Warning: Use of undefined constant CONCATENATE_SCRIPTS - assumed 'CONCATENATE_SCRIPTS' (this will throw an Error in a future version of PHP) in /home/finisgeekis/www/wp-config.php on line 98

Warning: Cannot modify header information - headers already sent by (output started at /home/finisgeekis/www/wp-config.php:98) in /home/finisgeekis/www/wp-includes/rest-api/class-wp-rest-server.php on line 1648

Warning: Cannot modify header information - headers already sent by (output started at /home/finisgeekis/www/wp-config.php:98) in /home/finisgeekis/www/wp-includes/rest-api/class-wp-rest-server.php on line 1648

Warning: Cannot modify header information - headers already sent by (output started at /home/finisgeekis/www/wp-config.php:98) in /home/finisgeekis/www/wp-includes/rest-api/class-wp-rest-server.php on line 1648

Warning: Cannot modify header information - headers already sent by (output started at /home/finisgeekis/www/wp-config.php:98) in /home/finisgeekis/www/wp-includes/rest-api/class-wp-rest-server.php on line 1648

Warning: Cannot modify header information - headers already sent by (output started at /home/finisgeekis/www/wp-config.php:98) in /home/finisgeekis/www/wp-includes/rest-api/class-wp-rest-server.php on line 1648

Warning: Cannot modify header information - headers already sent by (output started at /home/finisgeekis/www/wp-config.php:98) in /home/finisgeekis/www/wp-includes/rest-api/class-wp-rest-server.php on line 1648

Warning: Cannot modify header information - headers already sent by (output started at /home/finisgeekis/www/wp-config.php:98) in /home/finisgeekis/www/wp-includes/rest-api/class-wp-rest-server.php on line 1648

Warning: Cannot modify header information - headers already sent by (output started at /home/finisgeekis/www/wp-config.php:98) in /home/finisgeekis/www/wp-includes/rest-api/class-wp-rest-server.php on line 1648
{"id":18162,"date":"2017-09-04T18:57:20","date_gmt":"2017-09-04T21:57:20","guid":{"rendered":"http:\/\/finisgeekis.com\/?p=18162"},"modified":"2019-02-24T13:06:16","modified_gmt":"2019-02-24T16:06:16","slug":"o-infinito-no-meio-algo-fundamental-escapa-pelos-dedos","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/2017\/09\/04\/o-infinito-no-meio-algo-fundamental-escapa-pelos-dedos\/","title":{"rendered":"“O Infinito no Meio”: algo fundamental escapa pelos dedos"},"content":{"rendered":"

Pris\u00e3o epif\u00e2nica<\/a> \u00e9 um tipo de c\u00e1rcere em que n\u00e3o sabemos que estamos presos. \u00c9 s\u00f3 quando tentamos fugir que descobrimos que nossa vida, na verdade, \u00e9 uma cela.<\/p>\n

\u00c9 a Caverna de Plat\u00e3o, a Matrix, a Seahaven Island de O Show de Truman<\/a><\/em>, o Museu do Sil\u00eancio<\/a> de Yoko Ogawa, o Fim do Mundo<\/a> de Haruki Murakami.<\/p>\n

<\/p>\n

N\u00e3o parece, \u00e0 primeira vista, ser o caso do \u201cInfinito no Meio\u201d, cen\u00e1rio do livro hom\u00f4nimo de Priscilla Matsumoto. Que o romance consiga subverter esta expectativa \u00e9 um de seus aspectos mais satisfat\u00f3rios.<\/p>\n

\"infinito<\/p>\n

O Infinito no Meio<\/em> \u00e9 a hist\u00f3ria de Cec\u00edlia, uma mulher que vive \u201cfora do tempo\u201d. H\u00e1 trinta anos, ela habita um apartamento do qual n\u00e3o pode sair.<\/p>\n

L\u00e1, os ponteiros do rel\u00f3gio n\u00e3o se mexem. Cec\u00edlia n\u00e3o envelheceu um \u00fanico dia. Machucados nunca saram. Feridas abertas continuam abertas.<\/p>\n

