Para o j\u00fabilo dos f\u00e3s desesperados, a premiada s\u00e9rie Mad Men <\/em>finalmente voltou para a \u00faltima parte de sua \u00faltima temporada. O drama de \u00e9poca \u00e9 exemplo de tudo o que h\u00e1 de mais certo na gera\u00e7\u00e3o atual da TV americana, e reflete o julgamento daqueles que consideram nossa d\u00e9cada como a era de ouro da telinha. Mais interessante, no entanto, \u00e9 o que a s\u00e9rie faz de inesperado, para n\u00e3o dizer\u00a0inconceb\u00edvel.<\/p>\n <\/p>\n <\/a>Para al\u00e9m do nonsense, n\u00fameros musicais e cortadores de grama, o verdadeiro milagre \u00e9 o que faz com a \u00e9poca que retrata \u2013 mais ainda, com a forma com que renova a proposta dos dramas de \u00e9poca. Hist\u00f3rias ambientadas no passado s\u00e3o complicadas, pois sempre queremos tirar muito mais dele do que ele nos oferece. Como j\u00e1 disse antes<\/a>, as obras pendem ou para a malha\u00e7\u00e3o de Judas ou para uma idealiza\u00e7\u00e3o rom\u00e2ntica. Em ambos os casos, s\u00e3o mais uma cr\u00edtica aos nossos tempos (ou ao que eles deveriam ser) do que qualquer outra coisa.<\/p>\n Nesse sentido, Mad Men <\/em>faz algo que poucos tiveram capacidade (ou coragem) para tentar: ele deixa o passado falar por contra pr\u00f3pria.<\/p>\n Ao leitor mais rigoroso: acalme-se. \u00c9 \u00f3bvio que Mad Men <\/em>\u00e9 uma s\u00e9rie contempor\u00e2nea e, como tal, reflete uma vis\u00e3o contempor\u00e2nea dos anos 1960 e 1970. \u00c9 \u00f3bvio que nada \u00e9 totalmente \u201cpuro\u201d ou \u201cneutro\u201d. A diferen\u00e7a est\u00e1 na forma como o seriado trabalha com o que tem em m\u00e3os. Se outras s\u00e9ries, filmes e livros enviam ao passado um protagonista atual em tudo al\u00e9m do vestu\u00e1rio, a cria\u00e7\u00e3o de Matthew Wiener nos entrega um grupo de personagens t\u00e3o estranhamente d\u00e9mod\u00e9s <\/em>quanto os penteados rebuscados e o Cadillac 1962. A Madison Avenue de 50 anos atr\u00e1s \u00e9 um mundo estranho, esfuma\u00e7ado pelas baforadas de uma legi\u00e3o de fumantes compulsivos, vestidos estapaf\u00fardios e tratamento abusivo de funcion\u00e1rios. Mas seus habitantes n\u00e3o ditam a ladainha de como tudo \u00e9 errado e defasado. Eles s\u00e3o, afinal de contas, t\u00e3o errados e defasados como o mundo que os cerca.<\/p>\n