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Star Wars: O Despertar da Força – finisgeekis http://www.finisgeekis.com O universo geek para além do óbvio Mon, 25 Feb 2019 17:46:52 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=5.7.11 https://i2.wp.com/www.finisgeekis.com/wp-content/uploads/2019/02/cropped-logo_square.jpg?fit=32%2C32 Star Wars: O Despertar da Força – finisgeekis http://www.finisgeekis.com 32 32 139639372 Especial: o post número 100 http://www.finisgeekis.com/2016/11/21/especial-o-post-numero-100/ http://www.finisgeekis.com/2016/11/21/especial-o-post-numero-100/#respond Mon, 21 Nov 2016 19:27:42 +0000 http://finisgeekis.com/?p=13156

Parece que foi ontem, mas o Finisgeekis está próximo de completar dois anos. Hoje, batemos a marca dos 100 posts! Número modesto para os grandes portais internet afora, mas um grande feito para o blog, que se preza por textos semanais longos, feitos com muita pesquisa.

Foram 100 posts de anedotas, curiosidades e controvérsias. Dos clássicos dos animes aos fundamentos do game design. De bonecas colecionáveis a revisionismo histórico. De cosplayers profissionais à literatura japonesa.

Foi uma viagem e tanto, com a qual contei o apoio de meus queridos parceiros, seguidores e leitores. E nada mais apropriado para a data do que uma celebração do melhor, do mais surpreendente  – e do mais saudoso –  desses quase dois anos de escrita e nerdice.

(Clique nas imagens para acessar os artigos)

O post mais visualizado

chowitsu

2016 foi um ano especial para o Finisgeekis. O projeto Profissionais do Cosplay, uma série de bate-papo com cosplayers que já fizeram do hobby um trabalho, finalmente saiu do papel. A primeira leva de entrevistas foi ao ar ao longo do ano, trazendo depoimentos de cosplayers do Brasil, Estados Unidos, França, Polônia e Portugal.

O projeto foi de longe a iniciativa mais interessante que já fiz no blog, e pretendo continuá-lo em 2017. Para minha enorme satisfação, foi também uma experiência edificante para meus entrevistados.

A ninguém isso foi mais verdade do que para a portuguesa Chowitsu. Sua entrevista lidera como o post mais visto da história do Finisgeekis e motivou vários brasileiros a começar a seguir seu trabalho.

De todos os cosplayers que entrevistei, Chowitsu é a única que conheci pessoalmente. É, portanto, com muito agrado que vejo seu trabalho alçando voo. Que seu talento continue a crescer e que seja sempre reconhecido!

O termo de pesquisa mais recorrente

attack-on-titan

Se alguma métrica já me fez coçar a cabeça, com certeza foi esta. Entre todos os termos de busca daqueles que caem no blog pelo Google, “Attack on Titan” lidera disparado.

É algo que não sei explicar sem invocar a força cabalística dos algoritmos secretos da web.

Por um lado, é verdade que dei alguma atenção ao hit de Hajime Isayama. Em O Titã da Militânciaum dos primeiros textos do blog, falei de como a fábula de humanos cercados por titãs foi apropriada por revoltados de plantão em vários protestos mundo afora. Algum tempo depois, traduzi parte de uma entrevista do ANN com executivos da Kodansha, falando sobre a série.

No entanto, tudo isso nem se compara com a atenção que dei a outras obras, como os games de The Witcher, os longas do Studio Ghibli ou os mangás de Inio Asano. Por uma razão muito simples: não é uma franquia com a qual tenho familiaridade.

Embora tenha acompanhado (e curtido) a primeira temporada do anime, não acompanhei nem tive interesse em acompanhar o mangá. Hoje, devo ser uma das poucas pessoas do mundo que não sabem o que há no porão da casa do Eren.

Que os muitos fãs de Shingeki que caem aqui por acaso não levem isso para o mal. Seja qual for o caso, vocês são muitos bem-vindos!

O post que mostra que a união faz a força

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Esse post especial em duas partes surgiu de uma ideia inusitada. E se juntássemos blogueiros diferentes para responder a questões difíceis? Uma espécie de podcast escrito, ou um equivalente contemporâneo dos diálogos filosóficos?

Assim surgiu o primeiro hangout da Blogosfera Otaku BR. Ao lado de autores dos blogs Anime 21, Animes Tebane, Dissidência Pop, É Só Um Desenho e Otaku Pós-Moderno, mergulhei de cabeça em uma das questões mais capciosas da cultura pop japonesa.

