Warning: Use of undefined constant CONCATENATE_SCRIPTS - assumed 'CONCATENATE_SCRIPTS' (this will throw an Error in a future version of PHP) in /home/finisgeekis/www/wp-config.php on line 98

Warning: Cannot modify header information - headers already sent by (output started at /home/finisgeekis/www/wp-config.php:98) in /home/finisgeekis/www/wp-includes/feed-rss2.php on line 8
Entrevistas – finisgeekis http://www.finisgeekis.com O universo geek para além do óbvio Wed, 08 Sep 2021 22:03:58 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=5.7.11 https://i2.wp.com/www.finisgeekis.com/wp-content/uploads/2019/02/cropped-logo_square.jpg?fit=32%2C32 Entrevistas – finisgeekis http://www.finisgeekis.com 32 32 139639372 Entrevista: a Dublin de Joyce entre o passado, presente e futuro http://www.finisgeekis.com/2021/09/08/entrevista-a-dublin-de-joyce-entre-o-passado-presente-e-futuro/ http://www.finisgeekis.com/2021/09/08/entrevista-a-dublin-de-joyce-entre-o-passado-presente-e-futuro/#respond Wed, 08 Sep 2021 21:51:06 +0000 http://www.finisgeekis.com/?p=23020 Hoje trago algo diferente para vocês.

Se acompanham o blog há algum tempo, sabem que sou grande fã da obra de James Joyce. Minha admiração por esse autor já me levou a muitos lugares – por exemplo, a fazer cosplay de suas personagens pelas ruas de Dublin. Nunca, porém, antecipei o privilégio que vivi essa semana.

Junto com meu colega, o arqueólogo Alex Martire, entrevistei ninguém menos que Caetano Galindo, escritor, tradutor e um dos brasileiros mais engajados em tornar a obra do autor acessível ao grande público.

Naturalmente, historiadores e arqueólogos que somos, não podíamos deixar de falar sobre o passado. E falando de Joyce, esse “passado” tem nome e sobrenome: Dublin, Irlanda, 16 de junho de 1904.

Sua obra-prima, Ulisses, é uma recontagem da Odisseia de Homero ambientada na capital irlandesa dessa data. Tão detalhado é o retrato que fez da cidade no começo do século XX que o próprio Joyce disse que, se Dublin desaparecesse, poderia ser inteiramente reconstruída usando apenas sua obra de referência.

Isto, claro, em 1922, quanto o romance foi publicado pela primeira. E quanto a 2022, ano de que rapidamente nos aproximamos? Ulisses continuará a ter relevância quando a cidade que o inspirou deixar de existir, substituída por novas “Dublins”? Ou, melhor dizendo, conseguirá a própria Dublin honrar o pedestal em que Joyce a colocou na medida em que se transforma em outra coisa – e os lugares e edifícios citados no livro deixarem de existir?

A mim e ao Alex, Galindo se mostrou otimista. Disse que, por mais louvável que seja a adoração moderna a Joyce (o Bloomsday, evento dedicado ao autor, é atualmente a segunda maior festividade da Irlanda) não podemos esquecer de que ela é um fenômeno turístico bastante recente. Em 1941, quando Joyce morreu, a recepção na cidade foi fria. E levaria muitas décadas a amornar.

“Essa relação da cidade com o livro [foi] alterada na marra” ele disse, comentando sobre a pressão de leitores e críticos, sobretudo nos EUA, que elevaram Ulisses ao patamar de obra-prima da literatura. “A Irlanda meio que teve de engolir o Joyce de atravessado”.

Galindo também comentou como transformar lugares citados por seus livrosem museus não é o mesmo que preservá-los. A farmácia Sweeney, cenário de um dos capítulos de Ulisses, por exemplo, hoje é um centro cultural que organiza leituras de textos de Joyce. Não seria mais fiel ao espírito do romance que continuasse funcionando como uma farmácia? Onde está a linha entre manter a Joyce de Dublin e imortalizá-la como um monumento empalhado, inerte, que não mais pertence à vida cotidiana das pessoas?

“A [Sweeney’s] sobreviveu?” ele pergunta “É uma coisa fake. É uma coisa criada para se vincular ao fato de que aquelas paredes estão de pé. […] É Dublin se alterando por causa do Ulisses.”

E é nisso, talvez, que está a maior força desse romance de cem anos atrás. Dublin não é apenas o palco da história de Joyce. “A paisagem da cidade mudou” diz Galindo. “Ele sacralizou certos espaços […] Delimitou aqueles lugares como lugares especiais.”

Em tempos em que influencers pregam publicamente que clássicos não servem para nada, não é pouca coisa. Como o sultão de Sandman que barganhou com Morfeu para que seu reino durasse para sempre, Joyce conseguiu a proeza de transportar uma cidade inteira para o mundo dos sonhos.

“O Ulisses vai sobreviver. E aquela cidade vai sobreviver no Ulisses.”

Você pode assistir ou ouvir a entrevista completa na página do ARISE.

]]>
http://www.finisgeekis.com/2021/09/08/entrevista-a-dublin-de-joyce-entre-o-passado-presente-e-futuro/feed/ 0 23020
Entrevista: música e escapismo com o “Sofá a Jato” http://www.finisgeekis.com/2021/09/01/entrevista-musica-e-escapismo-com-o-sofa-a-jato/ http://www.finisgeekis.com/2021/09/01/entrevista-musica-e-escapismo-com-o-sofa-a-jato/#respond Wed, 01 Sep 2021 20:25:26 +0000 http://www.finisgeekis.com/?p=23012 Vocês que acompanham o blog sabem que eu tenho uma queda por artistas que tiram algo a mais da cultura pop. Sejam elas romancistas, cosplayers ou poetas, há algo de belo – e valente – em utilizar games, quadrinhos e animes como ponto de partida, não um fim em si. Em uma paisagem midiática cada vez mais dominada pela impessoalidade e por algoritmos, criar é a maneira mais pura de mostrarmos que somos protagonistas das nossas nerdices, não meros consumidores esperando na fila pelo que quer que esteja em oferta.

Foi uma grata surpresa, assim, conhecer o trabalho do Sofá a Jato, banda gaúcha formada por Frederico Demin, João Beal e Yussef Lima, que partiram de referências comuns a toda uma geração de gamers para encontrar sua própria voz no metaverso da cultura pop.

Nessa entrevista exclusiva, eles me contaram sobre como usam música e recursos audiovisuais para replicar a sensação de escapismo gerada pelos games – e sobre o que significa “escapar” em um mundo onde a alienação vem se tornando o novo normal.

Confiram:

A banda Sofá a Jato

O Sofá a Jato é uma banda com uma identidade bastante distintiva, misturando estilos brasileiros com expressões dos games e da cultura pop. De onde veio a ideia por trás do projeto? Vocês poderiam contar um pouco sobre como foi seu percurso até aqui?

O nome da banda iniciou ainda no colégio. A intenção era participar do show de talentos e se divertir. Esse interesse por games sempre esteve presente no grupo, principalmente pela arte que eles transmitem no visual e no som juntos. A gente sempre curtiu o poder imersivo das trilhas sonoras de jogos, o quanto uma boa música fazia a gente entrar mais no mundo do jogo e esquecer a realidade. Acho que foi natural seguir usando características dessas músicas nas nossas composições. Acho que a partir disso que veio a ideia de usar também essas narrativas mais fantasiosas nas letras e tal.

A compositora Yuki Kajiura certa vez disse que animes exigem trilhas sonoras de peso, pois a animação, por si só, não chega aos pés da expressividade do rosto humano vista no cinema live action. Este princípio também é visto em videogames, sobretudo naqueles que não contam com gráficos fotorrealistas. De certa forma, o Sofá a Jato parece fazer o percurso oposto, trazendo recursos visuais para complementar o som. De onde veio a ideia desse conceito multimídia? Do brainstorm até a performance, como ‘nasce’  e se desenvolve uma obra da banda?

Acho que duas obras influenciaram fortemente isso. Uma delas foi o filme Interstella 5555 do Daft Punk, inclusive um anime muito bom. Ali ficou claro desde cedo o poder narrativo em incorporar as diferentes mídias numa mensagem só, parece que ela fica mais poderosa. E também, a banda sempre teve essa ideia de ser uma trilha sonora de um espetáculo. Isso é uma grande influência que surgiu ao assistirmos os show do Pink Floyd/Roger Waters. Nunca foi nosso foco que o público assistisse apenas a banda tocando ao vivo, mas sim, passar essa sensação de estar em uma sessão de cinema ou teatro em que a trilha sonora está sendo tocada ao vivo. Além de tirar o foco da gente. O palco sempre foi meio delicado pra nós, hahahahah.

No seu livro A Composer’s Guide to Game Music, a compositora Winnifred Phillips cita várias maneiras como a música pode afetar nossa percepção do tempo e espaço. Por exemplo, como peças em tons maiores fazem com que ouvintes percebam a passagem do tempo de forma mais lenta, ou que uma dada imagem pode assumir sentidos diferentes dependendo da música que nos embala enquanto a observamos. Vocês usam alguma técnica do tipo para gerar a vibe psicodélica de seus clipes e shows?

Depende de como veio o processo. Com o nosso disco que está pra sair a gente foi mais cuidadoso, até porque ele envolve contar uma história ao longo dele todo. A gente sempre curtiu muito conversar bastante sobre as diretrizes e intenções e em caso de dúvida tentar se guiar por elas, desafiar a criatividade pra tentar passar aquela parte da maneira emocional adequada. Pra isso usamos de tudo, desde mixes mais espaciais pra dar grandeza até acordes suspensos pra dar um ar de aventura e incerteza do que virá. A parte visual tende a vir depois, com muita experimentação, mas de novo, no caso dessas novas músicas elas foram pensadas pra servir a história e as sensações da músicas, sem necessariamente “explicá-las”.

Há não muito tempo, referências a jogos e personagens eram um código que poucos dominavam. Hoje, esta linguagem consolida cada vez mais seu espaço na mídia mainstream. O trabalho do Sofá a Jato, de certa forma, é um reflexo disso. Como vocês enxergam o seu lugar como artistas dentro dessa paisagem cultural em movimento? Existem novas oportunidades ou desafios que vem surgindo?

Temos percebido mais artistas utilizando referências do mundo geek/nerd em suas obras, seja um sample de um anime em alguma música, ou uma letra que fale sobre a jornada de um herói, esse universo está cada vez mais presente na música. Pra nós, eu diria que o maior desafio é como unificar tudo isso através das várias maneiras que temos que entrar em contato com o “mundo”, com as pessoas. Um exemplo são as história em quadrinhos que fazemos pra contar os bastidores da banda, uma maneira de fazer algo divertido e que combina conosco e também achar uma maneira de não aparecer muito, que não é muito a nossa praia, hahaha.

Como fã de games, não posso deixar de notar a referência a trilhas icônicas em seus trabalhos, como Zelda: Ocarina do Tempo e Chrono Trigger. E quanto a trabalhos mais recentes? Existem artistas/compositores contemporâneos na cena nerd cuja obra vocês acompanhem?

Sim, com certeza. Em termos de trilha sonora de jogos, Celeste seria um que vem a memória fácil. Horizon Chase também. Quando vamos jogar RPG usamos a trilha sonora do The Witcher 3, por aí vai. Acho que em termos de influência mais direta, ultimamente voltamos forte às trilhas dos filmes do Studio Ghibli. O compositor Joe Hisaishi é um gênio.

Clipe da música “Lugar” do Sofá a Jato

 ‘Escapismo’ é uma experiência prometida com frequência por jogos eletrônicos. Talvez como resultado da entrada dos games na cena mainstream, ele também se tornou um tema controverso. Se por um lado ele é visto como um refúgio necessário ao estresse e problemas do mundo, há quem diga que o escapismo nos aliena, incentivando-nos a enxergar esses produtos (e a própria vida) com olhos passivos. A obra do Sofá a Jato evoca várias vezes esse tipo de experiência, notavelmente na música “Lugar”. Como artistas, como vocês navegam essa corda bamba?

Então, esse é exatamente o tema do próximo disco, na qual “Lugar” fará parte! A gente julga importante discutir o escape, ainda mais em tempos modernos de alienação e vidas relativamente falsas online. Lidamos com depressão nas nossas vidas e pessoas próximas e achamos que temos uma responsabilidade de trabalhar melhor a ideia do escape, sim. Acho que falar mais a fundo entregaria um pouco o disco então, por enquanto vamos nos segurar!

Conheçam mais sobre o Sofá a Jato em sua página.

]]>
http://www.finisgeekis.com/2021/09/01/entrevista-musica-e-escapismo-com-o-sofa-a-jato/feed/ 0 23012
Entrevista: explorando a Revolução Russa em “The Life and Suffering of Sir Brante” http://www.finisgeekis.com/2021/04/07/entrevista-explorando-a-revolucao-russa-em-the-life-and-suffering-of-sir-brante/ http://www.finisgeekis.com/2021/04/07/entrevista-explorando-a-revolucao-russa-em-the-life-and-suffering-of-sir-brante/#respond Wed, 07 Apr 2021 19:36:35 +0000 http://www.finisgeekis.com/?p=22758

 

 

 

Uma sociedade precariamente dividida em três classes sociais. Um “Império Abençoado” multicultural cuja própria forma traz à mente uma certa confederação europeia. Uma Igreja que enfrenta um cisma entre uma “Velha Fé” tradicionalista e “novos fieis” que exigem o acesso direto às escrituras. Um estilo de arte distintivo que parece tirado direto de um caderno de rascunhos de Albrecht Dürer.

Não é preciso muito para adivinhar que The Life and Suffering of Sir Brante, um RPG text-based lançado mês passado, foi criado por artistas com uma formação em história. Lidando com temas como conflitos ideológicos, inquietação social e autoritarismo em tempos de mudanças sem precedentes, o game cai como uma luva ao momento histórico que enfrentamos.

Os paralelos podem ser coincidência, mas a intenção de trabalhar essas questões de maneira crítica não. Assim me contou Fyodor Slusarchuk, autor do cenário e conceito originais.

Nessa entrevista exclusiva, ele me guiou pelo seu processo criativo e pelas maneiras surpreendentes como sua equipe partiu de uma Renascença fantástica para entender a Rússia contemporânea.

Como revoluções acontecem

Como escrevi na minha resenha, o jogo nos coloca nos pés de Brante, cidadão de um regime opressivo – o Abençoado Império Arkniano – nas vésperas de uma revolução religiosa sem precedentes. Cabe a nós decidirmos que papel tomaremos nos anos que virão.

Para um medievalista que ocasionalmente lida com fontes da era moderna, que nem eu, é díficl não encarar Sir Brante como uma refência à Reforma Protestante e às Guerras de Religião. O próprio “Abençoado Império Arkniano”, como seu nome deixa claro, me parece um equivalente óbvio ao Sacro Império Romano-Germânico, onde Lutero viveu.

De acordo com Slusarchuk, porém, a revolução de Sir Brante foi inspirada por um evento muito mais recente – e mais próximo das sensibilidades de seus criadores russos.

Sir Brante foi baseado em uma série de jogos de LARP que organizamos durante um período de 17 anos, de 1997 a 2014” Slusarchuk me contou “Quando começamos nossa série de jogos, a fantasia medieval tradicional era considerada comum demais. Fantasia ‘sombria’ era um gênero cada vez mais popular”.

Mas houve outra razão para situar o jogo na era moderna. “Conforme nós ficamos mais velhos, nós começamos a pensar nos processos históricos por trás da nossa cultura e do nosso país. Na época, eu era um estudante no instituto histórico da nossa universidade e me interessei pelos períodos revolucionários na França e na Rússia – e em outros países também. Mas eu estava particularmente intrigado pela Primeira e Segunda Revoluções Russas no século XX.”

“É um dos períodos mais importantes da nossa história, o evento que determinou nosso século XX – e talvez também o XXI.”

“Para entendê-la de verdade, eu acreditava que nós precisávamos ir mais fundo e explorar outros modelos de revolução, não apenas a Russa.”

É uma inspiração que se manifesta até mesmo na identidade artística – embora seja difícil para não-russos enxergarem.

“Nosso artista é muito interessado pelas estéticas medievais, coisas como gravuras, e também jogos inspirados na Idade Média como Darkest Dungeon. Foi muito divertido para ele trabalhar nesse estilo.”

“Mas ele também se inspirou em livros ilustrados da Rússia Soviética. Eles tinham ilustrações simples e primitivas feitas a lápis. Mas eles deixavam bastante espaço para a imaginação. Eu acho que nós dois fomos influenciados pelos livros da nossa infância” ele ri.

Àqueles que têm olhos treinados, é também possível identificar alguns paralelos com figuras importantes da história russa.

A amiga de infância de Brante é Sophia, uma jovem que eventualmente se torna líder de um grupo extremista conhecido como “A Ultima Gota”. O artbook oficial menciona que ela compartilha o nome com Sophia Perovskaya, uma das mandantes do assassinato do Czar Alexandre II em 1881.

Mas Slusarchuk me recomendou não prestar muita atenção nas referências específicas.

“Sabe, é até difícil apontar as inspirações históricas das nossas personagens, porque nós as misturamos muito bem, eu acho.”

“Nosso objetivo principal, na  verdade, era criar personagens que tivessem algum poder histórico, que haviam desempenhado um papel na história russa – seja em movimentos laborais, conservadores, religiosos ou intelectuais.”

“Nós temos tido uma discussão muito longa sobre a nossa história; uma discussão que se estende por dois séculos ou mais e que continua a ser feita, não apenas em congressos de história, mas também na nossa vida política.

“Para mim, criar um jogo é uma forma de continuar essa discussão”.

Questões de fé

Um dos elementos mais distintivos de Sir Brante é sua disposição a discutir religião. Muitos jogos retratam a fé de uma maneira ou de outra, mas não é todo dia que nos deparamos com um em que disputas teológicas ganham os holofotes.

Ao contrário do politeísmo de muitas franquias de fantasia, a igreja de Sir Brante é visivelmente inspirada nas religiões abraâmicas – e, especificamente, em uma intepretação particularmente rigorosa do cristianismo. Qualquer ação que desafie o status quo é rotulada de “pecado”, e suas divindades – os Deuses Gêmeos – não oferecem misericórdia aos que erraram. Desafiar a elite política significa condenar sua alma à danação eterna.

