o noivado entre Eug\u00e9nie e Albert e cas\u00e1-la \u00e0 for\u00e7a com o charmoso nobre. Gra\u00e7as \u00e0s a\u00e7\u00f5es do Conde, por\u00e9m, ele descobre que o “pr\u00edncipe” Andrea \u00e9 na verdade o “criminoso” Benedetto.<\/p>\n

Pior: que o “criminoso” Benedetto \u00e9 o beb\u00ea de sua esposa com o procurador Villefort, deixado para morrer na mans\u00e3o de Auteuil!<\/p>\n

Pior ainda: que isso faz dele o meio-irm\u00e3o de Eug\u00e9nie. E que ele, ao cas\u00e1-la com ele,\u00a0estava for\u00e7ando-a a cometer incesto!<\/strong><\/p>\n

O epis\u00f3dio \u00e9 brilhantemente representado em\u00a0Gankutsuou,\u00a0<\/em>que adiciona a ele requintes de crueldade. Se o Benedetto de Dumas \u00e9 um criminoso comum, o de Maeda \u00e9 um psicopata endiabrado, que tenta estuprar sua irm\u00e3 e faz sexo com a pr\u00f3pria m\u00e3e.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

O fato de ele parecer, de fato, um pr\u00edncipe encantado s\u00f3 faz da caracteriza\u00e7\u00e3o mais genial.<\/p>\n

Com seu nome jogado na lama, Danglars pega o dinheiro que lhe resta e foge para Roma.\u00a0 Infelizmente, Edmond est\u00e1 um passo na sua frente. Ele faz com que os capangas de Luigi Vampa o sequestrem, coloquem em uma cela e o deixem para morrer.<\/p>\n

\"\"

Luigi Vampa e sua bra\u00e7o-direito, Teresa, disfar\u00e7ados de pilotos em Gankutsuou<\/p><\/div>\n

Em Gankutsuou, a “cela” em quest\u00e3o \u00e9 uma nave \u00e0 deriva, com estofados, paredes e bagageiros repletos de ouro. Enlouquecido pela riqueza (que nunca poder\u00e1 gastar), Danglars termina sua vida abra\u00e7ado \u00e0s barras douradas, sem comida ou oxig\u00eanio para sustent\u00e1-lo por muito tempo.<\/p>\n

Seu destino \u00e9 um exemplo daquelas mudan\u00e7as super sutis, mas que fazem toda a diferen\u00e7a. No livro, Danglars \u00e9 for\u00e7ado a torrar sua fortuna pagando pre\u00e7os exorbitantes pelo menor naco de comida.<\/p>\n

A inten\u00e7\u00e3o \u00e9 faz\u00ea-lo morrer de fome, implorando por sua vida. O que de fato aconteceu com o pai de Edmond, Louis Dant\u00e8s, enquanto ele e seus comparsas enriqueciam \u00e0s suas custas.<\/p>\n

A diferen\u00e7a crucial \u00e9 que o Conde nunca chega a cumprir seu plano. Chocado com a trag\u00e9dia dos Villeforts, Monte-Cristo decide que o crime que sofreu n\u00e3o justifica cometer novos pecados.<\/p>\n

Em uma prova de nobreza, ele decide por aquilo que nunca cogitou fazer: responder ao \u00f3dio com compaix\u00e3o:<\/p>\n

\n

– Ent\u00e3o eu o perdoo – disse o homem tirando seu manto e avan\u00e7ando uma passo para se p\u00f4r sob a luz.<\/p>\n

– O Conde de Monte-Cristo! – disse Danglars, mais p\u00e1lido de terror que estivera, um instante atr\u00e1s, de fome e mis\u00e9ria.<\/p>\n

– Voc\u00ea est\u00e1 enganado. Eu n\u00e3o sou o Conde de Monte-Cristo.<\/p>\n

– E quem \u00e9 voc\u00ea ent\u00e3o?<\/p>\n

– Eu sou aquele que voc\u00ea vendeu, entregou \u00e0 justi\u00e7a, desonrou. Eu sou aquele cuja noiva voc\u00ea prostituiu. Eu sou aquele em quem voc\u00ea pisou para subir at\u00e9 sua fortuna. Eu sou aquele cujo pai voc\u00ea fez morrer de fome, que voc\u00ea condenou a morrer de fome e que mesmo assim o perdoa, pois necessita ele mesmo ser perdoado. Eu sou Edmond Dant\u00e8s!<\/p>\n

Danglars n\u00e3o exprime sen\u00e3o um grito e tomba prosternado.<\/p>\n

– Levante-se – disse o conde – Voc\u00ea tem a vida poupada. Sorte parecida n\u00e3o tiveram seus dois c\u00famplices: um est\u00e1 louco, o outro morto! Guarde os cinquenta mil francos que lhe restam, eu lhes dou a voc\u00ea. Quanto aos cinco milh\u00f5es que roubou dos asilos, eles j\u00e1 foram restitu\u00eddos por uma m\u00e3o desconhecida.<\/p>\n

