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{"id":13010,"date":"2016-11-15T14:57:19","date_gmt":"2016-11-15T16:57:19","guid":{"rendered":"http:\/\/finisgeekis.com\/?p=13010"},"modified":"2019-02-25T14:03:17","modified_gmt":"2019-02-25T17:03:17","slug":"tyranny-uma-fabula-sobre-o-totalitarismo","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/2016\/11\/15\/tyranny-uma-fabula-sobre-o-totalitarismo\/","title":{"rendered":"“Tyranny”: uma f\u00e1bula sobre o totalitarismo"},"content":{"rendered":"

\n

Na semana passada, a Obsidian entregou uma das propostas mais ambiciosas de sua hist\u00f3ria: um RPG em que s\u00f3 podemos interpretar vil\u00f5es, cujo\u00a0objetivo \u00e9 dominar\u00a0fracos e oprimidos.<\/p>\n

Eu mesmo escrevi<\/a>\u00a0sobre qu\u00e3o dif\u00edcil era a ideia – e quais os truques que os criadores de\u00a0Fallout: New Vegas\u00a0<\/em>poderiam usar para tornar a maldade divertida.<\/p>\n

Qu\u00e3o errado eu estava.<\/p>\n

<\/p>\n

Tyranny,\u00a0<\/em>lan\u00e7ado no \u00faltimo dia 10, \u00e9 bastante diferente do que eu (e\u00a0muitos outros, acredito) esperavam. O jogo passa longe de nos convencer a ser cru\u00e9is, ou de nos entregar vil\u00f5es “com cora\u00e7\u00e3o”.<\/p>\n

N\u00e3o porque fuja\u00a0da sua proposta, mas porque a\u00a0entrega bem demais<\/strong>. E, no caminho, faz algo que pouqu\u00edssimos jogos j\u00e1 foram capazes de fazer.<\/p>\n

Tyranny<\/a>\u00a0<\/em>\u00e9 um\u00a0retrato do totalitarismo, <\/strong>mais\u00a0honesto, did\u00e1tico\u00a0e p\u00e9s-no-ch\u00e3o que at\u00e9 jogos\u00a0ambientados nesses regimes, como\u00a0Hearts of Iron,\u00a0<\/em>conseguiram oferecer.<\/p>\n

Um RPG para entrar para a hist\u00f3ria<\/h3>\n

Antes de mais nada, as honras:<\/p>\n

Tyranny<\/em> \u00e9 um RPG isom\u00e9trico da Obsidian, \u00a0no estilo de cl\u00e1ssicos como Icewind Dale <\/em>e\u00a0Baldur’s Gate<\/em>. Feito com a mesma engine <\/em>de seu \u00faltimo sucesso, Pillars of Eternity, <\/em>o jogo mesmo assim veste outra roupagem, com modelos estilizados, cores chapadas e uma identidade visual bastante caracter\u00edstica.<\/p>\n

\"tyranny<\/p>\n

\"tyranny<\/p>\n

As semelhan\u00e7as terminam por aqui. Enquanto que Pillars of Eternity <\/em>se propunha um tributo a Baldur\u2019s Gate<\/em>, Tyranny <\/em>nos desafia, do come\u00e7o ao fim, com uma experi\u00eancia que nunca jogamos antes.<\/p>\n

Esque\u00e7a drag\u00f5es, fetch quests<\/em>, trupes de aventureiros e taverneiros sorridentes. O novo jogo da Obsidian se passa em um mundo fant\u00e1stico p\u00f3s-apocal\u00edptico ambientado no fim da Era do Bronze. \u00c9 um misto de Roma \u00e0s sombras de \u00c1tila com os velhos pulps <\/em>de fic\u00e7\u00e3o cient\u00edfica, em que hoplitas dividem espa\u00e7o com entidades que\u00a0manipulam as leis da f\u00edsica.<\/p>\n

Quem se lembra da Black Isle em sua melhor forma sabe que o est\u00fadio ganhou fama por sua criatividade. Planescape: Torment<\/em>, sua obra-prima, chacoalhou\u00a0uma gera\u00e7\u00e3o acostumada com elfos, an\u00f5es e hobbits ao apresentar NPCs inusitados, distantes dos clich\u00eas da fantasia medievalista.<\/p>\n

\"planescape<\/p>\n

A Obsidian, que herdou muito de sua equipe ap\u00f3s o fim do est\u00fadio, n\u00e3o teve a mesma sorte. Embora tenha entregue excelentes jogos, trabalhou quase que inteiramente em franquias estabelecidas.<\/p>\n