No início da história, porém, essa igreja está passando por mudanças drásticas. Um cisma põe o clero tradicional em confronto com fieis dissidentes. A “Velha Fé” argumenta que apenas membros do sacerdócio podem comentar a palavra de Deus, e apenas uma interpretação sancionada pelo estado – escrita por uma figura inspirada em São Paulo, chamada Isatius – deve ser considerada canônica. A “Nova Fé”, por sua vez, acredita que todo mundo deve ser livre para buscar seu próprio caminho até Deus.

“Nós criamos os conceitos de sinas [ as ordens sociais em que a sociedade é dividida ] e deuses inclementes para nossos jogos de LARP, especificamente aquele que foi organizado em 2003, “A Era da Renascença”. Nós queríamos um conflito que envolvesse não apenas ordens políticas diferentes,mas também tradições culturais distintas. Minha própria formação é em história cultural, e eu acredito que a cultura é um dos fatores mais determinantes da história.”

“A inspiração mais importante para a religião do jogo foi o cisma entre a cristandade católica e ortodoxa. Nossa fé é uma metáfora para a tradição russa ortodoxa porque ela era uma tradição bastante vinculada ao Estado.”

Segundo essa metáfora, qual fé representaria a igreja russa no jogo? A Velha ou a Nova?

“Certamente a Velha Fé. É uma religião em que você sabe exatamente o que você deve a Deus e o que você deve  ao seu imperador. Seus padres agem como “profissionais” na vida da sua alma.”

“E um dos maiores problemas, da forma como eu entendo, é que as pessoas investiram muito em líderes religiosos, e procurar seu próprio caminho até Deus não era uma ideia muito disseminada.”

“No início do século XX, houve uma grande discussão entre Lev Tolstói e nossa igreja sobre como o cristianismo ortodoxo não tinha experimentado uma reforma. Nós não tínhamos tido um Martinho Lutero, não tínhamos comunidades independentes na nossa igreja. Eu acredito que isto foi muito importante para o caminho histórico que tomamos.”

Nuance e agência do jogador

Nem tudo no jogo é uma referência óbvia à Revolução Russa. É digno de nota que Sir Brante também introduza muitas sociedades esotéricas, algumas das quais têm papeis importantes – e sinistros – na jornada de nosso protagonista. Em vez de moldá-las em sociedades secretas que realmente existiram, Slusarchuk me contou que as ideias por trás delas vieram da literatura.

“Eu não posso dizer que sou um expert na história das sociedades místicas. Minha principal inspiração foi o conto As Três Versões de Judas de Jorge Luís Borges. Foi daí que eu tirei as ideias para a Sociedade Markiana [ uma seita hedonista que puxa as cordas por trás de muitas das instituições do jogo] e os Vontadistas de Ulrich [ uma facção extremista da inquisição ].”

“Eu também devo muito ao Umberto Eco. A provavelmente todos os seus livros, mas sobretudo O Nome da Rosa, O Pêndulo de Foucault e O Cemitério de Praga.”

“Quando eu tinha vinte e poucos anos, era muito importante para mim entender quão diferentes podem ser nossas interpretações de histórias que conhecemos de nossa infância. O Borges me ensinou a enxergar aspectos diferentes das relaçõès entre homem e Deus – e como eles podem ser modificados.”

Alcançar esse nuance ao lidar com os temas do jogo foi, segundo Slusarchuk, a principal preocupação da equipe.

“Nossa tradição de RPG tem alguns princípios básicos, e um deles é não privilegiar um único lado; não fazer um jogo de um único ponto de vista. Era muito importante para nós entender outras posições e tentar representá-las no jogo.”

É uma premissa que o jogo cumpre até bem demais. Desde os primeiros capítulos que lidam como nossos anos de infância, é evidente que o Abençoado Império Arkniano é uma sociedade irremediavelmente quebrada.

Mesmo assim, você não é obrigado a dar um empurrão final nesse leviatã alquebrado.  Algumas escolhas farão com que o protagonista se torne um membro da baixa nobreza, entre para o clero ou continue um plebeu. Embora cada uma dessas decisões possa colocar Brante no caminho de um revolucionário, você também pode decidir apoiar o status quo – e até mesmo instaurar uma ordem reacionária que fará o império de outrora parecer liberal em comparação.

Como Slusarchuk explica, o princípio não é muito diferente de um exercício de história contrafactual. Para realmente apreciar as implicações do future que você criou, é necessário explorar o que teria acontecido se as coisas tivessem se desenrolado de outra maneira.

“Nós desenvolvemos o game de maneira que você tem algumas opções básicas que determinam seu futuro, mas você pode se deparar com alguma coisa que faça você mudar de ideia. E talvez o resultado disto venha a ser um desastre. Talvez fará você desistir ou tentar um outro caminho, mas é importante estar em uma posição reflexiva, tentar entender o que foi que você escolheu.”

Isso casa com um dos poucos elementos explicitamente fantásticos em Sir Brante: a própria morte. No jogo, perder a vida não é necessariamente uma condição de fracasso. Todas as personagens – incluindo os NPCs – podem ser mortas até quatro vezes até que sua alma finalmente abandone o corpo. Sempre que o próprio Brante experimentar uma morte menor nós temos de encarar os Deuses Gêmeos e responder a questões crípticas sobre as decisões que nos trouxeram até ali.

“A morte, no nosso jogo, é um ponto de reflexão. Nós perguntamos ao personagem, e talvez ao jogador, sobre o que foi sua vida. E nós esperamos que jogadores possam então entender que é hora de mudar alguma coisa”.

A mudança, de fato, é talvez o principal tecido conjuntivo que une as pontas de  sua narrativa. Do próprio Brante ao NPC menos relevante, suas personagens são pessoas que entendem que o mundo tal como conhecem deixará de existir e estão lutando para apressar seu fim, para evitá-lo, para sobreviver a ele – às vezes, apenas para tirar algum sentido do que está acontecendo.

É uma mensagem que parece super relevante para nosso próprio presente depois de um ano e meio de pandemia de Covid-19. Teria Sir Brante alguma coisa a dizer sobre os tempos em que vivemos, atormentados como são pela ascensão de populismos radicais, instabilidade econômica e um futuro que parece tão cruel e incerto quanto os desígnios dos Deuses Gêmeos?

“Eu estaria sendo otimista demais se respondesse com um “sim” confiante” disse Slusarchuk. “Era o nosso objetivo ter uma mensagem, embora eu não tenha certeza de que tenhamos conseguido passá-la”.

Talvez, como os mistérios da Nova Fé, essa é uma resposta que cada jogador terá de encontrar por conta própria.

Interview: exploring the Russian Revolution in ‘The Life and Suffering of Sir Brante’ 

A society uneasily divided into three estates. A multicultural “Blessed Empire” whose very shape brings to mind a certain European confederation. A Church that faces a schism between a traditionalist “Old Faith” and “new believers” who advocate direct access to the scriptures. A distinctive art style that seems to have been plucked straight from one of Albrecht Dürer’s sketchbooks.

It does not take much to guess that The Life and Suffering of Sir Brante, a text-based RPG that hit the shelves last month, was created by artists with a background in history. Dealing with themes such as ideological conflicts, social unrest and authoritarianism in times of unprecedented change, the game seems tailor-made for the unique historical moment we find ourselves in.

The parallels may be coincidental, but the intent to tackle these questions in a critical manner wasn’t. Thus told me Fyodor Slusarchuk, author of the original concept and setting.

In this exclusive interview, Slusarchuk guided me through his and his team’s creative process, and often surprising ways a fantasy Renaissance was repurposed as a tool to understand contemporary Russia.

How revolutions come about

As I wrote in my original review, the game puts us in the shoes of Brante, a citizen of an oppressive state called Blessed Arknian Empire at the eve of a epoch-changing religious upheaval. It is up to us to determine which role we will play in the coming rebellion.

For a medievalist who occasionally deals with Early Modern sources like myself, it is hard not to regard Sir Brante as an allegory on the Reformation and Wars of Religion – and the Blessed Arknian Empire itself as an obvious stand-in for the Holy Roman Empire.

According to Slusarchuk, however, Sir Brante’s revolution was inspired by an event that is much more recent – and closer to the sensibilities of its Russian-based creators.

Sir Brante was based on a series of LARP games we organized during a period of 17 years, from 1997 to 2014” Slusarchuk told me “When we started our game series, medieval high fantasy was considered too ordinary. ‘Grim fantasy’ was an increasingly popular genre”.

But there was another reason for setting the game in the Early Modern period. “As we became older, we started to think about historical processes in our culture and our country. I was then a student at the historical institute in our university, and I became interested in the revolutionary periods in France and in Russia, and in other countries as well. But I was particularly intrigued about the First and Second Russian Revolutions in the 20th century.”

“It’s one of the most important periods of our history, the event that determined our 20th century, and maybe 21st century as well.”

“To fully understand it, I believed we had to go deeper and explore other models of revolution, not just the Russian.”

It is an inspiration that manifests itself in the very art style – although it might be difficult for non-Russians to spot.

“Our artist is very interested in medieval aesthetics, in things like engravings, and also medieval-inspired games like Darkest Dungeon. It was very fun for him to work on this style.

“But he was also inspired by picture books from Soviet Russia. They had rather simple, primitive pencilled illustrations. But they left a lot of room for the imagination. I think we were both influenced by the books from our childhood” he chuckles.

To the trained eye, it is also possible to identify parallels to major Russian historical figures.

Brante’s childhood friend is Sophia, a young woman who eventually becomes leader of a violent insurrectionist group known as The Last Straw. The official artbook mentions she shares her name with Sophia Perovskaya, one of the masterminds behind the assassination of Tsar Alexander II in 1881.

But Slusarchuk advised me not to look too closely at the specific references.

“You know, it’s rather hard to tell apart the specific historical inspirations for our characters, because we mixed them very well, I think.”

“Our main goal was to create characters that yielded some historical power, that played a role in Russian history – be it in a labour, conservative, religious or intellectual role.”

“We’ve had a long, long discussion about our history that has been going on for two centuries or more, and continue to do so, not only in historical conferences, but also in our political life.”

“For me, creating a game is a way to continue this discussion”

Matters of faith

One of the most distinguishing elements of Sir Brante is its willingness to discuss religion. Many games feature faith in one way or another, but it is not everyday we come across one in which theological disputes take center stage.

Unlike the polytheism of many fantasy games, Sir Brante’s church is visibly inspired by the Abrahamic religions – and, specifically, a rather vindictive interpretation of Christianity. Any action that defies the status quo is labelled a “sin”, and its deities – the Twin Gods – offer no mercy for the wicked. To defy the political elite means to convict one’s soul to eternal damnation.

At the story’s outset, however, this church is experiencing rapid change. A schism takes place pitting the mainstream clergy against a movement of dissident believers. The “Old Faith” argues that only members of the priesthood can expound on the word of God, and only a state-sponsored interpretation – written by a St. Paul-like figure known as Isatius – is to be considered canon. The “New Faith”, on the other hand, believes everyone should be free to seek their own path to God.

“We created the concept of lots [ the estates in which the society is divided ] and unforgiving gods for our LARP games, specifically the one held in 2003, “The Age of Renaissance”.  We wanted a conflict that involved not only different political estates, but also different cultural traditions. My own intellectual background is cultural history, and I believe culture is one of the most determinant factors in history.”

“The most important inspiration for the religion of the game was the schism between Catholic and Orthodox Christianity. Our faith is a metaphor for the Russian Orthodox tradition, because it is a rather state-oriented tradition.”

And would the Russian church, according to this metaphor, stand for the Old or New Faith?

“Certainly the Old Faith. It’s a religion in which you know for certain what you owe God and what you owe your emperor. Its priests act as “professionals” on the life of your soul.”

“[And] one of the main problems, as I understand it, is that people invested too much in religious leaders, and looking for one’s own way to God wasn’t something very widespread.”

“In the beginning of the 20th century, there was a great discussion between Lev Tolstoy and our Church about how Eastern Orthodoxy had not experienced a Reformation. We had no Martin Luther, no independent communities in our Church. I believe this was very important to the historical path we took.”

Nuance and player agency

Not everything in the game is an obvious stand-in for the Russian Revolution. Notably, Sir Brante features many esoteric societies, some of which may play important- and nefarious roles – in our protagonist’s journey. Rather than modelling them on one of many secret societies founded in 19th Europe, Slusarchuk tells me the ideas behind them came from literature.

“I can’t say that I’m an expert on the historical background of these mystical societies. My major inspiration was the story “Three Version of Judas” by Jorge Luís Borges. It was from there that I took the ideas for the Markian Society [a hedonist sect that pulls the strings behind many of the game’s political institutions] and Ulrich’s Willists [ an extremist branch of the game’s Inquisition ]”.

“I’m also indebted to Umberto Eco. Probably by all of his books, but specifically The Name of the Rose, Foucault’s Pendulum and The Prague Cemetery.”

“When I was in my 20s, it was very important to me to understand how different can be our interpretations of stories that we knew from our childhood. Borges taught me how to see the different aspects of the relationships between man and God, and how they can be modified.”

Achieving this nuance in dealing with the game’s themes was, according to Slusarchuk, the main concern for the team.

“Our roleplaying tradition has some basic principles, and one of them is not to be one-sided; not to make a game from a single point of view.  It was very important for us to understand other positions and to try to present them in the game.”

It is a premise the game accomplishes to a fault. From the earliest chapters dealing with our childhood years, it is evident that the Blessed Arknian Empire is an irremediably broken society.

And yet, you are not required to give the crumbling behemoth a final push. Certain choices will cause the protagonist to become a member of the gentry, join the clergy or remain a commoner. While each of these decisions may set Brante on a revolutionary’s path, you may also decide to support the status quo – and even bring upon a reactionary order that will make the Empire of yore seem liberal in comparison.

As Slusarchuk explains it, the principle is not unlike an exercise in counterfactual history. To fully appreciate the implications of the future you have created, it is vital to explore what would have happened if things had gone differently.

“We designed the game in such a way that you have some basic choices that determine your future, but you may come upon something that makes you change your mind. And maybe the outcome will be a total disaster. Maybe it’ll make you give up or try out a different path, but it is important to be in a reflective mindset, to try to understand what you chose.”

This ties in with one of the few explicitly fantastical elements in Sir Brante: death itself. In the game, passing away is not necessarily a failure condition. Every character – including NPCs – can be killed up to four times before their soul finally departs the mortal realm. Every time Brante himself experiences a lesser death, we have to face the Twin Gods and answer some cryptic questions about our previous decisions.

“Death, in our game, is a reflection point. We ask the character, and maybe the player, what was your life about. And we hope players can then understand that it’s time to change something.”

Change, in fact, is arguably the main connective tissue tying its narrative together. From Brante himself to the lowliest NPC, its characters are people who realize the world as they know will cease to exist, and are fighting to hasten its end, to avoid it, to survive it – sometimes, simply to make sense of it.

It is a message that seems all too relevant to our own present, one and half year into the Covid-19 pandemic. Does Sir Brante has anything to say about the times we live in, beset as they are by the rise of radical populisms, economic instability and a future that seems as harsh and unpredictable as the whims of the Twin Gods?

“It’d be too optimistic of me to answer with a confident ‘yes’” Said Slusarchuk “It was our goal to have some message, although I’m not sure we achieved it.”

Maybe, like the mysteries of the New Faith, this is an answer each player will have to find on its own.

]]>
http://www.finisgeekis.com/2021/04/07/entrevista-explorando-a-revolucao-russa-em-the-life-and-suffering-of-sir-brante/feed/ 0 22758
‘Mangás, Animes e a Psicologia”: Entrevista com a Profa. Ivelise Fortim http://www.finisgeekis.com/2017/02/28/mangas-animes-e-a-psicologia-entrevista-com-a-profa-ivelise-fortim/ http://www.finisgeekis.com/2017/02/28/mangas-animes-e-a-psicologia-entrevista-com-a-profa-ivelise-fortim/#comments Tue, 28 Feb 2017 17:16:05 +0000 http://finisgeekis.com/?p=15657  

Em março, a cena otaku brasileira terá uma surpresa.

Talvez você já tenha lido internet afora que estava para ser lançado um livro analisando mangás e animes sob a perspectiva da psicologia.

Ele se chama Mangás, Animes e a Psicologia e chega às prateleiras no próximo dia 15. Escrito por pesquisadores da PUC (e otakus de carteirinha), é uma tentativa de trazer discussões mais aprofundadas para aqueles que amam cultura pop japonesa.

Quem acompanha o blog sabem que essa é justamente a minha missão no Finisgeekis. Não preciso dizer, portanto, que fiquei super animado ao saber da iniciativa.

Tive o privilégio de conversar com a professora Ivelise Fortim, organizadora do projeto, que me contou sobre a ideia por trás do livro, os intercâmbios entre a academia e cultura pop e a necessidade criar pontes entre pesquisadores e otakus.

Confiram abaixo a entrevista:


O que é o livro Mangás, Animes e a Psicologia? De onde veio a ideia para o projeto?

O projeto nasceu de uma paixão pessoal minha, fã de animes e mangás. Além disso, tenho notado que estas narrativas fazem parte da vida de muitos alunos, de pacientes, sejam estes crianças, adolescentes e adultos.

Eu mesma já atendi casos onde as crianças e adolescentes tinham uma importante conexão com este universo, e isso foi importante como instrumento para a comunicação na psicoterapia.

O livro contém várias análises baseadas na psicologia analítica. O que é esta área da psicologia? O que ela traz de interessante para nossa apreciação de mangás e animes?

A Psicologia Analítica é uma linha teórica da Psicologia. Criada por Carl Gustav Jung, ela fala sobre o mundo dos mitos, dos contos de fadas e das narrativas fantásticas.

Para o autor, essas narrativas são importantes para o ser humano porque falam de suas vivências mais importantes. Jung foi quem criou o termo Arquétipo e usamos esse e outros conceitos para entender as séries.