“E agora come e beba; essa noite, eu sou seu anfitri\u00e3o. Vampa, quando esse homem estiver satisfeito, ele estar\u00e1 livre.”\u00a0(cap\u00edtulo CXVI)<\/em><\/p>\n<\/blockquote>\n

O destino de M. de Villefort<\/strong><\/h3>\n

\"\"<\/p>\n

Pobre Villefort. Depois de ver metade de sua fam\u00edlia morrer envenenada, pensou que j\u00e1 tinha as contas quitadas com o Criador. Infelizmente para ele, Dant\u00e8s tinha outra bala com seu nome escrito.<\/p>\n

A meleca aprontada por Maeda no epis\u00f3dio de Auteuil mudou algumas coisas no destino do procurador. Revoltado com o Conde ap\u00f3s o jantar, ele decide investig\u00e1-lo, denunci\u00e1-lo e, finalmente, tentar assassin\u00e1-lo.<\/p>\n

A decis\u00e3o \u00e9 quase t\u00e3o est\u00fapida quanto a “carta” de Edmond que avisou seus rivais da sua exist\u00eancia. E completamente incoerente com sua caracteriza\u00e7\u00e3o. Esperar que um alto chefe de justi\u00e7a com todo o aparato judici\u00e1rio aos seus dedos precise apelar para uma viol\u00eancia t\u00e3o amadora \u00e9 descabido ao extremo.<\/p>\n

Felizmente, Maeda logo coloca sua hist\u00f3ria nos trilhos de onde nunca devia ter sa\u00eddo. E o procurador sofre o mesmo destino que Dumas lhe preparou nas p\u00e1ginas do romance.<\/p>\n

Ao descobrir que seu amigo Danglars foi enrolado por um criminoso, ele prontamente o leva ao tribunal. O evento \u00e9 o \u00faltimo prego em seu caix\u00e3o: empoderado por um palanque, Benedetto revela ao mundo ser seu filho, ileg\u00edtimo, deixado para morrer.<\/p>\n

Entre essa humilha\u00e7\u00e3o e a morte de sua mulher e filho, a cabe\u00e7a de Villefort n\u00e3o aguenta. O procurador fica louco.<\/p>\n

Em\u00a0Gankutsuou,\u00a0<\/em>Villefort tamb\u00e9m acaba seus dias num hosp\u00edcio. Em vez de chegar l\u00e1 por conta pr\u00f3pria, no entanto, ele recebe uma ajudinha do Conde.<\/p>\n

Ainda no tribunal, ele \u00e9 envenenado por Benedetto com uma subst\u00e2ncia preparada por Edmond. \u00c9 essa toxina, e n\u00e3o o choque, que o deixa maluco.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

\u00c9 uma mudan\u00e7a pequena, mas acertada, que refor\u00e7a v\u00e1rios temas que o anime trabalhara at\u00e9 ent\u00e3o. O veneno (fundamental na derrocada do procurador), o papel de Benedetto como um “anti-Conde de Monte-Cristo”, exercendo uma vingan\u00e7a paralela contra a alta sociedade.<\/p>\n

E, \u00e9 claro, o retrato de psicopata que Maeda t\u00e3o bem lhe deu.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

\u00a0O Destino de Mondego<\/strong><\/h3>\n

\"\"<\/p>\n

Se os destinos de Villefort e Danglars s\u00e3o relativamente fi\u00e9is, a vingan\u00e7a de Mondego, infelizmente, \u00e9 aquela derrapada que faria Dumas se contorcer na tumba.<\/p>\n

Tudo come\u00e7a com a den\u00fancia de Hayd\u00e9e, a mesma que leva Albert a desafiar o Conde a um duelo. A filha de Ali Tebelin embosca o militar na Assembleia Nacional, contando a todos de seus crimes:<\/p>\n

\n

– Voc\u00ea reconhece positivamente M. de Morcerf como sendo o mesmo homem que o oficial Fernand Mondego?<\/p>\n

– Sim, eu o reconhe\u00e7o! – exclamou Hayd\u00e9e – Oh, minha m\u00e3e! Voc\u00ea me disse: “Voc\u00ea est\u00e1 livre, voc\u00ea possui um pai que a ama, voc\u00ea est\u00e1 destinada a ser quase uma rainha! Observe bem esse homem, este que a fez escrava, este que carrega no topo de uma estaca a cabe\u00e7a de seu pai, este que nos vendeu, este que nos entregou! Observe bem sua m\u00e3o direita, esta que tem uma grande cicatriz; se voc\u00ea esquecer seu rosto, reconhe\u00e7a-o pela m\u00e3o que recebe, uma a uma, as moedas de ouro de El-Kobbir, o mercador de escravos!”. Sim, eu o reconhe\u00e7o! Oh, que ele diga ele pr\u00f3prio, agora mesmo, se n\u00e3o me reconhece tamb\u00e9m!<\/p>\n

Cada palavra caiu como um cutelo sobre Morcerf e arrancou uma parcela da sua energia. \u00c0s \u00faltimas palavras, ele escondeu bruscamente sua m\u00e3o, mutilada por um ferimento, contra seu peito e tombou sobre uma poltrona, assolado por um pavoroso desespero.<\/p>\n

