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{"id":11375,"date":"2016-10-18T14:03:48","date_gmt":"2016-10-18T16:03:48","guid":{"rendered":"http:\/\/finisgeekis.com\/?p=11375"},"modified":"2019-11-17T12:02:22","modified_gmt":"2019-11-17T15:02:22","slug":"3-passos-para-entender-serial-experiments-lain","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/2016\/10\/18\/3-passos-para-entender-serial-experiments-lain\/","title":{"rendered":"3 passos para entender ‘Serial Experiments Lain’"},"content":{"rendered":"

Poucas anima\u00e7\u00f5es dividem tanto seu p\u00fablico quanto\u00a0Serial Experiments Lain<\/em>.<\/p>\n

O cl\u00e1ssico cult de \u00a0Yasuyuki Ueda dificilmente falha em causar uma impress\u00e3o. N\u00e3o, necessariamente, pelos mesmos motivos.<\/p>\n

<\/p>\n

Na semana passada, meu colega Diego Gon\u00e7alves do \u00c9 S\u00f3 um Desenho<\/a> recebeu\u00a0Lain<\/em> como sua indica\u00e7\u00e3o para a Corrente de Reviews 2016<\/a> do Anikenkai. Apesar da \u00f3tima an\u00e1lise, o texto deixa claro seu desconforto. Diego\u00a0diz que\u00a0Lain\u00a0<\/em>ocupa o hall da fama das s\u00e9ries\u00a0“mindfuck<\/em>“, vencendo com folga\u00a0Evangelion, Utena\u00a0<\/em>ou mesmo\u00a0Mawaru Penguindrum<\/em>.<\/p>\n

Conhecendo-o, posso at\u00e9 dizer que segurou sua\u00a0l\u00edngua.\u00a0N\u00e3o sem motivo.\u00a0Se quem gosta de experimentalismo curte de pronto\u00a0a\u00a0vibe\u00a0<\/em>avant-garde\u00a0<\/em>de\u00a0Lain<\/em>, f\u00e3s de narrativas mais convencionais podem revirar os olhos. Seja por sua trilha sonora minimalista, seja em sua estrutura fragment\u00e1ria,\u00a0a obra-prima de Ueda parece gritar “too deep for you”<\/em> a plenos pulm\u00f5es.<\/p>\n

\"lain-alien\"

“plebs”<\/p><\/div>\n

Injusto, pois\u00a0o anime \u00e9 muito mais que isso. A despeito de seus defeitos,\u00a0Lain\u00a0<\/em>faz todo o sentido<\/strong>, e suas eventuais confus\u00f5es s\u00e3o perdoadas (quando n\u00e3o explicadas) dentro de seu prop\u00f3sito geral.<\/p>\n

N\u00e3o se trata de ser “adulto” ou “profundo”. O anime de Ueda\u00a0<\/em>\u00e9 n\u00e3o apenas\u00a0uma s\u00e9rie antiga, mas tamb\u00e9m\u00a0invoca um repert\u00f3rio de refer\u00eancias (visuais e intelectuais) que perdeu muito de sua relev\u00e2ncia depois do ano 2000.\u00a0Lain\u00a0<\/em>envelheceu mal.<\/p>\n

Se voc\u00ea, como o Diego, n\u00e3o consegue se conformar com o que assistiu ou quer um incentivo para dar uma segunda chance \u00e0\u00a0s\u00e9rie, abaixo segue um pequeno\u00a0primer\u00a0<\/em>com temas que facilitar\u00e3o a experi\u00eancia.<\/p>\n

(Aviso: cont\u00e9m SPOILERS<\/em>\u00a0para\u00a0<\/em>Serial Experiments Lain)<\/em><\/p>\n

1) Transhumanismo e o ‘C\u00e9rebro Global’<\/h3>\n

\"lain<\/p>\n

De in\u00edcio,\u00a0Lain\u00a0<\/em>parece ser apenas uma fantasia sobre os prim\u00f3rdios da era digital.\u00a0\u00c9\u00a0apenas no epis\u00f3dio 6 que a s\u00e9rie abre suas asas como fic\u00e7\u00e3o cient\u00edfica.<\/p>\n

Ap\u00f3s ser misteriosamente contatada por uma colega que cometeu suic\u00eddio, nossa protagonista, Lain Iwakura,\u00a0come\u00e7a a se interessar por computadores. Na medida em que\u00a0se familiariza com o Wired – o equivalente da internet no anime – percebe que as fronteiras entre os mundos real e virtual parecem estar ruindo. Coisas estranhas come\u00e7am a acontecer.<\/p>\n