Qual é o público-alvo que vocês pretendem alcançar?

O livro é destinado ao público Otaku, de forma geral. É importante também para psicólogos que desejam entender melhor este universo.

Acredito que muitos devem estar surpresos por saberem que existe pesquisa acadêmica sobre cultura pop. Na academia, trabalhos sobre animes e mangás já são bem aceitos? Existe uma tradição consolidada para esse tipo de pesquisa?

A pesquisa acadêmica sobre animes e  mangás não é muito frequente no Brasil, mas sim, existem pesquisadores pensando no assunto. Por exemplo, a profa. Sonia Luyten tem estudado mangás desde a década de 70.

Lembro que o campo de pesquisa dos mangás é interdisciplinar: psicólogos, comunicadores sociais, antropólogos, sociólogos, etc. pesquisam o tema, mas de maneiras diferentes. A aceitação é diferente nas diversas áreas.

Animes e mangás já fazem parte do dia-a-dia do brasileiro, mas seu contexto de produção é bem afastado da nossa experiência. Isto é uma dificuldade para quem faz pesquisa? O que é preciso saber para estudar a fundo essas mídias?

Não vejo o fato da produção não ser feita aqui como empecilho. O que eu entendo que é preciso para estudar a fundo mangás e animes é um bom conhecimento da cultura oriental, de sua história, seus costumes, religiões, valores, etc.

No caso desse livro, trabalhamos apenas com mangás japoneses, então entendo que é muito difícil falar com propriedade se você não conhece a cultura japonesa com um pouco mais de profundidade. Caso contrário, você corre o risco de fazer uma interpretação ocidentalizada do que acontece nas narrativas, muitas vezes perdendo o significado que o mangaká quis transmitir.

Um dos capítulos do livro fala sobre mangás e animes yaoi. Creio que esta seja uma das mais peculiares (e populares) facetas da cultura pop nipônica. Como você enxerga seu apelo?

Falei com Louise Monteiro, a autora do capítulo. Ela disse que acredita que seja porque foi uma produção exclusiva das mulheres em uma área dominada pelos homens.

Mangás yaoi apresentam as perspectivas delas para os personagens, principalmente masculinos, assim como os homens apresentavam suas perspectivas sobre todos os tipos personagens que eles queriam criar.

Muitas discussões sobre anime/mangá giram em torno do impacto que estas mídias podem ter nas nossas vidas. Recentemente, por exemplo, o mangá Usagi Drop provocou um burburinho pelo que foi interpretado como uma apologia à pedofilia. Como psicóloga, como você encara esses debates?

Os mangás e animes são mídias como outras que conhecemos. Podemos fazer os mesmos questionamentos com relação a influência da televisão, dos videogames, dos comics, dos filmes e seriados.

Entendo que as pessoas que leem esses quadrinhos são capazes de fazer o que chamamos de mediação, ou seja: você é capaz de refletir sobre o que você viu, sem simplesmente sair copiando alguma coisa que você viu em algum lugar.

No meu ponto de vista, os sujeitos são capazes de ter crítica sobre o material com quem entraram em contato, tomando suas próprias decisões sobre as ações.

Devo dizer que fiquei muito contente com o entusiasmo que o público otaku tem demonstrado ao lançamento do livro. Como alguém que também faz pesquisa sobre cultura pop (na área de games), sei que nem sempre é fácil lançar um trabalho que circule entre os dois mundos. Como você vê essa ponte entre academia e fãs no momento atual? Você acredita que o crescimento do mundo geek trouxe também um público interessado em ler mais a fundo sobre as obras que ama?

Eu também devo dizer que estou feliz com a curiosidade que os otakus estão com relação ao livro. Essa é a segunda iniciativa de contato com o público comum (o livro anterior que fizemos se chama The Big Bang Theory e a Psicologia), e espero conseguir com que os psicólogos entendam melhor os fãs, e que os fãs entendam melhor porque amam essas narrativas.

De fato, o crescimento do mundo Geek traz um público mais interessado em aprender, entender melhor o que gosta. Afinal, passamos de nerds rejeitados a Otakus, Nerds e Geeks valorizados, com grandes eventos específicos e um mercado editorial gigantesco. A ponte entre academia e público, do meu ponto de vista, é muito importante.

Quantos otakus podem vir a ser psicólogos e entender melhor o ser humano? E quantos pesquisadores podem compreender melhor o universo otaku? Creio que essa é minha vocação, como Hermes da mitologia grega, que visa fazer pontes e contatos entre pessoas muito diferentes.


Mangás, Animes  e a Psicologia será lançado dia 15 de março, das 17h às 22h no Teatro Tucarena da PUC-SP (Rua Bartira 1024, Perdizes, São Paulo – SP)

Se curtir anime e estiver pela cidade, não deixe de conferir!

 

]]>
http://www.finisgeekis.com/2017/02/28/mangas-animes-e-a-psicologia-entrevista-com-a-profa-ivelise-fortim/feed/ 3 15657
Profissionais do Cosplay: Hannah Éva http://www.finisgeekis.com/2016/09/30/profissionais-do-cosplay-hannah-eva/ http://www.finisgeekis.com/2016/09/30/profissionais-do-cosplay-hannah-eva/#respond Fri, 30 Sep 2016 20:03:54 +0000 http://finisgeekis.com/?p=10999

interview readNessa coluna, eu trago a vocês depoimentos daqueles que, de uma maneira ou de outra, se transformaram em “profissionais” do cosplay. Para alguns, foi uma atividade paralela, uma forma, muitas vezes, de custear os próprios trajes. Para outros, uma segunda vida fazendo aquilo que mais amam. Para outros, ainda, uma profissão à qual se dedicam noite e dia.

Hannah Éva entrou no mundo do cosplay há pouco tempo, mas já produziu trajes simplesmente impressionantes. A cosmaker, que hoje se dedica à confecção em tempo integral, me contou sobre sua rotina, sua experiência como convidada oficial de uma convenção e um pouco sobre a cena do cosplay nos Estados Unidos.

Confiram a entrevista abaixo:

hannah-3

Qual é a sua idade e há quanto tempo trabalha com cosplay?

Tenho 23 anos e faço cosplay há 2.

Como você se tornou uma cosmaker?

Tornar-se uma cosmaker aconteceu meio por acaso. Eu nunca soube o que eu realmente queria fazer quando crescesse. Porém, independente de eu saber ou de querer, eu sabia que acabaria fazendo algo relacionado à arte, já que era a única coisa em que eu era boa.

Nesses últimos anos, mesmo antes de eu saber o que era cosplay, meu sonho era me fantasiar e ser paga para isso. Eu aprendi a costurar quando fui hospitalizada aos 15 anos. É uma coisa que me foi ensinada como uma terapia. Depois disso, no entanto, eu não pensei muito sobre isto até quando comecei a fazer meu primeiro cosplay. Felizmente, eu aprendo rápido, pois evolui de uma noob a alguém que vive de cosmaking em apenas 2 anos.

Em uma entrevista passada, você mencionou que o cosplay se tornou sua vida inteira. Como cosmaker, qual é a sua rotina? Você trabalha em casa ou tem uma oficina? Quanto do seu tempo você investe nisso? Você divide sua paixão com um outro emprego?

Eu fui diagnosticada com um caso bastante extremo de transtorno bipolar. Eu já tive de largar vários empregos por causa disso. Devido à minha doença, cosmaking se tornou minha única profissão. É muito conveniente ser minha própria chefe, pois eu posso planejar minha vida de acordo com o meu transtorno.

Eu trabalho em casa. Eu tenho um cômodo separado para minhas coisas de cosplay, mas elas tendem a se espalhar por toda a casa. Eu fico doente com frequência e preciso cuidar da minha saúde acima de tudo, mas cada dia em que posso trabalhar eu me dedico aos trajes.

Eu não tenho muita vida social, então me tornei uma espécie de workaholic. Eu me sinto um pouco mal pela minha família e amigos, pois não tenho muito do que falar além de cosplay, já que é basicamente a única coisa na minha vida além dos meus animais de estimação.

hannah-6

Na sua página, você menciona que aceita encomendas para fantasias de halloween. Apesar da data ser celebrada ao redor do mundo, eu acreditou que os Estados Unidos são um dos únicos países onde se tornou esse evento superpopular, em que mesmo adultos se fantasiam. Cosplayers americanos costumam fazer trajes “casuais” também? Quão fácil é circular entre o mundo do cosplay e outras variedades de confecção?

Eu brinco todo ano dizendo que estou me fantasiando de pessoa normal no Halloween, já que me fantasio em todos os outros dias do ano. É tipo meu dia de folga.

Porém, essa é só uma tentativa triste de esconder o fato de que faz muitos anos que não comemoro Halloween. Eu adoro o feriado, mas nunca me surgiu nada legal na data, nem fui convidada para nenhum evento ou festa. Por outro lado, para meu negócio como cosmaker é ótimo, pois posso alcançar um público mais amplo.

Eu imagino que Halloween seja mais fácil para cosplayers porque nós não sentimos tanto stress em arranjar um traje de última hora se temos alguma coisa no armário. Eu sei que eu usaria o Halloween para fazer um cosplay mais casual em comparação aos que eu levo para convenções. Eu sinto uma pressão absurda sempre que faço um novo cosplay. Halloween é uma forma de extravasar, já que é mais sobre se divertir do que uma opção de carreira.

Eu acho que migrar do cosplay para outros tipos de fantasia é bem fácil. Geralmente, quando você faz cosplay você é uma personagem específica, mas no Halloween a regra é outra. Para quem não faz design de roupas, eu entendo que pode ser um desafio, pois você não tem um plano certo para seguir. Criar fantasias para festivais diferentes pode ser divertido e desafiador, pois você precisa se ater a um tipo específico de fantasia e não fugir das restrições. Eu amo desafios e design de trajes é minha parte favorita do cosmaking, então sempre me animo para fazer fantasias para todo tipo de evento.

hannah-7

Você já foi chamada a convenções como uma cosplayer convidada. Você pode contar um pouco da sua experiência? O que uma cosplayer convidada geralmente faz? Como as pessoas geralmente são abordadas para se tornarem convidadas? Quem é o responsável pelo contato?

A experiência foi intimidadora. Eu não sabia o que esperar, e me parecia amedrontador. Quando eu cheguei lá, no entanto, encontrei algumas pessoas incríveis. A outra cosplayer convidada, SuperKayce, me orientou muito.

Como cosplayer convidada, eu ficava disponível para fotos, respondia questões e dava dicas de cosplay. Eu também tive a oportunidade de vender meus prints e outros merchans!

Uma das responsabilidades que eu tive foi moderar uma mesa redonda sobre um assunto da minha escolha. Eu escolhi “Introdução ao Cosplay”, já que era um tópico com o qual eu me identificava como uma “cosplayer noob”.

Como eu nunca havia estado em uma mesa redonda antes, a SuperKayce foi comigo e me deu uma grande ajuda. Ela não só me guiou, mas também me ajudou a coordenar a discussão. Foi uma experiência maravilhosa, e eu realmente espero ter uma outra oportunidade parecida.

Para me tornar uma cosplayer convidada, eu entrei em contato com os organizadores. Eu dei a eles minhas informações de cosplay, e eles me ofereceram um lugar na booth de cosplay.

Você já trabalhou com cosplay fora da cena “geek” propriamente dita? (ex: em eventos corporativos, festas infantis, ações de caridade ou de marketing)?

Eu participei de alguns eventos de caridade como cosplayer e ano passado trabalhei como entertainer no Iola Car Show na cidade de Iola, Wisconsin. É bem divertido fazer esses eventos, mas é uma experiência completamente diferente. Em convenções, você está fantasiada em um ambiente em que usar fantasias é a norma. Nesses eventos, todos os olhares estão sobre você, pois você é a única pessoa usando um traje. Eu tenho um talento natural para performance e não fico envergonhada fácil, então para mim é muito divertido. Eu vou atrás de todas as oportunidades que tenho para usar uma fantasia.

hannah-4

Para além da realização pessoal, o que uma cosplayer busca em concursos? (Renda, prestígio, networking?) Você participa de muitos concursos? É possível se profissionalizar no âmbito do cosplay sem participar de concursos?

Concursos trazem um sentimento de orgulho – poder dizer que você é uma cosplayer premiada. Fora isso, cosplayers podem receber prêmios maravilhosos, conhecer novos contatos e ter fotos tiradas. Como muitas pessoas assistem aos concursos, você é reconhecida mais do que seria se alguém simplesmente cruzasse com você na convenção.

É definitivamente possível para uma cosplayer se tornar profissional sem participar de concursos. Elas precisam se esforçar um pouco mais para compensar pelos benefícios que perdem, mas muito do cosplay profissional é networking. Eu sofro muito com isso porque fui uma pessoa introvertida a minha vida toda. Não é fácil para mim decidir o que mostrar. Muitas convenções estão mais interessadas nas sua capacidade para networking do que em quantos concursos você participou.

Como você escolhe os concursos nos quais participa, e como se prepara para eles? Você concebe um cosplay específico para cada evento, ou aproveita para mostrar algum projeto que já tenha em andamento?

Se eu tenho de participar um concurso, começo a preparar um cosplay com meses de antecedência. Eu gosto de pesquisar os concursos antes de decidir concorrer, de forma a saber o que esperar. Eu não participo de concursos sempre que vou a convenções. Eu me dedico tanto aos cosplays que faço para competição que às vezes preciso de uma trégua para curtir a convenção em vez de me estressar com um concurso.

Minha estratégia é ser sempre gentil e descontraída para aliviar o stress enquanto estou esperando para ser julgada. Eu me sinto muito confortável quando entro no palco, é como se o mundo inteiro desaparecesse. Eu geralmente preciso perguntar se alguém me aplaudiu, pois não consigo ouvir. Depois que eu desço do palco eu digo a mim mesma que não vou ganhar de jeito nenhum, assim se eu perder não fico desapontada.

Competir é muito divertido, mas existem pessoas que levam a sério demais. Eu notei que quando você está na convenção todo mundo é gentil e amigável, mas assim que você entra na fila do palco muita gente muda de personalidade. Eu sofri bullying a vida inteira, então para mim é fácil reconhecer quando as pessoas estão julgando as outras. Isto é o que eu menos gosto nos concursos. As pessoas deveriam deixar os juízes julgarem. Não importa quão talentosa você seja; é preciso coragem para subir no palco e ser criticada. Nós estamos todos no mesmo barco, então tenha respeito.

hannah-2

Como, exatamente, funciona o trabalho dos jurados de concursos? Como eles são escolhidos? As diretrizes para avaliação de cosplayers variam de evento para evento, ou existem linhas gerais que são seguidas por todos? Quão formalizadas são as normas de avaliação?

Eu só tive a oportunidade de ser jurada de um concurso de cosplay. Como uma convidada oficial, avaliar os concorrentes foi uma das minhas responsabilidades. Nesse concurso, nós julgamos os competidores baseados em algumas categorias, incluindo presença de palco, originalidade e confecção. Outros concursos pelo país afora têm categorias e sistemas de pontuação diferentes.

Cosplays frequentemente são mencionados em discussões sobre direitos autorais. Em tese, character designs são propriedade de seus respectivos estúdios/editoras, e qualquer lucro sobre eles é vetado a terceiros. Você já teve ou testemunhou algum problema em relação a isso? Você acredita que isso seja um fator limitante para o crescimento da profissão?

Eu gosto de pensar que sempre que crio um novo cosplay estou “desafiando o sistema” de uma certa maneira. Cosplayers são rebeldes totais.

Eu acho sim que isso dificulta para aqueles que querem trabalhar profissionalmente com cosplay. É realmente assustador saber que pode se tornar um problema. Se o negócio de um cosplayer for processado ou fechado eles não terão com o que se sustentar, e isso é apavorante.

Eu não conheço ninguém pessoalmente que tenha tido um problema com isso, mas eu tenho um advogado de copyright com que posso contar caso aconteça comigo. Há coisas que cosplayers e cosmakers estão fazendo para prevenir isso, como divulgar e confeccionar seus trabalhos como inspirações, em vez de réplicas exatas.

Eu pessoalmente morro um pouquinho por dentro sempre que um cliente pede que sua fantasia seja uma cópia exata, mas eu preciso pagar as contas, então eu engulo meu orgulho,. Afinal de contas, eu sou uma designer, não uma copiadora.

Existe alguma atividade relacionada ao cosplay que você quer fazer, mas ainda não fez? Quais são seus horizontes?

Eu não tive oportunidade de ir a muitas convenções. Eu adoraria participar de mais eventos do tipo.

Meu sonho é ir à San Diego Comic Con. A SDCC é a copa do mundo das convenções. Meus objetivos a longo prazo é participar do maior número possível de convenções e viajar ao mundo fazendo cosplay.

hannah-1

A maioria dos cosplayers usa pseudônimos. Você pode me falar um pouco sobre este hábito? Você sabe qual é a origem da prática?

Ser uma cosplayer permite a uma pessoa ser uma pessoa diferente por um dia. Criar um pseudônimo é apropriadíssimo. Ele também permite à cosplayer separar sua vida normal do dia-a-dia de sua “vida do cosplay”, tal como escritores, atores e outros artistas fazem.

Ter um pseudônimo é muito comum no mundo das artes. Por exemplo, a atriz nascida como Norma Jeane Mortenson usou o pseudônimo de Marilyn Monroe. Um escritor chamado Samuel Clemens adotou o nome de Mark Twain. Eu não sei como isto começou, mas é uma prática comum há muito tempo.

Hannah Éva é seu nome ou seu pseudônimo?

Hannah Éva é meu nome de verdade. Meu nome completo é Hannah Éva Hofmann, mas eu queria encurtá-lo para que fosse mais fácil se referir a mim. Hofmann por algum motivo é incrivelmente difícil para as pessoas soletrarem e Éva é difícil para as pessoas pronunciarem corretamente. Então, tive de escolher qual nome me incomodaria menos quando eu precisasse corrigir alguém. (É tudo brincadeira, claro).