Essa cena fez os humores da assembleia efervescerem, como se fossem folhas soltas sopradas pelo vento poderoso do norte.<\/p>\n

–\u00a0<\/em>Monsieur conde de Morcerf – disse o presidente – N\u00e3o se sinta abatido, responda. A justi\u00e7a da corte \u00e9 suprema e igual para todos como aquela de Deus. Ela n\u00e3o o deixar\u00e1 ser esmagado por seus inimigos sem lhes dar os meios para combat\u00ea-los. Gostaria que novas investiga\u00e7\u00f5es fossem feitas? Quer que eu ordene que dois membros da C\u00e2mara v\u00e3o at\u00e9 Janina? Diga!<\/p>\n

Morcerf nada respondeu.<\/p>\n

Com aquilo, todos os membros da comiss\u00e3o se olharam com uma esp\u00e9cie de terror. Eles conheciam o car\u00e1ter en\u00e9rgico e violento do conde. Era necess\u00e1rio uma terr\u00edvel prostra\u00e7\u00e3o para aniquilar a defesa daquele homem. Era necess\u00e1rio, enfim, pensar que \u00e0quele sil\u00eancio, que parecia um sono, seguir-se-ia um sonho que lembraria um tempestade. (Cap\u00edtulo LXXXVI)<\/em><\/p>\n<\/blockquote>\n

\"\"<\/p>\n

A cena do anime n\u00e3o carrega o mesmo peso do livro. Ela \u00e9, mesmo assim, relativamente fiel \u00e0 hist\u00f3ria original.<\/p>\n

O problema \u00e9 o que acontece depois.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

Ao ter sua reputa\u00e7\u00e3o destru\u00edda, Mondego decide dar um golpe militar (!) que transforma Paris em uma zona de guerra. Quando sua esposa e filho decidem abandon\u00e1-lo, ele os baleia em sangue frio (!!) e ent\u00e3o monta cerco \u00e0 mans\u00e3o do Conde. Tudo, \u00e9 claro, termina em um cinem\u00e1tico duelo de mechas<\/em> (!!!).<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

O destino de Mondego n\u00e3o poderia ser mais diferente do escrito no livro. E n\u00e3o falo apenas da\u00a0rule of cool.\u00a0<\/em>Ao fechar sua obra como um filme de a\u00e7\u00e3o, Maeda subverteu uma das caracter\u00edsticas centrais da personagem.<\/p>\n

No livro, Mondego n\u00e3o chega sequer a ousar lutar. Ao escutar a verdade sobre Dant\u00e8s e ver sua fam\u00edlia abandon\u00e1-lo, decide puxar o gatilho da sua arma – n\u00e3o contra o Conde, mas contra si mesmo:<\/p>\n

\n

Assim que escutou bater a porta de ferro do fiacre, depois a voz do motorista, depois o barulho da pesada m\u00e1quina chacoalhar as vidra\u00e7as ele se lan\u00e7ou ao seu quarto para observar uma \u00faltima vez tudo aquilo que ele amava nesse mundo. Mas o fiacre partiu sem que a cabe\u00e7a de Merc\u00e8des ou a de Albert aparecesse na porta, para dar \u00e0 mans\u00e3o solit\u00e1ria, para dar ao pai e esposo abandonado um \u00faltimo olhar, o adeus e o remorso – quer dizer, o perd\u00e3o.<\/p>\n

Ao mesmo tempo, no exato instante em que as rodas do fiacre sacudiram as pedras da estrada, um tiro ressoou, e uma fuma\u00e7a sombria saiu por uma das vidra\u00e7as daquela janela daquele quarto, soprada pela for\u00e7a da explos\u00e3o.\u00a0(cap\u00edtulo XCII)<\/em><\/p>\n<\/blockquote>\n

A cena \u00e9 crucial porque cimenta que tipo de canalha Mondego de fato \u00e9. Ao longo de todo o livro, o general mostra ser um covarde convicto, incapaz de encarar qualquer um que o desafie.<\/p>\n

Ele foi covarde demais para se declarar \u00e0 Merc\u00e9d\u00e8s, ent\u00e3o conspirou contra Dant\u00e8s para tir\u00e1-lo do caminho. Foi covarde demais para lutar uma guerra perdida, ent\u00e3o vendeu Ali Tebelin aos homens do sult\u00e3o. Foi covarde demais para peitar Hayd\u00e9e durante seu discurso na assembleia e nem ousou se defender.<\/p>\n

Foi, enfim, covarde demais at\u00e9 para aceitar a derrota. E preferiu a sa\u00edda “f\u00e1cil” do suic\u00eddio a uma vida de desonra e ostracismo.<\/p>\n

Paradoxalmente, ao transform\u00e1-lo num aspirante sanguin\u00e1rio a ditador, Maeda lhe d\u00e1 uma personalidade\u00a0mais positiva\u00a0<\/strong>que o retrato de Dumas.<\/p>\n