Star Wars: KotOR II <\/em>e Fallout: New Vegas <\/em>est\u00e3o entre os melhores RPGs de suas gera\u00e7\u00f5es. Por\u00e9m, pelas amarras de seu pr\u00f3prio cen\u00e1rio, s\u00e3o jornadas familiares.<\/p>\n

A situa\u00e7\u00e3o parece ter mudado. Tyranny traz o velho esp\u00edrito da Black Isle com uma for\u00e7a in\u00e9dita desde os anos 1990. Veja por exemplo Tunon, um juiz espectral sem rosto definido, com m\u00e1scaras que variam de acordo com sua miss\u00e3o.<\/p>\n

\"20161112115704_1.jpg\"<\/p>\n

Ou ainda Vozes de Nerat, uma entidade que usa um elmo com dois rostos, cada qual com uma personalidade diferente\u00a0 .<\/p>\n

\"voices-of-nerat\"<\/strong><\/h3>\n

Tyranny\u00a0<\/em>\u00e9 Obsidian na sua melhor forma. Longe das morda\u00e7as dos grandes\u00a0publishers<\/em>, a turma\u00a0de Brian Heins finalmente conseguiu colocar as asas de fora.<\/p>\n

Que seu cen\u00e1rio inovador seja apenas a ponta do iceberg \u00e9 prova do seu talento – e de quanto n\u00f3s, gamers, temos a ganhar com tudo isso:<\/p>\n

O outro rosto da maldade<\/strong><\/h3>\n

Tyranny <\/em>se passa no mundo fant\u00e1stico de Terratus, nos \u00faltimos momentos da guerra entre o bem e o mal. Kyros, o grande vil\u00e3o, conquistou quase todo o globo, e os poucos rebeldes remanescentes lutam uma guerra desesperada que sabem ser imposs\u00edvel de vencer.<\/p>\n

Em forma, tom e conte\u00fado, o jogo da Obsidian \u00e9 indistingu\u00edvel daquelas cronologias alternativas que nos mostram o que aconteceria caso\u00a0os maus ganhassem. Estamos no territ\u00f3rio de The Man in the High Castle, Wolfenstein: The New Order <\/em>e Dragon Age: Darkspawn Chronicles<\/em>.<\/p>\n

\"the-man-in-the-high-castle\"<\/p>\n

A horde de Kyros, no entanto, \u00e9 tudo menos unida. Dois ex\u00e9rcitos rivais competem um com o outro para serem os primeiros a render o inimigo.<\/p>\n

De um lado est\u00e3o os Desfavorecidos, uma tropa de elite composta por fan\u00e1ticos pol\u00edticos. Unidos por uma devo\u00e7\u00e3o quase religiosa ao seu l\u00edder, prezam pela ordem, seguem a letra da lei e chacinam os derrotados.<\/p>\n

Do outro lado est\u00e1 o Coro Escarlate, uma turba de criminosos, psicopatas e vira-casacas recrutados das fileiras inimigas. Mistura de bacantes<\/a> com os assassinos do Massacre de Nanking<\/a>, os soldados do Coro s\u00e3o imprevis\u00edveis, s\u00e1dicos e \u00a0psicop\u00e1ticos.<\/p>\n

\"tyranny<\/p>\n

Como um agente independente, o protagonista de Tyranny <\/em>n\u00e3o deve lealdade a nenhum dos dois. Por\u00e9m, a maneira como soluciona os dilemas morais propostos pelo game ir\u00e1 cedo ou tarde jog\u00e1-lo aos bra\u00e7os de uma fac\u00e7\u00e3o \u2013 em rota de colis\u00e3o com a outra.<\/p>\n

N\u00e3o espere, contudo, o \u201crelativismo moral\u201d infantil de tantos RPGs \u201cmaduros\u201d por a\u00ed. Em Tyranny<\/em>, n\u00e3o existe \u201clado bom\u201d nem \u201cmal menor\u201d. Nossa \u00fanica escolha \u00e9 a de decidir quais cachorros soltar sobre seus inimigos. A dilig\u00eancia de uma Gestapo<\/a> ou de um Kempetai<\/a>, ou o caos de uma turba violenta.<\/p>\n

\"tyranny_002.jpg\"<\/p>\n

Se parece angustiante, essa \u00e9 justamente a inten\u00e7\u00e3o.\u00a0Tyranny,\u00a0<\/em>afinal, n\u00e3o est\u00e1 interessado em uma maldade “leve” e juvenil, como a de\u00a0\u00a0GTA<\/em> ou\u00a0Fable<\/em>. Sua inten\u00e7\u00e3o \u00e9 mostrar como funciona um dos regimes mais revoltantes j\u00e1 criados.<\/p>\n

