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teatro – finisgeekis http://www.finisgeekis.com O universo geek para além do óbvio Mon, 25 Feb 2019 17:39:11 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=5.7.11 https://i2.wp.com/www.finisgeekis.com/wp-content/uploads/2019/02/cropped-logo_square.jpg?fit=32%2C32 teatro – finisgeekis http://www.finisgeekis.com 32 32 139639372 Uma aventura no Japão #10: quem tem medo do teatro noh? http://www.finisgeekis.com/2017/07/17/uma-aventura-no-japao-10-quem-tem-medo-do-teatro-noh/ http://www.finisgeekis.com/2017/07/17/uma-aventura-no-japao-10-quem-tem-medo-do-teatro-noh/#comments Mon, 17 Jul 2017 21:41:42 +0000 http://finisgeekis.com/?p=17461 Você já deve­ ter ouvido falar do noh, o mais famoso e pomposo dos teatros japoneses.

Você já deve ter ouvido falar do noh, aquela ópera esquisita em que homenzarrões interpretam papéis femininos.

Você já deve ter ouvido falar do noh, cujas máscaras parecem saídas de um filme de terror.

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Como amante da cultura japonesa, eu já havia escutado as três coisas. O teatro noh, de fato, parece ter uma reputação ambivalente. Por um lado, é uma das artes mais luxuosas e tradicionais do Japão. Por outro, é vista como uma coisa meio démodé – quanto não completamente anacrônica.

Como cosplayer, tenho um enorme fascínio por máscaras. As de noh em particular, graças à escritora Fumiko Enchi, que escreveu um romance perturbador sobre o tema. Assim, não pude de deixar de conferir como é, realmente, o famigerado teatro.

Mas afinal, o que é o noh?

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Noh é um tipo de dramaturgia que envolve canto, dança e uso de máscaras. Ao contrário do kabuki, que preza pela extravagância, ou o rakugo, que dialoga com a experiência popular, o noh é extremamente codificado, tradicional e sisudo.

Isso não quer dizer que tenha se tornado apenas uma curiosidade de museu. Peças de noh geralmente falam de mortais assombrados por fantasmas, demônios ou deuses. Se você já se deparou com o famoso “terror japonês” (ou suas muitas paródias na cultura pop) saiba que ele já teve um pé no teatro noh.

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Paródia de assombração na série Midnight Diner do Netflix.

Embora grite “Nihon!” por todos os poros, o noh teve uma influência gigantesca na arte ocidental. Dramaturgos como Samuel Beckett, W.B. Yeats e Bertold Brecht basearam-se nele para escrever algumas de suas peças mais famosas.

Como o anime também é uma arte de performance, é óbvio que também paga homenagem ao gênero. Não só indiretamente, em muitos de seus roteiros, mas, às vezes, também diretamente.

Em Millenium Actress, por exemplo, a anciã que persegue a protagonista é ninguém menos que a Ryo no Onna: o fantasma de uma mulher destruída pelo sofrimento do amor.

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Na verdade, Ryo no Onna não é extaamente uma personagem, e sim uma máscara. Pode parecer estranho, mas no teatro noh as máscaras, de certa forma, têm vida própria.

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Embora haja muitas peças (e outras tanto têm sido escritas na modernidade), existe um número limitado de máscaras. Todos os papéis do noh se encaixam nestas categorias, que denotam não apenas aparência física, mas o próprio caráter da personagem.

Não são os papéis que vestem as máscaras; são as máscaras que vestem os papéis.

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Eu não precisei saber mais nada para decidir que o teatro noh era uma experiência que eu precisava viver. O que eu encontrei foi uma aventura tão sobrenatural quanto as histórias interpretadas no palco.

Ao longo desses artigos, eu narrei a vocês vários de meus passeios pelo Japão. Alguns mais turísticos, outros nem tanto. Nenhum deles, porém, foi mais exclusivo de japoneses do que esse.

O choque começou ao chegar no teatro. Nossa performance foi no Teatro Nacional de Noh em Tóquio, um prédio deslumbrante e moderno, verdadeira Sala São Paulo da dramaturgia nipônica.

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A pompa se refletia na indumentária. Foi o primeiro (e único) lugar no Japão em que encontrei japoneses (e não turistas) socialmente vestidos com kimonos.

Foi também o único lugar em que até mesmo o preço de algumas coisas na lojinha estava escrito em kanji (!). Por mais que a Vivian tenha tentado comprar o libretto, o staff simplesmente se recusou a nos vender: deu-nos apenas uma xérox em inglês do roteiro.