N\u00e3o importa que ele eventualmente aperte aquele gatilho. Ao mostr\u00e1-lo esperando a morte na frente do por do sol, Maeda nos d\u00e1 n\u00e3o a morte de um vil\u00e3o, mas o adeus de um her\u00f3i incompreendido.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

O destino de Merc\u00e9d\u00e8s e Albert<\/strong><\/h3>\n

\"\"<\/p>\n

Felizmente, a fam\u00edlia de Mondego teve um destino mais pr\u00f3ximo ao que Dumas lhes previu. Bom para eles, pois a alternativa seria morrerem baleados por Fernand, como Maeda (quase) fez acontecer.<\/p>\n

No livro, Merc\u00e9d\u00e8s e Albert renegam \u00e0 sua fortuna e passam a usar o nome de sua fam\u00edlia materna, Herrera. A m\u00e3e retorna \u00e0 Marselha, onde vivia na \u00e9poca em que ela e Dant\u00e8s eram noivos. J\u00e1 Albert entra para o ex\u00e9rcito, dedicado a se tornar o exemplo de nobreza e valentia que o pai nunca foi.<\/p>\n

No epis\u00f3dio final de Gankutsuou, vemos que nenhum dos dois se afastou muito desse destino. Merc\u00e9d\u00e8s de fato retorna \u00e0 Marselha, onde \u00e9 vista visitando os t\u00famulos de Edmond e Fernand. J\u00e1 Albert segue seu pr\u00f3prio caminho, n\u00e3o como soldado, mas como um diplomata.<\/p>\n

A carreira tem mais a ver com a personalidade bondosa que Maeda lhe deu. E tamb\u00e9m lhe permite fechar as pontas com outra personagem important\u00edssima: Eug\u00e9nie.<\/p>\n

Na cena final da s\u00e9rie, a garota, agora uma pianista de sucesso, retorna \u00e0 Fran\u00e7a para uma apresenta\u00e7\u00e3o. Ao seu lado, ela toca a m\u00fasica que comp\u00f4s para ele – o tema de abertura do pr\u00f3prio anime.<\/p>\n

\u00c9 uma conclus\u00e3o doce que pouco tem de\u00a0O Conde de Monte Cristo<\/em>, mas que n\u00e3o falha em colocar aquele sorriso bobo em nossos rostos.<\/p>\n

O destino de Maximilien e Valentine<\/strong><\/h3>\n

\"\"<\/p>\n

Que Maximilien e Valentine terminariam juntos j\u00e1 estava mais do que \u00f3bvio. N\u00e3o precisa ser um expert em\u00a0tropes\u00a0<\/em>de anime (ou em hist\u00f3rias de amor) para saber que esses dois tinham sido beijados pelo destino.<\/p>\n

Como<\/strong> eles chegam a esse ponto, em uma vers\u00e3o e outra, \u00e9 bastante diferente.<\/p>\n

Em\u00a0Gankutsuou<\/em>, depois do sequestro de Valentine, Maximilien passa a maior parte dos epis\u00f3dios longe da tela. A culpa \u00e9 do Mondego ditatorial de Maeda, com suas campanhas eleitorais e golpes de Estado. Como militar, Maximilien \u00e9 obrigado a participar de tudo.<\/p>\n

O roteiro lhe d\u00e1 uma folga no \u00faltimo epis\u00f3dio, quando ele volta a Marselha para viver com sua fam\u00edlia e com Valentine. Juntos, eles retomam a profiss\u00e3o de seu pai, comprando o velho navio em que Dant\u00e8s havia trabalhado.<\/p>\n

Muito embora Dumas n\u00e3o o tenha feito lutar, o destino que preparou a Maximilien consegue ser ainda mais dram\u00e1tico. No livro, Valentine tamb\u00e9m \u00e9 envenenada, mas quem a salva do pior n\u00e3o \u00e9 seu namorado.<\/p>\n

Culpado por ter quase matado a amada de seu protegido, o Conde lhe d\u00e1 uma droga que simula o efeito da morte.A garota \u00e9 dada por defunta, e\u00a0 sua fam\u00edlia at\u00e9 realiza um funeral. Sem que ningu\u00e9m saiba, por\u00e9m,\u00a0ela est\u00e1 em seguran\u00e7a na presen\u00e7a do Conde.<\/p>\n

Dantes ent\u00e3o faz uma coisa que parece excessiva mesmo ao seu g\u00eanio vingador. Em vez de contar a Maximilien imediatamente, ele espera que o jovem tente se suicidar, para depois lhe mostrar Valentine viva!<\/strong><\/p>\n

O motivo \u00e9 explicado em sua carta de despedida: o \u00faltimo que ele (e n\u00f3s) ouvimos do Conde:<\/p>\n

\n

Quanto \u00e0 voc\u00ea, Morrel, eis o segredo de toda a minha conduta a seu respeito: n\u00e3o h\u00e1 felicidade ou tristeza nesse mundo, apenas a compara\u00e7\u00e3o de um estado ao outro. Apenas aquele que experimentou o extremo infort\u00fanio est\u00e1 apto a desfrutar da extrema felicidade. \u00c9 preciso ter desejado morrer, Morrel, para saber qu\u00e3o bom \u00e9 viver.\u00a0(cap\u00edtulo CXVII)<\/em><\/p>\n<\/blockquote>\n

