Hist\u00f3ria da Sua Vida, Solaris <\/em>fala da tentativa de se comunicar com uma entidade alien\u00edgena. Neste caso, um oceano\u00a0inteiro que parece ter consci\u00eancia\u00a0pr\u00f3pria. Tal como no conto de Chiang, os cientistas percebem que se comunicar com esta criatura \u00e9 mais dif\u00edcil do que parece.<\/p>\nEles logo notam\u00a0que \u201cSolaris\u201d, este planeta vivo, est\u00e1 em outro n\u00edvel de realidade, e que sua \u201cl\u00edngua\u201d n\u00e3o \u00e9 um idioma, mas um chamado lovecraftiano.\u00a0Mesmo que possua uma “mente” como a nossa, seu\u00a0racioc\u00ednio n\u00e3o \u00e9 algo\u00a0que podemos (ou desejaremos) ouvir.<\/p>\n
N\u00e3o demora para que descubram que n\u00e3o s\u00e3o eles que est\u00e3o fazendo experimentos com o alien, mas o contr\u00e1rio: \u00e9\u00a0Solaris quem os estuda, invadindo sua mente e brincando com suas mem\u00f3rias, medos e pensamentos.<\/p>\n
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Solaris<\/em> mostra que conhecer o \u201cplano geral do mundo\u201d \u00e9 uma rota para a\u00a0loucura. \u201cDeus\u201d, se ele existe, n\u00e3o \u00e9 um velhinho de barba branca, mas um turbilh\u00e3o de caos, histeria e impot\u00eancia:<\/p>\n\nQuero dizer um Deus cujas defici\u00eancias n\u00e3o v\u00eam da simplicidade de seus criadores, mas constituem sua caracter\u00edstica mais essencial e imanente. Este seria um Deus limitado na sua onisci\u00eancia e onipot\u00eancia, que poderia errar ao prever o futuro de sua obra, que poderia se ver horrorizado pelos eventos que desencadeou. Este \u00e9 um Deus… aleijado, que sempre deseja mais do que ele pode ter e nunca percebe isto. Que criou rel\u00f3gios, mas n\u00e3o o tempo que eles medem. Que criou sistemas e mecanismos que servem prop\u00f3sitos particulares, mas que superaram estes prop\u00f3sitos e o tra\u00edram. E que criou um infinito que, longe de ser a medida do poder que deveria ter, tornou-se a medida de seu fracasso sem fim. <\/em><\/p>\n<\/blockquote>\nA Chegada\u00a0<\/em>brinca com onisci\u00eancia, mas ao contr\u00e1rio do conto de Chiang – e do romance de Lem – \u00a0para por a\u00ed.<\/p>\nSeu foco \u00e9 obviamente outro. O filme \u00e9 um coment\u00e1rio t\u00edpico sobre a\u00a0nova era Trump, refor\u00e7ando a \u201cfor\u00e7a na uni\u00e3o\u201d e a necessidade de abrir fronteiras. De certa forma, \u00e9 uma vers\u00e3o adulta de Pacific Rim, <\/em>apresentando o globalismo como \u00a0panaceia.<\/p>\n\u00c9, no entanto, um \u201cglobalismo\u201d bem made in America<\/em>, em que todos falam ingl\u00eas e compartilham os mesmos valores. Mas e se aquilo que nos tornar diverso tamb\u00e9m nos impedir de trabalhar juntos?<\/p>\nE se nossas l\u00ednguas de fato moldarem nossas vis\u00f5es de mundo, nossas culturas… nossas\u00a0<\/strong>identidades<\/strong>?<\/p>\nNeste “Admir\u00e1vel Mundo Novo” unificado pela l\u00edngua perfeita, n\u00f3s continuar\u00edamos a ser quem somos? Ou virar\u00edamos uma nova humanidade, modelados por um\u00a0Deus aleijado?<\/p>\n
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A Chegada <\/em>louva a linguagem como ferramenta de uni\u00e3o, mas se esquece de que \u00e9 igualmente\u00a0eficiente como uma arma de aliena\u00e7\u00e3o. As minorias lingu\u00edsticas ao redor do globo, que viram suas culturas desaparecerem sob o jugo de\u00a0pot\u00eancias homogeneizadoras, aprenderam isto do jeito mais dif\u00edcil.<\/p>\nSim, n\u00f3s nem sempre nos entendemos. \u00c0s vezes batemos cabe\u00e7a, somos maus com os outros, guerreamos por nada. Mas \u00e9 esta teimosia que nos faz humanos.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
Tudo isso que eu j\u00e1 vi na guerra, (…) tanta falta de sentido, viol\u00eancia… me fez pensar sobre falta de comunica\u00e7\u00e3o. Quer dizer, essa n\u00e3o \u00e9 a raiz de tudo isso? Conflitos, guerras… no final das contas, n\u00e3o \u00e9 tudo quest\u00e3o de linguagem? As palavras que ouvimos e que dizemos e que n\u00e3o s\u00e3o sempre […]<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":14784,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"spay_email":"","jetpack_publicize_message":"","jetpack_is_tweetstorm":false},"categories":[580,17],"tags":[27,86,134,176,226,364,366,382],"jetpack_featured_media_url":"https:\/\/i1.wp.com\/www.finisgeekis.com\/wp-content\/uploads\/2017\/02\/arrival-header.jpg?fit=1900%2C1651","jetpack_publicize_connections":[],"jetpack_shortlink":"https:\/\/wp.me\/p9rUzW-3Qn","_links":{"self":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/14779"}],"collection":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=14779"}],"version-history":[{"count":3,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/14779\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":21258,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/14779\/revisions\/21258"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media\/14784"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=14779"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=14779"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=14779"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}