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{"id":20248,"date":"2018-06-27T09:16:19","date_gmt":"2018-06-27T12:16:19","guid":{"rendered":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/?p=20248"},"modified":"2019-02-24T10:15:08","modified_gmt":"2019-02-24T13:15:08","slug":"os-super-herois-sempre-foram-politizados","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/2018\/06\/27\/os-super-herois-sempre-foram-politizados\/","title":{"rendered":"Os super-her\u00f3is sempre foram politizados?"},"content":{"rendered":"

 <\/p>\n

Temos que conceder aos quadrinhos. \u00c9 f\u00e1cil ser tachado de divers\u00e3o vazia. Tamb\u00e9m \u00e9 f\u00e1cil ser acusado de panfletagem, provoca\u00e7\u00e3o barata, ve\u00edculo de doutrina\u00e7\u00e3o pol\u00edtica.<\/p>\n

Mais dif\u00edcil, e o que os comics <\/em>americanos v\u00eam fazendo h\u00e1 d\u00e9cadas, \u00e9 ser criticado pelas duas coisas ao mesmo tempo<\/strong>.<\/p>\n

<\/p>\n

Todos n\u00f3s j\u00e1 escutamos a acusa\u00e7\u00e3o. HQs est\u00e3o desesperadas atr\u00e1s de relev\u00e2ncia, agarrando-se a qualquer manchete para alavancar vendas. Da guerra na S\u00edria \u00e0 elei\u00e7\u00e3o de Donald Trump, n\u00e3o h\u00e1 um fact\u00f3ide que escape aos super sentidos dos her\u00f3is.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

Mas teria sido sempre assim?<\/p>\n

Cr\u00edticos da politiza\u00e7\u00e3o os quadrinhos dizem que n\u00e3o. Segundo eles, quadrinhos est\u00e3o se tornando mais politizados, hist\u00e9ricos e rasos. O fen\u00f4meno \u00e9 novo – e poderia ser fatal. Se as coisas n\u00e3o voltarem r\u00e1pido ao curso, o futuro da ind\u00fastria poderia estar em risco.<\/p>\n

Se isso \u00e9 verdade, como explicar a palhinha de Barack Obama<\/a> como personagem de Homem Aranha <\/em>em 2009? Ou o retrato de um Doutor Destino em prantos ap\u00f3s o atentado \u00e0s Torres G\u00eameas<\/a>?\u00a0 Ou ainda a HQ que transformou Magneto em um sobrevivente do Holocausto<\/a>?\"\"<\/p>\n

Causas mudam, pessoas envelhecem e partidos se renovam. Mas os quadrinhos parecem ter um flerte com a pol\u00edtica que vai muito al\u00e9m do momento atual.<\/p>\n

Essa \u00e9 a opini\u00e3o de Robert Jewett e John Lawrence no provocante\u00a0Capit\u00e3o Am\u00e9rica e a Cruzada contra o Mal<\/em><\/a>. <\/em><\/strong>Escrito no calor do 9\/11, mas ainda relevante aos dias de hoje, o livro argumenta que super-her\u00f3is sempre<\/strong> foram politizados \u2013 e ningu\u00e9m deveria se orgulhar disso.<\/strong><\/p>\n

\"\"<\/p>\n

Para Jewett e Lawrence, a politiza\u00e7\u00e3o dos her\u00f3is n\u00e3o se deve \u00e0 gera\u00e7\u00e3o millenial<\/em>, \u00e0 Guerra ao Terror de Bush, ao Civil Rights Movement<\/em>, nem mesmo \u00e0 Guerra Mundial que deu vida a Capit\u00e3o Am\u00e9rica e tantos outros. Ela vem de antes, muito antes de existirem quadrinhos. Muito antes, na verdade, at\u00e9 de existir um Estados Unidos.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

As col\u00f4nias inglesas na Am\u00e9rica, eles explicam, foram assentadas por Puritanos<\/a>, uma fac\u00e7\u00e3o radical dos crist\u00e3os brit\u00e2nicos que se viam na miss\u00e3o de reformar a sociedade \u2013 e, especialmente, o Novo Mundo.<\/p>\n

Essa f\u00e9 exacerbada deu origem a duas mentalidades muito diferentes entre si, mas que marcaram a hist\u00f3ria dos EUA at\u00e9 os dias de hoje.<\/p>\n