Eu tenho me apresentado como Hannah Éva desde o colégio e tenho muitos prêmios associados ao nome, então achei que não seria bom mudar quando comecei a fazer cosplay. Outro motivo é que eu achei que escolher outro pseudônimo não honraria minha ascendência húngara, da qual tenho muito orgulho.

E você? Trabalha ou trabalhou com cosplay e tem uma história interessante para contar? Entre em contato com a página

Hannah Éva has been cosplaying for a short while, but has crafted some truly astounding costumes so far. A full-time costume designer, Hannah told me about her routine, her experience as a cosplay guest at a convention and her life as a cosplayer in America.

You can read the interview below:

hannah-3

How old are you and how long have you been working with cosplay?

I am 23 years old and I have been cosplaying for about 2 years.

How did you become a costume maker? Was it something you always wanted to do, or did you get involved with it by chance?

Becoming a costume maker was definitely more by chance. I never really knew what I realistically wanted to be when I grew up but whether I liked it or not I knew it would end up having something to do with art since I felt that was my only skill.

These past few years, even before I knew what cosplaying was, my dream was to be in costume and get paid for it. I learned how to sew while I was in the hospital when I was 15. It was taught to me to be a kind of therapy. After that, though, I didn’t think much of it until I was starting to make my first ever costume.

Thankfully I’m a fast learner because I went from newbie to making a living out of creating costumes in just 2 years.

In a previous interview you mentioned that cosplay became your whole life. As a costume maker, what is your routine? Do you work at home or do you have a workshop? How much of your time do you put into it? Do you reconcile your passion with a day-job?

I am diagnosed with a pretty extreme case of bipolar disorder. I’ve lost jobs because of it before and I ended up having to quit my last job because of it. Because of that, costume design is my only job.

It is very helpful to be my own boss because I have to plan my life around my disorder. I work from home. I do have a separate room for all of my costuming but it tends to spread throughout the house. I do get sick a lot and I have to take care of my health first but every single day that I am able to function I work on costumes.

I don’t have much of a social life so I’ve become a bit of a workaholic. I do feel a little bad for my family and friends because I don’t have much else to talk about other than my costumes because it’s basically the only thing in my life other than my pets.

hannah-6

In your page, you brought up that you also accept commissions for Halloween costumes. While the date is celebrated around the world, I believe America is one of the few places where it became this massive, highly popular event in which even adults play dress-up. Do many American cosplayers make “casual” costumes as well? How easy it is to circle between the world of cosplay and other varieties of costume making?

I make the joke every year saying that I am dressing up as a normal person for Halloween since I’m in costume just about every other day of the year, kind of like this is my one day off.

However this is just a sad attempt to cover up the fact that I honestly haven’t celebrated Halloween in many years. I absolutely love the holiday but I just never have anything going on or get invited to any events or parties.

Until then, though, it is wonderful for my business as a costume designer because I get to branch out to a wider audience. I can imagine Halloween would be easier for cosplayers because we don’t have to stress so much about getting a costume last minute if we already have some in storage. I know I would use Halloween to have a more casual costume compared to the ones I take to conventions.

I feel an extreme amount of pressure each time I make a new costume. I could use Halloween as a way to keep me grounded since it’s more about having fun than a career choice. I think going from the world of cosplay to other varieties of costume making is fairly easy. Generally when you cosplay you are a specific character, but for Halloween you can be anything. It doesn’t have to be specific. Although for someone who isn’t much of a designer I can see that being a challenge because you aren’t following a plan for the costume.

Creating costumes for different festivals can be fun and challenging because you would follow a specific type of costume and sometimes must stay within those restrictions. Although I love a challenge and designing is my favorite part of creating costumes so I look forward to creating any type for any event.

hannah-7

You’ve been invited to conventions as a guest cosplayer. Could you tell me a little bit about the experience? What does a guest cosplayer normally do? How does one normally get approached to become a guest? Who does the approaching?

The experience was daunting. I didn’t know what to expect, and it was overwhelming. Once I got there, however, I met some pretty amazing people. My fellow cosplay guest, SuperKayce, really helped guide me.

As a guest, I was available for photo opportunities, answering questions, and giving cosplay advice. I was also able to sell my prints and other merchandise! One of the responsibilities I had was to host a panel discussion on a topic of my choice. I chose “Intro to Cosplay”, since it was fairly easy for me to relate to with my “newbie” cosplayer status.

Since I had never been to a panel before, SuperKayce joined me and was a big help. She not only guided me, but also helped guide the discussion. It was a really amazing experience, and I’m really looking forward to my next guesting opportunity.

My experience becoming a guest at a convention involved me contacting the convention organizers. I gave them my cosplay information, and they offered me a spot at their cosplay booth.

Have you ever worked with cosplay outside the “geek scene” properly speaking (eg.: in corporate events, children’s parties, charity events, marketing stunts)?

I have done some charity events in cosplay and this past year I worked as an entertainer for the Iola Car Show, in Iola, Wisconsin, USA. It is a lot of fun to do these events but it’s a completely different experience. I mean you go from being in costume as the norm to suddenly having all eyes on you because you stand out as the only person in costume. I’m a natural performer who doesn’t get embarrassed easily so I really enjoy it and I cherish every opportunity that I get to be in costume.

hannah-4

Beyond the personal fulfillment, what does a cosplayer look for in contests (eg.: prizes, prestige, networking)? Is it possible to become a professional cosplayer without participating in contests?

It adds a sense of pride – getting to say you are an award winning cosplayer.

Other than that, cosplayers can get some wonderful prizes, create new contacts, and get their picture taken. Since a lot of people watch the contest you get recognized more than you would if someone happened to pass you by on the convention floor.

It is definitely possible for a cosplayer to be professional without participating in contests. They do have to work a bit harder just to make up for the benefits they miss, but a lot of professional cosplaying is social networking. I definitely struggle with this because I’ve been a very private person my entire life so I struggle trying to come up with material to display. A lot of conventions are interested more in your social networking skills rather than how many contests you’ve won.

How do you choose the contests in which you participate, and how do you prepare yourself for them? Do you conceive a specific cosplay for each event, or do you seize the opportunity to show off ongoing projects?

If I’m going to enter a contest I will have planned a new costume to make months in advance. I like to research the contests before committing to entering so I know what to expect.

I don’t enter the contests every time I go to conventions. I put so much work into the costumes that I compete with and sometimes I just need a break and want to enjoy the convention rather than stress about a contest.

My strategy is to always be kind and joke around to ease the stress while waiting in line to be judged. I feel very comfortable when I get on stage and it’s like the entire world disappears. I usually have to ask if anyone even clapped for me afterward because I can’t hear it. After I get off stage I tell myself that I’m not going to win over and over, that way if I don’t win I’m not as disappointed and if I do win it means so much more.

Competing is a lot of fun but there are so many people that take it so seriously. I’ve noticed that while you’re on the convention floor everyone is so kind and supportive but as soon as you line up to compete a lot of people get so tense. I was bullied all my life so it’s easier for me to recognize when people are being judgmental.

That is my absolute least favorite thing about any contest. People should let the judges do the judging. No matter your skill level it takes guts to walk on stage and be critiqued. We are all on the same boat so be respectful.

hannah-2

How does the job of a cosplay contest judge work? How are judges chosen? Are the rules for judging cosplays and performances the same throughout the country, or does each convention have its own standards?

I’ve only had the opportunity to judge one cosplay contest. As an official cosplay guest, judging the contest was one of my responsibilities. At this contest, we judged the entries based on a number of categories, including: stage presence, originality, and craftsmanship. Other contests throughout the country have different judging categories and scoring methods.

Cosplay is often mentioned in discussions about copyright law. In principle, character and costume designs belong to their respective IP holders, and any sort of for-profit activity involving them is forbidden. Have you ever had or have you ever witnessed any issues concerning copyright? Do you believe this is a hindrance to those wishing to work professionally with cosplay?

I like to think that every time I create a new costume I’m “sticking it to the man” in a way. Cosplayers are total rebels.

I do believe it makes it difficult for those wishing to work professionally with cosplay. It is definitely frightening to know that it could become an issue. If a cosplayer’s business gets sued or shut down they won’t have much left and that’s a scary feeling. I have yet to know anyone personally that has had an issue with this but I already have a copyright lawyer on my side if it were to ever happen to me.

There are things that cosplayers and costume makers are doing to help prevent this such as marketing or creating their work as inspired creations rather than making the exact costume. I personally die a little inside whenever a client wants their costume to look like the exact copy but I need to pay the bills so I will swallow my pride. After all I’m a designer not a replicator.

Is there any cosplay-related activity you want to do, but haven’t done yet? What are your long-term goals?

I haven’t had an opportunity to go to many conventions, so I would like to attend more of them. My dream would be to attend Comic Con International in San Diego. The SDCC is the World Cup of conventions. My main long-term goals are to attend as many conventions as possible, and travel the world cosplaying.

hannah-1

Most cosplayers use aliases. Could you talk a little bit about this practice? Do you know where it came from?

Being a cosplayer allows a person to be someone different for a day. Creating an alias is only fitting. It also can allow the cosplayer to separate their normal, everyday lives from their cosplay lives, similar to writers, actors, and other artists of all sorts. Having a pen name, or alias, is very common in the arts. For example, an actress born Norma Jeane Mortenson used the alias Marilyn Monroe. A writer named Samuel Clemens used the pen name Mark Twain. I don’t know where it came from, but has been a common practice in the arts for quite a while.

Is Hannah Éva an alias or your real name?

Hannah Éva is my real name. My full name is Hannah Éva Hofmann but I wanted a way to shorten it so it would be easier to refer to me. Hofmann for some reason is incredibly difficult for people to spell and Éva is difficult for people to pronounce correctly, so when I was choosing how to shorten my name, I had to choose which name would bother me the least whenever I was correcting someone (I say that in the most light-hearted way possible).

I’ve been going by Hannah Éva since I was in high school and I have multiple art awards under that name so I didn’t think it would be best to choose a new alias when I decided to start cosplaying. Another reason is that I feel choosing a new name wouldn’t honor my Hungarian heritage that I am very proud of. I’ve gotten so used to introducing myself as Hannah Éva rather than just Hannah.

 

 

 

 

 

 

]]>
http://www.finisgeekis.com/2016/09/30/profissionais-do-cosplay-hannah-eva/feed/ 0 10999
Profissionais do Cosplay: Victoria Avalor http://www.finisgeekis.com/2016/09/23/profissionais-do-cosplay-victoria-avalor/ http://www.finisgeekis.com/2016/09/23/profissionais-do-cosplay-victoria-avalor/#respond Fri, 23 Sep 2016 20:18:05 +0000 http://finisgeekis.com/?p=10431 interview readNessa coluna, eu trago a vocês depoimentos daqueles que, de uma maneira ou de outra, se transformaram em “profissionais” do cosplay. Para alguns, foi uma atividade paralela, uma forma, muitas vezes, de custear os próprios trajes. Para outros, uma segunda vida fazendo aquilo que mais amam. Para outros, ainda, uma profissão à qual se dedicam noite e dia.

Victoria Avalor é uma modelo americana e cosplayer experiente, há dez anos no hobby. Ela já realizou incontáveis ensaios, jobs em convenções e ações de caridade envolvendo super heróis. Ela também abriu seu próprio negócio interpretando princesas em festas de aniversário.

Victoria também é blogueira e escreveu bastante sobre vários dos mitos que circundam o cosplay “profissional”. Na nossa conversa, ela me contou sobre suas muitas atividades, o tratamento de cosplayers nas convenções americanas e a dificuldade de se ganhar dinheiro com cosplay.

Confiram a entrevista abaixo:

Qual é a sua idade e há quanto tempo está envolvida com cosplay?

Estou na faixa dos 30 anos. Entrei no hobby em 2006.

Que tipos de trabalhos relacionados ao cosplay você já fez ao longo dos anos? Como que as oportunidades surgiram? Você buscou ativamente seus clientes ou foi abordada por eles?

Meu primeiro trabalho pago envolvendo cosplay aconteceu por acidente. Eu estava em uma feira medieval a caráter. Vários fotógrafos pediram para tirar minha foto. Um deles ofereceu me pagar se eu fosse ao seu estúdio para que ele me fotografasse. A partir daí, eu comecei a receber vários tipos de ofertas. Não era algo que eu havia planejado fazer. Aconteceu por acaso.

Desde então, eu me coloquei à disposição, dizendo que estava aberta para projetos. No entanto, não é algo que eu faço regular ou ativamente.

Eu fui uma booth babe oficial da Escrava Leia para a Gentle Giant Studios. Fui contratada para ser a Mulher Maravilha em uma convenção para professores. Já trabalhei como booth babe para vários outros expositores em convenções ao longo dos anos. Já fui paga para posar para artistas e para fotógrafos que queriam me fotografar a caráter. A lista continua.

Você já escreveu bastante sobre a realidade de fazer cosplay por dinheiro. Em particular, você enfatizou que cosplay raramente é um trabalho em tempo integral e que as despesas da confecção podem facilmente superar os ganhos potenciais. É possível viver de cosplay? Qual é o melhor cenário que uma cosplayer pode esperar transformando seu hobby em um emprego?

Não sou a pessoa certa para perguntar sobre transformar esse hobby em um emprego, pois esse nunca foi meu objetivo. Cosplay, para mim, é um hobby. Eu tive sorte por receber oportunidades de trabalho pago, o que sempre foi inesperado. Baseado em minhas observações, posso dizer que se você quer transformar isso em uma profissão, você precisa se transformar em uma marca e se promover de acordo. Mais ainda, você precisa se tornar uma cosmaker. No entanto, eu acho que é bem realista dizer que você não vai conseguir um seguro de saúde ou um plano de aposentadoria fazendo cosplay em “período integral”. E criar e confeccionar ainda custa dinheiro, o que é, eu imagino, a razão pela qual muitos cosplayers começaram a usar financiamento online.

10380500_10205236044639521_1203362387225598288_o.jpg

Quão prevalente é a prática de se contratar cosplayers em convenções americanas? Que tipo de trabalhos eles geralmente fazem? Isto sempre foi assim, ou é um fenômeno relativamente recente?

As Comic Cons nos Estados Unidos não costumavam contratar cosplayers ou convidá-los como atrações. Anos atrás havia uma lista bem pequena de cosplayers que eram incluídos como convidados de convenções. Nos últimos anos, no entanto, isto mudou. Hoje, toda convenção de quadrinhos contrata vários cosplayers. Alguns são pagos para estar lá, outros têm suas despesas cobertas. Alguns simplesmente custeiam do seu próprio bolso. Nem todo cosplayer convidado recebe a mesma oferta.

Num editorial recente, a Hayley Williams do Kotaku disse que trabalhos remunerados de cosplay em convenções são minados por cosplayers dispostos a trabalhar de graça, assim como pela mentalidade de que cosplay deve ser feito por amor, não por dinheiro. Você concorda com esse diagnóstico? Se sim, você vê alguma solução?

Eu acho que o artigo dela é incrível e muito honesto. Eu concordo com todos os pontos. Muitos poucos cosplayers recebem uma viagem com tudo pago para uma convenção em adição ao seu pagamento para estar lá. Eles predam em cima dos cosplayers. Eles fingem que estão te oferecendo uma ótima oportunidade, mas não mencionam que não vão te pagar pelo número de horas que você trabalhará.

Aconteceu recentemente comigo. Eu perdi as contas de quantas ofertas de araque recebi ao longo dos anos. O problema é que eles tentam seduzi-la com promessas de atenção. Isto não funciona comigo e não significa nada. Se você quer que eu trabalhe, você precisa me pagar. Fim da história.

A realidade é que eles estão atrás de voluntários, mas não querem dizer isso porque quebra a ilusão dessa oferta glamurosa que eles tentam te vender. Pessoalmente, eu faço cosplay porque amo. Eu estou me expressando e expressando minha fandom. É isso. Eu não tenho motivo ulterior. Se você recebe ofertas de trabalho pago, vá fundo. Agarre o que for melhor para você. Voluntariar em um evento por algumas horas de graça também não é tão ruim. Só tenha certeza de que não estejam tirando vantagem de você.

13679981_1194412927287280_166754001288506619_o.jpg

Além do cosplay, você é dona de uma empresa de princesas para festa. Você pode me contar um pouco sobre ela? Como começou? Que tipos de serviços você oferece? Quão diferente é interpretar uma princesa em uma festa de aniversário de fazer roleplay como cosplayer?

Eu a inaugurei três anos atrás a partir da sugestão de uma amiga que tocava com sucesso uma empresa similar. Ela me incentivou a começar meu próprio negócio, já que eu tinha vários trajes de princesas e estava envolvida em educação infantil. Ela me ajudou a começar, fazer o marketing e muitas outras coisas.

Eu ofereço aos meus clientes uma performance e várias atividades divertidas para todas as crianças. Interpretar profissionalmente uma princesa é bem diferente de fazer roleplay com uma personagem. Para festas de aniversário, você precisa se sentir confortável e disposta a entrar na casa de um cliente (que é, basicamente, um estranho).

Você precisa ser boa com crianças e saber manter sua atenção durante todo o contrato (geralmente, entre 1h e 2h). Ter sido professora de pré-escola me ajuda muito nesses quesitos. Você precisa ser pontual e professoral em todos os momentos. Você precisa investir em marketing e materal de festa como jogos, música etc. Você precisa investir dinheiro em fantasias de qualidade, perucas, maquiagem e lentes de contato.

Acima de tudo, você precisa ser honesta com você mesma. Ser uma intérprete profissional de princesa não é cosplay. Você precisa ser realista ao selecionar quais personagens você oferecerá aos seus clientes. Isto significa que você precisa ser bem parecida com elas. Ninguém vai pagá-la para interpretar uma princesa se, psicologicamente, você for o exato oposto daquela personagem. A criança não vai acreditar se você não se assemelhar.

12357203_10208532694173699_174921433967026947_o.jpg

Você já se envolveu com várias iniciativas de caridade, notavelmente como coordenadora da Heroes Alliance. Você pode me contar um pouco sobre ela? O que é esta organização e que tipos de atividades vocês fazem?