A diferença não é apenas estética. O libretto possui todos os diálogos da peça. Isso é importante porque o teatro noh, além de ser cantado em uma espécie de vibrato (como a ópera) é narrado em japonês antigo, que mesmo os nihonjin atuais não conseguem entender.

Felizmente, isso não significa que estrangeiros não podem curtir também. O Teatro Nacional de Noh possui telas na frente de cada assento, com legendas em japonês e inglês.

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O que rola no palco

O Noh é frequentemente chamado de “ópera japonesa”, mas essa comparação é enganosa. Ao contrário da arte de Wagner, peças de noh costumam ser curtas. Tão curtas, na verdade, que geralmente são acompanhadas de peças menores.

Para destilar o clima sisudo, as histórias são intercaladas com um teatro cômico, chamado de kyogen. O espírito é o mesmo do rakugo: uma espécie de “sitcom” da era Edo, descontraída e irreverente.

kyogen

A comparação não é gratuita: as duas artes se comunicam, ou passaram a se comunicar. Nos últimos anos, certas peças de rakugo foram adaptadas ao kyogen, encenadas por um grupo de atores.

Em Showa Genroku Rakugo Shinjuu, o escritor Eisuke Higuchi sugere salvar o rakugo mudando-o à imagem da modernidade. Quão surpreso ele ficaria ao saber que a comédia encontrou outro caminho para sobreviver: mudando os outros à sua própria imagem.

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Contudo, as peças noh são outro universo. Não existem cortinas: observamos os atores entrando e saindo do palco. Este é ligado aos bastidores por um longo corredor diagonal, que eles percorrem bem devagar para não estragar os figurinos. Uma mera montagem de cena pode levar vários minutos.

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Não existe, também, muita ação. Boa parte da história é narrada, seja por um protagonista, seja por um coro. As falas dizem respeito a questões existenciais, e os mesmos pontos são repetidos várias vezes.

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Jiutai, coro de uma peça Noh, ao fundo com kimonos pretos.

Pode parecer uma ladainha, mas eu adorei. Aos meus olhos enviesados de ocidental, o Noh me pareceu um teatro grego.

Tal como nas peças de Sófocles e Eurípides, existe um coro que ora situa a ação, ora nos narra os pensamentos das personagens. Tal como na Grécia, o noh costumava a ser interpretado só por homens, de onde as máscaras femininas. Até mesmo o kyogen lembra as peças de sátiros, interlúdios cômicos montados entre as tragédias.

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Performance de Orestéia, obra-prima de Ésquilo

Curiosamente, não acho que minha opinião seja popular mesmo no Japão. Na apresentação que assistimos, uma parte significativa do público dormiu durante a peça. Se pessoas que vestem kimono e se demovem ao melhor teatro de Tóquio não conseguem se manter acordadas no espetáculo, imagine o cidadão médio.

O noh, de fato, não é para todos. É, no entanto, uma arte inesquecível, que eu amaria experimentar de novo.

Seus fantasmas amargurados ficaram na minha cabeça – e não acho que sairão tão cedo.

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‘Showa Genroku Rakugo Shinju’: O lado exótico (e cômico) da cultura japonesa http://www.finisgeekis.com/2016/01/18/showa-genroku-rakugo-shinju-o-lado-exotico-e-comico-da-cultura-japonesa/ http://www.finisgeekis.com/2016/01/18/showa-genroku-rakugo-shinju-o-lado-exotico-e-comico-da-cultura-japonesa/#respond Mon, 18 Jan 2016 21:02:49 +0000 http://finisgeekis.com/?p=1574

Em um meio repleto de mechas, cenas de ação em CG e heroínas de cabelos coloridos, qual a chance de um drama histórico sobre pessoas normais fazer sucesso?

E se o anime em questão for focado em um estilo de teatro virtualmente desconhecido fora do Japão, que mesmo em seu país natal é considerado uma cultura de nicho?

E se, em adição a tudo isso, esse anime abrisse com um episódio de 50 minutos, dos quais 15 são ocupados por apresentações de duas performances na íntegra?

Em um mundo “normal”, nenhuma. Felizmente para nós, o universo otaku é tudo menos normal. É assim que Showa Genroku Rakugo Shinju, anime sobre um aprendiz de teatro rakugo, tornou-se um dos lançamentos mais badalados da última temporada.

A série inusitada se passa nos anos 1970 e acompanha Kyoji, um ex-presidiário que se apaixonou pelo teatro rakugo após assistir a uma performance do famoso ator Yakumo Yurakutei. Uma vez solto, Kyoji procura Yakumo e pede para se tornar seu aprendiz.