Cruel, n\u00e3o? Pois \u00e9. Pelo menos, os dois n\u00e3o saem de m\u00e3os vazias. Edmond desaparece deixando os dois como herdeiros de\u00a0toda a sua fortuna<\/strong>. Nada mal para um presente de noivado.<\/div>\n

O destino do Conde<\/strong><\/h3>\n

\"\"<\/p>\n

Rebaixado de protagonista a vil\u00e3o principal, \u00e9 natural que o Conde de Monte-Cristo tenha sofrido o destino mais diferente do original.<\/p>\n

Na verdade, n\u00e3o apenas o seu fim, mas tamb\u00e9m sua\u00a0backstory\u00a0<\/em>apresenta diverg\u00eancias importantes.<\/p>\n

No livro, Dant\u00e8s passa 14 anos preso no Castelo d’If, uma pris\u00e3o no sul da Fran\u00e7a. O castelo existe de verdade<\/a> e aparece at\u00e9 no\u00a0opening\u00a0<\/em>do anime:<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

No anime, o castelo \u00e9 um pesadelo cibern\u00e9tico digno de\u00a0N\u00e3o Tenho Boca e Preciso Gritar<\/em><\/a>, onde presos ficam acoplados a uma esp\u00e9cie de maquin\u00e1rio que consome sua consci\u00eancia.<\/p>\n

Em fez de Padre Faria, Dant\u00e8s encontra um dem\u00f4nio espacial chamado Gankutsuou, que se oferece para habitar seu cora\u00e7\u00e3o. A criatura transforma Edmond em uma m\u00e1quina indestrut\u00edvel de vingan\u00e7a em troca de seu corpo e alma.<\/p>\n

Franz aprendeu tudo isso durante sua viagem de \u00e1cido virtual induzida por Noirtier. Assim, antes de duelar com o Conde, decide lhe preparar uma surpresa.<\/p>\n

Ap\u00f3s ser derrotado em combate, ele guarda sua energia para um \u00faltimo golpe e o atinge direto no cora\u00e7\u00e3o. Gankutsuou, dizem, consome seu hospedeiro pelas beiradas, chegando s\u00f3 no fim ao peito. Sua esperan\u00e7a \u00e9 matar o que ainda resta de humano no corpo de Dant\u00e8s.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

Infelizmente, Gankutsuou j\u00e1 havia dominado Edmond por completo. O golpe de Franz n\u00e3o tem efeito, e o jovem morre em v\u00e3o.<\/p>\n

Ou, pelo menos, \u00e9 isso que ele pensa. No epis\u00f3dio 23, Albert decide restaurar a humanidade do Conde de outra maneira. Em uma cena que levou fujoshis <\/em>\u00e0 loucura, ele lhe lasca um beijo de tirar o chap\u00e9u.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

Como um pr\u00edncipe transformado em sapo, Edmond volta a ser humano. E o ferimento causado por Franz finalmente tem efeito, matando-o.<\/p>\n

A cena obviamente n\u00e3o tem paralelo com o livro. Ela mostra, no entanto, que Maeda entendeu bem sua mensagem original. O resultado \u00e9 um final que a refor\u00e7a, embora a expresse com outras palavras.<\/p>\n

Tendo poupado Danglars e entendido o erro de suas a\u00e7\u00f5es, o Edmond de Dumas abandona a Fran\u00e7a para sempre. Ele foi longe demais para integrar a sociedade, mas (felizmente) n\u00e3o o bastante para perder sua humanidade.<\/p>\n

O Edmond de Maeda n\u00e3o teve a mesma sorte. Levando seu \u00f3dio \u00e0s \u00faltimas consequ\u00eancias, n\u00e3o lhe resta alternativa sen\u00e3o morrer. Como o Kurtz de\u00a0Cora\u00e7\u00e3o das Trevas<\/em>, o que quer que seu corpo sustente n\u00e3o \u00e9 mais uma pessoa, e sim uma hist\u00f3ria cautelar do que o \u00f3dio humano \u00e9 capaz de fazer.<\/p>\n

<\/a><\/p>\n

\"\"<\/a><\/h2>\n

\u00a0A perda da humanidade<\/strong><\/h3>\n

\"\"<\/p>\n

\n

– Quem \u00e9 voc\u00ea? Quem ent\u00e3o \u00e9 voc\u00ea, meu Deus?!<\/p>\n

– Eu sou o espectro de um infeliz que voc\u00ea enterrou nas celas do Castelo d’If. A este espectro enfim sa\u00eddo de sua tumba Deus entregou a m\u00e1scara do conde de Monte-Cristo e a cobriu de ouro e diamantes para que voc\u00eas nunca a reconhecessem at\u00e9 o dia de hoje. (cap\u00edtulo CXI)<\/em><\/p>\n<\/blockquote>\n

A subtrama do Gankutsuou que transforma o Conde em um dem\u00f4nio \u00e9, de fato, o ponto em que a adapta\u00e7\u00e3o de Maeda toma vida pr\u00f3pria.<\/p>\n