Muito\u00a0<\/strong>estranhas.<\/p>\n

\"lain<\/p>\n

Investigando os acontecimentos bizarros\u00a0que testemunha ao seu redor, Lain se “encontra” virtualmente com o Prof. Hodgeson, idealizador de um experimento para estudar poderes sobrenaturais em humanos.<\/p>\n

Hodgeson descobriu que temos\u00a0habilidades\u00a0ps\u00edquicas natas, que se perdem naturalmente com o passar do tempo. A partir de um dispositivo chamado KIDS, ele conseguiu coletar e\u00a0amplificar os poderes de um grupo de crian\u00e7as para\u00a0manipular a realidade.<\/p>\n

\"KIDS_Prototype.jpeg\"<\/p>\n

As ocorr\u00eancias macabras com que Lain se depara sugerem\u00a0que algu\u00e9m colocou as m\u00e3os na pesquisa. Pior: eles parecem ter aprimorado a tecnologia, pois conseguem manipular o mundo sem o aux\u00edlio da KIDS.<\/p>\n

A\u00a0ideia\u00a0de transcender os limites do nosso corpo n\u00e3o \u00e9 nem um pouco nova. O princ\u00edpio\u00a0de que h\u00e1 algo de cient\u00edfico por tr\u00e1s daquilo que chamamos de “magia”\u00a0\u00e9 uma das conven\u00e7\u00f5es mais tradicionais da fic\u00e7\u00e3o cient\u00edfica.<\/p>\n

N\u00e3o que a pr\u00f3pria vida real n\u00e3o tenha, aqui e ali, tentado provar que a vida imita a arte. H\u00e1 rumores de que na Guerra Fria tanto os USA quando\u00a0a URSS estudaram\u00a0fen\u00f4menos paranormais<\/a> para tentar us\u00e1-los militarmente.<\/p>\n

Essas hist\u00f3rias inspiraram toda sorte de obra, do cl\u00e1ssico\u00a0Arquivo X\u00a0<\/em>ao recente\u00a0Stranger Things,\u00a0<\/em>passando pelo mang\u00e1\u00a0Astral Project\u00a0<\/em>e o game\u00a0Mass Effect<\/em>.<\/p>\n

\"David_apparatus.png\"<\/p>\n

Se tudo isso parece meio fora da proposta para um anime cyberpunk<\/em>\u00a0– ou, como meu colega Diego carinhosamente colocou, “uma bullshit atr\u00e1s da outra” – pense de novo. Foi\u00a0justamente na virada do mil\u00eanio, na mesma \u00e9poca em que a revolu\u00e7\u00e3o digital sacudia o mundo, que essas ideias tiveram seu grande momento de fama.<\/p>\n

Nos anos 1990, o\u00a0in\u00edcio do Projeto Genoma<\/a>\u00a0e a clonagem da ovelha Dolly<\/a>\u00a0inspiraram v\u00e1rios pensadores a recalcular os limites do potencial humano. O frisson n\u00e3o se limitou \u00e0 ci\u00eancia. Pelo contr\u00e1rio, inspirou at\u00e9 seitas\u00a0religiosas.<\/a><\/p>\n

Chamada de transhumanismo<\/a>,\u00a0essa vis\u00e3o de mundo pregava o recurso \u00e0 tecnologia para nos elevar a um novo patamar de exist\u00eancia.<\/p>\n

Para os otimistas, isto significava a\u00a0vit\u00f3ria sobre a velhice, as doen\u00e7as\u00a0e os\u00a0defeitos de nascen\u00e7a. J\u00e1 para seus cr\u00edticos, era uma loucura sem tamanho, que acarretaria no dom\u00ednio biotecnol\u00f3gico\u00a0dos mais fortes sobre os mais fracos.<\/p>\n

\"deux<\/p>\n

Embora gen\u00e9tica nos remeta a ciborgues e superhumanos, as profecias mais ousadas foram justamente aquelas que buscavam, tal como Lain,\u00a0abrir m\u00e3o do f\u00edsico.<\/strong><\/p>\n

A possibilidade de que pessoas pudessem ser “software” – nas palavras de Eiri Masami, auto-declarado “Deus do Wired” em\u00a0Lain<\/em> – amea\u00e7ou virar nosso mundo de ponta cabe\u00e7a.<\/p>\n