O experimento foi um sucesso, e pouco tempo depois realizamos um segundo hangout, curado pelo Diego Gonçalves do É Só Um Desenho. Quem se interessou pelas discussões pode ficar tranquilo: elas foram apenas as primeiras de muitas!

O post mais polêmico

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Nesses quase 2 anos de Finisgeekis, o blog nunca recebeu um backlash grande a ponto de provocar uma flame war. Para ser sincero, espero que continue assim.

O que não significa que todos os posts tenham sido bem aceitos. Em dezembro de 2015, me aventurei pela história das sequels reboots para entender a obsessão de Hollywood em ressuscitar hits do passado.

Sobre O Despertar da Força, primeiro longa de Star Wars sob a batuta da Disney, não tive palavras muito amigáveis. Eu já havia mostrado algumas reservas à direção corporativa da qual o mundo nerd se tornou escravo e antecipado meus medos em relação à ex-franquia de George Lucas.

O Despertar da Força confirmou boa parte do que eu temia, disfarçando como “tributo” um clone sem alma de A Nova Esperança, decorado com os frufrus favoritos do público millenial. Se os filmes de Lucas prezam pela experimentação (mesmo quando dão errado), O Despertar da Força é um exemplo de cinema “lista de compras”, “ticando” todas as caixas do lucro seguro e nostalgia vazia.

“Mas Vinicius” vários leitores, cada qual com suas palavras, me disseram “eu assisto a Star Wars justamente porque quero ter a mesma experiência de sempre. Se quisesse algo diferente, veria Star Trek ou qualquer outra coisa.”

Justo. Mas, se George Lucas pensasse assim, ainda estaríamos assistindo a Flash Gordon Buck Rogers. E se a humanidade como um todo pensasse assim, nunca teríamos saído das cavernas de Lascaux, admirando nossas pinturas de búfalos como se fossem o ápice da arte.

O Despertar da Força é sintoma de uma dupla tragédia. De produtores calculistas, que destilam clássicos em commodities efêmeras, e dos fãs, aquiescentes em ver sua obra do coração drenada à irrelevância. Se este é o futuro, parem o mundo que eu quero descer.

O post pelo qual preciso agradecer à DICE

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Que Battlefield é um arrasa-quarteirão todo mundo sabe. O que eu até então não imaginava era que essa popularidade pudesse se traduzir em um interesse por história – e pelos textos de quem vos escreve.

Com o lançamento de Battlefield 1, meu post de maio desse ano se tornou o artigo mais consistentemente popular do Finisgeekis. Dia após dia, ele passou a receber mais visualizações que qualquer outro texto.  “Jogos sobre primeira guerra” , por sua vez, tornou-se um dos termos de pesquisa mais recorrentes (atrás, é claro, de Attack on Titan).

A tudo isso, só tenho a agradecer à DICE. Se o seu novo AAA levar algumas pessoas a conhecer a guerra que inaugurou o mundo contemporâneo, ou se interessar por Verdun ou Valiant Hearts (dois dos jogos que menciono no artigo), já será uma missão cumprida.

O post que fez tudo valer a pena.

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Escrever um blog é um hobby ingrato. Pesquisar e redigir posts dá um trabalho desgraçado. Manter uma rotina exige que tratemos nossa página como um segundo emprego. E, no final do dia, o retorno nem sempre é grande.

O drama da protagonista do filme Julie & Julia é um retrato super honesto do que significa fazer escrita pública. Investimos horas de trabalho em um artigo para amargar esquecido em meio aos virais do momento. Buscamos diálogos com os outros e concluímos que estamos falando sozinhos.

Eventualmente desencanamos. Apertamos o “publicar” com resignação, sabendo que, no final das contas, ninguém lerá aquilo mesmo.

Erra quem pensa que a toxicidade é o pior que a internet pode oferecer. Para um blogueiro, o maior pavor não é o ódio. É o silêncio.

É por isso que, quando as coisas finalmente dão certo, a sensação é tão boa. Para mim, este momento veio com meus comentários sobre os mangás The Gods Lie. A Lollipop and a Bullet.

A resposta que tive superou todas as minhas expectativas. Recebi mensagens de leitores me agradecendo pelo texto. Um mangaká brasileiro chegou a me apresentar seu trabalho. Desconhecidos que eu pensava fora do meu alcance disseram compartilhar meus pensamentos.