Mas o que, afinal, \u00e9 o “totalitarismo”?<\/strong><\/h3>\n

Hoje em dia,\u00a0 \u201ctotalitarismo\u201d se tornou uma palavra feia. Assim como tantos outros \u2013ismos,\u00a0 \u00e9 o xingamento predileto em discuss\u00f5es sobre pol\u00edtica com paix\u00f5es demais e argumentos de menos.<\/p>\n

Como bem dizia Mill\u00f4r Fernandes, \u201cdemocracia \u00e9 quando eu mando em voc\u00ea. Ditadura \u00e9 quando voc\u00ea manda em mim.\u201d Nos \u00faltimos tempos, a piada nunca foi t\u00e3o atual.<\/p>\n

Embora sirva bem aos militantes\u00a0de Facebook, esse relativismo \u00e9 uma afronta \u00e0queles que sofreram, de verdade, com o pior que a humanidade j\u00e1 p\u00f4s em pr\u00e1tica. Acontece que “totalitarismo” \u00e9 uma coisa BEM \u00a0espec\u00edfica.<\/p>\n

\"hannah

Hannah Arendt<\/p><\/div>\n

Para a pensadora\u00a0pol\u00edtica Hannah Arendt, ele\u00a0n\u00e3o est\u00e1 associado<\/a> a nenhuma maldade espec\u00edfica. Nem \u00e9, tampouco, apenas um tipo mais \u201cgrave\u201d de tirania. \u00c9 um sistema pol\u00edtico completamente novo e mais perverso.<\/p>\n

A diferen\u00e7a est\u00e1 na f\u00e9 em uma Lei da Natureza absoluta, que governa toda a nossa vida e n\u00e3o pode ser resistida. Ou ent\u00e3o em uma Hist\u00f3ria com H mai\u00fasculo, que se move em uma dire\u00e7\u00e3o espec\u00edfica e n\u00e3o p\u00e1ra para os que titubeiam.<\/p>\n

Individualidade\u00a0e liberdade viram obst\u00e1culos a ser emderrubados. H\u00e1 o caminho Natural e aquele dos degenerados. H\u00e1 o \u201clado certo da Hist\u00f3ria\u201d e o \u201clado errado\u201d.\u00a0 Em nome do servi\u00e7o \u00e0 Lei Suprema, n\u00e3o h\u00e1 pr\u00e9dio que n\u00e3o possa ser derrubado, ou pessoa que n\u00e3o possa ser executada.<\/p>\n

Na sociedade que serve \u00e0 Lei, existem apenas dois tipos de pessoa: os carrascos e a v\u00edtimas.<\/p>\n

\u00c9 algo que os rebeldes de Terratus entendem muito bem – e o que faz com que nos sintamos tal mal ao jogar Tyranny<\/em>. Em todos os jogos, sempre h\u00e1 uma raz\u00e3o para tentar os mocinhos ao \u201clado negro\u201d: poder, vingan\u00e7a, ordem. Kyros, no entanto, n\u00e3o deixa espa\u00e7o para barganha.\u00a0Seja meu escravo ou n\u00e3o seja mais nada.<\/p>\n

\"tyranny-slave\"<\/p>\n

Como disse o autor de The Witcher<\/em> Andrzej Sapkowski no livro A Torre da Andorinha<\/a>:<\/p>\n

\n

Existem em todos os Estados fan\u00e1ticos que desejam impor uma certa concep\u00e7\u00e3o de ordem p\u00fablica. Dedicados em corpo e alma a esta ideia, eles est\u00e3o dispostos a realizar qualquer coisa para defend\u00ea-la. Isto inclui cometer crimes, pois os fins, segundo eles, justificam os meios e invertem a moral. Eles n\u00e3o assassinam, eles preservam a ordem p\u00fablica. Eles n\u00e3o torturam ou chantageiam: eles protegem a Raz\u00e3o de Estado e lutam pela paz. Para essas pessoas, a vida \u00e9 uma entidade que n\u00e3o tem valor e n\u00e3o merece considera\u00e7\u00e3o quando se torna um obst\u00e1culo para a ordem estabelecida. Estas pessoas esquecem que a sociedade que elas servem \u00e9 composta justamente por estas entidades. Elas t\u00eam uma vis\u00e3o \u201campla\u201d… o jeito mais seguro de ignorar as pe\u00e7as do quebra-cabe\u00e7a.<\/p>\n<\/blockquote>\n

