O Finisgeekis,\u00a0Dissid\u00eancia Pop<\/a>,\u00a0\u00c9 S\u00f3 um Desenho<\/a>\u00a0e\u00a0Anime21\u00a0<\/a>compraram um desafio. Toda a semana, at\u00e9 o final da temporada, teremos um novo quadro a voc\u00eas.<\/p>\n Depois das agruras do dia, cheio de escrita, pesquisa e trabalho, n\u00f3s nos sentaremos para um bom caf\u00e9, uma poltrona confort\u00e1vel \u2013 e um bate papo sobre o melhor da temporada.<\/p>\n Pe\u00e7a uma x\u00edcara voc\u00ea tamb\u00e9m, e mergulhe conosco no oitavo epis\u00f3dio de\u00a0Girls Last Tour:<\/em><\/strong>
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\nBem vindos a Girls’ Last Tour.<\/em> O \u00fanico anime capaz de fazer gavetas de necrot\u00e9rio e memoriais parecerem fofos.
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\nEU SABIA QUE ISSO ERA UM CEMIT\u00c9RIO DESDE O COME\u00c7O!!
\nE sim, me orgulho muito disso.<\/li>\n
\nEu tamb\u00e9m. Perks<\/em> de ser f\u00e3 de enlatados policiais\u00a0
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\nNo meu caso foi s\u00f3 insight mesmo\u00a0<\/li>\n
\nEu imaginava que era algum tipo de arm\u00e1rio XP E quando descobrimos que era um cemit\u00e9rio eu me perguntei por que elas n\u00e3o encontraram restos mortais. Todo mundo foi cremado, talvez? Numa civiliza\u00e7\u00e3o vertical enfrentando a falta de espa\u00e7o isso me parece bem poss\u00edvel.<\/li>\n
\nElas conseguiram abrir rar\u00edssimas gavetas, n\u00e3o d\u00e1 para afirmar com certeza que nenhuma tivesse restos mortais.<\/li>\n
\nA parte do cemit\u00e9rio foi legal, mas o que mas me chamou a aten\u00e7\u00e3o foi elas achando cerveja e ficando b\u00eabadas! Um pensamento safado rondou minha cabe\u00e7a e cogitou um yuri. Mas claro que eu sabia que nada disso ocorreria.
\nS\u00f3 uma coisa, acho pouco prov\u00e1vel elas terem achado cervejas em boa qualidade abandonadas por d\u00e9cadas ou s\u00e9culos. Cerveja \u00e9 uma bebida para ser consumida em pouco tempo, quanto mais nova melhor, salvo poucas variedades que s\u00e3o preparadas por alguns anos, elas estragam depois de um tempo.
\nMas sim, eu sei que esse anime n\u00e3o pretende ser realista, e possui in\u00fameras coisas um tanto “irreais”.
\nEnfim, esse epis\u00f3dio foi muito gostoso de assistir! O anime continua muito bom.<\/li>\n
\nSe a c\u00e2mera estiver correta \u00e9 o n\u00famero nas garrafas for ano de envase, a cerveja tinha 29 anos. E qual \u00e9, se elas podem ter batatas quadradas, elas podem ter cerveja que dura d\u00e9cadas<\/li>\n
\nSe o anime fosse realista, elas j\u00e1 estariam mortas por comer comida estragada.<\/li>\n
\nDisenteria por comer neve, no primeiro epis\u00f3dio.<\/li>\n
\nExistem cervejas de guarda que aguentam d\u00e9cadas engarrafadas. Duvido que a do anime fosse uma delas, no entanto. Mesmo assim, \u00e9 quase certo que elas perderiam a carbonata\u00e7\u00e3o depois de tanto tempo.
\nQuanto \u00e0s gavetas, podem n\u00e3o ser exatamente um “oss\u00e1rio”. Em culturas que queimam seus mortos, \u00e9 comum existirem santu\u00e1rios para louvar a mem\u00f3ria dos entes amados. O “cemit\u00e9rio” encontrado pela Chi e a Yuu pode ter se tratado de alguma coisa do tipo. Os objetos, neste caso, seriam mementos dos falecidos, colocados l\u00e1 pelos seus pr\u00f3ximos.<\/li>\n
\nTamb\u00e9m acho que \u00e9 isso. Tudo aquilo \u00e9 apenas um memorial, onde guardam lembran\u00e7as. A maioria ficou trancado, somente um outro estando aberto.<\/li>\n
\nAchei peculiar que, de longe, esse \u201cmemorial\u201d parece um mainframe abandonado. Ou um chipset de computador. \u00c9 um paralelo interessante: um \u201carmazenamento\u201d de humanos (e mem\u00f3rias humanas) no formato de uma estrutura de armazenamento de dados.