Esse, afinal, é o endgame, o propósito último. Ser capaz de alcançar os outros e fazer com que ideias solitárias se disseminem e rendam frutos. É com o que sonhei do momento em que criei o blog e o que pretendo continuar enquanto ele existir.

E a vocês, leitores que tornaram isso possível, ofereço minha profunda gratidão – e a certeza de que farei de tudo para continuar a entretê-los, cada vez mais.

Muito obrigado!

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O “mais do mesmo”: Por que paramos de odiar as sequels? http://www.finisgeekis.com/2015/12/21/o-mais-do-mesmo-por-que-paramos-de-odiar-as-sequels/ http://www.finisgeekis.com/2015/12/21/o-mais-do-mesmo-por-que-paramos-de-odiar-as-sequels/#respond Mon, 21 Dec 2015 23:05:41 +0000 http://finisgeekis.com/?p=1441

Não faz tanto tempo que a falta de criatividade de Hollywood e seu hábito de explorar franquias de sucesso era motivo de chacota. De Volta para o Futuro 2 ilustrou isso bem ao pintar um 2015 fictício em que Tubarão 19 chegava aos cinemas. O próprio filme se tornou vítima da “maldição” em seu terceiro capítulo, considerado por todos o mais fraco.

back to the future jaws

Não faz tanto tempo, de fato, que sequels eram tão mal vistas que apenas sobreviviam (e olhe lá) graças às locadoras. O Escorpião Rei, ele mesmo um spin-off de uma sequel de A Múmia, ganhou duas sequências próprias. Dr. Dolittle, sucesso de Eddie Murphy, bateu o recorde com QUATRO sequels, três das quais sem a participação do ator principal.

dr dolittle posters

O caso está longe de ser o primeiro – ou o mais ridículo. Nem Psicose, obra-prima de Alfred Hitchcock, escapou da ganância dos produtores. Acredite ou não, o terror deu origem a uma franquia com o próprio nome.

psycho collage

Ao avançar a fita para os dias de hoje, no entanto, parece que o mundo virou de ponta cabeça. O que antes era visto com desprezo ou sarcasmo virou motivo de orgulho. Sequels, reboots, spin-offs, “sucessores espirituais” e todo tipo de continuação tornaram-se campeões de crítica e bilheteria.

Basta navegar alguns minutos em páginas nerds para encontrar imagens como a abaixo em meio a comentários efusivos de que “essa é a melhor época para estar vivo.”

disney film calendar

Reparem que entre as listas dos “celebrados” estão até continuações de franquias zumbificadas (Piratas do Caribe) e de filmes malhados pela crítica (Alice no País das Maravilhas).

Em outras épocas, isso seria motivo de risada. Hoje, aplaudimos de pé. O que, afinal de contas, aconteceu?

Para responder a essa pergunta, é preciso voltar no tempo.

A história das sequels

Ao contrário do que dizem os puristas de plantão, não há nada de novo nas mal-faladas “modinhas”.  Ryan Lambie encontra o “pecado” já na obra de  George Mèlies, um dos primeiros cineastas. Seu Viagem ao Impossível nada mais seria do que uma tentativa de capitalizar em cima de seu filme mais conhecido, Viagem à Lua.

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Dada a semelhança do cenário, é difícil negar

Conforme o cinema ganhou força – e os públicos aumentaram – a prática se tornou comum. Fundamental neste processo foi James Bond, uma das primeiras grandes franquias cinematográficas. Quando os livros de Ian Fleming acabaram, os produtores precisaram encontrar uma solução para sustentar o herói. A solução foram filmes sem uma cronologia específica, ambientados em um mesmo universo, com temas parecidos e um protagonista em comum. Desta forma, 007 foi também o pai improvável dos fillers do anime.

godfather-part-2-movie-poster-1974-1010464987A “era das sequels”, no entanto, não começou até os anos 1970. A década popularizou o hábito – que nos persegue até hoje – de empregar números nos títulos dos filmes.

A moda se espalhou depois do lançamento de O Poderoso Chefão 2, não apenas um lançamento de peso, mas uma das poucas sequências (até os dias de hoje) a ter se igualado ao original em qualidade.

Porém, nem todos são o Coppola, e a popularidade de O Poderoso Chefão trouxe mais lixo do que luxo. E não falo apenas de O Poderoso Chefão 3, mas daquilo que alguns críticos apelidaram de “sequels lixão”: tentativas despudoradas de “secar” uma franquia até que todo o glamour tenha sido monetizado.