Em Tyranny<\/em>, Kyros \u00e9 justamente essa \u201cLei\u201d. No in\u00edcio do jogo, rec\u00e9m-chegados ao mundo de Terratus, temos at\u00e9 dificuldade para entender o que ele \u00e9.<\/p>\n

Ele \u00e9 chamado de \u201cL\u00edder Supremo\u201d, mas poucos conhecem sua forma f\u00edsica. Seus subordinados s\u00e3o entidades sobrenaturais, menos humanos que personifica\u00e7\u00f5es de ideais (a justi\u00e7a, as sombras, o segredo).<\/p>\n

\"tyranny<\/p>\n

Seus poderes s\u00e3o absolutos e insens\u00edveis, como os de Deus no Antigo Testamento. Logo na primeira miss\u00e3o do jogo, dois generais est\u00e3o com dificuldade para tomar uma cidade rebelde. Para convenc\u00ea-los a trabalhar juntos, Kyros manda um edito: se n\u00e3o tomarem a cidade em 8 dias, todos (generais, rebeldes e a cidade) ser\u00e3o apagados do mapa. <\/strong><\/p>\n

A banalidade do mal<\/strong><\/h3>\n

\"tyranny<\/p>\n

Kyros n\u00e3o \u00e9 um \u201cvil\u00e3o\u201d, no mesmo sentido de que o Nazismo n\u00e3o \u00e9 Hitler, nem o Comunismo \u00e9 St\u00e1lin. Tal como essas ideologias, ele \u00e9 algo al\u00e9m, um princ\u00edpio \u00faltimo inevit\u00e1vel, que seus defensores perseguem at\u00e9 o fim, pois n\u00e3o\u00a0acreditam em alternativas.<\/p>\n

Em vida, as ideias de Hannah Arendt lhe trouxeram uma enxurrada de cr\u00edticas. Seus oponentes a atacaram\u00a0por fazer pouco caso com o totalitarismo. No pior dos casos, em ser at\u00e9 \u201cbondosa\u201d com os piores criminosos que a humanidade j\u00e1 viu.<\/p>\n

De fato, o vil\u00e3o de Arendt n\u00e3o age por mal\u00edcia. Ele apenas \u201cfaz o seu trabalho\u201d da melhor forma poss\u00edvel, sem se importar (ou imaginar) as consequ\u00eancias de seus atos. O mal se torna \u201cbanal\u201d.<\/p>\n

\u00c9 o que alguns cr\u00edticos de games<\/a> comentaram sobre o jogo da Obsidian. O protagonista de Tyranny<\/em> seria apenas uma \u201cengrenagem\u201d no sistema, uma pe\u00e7a muito pequena dentro de uma m\u00e1quina pol\u00edtica incontrol\u00e1vel. Ele n\u00e3o \u00e9 \u201crespons\u00e1vel\u201d pelo que faz porque age com a autoridade de outros. N\u00e3o \u00e9 ele o culpado: o mundo \u00e9 que \u00e9 perverso.<\/p>\n

\"tyranny<\/p>\n

O que os reviewers \u2013 e os cr\u00edticos de Arendt \u2013 n\u00e3o conseguiram entender \u00e9 que as coisas funcionam de outro jeito. N\u00e3o \u00e9 que regimes autorit\u00e1rios dependem de trabalhadores dedicados, nem que todos os seus criminosos sejam assim. Pelo contr\u00e1rio, tanto os ditadores da vida real quanto Kyros em Terratus n\u00e3o tem pudor em contratar\u00a0psicopatas e fac\u00ednoras.<\/p>\n

O que acontece, segundo a autora, \u00e9 que o totalitarismo cria <\/strong>esse tipo de pessoa.<\/p>\n

Para atender \u00e0 Lei Suprema, o indiv\u00edduo deixa de existir. Todos viram parte de um \u00fanico povo, com uma \u00fanica vontade e uma \u00fanica mente.<\/p>\n

O problema, obviamente, \u00e9 que essa utopia \u00e9 terrivelmente solit\u00e1ria.<\/p>\n

Quando sentimos que nossa vida n\u00e3o tem sentido, que todos \u00e0 nossa volta s\u00e3o id\u00eanticos a n\u00f3s, as coisas perdem o prop\u00f3sito. Deixamos de ser humanos para nos tornarmos m\u00e1quinas. Como disse Adolph Eichmann<\/a>, o oficial nazista cujo julgamento<\/a> Arendt assistiu, uma \u201cengrenagem\u201d no sistema.<\/p>\n

\"adolf-eichmann.jpg\"