Se nosso corpo for apenas um ve\u00edculo que podemos trocar sempre que quisermos, a pr\u00f3pria ideia de “morte” perder\u00e1 o sentido. \u00c9 o fim da nossa filosofia, da \u00e9tica e de nosso pr\u00f3prio entendimento sobre a vida.<\/p>\n

“Humanidade” deixaria de existir. O que viesse em seguida seria t\u00e3o diferente que n\u00e3o pertenceria ao mesmo universo.<\/p>\n

\"lain<\/p>\n

Para muitos, isso seria um desastre sem tamanho. Considerando, \u00e9 claro, que a humanidade j\u00e1 n\u00e3o estivesse perdida desde o come\u00e7o:<\/p>\n

2) Hiperrealidade e Simulacro<\/h3>\n

Lain eventualmente descobre que o experimento do Prof. Hodgeson foi apropriado\u00a0pelos\u00a0Knights of the Eastern Calculus,\u00a0<\/em>uma seita de hackers que busca fundir o mundo virtual ao\u00a0real. Seu “l\u00edder” \u00e9 Eiri Masami, um engenheiro que transplantou sua consci\u00eancia para um protocolo do Wired.<\/p>\n

\"lain-masami\"<\/p>\n

Apresentando-se como o “Deus do Wired”,\u00a0Masami quer ajudar a humanidade a se libertar de sua pris\u00e3o\u00a0de carne e osso.<\/p>\n

Se\u00a0Lain\u00a0<\/em>bate tanto nessa tecla \u00e9 porque, nos anos 1980 e 1990, isso realmente foi uma histeria. Ao mesmo tempo em que bi\u00f3logos e futuristas promoviam o transhumanismo, estudiosos da\u00a0comunica\u00e7\u00e3o alertavam\u00a0que havia um jeito muito mais f\u00e1cil de sair do real.<\/p>\n

Pois o “mundo real” n\u00e3o existia mais.<\/p>\n

Para o fil\u00f3sofo Jean Baudrillard<\/a>, o mundo contempor\u00e2neo est\u00e1 t\u00e3o dominado pelo entretenimento e publicidade que temos dificuldade em separar o que existe do que n\u00e3o existe. Pior: os meios de comunica\u00e7\u00e3o se tornaram t\u00e3o bons em entregar aquilo que queremos enxergar que parecem\u00a0mais reais do que a pr\u00f3pria realidade<\/strong>.<\/p>\n

Desde a nossa juventude e cada vez mais cedo, nosso contato com o mundo se d\u00e1 por meio de uma tela. Cultivamos\u00a0amizades na web que nunca vimos em carne e osso. Emocionamo-nos com pessoas que n\u00e3o existem em\u00a0hist\u00f3rias que nunca aconteceram. \u00a0Conhecemos mais os corpos de estranhos em v\u00eddeos porn\u00f4s do que de nossos pr\u00f3prios parceiros.<\/p>\n

Nessa\u00a0hiperrealidade<\/strong>, como a chama Baudrillard, as coisas s\u00e3o reduzidas a simulacros<\/strong>: imita\u00e7\u00f5es baratas com que nos acostumamos a ponto de ignorar as originais.<\/p>\n

\"lain-simulacrum\"<\/p>\n

No anime de Ueda, a hiperrealidade \u00e9 a chave para um de seus aspectos mais complicados : as m\u00faltiplas identidades de Lain.<\/p>\n

Quando come\u00e7a a se interessar por inform\u00e1tica, Lain descobre que existe\u00a0uma outra “Lain” no Wired, aparentemente dotada de vontade pr\u00f3pria. A coisa se complica quando o anime d\u00e1 a entender que a Lain do Wired\u00a0surgiu antes<\/strong> da Lain “f\u00edsica” da qual \u00e9 uma c\u00f3pia.<\/p>\n

Ou ser\u00e1 que n\u00e3o? N\u00e3o seria a Lain de carne e osso uma c\u00f3pia da Lain virtual? \u00c9 poss\u00edvel um ser humano se tornar o avatar de seu “eu” virtual? Se n\u00e3o \u00e9, porque os pais da garota agem como uma fam\u00edlia de faz-de-contas? E seus colegas de escola deixam de enxerg\u00e1-la?<\/p>\n

\"lain<\/p>\n

O “twist”\u00a0<\/em>\u00e9 uma das sequ\u00eancias mais confusas\u00a0do anime. O pr\u00f3prio Diego o interpreta como um festival de inconsist\u00eancias e furos de roteiro.<\/p>\n