A crítica de De Volta para o Futuro a Tubarão se encaixa aqui. Tubarão 4 foi um dos grandes exemplos de sequel-lixão, mas nem de longe o único: Superman 4 e Karate Kid 4 (que substituiu Daniel-san por uma ainda desconhecida Hillary Swank) competem no pódio.

karate-kid-poster

E não vamos nem tocar nesse assunto

No entanto, o fundo do poço ainda estava para chegar. Ele viria com o formato direct-to-video, a criação de filmes de baixo orçamento feitos especificamente para o VHS – e, depois, o DVD. A ideia parecia maluca a princípio, mas passou na prova dos nove em 1994 com O Retorno de Jafar, sequel de Aladdin.

O filme foi tão “barato” que chegou a contratar outros dubladores e compositores. Todavia, ele faturou US$ 7 milhões no primeiro mês de venda, uma fortuna para os padrões dos anos 1990. O resultado foi uma verdadeira tradição de sequels obscuras dos maiores clássicos da Disney.

disney dtv collage

Já que estamos falando de fundos de poço, há aqui uma menção honrosa: filmes “forçados” a virar sequels de outros com os quais não têm nada a ver. O mercado de cinema é super competitivo, e muitas vezes estúdios compram roteiros muito parecidos. Para capitalizar com a bilheteria dos filmes de maior sucesso, mais de uma vez o título das obras foi mudado para dar a impressão de que se tratava de um spin-off.

sequel name only

Não seria isso tudo indício de que não há nada de novo sobre o sol? Que os críticos das sequels, militando por um passado perfeito em que Hollywood só tinha ideias originais, estão falando de uma época que nunca existiu? Em parte. Há, no entanto, uma diferença gritante.

As sequels nunca antes fizeram tanto dinheiro.

A vitória da repetição

Grand_army_formation

Se antes sequels eram quase sempre relegadas a mercados de nicho, elas se tornaram as vacas leiteiras da indústria contemporânea. Jurassic World é o terceiro filme mais visto da história. Velozes e Furiosos 7 está na 5ª posição, Vingadores 2 na 6ª, e a sequel-da-sequel Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte II em 7º.

E isso sem contar O Despertar da Força, cujos números ainda não foram computados, mas que tem potencial para se tornar o filme mais visto da história.

Não se trata apenas de apelo com o público. Os críticos, também, passaram a amar o que antes odiavam. O ranking das sequels no Rotten Tomatoes fala por si só:

sequels sucesso

O que teria provocado a mudança? Algumas razões são óbvias. Estúdios se tornaram muito mais protetores com suas propriedades intelectuais e menos dispostos a estragar franquias com sequels-lixão. O sucesso de O Senhor dos Anéis e Harry Potter – incluindo a avalanche de Oscars para O Retorno do Rei – mostrou que sequels entregam no grande circuíto. Com o universo cinemático da Marvel, a habilidade de cineastas de lidar com histórias paralelas cresceu. Em suma, as sequels simplesmente ficaram melhores.

Mesmo assim, acredito que haja uma outra razão, muito mais profunda. E que diz respeito não apenas à qualidade dos filmes, mas a nós mesmos como pessoas.

O medo do novo

Lone_Wanderer

Em um texto intitulado As Sequels e a Morte da Novidade, o comentarista de games Shamus Young fez uma crítica pesada às sequências no mundo dos jogos. Para ele, a dependência em continuações acabou com a magia da descoberta.

O exemplo que dá é o de Fallout. No primeiro game, o jogador, encarnando uma personagem que viveu a vida toda sob a terra, precisa desbravar um mundo desconhecido. Do tutorial até os créditos finais, tudo o que via era novo, maravilhoso, amedrontador.

Uma sociedade em que tampinhas de refrigerante se tornaram moeda de troca. Uma seita semi-religiosa que luta para proteger a tecnologia perdida no apocalipse. Escorpiões gigantes, modificados pela radiação das bombas nucleares. Uma criatura poderosíssima e misteriosa chamada Deathclaw.

Porém, após mais de 5 sequels, o que antes era um mundo paralelo tornou-se um playground. Os elementos icônicos viraram presença garantida, de maneira que um jogador veterano já sabe o que vai encontrar antes mesmo de ligar o monitor.

A descoberta se tornou uma lista de compras, em que “ticamos” os itens na hora em que aparecem. No caso de Fallout 4, nem é preciso esperar muito: tudo o que há de clássico na série é introduzido na missão inicial.