De fato, n\u00e3o existem espectros intergal\u00e1ticos nem doen\u00e7as alien\u00edgenas no romance original de Dumas. Mas os dois recursos sublinham uma interpreta\u00e7\u00e3o que n\u00e3o podia ser mais fiel a sua fonte:\u00a0o julgamento de que Dant\u00e8s, ao vestir o manto de Monte-Cristo, deixou de ser o homem que era.<\/b><\/p>\n

O Conde de Dumas n\u00e3o \u00e9 azul, nem possui tatuagens fosforescentes. Mas ele \u00e9 continuamente descrito como um homem sobrenaturalmente p\u00e1lido, g\u00e9lido ao toque. Muitas personagens ponderam se ele n\u00e3o pode ser um vampiro – um rumor repetido v\u00e1rias vezes no anime.<\/p>\n

A interpreta\u00e7\u00e3o \u00e9 refor\u00e7ada pelo pr\u00f3prio Dumas. Na primeira parte do livro, seu protagonista \u00e9 chamado de “Edmond” ou “Dant\u00e8s”. A partir do momento que assume seu alter-ego, por\u00e9m, ele \u00e9 referido quase sempre como “Conde” ou “Monte-Cristo”.<\/p>\n

“Edmond”, como o pr\u00f3prio bem diz, n\u00e3o existe mais.<\/p>\n

Isso porque ele cede \u00e0 uma vontade mais terr\u00edvel que dem\u00f4nios espaciais: a voz do Criador.<\/p>\n

Depois de 14 anos preso no Castelo d’If, Dant\u00e8s come\u00e7a a ver a si mesmo como executor da vingan\u00e7a divina. O que foi feito a ele, aos seus olhos, foi um crime contra a justi\u00e7a de Deus. E ele punir\u00e1 os culpados em Seu nome – mesmo que isso custe sua pr\u00f3pria vida, o sangue de inocentes, um segundo dil\u00favio.<\/p>\n

\u00c9 um imperativo que repete a todas as suas v\u00edtimas antes do golpe de miseric\u00f3rdia. E que aparece em seu di\u00e1logo com Merc\u00e9d\u00e8s antes do duelo com Albert:<\/p>\n

\n

– Vingue-se Edmond! – gritou a pobre m\u00e3e – mas vingue-se contra os culpados; vingue-se contra ele, vingue-se contra mim, mas n\u00e3o se vingue contra meu filho!<\/p>\n

– Est\u00e1 escrito no Livro Santo – respondeu Monte-Cristo – “os erros dos pais recaem sobre seus filhos at\u00e9 a terceira e quarta gera\u00e7\u00f5es”. Se Deus ditou estas mesmas palavras a seu profeta, por que seria eu melhor que Deus?<\/p>\n

– Porque Deus tem o tempo e a eternidade, duas coisas que escapam aos homens!\u00a0(cap\u00edtulo LXXXIX)<\/em><\/p>\n<\/blockquote>\n

Maeda tentou ao m\u00e1ximo evitar temas religiosos em seu anime. Mesmo assim, eles aparecem na figura de seu “Gankutsuou”. \u00c9 por isso que o dem\u00f4nio aparece crucificado, com um crucifixo no peito. E o pr\u00f3prio Castelo d’If \u00e9 representado como uma segunda, imensa cruz:<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

O Conde de Monte Cristo\u00a0<\/em>\u00e9 muito mais que uma historinha de vingan\u00e7a. A obra \u00e9 uma par\u00e1bola sobre uma das quest\u00f5es mais espinhosas que n\u00f3s, humanos, j\u00e1 enfrentamos: o conflito entre Homem e Deus.<\/p>\n

A disputa entre os desmandos de uma Autoridade superior e a vontade de fazer o que bem entendermos. Entre o desejo de que a Cria\u00e7\u00e3o tenha uma ordem e o medo de que estejamos sozinhos no mundo – e sejamos respons\u00e1veis pelo nosso c\u00e9u e nosso inferno.<\/p>\n

\u00c9 um conflito que inspirou o Romantismo – e, em especial, o mais famoso dos escritores rom\u00e2nticos. Um autor que Dumas diretamente cita em seu livro, e que Maeda, fiel \u00e0 sua obra, fez quest\u00e3o de trazer ao anime:<\/p>\n

O Her\u00f3i byroniano<\/strong><\/h3>\n

\"\"<\/p>\n

“Her\u00f3i” byroniano \u00e9 o nome que se d\u00e1 a um tipo de personagem popularizada pelo grande escritor Lord Byron<\/a> (1788-1824). Ele \u00e9 um rebelde apaixonado, imediatista, em guerra contra a autoridade e conven\u00e7\u00f5es sociais, que age de maneira impulsiva, imprevis\u00edvel e, muitas vezes, auto-destrutiva.<\/p>\n

Esse tipo de her\u00f3i ganhou os holofotes junto com a moda “g\u00f3tica” do s\u00e9culo XIX. Seu pano de fundo eram becos escuros e cidades decadentes; seus companheiros, vampiros, fantasmas e outras assombra\u00e7\u00f5es.<\/p>\n