Na sua pris\u00e3o curiosa, esp\u00e9cie de limbo do mundo real, a garota \u00e9 visitada por criaturas misteriosas e apari\u00e7\u00f5es daqueles que conheceu. No entanto, quando algu\u00e9m de carne e osso finalmente bate \u00e0 porta, tudo o que ela acha que sabe amea\u00e7a cair por terra.<\/p>\n

O \u201cInfinito no Meio\u201d \u00e9 uma pris\u00e3o \u00f3bvia, e talvez na sua simplicidade esteja sua mais for\u00e7a. Em um estilo ecl\u00e9tico, misturando conversas com seres fict\u00edcios a descri\u00e7\u00f5es viscerais de sofrimento, Matsumoto nos convida a uma hist\u00f3ria de que n\u00e3o sabemos, a princ\u00edpio, o que esperar.<\/p>\n

O romance \u00e9 publicado pela Editora Draco<\/a>, que fez um nome no mercado na seara da literatura de g\u00eanero \u2013 fantasia, sci fi, <\/em>mist\u00e9rio, chick-lit. N\u00e3o pense, por\u00e9m, que o livro \u00e9 facilmente reduz\u00edvel a qualquer uma destas categorias. N\u00e3o mais, pelo menos, que O Outro P\u00e9 da Sereia<\/a><\/em> pode ser descrito como \u201cfantasia\u201d, ou N\u00e3o me Abandone Jamais<\/a><\/em> como \u201cfic\u00e7\u00e3o cient\u00edfica\u201d. Priscilla mira mais alto.<\/p>\n

Sua protagonista ama o filme Persona <\/em>(1966)<\/a>, e sua trama de fato segue as linhas da pel\u00edcula de Bergman. As duas hist\u00f3rias dizem respeito a mulheres fechadas ao mundo e aos esfor\u00e7os (nem sempre benquistos) para traz\u00ea-las de volta.<\/p>\n

Logo de in\u00edcio fica evidente que seu texto opera num n\u00edvel metaf\u00f3rico. O livro \u00e9 uma alegoria sobre o trauma \u2013 e seus efeitos nas vidas de quem toca.<\/p>\n

Cec\u00edlia foi \u201cpartida\u201d em v\u00e1rias ap\u00f3s um incidente terr\u00edvel e fica fadada a reviv\u00ea-lo eternamente. Qualquer semelhan\u00e7a com Mawaru Penguindrum,<\/a> <\/em>anime com que compartilha sensibilidades pol\u00edticas, n\u00e3o \u00e9 mera coincid\u00eancia.<\/p>\n

\"mawaru_penguindrum<\/p>\n

Tal como Ikuhara em Penguindrum<\/em>, Matsumoto cita Haruki Murakami como refer\u00eancia, e \u00e9 evidente em suas p\u00e1ginas os empr\u00e9stimos do escritor japon\u00eas.<\/p>\n

Em uma de suas cenas mais inspiradas, Nathan, o garoto que bate \u00e0 porta de Cec\u00edlia, lhe traz um laptop para conect\u00e1-la ao mundo. Enquanto assistem a um seriado sobre vampiros, um sanguessuga habitu\u00e9 <\/em>do Infinito no Meio surge para dar pitacos sobre sua \u201cverossimilhan\u00e7a\u201d.<\/p>\n

\u00c9 o tipo de casualidade p\u00f3s-moderna que esperamos de uma Kafka \u00e0 Beira Mar<\/em>, em que Johnnie Walker e Coronel Sanders dividem espa\u00e7o com desertores fantasmag\u00f3ricos de uma carga banzai.<\/p>\n

\"umibe<\/p>\n

Assim, \u00e9 uma pena que a prosa de Matsumoto n\u00e3o esteja \u00e0 altura de seu argumento.<\/p>\n

Sua escrita \u00e9 afetada por alitera\u00e7\u00f5es (\u201cseu perfume perdurou junto a meus poros\u201d), repeti\u00e7\u00f5es (\u201co sil\u00eancio enlutado… o sil\u00eancio presta luto\u201d) e lugares comuns (\u201cminha ferida jorra sangue\u201d).<\/p>\n

Na sanha de se expressar como uma \u201calma envelhecida\u201d, o linguajar de sua narradora cai no vale de estranheza: n\u00e3o exatamente naturalista, nem rebuscado o suficiente para convencer pelo contraste.<\/p>\n