Young falava de jogos, mas o mesmo vale para o cinema. Sob a bandeira da “nostalgia” ou do “respeito aos clássicos”, as sequels de hoje em dia oferecem meras “lista de compras” indicando os momentos em que devemos dar gritinhos de alegria no cinema.

(aqueles que não assistiram a’O Despertar da Força e que não querem SPOILERS, pulem para a próxima seção.)

O Despertar da Força é uma verdadeira lição desse cinema “lista de compras”. Luke, Leia e Han? Conferem. Planeta deserto? Confere. Estrela da Morte? Confere. Base Rebelde em planeta tropical? Confere. CP30 e R2 D2? Confere. Tie Fighters e X-Wings? Conferem Almirante Ackbar? Confere.  Sullustano genérico de O Retorno de Jedi? Confere. Tal como Fallout 4, o filme não entrega nada que já não tenha sido feito em outro lugar – e melhor, dirão alguns.

O fato é que o filme – e tantos outros que seguem a mesma fórmula – são um sucesso absoluto. Fãs internet afora o defendem dizendo que a “lista de compras” é o exato motivo que os leva a assistir Star Wars. Cada revelação da película levou os espectadores à polvorosa nos cinemas. Críticos o amaram. E a Disney, já antecipando o sucesso, disse que pretende manter o trem do saudosismo para todo o sempre. É isso mesmo. Star Wars será a “franquia eterna”.

Não se trata apenas do “mais do mesmo”. Pelo contrário, há uma vontade disseminada de que as coisas parem de mudar.

O presente que nunca acaba

carrossel

Se digo que vejo um motivo escondido por trás disso, é porque historiadores já notaram a mesma coisa em outros contextos: Nossa época, mais do que qualquer outra, tem um enorme medo da mudança.

Para esses estudiosos, tudo começou por volta dos anos 1980. Com o progresso tecnológico e todas as reviravoltas do final do século XX, ganhou força a impressão de que vivíamos em tempos de incerteza.

O mundo mudava tão rápido que se tornou impossível de acompanhar. Um país poderoso podia tombar em uma crise da noite para o dia. Uma moeda podia perder todo o seu valor. Nossa profissão podia deixar de existir antes mesmo de terminarmos a faculdade, substituída por outra que ainda não fora inventada. Uma nova tecnologia podia mudar a forma como nos relacionamos, levar uma indústria inteira à falência ou extingir veículos inteiros de comunicação.

2001 fecha

manchete crise mídia

O resultado foi a sensação de que não temos mais controle sobre nossas próprias vidas. Que o mundo se tornou tão incerto, complexo e imprevisível que fatos aleatórios podem alterar completamente nosso rumo. A ideia de que indivíduos podem mudar uma sociedade inteira perdeu força. O efeito borboleta tornou-se a palavra da vez

Tudo isso, obviamente, trouxe angústia. Como disse certa vez Roger Ebert, é humilhante saber que a existência não gira ao redor do nosso umbigo. Pior ainda é descobrir que ela não gira em volta de nada. Que estamos todos à mercê do acaso, da “conjuntura global”, de um zilhão de fenômenos que não entendemos, mas que podem mudar tudo à nossa volta em um piscar de olhos.

fukuyamaPara alguns historiadores, isso deu origem ao “presentismo”. Trata-se da fé de que agora a mudança acabou, que chegamos finalmente no fim da história, que nossa civilização é a última e que descobrimos a grande verdade. Por consequência, a fé de que por mais que as coisas mudem daqui para a frente, elas sempre continuarão as mesmas.

No presentismo, não há “futuro”, há apenas variações do presente. Nossa infância é A Infância, que continuará sempre a mesma porque ensinaremos nossos filhos a ser como nós. Os Anos Noventa nunca acabarão, pois nós continuaremos assistindo às mesmas coisas, já que temos o poder de repeti-las para sempre.  Ao decretar que nós “não viveremos para ver o fim de Star Wars”, a nova diretora da Lucasfilm não disse apenas que vai preservar a franquia: ela prometeu controlar o futuro.

No presentismo, também não existe “passado”, apenas “presentes” imperfeitos. Existem os valores certos, que são os nossos, e os errados, que são os “ultrapassados”. Nós vencemos porque estamos do “lado certo da história”; os outros perderam – ou precisam perder – porque se recusam a “evoluir”.