Com sua pompa vampiresca e passado sombrio, O Conde de Monte Cristo \u00e9 um exemplo claro do her\u00f3i. Coisa que o pr\u00f3prio Dumas deixa escancarado em sua prosa.<\/p>\n

No livro, muitas personagens comparam Dant\u00e8s com Lord Ruthven<\/a>, personagem do escritor John William Polidori inspirado em Lord Byron. Ou com Manfred<\/a>, cria\u00e7\u00e3o do pr\u00f3prio Byron que se tornou uma sensa\u00e7\u00e3o na \u00e9poca.<\/p>\n

Uma delas \u00e9 a misteriosa Condessa G., aristocrata que apresenta Albert e Franz \u00e0 folia romana no in\u00edcio do romance.<\/p>\n

\"\"

A condessa G. em Gankutsuou<\/p><\/div>\n

Tal como Ali Tebelin, a condessa \u00e9 uma personagem hist\u00f3rica. Trata-se de Teresa Guiccioli<\/a>, uma das amantes de Byron na \u00e9poca em que escrevia sua obra\u00a0Don Juan<\/em>.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

Gankutsuou\u00a0<\/em>\u00e9\u00a0fidel\u00edssimo\u00a0<\/strong>\u00e0\u00a0vibe\u00a0<\/em>byroniana do livro original. N\u00e3o s\u00f3 pela pompa g\u00f3tica de seu Conde, nem por ter inclu\u00eddo – com ainda mais destaque que no livro – a personagem de Teresa Guiccioli.<\/p>\n

Maeda foi al\u00e9m. O tema do Conde<\/a> no anime \u00e9 nada menos que a Sinfonia Manfred, obra de Tchaikovsky, homenagem a uma das obras mais famosas<\/a> do escritor.<\/p>\n

A refer\u00eancia mais importante, por\u00e9m, talvez esteja no pr\u00f3prio enredo. O her\u00f3i byronista \u00e9 um eterno “do contra”, em guerra contra sua sociedade. O pr\u00f3prio Byron levou isso ao extremo, terminando seus dias na Gr\u00e9cia, lutando (tal como Ali Tebelin) contra a opress\u00e3o dos otomanos.<\/p>\n

Isso nos leva a outro grande tema do livro, abordado com ainda mais \u00eanfase no anime:<\/p>\n

A revolta contra o sistema<\/strong><\/h3>\n

\"\"<\/p>\n

N\u00e3o \u00e9 preciso pensar fora da caixa para perceber que vingan\u00e7a de Edmond \u00e9 justamente esse tipo de revolta.<\/p>\n

Villefort, o procurador do rei, \u00e9 o homem do Estado. Danglars, o banqueiro, o\u00a0 porta-voz do mercado. Mondego, o general, o cabe\u00e7a do ex\u00e9rcito. E Caderousse, o pobret\u00e3o criminoso, a voz an\u00f4nima do povo.<\/p>\n

N\u00e3o s\u00e3o homens que traem Edmond, mas toda a sociedade francesa. \u00c9 por isso que o Conde ataca\u00a0seus inimigos com os dois p\u00e9s no peito, agindo, a princ\u00edpio, sem medo de efeitos colaterais.<\/p>\n

\u00c9 por isso que adota como t\u00edtulo de “nobreza” a Ilha de Monte-Cristo<\/a>, uma montanha deserta no mediterr\u00e2neo que abriga apenas criminosos e fugitivos.<\/p>\n

\"\"

A Ilha de Monte-Cristo, na costa da Toscana<\/p><\/div>\n

E \u00e9 por isso que desaparece ao final do livro, fugindo para o Oriente com Hayd\u00e9e em vez de se reintegrar ao mundo que o decepcionou.<\/p>\n

“N\u00e3o \u00e9 culpa deles serem bandidos”, diz um homem a Franz no come\u00e7o do romance “\u00c9 culpa da autoridade”. Edmond Dant\u00e8s n\u00e3o diria melhor.<\/p>\n

A revolta contra a sociedade \u00e9 tamb\u00e9m o fio condutor das partes mais livres da adapta\u00e7\u00e3o de Maeda.<\/p>\n

No anime, Paris \u00e9 representada como um cidadela murada cercada por um mundo devastado. A elite parisiense, ofuscada pelos seus luxos, trata tudo o que se passa fora como desd\u00e9m.<\/p>\n

As autoridades, nos poucos momentos em que d\u00e3o as caras, s\u00e3o tratadas como corruptas. Os soldados de Mondego armam um golpe de Estado. Quando tem seu nome desgra\u00e7ado, mesmo Albert, um aristocrata, sofre abuso nas m\u00e3os de policiais.<\/p>\n

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Recontar a hist\u00f3ria pelos olhos de jovens n\u00e3o foi a escolha mais \u00f3bvia. Mas ela permitiu a Maeda enfatizar ainda mais esse fundo tem\u00e1tico. Afinal, quem entende mais de “revoltas” e “sistema” do que os jovens?<\/p>\n

