Vinicius Marino
Meus caros amigos, eu estou confuso. Girls’ Last Tour, é o que parece, finalmente está mostrando a cara. E embora eu tenha gostado de muito do que vi, me pergunto se o anime não está só atirando para todo lado.
Fábio “Mexicano”
“No céu tem peixe?”
Gostei bastante do cenário – uma distopia pós-apocalíptica em um futuro anacrônico. E estou gostando de ver a interação entre as garotas, que está evoluindo mais ou menos como eu esperava, embora nesse episódio nenhuma tenha se forçado sobre a outra – provavelmente aquilo no primeiro episódio foi despiste mesmo.
E se entendi direito, isso é um slice of life, e life aí é coisa séria. Algo como, retomando um tema que discutimos no episódio anterior, todos estamos em nosso último “tour”, porque só temos um, afinal: nossa vida.
Não importa quão atroz seja a situação que Chito e Yuuri enfrentem, com toda fome, frio, escassez em geral e sem saber nada sobre o mundo, só há uma coisa que elas podem fazer: continuar vivendo. Foi para isso que elas foram evacuadas da cidade antes do derradeiro ataque afinal, suponho.
Vinicius Marino
Esse lado está bem legal. Contrário aos meus medos, o anime deixou claro que não é só uma história de duas garotas brincando na sucata.
Ao mesmo tempo, o fato de elas não saberem o que é um peixe, um oceano, etc me soa estranho. É o tipo de coisa que eu espero de um Fallout, em que a humanidade foi obliterada e os últimos sobreviventes não vêem a superfície há séculos. Ou Nier: Automata, em que as personagens são máquinas num mundo em que humanos não existem mais.
Mas numa história como essa? Com essa identidade visual, esse passado imediato de guerras? Me pergunto se eles não estão só juntando um monte de lugares-comuns pós-apocalípticos para dar substância ao cenário.
Gato de Ulthar
Esse episódio me deixou muito intrigado. Embora o slice of life esteja bem forte, o que é natural vide o foco do anime, foram apresentados muitos elementos que tornam aquele mundo delas muito misterioso. Como o fato de terem um alfabeto diferenciado, e principalmente, pelo fato de não saberem o que é um peixe e pensarem que oceanos são coisas do passado! Além disso, foi dito que somente havia humanos no planeta e que todos os outros animais haviam sido extintos. Um perfeito cenário de mundo pós-apocalíptico.
E a estrutura daquele mundo me chamou muito a atenção. Parece que há “camadas”, entre níveis inferiores e superiores. Parece que há muita coisa a ser explicada. E bem como o caso do peixe, de onde ele veio? Eu gostaria que o anime explorasse um pouco mais sobre esse mundo misterioso.
E mais uma coisa, eu achei uma safadeza tremenda da Yuuri ter queimado o livro Kappa de Ryunosuke Akutagawa, um dos maiores escritores japoneses do Século XX! Mesmo que ela não tenha tido a intenção eu acho que a Chito devia ter estrangulado-a!
Fábio “Mexicano”
Tenho certeza que o mundo vai explorar seus multi-níveis, as garotas disseram literalmente que queriam fazer isso (pra arranjar mais peixes). E sim, é uma mistura de elementos, por isso chamei de futuro anacrônico.
Vinicius Marino
Essa parte sobre o livro foi de longe minha favorita. Ela toca num ponto importantíssimo: nós somos a nossa memória. No momento em que paramos de contar histórias, nossa civilização acaba.
É uma coisa que está presente na ficção pós-apocalíptica pelo menos desde A Máquina do Tempo de H.G. Wells. E que a gente vê em todo tipo de história
Fábio “Mexicano”
E isso não é só ficção. É fato amplamente aceito que o acúmulo de conhecimento ao longo das gerações é o que nos torna humanos, e isso inclui desde há poucos séculos a impressão de livros e a alfabetização geral (não por coincidência, o período de mais inovações em menor período de tempo da história)
Vinicius Marino
O fato da Yuuri ter queimado o livro não deixa de ter um certo simbolismo. O mundo delas já acabou. Elas não produzem nada: só vivem do que os outros deixaram, até que as sobras acabem e elas morram. O livro, também, não produzirá mais nada, pois não tem mais leitores. E só lhe resta ser consumido pelas chamas.
Fábio “Mexicano”
Aliás, totalmente fora do assunto mas se elas estavam ou passaram por uma usina de geração de energia, o que estavam queimando era o quê?
Gato de Ulthar
O que me chamou a atenção foi também que esse episódio quase foi um daqueles típicos episódios de slice-of-life com direito a banho em piscinas e termais e praia, ressalvadas as devidas proporções. O que eu estranhei na usina foi o fato de ter água quente, então a instalação estava funcionando mesmo abandonada por muito tempo? Muito tempo mesmo, tanto é que o alfabeto das meninas já tinha até mudado!
Diego
O worldbuilding desse episódio foi interessante, mas vou dizer que o tom dele me deixou bastante confuso. Sair do tom mais pesado do episódio anterior para um tom mais leve foi uma mudança que não sei bem se me agradou ou não.
É engraçado, porque eu já tinha dito que não gostaria que o anime virasse um banho de sangue e sofrimento mental gratuito, mas ao mesmo tempo achei a mudança um pouco brusca demais. Espero que o próximo episódio mostre melhor a que, exatamente, esse anime veio, porque eu vou dizer que não “peguei” ainda não.
Vinicius Marino
O que eu não “peguei” foi o futuro anacrônico. Nada contra a anacronia, mas até ela precisa de alguma coerência. Até agora, o cenário parece estar sendo feito em função das cenas. Precisamos de uma briga? Enfie um chocolate. Precisamos de um banho? Invente que a fábrica tinha água corrente. Precisamos de uma reflexão filosófica? Diga que elas não sabem o que é um peixe.
Fábio “Mexicano”
Elas não saberem o que é um peixe está em linha com elas não saberem o que é chocolate, isso pelo menos não foi totalmente aleatório.
(Mas sabiam cozinhar; suponho que em alguns milhares de anos assar comida se tornará um instinto gravado em nosso DNA)
Diego
Sinceramente, não. Não saberem o que é um produto processado, como o chocolate, é bem mais crível do que não saber o que é um animal bastante comum na natureza, como o peixe.
Vinicius Marino
Exatamente. Peixe existe na natureza. Pesca é conhecida há milhares de anos. Para você NÃO saber o que é um peixe, é preciso ser ou um alienígena ou alguém que acaba de cochilar por uns 10 mil anos
Gato de Ulthar
Pois é, isso que incomodou o Vinicius me incomodou também. As soluções parecem muito forçadas. Ainda não consegui engolir a banheira de água quente que elas improvisaram. E bem, eu fiquei pensando se caso aquelas balas ricocheteassem nelas mesmas…
Diego
Eu fiquei pensando como elas se secaram depois daquele banho.