Felizmente, tudo \u00e9 muito mais simples do que parece.\u00a0Como a pr\u00f3pria Lain nos explica no epis\u00f3dio 12:<\/p>\n

\n

Humanos s\u00f3 podem realmente existir na mem\u00f3ria de outros humanos. Muitas\u00a0vers\u00f5es de mim existiam. N\u00e3o \u00e9 porque existiam muitas de mim l\u00e1 fora. Eu s\u00f3 estava dentro de muitas pessoas.<\/p>\n<\/blockquote>\n

Lain n\u00e3o “existe” de verdade porque, como todo simulacro, sua “realidade”\u00a0est\u00e1 nos olhos de que v\u00ea. Cada um tem seu pr\u00f3prio ponto de vista e cria suas pr\u00f3prias vers\u00f5es das coisas.\u00a0Para o casal em sua resid\u00eancia, essa vers\u00e3o foi uma filha comportada. Para os Knights e seus f\u00e3s, uma deusa da internet.<\/p>\n

\"lain<\/p>\n

A percep\u00e7\u00e3o da realidade \u00e9 a pr\u00f3pria realidade. N\u00e3o conhecemos nada do mundo; apenas o que filtramos pelos\u00a0nossos olhos. Estamos todos presos na\u00a0caverna de Plat\u00e3o que chamamos de\u00a0“mente”.<\/p>\n

Se a ideia \u00e9 desesperadora, as suas consequ\u00eancias s\u00e3o ainda mais s\u00e9rias. Se tudo o que existe \u00e9 uma c\u00f3pia criada por n\u00f3s mesmos, o que nos impede de concebermos\u00a0as coisas\u00a0como gostar\u00edamos que fossem, e n\u00e3o como s\u00e3o de verdade? Existiria “verdade” num mundo desses?<\/p>\n

Por que n\u00e3o “esquecer” coisas desagrad\u00e1veis? “Ignorar” picuinhas como as leis da economia e da natureza? “Desconstruir” a sociedade e criar uma utopia alinhada com nossos ideais?<\/p>\n

Para Eiri Masami, o “Deus do Wired”, isso \u00e9 exatamente o que dever\u00edamos fazer. No epis\u00f3dio 10, ele conta a Lain que deseja usar a rede\u00a0para conectar permanentemente\u00a0todas as pessoas.<\/p>\n

Deixar\u00edamos de ser indiv\u00edduos para sermos c\u00e9lulas de um mesmo organismo. Tal como os\u00a0geth<\/em> de\u00a0Mass Effect<\/em> ou os\u00a0cranium rats\u00a0<\/em>de\u00a0Planescape: Torment<\/em>, nossos “softwares” pessoais seriam unidos por um \u00fanido “hardware”.<\/p>\n

\"lain<\/p>\n

Um dos pontos inescap\u00e1veis da filosofia pol\u00edtica \u00e9 o fato de que o ser humano \u00e9 ego\u00edsta por natureza. Thomas Hobbes, autor de\u00a0Leviat\u00e3,\u00a0<\/em>chegou a afirmar\u00a0que “homens n\u00e3o s\u00e3o abelhas” como justificativa para seu projeto de Estado absoluto.<\/p>\n

Um “c\u00e9rebro global” jogaria todas essas ideias por terra. O mundo de Masami seria a mais perfeita das utopias.<\/p>\n

Argumentar que tudo isso \u00e9 um grande absurdo \u00e9 perder de vista o mais importante.\u00a0Lain\u00a0<\/em>n\u00e3o \u00e9 uma defesa de um ponto de vista, mas um retrato de como as pessoas pensavam. E, muito antes de “desconstru\u00e7\u00f5es” virarem a seara de militantes de Facebook e professores jur\u00e1ssicos de Humanas, foram uma histeria que prometia revolucionar o mundo.<\/p>\n

Quem nos conta \u00e9 o te\u00f3rico da m\u00eddia Douglas Rushkoff<\/a>:<\/p>\n

\n

“A experi\u00eancia cibern\u00e9tica empodera pessoas de todas as idades a explorar a nova paisagem digital. Com apenas um PC e um modem, qualquer um pode agora acessar a datasfera. Novas tecnologias de interface como a realidade virtual prometem transformar a datasfera em um lugar onde podemos levar n\u00e3o s\u00f3 nossas mentes, mas tamb\u00e9m nossos corpos.<\/p>\n