Nas palavras da Gabriella Ekens, do Anime News Network, esse é o enredo que esperamos encontrar em um filme concorrendo ao Oscar, não em um anime. A surpresa é sem dúvida maior para nós, ocidentais, do que para o público japonês. Em sua terra de origem, Showa Genroku Rakugo Shinju é a adaptação de um celebrado mangá vencedor de vários prêmios, incluindo o Kodansha. O próprio anime já teve um “teste de fogo” em dois OVAs produzidos pelo mesmo estúdio e lançados nas bancas com os últimos volumes do mangá.

Para uma série desse calibre, no entanto, qualidade é apenas o começo. É necessário, também, ser acessível. De um lado, não é a primeira vez que animes abordam o inabordável. Hikaru no Go, baseado no clássico e dificílimo jogo de estratégia oriental, fez tamanho sucesso que motivou vários fãs a estudar o jogo ou mesmo comprar seus próprios tabuleiros.

hikaru no go

Incluindo esse blogueiro que vos escreve

De outro lado, séries como Mad Men e Downtown Abbey popularizaram o drama histórico sério na geração atual. Entretanto,  seu apelo não atinge necessariamente o mesmo público – ou a mesma faixa etária – que a maioria dos animes comerciais.

Conseguirá Rakugo ganhar um espaço no coração dos otakus, tal como Hikaru no Go? Isto, só o tempo dirá. Uma coisa é certa: você dificilmente assistirá a um anime mais exótico esse ano.

Mas o que, afinal, é rakugo?

Em tempo: rakugo é uma espécie de “sit-downcomedy japonesa. Trata-se de um monólogo teatral em que o ator, sempre sentado e vestido com trajes formais, narra uma história cômica. Nas palavras de uma especialista, o rakugo é uma sitcom em que todos os papeis são interpretados por uma mesma pessoa.

rakugo phoebe

“Você sabia que 9 entre 10 casamentos terminam em divórcio?” “Phoebe, isso não é verdade!”

 

Como tudo o que vem do Japão, o segredo está nos detalhes. O artista de rakugo interpreta todas as personagens de sua história e usa linguagem corporal e mudanças de intonação para sinalizar os diversos papéis.

Para ajudá-lo, ele tem ao seu dispor apenas um leque e uma toalha. Por meio da mímica e muito faz-de-conta, estes objetos ganham vida como todo o tipo de aparato, de um par de hashi até armas de fogo.

rakugo prop

As apresentações geralmente começam no estilo de um stand-up ocidental, com uma roda de piadas e um momento para o ator “testar” a sua plateia. No caso de performances para ocidentais, ele geralmente inclui uma explicação sobre o próprio rakugo. Depois, o ator entra na história (ou histórias) propriamente ditas, que podem durar de alguns segundos a quase uma hora.

Para os curiosos, há alguns rakugokas (atores de rakugo) que se apresentam em inglês, e seus vídeos podem ser encontrados no YouTube. Um dos mais pitorescos é Katsura Sunshine, ou Sunshine-san, um canadense oxigenado que veste kimonos de folhas de maple:

Se você é fã de cultura japonesa e nunca ouviu falar de rakugo, não tenha medo. Sua carteirinha não será revogada. Rakugo é um gênero teatral notoriamente obscuro, e não por acaso.

Ao contrário de muitos stand-ups, as performances não são improvisadas. Tal como no antigo teatro grego, as histórias vêm (ou costumavam vir) de um cânone comum, e cabia aos atores apenas interpretá-las à sua maneira.

Considerando que o rakugo foi criado por monges budistas no século X e que várias das histórias datam do período Edo (1603-1868), trata-se de um humor bem específico… e bastante tradicional.

No final do primeiro episódio, Yakumo diz ao seu discípulo que só aceitará ensiná-lo caso ele o ajude a ressuscitar o rakugo. Independente do que aconteça no anime, fora das telas a série parece ter cumprido a missão. Basta pesquisar por “rakugo” no google para constatar que quase metade dos resultados dizem respeito ao anime.

Uma relíquia do passado…

Anos atrás, em uma conversa entre otakus, um amigo meu disse que todos os clichés de anime vêm do Genji Monogatari, o grande clássico da literatura japonesa escrito quase mil anos atrás.

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“Não faça isso, Senpai!”