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Muitas p\u00e1ginas internet a fora descrevem\u00a0Gankutsuou\u00a0<\/em>como um anime “levemente baseado” em\u00a0O Conde de Monte-Cristo.\u00a0<\/em>A coloca\u00e7\u00e3o n\u00e3o escapou sequer \u00e0 sinopse oficial do\u00a0My Anime List.<\/a><\/p>\n

Essas pessoas n\u00e3o devem ter assistido ao mesmo anime que eu. Ou, ent\u00e3o, t\u00eam no\u00e7\u00f5es bem diferentes do que significa uma “adapta\u00e7\u00e3o.”<\/p>\n

Gankutsuou\u00a0<\/em>\u00e9 um\u00a0gold standard\u00a0<\/em>para adapta\u00e7\u00f5es. O respeito de Maeda pelo seu material de origem s\u00f3 n\u00e3o \u00e9 maior que a criatividade com que desenvolveu livremente seus temas.<\/p>\n

O anime n\u00e3o supera seu material de origem, mas\u00a0\u00e9 uma experi\u00eancia obrigat\u00f3ria para f\u00e3s do romance – e de literatura como um todo.<\/p>\n

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  • Gankutsuou\u00a0<\/em>significa “O Rei da Caverna” e foi o t\u00edtulo da primeira tradu\u00e7\u00e3o de\u00a0O Conde de Monte Cristo\u00a0<\/em>ao japon\u00eas, em 1901. Embora pare\u00e7a uma mudan\u00e7a estranha aos ouvidos ocidentais, no Jap\u00e3o o t\u00edtulo de Maeda traz de imediato a obra de Dumas \u00e0 mente.<\/li>\n
  • Apesar de parecer fanservice<\/em>, Peppo (no livro Beppo) \u00e9 uma personagem do romance! O garoto \u00e9 um crossdresser a servi\u00e7o de Luigi Vampa, que seduz e embosca Albert durante o carnaval de Roma.<\/li>\n<\/ul>\n

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    • No epis\u00f3dio 2, O Conde sobrevive a uma facada de Luigi Vampa, para o terror dos bandidos. O Conde de Dumas tamb\u00e9m \u00e9 a prova de facadas, mas por outro motivo: ele usa uma cota-de-malha por baixo da roupa.<\/li>\n
    • No anime, o Conde toma p\u00edlulas especiais para conter a corrup\u00e7\u00e3o de Gankutsuou. Elas ficam guardadas em uma caixa feita de uma grande esmeralda oca. A caixa e a p\u00edlula existem no livro, mas carregam um “rem\u00e9dio” de outra esp\u00e9cie: haxixe. Fiel ao seu “exotismo” oriental, tanto o Conde quando Hayd\u00e9e s\u00e3o usu\u00e1rios frequentes de v\u00e1rios tipos de drogas.<\/li>\n
    • No epis\u00f3dio 22, Caderousse aparece roubando uma loja chamada\u00a0Les Bijoux Carconte.\u00a0<\/em>A tomada \u00e9 um\u00a0easter egg\u00a0<\/em>sobre sua hist\u00f3ria no livro: na trama, ele foi preso por matar um joalheiro, incitado por sua esposa, que se chamava Carconte.<\/li>\n
    • Caderousse ainda aparece no \u00faltimo epis\u00f3dio ao lado de Benedetto em uma placa de procurados pela justi\u00e7a. Trata-se de uma refer\u00eancia \u00e0\u00a0rela\u00e7\u00e3o dos dois no romance, em que foram parceiros de cela.<\/li>\n
    • As \u00f3peras tocadas no anime s\u00e3o\u00a0L\u00facia de Lammermoor\u00a0<\/em>e\u00a0Robert le Diable<\/em>, as mesmas citadas no livro.<\/li>\n<\/ul>\n
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        Muitos animes s\u00e3o baseados em mang\u00e1s. Outros tantos em games ou\u00a0visual novels. Mas existem tamb\u00e9m aqueles baseados em livros. E n\u00e3o digo apenas as\u00a0light novels\u00a0t\u00e3o populares na Terra do Sol Nascente. Mas romances “inteiros”, para o p\u00fablico infanto-juvenil ou adulto, que j\u00e1 possuem um espa\u00e7o cimentado na literatura. E, em alguns casos, uma fama\u00a0que […]<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":20490,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"spay_email":"","jetpack_publicize_message":"","jetpack_is_tweetstorm":false},"categories":[576,581,580,17],"tags":[491,45,493,490,226,492,489],"jetpack_featured_media_url":"https:\/\/i2.wp.com\/www.finisgeekis.com\/wp-content\/uploads\/2018\/09\/gankutsuou-cover-2.jpg?fit=627%2C397","jetpack_publicize_connections":[],"jetpack_shortlink":"https:\/\/wp.me\/p9rUzW-5ik","_links":{"self":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/20356"}],"collection":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=20356"}],"version-history":[{"count":42,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/20356\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":20503,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/20356\/revisions\/20503"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media\/20490"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=20356"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=20356"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=20356"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}