As pessoas que voc\u00ea conhecer\u00e1 agora interpretam o desenvolvimento da datasfera como a forma\u00e7\u00e3o de um c\u00e9rebro global. Este ser\u00e1 o est\u00e1gio final no desenvolvimento de “Gaia”, o ser vivo que \u00e9 a Terra, para o qual humanos servir\u00e3o como neur\u00f4nios.”<\/p>\n<\/blockquote>\n

Douglas Rushkoff \u00e9 explicitamente mencionado no epis\u00f3dio 9 de Lain<\/em>. E seu livro-manifesto sobre as possibilidades do virtual inspirou um dos lugares-chave do anime:<\/p>\n

\"cyberia.jpg\"<\/p>\n

3) O fim da utopia digital<\/h3>\n

\"lain<\/p>\n

Se tudo isso parece bonito no papel, a “realidade”(com o perd\u00e3o do trocadilho) \u00e9 bem diferente.<\/p>\n

Com o tempo, “profetas” da internet entenderam que o admir\u00e1vel mundo novo que buscavam trazia consigo\u00a0problemas t\u00e3o novos, imprevis\u00edveis e complexos quanto suas supostas solu\u00e7\u00f5es.<\/p>\n

Lan\u00e7adoo em 1998,\u00a0Lain <\/em>\u00e9 anterior aos maiores choques que abalaram a utopia da internet.\u00a0\u00a0A bolha Dot-com<\/a>, que levou v\u00e1rias\u00a0companhias do ramo \u00e0 fal\u00eancia, estouraria\u00a0entre 1999 e 2001. O Grande Firewall da China<\/a>, que provou que a internet n\u00e3o estava livre do poder do Estado, foi documentado em 1997, mas s\u00f3 tomou for\u00e7a nos anos 2000.<\/p>\n

Um dos motivos que fazem de Lain<\/em>\u00a0genial \u00e9 que n\u00e3o se esquiva de antecipar essas agonias. Em um dos primeiros epis\u00f3dios, crian\u00e7as come\u00e7am a morrer devido a um jogo virtual claramente inspirado pelos FPSs da Id Software.\u00a0Os mesmos que, um ano depois, seriam implicados como causa do Massacre de Columbine<\/a>.<\/p>\n

\"phantoma_-_ingame\"<\/p>\n

J\u00e1 Arisu, amiga de Lain, tem a consci\u00eancia “hackeada” pela colega enquanto se masturba fantasiando com o professor. O epis\u00f3dio fala mais alto hoje do que em 1998, ap\u00f3s\u00a0o advento das c\u00e2meras digitais e da banda larga\u00a0ter levado\u00a0\u00e0\u00a0prolifera\u00e7\u00e3o de\u00a0nudes\u00a0<\/em>e do\u00a0revenge porn<\/em>.<\/p>\n

Ao mesmo tempo em que divulga sua utopia digital,\u00a0Lain\u00a0<\/em>nos mostra o seu lado mais sombrio. Um mundo\u00a0interconectado, sem solid\u00e3o ou\u00a0ego\u00edsmo, \u00e9 um mundo sem privacidade – ou\u00a0pior, sem individualidade<\/strong>. O “Deus do Wired” \u00e9 um “deus” em mais de um sentido: em um “c\u00e9rebro global”, somos todos escravos da\u00a0vontade da web.<\/p>\n

Se\u00a0a s\u00e9rie n\u00e3o \u00e9 expl\u00edcita sobre isso,\u00a0\u00e9 porque faz uso de um dos mais antigos truques do repert\u00f3rio: o\u00a0“show, don’t tell<\/em>“.<\/em><\/p>\n

Ao longo do anime, momentos dram\u00e1ticos s\u00e3o justapostos com tomadas de cabos de energia e sombras com manchas estranhas. A trilha sonora quase inexistente consiste em\u00a0zumbidos de eletricidade.<\/p>\n

\"lain<\/p>\n

Quando Mika, a irm\u00e3 de Lain, \u00e9 puxada para o\u00a0mundo virtual, sua “casca” humana se transforma num modem, produzindo ru\u00eddos de internet discada.<\/p>\n

\"iwakura_modem\"<\/p>\n

No mundo dos humanos, o Wired reina soberano. N\u00e3o \u00e9 a toa que hackers como os\u00a0Knights buscam control\u00e1-lo. Nem que seus inimigos – como o l\u00edder dos misteriosos Homens de Preto – parecem disputar seus planos megaloman\u00edacos.<\/p>\n