A Heroes Alliance é um grupo voluntário sem fins lucrativos que existe há 11 anos, com membros em todos os Estados Unidos. Eu fundei a unidade de Eastern Pennsylvania 3 anos atrás. Eu sou a coordenadora, o que significa que é meu trabalho abordar as caridades e hospitais infantis locais e marcar uma visita de super heróis. Eu também gerencio minha equipe de voluntários. Nós oferecemos uma experiência de super herói “na vida real”, basicamente um meet and greet. Se há alguma atividade acontecendo no evento, nós nos envolvemos também. É muito recompensador dedicar uma parte do seu tempo para ser voluntária e trazer alegria a crianças de realmente precisam disso. Nós passamos muito tempo com muitas crianças, incluindo algumas que estão em estado terminal.

11258802_10209641662777221_7893966218120972036_o.jpg

Cosplays frequentemente são mencionados em discussões sobre direitos autorais. Em tese, character designs são propriedade de seus respectivos estúdios/editoras, e qualquer lucro sobre eles é vetado a terceiros. Você já teve ou testemunhou algum problema em relação a isso? Você acredita que isso seja um fator limitante para o crescimento da profissão?

Eu testemunhei pouquíssimos casos de problemas com direitos autorais. Só consigo lembrar de dois. O primeiro foi uma cosmaker que recebeu uma ordem judicial de um estúdio de Hollywood. O segundo foi o de uma cosplayer popular, que foi informada que o criador da personagem que ela interpretava estaria na mesma convenção como convidado. O autor da HQ pediu que ela não fizesse cosplay nem vendesse fotos dela vestida como sua personagem.

E quanto a obras de caridade e festas de aniversário envolvendo super heróis? Você já teve algum problema com donos de direitos autorais a respeito do uso de personagens ou marcas? Os donos de IP (propriedades intelectuais) são mais lenientes em relação a algumas atividades em comparação com outras?

A Heroes Alliance é uma entidade sem fins lucrativos, então não tem problema. Nós não pedimos nem aceitamos dinheiro pelas nossas visitas. É um grupo estritamente voluntário. A Marvel e a DC conhecem o que a gente faz. Nós não somos afiliados a eles e eles entendem isto. Desde que não haja dinheiro envolvido, não há problema em relação ao que fazemos para a comunidade.

Quanto à minha empresa de festas de aniversário, as pessoas não entendem que a maioria dos contos de fada são domínio público. A Disney não escreveu estas histórias. Elas foram escritas centenas de anos atrás pelos Irmãos Grimm, Hans Christian Andersen e muitos outros autores. A Disney faz releituras destes contos clássicos. Eu não uso o nome nem qualquer arte da Disney no meu negócio. Eu sou uma princesa de contos de fada, e princesas de contos de fada são domínio público.

Como você vê o futuro profissional do cosplay? O que você acha serão os maiores problemas e oportunidades que afetaram o meio nos próximos anos?

Eu peço desculpas se essa resposta parecer grossa, mas eu não me importo com o futuro do cosplay “profissional”. Eu não acho que seja uma profissão. Eu acho que é uma coisa que as pessoas podem fazer no seu tempo livre ou em meio período. As pessoas podem começar seus próprios negócios confeccionando cosplays e props em período integral. Esta é uma profissão, 100%. Porém, cosplay significa vestir-se como uma personagem, e eu não acho que ninguém se veste como uma personagem por 40h semanais e é pago para isso a não ser que você seja um ator ou artista de performance. Isto não é cosplay.

Você mencionou que se tornou uma modelo por meio do cosplay. Quão parecidos são os trabalhos de modelo em relação aos trabalhos pagos como cosplayer? O universo da moda é um caminho viável de carreira para cosplayers que querem diversificar suas atividades?

Trabalhos de modelo e de cosplay não são parecidos, são extremamente diferentes. Se você é contratada como cosplayer, você é geralmente responsável pelo seu traje, peruca, etc. Às vezes você pode ser ressarcida por fazer um cosplay, o que é ótimo. Durante photo shoots, é normalmente só você e seu fotógrafo. Você traz a personagem para a vida, e ela se torna seu guia para como posar e agir. Quando você é paga como modelo, você pode estar no set com dúzias de pessoas ao mesmo tempo. Figurino, cabelo e maquiagem são providenciados. Você precisa vender o que quer que você esteja ali para vender. Pode ser costura, um produto ou mesmo um tema específico.

1496891_10203078835790648_691014139_n

No final de 2014, o quadrinista Pat Broderick fez comentários polêmicos sobre o cosplay. Ele disse que os cosplayers “não trazem nada de valioso” para as convenções e que estão prejudicando a indústria ao roubar atenção dos criadores. Você mesma chegou a expressar seus pensamentos sobre o episódio. Eu acho que falo por todos os brasileiros quando digo que fiquei chocado ao saber do depoimento de Broderick, sobretudo porque figurões da indústria não nos visitam com tanta frequência e, quando vêm, são sempre tratados como celebridades. Este tipo de atrito entre criadores e cosplayers é comum nos Estados Unidos? Outras formas de “trabalho de fã” (fanart, fanzines, webseries etc) são atacadas pelo mesmo motivo?

Não posso falar por todos os criadores, cada um tem sua opinião. Alguns adora cosplayers, outros não. Eu simpatizo com o Pat Broderick porque eu notei que as convenções americanas pararam de dar foco aos próprios quadrinistas. Elas não os chamam como convidados nem lhes dão o respeito que merecem. Eles construíram essa indústria e estão sendo deixados de lado em favor dos cosplayers. Isto não é correto.

Eu estou grata pelas convenções terem abraçado o cosplay, mas ele não pode ser o foco número 1.Se você está na Comic Con, então você precisa se focar em quadrinhos. Eu acho que o Pat Broderick está frustrado, e eu não o culpo. Este é o seu trabalho em período integral. É a sua profissão. Quando as convenções param de chamá-lo como convidado, ele para de ganhar dinheiro para sustentar sua família. Eu não acho que a culpa é dos cosplayers. Este é um problema com os organizadores de convenções. Eles precisam redirecionar seu foco aos homens e mulheres que construíram e criaram a indústria de quadrinhos.

A maioria dos cosplayers usa pseudônimos. Você pode me falar um pouco sobre este hábito? Você sabe qual é a origem da prática?

Eu acho que muitas pessoas, incluindo eu, querem proteger sua identidade e seu nome jurídico. Há muita gente louca no mundo e nós precisamos ter cuidado. Eu conheço uma mulher que estava sendo stalkeada e precisou tomar providências legais. Eu já fui stalkeada e precisei apelar às autoridades. Usar um pseudônimo também ajuda a separar sua vida pessoal do seu hobby. Nem todos os chefes ficariam felizes se vissem fotos de seus funcionários em fantasias.

E você? Trabalha ou trabalhou com cosplay e tem uma história interessante para contar? Entre em contato com a página

Victoria Avalor is an American model and and experienced cosplayer who has been in the hobby for over a decade. She has done countless photo shoots, landed jobs at conventions and participated in charity work involving super heroes. She also owns a princess party business, interpreting fairy tale characters to children.

Victoria also blogs, and has written about many of the myths that surround “professional” cosplay. In our talk, she told me about her many endeavors, the treatment of cosplays at American conventions and the problems in making money with cosplay.

You can read the full interview below:

How old are you and how long have you been working with cosplay?

I am in my 30s. I got into the hobby of cosplay in 2006.

What sort of cosplay-related jobs have you done throughout the years? How did the opportunities arise? Did you actively search for your clients, or were you approached by them?

My first paid cosplay related job happened by accident. I was at the Ren Faire dressed up. Many photographers asked to take my photo. One offered to pay me to come to his studio so he can photograph me. From there, I kept getting different types of offers. It wasn’t something that I set out to do. It happened by chance. Since then I have put myself out there, stating I was available for bookings however it’s not something I regularly and actively seek. I was an official Slave Leia booth babe for Gentle Giant Studios. I was hired to be Wonder Woman at a convention for Teachers. I have worked with many other vendors as a booth babe at conventions through out the years. I’ve been paid to pose for artists at Sketch events. I’ve been paid by photographers who want to photograph me in costume. The list goes on.

You have written extensively about the realities of cosplaying for money. In particular, you have stressed that cosplay is hardly ever a full-time job, and that the expenses of costume making can easily soar above its potential gains. It is possible to live off cosplay? What is the best possible scenario a cosplayer can expect by making a job of her hobby?

I am not the right person to ask about turning this hobby into a job because that has never been my goal. Cosplay to me, is a hobby. I have been fortunate enough to be offered paid work, which was always unexpected. Based on observation I can say that if you want to turn this into a job, you have to turn yourself into a brand and market yourself. You more so have to become a costume maker or prop maker for hire. However I think it’s realistic to say that you don’t get health insurance or a retirement plan by cosplaying “full time”. And it still costs money to craft and create which I suppose is why so many cosplayers start online funding.

10380500_10205236044639521_1203362387225598288_o

How prevalent is the practice of hiring cosplayers in American conventions? What sort of jobs do they usually perform? Was this always a thing, or is it a rather recent phenomenon? 

Comic-Cons in America didn’t normally hire cosplayers or have them as guests. Years ago, there was a very short list of cosplayers who were included on a convention guest list. In the last few years however, that has changed. Every Comic Convention now books multiple cosplay guests. Some are paid to be there, others have their expenses covered. Many simply pay out of pocket. Not every cosplay guest gets the same deal.

In a recent op-ed, Kotaku’s Hayley Williams argued that paid cosplay jobs at conventions are hampered by cosplayers willing to work for free, as well as by the mentality that one should cosplay out of love, not profit. Do you agree with her point? If so, do you see any solutions?

I thought her article was great and very honest. I agreed with all of her points. Very few cosplayers receive an all expense paid trip to a con in addition to being paid to be there. There are many conventions or vendors that will ask you to work for them for zero pay. They prey on cosplayers. They pretend like they are offering you a great opportunity, all the while leaving out the fact that they won’t be paying you for working labor hours.

It just happened to me again recently. I have lost count of how many bogus offers I have received throughout the years. The problem is, they try to seduce you with promises of attention. That does not work with me and means nothing. If you want me to work, you need to pay me. End of story.

The reality is, they are looking for a volunteer but don’t want to say that because it breaks the illusion of this glamorous offer they are trying to sell you. I personally cosplay because I love it. I am expressing myself and my fandom. That’s it. I have no ulterior motive. If you receive paid offers, rock on. Take it if that works best for you. Volunteering at a show for a couple of hours for free isn’t a bad choice either. Just make sure it’s a fair deal and you are not being taken advantage of.

13679981_1194412927287280_166754001288506619_o

Aside from your cosplay endeavors, you own a princess party business. Would you tell me a little bit about it? How did it start? What sort of services do you provide? How different is playing the role of a princess in a birthday party from roleplaying a character as a cosplayer?

I started my business three years ago at the suggestion of a friend who ran her own successful princess party business. She encouraged me to start one of my own since I owned several princess costumes and was in Early Child Hood Education. She helped me get started with marketing and many other things.

I provide my clients with a performance and conduct a series of fun activities for all of the children to enjoy. Being a professional princess performer is very different from role playing as a character. For birthday parties, you must be comfortable and willing to walk into a client’s home (who is essentially a stranger).

You have to be good with children and be able to hold their attention during the duration of the booking (which is anywhere between 1 to 2 hours). Being a former preschool teacher greatly helps in this area. Entertaining at a party can be a lot like running a classroom. You must be punctual and professional at all times. You have to invest in marketing and party supplies such as games, music, etc. You have to put money into high quality costumes, wigs, makeup and contact lenses.

And finally you have to be honest with yourself. Being a professional princess performer is not cosplay. You have to be realistic in selecting which characters you are going to offer your clients and by that, I mean you have to be a close look-a-like. No one is going to pay you good money to impersonate a princess if psychically you are the complete opposite of that character. The children won’t believe it if you don’t look the part.

12357203_10208532694173699_174921433967026947_o

You have been involved in several charity initiatives, notably as a coordinator for the Heroes Alliance. Could you tell me about it? What is the organization, and what sort of activities do you do?

The Heroes Alliance is an 11 year old nationwide non-profit volunteer group. We volunteer at children’s hospitals and charities dressed as superheroes. I chartered the Eastern Pennsylvania branch 3 years ago. I am the coordinator which means that it is my job to reach out to local charities and children’s hospitals and schedule a superhero visit. I also manage my team of volunteers. We offer a “real life” superhero experience, essentially a meet and greet. If there are any activities taking place at the event, we happily dive in. It’s very rewarding to volunteer your time and bring happiness to children who desperately need it. We have spent time with many children, including those who are terminally ill.

11258802_10209641662777221_7893966218120972036_o

Cosplay is often mentioned in discussions about copyright law. In principle, character and costume designs belong to their respective IP holders, and any sort of for-profit activity involving them is forbidden. Have you ever had or have you ever witnessed any issues concerning copyright? Do you believe this is a hindrance to those wishing to work professionally with cosplay?

I have seen very few issues with copyright law. I can only recall two incidents. One craft maker was issued a cease and desist order from a Hollywood Studio. A popular cosplayer was told that the creator of a character she dresses as would be attending the same convention she would be at as a guest. The comic creator demanded she not dress as his character nor sell pictures of herself as his character. Those are the only incidents I have heard of.

What about charity work and birthday parties involving superheroes? Did you ever had any issue with copyright holders over the use of their characters/brands? Are IP holders more lenient towards certain activities?

Heroes Alliance is a non-profit group; therefore there is no issue. We do not make money nor accept money from our appearances. It’s strictly a volunteer group. Marvel and DC Comics are aware of what we are doing. We are not affiliated with them and they understand that. As long as no money is involved, they have no problem with what we are doing for the community.

Regarding my birthday party business, people don’t realize that majority of fairy tales are public domain. Disney did not write these stories. They were written hundreds of years ago by the Brothers Grimm, Hans Christian Andersen and many other writers. Disney does retellings of these classic stories. I do not use the Disney name for my business nor do I use any Disney art work. I am a fairy tale princess and fairy tale princesses are public domain.

How do you see the future of professional cosplay? What do you believe are the main problems and opportunities that are bound to change the scene a few years from now?

I’m sorry if this seems like a rude response but I don’t care about the future of “professional” cosplay. I don’t believe that is a profession. I believe it’s something people can do on the side or part time. People can start their own business making costumes or props full time. That is a profession, 100%. But cosplay means dressing up and I don’t think anyone is dressing up 40 hours a week and being paid for it unless you are an actor or performer. That’s not cosplay.

You mentioned that you became a model through cosplay. How similar are modeling jobs to paid cosplay jobs? Is modeling a viable career path for cosplayers who want to diversify their activities?

Modeling jobs and cosplay jobs are extremely different. They are not the same. If you are being hired as a cosplayer, you are normally responsible for your costume, wig, etc. Sometimes you can be compensated for making a costume, which is great. During photo shoots, it’s normally just you and the photographer. You are bringing a character to life therefore that characters persona is your guide on how to pose and act. When you are being paid as a model, you can be on set with dozens of people. Wardrobe, hair and makeup can be provided. You have to sell whatever it is you are there for. It can be fashion, a product or a particular theme.

1496891_10203078835790648_691014139_n

In late 2014, comic book artist Pat Broderick made some controversial remarks on cosplay. He claimed that cosplayers “bring nothing of value” to conventions and were hindering the industry by stealing the spotlight from original creators. You yourself expressed some thoughts about the debacle. I believe I speak for all Brazilians when I say I was shocked to know of Broderick’s statement, mostly because industry big wigs don’t come our way that often, and are always treated as celebrities when they do. Are these clashes between creators and cosplayers common in America? Do other forms of “fan labour” (art, zines, webseries etc) ever get targeted for similar reasons?

I can’t speak for every creator. Each individual opinion varies. Some creators love cosplayers. Others do not. I sympathize with Pat Broderick because I have noticed that American conventions have stopped focusing on actual comic book creators. They don’t invite them as guests or give them the respect they deserve. They built this industry and they are being pushed aside in favor of cosplayers. That’s not right.

I appreciate that conventions have embraced the hobby of cosplay, however it should not be the #1 focus at a convention. If you are a Comic-Con then you should be focused on actual comics. I think Pat Broderick is frustrated and I don’t blame him. This is his full time job. It’s his profession. When conventions stop booking him, he isn’t making money to feed his family.

I don’t think the fault lies with cosplayers. This is a problem with the Convention Organizers. They need to redirect their focus back onto the men and women who built and created the comic book industry.

Most cosplayers use aliases. Could you talk a little bit about this practice? Do you know where it came from?

I think many people, myself included, want to protect their identity and legal name. There are a lot of crazies in the world and we have to be careful. I know a woman who was being stalked and had to take legal action. I have been stalked and had to go to the authorities. Using an alias also helps in separating your personal like with your hobby. Not everyone’s boss would be okay if they saw pictures of them in costume.

]]>
http://www.finisgeekis.com/2016/09/23/profissionais-do-cosplay-victoria-avalor/feed/ 0 10431
Profissionais do Cosplay: Pri Suicun http://www.finisgeekis.com/2016/09/16/profissionais-do-cosplay-pri-suicun/ http://www.finisgeekis.com/2016/09/16/profissionais-do-cosplay-pri-suicun/#respond Fri, 16 Sep 2016 19:01:05 +0000 http://finisgeekis.com/?p=10376

Nessa coluna, eu trago a vocês depoimentos daqueles que, de uma maneira ou de outra, se transformaram em “profissionais” do cosplay. Para alguns, foi uma atividade paralela, uma forma, muitas vezes, de custear os próprios trajes. Para outros, uma segunda vida fazendo aquilo que mais amam. Para outros, ainda, uma profissão à qual se dedicam noite e dia.

Ouvir Pri Suicun falar sobre cosplay, seja em depoimento, seja em seu canal no Youtube, é uma verdadeira imersão no hobby. Há mais de uma década trabalhando no meio, Pri já viu convenções surgirem e desaparecerem, confeccionou figurinos para todos os propósitos e vivenciou histórias das mais cabulosas.

Eu tive o privilégio de lhe fazer algumas perguntas sobre sua experiência, o cosplay no Brasil e o lado que ninguém conta sobre a vida de cosmaker.