Em nenhum instante isto \u00e9 mais evidente que em seus quadros surrealistas, nos quais o sutil perde espa\u00e7o ao trivial:<\/p>\n

\n

Ent\u00e3o ele me explicou o que era um <\/em>dokkaebi. Tratava-se de uma esp\u00e9cie de dem\u00f4nio advindo do folclore coreano, um esp\u00edrito que n\u00e3o era maligno nem benigno, mas que andava por a\u00ed pregando pe\u00e7as nas pessoas. Algo entre o saci-perer\u00ea e o deus Loki da mitologia n\u00f3rdica. O <\/em>dokkaebi, por\u00e9m, provinha de um objeto inanimado que ganhara vida.<\/em><\/p>\n<\/blockquote>\n

Nunca vi um dokkaebi<\/em>. Mesmo assim, tenho dificuldade em imaginar que um esp\u00edrito arteiro se descreva com a formalidade de um verbete da Wikipedia.<\/p>\n

N\u00e3o existe f\u00f3rmula para lidar com o sobrenatural, mas h\u00e1 circunst\u00e2ncias onde menos \u00e9 mais.<\/p>\n

A ovelha estrelada de Ca\u00e7ando Carneiros<\/em> e os INKlings de O Impiedoso Pa\u00eds das Maravilhas e o Fim do Mundo, <\/em>para citar dois exemplos,\u00a0<\/em>n\u00e3o t\u00eam raz\u00e3o de existir. S\u00e3o entidades acima da l\u00f3gica, que habitam a zona cinza do nonsense <\/em>pr\u00f3pria a toda experi\u00eancia humana.<\/p>\n

O Infinito no Meio <\/em>\u00e9 uma narrativa seca e intimista. Sobrecarregado com tanta bagagem, o feiti\u00e7o se rompe. E suas criaturas, t\u00e3o interessantes, se reduzem a gimmicks <\/em>ret\u00f3ricos.<\/p>\n

A brutalidade do texto ajuda pouco. E \u00e9 justamente quando o romance exp\u00f5e seus segredos mais chocantes que sua mensagem titubeia.<\/p>\n

N\u00e3o foi por acaso que Roberto Benigni<\/a> escolheu a com\u00e9dia para falar sobre o Holocausto. Nem que Murakami optou por quebrar a exaspera\u00e7\u00e3o de Norwegian Wood<\/a> <\/em>com as travessuras da irreverente Midori.<\/p>\n

O humor, o nonsense, <\/em>o pat\u00e9tico e o sat\u00edrico s\u00e3o ferramentas que inventamos para contextualizar nossa dor. A vida, tal como a m\u00fasica, \u00e9 melhor servida com din\u00e2mica.<\/p>\n

O Infinito no Meio<\/em>, pelo contr\u00e1rio, \u00e9 quase inteiramente monot\u00f4nico. Quando finalmente mostra suas cartas e entendemos a real trag\u00e9dia que nos \u00e9 contada, j\u00e1 estamos amortecidos pelo seu pathos.<\/em><\/p>\n

Tudo isso \u00e9 coerente com o prop\u00f3sito da obra. Mas \u00e9 uma pena que o conceito se articule \u00e0s custas da complexidade moral.<\/p>\n

Cec\u00edlia cruza com v\u00e1rias personagens, algumas humanas e outras nem tanto, mas n\u00e3o h\u00e1 aqui Settembrinis ou Naphtas<\/a>. Cada novo encontro parece apenas reafirmar seu desejo de ver aqueles que a feriram sangrar.<\/p>\n

\"029-the-virgin-spring-theredlist.jpg\"<\/p>\n

Mas seria o \u201csangue\u201d, de fato, a chave da pris\u00e3o? \u00c9 o que perguntaria o jovem Bergman<\/a>, mas o mero ato de perguntar j\u00e1 traz uma nuance que a trama pretere em fun\u00e7\u00e3o de respostas f\u00e1ceis: o \u201cmundo podre\u201d, a \u201cdecad\u00eancia humana\u201d, os homens nocivos por natureza. Ao ceder a estas generaliza\u00e7\u00f5es, algo fundamental escapa pelos dedos.<\/p>\n