Não existem problemas contemporâneos: tudo o que há de ruim na face da Terra são “resquícios” de um passado horroroso que custa a morrer. “Os tempos mudaram” diz o presentista, “Se não gostou, volte para o passado.” A idéia de que pontos de vista diferentes podem habitar uma mesma época não é mais levada em conta.

No mundo do entretenimento, o saldo são visões de um futuro que nada mais fazem do que “celebrar” um presente saudoso. Ou então visões da história que “modernizam” o passado, ou que enviam até ele um herói contemporâneo, para que ele nos mostre quão horrível era a vida antes do “presente” acontecer.

Daí também o hábito, que já pega força entre os críticos brasileiros, de usar “atual” e “contemporâneo” como elogios. Refletir o “nosso tempo” nunca rendeu tantas estrelinhas nos guias de cinema.

E quando o “presente” acabar?

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Steven Spielberg recentemente causou polêmica ao dizer que os filmes de super heróis estão com os dias contados. Nenhum ciclo criativo dura para sempre, ele disse, por mais que queiramos acreditar no contrário. O cinema western um dia dominou Hollywood inteira, mas hoje é um gênero de nicho. Para o diretor de E.T., é quase certo que o mesmo aconteça com o Capitão América e os X-Men.

Spielberg não deu um exemplo qualquer. O western não se tornou o gênero dominante só por causa do talento de John Ford ou da popularidade de John Wayne. O cinema de faroeste encarnava valores de sua época – o individualismo do cowboy, a selvageria da fronteira, o perigo dos índios – que pararam de ressonar com o público.

Erra quem pensa que o nosso cinema é mais “neutro” do que os clássicos dos anos 1950. A diferença é que ele carrega valores com os quais (pelo menos por enquanto) nós concordamos.

O problema é que, tal como tempo dos cowboys, o nosso também vai acabar. E O Despertar da Força, hoje queridinho da crítica, público e ideólogos de Facebook, soará tão “errado” quanto Rastros de Ódio.

Quando isso acontecer, é bom torcermos para que o futuro seja mais tolerante com a gente do que nós somos com aqueles que nos precederam. Afinal de contas, como nos ensinou um certo filme, “nós podemos romper com o passado, mas o passado nunca rompe conosco.”

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‘Star Wars’, o universo expandido e o futuro do mundo nerd http://www.finisgeekis.com/2015/10/26/star-wars-o-universo-expandido-e-o-futuro-do-mundo-nerd/ http://www.finisgeekis.com/2015/10/26/star-wars-o-universo-expandido-e-o-futuro-do-mundo-nerd/#comments Mon, 26 Oct 2015 20:37:35 +0000 http://finisgeekis.com/?p=794 Lançamentos são mágicos. Em especial os de uma das franquias mais amadas de todos os tempos, como é o caso de Star Wars. Eles transformam o maior dos rabugentos em um fanboy de carteirinha e nos fazem enxergar o lado bom das coisas.

Não posso dizer que o Despertar da Força não tenha me provocado um efeito similar. Entretanto, agora que os rumores já deram lugar aos trailers e já estamos todos lutando por espaço na pré-estreia, não consigo deixar de pensar em algo que causou certo frisson ano passado.

O que será do universo de Star Wars, que certos fãs levaram anos a compreender, agora que sua linha do tempo foi “zerada” e sua galáxia se torno um quadro em branco?

Uma nova esperança

Para quem não se lembra, eis o resumo da ópera: após comprar a Lucasfilm, a Disney anunciou que o universo expandido de Star Wars seria considerado não-canônico – isto é, não mais faria parte da continuidade ou lore oficiais. Suas obras existentes seriam mantidas sob o selo Star Wars Legendsmas ele estaria, para todos os fins, abandonado.

Mais importante, todas as novas produções feitas à propriedade intelectual daqui para frente seriam consideradas canônicas.  Se antigamente os filmes de George Lucas ocupavam um patamar mais alto na hierarquia de “verdade” da franquia, agora filmes, spin-offs e standalones estarão no mesmo patamar. Para todos os fins, a Disney parece querer transformar Star Wars em um multiverso cinemático, da maneira como fez com a Marvel e tantas outras propriedades intelectuais.

Talvez levemos algum tempo para entender toda a dimensão da mudança, mas alguns efeitos podem ser vistos desde já. A LucasArts foi fechada, e a ordem do dia foi produzir menos games, de melhor qualidade. Para a EA, incumbida das honras, isso quis dizer um reboot de Star Wars: Battlefront.