A primeira foi a do realismo prof\u00e9tico<\/strong>, a ideia de que a sabedoria de Deus est\u00e1 al\u00e9m do nosso alcance, e ningu\u00e9m deve tomar para si o pedestal de executor de Sua vontade. \u00c9 ideia de que demos julgar antes de agir e de que, n\u00e3o sendo oniscientes, precisamos tolerar os que pensam diferente.<\/p>\n

Para os autores, essa \u00e9 mentalidade por tr\u00e1s da tradi\u00e7\u00e3o constitucional dos Estados Unidos, da desconfian\u00e7a em rela\u00e7\u00e3o a consensos e, posteriormente, do pensamento de autores que valorizavam a toler\u00e2ncia e a pluralidade intelectual.<\/p>\n

A segunda foi a do nacionalismo zelota<\/strong>, a ideia de que os americanos seriam um povo escolhido, uma Nova Israel encarregada de purificar o mundo de hereges. \u00c9 a ideia de que os valores que defendem n\u00e3o s\u00e3o apenas certos, mas divinos<\/strong>, e que pre\u00e7o nenhum \u00e9 grande demais para proteg\u00ea-los.<\/p>\n

Foi do nacionalismo zelota, segundo eles, que veio a bagagem ideol\u00f3gica do Destino Manifesto<\/a>, a conquista do Oeste, a Trilha das L\u00e1grimas<\/a> e a erradica\u00e7\u00e3o de povos ind\u00edgenas. E, mais recentemente, o longo hist\u00f3rico de interven\u00e7\u00f5es militares em nome do \u201cbem\u201d, da invas\u00e3o das Filipinas<\/a> \u00e0 Guerra do Iraque, passando pelo Vietn\u00e3 e as ditaduras na Am\u00e9rica Latina.<\/p>\n

\"\"

“Progresso Americano” de John Gast (1872)<\/p><\/div>\n

As duas tradi\u00e7\u00f5es ultrapassaram sua origem religiosa e ganharam espa\u00e7o na cultura popular. O realismo prof\u00e9tico deu origem a personagens como Atticus Finch de O Sol \u00e9 Para Todos <\/em><\/a>e o Jurado No 8 de 12 Homens e uma Senten\u00e7a<\/em><\/a>.<\/p>\n

\u201cHer\u00f3is\u201d que n\u00e3o vestem capas e acreditam no jeito \u201ccerto\u201d de se resolver as coisas. Que acham, como o Shepard \u201cParagon\u201d de Mass Effect<\/em>, que n\u00e3o podemos deixar o medo comprometer quem n\u00f3s somos.<\/p>\n

\"\"

Gregory Peck como Atticus Finch em “O Sol \u00e9 Para Todos”<\/p><\/div>\n

O nacionalismo zelota, por outro lado, ganhou vida com os caub\u00f3is, justiceiros e vingadores encapuzados. S\u00e3o os pistoleiros de filmes de faroeste, policiais vigilantes como Dirty Harry e, \u00e9 claro, super-her\u00f3is.<\/p>\n

Eles acreditam que os fins justificam os meios e que o mal n\u00e3o merece toler\u00e2ncia. Aos vil\u00f5es, s\u00f3 a viol\u00eancia.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

O Complexo de Capit\u00e3o Am\u00e9rica<\/strong><\/h3>\n

Para Jewett e Lawrence, essa mentalidade deu origem ao que chamam de complexo de Capit\u00e3o Am\u00e9rica: o uso de meios n\u00e3o-democr\u00e1ticos para defender valores democr\u00e1ticos.<\/strong><\/p>\n

\"\"<\/p>\n

O zelota faz a guerra em nome da paz, \u201cmatando milhares para salvar milh\u00f5es\u201d.\u00a0 Ele apoia a censura em nome do di\u00e1logo, silenciando as pessoas \u201cerradas\u201d para dar voz \u00e0s \u201ccertas\u201d.<\/p>\n

Como um del\u00edrio imaginado por George Orwell, ele \u00e9 um duplipensamento ambulante, rebatendo \u00f3dio com ainda mais \u00f3dio, distribuindo socos, tiros e m\u00edsseis em nome do amor e toler\u00e2ncia.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