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\nIsso me lembrou do epis\u00f3dio San Junipero<\/em> da s\u00e9rie de fic\u00e7\u00e3o cient\u00edfica Black Mirror<\/em>. No conto, pessoas conseguem fazer \u201cupload\u201d de suas consci\u00eancias, que passam a residir na mem\u00f3ria de um supercomputador. Desta forma, obt\u00eam a imortalidade vivendo para sempre em uma simula\u00e7\u00e3o ut\u00f3pica.
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\n\u00c9 bizarro \u2013 e at\u00e9 desconcertante \u2013 imaginar que, com o passar suficiente de tempo, o pr\u00f3prio legado humano pode ser reduzido a informa\u00e7\u00e3o.<\/li>\n
\nBom, mem\u00f3rias s\u00e3o, literalmente, informa\u00e7\u00e3o. Talvez soe t\u00e3o \u00f3bvio para mim porque eu trabalho na \u00e1rea de TI, hehe
\nO que eu realmente achei curioso foram as raias no ch\u00e3o – se voc\u00ea quiser interpretar como circuitos, bom, s\u00e3o as vias. Mas provavelmente eram trilhos para ve\u00edculos autom\u00e1ticos acessarem os jazigos.<\/li>\n
\nTecnicamente tudo pode ser considerado informa\u00e7\u00e3o, n\u00e3o? Em todo caso, n\u00e3o vejo realmente nada de muito perturbador na ideia, e francamente falando se ainda sobrar a informa\u00e7\u00e3o j\u00e1 \u00e9 alguma coisa. Na longa escala temporal o mais prov\u00e1vel \u00e9 que a humanidade e tudo o que ela um dia produziu simplesmente desapare\u00e7a.<\/li>\n
\nAs duas at\u00e9 que s\u00e3o muito boazinhas, elas bem que podiam ter tentado arrombar uma ou outra gaveta.<\/li>\n
\nTudo \u00e9 dado. Informa\u00e7\u00e3o \u00e9 dado com significado. Ficando apenas no exemplo de Girls’ Last Tour<\/em>, os objetos in\u00fateis que elas encontraram eram apenas dados, mas quando a Chito teve uma epifania e descobriu o que de fato eles eram, passaram a ser informa\u00e7\u00e3o.<\/li>\n
\nDigo achar bizarro” que as pessoas se transformem em informa\u00e7\u00e3o n\u00e3o porque n\u00e3o concorde com o julgamento do F\u00e1bio. Pelo contr\u00e1rio, como historiador, sei bem que pessoas podem virar informa\u00e7\u00e3o. Tenho colegas que literalmente escavam caveiras e as transformam em dados de pesquisa.
\nMeu ponto foi com um topos<\/em> da fic\u00e7\u00e3o cient\u00edfica, bastante popular nos dias de hoje, de imaginar que a tecnologia progrida de tal forma que nossa sociedade seja “fagocitada” por uma l\u00f3gica cibern\u00e9tica p\u00f3s-humana.<\/li>\n
\nComo profissional de tecnologia, isso para mim parece apenas um futuro bom, desej\u00e1vel, natural e inevit\u00e1vel, hahaha\u00a0<\/li>\n
\nBem, hoje eu trabalho com simula\u00e7\u00f5es de computador para estudar hist\u00f3ria. Basicamente crio “sociedades artificiais” e uso elas de laborat\u00f3rio para estudar eventos do passado. Ent\u00e3o para mim tamb\u00e9m faz todo o sentido.
\nMas \u00e9 interessante que isso aparece (como met\u00e1fora, sen\u00e3o como profecia) em animes que buscam criticar os rumos da nossa sociedade.
\nA eu-l\u00edrica do opening<\/em> de Mawaru Penguindrum<\/em>, por exemplo, diz n\u00e3o querer ser reduzido a “zeros e uns”. E isto tem tudo a ver com o drama do atentado ao metr\u00f4 de T\u00f3quio que o anime aborda e o medo de que a sociedade japonesa estaria “normalizando” o terror pelo seu excesso de subservi\u00eancia. J\u00e1 aqui, em contrapartida, vemos isso como uma coisa natural.