Confiram a entrevista abaixo:

pri 1.jpg

Qual é a sua idade e há quanto tempo trabalha com cosplay?

Tenho 27 anos e trabalho com cosplay há 12 anos xD

Como cosmaker, como é sua rotina de trabalho? Você trabalha em casa ou possui um atelier? Do primeiro contato até a entrega, como funcionam as suas encomendas?

Eu trabalho em casa, normalmente quando tenho encomenda começo a costurar às 8h e tento parar lá pelas 18h… mas nem sempre dá e acabo indo até umas 23h xD Normalmente o cliente me manda mensagem dizendo o que quer e eu faço os orçamentos e digo quando fica pronto. Aí o cliente fecha ou não. Quando é empresa é a mesma coisa.

O que alguém encontrará sem falta em um ateliê/casa de uma cosmaker? O que é necessário para que alguém se dedique a isso seriamente (em termos de espaço, equipamento, etc)?

Pelo menos 1 máquina de costura caseira, inúmeros tecidos organizados num armário ou estante, moldes, réguas… e agenda! Não precisa de muitas coisas, eu comecei dessa forma. Hoje tenho 1 máquina de costura reta industrial, 1 máquina de costura caseira e 1 overlook [para acabamentos], além de um vasto material separado como rendas, botões, tecidos, malhas, colas, tintas, pedrarias…. e tem que manter tudo organizado, pois isso fará o trabalho render.

pri 4.jpg

Você faz os figurinos para os comerciais da Ubisoft. Você pode contar um pouco sobre sua experiência com a produtora? Como você começou a trabalhar com ela?

Comecei a trabalhar fazendo figurinos pra Ubisoft através da Paramaker [ Parafernalha, Felipe Neto etc]. A empresa fechou um contrato para fazer os comerciais de lançamentos dos jogos  Assassin’s Creed, Splinter Cell Blacklist e Watch Dogs. Foram meses de trabalho enlouquecedor e bem produtivo com inúmeros encontros com o ator que fazia parkuor, além das explicações de como a roupa tinha que ser para o ator não ter problemas para fazer os movimentos, já que no caso de Assassin’s Creed, as gravações sempre foram intensas. Depois dessa, ainda trabalhei por 3 anos fazendo figurinos para todos.

Para além da confecção, você já realizou outros trabalhos envolvendo o cosplay (ex. em convenções, workshops, cursos, etc)?

Eu participo anualmente de ateliês de carnaval, e isso ajuda MUITO para saber novos materiais para figurinos e cosplays no geral. Ainda pretendo lançar um curso falando de tudo o que sei de materiais diversos. Fora isso, já fui palestrar em faculdades, participei de desfiles de moda no Fashion Rio e personagem vivo em festas e lançamentos.

Você já fez algum trabalho relacionado a cosplay fora do mundo “nerd” propriamente dito? (eventos corporativos, festas infantis, filantropia, ações promocionais?)

Sim! Eventos de lançamentos de filmes, lançamentos de brinquedos, palestras sobre moda e cosplay e desfiles de moda no Senac sobre cosplay.

pri-5

Você comentou em um depoimento que parou de frequentar concursos depois de ter sido hostilizada por concorrentes. Outra cosplayer que entrevistei me contou que, em seu país, os problemas com falta de fair play se tornaram tão graves que as competições passaram a ter dificuldade em arranjar quórum. Você acredita que esse seja um problema sistemático na cena cosplay brasileira? É comparável aos atritos que ocorrem em outras modalidades artísticas, profissionais ou acadêmicas?

Olha, te falar que pelo que vi, é comum isso ocorrer, ser hostilizado por concorrentes, falarem mal, te difamarem… infelizmente é comum. Depois desse fato que ocorreu comigo, parti para fotografia e… fiquei famosa no DeviantART e logo depois no World Cosplay por ficar sempre no ranking.

Isso gerou outro tipo de intrigas e invejas, mas ninguém via o quanto eu gastava pra investir em fotos, o quando eu comprava de tecidos pra fazer roupas melhores e que fotografavam melhor. É um fato que cosplay se divide em algumas áreas: Cosplay de foto e cosplay de apresentação são os mais comuns, sendo bem raro alguém exercer ambos. No caso de Cosplay de apresentação a concorrência fica ‘pesada’ no nível de tem sempre os mesmos competidores e nunca novos. Os novatos nunca conseguem permanecer ou por falta de preparo ou porque já o envolveram em alguma ‘treta’ fictícia pra o mesmo ficar mal e não querer mais subir no palco. Não estou falando que são todos que fazem isso, mas já vi ocorrer, até porque também sou jurada de cosplay em alguns eventos.

Já vi concorrente jogar suco de uva no cosplay do ‘concorrente’ cuja roupa era branca, para o mesmo perder pontos em fantasia, assim como já vi discussão de pessoas quebrando o cenário de outros concorrentes antes de entrarem no palco. Então SIM, o ‘mimimi’ , a inveja, a falta de caráter é igual em todas as profissões ou áreas em que você vai trabalhar. Só muda a temática.

pri 2.jpg

Você circula pelo meio cosplay há muito tempo. Ao longo de todos esses anos, o que mudou? O que continua igual? No geral, as coisas melhoraram? Existem problemas recentes que não existiam no passado?

Meio termo xD. As coisas melhoraram no quesito conseguirmos comprar perucas, lentes e cosplays de fora que são bem baratos comparados com aqui [e no caso de peruca é só importação mesmo]. O Ebay, Taobao e AliExpress facilitaram MUITO a vida de todos! Já deu pra ver que os brasileiros não perdem em nada pros cosplayers de fora que vemos em fotos.

Tem problemas novos sim… sempre inventam alguns xD O atual é que comprar cosplay de fora não é dito ‘fazer cosplay’. Gente, isso é bem estúpido…. Se a pessoa não sabe fazer um cosplay do zero, é bem óbvio que ela irá contratar alguém para fazer o cosplay inteiro, seja uma costureira aqui no Brasil ou importar do Taobao. Comprando, importando ou fazendo você mesmo, tudo é cosplay, o que importa é se divertir e não tretar por nada~~ Tem gente que reclama por conta de ‘likes’ no facebook, esses eu costumo até ignorar pois não vale a pena discutir com alguém que só se importa com números de ‘likes’ e não em melhorar o trabalho no geral.

A Jaqueline Abrão, que também tive o prazer de entrevistar  , disse que a Comic Con Experience teve grande importância para divulgar o cosplay no país. De fato, há quem diga que hoje, com nossos eventos de grande porte e alta projeção midiática, vivemos o auge da “cultura nerd”. Por outro lado, há quem argumente que a influência dos grandes veículos de mídia está mudando o meio para pior. Um exemplo citado é o da própria San Diego Comic Con  Segundo algumas pessoas, a popularidade da cena nerd inflacionou os preços de estandes, restringindo o evento às mãos de grandes corporações e alienando os exibitores mais antigos – entre eles, alguns que prestigiavam a convenção desde a primeira edição. Qual é a sua opinião sobre isso? Como você avalia esse momento atual na cena geek/otaku?

Então, eu também fui estande [com empresa] por 10 anos em eventos pelo Brasil. Mudou muito o cenário aqui sim, e lá fora, pois tem uma imensa gama de opções de importação e produtos atualmente.

Na real, o mercado de animes e games é gigantesco, antigamente não sabíamos de nada. Junto com o Ebay e Taobao se abriu um leque de opções do que fazer, no que trabalhar/ importar, e claro, a indústria se movimenta se está dando retorno financeiro.

Logo, sempre haverá mais itens colecionáveis do que vc gosta. Os eventos ajudaram isso a ficar acessível para o público, que não tinha ideia que isso existia. MAS, aí começa a ocorrer o que houve há 3 anos – e que ainda enfrentamos – que é a saturação no mercado e crises.

Entendam a pirâmide: Locais para locação de eventos aumentam os preços para pagar as contas e repassam isso para o organizador. O organizador repassa esse valor dividido entre os estandes/empresas/pessoas jurídicas, no qual esses tem que rever o valor das mercadorias para valer a pena ir ao evento pagando estande, então o produto final chegará mais caro ao consumidor, ao qual já está sem dinheiro por conta da crise financeira no Brasil. Aí nesse caso é esperar essa alta de preços passar junto com a crise.

pri 7.jpg

Eu fui uma que fechei minha empresa de importação para não ter prejuízo e permaneci com a costura de cosplays e figurinos no geral. E quando passar essa crise, é provável que eu reabra a empresa, assim como muitos amigos meus estão fazendo. E sobre as TVs, nunca vi uma emissora tratar cosplayer como pessoa normal, só vi tratarem como alienados, fuga da realidade e pessoas com problemas. Então eu costumo fugir de imprensas e reportagens xD

Você disse em um depoimento que desenvolveu tendinite e alergia a veludo após mais de uma década confeccionando cosplays. Isto a teria obrigado a limitar suas atividades como cosmaker. Você também comentou que problemas como esses são frequentes com quem trabalha com corte e costura, a ponto de costureiras terem uma vida útil como professionais que raramente passa de 10 anos. Essa é uma questão muita séria, que dificilmente vejo mencionada. Na sua opinião, isso inviabiliza o cosmaking como uma profissão no longo prazo? Existe algo que cosmakers e aspirantes a cosmakers possam fazer para seguir fazendo aquilo que gostam (similar, presumo, ao que é feito no ramo da costura)?

Sim! Isso não é falado nunca, pois você só descobre isso na faculdade de moda xD A vida útil de uma costureira é de 10 anos, após isso é aposentadoria por invalidez. Em todos os casos é comum ter tendinite pelo movimento repetitivo com a tesoura.  Isso dificulta sim o trabalho, eu claramente não costuro hoje como costurava há 5 anos… O que dá para fazer é manter o médico em dia [sim! Ortopédico principalmente] e cortar com luvas próprias [tem umas almofadas onde fica a tesoura xD ] ou cortar com a máquina de corte [aconselhado treinamento antes]. E não extrapolar muito.

É possível para uma cosmaker migrar ou avançar para áreas análogas? Por exemplo, começar a carreira produzindo cosplays e eventualmente trabalhar com vestuário de cinema? Há quem tenha feito isso?

É possível sim, eu mesma fiz figurino pra teatros e carnaval. O importante é saber o que você quer seguir para saber o que fazer na real. Eu sempre gostei de figurino, então qualquer coisa que se encaixe em figurino eu irei fazer de bom grado <3

pri 3.jpg

A maioria dos cosplayers usa pseudônimos. Você pode me falar um pouco sobre este hábito? Você sabe qual é a origem da prática?

Verdade, eu uso um xD

Talvez porque não queiram usar o seu nome mesmo … Eu gosto do Pri do meu nome e queria colocar Yue [porque é meu personagem favorito], MAS eu via que era muito comum terem nick como Yune, Yune, Yuna, Yue por conta dos personagens mais famosos, então na aula de japonês [quando eu fazia xD ] gostei de ‘Suicun’ que significa ‘despertar da aurora’ ou ‘amanhecer’ e mantive assim xD.

Acho que todos usam outros nomes pra desvincular as vezes da pessoa ‘normal’ pois muitos tem família que não gosta ou muda o ramo de trabalho.. como por exemplo um médico que é ok com cosplay, mas o resto das pessoas com quem trabalha tem o preconceito com o cara vestir cosplay. Mas ele precisa trabalhar como médico, então usa um pseudônimo pra ter o hobby ativo e não ter problemas =)

 E você? Trabalha ou trabalhou com cosplay e tem uma história interessante para contar? Entre em contato com a página.

]]>
http://www.finisgeekis.com/2016/09/16/profissionais-do-cosplay-pri-suicun/feed/ 0 10376
Profissionais do Cosplay: Panshi Cosmaker http://www.finisgeekis.com/2016/09/09/profissionais-do-cosplay-panshi-cosmaker/ http://www.finisgeekis.com/2016/09/09/profissionais-do-cosplay-panshi-cosmaker/#respond Fri, 09 Sep 2016 20:08:35 +0000 http://finisgeekis.com/?p=9973 Nessa coluna, eu trago a vocês depoimentos daqueles que, de uma maneira ou de outra, se transformaram em “profissionais” do cosplay. Para alguns, foi uma atividade paralela, uma forma, muitas vezes, de custear os próprios trajes. Para outros, uma segunda vida fazendo aquilo que mais amam. Para outros, ainda, uma profissão à qual se dedicam noite e dia.

marcelo-e-monalisaMarcelo Rocha e Monalisa Medeiros, mais conhecidos como Panshi Cosmaker, não imaginavam que fariam do cosplay a sua vida. O que começou como um passatempo logo se tornou uma profissão: o casal de cosmakers adquiriu seu próprio ateliê e hoje se dedicam integralmente a dar vida a personagens.

Tive a oportunidade de conversar com o Marcelo, que me contou sobre seu início no mundo do cosplay, o passo a passo em levar os figurinos do papel às mãos dos cosplayers e o que pensa sobre o futuro do meio.

Confiram a entrevista abaixo:

Qual é a sua idade e há quanto tempo trabalham com cosplay?

Marcelo Rocha, 37 anos. Trabalho com cosplays há 2 anos e meio.

Monalisa Medeiros, 33 anos. Trabalha há 4 anos na área.

O que os levou a escolherem trabalhar com cosplay? Foi algo que sempre desejaram fazer?

Na realidade, tudo começou de um passatempo, quando a Mona resolveu fazer uma capa de Harry Potter para sua filha ir a uma festa de aniversário do mesmo tema.

Todos elogiaram, e ao postar a foto de sua filha no Facebook muitos curtiram, inclusive uma pessoa do Rio de Janeiro, pai de uma menina que ficou apaixonada quando viu a capa. Pediu que fizesse uma e enviasse para o Rio e pagou o valor solicitado. Assim que recebeu, fez referências positivas ao serviço da Mona, onde criou o interesse de outros usuários do Facebook, e a Mona passou a fazer, nas horas vagas, fantasias do Harry Potter.

Passaram a solicitar outras fantasias, e a Mona foi confeccionando, e o grau de dificuldade e os pedidos, aumentando. Suas horas vagas foram ficando curtas e ela pediu minha ajuda para que eu cuidasse da parte de acessórios e, principalmente, da administração do dinheiro e dos clientes.

No começo achei que era brincadeira, mas vi que era real e passei a assumir aquilo que antes era considerado hobby. Larguei uma carreira de consultor técnico no setor automobilístico, fiz acordo com a empresa que trabalhava há 5 anos e com o dinheiro investi em maquinários, abri firma, regularizei a empresa e aluguei um imóvel comercial, pois o que antes tinha se iniciado num fundo de um quarto de 3m x 6m já não era suficiente para comportar a Panshi.

Mudamo-nos para Santos, alugamos um apartamento próximo ao ateliê que também fica em Santos e hoje estamos na atividade, crescendo a cada dia e buscando sempre desafios.

panshi-2

Geysa Cardena e Beah Trindade. Créditos: Johnny Photography

Como cosmakers, como é sua rotina de trabalho? Vocês trabalham em casa ou possuem um atelier? Do primeiro contato até a entrega, como funcionam as suas encomendas?

Trabalhamos de segunda a sexta, das 7:30h, quando deixamos os filhos na escola, até as 17h, quando encerro as atividades, pegamos as crianças na escola e voltamos para casa. Enquanto a Mona cuida das crianças, casa e jantar, eu já me preparo para o “segundo tempo”, que seria responder os orçamentos, conversar com os clientes, fazer pesquisa de materiais e cobrar fornecedores via e-mail, ou seja, todo o trabalho burocrático.

Começo às 19h e termino por volta da meia-noite. Frequentemente prolongo o atendimento até as 2h da madrugada pois os clientes potenciais estão disponíveis neste horário, quando voltam da escola, faculdade, ou até mesmo estão jogando online. Os fins de semana são reservados à família, porém quando temos atendimento de clientes locais que solicitam provar o cosplay ou até mesmo tirar medidas e dúvidas pessoalmente, reservamos o sábado no período da manhã para este atendimento especial.

panshi-1

Temos ateliê próprio. Ele tem o setor de confecção, estoque, oficina de acessórios e atendimento ao público, no próprio setor de confecção. É um prédio com dois andares, e setores isolados.

O primeiro contato com o cliente é através do orçamento. Assim que ele é aprovado, o cliente efetua a entrada é enviamos um contrato com todos os detalhes do que foi concordado e mais um manual de medidas, para que seja feita a aferição. O prazo se inicia após a devolução dos documentos preenchidos e assinados. Feito isso, é confeccionada uma ordem de serviço com todos os dados do cliente, do cosplay e detalhamento de exigências, e esse documento segue para o setor de modelagem.

Já na modelagem, é calculado a quantidade exata de material que será utilizado, para assim criar uma lista de materiais que serão pesquisados entre os fornecedores; encomendamos e logo são faturados juntamente com materiais de outros cosplays. Assim que o material chega, fazemos a distribuição dos materiais para cada cosplay, e no setor de confecção os materiais são cortados e modelados.

panshi-4

panshi-5

As peças cortadas (no caso tecidos e aviamentos) são enviadas para costureiras terceirizadas, quando a modelagem eh fácil, juntamente com ficha técnica, para identificação das peças. Quando o cosplay é mais elaborado, no caso de haver necessidade de moulage ou utilização de courino, emborrachado e pintura, o cosplay é confeccionado totalmente no ateliê da Panshi.

Quando as peças ganham forma, passamos a entrar em contato com o cliente para descrever o andamento do processo. Não costumamos enviar fotos de cada processo, pois o cliente, ansioso com o resultado, passa a não entender que se trata apenas de processos e não do resultado final, e começa a querer mudar detalhes do cosplay não finalizado.

Tivemos problemas inicialmente com clientes que participaram ativamente do processo de todo cosplay e o resultado não foi como esperado, pois o cliente mudava a todo momento materiais, cores e aviamentos, e quando finalizou não era o esperado; voltamos o cosplay do zero para consertar e tudo saiu melhor conforme nossa autonomia.

panshi-10

panshi-iron-2

panshi-iron

Assim que finalizamos a confecção, o cosplay passa pelo setor de qualidade, onde é conferido as medidas, acabamento, e se tiver algo errado, retorna para a costureira, e só depois que passa pela qualidade enviamos a foto do cosplay pronto para o cliente.