O her\u00f3i zelota acredita que seus excessos devem ser perdoados, pois ele luta em nome do bem, e seus inimigos s\u00e3o do mal. Ele n\u00e3o \u00e9 o agressor, e sim a rea\u00e7\u00e3o, a resist\u00eancia <\/strong>contra as for\u00e7as malignas da sociedade. Foram os vil\u00f5es que atacaram primeiro, oprimindo fracos e silenciados, e agora eles ter\u00e3o o que merecem.<\/p>\n

\u00c9 por isso que o Capit\u00e3o Am\u00e9rica usa um escudo, e n\u00e3o uma espada, bast\u00e3o ou arma de fogo. \u00c9 por isso que os her\u00f3is de Star Wars <\/em>s\u00e3o da Rebeli\u00e3o ou da Resist\u00eancia, e \u201cImp\u00e9rios\u201d sempre s\u00e3o do mal.<\/p>\n

Que o escudo antim\u00edsseis sugerido pelo presidente americano Ronald Reagan em 1983 se chamasse \u201cStar Wars<\/em><\/a>\u201d n\u00e3o \u00e9 mera coincid\u00eancia. Essa \u00e9 a l\u00f3gica por tr\u00e1s da pol\u00edtica externa dos EUA, que sempre se enxergaram como o defensor da luta contra uma conspira\u00e7\u00e3o maior, seja o nazismo, o comunismo ou o jihadismo.<\/p>\n

Mas isso n\u00e3o \u00e9 privil\u00e9gio de uma \u00fanica ideologia de governo. Jewett e Lawrence s\u00e3o cuidadosos em frisar que o mesmo pensamento pode ser visto em todos os lugares. Direita e Esquerda, Republicanos e Democratas vestiram a camisa dos zelotas em momentos diferentes da hist\u00f3ria. Seja para ajudar tolher direitos em nome da seguran\u00e7a ou para sacrificar regressistas nas chamas da revolu\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

O importante, dizem eles, n\u00e3o \u00e9 a causa<\/strong> defendida, mas seus meios. E \u00e9 a\u00ed que super-her\u00f3is encontram a pol\u00edtica, com consequ\u00eancias tr\u00e1gicas para todos n\u00f3s.<\/p>\n

Super-her\u00f3is e o \u201cFascismo Pop\u201d<\/strong><\/h3>\n

\"\"<\/p>\n

O mais fant\u00e1stico nas hist\u00f3rias de her\u00f3i n\u00e3o s\u00e3o os pr\u00f3prios her\u00f3is, mas o fato de que seu mundo n\u00e3o funciona sem eles.<\/p>\n

No universo das HQs, o sistema opera mal. As leis servem para proteger bandidos e dificultar a vida dos justiceiros. Tribunais s\u00e3o corruptos. A pol\u00edcia \u00e9 fraca ou amedrontada. Afinal, que pode fazer um mero soldado contra super vil\u00f5es e amea\u00e7as gal\u00e1cticas?<\/p>\n

Para obter justi\u00e7a de verdade, precisamos de pessoas excepcionais, mais fortes, mais capazes, mais corretas<\/strong>. Her\u00f3is que vem de fora e que conseguem resolver nossos problemas num piscar de olhos, desde que tiverem espa\u00e7o para fazer seu trabalho.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

Esses her\u00f3is t\u00eam o poder para destruir o mundo, mas eles n\u00e3o far\u00e3o isso, pois sabem mais que a gente<\/strong>. Afinal, eles n\u00e3o s\u00e3o apenas mais poderosos que gente comum, mas tamb\u00e9m melhores como pessoas. <\/strong>E de t\u00e3o melhores, e t\u00e3o mais sabidos, esses\u00a0\u00dcbermenschen<\/em> s\u00e3o a \u00faltima esperan\u00e7a <\/strong>contra o mal que nos aflige.<\/p>\n

O universo dos her\u00f3is \u00e9 um mundo de medo e submiss\u00e3o, em que as pessoas n\u00e3o t\u00eam escolha sen\u00e3o rezar por uma interven\u00e7\u00e3o divina. Que v\u00e1rios her\u00f3is (e vil\u00f5es) tenham sido interpretados como divindades de algum pante\u00e3o \u00e9 uma consequ\u00eancia obrigat\u00f3ria deste cen\u00e1rio.<\/p>\n