Ele talvez ficará contente em saber que não é o único a ter formulado essa ideia. Um estudioso da universidade Kwansei Gakuin, no Japão, acredita que não apenas o anime, mas toda a cultura cool japonesa teria suas raízes no passado antigo.

Essa é uma discussão interessante, que bate em uma questão ainda mais complicada e que já citei aqui antes: animes são, de fato, parte da cultura japonesa?

Muito embora o gênro esbanje samurais, geishas, uniformes de sailor e takoyaki, há quem diga que o formato do anime deve mais ao ocidente do que ao oriente. Isto inclui não somente as técnicas de animação, mas todo um modelo de produção de entretenimento importado dos Estados Unidos após o fim da Segunda Guerra. Para alguns, das influências de Walt Disney em Tezuka e Miyazaki às convenções de cosplay, a cultura pop japonesa pode ser tudo, menos made in Japan.

Se não fose o bastante, vários diretores, mangakás e mesmo artistas inspirados na estética anime – como o popular Takashi Murakami – se afeiçoaram ao estilo justamente pela sua cara fantasiosa e internacional. A ideia era reapropriar elementos da cultura japonesa em um novo contexto, não prestar homenagem ao passado. Sob este ponto de vista, o anime não seria uma continuação do entretenimento da era Edo mais do que os romances do George R.R. Martin seriam uma continuação das novelas de cavalaria.

canterbury tales

Quase uma série da HBO

…Ou um legado para o presente?

Continuação ou não, é difícil negar que o anime deve muito às formas de arte que o precederam. Como não poderia deixar de ser, dado sua natureza cinematográfica, isso vale em dobro para as artes cênicas.

Shigeru Mizuki, um dos “pais” do mangá ao lado de Osamu Tezuka, começou a carreira como narrador de kamishibai, performance tradicional em que uma história é contada com a ajuda de quadros desenhados. A temática youkai em que ele foi pioneiro  deve muito a sua experiência com contos populares.

kitaro

Já Eiji Otsuka, antropólogo e mangaká autor de Delivery Service of Corpse, disse que os grandes gêneros de anime (Mahou Shoujo, Slice of Life, Artes Marciais, Magical Girlfriend etc) seguem a mesma lógica de classificação das antigas peças de teatro kabuki e bunraku.

O rakugo teve uma presença menor, mas nem por isso é um estranho no universo do anime. Rakugo Tennyo Oyui,  um Mahou Shoujo que elevou o conceito de off model a um novo patamar, tinha como protagonista uma aspirante a rakugoka que ganhava poderes mágicos e era transportada ao período Edo. 

rakugo tennyo oyui

rakugo também pode ser visto em espírito, se não em forma, na enorme influência de seu gênero irmão, o manzaiTrata-se de um estilo de performance humorística quase tão antigo quanto o rakugo. Sua principal diferença é que, em vez de um monólogo, o manzai se baseia em um dupla, composta por uma personagem séria (o tsukkomi) e uma atrapalhada (o boke). 

manzai se tornou uma das bases do humor japonês contemporâneo. Preste atenção em seu anime favorito e muito provavelmente você verá que boa parte das cenas cômicas giram em torno de um sujeito ingênuo ou engraçado atiçando a raiva do amigo sério.

Takeshi-Kitano

Takeshi Kitano

Curiosidade: do manzai também veio Takeshi Kitano, diretor de Dolls Zatoichi e ator na adaptação cinematográfica de Batalha Real. Tal como o protagonista de Showa Genroku Rakugo Shinju, ele tornou-se comediante nos anos 1970. No Japão, ainda é conhecido como Beat Takeshi, seu nome de palco.

Em alguns casos, o manzai aparece com toda a sua teatralidade. Quem jogou Ni no Kuni, o game da Level-5 desenhado pelo Studio Ghibli, deve se lembrar de uma apresentação da modalidade nos Fairygrounds:

manzai tem uma grande vantagem: desde sua origem, ele sempre foi muito mais informal e adaptável a diferentes circunstâncias. O rakugo, por sua vez, tem uma estrutura bem mais rígida, algo que os criadores de Showa Genroku Rakugo Shinju parecem ter reconhecido ao fazer a obra como um drama, e não um pastelão à la Nodame Cantabile.

nodame cantabile

Que, por sinal, dá vários exemplos de ‘manzai’ entre Chiaki e Nodame

Em todo o caso, um possível sucesso da série pode significar mais do que uma excelente estreia para a abertura do ano. Showa Genroku Rakugo Shinju tem o potencial de criar um gênero próprio, e nos introduzir a uma forma completamente diferente de vibrar- e de rir – com os animes.

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