Uma nova série, Star Wars: Anthology, pretende lançar longas standalones nos intervalos dos filmes “titulares” da série. Em outras palavras, poderemos esperar um novo Star Wars a cada ano, um ritmo para todos os fins alucinante. E, segundo Pablo Hidalgo, membro da Lucasfilm e editor da Complete Star Wars Encyclopedia, as decisões criativas tornaram-se muito mais “horizontais”, sem a obrigatória deferência ao mestre Lucas.

Para marcar a mudança, veteranos do império de Lucas e novos nomes se juntaram para um vídeo de despedida, em que expunham seu amor pelo universo expandido:

Mudá-lo para salvá-lo

Se essa novidade é boa ou ruim é uma discussão ferrenha, como não podia deixar de ser a uma franquia lendária de mais de 30 anos. Eu mesmo, quando do anúncio da compra pela Disney, disse que tirar Star Wars das mãos de George Lucas era a melhor coisa que poderiam fazer à propriedade (embora não estivesse pensando exatamente nisso).

Eu não fui o único a brindar a mudança. Lee Hutchinson do Ars Technica disse que o universo expandido era um câncer, uma massa embolorada que crescia para todos os lados, repleta de “atrocidades literárias ilegíveis”. Achar trabalhos que prestem na massa de produções de qualidade duvidosa seria equivalente a encontrar as joias da Coroa em um mercado de pulgas.

Se Lucas tivesse vendido a marca para a BBC, isso não seria um problema

Se Lucas tivesse vendido a marca para a BBC, isso não seria um problema

Há, obviamente, muito no universo expandido que marcou época. Shadows of the Empire e a trilogia Thrawn, os quadrinhos Tales of the Jedi Legacy, os games X-Wing, Dark Forces/Jedi Knight e Knights of the Old Republic. No entanto, é difícil negar que a maior parte de suas obras não traz nenhuma honra ao logo na capa.

Kathleen Kennedy, presidente da Lucasfilm, tem um argumento mais pragmático: os cineastas precisarão estar livres para criar, e não presos a dezenas de milhares de obras obscuras e por vezes contraditórias. Se fôssemos esperar que cada diretor decorasse a Wookiepedia e produzisse um longa inédito respeitando o cânone, nunca mais teríamos filmes de Star Wars.

Há quem diga que essa complexidade também afasta novos públicos, preocupação que a Disney mostrou ser seu objetivo número 1. Sob sua batuta, o não menos confuso, contraditório e artisticamente inconsistente universo Marvel se tornou uma potência capaz de duelar (e vencer) qualquer líder de bilheteria. Star Wars com certeza irá além. Ao menos um analista já disse esperar que O Despertar da Força se torne o filme mais visto da história, superando o recorde de Avatar.

Que a Corpore tenha até organizado uma corrida inspirada na série não é mera coincidência. A profecia de Bill Gate se cumpriu: os nerds dominam o mundo, e sua subcultura deixou de ser “sub” para virar o mainstream. Ratos de porão, paperbacks amarelados e jogos truncados de PS1 são coisa do passado.

Mesmo assim, tal como Han Solo, por algum motivo tenho um pressentimento ruim sobre isso.

O charme do caótico

Há algo de especial na “massa embolorada” do universo expandido, em sua qualidade de fanfic e na sua falta de coesão. E não falo das coisas boas que nos foram deixadas. Não há dúvidas de que a Disney se aproveitará do melhor. As especulações sobre o roteiro do Episódio VII estão recheadas de alusões ao universo expandido. De minha parte, basta olhar para Kylo Ren para ver que os artistas conceituais andaram jogando KotOR:

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Antes, o diferencial do universo expandido estava na maneira como era feito, desprovido de centro. Sua “confusão” era fruto de cabeças diferentes colocando no papel visões muito próprias (e conflitantes). Algumas até viravam a franquia de ponta-cabeça, substituindo o binarismo Jedi/Sith por uma reflexão moral de peso, ou explorando um passado realmente muito distante.

Não é de se espantar que a produção tenha sido comparada às fanfics: muitos dos profissionais do império de Lucas – incluindo os compiladores da Complete Encyclopedia – começaram a carreira como fãs.

Um dos casos mais emblemáticos é o de Chad Vader, uma esquete de YouTube protagonizada por um “primo pobre” de Darth Vader que tenta se tornar gerente de um supermercado no Wisconsin. A série faturou o Official Star Wars Fan Film Award em 2007. Não fosse o bastante, George Lucas ficou tão impressionado com a performance de seu criador que ele se tornou dublador “oficial” de Vader no game Star Wars: The Force Unleashed.