O problema de se tirar essa del\u00edrio do Velho Testamento e aplic\u00e1-lo nos dias de hoje \u2013 de se fazer, enfim, pol\u00edtica com super-hero\u00edsmo \u2013 \u00e9 que essas ideias n\u00e3o se misturam. Pois elas j\u00e1 foram tentadas uma vez, e seus resultados foram devastadores.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

Jewett e Lawrence chamam de \u201cFascismo Pop\u201d a mistura de nacionalismo, vigilantismo e rep\u00fadio ao sistema que informa a \u00e9tica dos super-her\u00f3is. Ela \u00e9, na sua opini\u00e3o, um desenvolvimento extremo do Complexo de Capit\u00e3o Am\u00e9rica e do motivo pelo qual o velho her\u00f3i deveria pendurar o escudo.<\/p>\n

N\u00e3o errou a Marvel ao pintar o Capit\u00e3o Am\u00e9rica com as cores da Hydra. No fundo, o her\u00f3i sempre foi um fascista.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

Se voc\u00ea, como f\u00e3 de quadrinhos, ficou furioso ao ler isso, saiba que Jewett e Lawrence n\u00e3o foram os \u00fanicos a chegar nessa conclus\u00e3o. A sacada n\u00e3o escapou a Michael Chabon<\/a>, autor de um dos mais premiados romances<\/a> sobre quadrinhos e um dos roteiristas de Homem Aranha 2. <\/em><\/p>\n

Em sua f\u00e1bula vencedora do Pullitzter<\/a>, Chabon descreve um quadrinista judeu dos anos 1930 que percebe que seu her\u00f3i se tornou a imagem daqueles que mais detesta:<\/p>\n

\n

\u201cJoe Kavalier n\u00e3o foi o \u00fanico dos pioneiros dos quadrinhos a perceber a imagem refletida do fascismo inerente no seu super-homem anti-fascista \u2013 Will Eisner, outro judeu quadrinista, deliberadamente vestiu Falc\u00e3o Negro, seu her\u00f3i dos Aliados, em uniformes modelados nas elegantes roupas com a cabe\u00e7a da morte da Waffen-SS. Mas Joe foi talvez o primeiro a sentir a vergonha de glorificar, em nome da democracia e liberdade, a brutalidade vingativa de um homem muito forte. (\u2026) Agora ocorria a Joe pensar se tudo o que eles haviam feito, desde o come\u00e7o, n\u00e3o era ceder aos seus piores impulsos e fomentar a cria\u00e7\u00e3o de uma nova gera\u00e7\u00e3o de homens que veneravam a for\u00e7a e a domina\u00e7\u00e3o.\u201d<\/em><\/p>\n<\/blockquote>\n

O que isso diz sobre n\u00f3s?<\/strong><\/h3>\n

\"\"<\/p>\n

Capit\u00e3o Am\u00e9rica e a Cruzada contra o Mal <\/em>\u00e9 um livro urgente, persuasivo e desconfort\u00e1vel. Mesmo assim, n\u00e3o pude afastar a impress\u00e3o de que sua tese \u00e9 um tanto convincente demais.<\/p>\n

Jewett e Lawrence dizem que a febre dos her\u00f3is implica num culto a pessoas excepcionais, que est\u00e3o acima das leis e n\u00e3o se integram ao mundo que salvam.<\/p>\n

Como conciliar isso com a mensagem de empoderamento das hist\u00f3rias contempor\u00e2neas e o princ\u00edpio, defendido por filmes, conven\u00e7\u00f5es, cosplayers e caridades, de que todos podemos ser her\u00f3is?<\/p>\n

\"\"

Heroes’ Alliance<\/a>, grupo de cosplayers que visita crian\u00e7as em hospitais infantis.<\/p><\/div>\n

Ou o suposto nacionalismo de sua ideologia com o globalismo militado por tantos pol\u00edticos e artistas\u00a0mainstream<\/em>? E que ganha, \u00e0s vezes, contornos t\u00e3o violentos quanto os dos zelotas de outrora?<\/p>\n

Jewett e Lawrence publicaram seu livro em 2003, pensando nas consequ\u00eancias nefastas do contraterrorismo de George W. Bush. Foi o mesmo dilema que inspirou o c\u00e9lebre Guerra Civil da Marvel: a cilada 22 entre um governo tir\u00e2nico e uma amea\u00e7a que ningu\u00e9m sabia como enfrentar.<\/p>\n