Conclus\u00e3o<\/h3>\n

O escritor e ganhador do Pulitzer Adam Johnson certa vez disse numa entrevista:<\/a><\/p>\n

\n

\"adam-johnson\"O que me parece falso \u00e9 quando romances embelezam tanto o seu assunto que tudo pode ser articulado com o mesmo tom modulado. (…) Para um autor de fic\u00e7\u00e3o, como [as hist\u00f3rias] s\u00e3o escritas \u00e9 t\u00e3o importante quando o que elas cont\u00eam. (…) O maior erro teria sido for\u00e7ar [minha] hist\u00f3ria \u00e0s expectativas de um leitor ocidental – voc\u00ea, sabe, aquela coisa bonitinha de come\u00e7o, meio e fim.<\/p>\n<\/blockquote>\n

A experi\u00eancia humana n\u00e3o cabe em uma \u00fanica hist\u00f3ria, e cada hist\u00f3ria exige uma forma diferente.<\/p>\n

O “mundo sem Deus” da modernidade fez com que a epop\u00e9ia desse lugar ao romance.\u00a0Os\u00a0horrores da Primeira Guerra Mundial \u2013 e toda a loucura que os precederam \u2013 levaram artistas de toda sorte\u00a0a abandonarem o figurativismo e os preceitos da academia.<\/p>\n

\u00c0s v\u00e9speras do ano 2000, uma outra era parecia estar por chegar. Um per\u00edodo confuso, em que ideologias ca\u00edam por terra, bugs do mil\u00eanio amea\u00e7avam nosso bem estar e a Lei de Moore entrava no vocabul\u00e1rio popular.<\/p>\n

Uma \u00e9poca em que a tecnologia crescia por todos os cantos, e come\u00e7avamos a duvidar se est\u00e1vamos mesmo no comando.<\/p>\n

A narrativa desconjuntada de Lain<\/i> e de outras obras parecidas foi uma das respostas a essa percep\u00e7\u00e3o. Na fic\u00e7\u00e3o p\u00f3s-moderna, como veio a ser chamada, o questionamento da realidade exterior se tornou um verdadeiro esp\u00edrito de nossos tempos.<\/p>\n

\"postmodern<\/p>\n

Lain<\/i>\u00a0n\u00e3o \u00e9 um anime perfeito. Sua overdose visual vai al\u00e9m do que seus valores de produ\u00e7\u00e3o permitiam entregar. Algumas de suas refer\u00eancias (como as ao Incidente de Roswell<\/a>) soam gratuitas.\u00a0Suas tramas secund\u00e1rias \u00a0apresentam erros de continuidade.<\/p>\n

Uma joia imperfeita,\u00a0Lain\u00a0<\/em>mesmo assim fala mais alto do que muitas obras-primas. Em uma m\u00eddia formulaica e escapista, Ueda e sua equipe traduziram as apreens\u00f5es de uma gera\u00e7\u00e3o que foi\u00a0contra\u00a0a pr\u00f3pria ideia de f\u00f3rmulas,\u00a0para a qual “escapismo” significava n\u00e3o fugir, mas mergulhar no cerne da escurid\u00e3o humana.<\/p>\n

Como eu n\u00e3o canso de dizer, anime tamb\u00e9m \u00e9 cultura.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Poucas anima\u00e7\u00f5es dividem tanto seu p\u00fablico quanto\u00a0Serial Experiments Lain. O cl\u00e1ssico cult de \u00a0Yasuyuki Ueda dificilmente falha em causar uma impress\u00e3o. N\u00e3o, necessariamente, pelos mesmos motivos.<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":11735,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"spay_email":"","jetpack_publicize_message":"","jetpack_is_tweetstorm":false},"categories":[576,580],"tags":[45,118,134,185,194,349],"jetpack_featured_media_url":"https:\/\/i0.wp.com\/www.finisgeekis.com\/wp-content\/uploads\/2016\/10\/lain-cover.jpg?fit=1024%2C768","jetpack_publicize_connections":[],"jetpack_shortlink":"https:\/\/wp.me\/p9rUzW-2Xt","_links":{"self":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/11375"}],"collection":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=11375"}],"version-history":[{"count":3,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/11375\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":22079,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/11375\/revisions\/22079"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media\/11735"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=11375"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=11375"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/www.finisgeekis.com\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=11375"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}