Adolph Eichmann<\/p><\/div>\n

Tyranny <\/em>n\u00e3o \u00e9 um jogo f\u00e1cil de absorver. De estupros a torturas de prisioneiros, nenhuma maldade fica de fora. No combate, inimigos choram e gritam ao morrer. Se a maioria dos games nos transforma em\u00a0Rambo<\/em>,\u00a0Tyranny\u00a0<\/em>\u00e9\u00a0O Resgate do Soldado Ryan.\u00a0<\/em>O jogo \u00e9\u00a0Nada de Novo no Front<\/a>\u00a0<\/em>mais que\u00a0Pearl Harbor;\u00a0<\/em>At\u00e9 o \u00daltimo Homem<\/a>\u00a0<\/em>mais que\u00a0Bastardos Ingl\u00f3rios.<\/em><\/p>\n

Mesmo assim,\u00a0o que mais choca n\u00e3o s\u00e3o as atrocidades. \u00c9 ver as pessoas perdendo sua humanidade e transformando-se (literalmente) em m\u00e1quinas.<\/p>\n

\"barik-tyranny\"<\/p>\n

Barik, um dos party members<\/em>, \u00e9 um soldado de elite de Kyros. Atingido por uma tempestade m\u00e1gica, acabou preso dentro de uma armadura de ferro. N\u00e3o pode se lavar nem atender a seus desejos.\u00a0 Precisa urinar e defecar dentro da coura\u00e7a, e seu fedor aterroriza mais que sua apar\u00eancia.<\/p>\n

Barik n\u00e3o deixa isso afet\u00e1-lo. Ele \u00e9 um soldado de Kyros e continuar\u00e1 a obedecer as ordens. A armadura \u00e9 at\u00e9 mesmo uma \u201cvantagem\u201d. No campo de batalha, se tornou um verdadeiro colosso.<\/p>\n

\"tyranny<\/p>\n

Eb \u00e9 uma maga da resist\u00eancia. Seu marido e filhos foram mortos pelo L\u00edder Supremo. Todo o mundo que conheceu foi destru\u00eddo. Ela vive de vingan\u00e7a, preferindo a morte em batalha a obedecer o respons\u00e1vel pela sua dor.<\/p>\n

\"tyranny<\/p>\n

Em dado momento, tudo muda. Derrotada pelo protagonista, ela se curva e aceita a escravid\u00e3o. Conformada \u2013 e at\u00e9 animada, \u2013 transforma-se no instrumento da vontade de Kyros. Da fam\u00edlia, fala sem rancor. Eles s\u00e3o o passado. O presente agora \u00e9 outro.<\/p>\n

Ela, que prometia ser uma antagonista carism\u00e1tica, uma hero\u00edna a fazer frente ao nosso vil\u00e3o, mostra que Tyranny <\/em>n\u00e3o tem espa\u00e7o para essas fantasias.<\/p>\n

No totalitarismo n\u00e3o existem \u201cher\u00f3is\u201d. Apenas\u00a0engrenagens e a sujeira entre elas. Que voc\u00ea, como agente de Kyros, tem o dever de limpar.<\/p>\n

N\u00e3o \u00e9 uma experi\u00eancia confort\u00e1vel, mas \u00e9 isto em si \u00e9 positivo. Se, ao jogar\u00a0Tyranny,<\/em> voc\u00ea se sentir angustiado consigo mesmo, leve para o bem.\u00a0\u00c9 sinal de que voc\u00ea ainda \u00e9 humano.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Na semana passada, a Obsidian entregou uma das propostas mais ambiciosas de sua hist\u00f3ria: um RPG em que s\u00f3 podemos interpretar vil\u00f5es, cujo\u00a0objetivo \u00e9 dominar\u00a0fracos e oprimidos. Eu mesmo escrevi\u00a0sobre qu\u00e3o dif\u00edcil era a ideia – e quais os truques que os criadores de\u00a0Fallout: New Vegas\u00a0poderiam usar para tornar a maldade divertida. Qu\u00e3o errado eu […]<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":13015,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"spay_email":"","jetpack_publicize_message":"","jetpack_is_tweetstorm":false},"categories":[580,21],"tags":[161,289,316,412],"jetpack_featured_media_url":"https:\/\/i1.wp.com\/www.finisgeekis.com\/wp-content\/uploads\/2016\/11\/tyranny-cover.png?fit=2172%2C1301","jetpack_publicize_connections":[],"jetpack_shortlink":"https:\/\/wp.me\/p9rUzW-3nQ","_links":{"self":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/13010"}],"collection":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=13010"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/13010\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":21271,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/13010\/revisions\/21271"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media\/13015"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=13010"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=13010"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=13010"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}