Convergência ou divergência?

O cientista da comunicação Henry Jenkins chamou o momento em que vivemos de uma cultura da convergência. Ela seria composta por uma nova geração de consumidores participativos, dispostos a buscar e misturar conteúdo oferecidos em vários meios, e de provedores de conteúdo ansiosos por cativar esse público. Há uma vontade crescente dos fãs de “entrarem” nas franquias que amam e se tornarem, eles também, criadores, e uma apreensão das corporações de perderem o controle sobre suas propriedades intelectuais.

fans bloggers gamersJenkins sem dúvida via a cultura da convergência em Star Wars, tanto é que colocou um cosplayer de stormtrooper na capa de um de seus livros. No entanto,  estaria a convergência com os dias contados?

Antes de tudo, quero dizer que não me identifico com o anti-corporativismo do mundo nerd. Prefiro ser chamado de “drone da EA” a me associar ao tipo de “fã” que faz review-bombing de jogos ou assedia representantes comerciais. E é sempre bom lembrar que a Disney está longe de ser hostil a seu público. Prova: já contrataram o próprio Henry Jenkins como consultor em uma de suas divisões.

Nada é para sempre

O problema é que, historiador que sou, não consigo deixar de pensar que as coisas sempre mudam. E não apenas as roupas que vestimos ou os aparelhos que usamos para escrever, mas também valores, ideias, preferências, identidades. O motivo de orgulho de um sujeito, vinte anos depois, será sua fonte de vergonha. O que nos comove na juventude nos entedia na vida adulta. A grande causa de uma geração é a picuinha da seguinte. Como disse Jolee Bindo, personagem do game Star Wars: KotOR, não pense que a sua guerra é a mais importante só porque você está nela.

Assim, pergunto-me o que será desse “mundo dos nerds” quando a novidade acabar. Quando as mil e uma lojas com “geek” no nome falirem e as empresas pararem de pagar funcionários de cosplay para vender serviços em convenções. Quando os desvairios políticos do momento forem varridos por novas cruzadas,  a nostalgia dos anos 1990 for substituída pela nostalgia dos anos 2010 e os estúdios engavetarem filmes de super herois tal como uma vez já engavetaram os faroestes do John Ford.

Os nerds vão sobreviver. O passado mostrou que eles são uma espécie resistente, adaptava a viver em nichos isolados. É por isso que olhamos para Forry Ackerman e Tove Jansson e vemos paixões em comum, muito embora eles fizessem suas  ‘nerdices’ quando os criadores da subcultura ainda usavam fraldas.

Já o futuro da grande mídia quando o público mainstream migrar para outras paragens é mais incerto. Algumas obras sempre se salvam. Outras, talvez, serão reinventadas décadas depois, como o foram Mad Max e Caça-Fantasmas. No entanto, como as pilhas de VHS mofados em mercados de pulga provam,  a maioria sempre desaparece.

Aqui jaz Ozymandias, rei dos reis...

Aqui jaz Ozymandias, rei dos reis…

A Disney sempre respeitou a sua história, mas é mais fácil respeitar Fantasia do que Infinity War: Parte 2, ou seja lá qual sequel-da-sequel estaremos assistindo daqui há alguns anos.

Sem o dinamismo desse “câncer” de fãs-criadores e seus trabalhos que parecem fanfic, estamos reféns de produtores que vêem no legado de Lucas o ganso dos ovos de ouro – e  que podem, como na fábula, um belo dia decidir por abatê-lo. Sem uma separação canônica entre os seis filmes do “mestre” e os spin-offs, um zumbificação da franquia causará um dano muito maior à imagem da marca. E, com filmes anuais, esta zumbificação já pode ser vista do horizonte.

Pode ser que dê tudo certo. Mas é bom lembrarmos que vivemos em um mundo em que corporações não estão acima de cancelarem gibis e cortarem personagens para que o dinheiro não caia em mãos erradas, nem de sentarem em cima de direitos de exibição, fazendo reboots meia-boca a cada 5 anos para que outros estúdios não lucrem com aquilo.

O mundo corporativo não foi criado ontem, e esses problemas sempre estiveram aí. A diferença é que, com a explosão da onda nerd, nossos hobbies da juventude viraram o cabo-de-guerra da vez. No virar do milênio, experimentamos o lado bom de se tornar popular e “trendy”. Agora começamos a engolir a parte amarga.

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