\nAli\u00e1s, tudo \u00e9 “natural” nesse p\u00f3s-apocalipse do anime, e isso tamb\u00e9m \u00e9 peculiar.
\nEsse g\u00eanero normalmente \u00e9 usado para criticar ou questionar nossa sociedade: atacando nosso recurso \u00e0s armas nucleares, destrui\u00e7\u00e3o do meio-ambiente, fim das liberdades individuais, etc. Girls’ Last Tour<\/em>, por outro lado, \u00e9 s\u00f3 alegria. Nunca vi um p\u00f3s-apocalipse como esse.<\/li>\n
\n\u00c9 t\u00e3o natural que come\u00e7o a questionar a pr\u00f3pria natureza p\u00f3s-apocal\u00edptica do anime
\nAnimes bem longe do “fim do mundo” frequentemente n\u00e3o mostram personagem nenhum al\u00e9m dos protagonistas, exceto em raras ocasi\u00f5es. N\u00e3o estou dizendo que h\u00e1 transeuntes invis\u00edveis em Girls’ Last Tour<\/em> porque claramente n\u00e3o \u00e9 o caso, apenas que o anime, inclusive seu mundo em ru\u00ednas, \u00e9 muito mais uma met\u00e1fora para o nosso mundo hoje do que um tratado sobre um futuro hipot\u00e9tico<\/li>\n
\nUma met\u00e1fora, diga-se de passagem, bem positiva.
\nO que nos leva, finalmente, a essa cena.
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\nEu comecei essa coluna dizendo que Girls’ Last Tour<\/em> me parecia uma vers\u00e3o moe<\/em> de Inferno no Pac\u00edfico<\/em>. N\u00e3o podia imaginar o qu\u00e3o errado eu estava.
\nO Gato disse brincando sobre um certo clima yuri, e acho que, l\u00e1 no fundo, tem a\u00ed um pouco de raz\u00e3o. Essas garotas realmente se amam. N\u00e3o no sentido sexual, provavelmente, mas de uma maneira profunda, total, irresist\u00edvel. Elas s\u00e3o a raz\u00e3o para continuarem vivas. O motivo dos seus sorrisos. O ombro para todos os momentos. S\u00e3o, enfim, tudo o que lhes resta.
\nSe isso \u00e9 uma met\u00e1fora do nosso mundo hoje, acho que sua mensagem remonta \u00e0 Virg\u00edlio: omnia amor vincit <\/em>(o amor vence tudo). Ao que eu acrescentaria: omnia amor est\u00a0<\/em>(tudo \u00e9 amor).<\/li>\n
\nO primeiro epis\u00f3dio fez um bom trabalho em nos enganar, n\u00e3o \u00e9? E esse epis\u00f3dio fez um bom trabalho em eliminar qualquer d\u00favida de que a Chito tamb\u00e9m ame a Yuuri, o que algu\u00e9m focado no aspecto pragm\u00e1tico da personalidade dela pode ser levado a pensar.
\nDespida de todas as travas, a primeira coisa que ela fez foi demonstrar de v\u00e1rias formas diferentes o quanto a Yuuri lhe \u00e9 querida.<\/li>\n
\nPior que agora que o F\u00e1bio falou sobre “despir de todas as trevas” que eu parei para pensar: a Chi j\u00e1 tinha sorrido no anime antes? Porque acho que essa \u00e9 a primeira vez que ela de fato sorri.
\nJ\u00e1 fez algumas caras de contentamento antes, como quando comia, mas sorrir de fato acho que foi s\u00f3 agora, b\u00eabada de tudo.<\/li>\n
\nEu acho que j\u00e1, mas n\u00e3o vou me lembrar quando. Os sorrisos dela s\u00e3o raros mesmo.<\/li>\n
\nEssa cena da Chito puxando as bochechas da Yuuri ficou muito fofa e expressiva. Nesse anime de blobfishs, creio que esse seja o \u00e1pice da cumplicidade da dupla.<\/li>\n
\nEsse \u00e9 talvez o aspecto mais impressionante de Girls\u2019 Last Tour<\/em>. Tsukumizu, a autora original da obra, tem um tra\u00e7o estilizado, polu\u00eddo, \u00e0s vezes quase simplista. Mesmo assim \u2013 ou talvez por causa disso \u2013 \u00e9 capaz de produzir cenas incrivelmente expressivas.<\/p>\n