Seu objeto n\u00e3o s\u00e3o os quadrinhos em si, mas os desmandos da pol\u00edtica americana \u2013 e suas similaridades com a cultura pop. S\u00f3 que a cultura pop j\u00e1 n\u00e3o \u00e9 mais a mesma, e sua mensagem, que j\u00e1 conta 15 anos, precisa de uma atualiza\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

O que nos resta daqui para a frente?<\/p>\n

\n

\u201cDois caminhos est\u00e3o abertos para aqueles que gostariam de reformar a sociedade americana de hoje, ou aceitar sua miss\u00e3o de servir ao mundo. H\u00e1 o caminho da viol\u00eancia redentora, que pode tomar a forma da grande revolu\u00e7\u00e3o ou da cruzada. Este caminho promete despeda\u00e7ar a injusti\u00e7a com uma f\u00faria virtuosa, punindo os malfeitores, emancipando os explorados e tornando o mundo seguro para a bondade. Mas tamb\u00e9m h\u00e1 o caminho do amor redentor. Sua promessa \u00e9 menos definida, e seus resultados, mais imprevis\u00edveis. Pois, quando o amor \u00e9 exercitado, pessoas se tornam livres. Novos impulsos despertam que ningu\u00e9m pode dominar em antecipa\u00e7\u00e3o. Este, ent\u00e3o, \u00e9 o caminho dos audaciosos e generosos de esp\u00edrito, aqueles que conseguem viver sem \u00eddolos e encarar um futuro incerto sem medo.\u201d<\/em><\/p>\n<\/blockquote>\n

Jewett e Lawrence provavelmente apostavam na segunda op\u00e7\u00e3o. E, de fato, houve muito avan\u00e7o. N\u00e3o foram poucos os quadrinistas que reinterpretaram seus her\u00f3is, atentando \u00e0s suas contradi\u00e7\u00f5es.<\/p>\n

Fora dos quadrinhos, o imagin\u00e1rio geek tamb\u00e9m conta com bons exemplos. Que uma personagem como Geralt de Rivia p\u00f4de nascer dos escombros do comunismo<\/a> \u00e9 prova de que o realismo prof\u00e9tico tem voz na cena nerd.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

Mas her\u00f3is zelotas \u2013 com ou sem capa \u2013 ainda existem, e a linguagem da viol\u00eancia, da f\u00faria virtuosa contra os \u201cdo mal\u201d, ainda persevera em quadrinhos, s\u00e9ries, filmes e tweets de criadores.<\/p>\n

Num presente em que a coexist\u00eancia \u00e9 uma necessidade e os problemas n\u00e3o se resolvem mais com o porrete, esta ret\u00f3rica \u00e9 t\u00e3o problem\u00e1tica quanto \u00e9 atrasada.<\/p>\n

Sim, o futuro \u00e9 incerto. Mas talvez, como dizem Jewett e Lawrence, seja essa a grande prova de nosso tempo. A capacidade de viver sem her\u00f3is, e sem deixar, tal qual Comandante Shepard, que o medo leve embora nossos princ\u00edpios.<\/p>\n

 <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

  Temos que conceder aos quadrinhos. \u00c9 f\u00e1cil ser tachado de divers\u00e3o vazia. Tamb\u00e9m \u00e9 f\u00e1cil ser acusado de panfletagem, provoca\u00e7\u00e3o barata, ve\u00edculo de doutrina\u00e7\u00e3o pol\u00edtica. Mais dif\u00edcil, e o que os comics americanos v\u00eam fazendo h\u00e1 d\u00e9cadas, \u00e9 ser criticado pelas duas coisas ao mesmo tempo.<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":20249,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"spay_email":"","jetpack_publicize_message":"","jetpack_is_tweetstorm":false},"categories":[580,15],"tags":[75,480,242,454,316,325],"jetpack_featured_media_url":"https:\/\/i0.wp.com\/www.finisgeekis.com\/wp-content\/uploads\/2018\/06\/captain-america-sam-wilson.jpg?fit=1349%2C1048","jetpack_publicize_connections":[],"jetpack_shortlink":"https:\/\/wp.me\/p9rUzW-5gA","_links":{"self":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/20248"}],"collection":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=20248"}],"version-history":[{"count":9,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/20248\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":21074,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/20248\/revisions\/21074"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media\/20249"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=20248"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=20248"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=20248"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}