É nessa momento que o cliente pode opinar se gostou do resultado ou se faltou algum detalhe, pois podemos – tanto ele quanto nós – ter uma ideia verdadeira da linguagem de cada parte. O cliente dando o aval, o cosplay é embalado e pesado para cálculo do frete.

O valor é repassado ao cliente que fica encarregado de depositar a quantia, emitimos a solicitação de etiqueta no Sigep (sistema dos correios para as empresas que tem contrato) e aguardamos a retirada do pacote pelo caminhão dos Correios.

Quando o pacote ultrapassa os limites de tamanho permitidos pela ECT, enviamos por transportadora, pois trabalhamos com diferentes empresas onde fazemos a cotação do melhor custo-benefício para o cliente, e também disponibilizamos a retirada feita pelo próprio cliente.

Assim que enviamos o código de rastreio solicitamos ao cliente que informe assim que receber o cosplay, pois oferecemos garantia no caso de divergência de medidas (quando comprovado erro de nossa parte) e em avarias causadas pelo transporte durante a entrega. Neste caso enviamos PAC reverso ao cliente que reenviará o cosplay novamente, sem custo algum, para que efetuemos o reparo.

Ficando pronto, enviamos novamente o produto ao cliente, com frete grátis, e aguardamos o recebimento do produto pelo cliente. Caso o produto apresente discordância pela segunda vez, o cliente fica responsável apenas pelo custo de envio, e na terceira, cobramos taxa de reparos. Nunca aconteceu do produto sofrer avaria pela segunda ou terceira vez, mas temos a política de dar suporte ao cliente no pós-venda sempre que necessário.

Vocês se dedicam integralmente a isso, ou mantém outras profissões?

Nos dedicamos inteiramente à Panshi, eu, Marcelo, Deixei pra trás uma vida inteira que dediquei a área automobilística, fiz diversos cursos, fui professor no SENAI, passei  pelas maiores concessionárias, Taís como Honda, Volkswagen, Ford, Jac, e não me arrependo, pois hoje faço o que gosto, conheço muitas pessoas e me divirto com as novas experiências adquiridas.

Vocês trabalham em dupla. Na prática, como funciona a divisão de tarefas?

Antes, a divisão de tarefas era bem nítida, eu fazia a parte de acessórios, e a Mona, a confecção. Hoje tivemos que remanejar, eu faço toda parte de acessórios, administração, orçamento e a Mona gerência a parte da confecção, pois a costura boa parte é terceirizada para costureiras.

Vocês atendem apenas cosplayers ou também praticantes de outras formas de performance (LARPG, figurinos etc)? Existe um intercâmbio entre o cosplay e estes outros mundos?

Atendemos inicialmente o público geek e cosplayers, o público infantil com fantasias temáticas de aniversário, empresas de animação infantil, empresas de games, figurinos teatrais e uniformes especiais.

Existe uma linha tênue entre o mundo cosplay, onde a pessoa personifica seu personagem favorito por hobby e o comércio do entretenimento, onde o personagem fictício vira um atrativo com fins lucrativos.

Muitos de nossos clientes iniciam a utilização do cosplay por diversão, mas por ser tao fiél acabam sendo chamados para trabalhar com o personagem e são chamados para eventos, festas e freelances.

Que tipo de marketing vocês fazem para seu trabalho? Quais canais vocêm exploram? Quanto de tempo e energia vocês investem nisso?

Investimos pouco, utilizamos Instagram, YouTube, Twitter, Facebook, blogger, para a divulgação dos nossos trabalhos. Mais adiante investiremos mais.

Em adição ao cosmaking, vocês também fazem cosplay, participam de concursos, etc? Esta vivência é necessária para quem deseja entrar no ramo?

 No início, não tínhamos tempo de nos dedicarmos a projetos próprios, pois a dedicação aos projetos de nossos clientes no tomava todo o tempo. No fim do ano passado encontramos tempo de participar de um campeonato de cosplay na cidade do Rio de Janeiro, onde eu ganhei o primeiro prêmio é a Mona, o segundo.

panshi-7

Créditos: André Pezzino

monalisa.jpg

Acabamos levando pra casa uma premiação no valor de R$ 4 mil reais, um bom prêmio pra iniciantes! É extremamente importante participar dos eventos. Apesar de nossa participação única, vamos como visitantes comuns aos eventos, para conhecer o público de forma neutra, e saber o que há de novo no mundo geek.

Vocês trabalham exclusivamente com confecção, ou já realizaram outras atividades remuneradas envolvendo o cosplay (ex.: em convenções, workshops etc)? E quanto a estandes em eventos?

Já participamos de oficinas e workshops, sorteios em eventos, mas nada remunerado, na época fizemos para alavancar o nome da empresa. Hoje já não fazemos por falta de tempo.

Você já fizeram algum trabalho relacionado a cosplay fora do mundo “nerd” propriamente dito? (eventos corporativos, festas infantis, filantropia, ações promocionais?)

Sim, já fizemos uma apresentação filantrópica numa escola estadual da cidade, com a apresentação das princesas do Frozen. Já fizemos também doação de cosplay para uma integrante do Doutores da Alegria, no estado do Pará, se não me engano.

Cosplays frequentemente são mencionados em discussões sobre direitos autorais. Em tese, character designs são propriedade de seus respectivos estúdios/editoras, e qualquer lucro sobre eles é vetado a terceiros. Vocês já tiveram ou testemunharam algum problema em relação a isso? Vocês acreditam que isso possa ser um fator limitante para o crescimento da profissão?

Nunca presenciamos ou tivemos conhecimento de problemas relacionados a direitos de imagem de um personagem de anime/filme. Acredito que isto não seja problema, pois se trata de uma homenagem ao personagem favorito, e ninguém que se veste com qualquer personagem se auto-intitula como o “original” ou “verdadeiro”.

Ganha atenção especial aquele que se torna fiel, e nossos clientes acabam recebendo esta atenção. Nunca pensamos que isso poderia vir a se tornar um problema para o crescimento da profissão, isso nunca aconteceu antes.

Como vocês vêem o futuro profissional do cosplay? Vocês acreditam que o mercado esteja crescendo ou diminuindo?

Nós particularmente acreditamos num crescimento monstruoso, principalmente com a popularidade dos jogos online e dos filmes dos nossos heróis do passado, da nostalgia ganhando foco.

Com a facilidade de acesso à informação em nossas mãos, o público tem contato direto com os animes, filmes, jogos, e essa vivência mais agressiva faz com que os jovens queiram entrar no personagem, e os adultos a reviverem o passado numa homenagem saudável aos heróis de infância.

O mercado cresce pra quem acompanha as mudanças, se atualiza com as novas tecnologias, e principalmente, quem tem mente aberta pra receber e processar tudo isso. Nós da Panshi somos tudo isso, e sempre abertos a novas experiências, com o único foco de transformar sonhos em realidade, independentemente em que plataforma seja.

 E você? Trabalha ou trabalhou com cosplay e tem uma história interessante para contar? Entre em contato com a página.

 

 

 

 

 

 

]]>
http://www.finisgeekis.com/2016/09/09/profissionais-do-cosplay-panshi-cosmaker/feed/ 0 9973
‘Otakontro’: por dentro de uma convenção de anime http://www.finisgeekis.com/2016/08/31/otakontro-por-dentro-de-uma-convencao-de-anime/ http://www.finisgeekis.com/2016/08/31/otakontro-por-dentro-de-uma-convencao-de-anime/#respond Wed, 31 Aug 2016 21:38:13 +0000 http://finisgeekis.com/?p=9559

Não dá para negar. Convenções são uma das forças vitais da cena otaku. Sem esses espaços para conhecer novos fãs, adquirir merchandise e prestigiar as franquias que amamos, é muito provável que o anime não teria superado o seu terrível estigma de anos atrás.

De lá para cá, muita coisa mudou. Para aqueles que se lembram de como tudo começou, não necessariamente para melhor.

Por um lado, eventos como a CCXP colocaram o Brasil no mapa das grandes convenções. A cobertura midiática da cena otaku nunca foi maior. Nos grandes centros urbanos, eventos nunca foram tão grandes e, a despeito de seus problemas, suas instalações já foram muito piores.

Por outro lado, convenções parecem estar perdendo sua essência. A celebração da cultura japonesa, de protagonista, tem passado ao banco de passageiro. A chegada da velha “cultura pop” à cena mainstream nos levou a um ponto onde é difícil separar uma da outra. Exceto para alguns velhos fãs, que sentem que seu mundo está desaparecendo.

Essa, pelo menos, é a opinião de Pablo Santos, organizador do Otakontro na Baixada Santista. Se você não reconhece a convenção de nome, deve com certeza reconhecê-la de reputação. O evento ganhou popularidade ao se anunciar como um encontro old school, sem a presença de youtubers.

banner_superpub_2.jpg

Eu tive a oportunidade de bater um papo com o Pablo e conhecer mais sobre o evento. Na nossa conversa, ele me contou sobre os bastidores do Otakontro, a penetração dos youtubers na cena otaku, o futuro das convenções e muito mais.

Confiram a entrevista abaixo:

O que é o Otakontro? De onde surgiu a ideia de organizá-lo? De 2009 para cá, como está sendo a resposta do público?

O Otakontro é um encontro de admiradores da cultura japonesa popular como animes, música e jogos. A idéia surgiu em meados de 2009, quando um grupo de amigos resolveu se reunir numa praça pública para conversar sobre o assunto.

O encontro durou até 2011, quando os organizadores originais não puderam seguir com o projeto. O público está sendo 100% receptivo com a idéia, pois não somente na baixada santista mas no país inteiro, vários eventos se dizem de um tema e para garantir público, contratam algumas pessoas que criam conteúdo para o YouTube mas que nem sempre condizem com o tema do evento.

O Otakontro se descreve como um tributo à era de ouro dos eventos de anime na Baixada Santista. Como era esta época? O que fazia dela tão interessante?

A época de ouro dos eventos não é somente na Baixada Santista, mas em todo o país. Era uma época em que as atrações principais eram dubladores e a principal idéia era a reunião de pessoas que gostavam do tema para se conhecer e fazer novas amizades.

O Otakontro já foi caracterizado como o “evento mais old school dos últimos tempos e se propõe a “recuperar a essência oriental” que caracterizava convenções em outras épocas. Muitas pessoas consideram que vivemos no auge da cultura nerd/otaku. Por outro lado, há aqueles que apontam que algumas coisas vêm se perdendo. Ao conhecer o Otakontro, não pude deixar de me lembrar da San Diego Comic Con, e de como alguns de seus exibitores mais tradicionais acabaram afastados quando a popularidade atraiu a atenção das grandes corporações de entretenimento. Como você enxerga a cena de convenções no Brasil? O que você acha que melhorou ou piorou com chegada do universo nerd na cena mainstream?

Acreditamos que a evolução é natural, assim como a expansão, mas para isso, deve-se saber o que fazer e como fazer. Algumas empresas no Brasil pegam temas aleatórios para criar uma convenção e acabam se perdendo sem saber qual a própria proposta. Acredito que o apoio das grandes empresas é algo muito bacana e que esperamos acontecer durante décadas, mas os organizadores devem saber como apresentar isso ao público de forma que não atrapalhe outras atrações e que seja mais um agregador do que um causador de discórdias e críticas negativas entre os visitantes do evento.

flyer_otakontro 2.jpg

Hoje em dia, é muito comum encontrar as palavras “nerd” e “geek” usadas para descrever fãs de todo tipo de cultura pop. O próprio Finisgeekis é fruto dessa mentalidade, abordando desde games da Paradox até literatura japonesa. No entanto, pude perceber que há certa antipatia entre otakus em relação a canais “nerds”. Muitos os acusam de priorizar conteúdo ocidental, no qual têm pouco ou nenhum interesse. Na sua visão, essa distinção entre tribos se reflete no circuito de convenções? Ou parecem ser todos parte de uma mesma comunidade?

Eu particularmente nunca vi algum caso de desrespeito ou menosprezação de alguém em cima de outra pessoa por conta de preferir uma cultura oposta. Muito pelo contrário, geralmente nos eventos você encontra fãs de um lado mais oriental e de um lado mais ocidental conversando, dividindo atividades e socializando de um modo geral sem julgamento de preferências.

Recentemente, tive a oportunidade de entrevistar vários cosplayers e cosmakers como parte do projeto Profissionais do Cosplay . Alguns deles já trabalharam como hosts em eventos otakus ou nerds. Como organizador de uma convenção, como você enxerga essas possibilidades? Cosplayers profissionais já se tornaram uma presença frequente na cena otaku? Aqueles que sonham em trabalhar com isso encontram bastantes oportunidades?

Nós temos o maior carinho e apreço pela comunidade cosplayer, estamos disponibilizando uma sala inteira para estúdio, temos camarins exclusivos e ainda várias outras surpresas que vão ser reveladas a quem for no Otakontro.

Acreditamos que o cosplay além de hobbie é um trabalho no qual a pessoa dedica dinheiro tempo e suor para que saia da melhor forma possível. Hoje o mercado é bem mais amplo, com diversas empresas contratando aqueles que se destacam na arte, especialmente para juri de concursos cosplay. Toda a bancada do Otakontro é formada por profissionais que trabalham já a anos com o cosplay.

A Otakontro em si já contratou cosplayers como promotores, ou pretende fazê-lo em edições futuras? Seus expositores têm o hábito de fazê-lo?

Nosso plano para este ano é mostrar a todos que retornamos e que vamos continuar o trabalho duro por um evento de qualidade. Futuramente, iremos trabalhar não somente com cosplayers durante o evento, mas vamos criar concursos e patrocinar photoshoots algumas vezes durante o ano. Os cosplayers que forem escolhidos ou ganharem os concursos, vão ganhar ensaios completos com direito a editores profissionais e making of em vídeo. Essa é uma surpresa que ainda não anunciamos e vamos explicar melhor após o evento.

banner_maid_cafe_v2.png

Você me contou que a Jaqueline Abrão (que eu também tive o prazer de entrevistar) atuará como jurada do concurso de cosplay na próxima edição do Otakontro. De uma maneira geral, como se dá a escolha dos jurados nesse tipo de atividade? Quem são os responsáveis pela seleção? Quem são os intermediários?

A organização faz um processo de seleção entre os cosplayers que são conhecidos do meio e que possuem boa reputação, tivemos o prazer de encontrar com a Jack durante alguns eventos que comparecemos como público e adoramos o trabalho dela. É um prazer trabalhar com alguém cuja qualidade e responsabilidade precedem sua fama.

Concursos de cosplay são coisas complicadas. O que acontece nos bastidores que os espectadores geralmente não vêem? Quais são os cuidados a serem tomados para que tudo ocorra como deve?

As regras são o ponto principal, todas as cláusulas devem ser claras para que todos os participantes compreendam e aceitem os termos de participação e que isso não se torne uma dor de cabeça nem para os participantes nem para a organização. Especialmente em relação às notas, que devem ser o mais claras possíveis para que não haja acusações de “panelinhas” ou fraude. O concurso cosplay do Otakontro possuiu 11 versões das regras, sendo a 12ª a versão final.

Em várias convenções, profissionais e voluntários já se mobilizaram para oferecer “primeiros socorros” a cosplayers. Em outros países, um dos exemplos mais interessantes é o International Cosplay Corps, uma aliança de cosplayers que perambula eventos com kits de costura e maquiagem, ajudando aqueles que sofrem acidentes com suas fantasias. Esta prática já se tornou comum no Brasil? O Otakontro oferece serviços similares de SOS cosplay? No que ele consiste?

O SOS Cosplay é uma iniciativa que tomamos após conferir que a maioria dos eventos não oferece uma estrutura mínima para que o cosplayer possa se sentir confortável e seguro para poder ir e vir no evento sem temer que o cosplay fique com uma costura solta ou que seja necessário vestir a fantasia apenas na hora do concurso com medo dele se desgastar. Ele consiste em uma área específica dentro da sala cosplay que disponibilizamos, onde teremos diversas ferramentas como cola quente, linhas e agulhas entre outros, para que reparos rápidos possam ser feitos sem problemas, tudo a um custo único de 2 reais por cosplayer, que ganhará um “passe” que dura o evento inteiro.

O Otakontro recebeu bastante cobertura em relação à sua posição em relação aos YouTubers. De fato, estes produtores de conteúdo se tornaram uma verdadeira força midiática, chegando a dominar até mesmo a Bienal do Livro.  Como você enxerga essa preponderância? Você acha que existe uma tentativa deliberada de promover YouTubers em outros segmentos, ou tudo seria apenas uma tentativa de capitalizar sobre sua popularidade?

Como conversamos acima na proposta do evento, não somos “contra” youtubers, mas somos contra a falta de foco dos eventos e falta de estrutura oferecida pelos mesmos. Na ganância de conseguir milhares de jovens e adolescentes como público, um evento em Santos por exemplo, se envolveu com diversas polêmicas envolvendo agressões, confusões, diversos cosplayers sairam com fantasias danificadas entre outros.

Lembrando que o mesmo evento cobra um ingresso que é o mesmo valor de convenções de grande porte de São Paulo. Acreditamos que investir em infra-estrutura, treinamento de staffs e segurança é o essencial para que o evento possa apresentar atrações de peso como Youtubers, o que infelizmente não foi demonstrado nos últimos anos.

Por conta dos assuntos tratados em palco dos youtubers que são geralmente convidados, acreditamos que tudo não passa de tentativas de capitalização sobre a popularidade da pessoa que foi colocada ali, uma vez que não trazem conteúdo relevante pro cenário de cultura oriental.

Com tantos eventos de grande porte abrindo as portas a YouTubers, você acredita que eles estejam buscando novas audiências? Ou há de fato uma correspondência entre os amantes de cultura otaku e os fãs de YouTubers?

Todo evento busca atrair públicos diferentes a cada edição, agora a onda são os Youtubers, em breve, quem sabe, pode ser outro tipo de atração. Os amantes da cultura oriental antes de tudo esperam respeito, boa organização e conforto, isso deve ser a prioridade sempre.