Como disse o pr\u00f3prio Murakami<\/a> a respeito de outro grande trauma<\/a>:<\/p>\n

\n

Talvez seja um risco ocupacional da profiss\u00e3o de romancista, mas eu sou menos interessado no \u201cquadro geral\u201d tal como ele \u00e9 do que na humanidade concreta e irreduz\u00edvel de cada indiv\u00edduo.<\/em><\/p>\n

A m\u00eddia japonesa nos bombardeou com tantos perfis aprofundados dos criminosos da seita Aum \u2013 os \u201catacantes\u201d \u2013 formando uma narrativa t\u00e3o esbelta e sedutora que o cidad\u00e3o m\u00e9dio \u2013 a \u201cv\u00edtima\u201d \u2013 se tornou quase um <\/em>afterthought. O \u201cespectador A\u201d era vislumbrado s\u00f3 de passagem. Muito raramente uma narrativa \u201cmenor\u201d era apresentada de uma forma que recebesse aten\u00e7\u00e3o. As poucas hist\u00f3rias que surgiram foram contextualizadas em glosas formulaicas. Nossa m\u00eddia provavelmente queria criar uma imagem coletiva do \u201csofredor japon\u00eas inocente\u201d, o que \u00e9 muito mais f\u00e1cil de se fazer quando voc\u00ea n\u00e3o tem de lidar com rostos reais. (…)<\/em><\/p>\n

\u00c9 por causa disso que eu queria, se poss\u00edvel, me afastar de qualquer f\u00f3rmula; reconhecer que cada pessoa no metr\u00f4 naquela manh\u00e3 tinha um rosto, uma vida, uma fam\u00edlia, esperan\u00e7as e medos, contradi\u00e7\u00f5es e dilemas \u2013 e que todos estes fatores tiveram um lugar no drama.<\/em><\/p>\n<\/blockquote>\n

Mesmo assim \u2013 ou, talvez, por causa disso \u2013 o romance envereda para uma conclus\u00e3o sofisticada.<\/p>\n

O fim de O Infinito no Meio <\/em>convence, se nada mais, pela distra\u00e7\u00e3o. Tal como num truque de m\u00e1gica, o romance revela as cartas no primeiro ato para mostrar, no final, que o truque estava l\u00e1 desde o come\u00e7o.<\/p>\n

Pode uma hist\u00f3ria se apoiar na for\u00e7a de um twist<\/em>? O finado Roger Ebert<\/a> diria que n\u00e3o. De minha parte, n\u00e3o posso negar que a trama, mesmo em seus trechos mais ins\u00edpidos, me inspirou \u00a0fasc\u00ednio.<\/p>\n

Cada vez que pousava o livro minha mente permanecia com suas personagens torturadas. Ao retom\u00e1-lo, tinha medo do que iria encontrar.<\/p>\n

\u00c0s vezes, apenas isso \u00e9 necess\u00e1rio.<\/p>\n

\"cover<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Pris\u00e3o epif\u00e2nica \u00e9 um tipo de c\u00e1rcere em que n\u00e3o sabemos que estamos presos. \u00c9 s\u00f3 quando tentamos fugir que descobrimos que nossa vida, na verdade, \u00e9 uma cela. \u00c9 a Caverna de Plat\u00e3o, a Matrix, a Seahaven Island de O Show de Truman, o Museu do Sil\u00eancio de Yoko Ogawa, o Fim do Mundo […]<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":18205,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"spay_email":"","jetpack_publicize_message":"","jetpack_is_tweetstorm":false},"categories":[580,17],"tags":[121,163,226,283,321],"jetpack_featured_media_url":"https:\/\/i2.wp.com\/www.finisgeekis.com\/wp-content\/uploads\/2017\/09\/cover-infinito-no-meio.png?fit=688%2C628","jetpack_publicize_connections":[],"jetpack_shortlink":"https:\/\/wp.me\/p9rUzW-4IW","_links":{"self":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/18162"}],"collection":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=18162"}],"version-history":[{"count":3,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/18162\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":21221,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/18162\/revisions\/21221"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media\/18205"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=18162"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=18162"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=18162"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}