<\/p>\n
Temos que conceder aos quadrinhos. \u00c9 f\u00e1cil ser tachado de divers\u00e3o vazia. Tamb\u00e9m \u00e9 f\u00e1cil ser acusado de panfletagem, provoca\u00e7\u00e3o barata, ve\u00edculo de doutrina\u00e7\u00e3o pol\u00edtica.<\/p>\n
Mais dif\u00edcil, e o que os comics <\/em>americanos v\u00eam fazendo h\u00e1 d\u00e9cadas, \u00e9 ser criticado pelas duas coisas ao mesmo tempo<\/strong>.<\/p>\n <\/p>\n Todos n\u00f3s j\u00e1 escutamos a acusa\u00e7\u00e3o. HQs est\u00e3o desesperadas atr\u00e1s de relev\u00e2ncia, agarrando-se a qualquer manchete para alavancar vendas. Da guerra na S\u00edria \u00e0 elei\u00e7\u00e3o de Donald Trump, n\u00e3o h\u00e1 um fact\u00f3ide que escape aos super sentidos dos her\u00f3is.<\/p>\n <\/p>\n Mas teria sido sempre assim?<\/p>\n Cr\u00edticos da politiza\u00e7\u00e3o os quadrinhos dizem que n\u00e3o. Segundo eles, quadrinhos est\u00e3o se tornando mais politizados, hist\u00e9ricos e rasos. O fen\u00f4meno \u00e9 novo – e poderia ser fatal. Se as coisas n\u00e3o voltarem r\u00e1pido ao curso, o futuro da ind\u00fastria poderia estar em risco.<\/p>\n Se isso \u00e9 verdade, como explicar a palhinha de Barack Obama<\/a> como personagem de Homem Aranha <\/em>em 2009? Ou o retrato de um Doutor Destino em prantos ap\u00f3s o atentado \u00e0s Torres G\u00eameas<\/a>?\u00a0 Ou ainda a HQ que transformou Magneto em um sobrevivente do Holocausto<\/a>?<\/p>\n Causas mudam, pessoas envelhecem e partidos se renovam. Mas os quadrinhos parecem ter um flerte com a pol\u00edtica que vai muito al\u00e9m do momento atual.<\/p>\n Essa \u00e9 a opini\u00e3o de Robert Jewett e John Lawrence no provocante\u00a0Capit\u00e3o Am\u00e9rica e a Cruzada contra o Mal<\/em><\/a>. <\/em><\/strong>Escrito no calor do 9\/11, mas ainda relevante aos dias de hoje, o livro argumenta que super-her\u00f3is sempre<\/strong> foram politizados \u2013 e ningu\u00e9m deveria se orgulhar disso.<\/strong><\/p>\n <\/p>\n Para Jewett e Lawrence, a politiza\u00e7\u00e3o dos her\u00f3is n\u00e3o se deve \u00e0 gera\u00e7\u00e3o millenial<\/em>, \u00e0 Guerra ao Terror de Bush, ao Civil Rights Movement<\/em>, nem mesmo \u00e0 Guerra Mundial que deu vida a Capit\u00e3o Am\u00e9rica e tantos outros. Ela vem de antes, muito antes de existirem quadrinhos. Muito antes, na verdade, at\u00e9 de existir um Estados Unidos.<\/p>\n <\/p>\n As col\u00f4nias inglesas na Am\u00e9rica, eles explicam, foram assentadas por Puritanos<\/a>, uma fac\u00e7\u00e3o radical dos crist\u00e3os brit\u00e2nicos que se viam na miss\u00e3o de reformar a sociedade \u2013 e, especialmente, o Novo Mundo.<\/p>\n Essa f\u00e9 exacerbada deu origem a duas mentalidades muito diferentes entre si, mas que marcaram a hist\u00f3ria dos EUA at\u00e9 os dias de hoje.<\/p>\n A primeira foi a do realismo prof\u00e9tico<\/strong>, a ideia de que a sabedoria de Deus est\u00e1 al\u00e9m do nosso alcance, e ningu\u00e9m deve tomar para si o pedestal de executor de Sua vontade. \u00c9 ideia de que demos julgar antes de agir e de que, n\u00e3o sendo oniscientes, precisamos tolerar os que pensam diferente.<\/p>\n Para os autores, essa \u00e9 mentalidade por tr\u00e1s da tradi\u00e7\u00e3o constitucional dos Estados Unidos, da desconfian\u00e7a em rela\u00e7\u00e3o a consensos e, posteriormente, do pensamento de autores que valorizavam a toler\u00e2ncia e a pluralidade intelectual.<\/p>\n A segunda foi a do nacionalismo zelota<\/strong>, a ideia de que os americanos seriam um povo escolhido, uma Nova Israel encarregada de purificar o mundo de hereges. \u00c9 a ideia de que os valores que defendem n\u00e3o s\u00e3o apenas certos, mas divinos<\/strong>, e que pre\u00e7o nenhum \u00e9 grande demais para proteg\u00ea-los.<\/p>\n Foi do nacionalismo zelota, segundo eles, que veio a bagagem ideol\u00f3gica do Destino Manifesto<\/a>, a conquista do Oeste, a Trilha das L\u00e1grimas<\/a> e a erradica\u00e7\u00e3o de povos ind\u00edgenas. E, mais recentemente, o longo hist\u00f3rico de interven\u00e7\u00f5es militares em nome do \u201cbem\u201d, da invas\u00e3o das Filipinas<\/a> \u00e0 Guerra do Iraque, passando pelo Vietn\u00e3 e as ditaduras na Am\u00e9rica Latina.<\/p>\n