Na sua experiência como organizador do Otakontro, você conseguiu perceber alguma diferença em relação a isso? Seu público alvo é o mesmo que frequenta convenções com YouTubers, ou fazem parte de outra comunidade?

Infelizmente, grande parte do público que frequenta eventos com youtubers vai por falta de opção. O que queremos atrair é o público que clama por um evento que se preocupe com a infra-estrutura, segurança e diversão em primeiro lugar.

Embora (relativamente) raros no Brasil, alguns YouTubers têm canais dedicados a conteúdo otaku. Você enxerga um possível compromisso entre estes YouTubers “especializados” e a “essência oriental” das convenções de velha guarda?

Sim, conhecemos muitos youtubers que possuem conteúdo totalmente oriental e acreditamos que eles poderiam trazer coisas relevantes aos eventos que fossem chamados. Infelizmente são geralmente trocados por outros Youtubers que possuem mais seguidores e que tratam de assuntos que não condizem em nada com o tema do evento.

Convenções são um paraíso para se comprar todo tipo de merchandise, de camisetas temáticas até figures. Ao mesmo tempo, há no mercado brasileiro uma abundância de produtos não-oficiais. Algumas pessoas, sobretudo colecionadores, acreditam que estes produtos encarecem e dificultam a chegada de merchandise oficial no Brasil. O resultado seria particularmente sentido no segmento de DVDs e CDs, muito comuns em outros lugares do mundo, mas que sofrem para competir com o mercado pirata no país. Você acha que este é um problema solucionável no nível das convenções? Ou acredita que seja uma questão maior, envolvendo as próprias agências de licenciamento?

É difícil conseguir produtos importados no Brasil, mas não impossíveis, tanto que as convenções sempre são sucessos financeiros para qualquer loja. Isto claro, dependendo da convenção. O licenciamento no país é possível, mas é um desafio que poucos estão dispostos a enfrentar.

Da World Con à Comiket, convenções são um dos elementos mais tradicionais da cena nerd/otaku. Como você encara o futuro do seguimento? Existem novos desafios a encarar, novas oportunidades a serem exploradas?

O maior desafio para uma evento é se reinventar e se renovar todo ano. Infelizmente o desgaste é o que mais faz convenções “morrerem”, mas se o organizador souber dirigir bem o navio de acordo com o mercado e ter a sensibilidade de escutar a comunidade, mas sempre mantendo a palavra final, tudo aponta para o sucesso e longevidade do evento.

O Otakontro acontecerá em Santos, dia 11 de Setembro. Para maiores informações, confiram sua página.

]]>
http://www.finisgeekis.com/2016/08/31/otakontro-por-dentro-de-uma-convencao-de-anime/feed/ 0 9559
Profissionais do Cosplay: Kevin Leab Thong http://www.finisgeekis.com/2016/08/26/profissionais-do-cosplay-kevin-leab-thong/ http://www.finisgeekis.com/2016/08/26/profissionais-do-cosplay-kevin-leab-thong/#respond Fri, 26 Aug 2016 15:59:13 +0000 http://finisgeekis.com/?p=9229 interview readNessa coluna, eu trago a vocês depoimentos daqueles que, de uma maneira ou de outra, se transformaram em “profissionais” do cosplay. Para alguns, foi uma atividade paralela, uma forma, muitas vezes, de custear os próprios trajes. Para outros, uma segunda vida fazendo aquilo que mais amam. Para outros, ainda, uma profissão à qual se dedicam noite e dia.

Kevin Leab Thong é um cosmaker que realizou o grande sonho da maioria dos nerds. Ele conseguiu ingressar na indústria de games, a ponto de se tornar community manager da CD Projekt RED na França, seu país natal.

Kevin aceitou bater um papo comigo, no qual conversamos sobre a presença de cosplayers em empresas de videogames, as fronteiras entre cosmakers e figurinistas e seu trabalho em atividades filantrópicas.

Confiram abaixo a entrevista

Qual é a sua idade e há quanto tempo trabalha com cosplay?

Tenho 26 anos desde abril e tenho trabalhado com cosplay desde o meu primeiro cosplay (2011). Eu tive a sorte de ser notado.

Você é um expert em confecção de figurinos e props. O que o motivou a se envolver com essa profissão.

Meu pai e eu sempre adoramos assistir a vídoes de making of e bastidores de filmes e clipes. Nós amamos figurinos e decorações de set. Um dia ele me perguntou se eu queria fazer um traje com ele e aqui estou.

Que tipos de trabalhos relacionados ao cosplay você já realizou? Você aceita encomendas? Quem são seus clientes?

No momento, eu tenho trabalhado essencialmente com a CD Projekt S.A. em vários eventos desde o concurso de cosplay que eles organizaram. Eu também fiz alguns eventos para a EA Games e estou atualmente trabalhando em um projeto com a Amplitude Studio.

Sobre encomendas, eu não tenho uma oficina decente ainda, então eu não consigo trabalhar com isso da forma como eu gostaria, mas no futuro próximo eu provavelmente começarei a aceitar encomendas.

Como você viu acima, meus clientes são majoritariamente companhias de games. Porém, eu ainda estou aberto a outros clientes se eles precisam de mim.

A propósito, eu não sou muito conhecido, então eu contacto diretamente os estúdios para conseguir os jobs 🙂

Você é um community manager para a CD Projekt RED na França. Como você se envolveu com o estúdio? Teve relação com os cosplays de personagens de The Witcher que você fez?

Eu consegui o emprego por meio de uma feliz sequência de eventos. O negócio é que um de meus amigos, Thibault, e eu pedimos ao Marcin Momot (o community manager principal) alguns materiais de referência para fazer um cosplay 3 anos atrás. De lá para cá, nos continuamos em contato e nos tornamos amigos na internet.

Um dia ele sugeriu o trabalho ao Thibault e a mim porque nós sempre fomos ENORMES fãs de The Witcher desde a época dos livros e muito mais depois do primeiro jogo. Portanto, meu job como cosplayer não tem relação direta com meu contrato como community manager. É algo a mais, e eles me pagam por ambos os empregos.

Na sua experiência, quão abertos são os estúdios de videogame para contratar cosplayers e outros fãs? Como o processo geralmente começa? Cosplayers e cosmakers geralmente são contratados pelas companhias se conseguem chamar a atenção ou tomam a iniciativa eles próprios?

Estúdios de games vão ver seu trabalho cedo ou tarde, mas o problema é que existem muitos fãs e muitas criações de fãs. Cosplay é apenas uma entre tantas “fanarts”.

A melhor coisa a se fazer, na minha opinião, é contatá-los diretamente e só dizer “Ei, eu faço cosplays. Eu fiz isso e aquilo. Você está interessado?” Eles são iguais à gente, entusiasmados e humanos. Eles não vão morder, então não há nada a perder tentando.

O processo sempre começa com um contrato ou mesmo com um contrato de confidencialidade, se não existir contrato. Provavelmente significa que você não será pago pelo seu trabalho…

Num editorial recente, a Hayley Williams do Kotaku disse que trabalhos remunerados de cosplay em convenções são minados por cosplayers dispostos a trabalhar de graça, assim como pela mentalidade de que cosplay deve ser feito por amor, não por dinheiro. Você concorda com esse diagnóstico? Se sim, você vê alguma solução?

Eu acho que cosplay é um bom hobby, mas quando você tem o dever de representar empresas ou marcas registradas, então você está trabalhando. Para mim, todo trabalho, não importa qual, deve ser remunerado. Eu não acho que jobs de cosplay são prejudicados por cosplayers dispostos a trabalhar de graça. Empresas pagam por qualidade (talvez nem tanto quando deveriam, mas pagam). Se eles não pagarem, então escolherão algum cosplayer que faça de graça e a qualidade refletirá isso. É uma escolha.

De qualquer forma, nós não podemos ficar irritados com as pessoas que apenas querem ser conhecidas. É problema delas.

Meu primeiro trabalho como cosplayer não foi pago. Eu queria receber, mas eles não me pagaram (brindes não são pagamento). No entanto, ele me ajudou a ser mais bem visto e a adquirir uma imagem mais séria para as empresas.

Sempre existirão pessoas que trabalharão de graça só porque são fãs, ou porque se sentem honradas de serem uma peça no maquinário. Isto nos motiva a ser mais competitivos e a aprender novas coisas para nos tornarmos mais talentosos. Eu acho que é bom pressionar as pessoas a serem melhores em seus trabalhos/hobbies, ou mesmo na vida. Então, se eles quiserem trabalhar de graça, conforme-se com isso e tente fazer melhor.

Você já trabalhou com cosplay for a da cena geek, propriamente dita (ex: em eventos corporativos, festas infantis, iniciativas filantrópicas, campanhas de publicidade)?

Alguns de meus amigos, todos cosplayers e cosmakers talentosos, estão atualmente envolvidos em um calendário cosplay para arrecadar dinheiro para caridade. Eu faço parte do projeto. Chama-se Cosplay for Life 🙂

E quanto a confecção? Você já trajes e props para outros públicos? (reenactment histórico, LARPG, etc?)

Não, mas parece muito divertido! Eu já fiz algumas armas e acessórios para meus cosplays, mas nunca para esse tipo de coisa.

Você participa de concursos de cosplay? Quão importante é o circuito de concursos na vida de um cosplayer?

Eu não sou muito ligado nisso, então só posso dizer que existem dois tipos de cosplayers entre meus amigos que gostam de participar de concursos.

Os primeiros são aqueles que participam porque gostam de competição e querem mostrar seu melhor e tentar ganhar.

Os segundos são os que só querem fazer um bom cosplay e participar para ter um bom palco para mostrar seus trajes, compartilhar seu amor ao cosplay com os outros e ter boas memórias.

Cosplays frequentemente são mencionados em discussões sobre direitos autorais. Em tese, character designs são propriedade de seus respectivos estúdios/editoras, e qualquer lucro sobre eles é vetado a terceiros. Você já teve ou testemunhou algum problema em relação a isso? Você acredita que isso possa ser um fator limitante para o crescimento da profissão?

Essa foi uma das minhas maiores questões no começo, mas eu nunca tive nenhum problema por causa disso. Eu também não acho que isto limitará pessoas a fazerem o que elas querem. Quando você faz props só para você e não ganha nada com isso, você nunca terá problemas.

Cosmakers que vendem seus trabalhos provavelmente são mais afetados por copyright. Eu realmente não sei, desculpa.

Como você vêe o futuro profissional do cosplay? Você acreditam que o mercado esteja crescendo ou diminuindo?

Eu não estou preocupado sobre o seu futuro. Eu quero trabalhar como um figurinista profissional no cinema/teatro ou na indústria de games. Se o cosplay puder me ajudar, então eu continuarei, aprenderei novas coisas e me tornarei mais competente para alcançar esse objetivo.

Eu acho que a diferença entre “cosplayer” e figurinista é bem sutil. O cosplayer faz o role play ou a parte de “modelo” que o figurinista não faz.

Cosplay profissional tem mais a ver com a carreira de modelo e em usar sua imagem para promover coisas, embora também envolva todo o processo de confecção.

Então, na minha opinião, o mercado continuará a crescer lentamente como qualquer outro emprego, e a indústria de games o está incentivando a isso muito bem.

A maioria dos cosplayers usa pseudônimos. Você pode me falar um pouco sobre este hábito? Você sabe qual é a origem da prática?

Haha! Eu não sei porque as pessoas usam apelidos ou de onde surgiu o hábito. Provavelmente foi para proteger sua identidade quando você só quer compartilhar sua paixão na internet.

Você utiliza (ou já utilizou) algum pseudônimo?

O meu é apenas meu nick em videogames… Eu só o criei para ser reconhecido atrás da tela.

Se você tivesse de dar uma dica para alguém que deseja começar a trabalhar com cosplay, qual ela seria?

Apenas tente. A parte mais difícil é se motivar a começar. Quando você tiver feito isso, você verá que não é tão difícil.

E você? Trabalha ou trabalhou com cosplay e tem uma história interessante para contar? Entre em contato com a página

Kevin Leab Thong is a cosplayer and costume maker that accomplished one of geeks’ most coveted dreams. He landed jobs with the gaming industry, and even became a community manager for CD Projekt RED in his home country of France.

Kevin took the time to have a little chat with me. In it, we talked about the involvement of cosplayers with game companies, the threshold between cosplayers and costume makers and his cosplay related work in charity.

You can read the full interview below:

How old are you and how long have you been working with cosplay?

I am 26 since April and I have worked with cosplay since my very first cosplay (2011). I was lucky enough to be noticed.

Youre an expert in costume and propmaking. What prompted you to get involved with this métier?

My father and I have always loved to watch making ofs and behind the scenes from movies and clips. We love costumes and decorations on set. One day he asked me if I wanted to make a costume with him and here I am.

What sort of cosplay related jobs have you performed? Do you accept commissions? Who are your clients?

For the moment, I have essentially worked with CD Projekt S.A. on many events since the cosplay contest which they organized. I also did some events for EA Games and I am currently working on a project with Amplitude Studio.

About commissions, I do not have a decent workshop yet so I cannot work on it as I would like to but in a near future I will probably accept commissions. As you read before, my clients are mainly video game companies. I am still opened to other clients if they need something from me. I am not very well known by the way so I contact directly by myself the studios to get some jobs. 🙂

Youre a community manager for CD Projekt RED in France. How did you end up involved with the studio? Was it related to your work cosplaying The Witcher characters?

I have got the job through a fortunate chain of circumstances. The thing is that one of my friends Thibault and I asked to Marcin Momot the main Community Manager some samples to make a costume 3 years ago and since we stayed in touch and became friends over internet. One day he proposed the job to Thibault and I because we have been HUGE fans of The Witcher since the books and more after the first game. So my cosplay work is not related to my community manager’s contract. It is something plus, and they paid me for both jobs.

In your experience, how open are videogame studios to hiring cosplayers and other fans? How does the process usually begins? Are cosplayers and crafters contacted by the companies if they make an impression, or is it the other way around?

Video games studios will see your work someday for sure, but the problem is that there are so many fans and so many fan creations, and cosplay is just a part of those “fanarts”. The best thing to do, in my opinion is to contact them directly by yourself and just say “Hey, I make costumes. I did that and this. Are you interested?”. They are just like us, passionate and human. They will not bite, so there is nothing to lose by trying.

The process begins always with a contract or even NDA (nondisclosure agreement) if there is no contract. It probably means that you will not be paid for your work…

In a recent op-ed, Kotakus Hayley Williams argued that paid cosplay jobs at conventions are hampered by cosplayers willing to work for free, as well as by the mentality that one should cosplay out of love, not profit. Do you agree with her point? If so, do you see any solutions?

I think cosplay is a good hobby, but when you are charged with representing companies or trademarks, then you are working. To me, each work, no matter what, should be paid. I do not think that the cosplay jobs are hampered by cosplayers willing to work for free. Companies will pay for great quality (maybe sometimes not as much as they should be but they will pay) if they do not then they will pick free cosplayer and the quality which goes with it. It is their choice.

By the way, we cannot be mad at people who just want to be known. It is their problem.

My first job as a cosplayer was not paid, I wanted to but they did not pay me (goodies is not a kind of payment) but it helped me to be better considerated and get a more serious image for companies. There will be always people who will work for free just because they are fans or feel honored to be a little part of the gear. It pushes us to be more competitive and learn more skills to be more talented. I think it is a good thing to push people to be better in their jobs/hobbies even life whatever. So, if they want to work for free then let them, just deal with it and try to be/do better.

Have you ever worked with cosplay outside the geek scene properly speaking (eg.: in corporate events, childrens parties, philantropic initiatives, marketing stunts)?

I have some friends also talented cosplayers and props makers who are currently working on a cosplay calendar to make money for charity. I am a little part of it. It is called Cosplay For Life  🙂

What about costume and propmaking? Have you ever crafted items for other audiences (historical reenactors, LARPers, etc)?

Not at all but it could be fun and entertaining! I have made some weapons and accessories for my costumes but never for things like this.

Do you participate in cosplay contests? How big a part of a cosplayers life are the hobbys contest cycles?

I am not into it, so I can just say that there are two types among my friends who like to do contests.

First the one who participate because she/he likes competition and want to be at her/his best and try to win it.

Secondly the one who just want to make a good costume and participate just to have a good stage to show their costume and share her/his love of cosplay to people and get good memories.

Cosplay is often mentioned in discussions about copyright law. In principle, character and costume designs belong to their respective IP holders, and any sort of for profit activity involving them is forbidden. Have you ever had or have you ever witnessed any issues concerning copyright? Do you believe this is might be a limiting factor to the growth of cosplay as a profession?

It was one of my big question at the begining but I never get any issues because of that. I do not think that it will limit people to make what they want either.

When you make props just for yourself and you do not gain any benefits from it, then you will never have any problems.

Props makers who sell their work are probably more touched by copyrights, I don’t really know sorry.

How do you see the future of professional cosplay? Do you believe the field is shrinking or expanding?

I am not worried about its future. I want to work as a professional costume maker in cinema/theater or in the video game industry. If cosplay can help me, then I will continue and learn new things and be more competent to reach that goal. I think the links between “cosplayer” and costume maker are really thin. The cosplayer does the “role playing” or modeling part that the costume maker do not. Professional cosplay is more like modeling and promote stuff with your image but it still has the whole process of costume making. So, in my opinion it will just continue to slowly grow up like any other new jobs and the video game industry is pushing it very well.

Most cosplayers use aliases. Can you talk a little bit about this practice? Do you know where it came from?

Haha! I do not know why people are using nicknames and where it came from but at the begining it probably to protect your identity when you just want to share your passion on internet.

Do you have an alias? How did you choose it?

Mine (Tanner) is just my nickname in video games… I have made it just to be recognized behind my screen.

If you were to give one tip for someone who wants to start working with cosplay, what would it be?

Just have a try. The hardest part is to push yourself to start and when it will be done you will understand that it was not that hard.

]]>
http://www.finisgeekis.com/2016/08/26/profissionais-do-cosplay-kevin-leab-thong/feed/ 0 9229